domingo, 30 de abril de 2017

Soledade recebe a maior feira de pedras preciosas da América Latina

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Soledade recebe a maior feira de pedras preciosas da América Latina

Livro sobre a realidade das mulheres no garimpo é lançado em Porto Velho

Livro sobre a realidade das mulheres no garimpo é lançado em Porto Velho

Ideia é mostrar que o trabalho delas geram riquezas e movem a economia.
Lançamento aconteceu no auditório da Unir

Autora do livro Jeanne Lúcia Gadelha Freitas (Foto: Sara Cicera/G1)Autora do livro Jeanne Lúcia Gadelha Freitas (Foto: Sara Cicera/G1)
O livro 'Mulheres no Garimpo: Vulnerabilidades do Trabalho Feminino na Amazônia' foi lançado em uma sessão de autógrafos no auditório da Universidade Federal de Rondônia(Unir), no centro de Porto Velho. A obra, de autoria da docente do Departamento Acadêmico de Enfermagem da Fundação Unir, Jeanne Lúcia Gadelha Freitas, taz o cotidiano de mulheres que trabalham nos garimpos de ouro da Amazônia.
O livro foi iniciado pela autora em 2006, com objetivo de mostrar para a sociedade que as mulheres que moram no garimpo são mulheres que trabalham, produzem riquezas, geram e movimentam a economia local.
Segundo a docente Jeanne Lúcia Gadelha Freitas, a obra mostra a realidade das mulheres no garimpo. "O livro traz a visibilidade da figura feminina dentro do garimpo, porque a maioria das pessoas ainda tem aquele julgamento de que as mulheres que vão para o garimpo, são mulheres que vão se prostituir, mas a verdade é que as que eu encontrei são mulheres que trabalham honestamente, vivem dignamente e para o sustento de si e de suas famílias", disse.

De acordo com Jeanne, as mulheres do garimpo não têm acessos a serviços básicos como saúde, educação. A autoria explica que o garimpo é um ambiente isolado geograficamente e socialmente, por ser uma população que se move constantemente para explorar o ouro.
Para a professora doutora do Departamento de Enfermagem da Unir, Kátia Moreira, que já leu o livro e participava do lançamento, disse que a obra traz as narrativas de mulheres que vivem em garimpo com todas suas relações adversais e no gênero feminino, como elas se sentem e como se posicionam.
"Esse livro desperta enquanto sociedade para ver não como paisagem, mas para ver uma realidade concreta de vida dessas mulheres e que mesmo assim, elas se sentem felizes, apesar de toda a diversidade", relatou Kátia.
Lançamento do livro "Mulheres no Garimpo: Vulnerabilidades do Trabalho Feminino na Amazônia" (Foto: Sara Cicera/G1)Lançamento do livro 'Mulheres no Garimpo: Vulnerabilidades do Trabalho Feminino na Amazônia', aconteceu no auditório da Unir, em Porto Velho (Foto: Sara Cicera/G1)

Garrafa de rum mais cara do mundo é vendida por 100.000 euros

Garrafa de rum mais cara do mundo é vendida por 100.000 euros

Garrafa de rum mais cara do mundo é vendida por 100.000 euros
Em foto tirada no dia 21 de fevereiro de 2017, mostra a garrafa de rum mais cara do mundo - AFP

