quarta-feira, 31 de julho de 2013

Tudo por uma esmeralda


Tudo por uma esmeralda



A Terra ainda estava em formação quando as pedras preciosas e os metais foram criados, há milhões de anos. Surgiram nos vales, nas montanhas, em áreas remotas das profundezas. Verde, amarelo, azul, branco, lilás... Embaixo do chão, essas cores representam riqueza. Nesse mundo de aventureiros, o homem vive de sonhos, desconhece o medo, se entrega a um exaustivo trabalho braçal. Tudo pelo desejo de, num piscar de olhos, encontrar a sorte. Em Campo Formoso, na Chapada Diamantina, Bahia, uma famosa pedra verde alimenta o comércio, sustenta mais de 30 mil pessoas, enriqueceu pobres, faliu empresários. É a terra da esmeralda.
“Ela é serrada e, depois de lapidada, pode ter quatro, cinco qualidades", conta o garimpeiro José Alves Ferreira.
Depois de lapidada, muitas vezes, alguns gramas valem mais do que vários quilos da pedra bruta.
"O lote vale US$ 15 mil, mais de R$ 40 mil. A quadrada é a mais cara, o quilate vale US$ 1 mil. A pedra tem dois quilates", anuncia o garimpeiro Paulo Antônio Batista.
No quintal de casa, mora a esperança do garimpeiro Isaías José Ferreira. Sozinho, ele já abriu um buraco que tem mais de dez metros de profundidade. Há oito meses trabalha quase sem descanso, dia e noite.
"Já achei esmeralda. Uma faísca, uma pedra muito pequena, que eu vendi por R$ 50”, conta ele.
Com 53 anos de idade, mais de 30 dedicados ao garimpo, Isaías conhece bem os caminhos tortuosos da esmeralda.
"Já fui rico três vezes. Já fui dono de carro, de fazenda. Me realizei”, lembra o garimpeiro.
Em mina de esmeralda não há como se guardar segredo, porque o garimpeiro costuma se exibir. Quando a pedra começa a aparecer em algum garimpo, todo mundo fica sabendo.
Um garimpo começou a ser instalado em 1995 e só agora, nove anos depois, os garimpeiros começaram a encontrar os primeiros sinais de esmeralda.
É preciso ir a mais de cem metros da superfície. O transporte é esquisito, conhecido como cavalo – um cinto de borracha sustentado por um cabo de aço. O geólogo Antonio Rodrigues, do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), desceu. Ele foi comprovar se é mesmo esmeralda o que os garimpeiros estão vendo. Ele examinou e mostrou que a parte mais escura da rocha é uma boa promessa.
Os sinais mais evidentes estão adiante. É preciso subir os escombros e ter cuidado, para não escorregar. Em um ambiente de muita poeira, os olhos experientes do garimpeiro conseguem enxergar o esconderijo da pedra verde.
Eles chamam uma parte da galeria de catedral. O salão enorme foi aberto com dinamite. A impressão que se tem no local é de que a qualquer momento o teto pode desabar.
"Dá medo, mas a gente chama por Deus todos os dias quando sai de casa", diz o garimpeiro Sistenes da Silva.
Uma britadeira faz furos na rocha para acomodar mais uma carga de explosivos. Nem na hora do fogo eles demonstram medo. Se afastam um pouco do local – uns dez, 15 metros, no máximo. Em uma mina subterrânea, nada é mais assustador do que o momento da explosão. Os garimpeiros são muito corajosos, porque são quatro, até cinco em um dia.
“Depende só de um aviso para detonar”, diz um garimpeiro.
Não falta mais nada.
"Nil, pode detonar”, avisa ele.
Tudo estremece lá embaixo. Deve ser a sensação de um terremoto. Depois que a poeira se espalha, ainda fica o cheiro forte de pólvora.
Ao que tudo indica, eles descobriram mesmo o veio da esmeralda. Na superfície, o dono do garimpo, Adevaldo da Silva, aguarda o resultado da explosão. Ele se encarrega de avaliar a qualidade. Examina tudo, pedra por pedra. A pureza e a transparência são muito importantes.
"A transparência indica que a qualidade é melhor", explica Adevaldo. “Vale R$ 2 mil”, calcula ele, analisando uma pedra.
As pedras que não apresentam vestígios de esmeralda viram cascalho e vão para os tanques de lavagem. Todo o material é reexaminado. Trabalhadores contratados só para esse serviço passam o dia na mira dos fiscais do garimpo. Eles separam qualquer pedra que apresente alguma mancha verde, porque vale algum dinheiro.
“Eu achei uma esmeralda pura”, revela a garimpeira Jaqueline Barbosa. “Às vezes, dá vontade de levar para casa, mas não podemos.”

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