sábado, 3 de junho de 2017

O brilho do diamante

O brilho do diamante

O bem mais mítico do mundo poderá perder rapidamente o seu valor no mercado global. Quem coloca a hipótese são os próprios agentes da oferta, assustados com a geração que atinge agora a maturidade.
O brilho do diamante
      
José Vegar
03 de junho de 2017
Que todas as instituições mais sólidas do mundo, da família ao direito ao trabalho, estejam a sofrer abalos ciclónicos nos dias que correm só é novidade, ou uma preocupação recente, para os mais distraídos. Mas que o bem que simboliza por excelência a posse, o charme, a sedução, o poder e a riqueza, entre várias outras propriedades raras, possa de repente e irreversivelmente perder o brilho, será ainda um choque para a larga maioria de nós. No entanto, é isso que poderá vir a acontecer muito rapidamente com o diamante, se tivermos em conta os sinais que surgem dos principais "players" deste mercado, a começar pelo gigante mineiro De Beers.

O estado de preocupação do sector foi referenciado recentemente por uma notícia do Financial Times ("miners out to prove diamonds are still a cut above", 20 de Maio, pesquisável através de motores de busca), que dava conta de um paradoxo interessante, aquele criado pelo actual momento do mercado, por um lado, e o cenário a curto prazo desenhado pelos agentes da oferta, por outro lado.

Quanto ao primeiro, os indicadores não são para euforia, mas estão longe de ser deprimentes. Assim, o lucro da venda de diamantes para joalharia, a nível global, tem crescido sustentadamente desde 2009. No ano passado, aumentou 1% em relação a 2015, tendo o mercado global atingido os 80 biliões de dólares. Assim, tudo menos um mercado deprimido. Mas, este é o outro lado do paradoxo para os "players", o futuro próximo do mercado está subordinado à lei cruel da demografia, e esta mostra que o poder de compra actual e a médio prazo pertence à geração "millennials", ou geração dos milenares, aqueles nascidos entre 1980 e 1996.

Para a De Beers e os seus pares, a chegada da geração referida à idade madura é uma péssima notícia, por várias razões. A primeira, ou a mais forte, é que as estatísticas credíveis dos países ocidentais mostram que esta geração se envolve em noivado e casa em muito, mas muito, menor número. Ora, dizem os "players", homem sério e digno até agora não encetava noivado ou casamento sem oferecer uma jóia com diamante à sua paixão.

Se a tendência se mantiver, ou agravar, acrescentam os agentes, uma fatia importante do mercado irá desaparecer. Mas a geração milenar constitui ainda uma preocupação devido a outros valores ou ideias. De facto, parece, ou assim indicam os dados existentes, que esta é a geração que prefere a experiência à posse de um bem, e que tem preocupações de sustentabilidade ecológica e de direitos humanos, o que os faz desconfiar dos métodos da indústria diamantífera.

Além das dores de cabeça gerada pela geração dos milenares, os produtores têm ainda uma outra frente de combate. Aquilo que parecia impossível, um diamante criado em laboratório pelo homem ter valor, está afinal a acontecer, como mostram os relatórios de venda do, por exemplo, Diamond Foundry, um dos líderes deste sector. A razão para os diamantes de laboratório estarem a ser aceites pelo mercado é muito simples: o preço é menor 30 a 40%.

Assim, perante esta conjuntura, os agentes da oferta reuniram-se pela primeira vez numa associação e planearam uma campanha de comunicação que está agora no terreno. A mensagem não podia ser outra: "Real is Rare." Os próximos tempos serão fascinantes para aqueles que se interessam por um dos bens mais míticos do mundo. Especialmente para aqueles que investiram ou tencionam investir em diamantes. Será que a pedra irá manter o seu brilho, ou a cultura de uma geração irá acabar com ele?
Exame.com


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