Fruto de uma colaboração da casa de rum Clément de Martinique e do joalheiro francês Tournaire, a garrafa de rum mais cara do mundo foi vendida por 100.000 euros – informaram as instituições, acrescentando que parte do valor arrecadado foi entregue a uma associação contra a anemia falciforme.
Um italiano, cujo nome não foi revelado, pagou os 100.000 euros pela garrafa, composta por uma rolha que imita a Casa Clément, na ilha caribenha da Martinic, fabricada com 200 gramas de ouro de 18 quilates e com quatro quilates de diamantes, além de uma garrafa de cristal Baccarat e de um rum Clément de 1966. Existem somente 40 garrafas dessa safra, as quais ainda não haviam sido comercializadas.
A ideia dessa garrafa nasceu “de um encontro de apaixonados”, explicaram à AFP o diretor-geral de Tournaire, Frédéric de Saint-Romain, e o diretor comercial da Clément, Dominique de la Guigneraye.
Uma conversa sobre o rum terminou nessa ideia: fazer uma réplica da Casa Clément na rolha, como é feito nos anéis “arquitetura” produzidos pelo famoso joalheiro.
O diretor-geral de Clément, Grégoire Gueden, confessou que chegou a se questionar “se haveria gente tão louca” para comprá-la.
No fim, a garrafa encontrou um dono em menos de dois meses, assim como suas “irmãs mais novas”: oito garrafas de cristal Baccarat com uma rolha idêntica, mas de bronze, vendidas por 19.000 euros cada. Os compradores provinham da Grécia, da Bélgica e até da Martinica.
Ambos os criadores entregaram, cada um, 7.500 euros à Associação para a Informação e Prevenção da Drepanocitose (APIPD), doença hereditária que se caracteriza pela presença de uma hemoglobina anormal nos glóbulos vermelhos.
Essa doença, que se manifesta por uma anemia, dor e um maior risco de infecções, é frequente na África e no Caribe.
“Fala-se injustamente da doença nos negros, mas afeta todo mundo”, insistiu a presidente da associação, Jenny Hippocrate-Fixy.
Lamentando que a doença esteja “abandonada, discriminada, ‘racializada'”, Jenny explicou que o dinheiro será destinado à pesquisa e à ajuda para famílias afetadas

Diamante de mais de 700 quilates é encontrado em Serra Leoa

Diamante de mais de 700 quilates é encontrado em Serra Leoa

Diamante de mais de 700 quilates é encontrado em Serra Leoa
(Arquivo) O regime de Kimberley enumera as condições a serem cumpridas por um país para que seus diamantes possam ser exportados legalmente - AFP
Um diamante de 706 quilates foi encontrado em Serra Leoa, anunciou nesta quinta-feira a presidência, prometendo um “processo de comercialização transparente”, em um país marcado pelo tráfico dos chamados “diamantes de sangue” durante a guerra civil (1991-2002).
O diamante foi encontrado na província de Kono, leste do país, por um pastor, Emmanuel Momoh, que procura ocasionalmente diamantes. A pedra foi apresentada na quarta-feira ao chefe de Estado, Ernest Bai Koroma, por um chefe tribal da região, segundo um comunicado da presidência.
Segundo o comunicado, o presidente Koroma agradeceu pelo diamente não ter sido vendido em contrabando fora do país e garantiu que “o processo de comercialização será transparente”.
A polêmica sobre os “diamantes de sangue”, essas pedras preciosas que serviram para financiar conflitos na África, como em Angola e em Serra Leoa, resultou em 2000 em um regime de certificação das pedras, chamado Kimberley, apoiado pela ONU e que reúne 75 países.
O regime de Kimberley enumera as condições a serem cumpridas por um país para que seus diamantes possam ser exportados legalmente.
O diamante descoberto em Serra Leoa, uma vez certificado por especialistas, será um dos maiores já registrados. Seu valor ainda não foi estimado.
Em 2015, foi extraído da mina de Karowe, em Botsuana, o maior diamante encontrado em cem anos, de 1.111 quilates.
O maior diamante do mundo é o Cullinan, de 3.106 quilates, encontrado na África do Sul em 1905.
Este diamante foi dividido em várias pedras enormes, as principais delas foram usadas para adornar o cetro real britânico e a coroa imperial, que fazem parte das joias da Coroa Britânica.

