terça-feira, 24 de setembro de 2013

O negócio secreto das pedras preciosas

O negócio secreto das pedras preciosas


Richard Hughes é o "Indiana Jones" moderno das pedras preciosas. Há décadas, esse americano percorre o planeta atrás das gemas mais valiosas, encarando pelo caminho aventuras dignas do cinema. Essa indústria, que movimenta US$ 10 bilhões por ano, é envolta não só em beleza, mas também em mistério.
Ao contrário do negócio mundial de diamantes, que é em grande parte controlado por empresas gigantes como a De Beers e minuciosamente monitorado por investidores e banqueiros de Wall Street, o mundo das pedras preciosas coloridas ainda é dominado por pequenos mineradores e aventureiros que vão a alguns dos lugares mais perigosos e subdesenvolvidos do mundo em busca de novos tesouros. As melhores pedras tendem a vir de países como Madagascar, Tajiquistão, Colômbia e Mianmar, onde o contrabando muitas vezes corre solto, a manutenção de registros é deficiente e os donos de minas com frequência impedem a presença de comerciantes de fora por medo de que façam seus próprios negócios com os moradores locais.
Em alguns casos, especialistas como Hughes compram pedras de garimpeiros ou intermediários e as revendem a clientes ricos. Há gemas que chegam ao público através de atacadistas que as compram em leilões ou mercados abertos na Tailândia, Índia e outros centros de processamento. Só num leilão em Mianmar, em 2011, as vendas chegaram a US$ 2,8 bilhões. De qualquer forma, os compradores de pedras preciosas raramente têm ideia de onde vieram as pedras e, mesmo se quisessem, provavelmente não teriam como descobrir sua origem. Quando se trata de rastrear os dados mais básicos sobre quais países produzem a maioria das pedras, a indústria é "muito vaga", diz Jean Claude Michelou, vice-presidente da Associação Internacional de Pedras Preciosas Coloridas, entidade que representa o setor.
As melhores pedras vêm de lugares como Madagascar, Tajiquistão, Colômbia e Mianmar
Na verdade, é praticamente impossível encontrar um diretor-presidente ou grandes acionistas por trás das maiores minas de rubi ou safira do mundo. Em Mianmar, país há muito considerado a principal fonte mundial de rubis e jade, muitas minas são controladas pelos militares ou seus colaboradores mais próximos, incluindo alguns que são alvo de sanções dos Estados Unidos impostas anos atrás para punir o autoritário regime militar do país. (Embora muitas dessas sanções tenham sido relaxadas nos últimos dois anos, quando um novo governo reformista começou a reverter décadas de rígido controle militar, algumas restrições sobre as pedras preciosas de Mianmar foram mantidas.) Mas as pedras também podem vir de caçadores privados de fortunas cujas identidades são desconhecidas fora de seus países. Um dos magnatas que Hughes conheceu durante uma perigosa caçada a jade em minas da remota Hpakant, em Mianmar, era um ex-motorista de táxi que começou com uma pedra bruta que comprou por US$ 23 de um passageiro e a revendeu por US$ 5.000 para um comerciante de jade. (Quando Hughes o conheceu, em 1996, ele posou para uma fotografia sobre uma pilha de pedras de jade que ocupava uma sala inteira de sua casa.)
Ao mesmo tempo em que é difícil acompanhar o crescimento da indústria, os especialistas dizem que os preços vêm subindo significativamente nos últimos anos, em grande parte porque o fornecimento é inconstante. Robert Genis, um comerciante e caçador de pedras preciosas do Arizona que entrou para o negócio na década de 70, diz que os rubis de alta qualidade de Mianmar quadruplicaram de valor no varejo, para mais de US$ 40.000 o quilate, desde meados da década de 90, enquanto as esmeraldas colombianas praticamente dobraram de valor em relação ao início dos anos 2000. Hughes, que já viajou para mais de 30 países em busca de pedras e agora vive em Bangkok, diz que os preços do jade aumentaram em dez vezes nos últimos cinco anos, devido em grande parte ao aumento da demanda da China, embora recentemente os preços tenham caído ligeiramente.
