domingo, 2 de abril de 2017

A nova fronteira da educação-que já movimenta R$ 51 bilhões

A nova fronteira da educação

O ensino básico está atraindo grandes investidores locais e globais. Saiba por que Jorge Paulo Lemann, Alan Greenberg e os grupos SEB, Bahema e Tarpon apostam pesado nesse mercado, que já movimenta R$ 51 bilhões

Crédito: Paulo Vitale
Chaim Zaher, sócio do Grupo SEB: “É uma percepção de fundos e investidores de que acontecerá uma explosão no ensino básico como foi no superior” (Crédito: Paulo Vitale)
No início de março, o americano Alan Greenberg, cofundador da Avenues: A Escola Mundial, uma rede global de educação básica, esteve em São Paulo para anunciar o lançamento da unidade brasileira. Criada em 2012, em Nova York, para preparar líderes pela prática, mentoria e experiência, a Avenue escolheu o Brasil para receber o seu segundo campus. A decisão tem a ver com o perfil da cidade: uma megalópole que é referência cultural e financeira na América Latina.
Com investimento aproximado de R$ 150 milhões, a escola infantil e de ensino fundamental e médio será instalada no antigo prédio da SulAmérica, no bairro Cidade Jardim, na zona Sul paulistana, numa área de 28 mil metros quadrados. O espaço está em obras e terá capacidade para atender 2,1 mil alunos, que terão de desembolsar cerca de R$ 7 mil de mensalidade. Com o projeto em mãos, Greenberg mostra algumas alterações que serão realizadas para melhorar a circulação e a integração entre as áreas.

Inspiração: o bilionário Jorge Paulo Lemann criou o fundo Gera Ventura Capital, que tem R$ 1 bilhão para investir na melhoria da educação no País
Inspiração: o bilionário Jorge Paulo Lemann criou o fundo Gera Ventura Capital, que tem R$ 1 bilhão para investir na melhoria da educação no País (Crédito:Sergio Lima/Folhapress)
Nenhuma delas, porém, irá atrasar a programação de receber a primeira turma em agosto de 2018 – o calendário seguirá o da América do Norte. Em 10 anos, a ideia é ter 20 escolas em locais com as mesmas características de Nova York e São Paulo. Neste momento, os investidores da Avenue estão em diferentes fases de desenvolvimento em Londres, China, Cidade do México, Vale do Silício e Dubai. “O coração da Avenue é criar líderes globais em cidades globais”, afirma Greenberg. “Na nossa visão, seremos uma escola com 20 campus e não 20 diferentes escolas. Por isso, não estamos começando uma escola em São Paulo, mas trazendo uma marca para o País.”
A decisão de um investidor estrangeiro apostar na educação básica no Brasil coincide com um movimento que vem ganhando força nos últimos meses. O bilionário Jorge Paulo Lemann criou o fundo Gera Venture Capital, de R$ 1 bilhão, para investir em educação. Com um aporte de R$ 100 milhões, ele montou a Escola Eleva, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, que abriu as portas no início deste ano e pretende ser a referência desse segmento no País. A ambição de Lemann é a mesma do empresário Chaim Zaher, sócio do Grupo SEB e da universidade Estácio; e das gestoras Tarpon Investimentos e Bahema.
Nessa onda, Rodrigo Galindo, da Kroton, afirmou algumas vezes que, após a consolidação do ensino superior, seus esforços se voltarão para o ensino básico. “É uma percepção de fundos e investidores de que acontecerá uma explosão no ensino básico como foi no superior”, afirma Chaim. “Mas, quem pensar apenas no resultado de curto prazo, vai se dar mal. Educação básica é longo prazo.” O que une todos eles é o potencial desse mercado, que gera uma bolada anual estimada em R$ 51,3 bilhões. É um negócio uma vez e meia maior que o ensino superior.