Brincos com diamantes avaliados em U$ 68 milhões serão leiloados

Brincos com diamantes avaliados em U$ 68 milhões serão leiloados

Brincos com diamantes avaliados em U$ 68 milhões serão leiloados
Brincos com dois diamantes espetaculares, um azul e outro rosa, apresentados como "os mais importantes" já oferecidos em um leilão, serão colocados à venda em 16 de maio em Genebra, anunciou nesta segunda-feira a casa Sotheby's - AFP/Arquivos
Brincos com dois diamantes espetaculares, um azul e outro rosa, apresentados como “os mais importantes” já oferecidos em um leilão, serão colocados à venda em 16 de maio em Genebra, anunciou nesta segunda-feira a casa Sotheby’s.
As duas pedras preciosas serão oferecidas em lotes separados.
O primeiro brinco, chamado “Apolo Blue”, tem um valor estimado de entre 38 milhões e 50 milhões de dólares (entre 36 e 47 milhões de euros).
O brinco com o diamante rosa, conhecido como “Artemisa Pink”, tem um valor estimado em entre 12,5 milhões e 18 milhões de dólares (entre 12 e 17 milhões de euros).
“Os diamantes Apolo e Artemisa serão as estrelas da nossa venda de maio, de longe os brincos mais importantes já leiloados”, declarou o presidente do serviço internacional de Alta Joalheria da Sotheby’s, David Bennett, acrescentando que estas pedras preciosas são de “grande raridade”.
“Batizamos estas pedras ‘Apolo & Artemisa’, como o deus e a deusa da Grécia Antiga, irmãos gêmeos de grande beleza e poder”, disse em um comunicado.
Certificado como “Fancy Vivid Blue” pelo Instituto Gemológico da América (GIA), “Apolo Blue”, de 14,54 quilates, é o maior diamante da sua categoria já leiloado. O diamante foi esculpido e polido em forma de pera.
De 16,00 quilates e certificado como “Fancy Intense Pink”, o diamante “Artemisa Pink” também tem formato de pera. Segundo o GIA, faz parte dos diamantes “mais puros quimicamente”, o que, segundo os especialistas, dá a este tipo de pedra preciosa uma intensa transparência ótica.
A casa de leilões Sotheby’s não deu nenhum detalhe sobre a identidade do vendedor ou vendedores.

Exposição de pedras preciosas

Pedras preciosas na Redação



Foto: Anderson Mello / Agencia RBS
A Redação de ZH e DG recebeu a visita da corte da Exposol 2017. A rainha Gisele Berticelli e as princesas Gabriela Vidaletti e Rayne Conte divulgaram a 17ª edição da feira de pedras preciosas.
O evento ocorre de 28 de abril a 1° de maio, no Parque de Eventos Centenário Rui Ortiz, em Soledade, no norte do Estado. Estão previstas as apresentações da dupla Alisson & Livia – atração local –, dos sertanejos Marcos & Belutti, da banda Nenhum de Nós, entre outras. A entrada é gratuita.
O Pavilhão das Pedras será um dos destaques. Destinado a mais de 70 expositores, o espaço conta com ampla quantidade e variedade do produto-chave. Também estarão presentes empresas dos setores de pecuária, agricultura, indústria, máquinas e automóveis.

Em busca da mineradora canadense Belo Sun

Em busca da mineradora canadense Belo Sun

Repórteres viajam ao rio Xingu para conhecer projeto de extração de ouro
O dia  17 de junho de 2014 será marcado como um dia de derrota na história da mineradora canadense Belo Sun Mining Corporation. Nessa data a Justiça Federal publicou uma sentença ratificando uma decisão liminar de novembro do ano passado, suspendendo o licenciamento ambiental do projeto Volta Grande de Mineração, a menina dos olhos da Belo Sun, na região do rio Xingu, no Pará.
A Belo Sun pertence ao Forbes & Manhattan Inc, um banco de capital fechado que desenvolve projetos internacionais de mineração; em seu site qualifica o empreendimento que teve a licença suspensa como o “maior projeto de ouro em desenvolvimento no Brasil”. Os passos iniciais para a extração de ouro na Volta Grande do Xingu foram dados sob licença prévia concedida após a aprovação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente do Pará (Coema). Agora, porém, a Belo Sun só poderá retomar as atividades depois de entregar estudos de impactos do projeto sobre as populações indígenas e ambientais como determinou o juiz federal Cláudio Henrique Fonseca de Pina. Na sentença, o magistrado anota como “fato incontroverso” o impacto que o empreendimento vai exercer sobre populações indígenas “com reflexos negativos e irreversíveis”.
Esse é o mais recente capítulo da história da exploração mineral na Volta Grande do Xingu, visitada por um grupo de bolsistas do Reportagem Pública no início do ano. Durante dez dias, Francisco Vorcaro, Gerson Lima, Mário Lúcio de Paula, Rômulo Radicchi visitaram comunidades e ouviram algo que a população de lá conhece muito bem – mas que por aqui ainda pouco se sabe: a extração de ouro do entorno da usina de Belo Monte. Leia aqui o diário de bordo dessa viagem em busca das pegadas da Belo Sun.