Para quem estiver disposto a manter suas pedras por um longo período, o retorno pode ser enorme. Considere a safira de 62 quilates que John D. Rockefeller Jr. comprou de um marajá indiano em 1934 e a transformou em um broche para sua esposa. A família vendeu a pedra em 1971 a um negociante de joias por US$ 170.000. Nove anos depois, ela voltou ao mercado e foi vendida por US$ 1,5 milhão e, em 2001, foi revendida por mais de US$ 3 milhões. Outra safira famosa, comprada pelo empresário James J. Hill para sua esposa na década de 1880, por US$ 2.200, foi vendida por mais de US$ 3 milhões em um leilão em 2007. E há ainda o rubi de 8 quilates de Mianmar dado a Elizabeth Taylor pelo marido, o ator Richard Burton, em 1968, como presente de Natal. Em 2011, ele foi leiloado por US$ 4,2 milhões.
O diamante ainda continua a ser o melhor amigo de uma mulher, como disse uma vez a atriz americana Marilyn Monroe, mas as pedras coloridas continuam a ter um fascínio quase místico. Parte da atração está ligada à sua beleza luminosa e à sua raridade. Para muitas pessoas ricas, especialmente na Ásia, não há nada como ter uma coleção de pedras brilhantes que podem transportar ou esconder para vender em caso de emergência. Isso se tornou ainda mais comum com a crise financeira global.
Encontrar novas grandes pedras para saciar a demanda mundial, porém, não é tarefa fácil. É aí que os caçadores entram em ação. Genis, o negociante do Arizona, diz que entrou nesse negócio ainda na faculdade, quando estudou mapas para ver onde estavam os recursos naturais mais cobiçados do mundo, incluindo estanho, ouro e cobre. Foi o pequeno símbolo verde na Colômbia, representando depósitos de esmeralda, que mais o atraiu. Ele vendeu um aparelho de som e um carro velho, juntando US$ 1.000 para a viagem.
Após uma viagem de ônibus até a fronteira da Califórnia com o México, alguns trens e muitas caronas, Genis desembarcou no distrito de esmeraldas de Bogotá e usou o dinheiro que lhe restava para comprar pedras preciosas. Voltou aos EUA e duplicou o investimento vendendo as pedras. "De repente, tinha US$ 1.000 a mais e pensei: 'Isso é muito melhor do que ir para a faculdade'", lembra. Após várias visitas, ele estava ganhando o suficiente para ir de avião à Colômbia, com paradas para se divertir no Caribe.
Hoje, Genis contrata outras pessoas para buscar muitas das pedras que vende, incluindo um associado de Mianmar que conheceu durante uma conferência de pedras preciosas e tem conexões com os famosos depósitos de rubi de Mogok. Apesar de não serem tão selvagens como em Hpakant, as minas de Mogok também são estritamente vigiadas por militares - e reverenciadas em todo o mundo.
O apelo é evidente quando se considera o tipo de negócio que se consegue por lá. A última descoberta de Genis: uma safira de 39 quilates que agora está à espera de ser leiloada na Sotheby's. Genis diz que calcula que a pedra possa arrecadar até US$ 1 milhão na prestigiada casa de leilões. "Para muitos desses colecionadores, é quase como heroína: quando você começa, não consegue parar", diz.
À medida que a demanda por pedras preciosas coloridas continua crescendo, uma questão permanece no ar: será que essa indústria pode se autorregular? Parte da resposta pode estar a meio mundo de distância de Mianmar, em Londres, no nobre bairro de Mayfair. Lá, um grupo de veteranos da indústria de mineração está elaborando seu próprio plano para obter mais pedras coloridas.
A empresa do grupo, a Gemfields, está tentando se tornar uma potência da indústria, algo como a De Beers das pedras coloridas. Apoiada por um ex-diretor-presidente da mineradora anglo-australiana BHP Billiton, a maior mineradora do mundo, e com ações negociadas na Bolsa de Londres, a Gemfields afirma que tem a meta de assegurar os direitos sobre uma percentagem grande o suficiente da produção mundial de pedras preciosas para introduzir processos modernos de mineração e, assim, garantir um fornecimento mais previsível, ao mesmo tempo em que investe pesadamente em marketing para tornar as pedras mais conhecidas.
