domingo, 23 de outubro de 2016

Exploração de diamantes no mar pela De Beers dá alívio à Anglo American

Exploração de diamantes no mar pela De Beers dá alívio à Anglo American

A uns 20 quilômetros do extremo sudoeste da costa atlântica na África, uma máquina de vácuo de 285 toneladas operando a mais de 120 metros abaixo do nível do mar suga do fundo do oceano alguns dos diamantes mais valiosos do mundo. O rastreador, que custou US$ 10 milhões, faz parte de uma operação singular de mineração marinha de diamantes batizada de Debmarine Namíbia. A mina marinha, uma joint-venture entre a De Beers, unidade da mineradora britânica Anglo American PLC, e o governo desse país desértico e pouco povoado, tem sido uma rara fonte robusta de receitas num setor de commodities que continua definhando.
A operação, remota e secreta, só pode ser acessada por uma viagem de helicóptero de 30 minutos da pacata Oranjemund, um vilarejo construído pela indústria de mineração de diamantes para abrigar os trabalhadores e suas famílias em “Sperrgebiet”, ou área proibida, onde os diamantes no passado eram garimpados com pás e bateias em dunas de areia.
A Anglo American está cortando custos, vendendo a maioria de seus ativos e demitindo mais da metade de seus funcionários. Mas a De Beers — que respondeu por 42% do lucro da mineradora antes de juros e impostos no primeiro semestre de 2016, está injetando grandes somas na operação de mineração marítima, que vem extraindo alguns dos diamantes de mais alta qualidade do mundo.
Operações como a Debmarine destacam como as mineradoras estão sendo forçadas a explorar novas tecnologias e reservas à medida que a produção de minas mais antigas escasseia, reduzindo a oferta mundial de diamantes.
“Não tiramos o pé do acelerador de qualquer investimento [na Debmarine]”, diz Bruce Cleaver, diretor-presidente da De Beers.
Um exemplo dessa expansão submarina da Debmarine é o SS Nujoma, um navio de 2,3 bilhões de dólares namibianos (US$ 166 milhões) feito sob encomenda para exploração e amostragem e que foi levado da Noruega à Cidade do Cabo, na África do Sul, em agosto. A De Beers informa que o navio vai quase dobrar o número de amostras do fundo do mar descobertas diariamente.
A empresa tem cinco navios de produção: o Mafuta, que explora o chão do oceano com a máquina rastreadora, e quatro navios que fazem perfurações. As brocas só perfuram uns 50 centímetros, já que os diamantes estão espalhados pelo fundo do mar, logo abaixo da camada de cascalho, e não nas profundezas da terra.
A empresa afirma que o impacto ambiental é pequeno em comparação com a mineração em terra. “Não reviramos quilômetros e quilômetros de área no mar. O fundo do mar [das áreas] que atuamos se recupera — não há destruição total”, diz Jan Nel, gerente de operações da Debmarine. “Nós não usamos nenhum produto químico e colocamos todo o material retirado de volta, exceto os diamantes.”
Mas alguns observadores questionam a prática e seus efeitos sobre um ecossistema relativamente inexplorado. “Não temos muito conhecimento sobre o impacto dessas técnicas”, diz Emily Jeffers, advogada da equipe do Centro para a Diversidade Biológica, uma organização americana sem fins lucrativos. “Sabemos mais sobre a superfície da lua do que sobre o fundo do oceano.”
Os navios da Debmarine usam tecnologia de diversas indústrias — da perfuração de petróleo a frutas em conservas — para criar um sistema singular de exploração marinha de diamante. A bordo dos navios, são instaladas operações de recuperação de diamantes quase idênticas às existentes em terra, que moem rochas do fundo do mar com bolas de aço. Para cada 180 toneladas de pedras moídas, são recuperados um punhado de diamantes.
Isso é feito numa sala de recuperação de alta segurança, onde os diamantes e outras pedras caem em máquinas de raios-X, emitindo sons parecidos aos de moedas caindo na bandeja de máquinas caça-níqueis num cassino. Câmeras de segurança estão instaladas em todos os lugares e funcionários autorizados usam um cartão de identificação e leitores de impressões digitais para ganhar acesso. Eles passam por uma revisão rigorosa na saída da sala.
Os diamantes são colocados em uma lata que é vedada e levada a um cofre. Um helicóptero visita o navio algumas vezes por semana para levar os diamantes para Windhoek, capital da Namíbia, onde eles são classificados.
Embora os diamantes do fundo do mar representem apenas 4% da produção anual da De Beers, eles respondem por 13% do valor total, porque conseguem um preço por quilate mais alto que qualquer pedra produzida pela empresa em minas em terra — uma média aproximada de US$ 600 por quilate, contra cerca de US$ 250 obtidos por diamantes da grande mina de Jwaneng, em Botsuana, por exemplo. Esse alto valor deriva da pureza da pedra. Os diamantes do fundo do mar têm uma média em torno de 95% de pureza, comparado com cerca de 20% dos de Botsuana, a maior fonte de diamantes da De Beers.
Os diamantes marinhos geram um fluxo de receita lucrativo para a De Beers na Namíbia, um país que não é conhecido por ter jazidas de quimberlito, as rochas de chaminés vulcânicas de onde as pedras são geralmente extraídas. A exploração marítima tem sido uma dádiva em termos de receitas fiscais.
As operações namibianas da De Beers já extraíram cerca de 16 milhões de quilates do fundo do mar e cerca de 62 milhões de quilates em terra. A Debmarine acredita que há no mínimo a mesma quantidade de diamantes ainda disponíveis no mar.
A Debmarine tem uma licença de mineração exclusiva para quase 6 mil quilômetros quadrados de área marítima na Namíbia e explorou até agora menos de 3% dessa área. O grupo acredita que pelo menos 25% da área tem diamantes, o que deve levar 50 anos para extrair, diz Nel.


Fonte: WSJ

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