quarta-feira, 23 de maio de 2018

China tenta controlar suprimento global de lítio


China tenta controlar suprimento global de lítio

A China está lentamente adquirindo controle sobre o fornecimento global de lítio, um importante mineral na cadeia de suprimento de produção de novas tecnologias.
Em 17 de maio, a Tianqi Lithium, com sede na China, pagou mais de US$ 4 bilhões para comprar uma participação considerável na Sociedad Química y Minera (SQM) do Chile, uma das maiores produtoras de lítio
 do mundo. A Tianqi comprou a participação na SQM da empresa canadense de fertilizantes Nutrien.
O lítio é um mineral essencial para a produção de baterias de alta capacidade, que alimentam os smartphones, os carros elétricos e as redes de energia renovável do mundo. Estima-se que a produção global de carros elétricos aumente drasticamente a demanda por lítio. Quem controla a produção de lítio tem grande influência sobre o preço e a cadeia de suprimentos para essas tecnologias emergentes.
A SQM é estrategicamente importante para o suprimento global de lítio porque talvez seja a produtora mais eficiente. Atualmente, existem dois métodos principais para produzir lítio comercial. A primeira técnica é a mineração de rocha dura, que depende da extração de lítio de minérios, como petalita, lepidolita ou espodumênio, um processo que é caro e demorado. A outra maneira é extrair o lítio da salmoura salina rica em lítio, também conhecida como salar.
Explorando as ocorrências naturais de concentrações de água de salmoura, a SQM é a produtora de lítio de menor custo do mundo. A empresa bombeia salmoura de reservatórios subterrâneos para piscinas retangulares gigantes em todo o deserto chileno. O líquido resultante após a evaporação – o cloreto de lítio – é então enviado para as refinarias para produzir carbonato de lítio.
O oligopólio global de lítio
Alguns grandes produtores de minerais controlam uma parte enorme da oferta global de lítio, mesmo antes do investimento da Tianqi na SQM.
A produtora de produtos químicos Albemarle Corp., sediada em Charlotte, é líder global do mercado na produção de lítio, com 18% de participação, de acordo com a Bloomberg. A chinesa Jiangxi Ganfeng Lithium Co. é a segunda maior com 17%, seguida da SQM do Chile, com 14%. A Tianqi é a quarta maior produtora com 12% de participação de mercado. A parte restante é dividida entre vários pequenos produtores.
Em termos de reservas, o Serviço Geológico dos Estados Unidos estimou em 2017 que o Chile teria as maiores reservas de lítio do mundo, com 7,5 milhões de toneladas, seguido pela China, com 3,2 milhões de toneladas. Argentina e Austrália são números três e quatro, respectivamente.
Mas esses números subestimam a concentração da oferta global de lítio nas mãos de poucos fornecedores interconectados. A mina de Greenbushes, na Austrália, é o maior depósito de mina do mundo. A Greenbushes é uma joint venture entre a Albemarle e a Tianqi, que por si só foi responsável por cerca de 35% da produção global de carbonato de lítio em 2017, segundo a Bloomberg.
A Tianqi também possui uma participação de controle na Talison Lithium, na Austrália, outro grande produtor global, segundo a Caixin, uma revista de negócios sediada na China.
Os dois maiores produtores chineses entre os cinco maiores do mundo – a Ganfeng e a Tianqi – são empresas privadas de capital aberto. Mas, considerando que ambos residem em setores estrategicamente importantes para o programa estatal “Feito na China 2025”, seus interesses se alinham com os do Partido Comunista Chinês. Por exemplo, Jiang Weiping, presidente da Tianqi, foi um delegado do Congresso Popular Nacional em março de 2018.
Qualquer pretensão de que a proposta de compra da SQM por parte da Tianqi fosse puramente econômica entre as duas empresas privadas foi frustrada no mês passado, antes da oferta ser sedimentada: o embaixador da China no Chile, Xu Bu, disse ao jornal La Tercera que qualquer interferência potencial dos reguladores chilenos para rejeitar o acordo da SQM poderia “resultar em influências negativas no desenvolvimento das relações econômicas e comerciais entre os dois países”, segundo uma reportagem do Financial Times.
Preços fixos e previsão mista
O ambiente de mercado atual é favorável à consolidação do setor. Após anos de aumento nos preços do lítio de 2014 a 2017, mais recentemente o preço do lítio se estabilizou na expectativa de aumento da produção, e os preços das ações dos produtores de lítio também caíram.
O preço à vista de 99% de carbonato de lítio puro importado para a China diminuiu 1,1% nos últimos seis meses, de acordo com o Asianmetal.com, um website que acompanha os preços de importação de commodities. O preço subiu cerca de 1% no ano passado.
O valor dos produtores de lítio e baterias também tem diminuído durante o mesmo período. O preço por ação do Global X Funds Lithium ETF, que acompanha o Índice Global Solactive de Lítio, compreendendo empresas dedicadas à mineração e exploração de lítio e produção de baterias de lítio, diminuiu quase 11% nos últimos seis meses encerrado em 18 de maio.
No longo prazo, os preços do lítio poderiam ter uma queda ainda maior devido ao aumento da oferta de baixo custo no Chile e na Austrália.
“Projetamos que 2018 seja o último ano do déficit global do mercado de lítio, seguido por superávits significativos emergentes para 2019 em diante”, escreveram os analistas do Morgan Stanley numa nota de pesquisa de 26 de fevereiro para clientes sobre os preços globais de lítio. “Seria preciso taxas de penetração de VE (veículo elétrico) muito maiores para compensar esses superávits e equilibrar o mercado, em nossa opinião.”
Os preços do lítio devem atingir cerca de US$ 13 mil por tonelada em 2018, antes de cair cerca de 45%, para US$ 7 mil por tonelada até 2021, segundo o Morgan Stanley.
Mas especialistas do setor de lítio acreditam que a demanda continuará a superar a oferta. Ken Brinsden, presidente-executivo da mineradora de lítio australiana Pilbara Minerals, disse à Reuters numa conferência de mineração no início do ano que Wall Street “está subestimando a rapidez com que o mercado está se movendo no lado da demanda”.
Tanto a China quanto a Índia estão aumentando os mandatos para a adoção de VE, e a Europa recentemente azedou em relação ao diesel e tem favorecido a eletrificação. Grande parte da angústia nos Estados Unidos em relação à adoção de VE centra-se na contínua perda de produção na Tesla Inc. Mas olhando para além da Tesla, o fato é que todas as grandes montadoras, da General Motors à Volvo, planejam aumentar drasticamente a produção de VE nos próximos três anos.
A China já controla um suprimento considerável de cobalto, níquel e outros metais de terras raras. Seu crescente controle sobre a produção de lítio traz ainda mais desconforto para a indústria global de VE, e pode desencadear uma corrida para garantir os recursos limitados. O domínio da China em matérias-primas para a indústria poderia prejudicar a capacidade dos fabricantes de automóveis ocidentais de competir no futuro.
A agência de classificação de risco Moody’s Investors Service alertou no início deste mês que uma oferta insuficiente de baterias poderia impedir que a Tesla alcançasse suas metas mensais de produção. Em 16 de maio, a Tesla fechou um acordo com a mineradora australiana Kidman Resources Ltd. pelo fornecimento de hidróxido de lítio para sua produção de baterias, embora não se espere que a mina produza pelo menos até 2021.
Fonte: Epoch


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