Ian Harebottle, o sul-africano que é diretor-presidente da empresa, diz que pedras coloridas costumavam ser tão populares quanto os diamantes até a década de 40, quando a De Beers começou a pôr em ação seu gigantesco orçamento de marketing, com slogans como "um diamante é para sempre". Hoje, as vendas de pedras coloridas são apenas uma fração dos US$ 70 bilhões do comércio internacional de diamantes, e os mineradores de pequeno porte que dominam o negócio não têm o dinheiro ou a escala necessários para fazer muita coisa, diz ele. A Gemfields já produz 20% das esmeraldas do mundo, em uma grande mina da qual é sócia na Zâmbia. A empresa informa que é responsável por até 40% da oferta mundial de ametista e está começando a produzir rubis em um grande depósito em Moçambique. A Gemfields quer se expandir em outros lugares - inclusive Mianmar, se o governo do país mantiver o ritmo da reformas e a situação dos direitos humanos melhorar, diz Harebottle.
A Gemfields também comprou recentemente a Fabergé, famosa marca de joias que remonta à era dos czares russos. A ideia é usar a Fabergé, que tem lojas em todo o mundo, para comercializar algumas de suas pedras no segmento ultraluxo, à medida que cria uma das primeiras cadeias do mundo de fornecimento de gemas coloridas do tipo "da mina ao mercado".
As iniciativas da Gemfields ocorrem em meio a outras tentativas por parte de investidores para trazer práticas mais modernas para a indústria, incluindo disponibilizar mais amplamente as informações de preços e melhorar a classificação das pedras e o monitoramento de práticas, de modo que os consumidores possam ter um ideia melhor sobre quanto valem suas pedras e de onde elas vieram. Funcionários da Associação Internacional de Pedras Preciosas Coloridas, por exemplo, estão pressionando pela criação de um sistema para rastrear as origens das gemas coloridas. Michelou, da associação, diz que alguns países, incluindo Colômbia, Tanzânia e Sri Lanka, têm manifestado interesse.
Ao mesmo tempo, outras empresas estão criando cadeias de fornecimento "da mina ao mercado" e atualizando seus métodos de produção. Entre elas está a TanzaniteOne Mining e sua controladora, a britânica Richland Resources Ltd., que têm ajudado a transformar o mercado de tanzanita ao investir em minas que antes eram artesanais na região do Monte Kilimanjaro, onde estão os únicos depósitos da rara pedra azul conhecidos no mundo. E até mesmo as minas de Hpakant, em Mianmar, estão adotando mais mecanização nos últimos anos, com máquinas de terraplenagem substituindo muitos trabalhadores, embora o local, em geral, continue fora de controle. Tudo isso poderia um dia impulsionar o valor das pedras coloridas caso consiga tornar as fontes mais confiáveis e aumentar a demanda.
"A indústria de pedras coloridas provavelmente irá nessa direção, [de] mineração mais racional e mais formal", diz Russell Shor, analista do Instituto Gemológico dos EUA, uma das maiores autoridades do mundo em pedras preciosas. "Vai ser um processo lento, mas creio que seja esse o futuro."
No entanto, muitas pessoas, incluindo vários caçadores de pedras, permanecem céticos. Os principais depósitos de pedras do mundo, afirmam, são muitas vezes pequenos demais para justificar grandes investimentos e às vezes podem ser explorados de forma mais eficiente com ferramentas manuais primitivas. As minas estão tão espalhadas e em lugares tão irregulares que poderia ser muito complicado - sem falar no custo - trazê-las para a era moderna. "Quantos trilhões você tem?", pergunta Genis. "Com exceção dos diamantes, a maioria das fontes de pedras preciosas é antiga e as melhores pedras já se foram." Tentar integrar as minas, diz ele, "seria praticamente impossível".
Hughes, o caçador de pedras que vive em Bangkok, concorda. Segundo ele, as pessoas sempre se interessaram em trazer mais ordem para o comércio de joias. Mas a Mãe Natureza protege seus tesouros muito bem, escondendo- os em locais de acesso extremamente difícil, diz ele, e as pessoas que cuidam deles têm pouco incentivo para entregar o controle a Londres, Wall Street ou qualquer outro interessado.
"As pedras preciosas são diferentes de outros tipos de mineração", diz Hughes, porque há uma alta concentração de valor em áreas muito pequenas e relativamente poucas pedras. Além disso, apenas as pessoas, e não as máquinas, podem separar espécimes valiosas das que não valem nada - e isso inclui os garimpeiros artesanais que hoje controlam grande parte dessa atividade. Se as grandes empresas tentarem impor mais ordem, diz ele, "sempr ehaverá pessoas encontrando formas de contorná-la".

