quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Cinco alimentos que podem salvar o mundo

Cinco alimentos que podem salvar o mundo

Veja os que os cientistas estão fazendo para criar alimentos capazes de transformar a vida de milhares de pessoas.
Apesar da ajuda estrangeira, das remessas de comida e do comércio justo, uma em cada seis pessoas no mundo ainda passa fome todos os dias. E o crescimento populacional leva a calcular que a demanda de alimentos aumentará uns 40% nos próximos 20 anos. Mas há boas notícias. Há décadas, os cientistas traba­lham para criar alimentos que promovam a saúde, vençam o aquecimento global, sobrevivam a secas e, ao mesmo tempo, transformem milhões de vidas. Agora, algumas inovações brilhantes começam a aparecer...
 
Arroz Mergulhador
 
Imagina passar meses trabalhando, semeando e cuidando da plantação para alimentar a família de 22 pessoas e ver tudo ir por água abaixo. Foi por essa adversi­dade que Mostafa Kamal passou. Durante quatro de cada cinco anos, o agricultor do distrito de Rangpur, em Bangla­desh, perdeu muitos pés de arroz com as inun­dações. Dois dos seis hectares de sua fazenda alagavam com tanta fre­quência que ele deixou de usá-los. E este não é um caso isolado. Quatro milhões de toneladas de arroz – o suficiente para alimentar 30 milhões de pessoas – se perdem todo ano com inunda­ções só em Bangladesh e na Índia.
 
Mas isso pode se tornar coisa do passado. Os cientistas do Insti­tuto Internacional de Pesquisa do Arroz, nas Filipinas, desenvolveram um arroz “mergulhador” que sobrevive até a duas semanas de imersão completa.
 
É claro que a plan­tação de arroz é feita debaixo d’água. Mas as sementes crescem muito rápido, logo lan­çando brotos para que encontrem a luz do sol. Isso exige muita energia e, se as plantas perma­necerem submersas mais do que alguns dias, os pés morrem. O tru­que do arroz que resiste a inundações é adorme­cer caso fique tempo demais coberto por água e só voltar a cres­cer quando for possível chegar rapidamente à superfície.
 
Os pesquisadores que criaram esse arroz isolando o gene que dá tolerância a inundações, uma variedade muito resistente mas cuja produção é baixa demais para uso comercial. Depois, transferiram o gene para novas “megavariedades” de elevada produção, com grão de boa qualidade e resistência a pragas.
 
Apos três anos de testes no sul da Ásia, a primeira li­nhagem de arroz resistente a inundações foi liberada em fevereiro de 2009. Agora os cientistas tentam criar mais variedades adap­tadas a outros ambientes.
 
Essa inovação levou 30 anos para ser elaborada. O Dr. David Mackill, do Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz, seu principal desenvolvedor, tentou criar um arroz como esse na década de 1980, mas a ciência ainda não estava suficientemente avançada, e o resultado tinha um sabor horrível. Mas a perseverança rendeu frutos. Mostafa foi um dos fazendeiros que testou as sementes resistentes a inundações, viu a safra au­mentar 50% e diz que isso mudou sua vida. “Dois hec­tares a mais [de produção] é um grande salto.”
 
Espera-se que até 2021 o arroz esteja à disposição de aproximadamente 18 milhões de famílias de agricultores nos países em desenvolvimento.
 
Melão-de-São-Caetano
 
Costumamos associar o diabetes tipo 2 aos ocidentais obesos, mas 80% dos 285 milhões de diabéticos do mundo todo vivem em países de média ou baixa renda.
 
Nos países que se de­senvolvem rapidamente, como a Índia e a China, onde há poucas in­formações sobre saúde, os moradores estão engordando por comer carne e fast­‑food demais sem fazer exercí­cios suficientes. Enquanto isso, na África subsaariana e na Oceania o con­sumo de alimentos amiláceos básicos leva à ingestão de calorias demais e de poucos nu­trientes. O uso da insulina pode controlar o diabetes, mas, em alguns lugares, o tratamento anual de uma só pessoa pode custar 75% da renda média.
 
Entra em cena um fruto amargo e verrugoso. O melão­‑de­‑são­‑caetano, usado em molhos e refogados, contém nível elevado de carantina, que aumenta a sensibilidade à insulina, e compostos que ativam a AMPc, que regula a absorção de glicose. Ele também contém uma forma de lectina (proteína que se liga ao açúcar) que baixa a glicose no sangue e reduz o apetite. Em 2007, o Ministério da Saúde filipino verificou que uma porção do fruto tem efeito semelhante a uma dose diária de glibenclamida, um
medicamento antidiabético.
 