Volta Grande do Xingu: o novo Eldorado brasileiro

Desembarcamos em Altamira, em 7 de janeiro de 2014. Estávamos já na região conhecida como Volta Grande do Rio Xingu, trecho de cerca de 100 Km percorrido pelo rio nos municípios de Altamira, Senador José Porfírio, Anapu e Vitória do Xingu. Também conhecida como Linha de Queda, é uma área repleta de cachoeiras e ilhas, que concentra grande parte do potencial hidrelétrico do Xingu. São as terras que abrigam as etnias Juruna e Arara. Lá também vivem gerações de garimpeiros artesanais, pescadores e ribeirinhos.
Essa região tem sofrido grandes impactos sociais, econômicos e ambientais desde o início das obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, um dos maiores projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal. Milhares de operários oriundos de todas as regiões do país dirigiram-se a Altamira e municípios vizinhos em busca de emprego. O objetivo de nossa viagem, porém, era buscar o que não está à vista: o subsolo da Volta Grande, de grande  riqueza mineral, que trouxe em 2010 a mineradora canadense Belo Sun Mining Corporation à região.
Entramos em Altamira com as bagagens nas costas e fomos recebidos pela pichações nos muros de toda a cidade: “Belo Monstro”; dizia uma, acompanhada do stencil de uma caveira; “Morte Energia”, dizia outra, aludindo à Norte Energia, consórcio responsável pela construção da UHE Belo Monte.
A maioria da população vive de forma simples, em casas humildes. A sobrevivência é vinculada à natureza, ao rio, ao garimpo artesanal, à pesca, à agricultura e ao transporte cobrado por trecho das voadeiras, pequenas e velozes embarcações motorizadas. As águas caudalosas do Xingu, sua natureza exuberante, enchem os olhos, mas bem perto da margem do rio, dá para ver os canos que despejam dia e noite os rejeitos da cidade inchada pelo assustador crescimento demográfico com o início das obras da hidrelétrica: de cerca de 100 mil habitantes em 2010 (IBGE), a população agora ameaça ultrapassar 140 mil habitantes, segundo a assessoria de comunicação da Prefeitura de Altamira, devido ao grande fluxo de trabalhadores de outros estados para trabalhar nas obras de Belo Monte.  
Na esteira do crescimento populacional, inúmeros serviços se ampliaram, como bancos, comércio de materiais agropecuários, confecções e lojas. Mas o custo de vida aumentou assim como o número de assaltos, a violência policial, a prostituição. A impressão de quem passa nas ruas é de que Altamira está tomada pelo lixo. Praticamente não há saneamento básico. Num extremo da cidade vimos casas simples equilibradas em palafitas em meio a sujeira.

Ouvimos o grito de resistência

Em meados de 2012, quando começamos a pesquisar o tema, o canteiro de obras da usina hidrelétrica de Belo Monte encontrava-se ocupado por povos indígenas e ribeirinhos que exigiam a interrupção das obras, fato que se repetiu pelo menos outras três vezes só no ano de 2013. Mais de 2.000 habitantes indígenas – Juruna, Asurini do Xingu, Araweté, Parakanã, Kararaô, Xikrin do Bacajá, Arara, Xipava e Kuruaya – habitam a área de influência direta e indireta de Belo Monte, e a previsível resistência desses povos às obras foi uma das principais razões para atrasar os projetos de exploração hídrica e mineral naquelas terras.
Foi sobre isso que conversamos com José Cleanton, coordenador do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) em Altamira. Ele foi enfático ao afirmar que Belo Monte tem representado um desastre para o território e à saúde das comunidades indígenas. “Belo Monte chega, como rolo compressor, passando por cima dos direitos, por cima da vida, de todo modo de vivência dessas comunidades. Vêm agindo de modo que no futuro esses povos deixem de viver como povos; passem a existir apenas como massa de manobra desse empreendimento. Vem causando rachas internos. Em 2009 tinha 19 aldeias; em 2010 chega Belo Monte, e hoje tem 38 aldeias…”. (De acordo com informações da SESAI, pedidas pelo ISA, em 2010 haviam 21 aldeias; o processo de divisão se intensificou em 2011, culminando em 2012 com 34 aldeias; hoje seriam 36).
Segundo ele, a estratégia governamental é dividir para dominar. “A Norte Energia utilizou recursos do BNDES e adotou a política de distribuição de presentes para lideranças indígenas: 30 mil reais em mercadorias – alimentação, combustível – e depois, voadeiras, motores de popa, e em seguida caminhonetes L200 Triton. Gastaram cerca de 14 milhões de reais em 2011. Índios deixaram de fazer roças, de fazer suas festas tradicionais, a Norte Energia passou a bancar até bolo para festa de aniversário, tipo de comemoração que não existia entre eles”.
Sobre a chegada da mineração de ouro, José Cleanton disse: “Há muito tempo a gente já vinha chamando a atenção para [o fato] que essa energia produzida por Belo Monte não seria para os altamirenses, para os brasileiros, para os paraenses e sim para as grandes empresas mineradoras. Até então nós não sabíamos da existência da Belo Sun. Em seguida surge Belo Sun, a empresa que vai fazer toda a prospecção de ouro ali na Volta Grande”.
Para o coordenador do CIMI o projeto vai agravar : a redução de vazão na Volta Grande, um dos problemas trazidos pela barragem de Belo Monte. “Com a implantação da Belo Sun, a tendência é secar ainda mais. Haverá desvio do curso do rio e as aldeias que existem são todas no curso do rio, dependem dele seja para pescar, seja para consumo próprio, seja para as atividades normais da comunidade”.