Reservas de cobre e ouro serão leiloadas

Reservas de cobre e ouro serão leiloadas

Reservas de cobre e de níquel em Goiás, de fosfato em Pernambuco e na Paraíba, de caulim no Pará, de ouro em Tocantins e de diamante na Bahia estão na lista das primeiras jazidas minerais com grande potencial que devem ser leiloadas pelo governo dentro do novo modelo de concessões anunciado pela presidente Dilma Rousseff. Todas as áreas têm potencial identificado e mapeado pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais. "São áreas com depósitos minerais muito bem caracterizados", afirmou ao Valor seu presidente, Manoel Barretto. Segundo ele, as áreas oferecem "risco zero" ao setor privado e "não existem dúvidas" sobre sua viabilidade.

Ex-diplomata dos EUA extrai diamantes no norte de MG

Ex-diplomata dos EUA extrai diamantes no norte de MG

Wilfredo Lee/AP / Wilfredo Lee/APNoriega, ex-sub-secretário americano para a América Latina, é um dos diretores da Brazil Minerals, que também tem projetos em ouro, vanádio e minério no Brasil
Durante parte do governo do ex-presidente George W. Bush, Roger Noriega foi embaixador dos EUA na Organização dos Estados Americanos (OEA) e sub-secretário de Estado para a América Latina e Canadá. A diplomacia deixou de ser sua atividade e, nos últimos anos, Noriega tem dedicado seu tempo a escrever artigos, a fazer palestras e a sua consultoria a empresas americanas que buscam oportunidades na América Latina. Desde o começo do ano, o próprio Noriega também tem interesses comerciais no Brasil. Ele é um dos diretores de uma pequena e recém-criada mineradora, com sede na Califórnia, que em janeiro começou a extrair diamantes numa área próxima ao Rio Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais.
Além dele, dois ex-embaixadores fazem parte do corpo diretivo da mineradora, a Brazil Minerals: John Bell (que foi cônsul do Canadá em São Paulo e embaixador no Brasil entre os anos 70 e início dos 90), e Paul Durand (ex-embaixador do Canadá na Costa Rica, Chile e OEA entre os anos 90 e 2000).
Quem está à frente da companhia é Marc Fogassa, um brasileiro-americano de 46 anos, que estudou no MIT e fez carreira nos EUA em empresas de venture capital e em negócios do setor de saúde. Fogassa vive em Los Angeles, Califórnia. Em 2011 começou a avaliar o negócio com a área em Duas Barras (MG), a área nas margens do Jequitinhonha. Os donos eram os canadenses da Valdiaam, que no fim da década passada foi uma produtora importante de diamantes no Brasil.
Em entrevista ao Valor durante passagem por Belo Horizonte, Fogassa contou que a Brazil Minerals tem interesses em outros minerais no país. Um deles é o fosfato, numa área no município de Lagamar, no oeste mineiro. Também numa área onde haveria reservas de titânio, vanádio e minério de ferro no Piauí e ouro em uma região de difícil acesso perto do município de Apuí, no Amazonas.
Mas de todos os projetos em vista, é o de diamantes que está mais desenvolvido. E o único em produção. No primeiro trimestre, Brazil Mineral retirou de uma área alagada, separada por uma faixa de vegetação do rio, cerca de 350 quilates; no segundo trimestre, segundo comunicado ao mercado americano, foram aproximadamente 900 quilates. A Brazil Minerals tem ações negociadas no "over to counter" (OTC) nos EUA - um tipo de mercado de papéis do qual geralmente empresas menores participam.
