quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Brasil retoma lavra de rocha primária

Brasil retoma lavra de rocha primária

Processo de lapidação e polimento de diamante

O projeto Braúnas fica na Bahia; Cetem inaugura laboratório de pesquisas gemológicas no Rio de Janeiro

Embora não apareça hoje entre os grandes fornecedores mundiais de diamantes, o Brasil voltará em breve ao cenário internacional de exportadores do mineral, de acordo com Jurgen Schnellrath, coordenador do novo Laboratório de Pesquisas Gemológicas (Lapege) do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Segundo Schnellrath, pesquisadores nacionais já começam a trabalhar a possibilidade de lavrar o diamante na rocha primária, fora dos rios e aluviões, e isso vai alterar o perfil da produção brasileira de diamante, que hoje resulta basicamente da garimpagem, atividade informal e de baixa produtividade.
 
Schnellrath informou que em 2015 será feita a primeira operação de lavra na rocha primária, o que colocará o País possivelmente em um novo patamar na produção de diamantes. A partir da primeira descoberta de diamante em rocha primária, no município de Braúnas, na Bahia, ele acha que a tendência é de crescimento. “Sabemos que o potencial geológico existe no País. É uma questão também, infelizmente, de esperar o novo marco regulatório da mineração, que está segurando os investimentos”, acrescentou.

O projeto de Braúnas está sendo tocado pela empresa Lipari Mineração, de origem canadense, e deverá entrar em operação no ano que vem. O pesquisador do Cetem informou que há outros locais favoráveis para a lavra do diamante em rocha primária, na região do Triângulo Mineiro, como a Serra da Canastra e o município de Coromandel. Nessas localidades, especialmente em Coromandel, foram encontrados em áreas secundárias, de aluviões, os maiores diamantes do Brasil, com 500 e 800 quilates, lembrou.

Schnellrath descartou que a descoberta em Braúnas possa despertar uma corrida para esses locais, “porque a lavra em rocha primária não é coisa para garimpeiro. É uma lavra difícil, que exige equipamento pesado, muito investimento, e é um projeto empresarial de longo prazo”.  No caso do diamante primário, é preciso aprofundar-se a até centenas de metros, disse.  “E, às vezes, recorrer à lavra subterrânea, em alta profundidade”, sustentou.

Laboratório de pesquisa em gemologia
O Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, inaugurou em 19 de agosto, na Ilha do Fundão, zona norte do Rio de Janeiro, o Laboratório de Pesquisas Gemológicas (Lapege), considerado o mais moderno laboratório de pedras preciosas da América do Sul. O objetivo, segundo o pesquisador responsável da unidade, Jurgen Schnellrath, é melhorar o desenvolvimento do setor brasileiro de gemas, joias e bijuterias.

“A nossa competência aqui é mais voltada para a parte de identificação e caracterização de pedras preciosas, mas também metais preciosos”, explicou o pesquisador. O Lapege está equipado para comprovar se uma pedra tem, de fato, origem natural ou se é uma imitação sintética, como muitas que são encontradas no mercado. “Isso parece ser muito fácil, mas nem sempre é”.


Empresa canadense Lipari Mineração, dirige projeto de Braúnas

Segundo Schnellrath, existem no Brasil muitos laboratórios menores que fazem a identificação básica, com equipamentos de baixo custo, alguns subordinados ao Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM). Segundo explicou, o Cetem obteve financiamento para a compra de equipamentos analíticos de ponta, inclusive espectrofotômetros, aparelhos que medem e comparam a quantidade de luz absorvida por determinada solução.

“Com esses espectrofotômetros, nós hoje estamos habilitados a ir um pouco além do que aqueles laboratórios básicos podem ir”, explicou. Deu como exemplo um diamante colorido que vale, em alguns casos, mais de US$ 1 milhão, o quilate, que é um quinto do grama. Explicou, porém, que é possível criar essa cor de forma artificial nos diamantes. “Você induz essa cor”. Por isso, é complicado detectar a autenticidade do mineral usando ferramentas rudimentares”.

Até agora, os interessados em comprovar a autenticidade de uma pedra tinham que enviar o material para os Estados Unidos e aguardavam meses por uma certificação. “Hoje, nós passamos a ter um laboratório no país capaz de dar essas respostas em menor tempo e sem ter que enviar para tão longe”.

A meta é estabelecer um acordo de parceria com o IBGM, que representa o setor no país e nos eventos internacionais, pelo qual o Cetem deixaria de emitir laudos, hoje no volume de 100 por ano, passando essa atribuição aos laboratórios de menor porte. Isso é importante, salientou Schnellrath, porque a compra de uma joia depende da confiança do consumidor de estar comprando o produto certo. “É importante ter laboratórios capacitados para poder o consumo interno também crescer”. A certificação facilita também as transações, reforçou.