Ouro e sangue

A mineração não é novidade na região, como nos conta, ainda em Altamira, Gilberto Amaral, da cooperativa Mista dos Garimpeiros da Ressaca, Itatá, Galo, Ouro Verde e Ilha da Fazenda (Coomgrif). Os pioneiros do garimpo artesanal chegaram àquelas terras nos anos de 1930 e 1940, ele diz, e a maior parte das áreas onde hoje vivem as famílias dos garimpeiros artesanais eram de povos indígenas, que se internavam na mata à medida que as levas de imigrantes em busca da “sorte grande” chegavam.
A primeira grande empresa mineradora, a Oca Mineração, se instalou na Volta Grande em meados dos anos de 1970, e a partir dali povos indígenas, garimpeiros artesanais, ribeirinhos, camponeses, pescadores passaram a ser alvo de tentativas de expulsão, muitas delas violentas, destaca Gilberto. Os conflitos foram registrados em reportagens e documentos da época; em um discurso em 5 de março de 1986 na Câmara dos Deputados, o ex-deputado Ademir Andrade (PMDB-Pará) denunciava dois despejos realizados nos anos anteriores e afirmava: “E agora, no dia 8 de fevereiro, ocorreu o mais grave dos conflitos: de dia, chegaram técnicos do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) junto com a Polícia Federal e deram aos garimpeiros que lá estavam há anos e anos, 24 horas para se retirarem com as suas máquinas daquele local, ameaçando-os e chegando a bater em alguns deles… No dia seguinte, novamente funcionários da segurança da Oca, unidos a policiais federais e funcionários do DNPM, foram ao acampamento dos garimpeiros e prenderam, bateram, metralharam por cima de redes; pintaram o que é até difícil de se admitir; destruíram as máquinas dos garimpeiros e os expulsaram, na carreira, por dentro das matas.”
Em meados dos anos de 1980, a exploração mineral da Volta Grande passou a ser realizada por outra empresa, a Verena Minerals Corporation, mas, até o início da década de 1990, o nome da Oca Mineradora ainda era relacionado na região a tentativas de expulsão de pequenos garimpeiros e processos envolvendo pistolagem. Em 1992, por exemplo, garimpeiros enviaram um telex para o delegado da Polícia Federal de Santarém relatando que na noite de 29 de dezembro, “pistoleiros da empresa Oca junto com policiais militares do batalhão de Santarém que guarnecem o patrimônio da empresa em Volta Grande do rio Xingu, que reiteradamente patrocinam atos de tortura de silvícolas, crianças, mulheres e pessoas de idade, por ordem do indiciado Carlos Otto de Noli Vergueiro (superintendente da Oca Mineração) atentaram contra a vida dos moradores Franciel Pereira de Oliveira e Francisco Costa da Conceição, o primeiro com lesões gravíssimas e o segundo em estado desesperador, com iminente risco de vida, tudo visando desestimular o reingresso dos moradores, clientes do projeto latifundiário de Altamira, com lotes já demarcados pelo governo federal”.
Anexo 1 Telex