A Brazil Minerals foi formalmente criada em 18 de dezembro de 2012. E Fogassa se mostra surpreso com o número crescente de acionistas. Em 13 de junho, por exemplo, eram 2.160; no dia 28 já eram 2.452 - 95% deles são americanos, diz o empresário, e entre eles há pequenos hedge funds e family offices. A possibilidade de diversificar investimentos, de apostar em recursos minerais numa empresa com a transparência do mercado americano e com uma equipe operacional e técnica brasileira parece ser o apelo da Brazil Minerals, diz Fogassa. E há também o atrativo pelo carro-chefe, o negócio com diamantes.
"Os diamantes voltaram a ser a coisa mais sexy do momento", disse Fogassa, com seu sotaque americano, ao lado do geólogo Paulo Amorim, ex-funcionário da Vale, e agora parte da equipe da nova mineradora. O mercado sofreu um recuo com a crise de 2008, mas foi recuperando espaço. "Quase todo dia tem gente me procurando interessada em comprar diamantes. Eu até fiz uma lista outro dia dos brokers de diamantes brutos que já me escreveram, pessoas de Dubai, do Canadá, do Reino Unido, Estados Unidos, Bélgica, Rússia e Itália."
A produção de Duas Barras está sendo vendida, até agora, apenas para intermediários no Brasil. Mas o plano de negócios da mineradora passa também por lapidar uma parte menor, talvez 20%, da produção. Uma possibilidade seria vendê-la para joalherias de médio porte nos EUA. O valor de um diamante lapidado costuma ser algumas vezes maior do que o de um bruto, mas no Brasil a lapidação de diamantes em escala é um tipo de atividade que praticamente desapareceu. O custo na Índia, considerada especialista em pedras menores, por exemplo, é uma fração do encontrado no Brasil. Mas Fogassa acha que vale apostar. Sua equipe, diz, já começou a entrar em contato com lapidadores que ainda resistem.
A reserva indicada e inferida de diamantes de Duas Barras, segundo o empresário, é de 432 mil quilates; a de ouro - também em início de produção - 491 quilos.
Por e-mail, o ex-embaixador dos EUA Roger Noriega falou de sua participação no negócio. Disse que seu envolvimento "está diretamente relacionada à confiança" que tem em Fogassa, a quem descreve como um "brilhante jovem empreendedor brasileiro-americano" que conhece muito bem o Brasil e sua economia. "Espero que minha experiência diplomática traga benefícios à Brazil Minerals porque eu entendo os desafios e oportunidades de se fazer negócios no Brasil." Noriega disse que também é conselheiro de Marc num fundo de investimento, o Hedgefort, voltado para o Brasil.
A Brazil Minerals investiu US$ 2 milhões no país, segundo Fogassa, e pretende captar mais recursos este ano. O objetivo é chegar ao faturamento da antiga dona da área, cerca de US$ 10 milhões. Há duas semanas ele esteve nas margens do Jequitinhonha com dois executivos de um banco de investimentos de Nova York, interessados em conhecer de perto os ativos de uma empresa sobre a qual começam a acompanhar os resultados e a produzir relatórios, contou Fogassa. Os contatos com potenciais investidores estão em curso, afirmou. E para isso, ele conta com sua rede de contatos e com as dos ex-embaixadores. Sobre o colega americano, diz: "Noriega conhece as grandes empresas, muitos altos executivos na América Latina e ele me põe em contato com facilidade com eles."