Alan Greenberg, cofundador da Avenue - A Escola Mundial: “O coração da Avenue é criar líderes globais em cidades globais”
Alan Greenberg, cofundador da Avenue – A Escola Mundial: “O coração da Avenue é criar líderes globais em cidades globais” (Crédito:Andre Lessa/Istoe)
As receitas geradas pelas 40 mil escolas privadas brasileiras ainda estão dispersas. Os cinco maiores grupos não têm mais do que 5% de participação nesse mercado. E o ciclo de estudo também é um diferencial em relação ao do ensino superior. Os alunos estudam por ao menos 12 anos, três vezes mais que a faculdade, em média. Para as empresas, isso evita a constante renovação e captação de alunos e assegura uma atrativa geração de caixa.
“Há um espaço grande para a educação básica privada, o que pode aumentar ainda mais a desigualdade e a distância com a educação pública”, diz Daniel Domingues, professor de economia da Universidade de São Paulo. “Por outro lado, o País é carente de bons exemplos de qualidade de ensino. Se as boas ideias forem disseminadas e escalonadas para o setor público, o potencial de ganho para a sociedade é enorme.” Estudos têm mostrado que a qualidade é mais importante do que a frequencia em uma escola.
Pesquisadores têm tentado provar que ensino ruim faz mal ao desenvolvimento da criança. Por isso, quanto mais cedo uma criança tem acesso a diferentes estímulos de aprendizado, mais benefícios ela colhe no futuro. O economista James Heckman, vencedor do Nobel em 2000, provou a eficácia dos investimentos na primeira infância (período que compreende de 0 a 6 anos), após décadas de pesquisa. O resultado ficou conhecido como Equação Heckman, que aponta um retorno de US$ 7 para cada US$ 1 investido nessa fase de vida.
No Brasil, porém, apenas três em cada 10 crianças frequentam creches. “Os fundos vêm para melhorar a qualidade do ensino desde a creche, que é a base de formação de um indivíduo”, afirma Eduardo Queiroz, diretor-presidente da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. “O Brasil não melhora a educação geral porque não tem ideia do que faz no começo.” É nesse princípio de aprendizado que Chaim Zaher, do Grupo SEB, quer fazer a diferença. Em fevereiro, ele anunciou a compra da rede canadense de escola bilíngüe Maple Bear, por R$ 160 milhões, que tem 85 unidades franqueadas no País e faturamento de R$ 350 milhões.

Frederico Affonso Ferreira, diretor-presidente da Bahema: “Muitas escolas precisam de apoio financeiro para perenizar os seus projetos”
Frederico Affonso Ferreira, diretor-presidente da Bahema: “Muitas escolas precisam de apoio financeiro para perenizar os seus projetos” (Crédito:Andre Lessa/Agencia IstoÉ)
Entre o final de 2016 e o início deste ano, ele investiu em dois sistemas de ensino: a recompra do Pueri Domus, do Grupo Pearson, para quem tinha vendido o negócio em 2010; e a aquisição do Múltiplo, da Oxford University. Além desses, o Grupo está em fase de expansão da Concept, uma escola bilíngüe que tem uma metodologia de aprendizado baseada na criatividade – o modelo foi pioneiro no País e terá como competidor a Avenue, citada no início desta reportagem (leia quadro ao final da reportagem).
Lançada em Ribeirão Preto e em Salvador neste ano, a unidade paulistana da Concept será instalada no prédio do colégio Sacré-Couer, no Jardim Paulista. O investimento na adaptação desse antigo endereço tradicional da elite é de R$ 75 milhões. “Acreditamos que quem vai liderar esse mercado é quem souber inovar e antecipar as tendências na educação”, diz Thamila Zaher, diretora-executiva do SEB. “Entendemos que é preciso ter uma proposta de valor para continuar. Fora disso, não vai ser sustentável.”
Há três anos, Chaim decidiu apostar na educação básica e dividiu o Grupo SEB em quatro unidades de negócio. Cada uma delas atende a uma proposta de ensino e tem marcas bastante específicas. O nome Dom Bosco oferece um conteúdo pragmático e conservador. O Pueri Domus foca no ensino bilíngüe e a inovação. A Concept aposta na vanguarda fica e a Conexia, por fim, vende soluções em educação, do material didático à gestão pedagógica. Até o ano que vem, Chaim terá R$ 400 milhões para investir na expansão, seja orgânica ou por aquisições.
Por enquanto, esse valor é suficiente para consolidar a estratégia de curto prazo do SEB. Mas uma abertura de capital na bolsa de valores não está descartada. “O IPO vai acontecer quando fizer sentido, principalmente no projeto de internacionalização do grupo”, diz Chaim. “Faremos o que for necessário para atingir a nossa meta e não vamos ter freios nem limites dentro das nossas condições.” O Grupo SEB disputa com a Somos Educação, da Tarpon Investimentos, a liderança na educação básica.

