domingo, 19 de fevereiro de 2017

A tecnologia pode jogar a favor ou contra

A tecnologia pode jogar a favor ou contra
Quando um diamante bruto de 1.109 quilates, batizado com o pomposo nome de Lesedi La Rona e descoberto em Botsuana, o maior já encontrado em 100 anos, não teve compradores na Sotheby’s com o lance inicial de US$ 70 milhões, a mineração de diamantes foi atingida por mais um revés na sua trajetória pouco lisonjeira dos anos recentes. Ela foi contaminada com os diamantes de sangue, oriundos de países africanos que financiavam guerras internas com essas pedras, que até recrutavam crianças como soldados — que ficaram estigmatizadas com o filme estrelado por Leonardo di Caprio. O ator, aliás, lidera um movimento global para proibir o comércio desses diamantes de sangue.

A retração dos consumidores na China também contribuiu, levando ao drástico declínio dos preços de diamantes lapidados de primeira linha, que caíram de US$ 12 mil por quilate para apenas US$ 7.400 em cinco anos. Outra ameaça vem dos laboratórios que já produzem bilhões de quilates de diamantes sintéticos para uso industrial, como à perfuração de poços de petróleo. Agora alguns deles já produzem pedras com qualidade de gema, em bateladas de 1.500 a 300 diamantes, que podem ser polidos como naturais. Seu preço é apenas um pouco abaixo — mas não traz o estigma “de sangue”—, algo si ne qua non para os consumidores jovens de nova geração.

Entretanto, este avanço tecnológico de forma mais ampla está proporcionando ganhos de produtividade e menores custos por tonelada produzida na mineração. O uso de drones está apenas começando e vai se expandir em progressão geométrica quando tiver acesso a sensores de precisão militar - e não apenas em exploração geológica. Eles podem sobrevoar as frentes de lavra para verificar a presença de pessoas e equipamentos com sensores infravermelho, antes de ocorrer um desmonte com explosivos.

Os centros de operação remota, que conecta em tempo real as operações de campo com os centros localizados a milhares de quilômetros de distância, disponibiliza a experiência de técnicos e consultores que antes teriam que se deslocar até a mina ou planta, graças a conexões via satélite. Num escala menor, um operador de máquina experiente pode comandar uma frota de equipamentos no subsolo por controle remoto.

Já se desenvolve sondas robóticas que podem efetuar exploração geológica em regiões remotas, lançadas por via aérea. O início das operações no projeto S11D da Vale, em Carajás (PA), deverá dar impulso à lavra sem caminhões, empregando sistemas de correias transportadoras projetadas em módulos realocáveis, incorporando motores elétricos de alta eficiência e conjuntos de roletes que geram energia para consumo próprio nas declives.

Será a chegada da versão high tech das correias transportadoras, que ainda vai aprimorar modelos seguros para superar longas rampas de subida, próprios para cavas profundas. A BHP planeja testar um sistema em Escondida, Chile, numa cava a 540 m de profundidade. Ainda nessa mina, a mineradora testa sensores que determinam o teor de cobre da rocha para evitar que rejeitos sigam para a planta de tratamento.

A pressão por reduzir custos tornou-se permanente e as equipes operacionais das minas e plantas sabem disso. O cenário de médio prazo que indica uma expansão econômica muito baixa nos países desenvolvidos, quando não uma estagnação relativa, mais o novo ciclo de crescimento de um dígito na China, preconiza que o aperto vai continuar.


A BHP planeja sistema de correias transportadoras para superar as longas rampas de subida em Escondida, no Chile
 
Operação truckless do projeto S11D, da Vale, em Carajás (PA), significará novo patamar de eficiência na planta
 
Uso de drones de alta precisão irá proporcionar ganhos à mineração

Nenhum comentário:

Postar um comentário