Geológos identificam jazidas de diamantes

Geológos identificam jazidas de diamantes

Uma equipe de geólogos do governo federal identificou dezenas de novas áreas pelo país potencialmente ricas em diamantes. A maioria está no Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Pará. Até então, informações oficiais sobre esses pontos eram escassas ou não existiam. Os detalhes dos achados ainda são mantidos em reserva. A previsão é que sejam divulgados em 2014. O governo avalia que os dados poderão atrair empresas e levar a um aumento da produção de diamantes no país.
Os trabalhos fazem parte do projeto Diamante Brasil, do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), órgão vinculado ao Ministério das Minas e Energia. As pesquisas de campo começaram em 2010 e desde então geólogos visitaram cerca de 800 localidades em todo o país, recolhendo amostras de rochas, fazendo perfurações e levantando informações sobre as gemas de cada um dos pontos.
O objetivo, segundo o geólogo Francisco Valdir Silveira, chefe do Departamento de Recursos Minerais do CPRM e coordenador do projeto é fazer uma espécie de tomografia das áreas diamantíferas no território brasileiro. É um levantamento inédito.
O ponto de partida da equipe foi uma lista que a De Beers, gigante multinacional do setor de diamantes, deixou com o governo após anos de investimentos e atividades no Brasil. Da lista constavam coordenadas geográficas de 1.250 pontos, entre os quais muitos kimberlitos, mas nada de detalhes sobre quantidades, qualidade e características das pedras dessas áreas. Kimberlito é um tipo de rocha que serve como um canal do subsolo até a superfície e na qual em geral os diamantes são encontrados.
"O projeto Diamante Brasil não foi concebido para descobrir novas áreas de diamantes. Mas a grande surpresa foi que conseguimos registrar novos kimberlitos e áreas com potencial para que outros kimberlitos sejam descobertos", disse Silveira ao Valor.
"O projeto já descobriu e cadastrou mais de 50 corpos [possíveis depósitos de diamantes no subsolo]", disse. Em praticamente todos os Estados, segundo ele, a equipe identificou áreas com potencial para produção de diamantes. Várias delas não constavam nem do documento da De Beers. Caso, por exemplo, de um kimberlito descoberto no Rio Grande do Norte. Mas as maiores novidades estão no Norte e Centro-Oeste (Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Pará).
Este ano, com o trabalho de campo praticamente concluído, os geólogos do Diamante Brasil passam a se dedicar mais à descrição dos minerais encontrados e às análises dos furos das sondas. O projeto se encerra em 2014.
O diagnóstico ajudará a atrair investimentos de mineradoras e eventualmente ajudar a mobilizar garimpeiros em cooperativas. E com isso, aumentar a produção de diamantes no país. Hoje, a produção nacional é pequena e em grande parte ilegal, diz. Brasil é signatário do Processo de Certificação Kimberley, um acordo internacional chancelado pela ONU, que exige dos países participantes documentação que ateste procedência em áreas legalizadas.
Todo o diamante que sai do Brasil é ainda produzido em áreas de aluvião - pedras retiradas de leitos de rio ou do solo. Minas Gerais, Rondônia e Mato Grosso são alguns dos Estados com atividade garimpeira expressiva. O país não tem mina aberta extraindo diamante em rocha primária, no subsolo, onde estão depósitos maiores e as pedras mais valiosas. Os novos achados podem abrir caminho para potenciais novas minas.
Reservas dos chamados diamantes industriais e também de gemas (para uso em joias) se espalham pelo país, segundo Silveira. Estes últimos são os que fazem girar mais dinheiro.
Um diamante pode ser vendido em um garimpo do Brasil por R$ 2 milhões. Depois, um atravessador de Israel ou da Europa paga R$ 10 milhões pela pedra. E ela pode chegar a Antuérpia, por exemplo, para ser lapidada, ao preço de R$ 17 milhões, R$ 20 milhões.
Esses diamantes brutos, grandes e valiosos, também estão no radar do CPRM. O projeto ainda não conseguiu desvendar um mistério sobre a origem dos maiores diamantes do Brasil. O alvo principal é o município de Coromandel e região, no leste de Minas Gerais, onde foram encontrados nas últimas décadas grandes exemplares. Vários acima dos 400 quilates.
Silveira diz que os geólogos do CPRM vão testar novos métodos para tentar encontrar os kimberlitos que dão origem a essas pedras.