De acordo com dados do IBGM, o setor brasileiro de gemas e joias gera 350 mil empregos diretos e registrou, em 2012, faturamento de R$ 7,5 bilhões. Cerca de 96% da cadeia produtiva é formada de micro e pequenas empresas. O Brasil é um tradicional fornecedor de pedras preciosas. “Foi o maior produtor mundial de diamantes, durante 150 anos, desde o início da época colonial até 1866, quando foram descobertos depósitos de diamantes na África do Sul, que passou a ser o maior produtor”, ressaltou o coordenador do Lapege.

Produção brasileira de diamantes aumentará em cinco vezes
O Projeto Braúna, de propriedade da Lipari Mineração, integra 22 ocorrências de kimberlito no município baiano de Nordestina e será a primeira mina de diamantes da América do Sul desenvolvida em rocha kimberlítica, a principal fonte primária do mineral. A operação industrial, programada para o segundo trimestre de 2015, aumentará em cinco vezes a produção de diamantes do Brasil e será o resultado de um investimento da ordem de R$ 200 milhões (considerando pesquisa, planejamento e implantação). A Licença Prévia foi concedida ao projeto em janeiro de 2014 e em julho os equipamentos adquiridos na África do Sul para a planta de beneficiamento começaram a chegar à Bahia.

 Nesta primeira fase do projeto, cujo alvo é o kimberlito denominado Braúna 3, estima-se a extração de 4,9 milhões t de kimberlito, distribuídos em dois lobos principais (Norte e Sul). A produção média será de 225 mil quilates de diamantes nos primeiros sete anos de operação a céu aberto.  Entretanto, a mina possui potencial para estender a vida útil da operação através de lavra subterrânea e do desenvolvimento de recursos adicionais associados às demais ocorrências de kimberlito nas áreas de concessão da empresa. Em janeiro de 2013, a empresa atualizou sua estimativa de recursos minerais para o depósito kimberlítico, destacando um Recurso Mineral Indicado de 1.781.706 quilates, e um Recurso Mineral Inferido de 926.401 quilates, além de um recurso potencial adicional entre 885.400 e 316.900 quilates.

O empreendimento ocupará cerca de 60 ha e a cava deverá ter diâmetro médio de 400 m e profundidade de 260 m. A geração de estéril será da ordem de 32,9 milhões t e o beneficiamento processará 720 mil t anuais de kimberlito. A mineradora prevê a adoção de tecnologia que recupera aproximadamente 97% da água utilizada no processo de beneficiamento.

A expectativa da mineradora é que o projeto gere cerca de 600 empregos diretos na fase de implantação e 300 quando entrar em operação.
Nota: conteúdo divulgado pela Agência Brasil / EBC
 
Histórico no País
- O Brasil foi o maior produtor mundial de diamantes de 1725 até 1871;
- Produção estimada entre 50 mil e 250 mil quilates por ano, nestes 146 anos;
- Toda produção era manual e em depósitos aluvionares (secundários);
- Existem 1.193 kimberlitos descobertos no Brasil;
- Apenas 3% desses kimberlitos foram testados usando técnicas de pesquisas modernas;
- Nem todo kimberlito contém diamantes. E apenas 1% das ocorrências que contém o minério são economicamente viáveis;
- Desde 1990 foram gastos em média US$ 5 milhões por ano com pesquisa em kimberlito (no Canadá US$ 140 milhões);
- Mais de US$ 37 milhões foram gastos na exploração dos depósitos Braúna desde 1990;
- O desenvolvimento bem sucedido dos depósitos Braúna tende a aumentar os investimentos em pesquisa de kimberlito no Brasil;
- Em 2012, a produção brasileira de diamantes brutos foi de 45,5 mil quilates. A previsão para 2015 é 300 mil quilates.
 
Fontes: CPRM Database / Sumário Global anual, 2012. Dados CPK para produção, importação e exportação / Lipari Mineração

Mercado global tem 23 minas em produção
- Existem apenas 23 minas de diamantes em operação no mundo;
- A oferta mundial de diamantes brutos está prevista para crescer a uma taxa média anual de 4,8% até 2018. A partir de 2019 até 2023, essa taxa de crescimento será de 1,9%. A partir daí, a produção anual se estabilizará em 153 milhões de quilates;
- A demanda mundial por diamantes está prevista para crescer a uma taxa média anual de 5,1%, para aproximadamente US$ 26 bilhões (preços de 2012) em 2023;
- Estima-se que por volta de 2017 a oferta de diamantes será superada pela demanda;
- África e Rússia concentram 70% das reservas mundiais de diamante;
- Os seis principais centros comerciais do minério estão na Antuérpia, Nova York, Tel Aviv, Dubai, Hong Kong e Mumbai, sendo a Antuérpia o maior e mais tradicional de todos;
- O mercado mundial de diamantes gema em 2005 movimentou US$ 62 bilhões. Em 2011, esse montante passou para US$ 71 bilhões. A previsão para 2020 é atingir US$ 128 bilhões;
- Os maiores consumidores de diamantes gema são: Estados Unidos, China, Índia, Japão e Europa.

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