Eduardo Queiroz, diretor-presidente da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal: “Os fundos vêm para melhorar a qualidade do ensino desde a creche, que é a base da formação”
Eduardo Queiroz, diretor-presidente da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal: “Os fundos vêm para melhorar a qualidade do ensino desde a creche, que é a base da formação” (Crédito:Divulgação)
O fundo de investimento, que tem como proposta de atuação apostar em poucos negócios e em parcerias de longo prazo, como a BRF, entrou nesse segmento em fevereiro de 2015, com a aquisição do controle da empresa que pertencia à Abrilpar Participações. Entre sistemas de ensino, editoras e escolas, a Somos é a maior nos dois primeiros, com marcas como Anglo, Ática e Saraiva, e detém a operação de 32 escolas próprias em cinco estados e no Distrito Federal.
No ano passado, a companhia totalizou uma receita líquida de R$ 1,8 bilhão, 15% maior do que o resultado de 2015. Outro destaque foi a geração operacional de caixa de R$ 649 milhões, três vezes maior do que a do ano anterior. “A expansão faz parte da nossa estratégia e a geração de caixa, que foi bastante relevante, mostra a força do negócio”, diz Marcelo Lima, sócio da Tarpon e vice-presidente da Somos. “Há potencial para crescer em escolas próprias.” Potencial foi o que levou a Bahema decidir se tornar, praticamente, uma startup em educação.
Com quase 60 anos, a companhia da família Affonso Ferreira, que foi a principal representante da fabricante de máquinas agrícolas Caterpillar no Nordeste do País e se tornou uma relevante investidora de empresas de capital aberto ao usar o seu caixa para comprar ações, estava próxima de encerrar suas atividades. Seu mais importante investimento foi no Unibanco, onde permaneceu por 25 anos. Com a fusão do banco dos Moreira Salles com o Itaú, mais de 98% dos ativos da Bahema foi distribuído entre os sócios e a empresa se tornou não operacional.
No ano passado, antes de o Conselho de Administração decidir fechar as portas, os primos Frederico e Guilherme, que fazem parte da nova geração da família, apresentaram a proposta de criar uma nova história e transformar o dinheiro que estava em caixa (cerca de R$ 30 milhões) em investimentos em escolas do ensino básico do País. “A nova geração da Bahema acredita em investimentos com propósito e na formação do pensamento crítico”, diz o diretor-presidente Frederico Affonso Ferreira. “Diferente do ensino superior, o ensino básico é quase um produto artesanal e muitas escolas precisam de apoio financeiro para perenizar os seus projetos.”

Marca líder: a Tarpon Investimentos, dona da Somos Educação, tem o Anglo como uma de suas principais marcas
Marca líder: a Tarpon Investimentos, dona da Somos Educação, tem o Anglo como uma de suas principais marcas (Crédito:Divulgação)
Como a Tarpon, a ideia é preservar a característica de ser um investidor de longo prazo. Mas a Bahema fez uma das mais difíceis escolhas dentro da educação básica: buscar apenas escolas com DNA e ignorar aquelas com sistemas de apostilas. Desde fevereiro de 2016, quase 80 escolas foram visitadas, de características mais diversas. Desde uma com mensalidade de R$ 400 em Diadema, na região metropolitana de São Paulo, até aquelas de R$ 7 mil, que são consideradas modelos. Frederico e Guilherme queriam acumular conhecimento das práticas de gestão e das necessidades.
Nessa peregrinação, encontraram de tudo, principalmente donos querendo vender o negócio e se mudar para Miami. Essas, obviamente, foram dispensadas. Eles explicavam que não são pedagogos, muito menos um fundo de private equity, com necessidade de triplicar os resultados em pouco tempo. Tudo o que eles não querem nesse projeto de educação é ser comparados aos financistas vorazes por choque de gestão, ganho de escala e formação dos próximos alunos de universidades direcionadas a formar executivos tradicionais para o mercado.
Os primeiros investimentos da Bahema foram anunciados em fevereiro. Ela aportou R$ 42,3 milhões na compra de 80% da Escola da Vila, que tem três unidades em São Paulo, e de 5% do capital da Escola Parque, do Rio de Janeiro, com outras três unidades. Há negociações avançadas com a Balão Vermelho, de Belo Horizonte, mas que ainda depende do acerto de algumas pendências. “As marcas não serão unidas em uma só. Elas são um sucesso pelos seus projetos e os modelos que acreditamos não são escaláveis”, diz Frederico. Nessa nova fonteira da educação, ainda há espaço para todos os modelos.
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Experiência e adaptação

Por Paula Bezerra, de Ribeirão Preto

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Foto: Felipe Gabriel
A experiência dos novos conceitos pedagógicos, que privilegiam o ensino adaptativo, é o pilar da Concept, escola modelo do Grupo SEB, lançada neste ano em Ribeirão Preto, cidade do interior paulista, e em Salvador. Foram quase cinco anos de um estudo liderado pela diretora-executiva Thamila Zaher para entender como criar uma escola inovadora, que seja uma inspiração para a formação dos novos líderes. O modelo, importado da Finlândia, trabalha a aprendizagem de forma lúdica e criativa.
A escola incentiva o senso crítico e analítico entre os jovens, com conceitos que estimulam a diversidade de projetos. A Concept não segue o modelo tradicional de aula, com alunos sentados de frente para a lousa. Os jovens levam os temas que querem discutir com o educador e podem fazer as atividades em qualquer ambiente. “A regra da Concept é não ter regra”, diz Zacarias Gonçalves, diretor nacional da escola. “A intenção é fazer com que os alunos tenham mais curiosidade e interajam mais ao longo das aulas.”
Ex-executivo da Apple, Gonçalves entrou no projeto do SEB em junho de 2016 para ajudar a desenvolver um modelo de ensino que realmente conversasse com os pilares de inovação e empreendedorismo. Na multinacional de tecnologia, a função dele era identificar práticas inovadoras para transmitir aos educadores. É essa experiência que ele levou para Concept, que, em breve, deve abrir uma unidade no Vale do Silício, para ficar próxima do berço da inovação.

Um comentário:

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