Projeto prevê quintuplicar produção de diamantes no país

Projeto prevê quintuplicar produção de diamantes no país

Edson Ruiz/Valor / Edson Ruiz/ValorJohnson, da Lipari, estima lucro líquido de US$ 330 milhões durante os sete anos de vida útil prevista para a mina
Fica numa região pobre e seca no interior da Bahia, onde rebanhos vêm morrendo de sede e boa parte da população depende do Bolsa Família, o alvo de um grupo de investidores estrangeiros acostumados a farejar negócios com diamantes.
É em Nordestina, cidade de 12 mil habitantes, onde está sendo desenvolvida aquela que deverá ser primeira mina de diamantes em rocha kimberlítica da América do Sul. São minas desse tipo que existem nos grandes produtores de diamantes: Rússia, países africanos, Austrália e Canadá.
Quem está a cargo do negócio é a Lipari Mineração, comandada pelo empresário e geólogo canadense Kenneth W. Johnson. Os sócios da Lipari são um fundo de investimentos baseado em Hong Kong, na China, o Favourite Company, e uma empresa familiar da Antuérpia, na Bélgica, a Aftergut & Zonen - ambos com negócios com diamantes pelo mundo.
A empresa já investiu R$ 60 milhões no chamado Projeto Braúna. No fim de abril, a mineradora apresentou à equipe do governador da Bahia, Jacques Wagner (PT), seu projeto de investimentos de quase R$ 100 milhões até o fim do próximo ano. O orçamento para este ano é de R$ 30 milhões.
Análises da Lipari apontam que o tipo de diamante presente na área, que atrai a atenções do setor desde os anos 80, está entre os cinco mais valiosos do mundo. A cidade está em uma região geológica chamada Green Stone Belt Itapicuru, formação semelhante à da África do Sul, favorável à ocorrência de ouro e diamantes.
A Lipari prevê produzir entre 225 mil quilates a 250 mil quilates de diamantes por ano ao longo de sete anos, que é a vida útil inicial estimada na futura mina. Trata-sede uma gota no oceano da produção mundial, que passa dos 120 milhões de quilates. Mas quintuplicará a produção legal anual de todo o país. De acordo com o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), o Brasil produziu 46.292 mil quilates em 2012.
Em um cenário otimista, o Projeto Braúna pode abrir uma porta para mudar a posição do Brasil no mercado mundial de diamantes. Atraindo outros investidores do ramo para a construção de minas em kimberlitos inexplorados no Brasil. O país está há alguns anos fora do radar das grandes mineradoras especializadas.
O cronograma prevê o início da escala comercial no primeiro trimestre de 2015. No fim de 2012, a companhia encerrou a fase de análises de 5 mil toneladas de rocha. Foi quando ratificaram a viabilidade econômica da mina. Em janeiro, um estudo de uma consultoria externa encomendado pela Lipari projetou lucro líquido de US$ 330 milhões durante os sete anos. As pedras brutas deverão ser vendidas em Antuérpia, Tel-Aviv (Israel) e Dubai (Emirados Árabes Unidos), centros mundiais de comércio das pedras, segundo Johnson.
A Lipari está em fase de obtenção da licença prévia do Estado da Bahia para seu projeto. A expectativa é consegui-la até agosto. E a licença de instalação - que vai permitir a abertura da cava - no fim do ano. Se assim ocorrer, a construção da mina e da unidade de processamento se estenderá por 2014.
O Brasil sempre extraiu diamantes na superfície do solo ou no leito de rios, longe da escala atingida na extração em kimberlitos
A mina será a céu aberto. A boca terá 340 metros de diâmetro e 250 metros de profundidade. É a estrutura adotada nas minas de diamantes dos grandes produtores no mundo: uma grande cratera, cujas laterais em degraus servem de "ruas" para que caminhões fora de estrada retirem toneladas de rocha onde estão os diamantes. Há cerca de 20 dessas minas em rochas kimberlíticas ou de outra natureza - chamadas de fontes primárias - no mundo.
O Brasil, que já foi o maior produtor de diamantes do mundo até o século 19 - antes das descobertas das minas da África -, sempre extraiu o mineral de camadas superficiais do solo ou do leito de rios, em garimpos de aluvião, um tipo de produção que não alcança a escala da extração em kimberlitos.
A Lipari extraiu no ano passado cerca de 2 mil quilates de diamantes do kimberlito Braúna 3, onde será construída a mina. São diamantes para estudos geológicos e econômicos que estão guardados num cofre de uma empresa de segurança em Salvador. "Eles são similares em qualidade aos que são produzidos na África do Sul", disse Johnson ao Valor.