Verena vira Belo Sun

Em um lugar bem distante dali, em Toronto no Canadá, reuniu-se no dia 30 de junho de 2010 a assembleia geral dos acionistas da Verena Minerals Corporation aprovando alterações na composição da administração da empresa e a adoção de um novonome: Belo Sun Mining Corporation. Nesse mesmo ano, outro evento marcou o início de transformações para Volta Grande: o leilão para a obra da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, vencido pela Norte Energia, consórcio composto por Eletrobrás, Vale, Cemig , Light e fundos de pensão, que daria início às obras em agosto de 2011.
No último trimestre de 2013, após uma série de reuniões entre o gerente da Belo Sun, Cláudio Lyra, o governo do Estado, a Fiepa (Federação das Indústrias do Estado do Pará) e a Redes (Rede de Desenvolvimento de Fornecedores do Pará), a mineradora canadense obteve, no dia 2 de dezembro, a Licença Prévia do Conselho Estadual de Meio Ambiente do Pará para o projeto de lavra e beneficiamento de ouro no município de Senador José Porfírio. À época, foi anunciado que a mineradora previa uma produção de nove toneladas de ouro por ano em Volta Grande. Meses depois – ainda antes da decisão judicial – a assessoria de imprensa nos informou que Projeto Volta Grande estava em “fase de estudos de viabilidade”.
Para o procurador do Ministério Público Federal no Pará (MPF), Felício Pontes, a extração do ouro pode gerar “irremediáveis impactos às populações indígenas, garimpeiros artesanais, ribeirinhos, a flora e fauna da Volta Grande do Xingu”.
Para ver de perto como a atuação da Belo Sun tem afetado a população, nos dirigimos à Ilha da Fazenda, povoada principalmente por famílias de pescadores, à Ilha do Galo e à Vila da Ressaca, povoadas principalmente por famílias de garimpeiros artesanais.
A voadeira corta o rio com velocidade. O piloto, que pediu para não ser identificado temendo “ser marcado pela Norte Energia e não poder mais trabalhar”, diz acreditar que o lago formado pela usina Belo Monte irá “desaparecer com cerca de 60 ilhas” que existem no trecho do Xingu, entre elas a exuberante Ilha de Arapujá, de 3 mil metros quadrados, que fica defronte ao cais do porto da cidade.
Durante o trajeto, ele nos conta que as ilhas possuem vegetação nativa relativamente intacta, com castanheiras, seringueiras, palmeiras, babaçu, e abrigam um grande número de animais, como macacos Guariba, pacas, tatus, iraras, quatis, veados, catitus, além de diversas espécies de pássaros. As ilhas do Xingu e seus igapós (vegetação que cresce nas áreas alagadas) são fundamentais para a alimentação e reprodução dos peixes que lá habitam. “No inverno várias espécies de peixes se alimentam de frutas da região, como landi, araçá, bananinha, figo, gulosa, sarão, goiaba, caferana, e no verão eles se alimentam mais de rama”, explica o piloto.
As casas nas ilhas da Volta Grande são muito simples. As mais próximas das margens equilibram-se em palafitas, e as demais são construções de madeira, rústicas. Segundo o barqueiro, o comércio local era impulsionado principalmente pelo garimpo artesanal; com a chegada da Belo Sun, muitas pessoas abandonaram suas casas e o comércio definha.
Nas ilhas, a riqueza e exuberância da natureza contrastam com a pobreza, o clima de abandono e de incerteza da população.
Conversamos com vários ribeirinhos e garimpeiros. Os que se dispuseram a conceder entrevistas pediram para não ter suas imagens e nomes divulgados, temendo represálias. “Tem muito minério aqui” diz o Sr. Otávio, morador há mais de cinquenta anos na região.
“Tem muito minério no rio”, acrescenta Sr. Manoel, outro antigo morador da Volta Grande do Xingu, dono de uma pequena venda na ilha do Galo. “Tem até diamante. Num lugar chamado Paletó, tem bastante ouro no fundo do rio. Dali saía um gás que afetava os mergulhadores das balsas, que ficavam com dores nos ossos; pra fazer oitenta gramas de ouro era ligeiro, poucos minutos que aguentasse ficar em baixo d’água… Secando o rio vai ficar bom para tirar esse minério”.
Os garimpeiros nos contam que, após realizar perfurações e pesquisas, a Belo Sun anunciou ter adquirido terras na Volta Grande do Xingu.