Os cientistas do Centro Mundial de Mortaliças, sediado em Taiwan, estão fazendo expe­riências com 280 variedades do fruto – que cresce nos trópi­cos e subtrópicos – para produzir uma supervariedade com máximo efeito antidiabético. O centro espera disponibilizar essa variedade para o mercado daqui a cinco ou oito anos.
 
Feijão Moiashi
 
O feijão moyashi (também conhecido como feijão-mungo e feijão-da-índia) tem papel fundamental na alimentação de populações vulnerá­veis do sul da Ásia.
 
“Mulheres e crianças correm risco maior porque não costumam ocupar posição muito alta na sociedade, e assim os homens comem primeiro e elas ficam com os restos”, diz a Dra. Jacqueline Hughes, vice-diretora do Centro Mundial de Hortaliças. “Faltam micronutrientes na sua alimentação, e elas adoecem. Em cada 15 crianças do sul da Ásia, uma morre antes dos 5 anos.”
 
A deficiência de ferro, que provoca anemia e até crescimento retardado, é uma grande preocupação, e o moiashi é riquíssimo nesse mineral. Mas, até re­centemente, os agricultores relutavam em plantá-lo porque ele leva até 110 dias para crescer, e a produção é baixa. Suas vagens também são muito frágeis e se quebram com facilidade.
 
Mas, na década de 1970, o centro viu a possibilidade de melhorar o feijão. Agora, vários cruzamentos criaram, finalmente, plantas de moiashi com processo de maturação de 55 dias, boa produção e vagens mais fortes que crescem no alto da planta para facilitar a colheita. As novas sementes foram distribuídas entre 1,5 milhão de agricul­tores de toda a Ásia, resultando num aumento de produção de 35%.
 
“O feijão também é muito gostoso”, diz a Dra. Hughes, que realiza oficinas culinárias em comunidades indianas para demonstrar o potencial do pro­duto. “Minha receita favorita é o dhuli mung dahl.”
 
Bananas resistentes a pragas
 
A banana é um alimento fundamental em toda a África subsaariana e também fonte de renda importantíssima para cerca de 50 milhões de pequenos produtores do planalto da África Oriental e da região dos Grandes Lagos.
 
Mas, em 2001, o surto de uma nova doença, a murcha bacteriana da banana causada pela Xantho­monas (conhecida pela sigla em inglês BXW), dei­xou em Uganda um rastro de miséria e destruição que se espalhou para o Congo, Quênia, Ruanda e Tanzânia. A doença, que faz a bananeira murchar e torna o fruto não comestível, reduziu a renda de muitos agricultores e lan­çou na miséria milhares de famílias ugandenses.
 
E ela continua a atacar, provocando anualmente meio bilhão de dólares de prejuízos na África.
 
A resposta? Uma superbanana.
Nenhuma banana comum consegue resistir à BXW e não há agente bioquímico para combatê-la. Assim, o Instituto Internacional de Agricultura Tropical, sediado na Nigéria, e a Organização Nacional de Pesquisa Agrí­cola, de Uganda, inseriram material genético do pimen­tão – eficaz na manipulação genética de arroz resistente a pragas – numa variedade de banana.
 
As proteínas do material injetado matam rapidamente as células que entram em contato com a bactéria da doença, impedindo que se dissemine. Agora os cientistas reali­zam experiências em campo. Se tiverem sucesso, daqui a três anos a nova variedade estará à disposição dos agricultores.
 
Milho resistente a secas 
 
A mudança climática está se tornando uma re­alidade assustadora em muitas regiões do mundo. O Programa de Desenvol­vimento da ONU prevê que até 2050 as secas reduzirão em 10% a produção de mi­lho da África (que alimenta 300 milhões de seus habi­tantes mais pobres).
 
Mas o Grupo Consultivo de Pesquisa Agrícola Inter­nacional, em Montpellier, na França, e o Centro Inter­nacional de Melhoramento de Milho e Trigo, sediado no México, misturaram e cruzaram numerosas amos­tras de bancos genéticos internacionais para criar di­versas variedades de milho que não são afetadas pela falta de chuva.
 
Philip Ngolania, pequeno produtor de machakos, no Quênia, plantou algumas sementes de alta tecnologia em fevereiro deste ano. O Quênia passa pela pior seca da década, e a safra do milho vem sofrendo quebra total; mas esse cultivo de um terço de hectare pro­duziu 360 kg. “Essa colheita alimentará minha família durante nove meses”, diz ele. “Sem a nova semente, eu não teria nada, como os meus vizinhos.”
 
O milho resistente a secas deve aumentar em até 30% a produção de cerca de 40 milhões de agricultores.

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