Com base nos dados coletados e em avaliações independentes, Johnson diz que os diamantes do local têm alta qualidade para à indústria joalheira. "Nossa expectativa é que os diamantes produzidos no Projeto Braúna tenham potencial para estar entre os top 5 do mundo em termos de preço." Ele afirma que a última avaliação, de novembro, apontou valor médio dos diamantes do projeto de US$ 284 o quilate. "Provavelmente, o valor de venda oscilará entre US$ 275 e US$ 325 o quilate durante a operação da mina."
O geólogo Francisco Valdir Silveira, chefe do Departamento de Recursos Minerais do Serviço Geológico Brasileiro (CPRM, na sigla antiga) e coordenador do Projeto Diamante Brasil, que faz uma espécie de tomografia das áreas com potencial do país, destacou que o projeto "tem uma grande vantagem, os diamantes coloridos, e se surgir uma pedra grande colorida, paga o projeto."
Edson Ruiz/Valor / Edson Ruiz/ValorDiamantes já retirados em Nordestina sinalizam que a qualidade das pedras é similar às extraídas na África do Sul
Para os moradores de Nordestina, tudo isso ainda é um susto. Embora os estudos se arrastem por alguns anos, só em abril o negócio ganhou a imprensa baiana após a empresa ter discutido detalhes com o governo do Estado. "Há umas semanas, o vice-governador Otto Alencar me ligou e disse: 'Você não tem noção do que vai acontecer no seu município"', conta o prefeito, Wilson Araújo Matos (PSD). A cidade terá receita adicional de milhões referentes a royalties e muita oferta de trabalho. Na fase de construção, serão criados cerca de 600 empregos - 330 durante a operação. Hoje o maior empregador da cidade é a prefeitura, com cerca de 600 funcionários.
Como quase todo o Nordeste, a cidade está sendo castigada pela seca que entra em seu terceiro ano. Já perdeu perto de 50% das 13 mil cabeças de vaca, ovelhas e cabras que seus moradores possuíam, segundo o secretário municipal da Agricultura, João Batista de Andrade. Sua economia roda basicamente com recursos de aposentadorias, salários dos servidores, recursos do Bolsa Família e de garimpos clandestinos de ouro.
Na cidade, há um clima de expectativa sobre os diamantes. De pequenos comerciantes a agricultores e funcionários públicos todos têm histórias para contar. Dizem que a mineradora vai construir um aeroporto para levar os diamantes para o exterior [será, na verdade, uma pista de pouso no projeto]; que com o início da operação, a cidade corre o risco de se encher de prostíbulos e drogas, tal qual um grande garimpo; e que a terra na cidade agora vale muito, mais muito mais por causa do projeto. De fato, de repente, falar em milhões de reais por um pedaço de chão de terra seca na cidade passou a ser comum. Motivo: empresa está em fase de discussão e avaliação sobre a aquisição de terras.
A nova usina de processamento dos diamantes está sendo construída parte em São Paulo, pela Metso, e parte pela ADP Marine & Modular, da Cidade do Cabo, na África do Sul. Ela vai custar US$ 25 milhões e terá capacidade de processar 100 toneladas por hora de rocha. A unidade atual tem capacidade para 10 toneladas. O novo equipamento deve chegar no fim do ano à Bahia.
"Não temos dificuldade para emitir os licenciamentos para nenhum projeto na Bahia. As licenças não serão obstáculos para eles [Lipari], como não são para projetos de outros minérios", diz o secretário estadual da Indústria, Comércio e Mineração, James Correia.
Os riscos são os mesmos e velhos conhecidos das mineradoras: uma nova crise internacional, que levaria para baixo o preço dos diamantes e retrairia fontes de capital; dificuldades burocráticas no licenciamento ambiental na Bahia; as incertezas em relação ao novo código mineral que o governo prepara; elevação de custos se o cronograma for alterado; e dificuldades nas negociações com os donos das terras onde está o projeto.
"Não vejo por que não dar certo. O mercado de diamantes está reaquecendo, a demanda reagindo depois da queda provocada pela crise de 2008, e não existem novas descobertas [de kimberlitos] no mundo", diz Silveira, do CPRM. "Todos estão procurando novas fontes de diamantes", afirma Johnson.
Estimativas do setor apontam que a demanda mundial por diamantes brutos subirá da casa dos US$ 14 bilhões atuais para quase US$ 20 bilhões até o fim da década ao mesmo que as minas atuais estão perdendo fôlego.
"Acredito que com Braúna produzindo, investidores possam se sentir atraídos por outros projetos no Brasil", diz Silveira. Há pelo menos outros três kimberlitos bastante estudados no país que estariam prontos para projetos de minas, afirma o geólogo: em Minas, Mato Grosso e em Rondônia.