De fato, tivemos acesso a cópias dos contratos de Cessão e Transferência de Direitos de Uso e Possessórios, onde consta que a empresa adquiriu áreas de 824, 503 e 405 hectares, respectivamente de William Paz Aragão, Geisel José Uchoa Tenório e Henrique Gomes Pereira, declarados nas escrituras “únicos e legítimos proprietários”. Parte do pagamento pela aquisição das áreas é condicionada à retirada dos barracos e moradores, ou mesmo dos “requeiros” (catadores de restos de minério nos garimpos) ou “faisqueiros”( garimpeiro de ouro de aluvião, ou seja, do ouro em pó que aflora no leito dos rios) nas áreas dos garimpos do Galo, Curimã, Ressaca e Ouro Verde.
A aquisição dessas terras é tida como irregular pela Defensoria Pública do Pará, que ajuizou  uma ação pública na Vara Agrária de Altamira (que tramitava desde 15 de  julho de 2013) contra a empresa Belo Sun Mineração Ltda. e os supostos “proprietários”. Nessa ação foi requerido que “Belo Sun seja impedida de praticar o despejo forçado dos moradores da Vila Ressaca, Galo e Ouro Verde, garantindo o direito de posse de terras rurais, o direito ao trabalho, e a determinação da retirada de placas de restrição de pesca, caça, garimpagem e entrada de pessoas, das áreas comuns (como travessões, estradas ou ramais) ocupadas pelas populações locais, para livre acesso da população aos recursos naturais, para a subsistência.”. Após um ano, essa Ação Civil Pública de nº 0005149-44.2013.8.14.0005 foi definitivamente arquivada pelo juiz Horacio de Miranda Lobato Neto.
Quando estivemos nas localidades do Galo e Vila da Ressaca, garimpeiros artesanais nos disseram que vigorava uma “proibição” velada feita pela Belo Sun, que os impedia de trabalhar.
Na comunidade do Galo, moradores disseram que até mesmo a atividade de garimpar rejeitos estava “proibida”. Garimpeiros nos relataram que, no dia 20 de junho de 2013, a Belo Sun cercou a mina cuja escavação já atingia a profundidade de 400 metros e que os vigilantes da empresa não deixavam ninguém se aproximar.
Num trecho do rio, registramos placas de demarcação de área da Belo Sun em troncos de árvores.
“Estamos sendo judiados. Estou com 30 anos trabalhando aqui. Não tive indenização nem nada. Só promessa. Estou com 60 anos e o que vou fazer? As firmas não querem mais pessoas com mais de 50 anos de idade. Sou do Rio Grande do Norte”, disse o velho garimpeiro Juvenal. Outro garimpeiro, que não quis se identificar, contou: “Tenho seis filhos, tudo nascido aqui. A Belo Sun prometeu que se o garimpo fechasse, antes do pagamento da indenização, durante 90 dias, eles iam fornecer cesta básica. Mas até hoje, nada…”
As explosões na obra de Belo Monte também afetam os povoados da região. “Arreia as telhas e racha os pisos e paredes das casas”, diz o sr. Manoel, morador da Ilha do Galo, que teve que fechar a sua venda por causa da das atividades.
Através da Coomgrif, os garimpeiros artesanais da região protocolaram documentos no DNPM pedindo que não seja concedido o direito de lavra para a Belo Sun. “Nós temos 70 anos de trabalho aqui… Vem uma empresa privada de outro país, tira nós que somos natos, nascemos e fomos criados aqui e se apossa do que é nosso, sem dar direito pra gente”, resume o garimpeiro Francisco Pereira.
Além disso, na região à jusante (lado voltado para o sentido da correnteza do Rio) do barramento do Xingu, nas comunidades do Galo, Ilha da Fazenda e Vila Ressaca, moradores relatam que a contaminação das águas do rio estaria provocando uma alergia chamada por eles de “pira” ou “coceira brava”. Na Ilha da Fazenda, o Sr. Otávio, que vive ali há 63 anos na localidade e trabalha com peixes há mais de 20, lamenta: “Os peixes próximo ao barramento estão doentes, com vermes. Isso não existia na região. Hoje, você vai mergulhar, tem lodo nas pedras, isso não existia, os peixes estão doentes e desaparecendo!”.

Usina e mineradora andam juntas?

Como última etapa de nossa viagem, retornamos a Altamira, onde entrevistamos Antônia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo para Sempre, ONG que tem defendido povos indígenas e ribeirinhos da região dos impactos das obras da hidrelétrica, chamada de “um projeto de destruição” por Antônia: “Mais de 500 famílias de pescadores perderam sua atividade pesqueira. Aqueles que ainda moram na beira do rio, onde o rio vai secar – e a água já apresenta uma mudança incalculável de impactos para a vida tanto do ser humano como da própria vida do rio – já sofrem muito com a falta dos peixes. Os peixes ornamentais, que eram atividade para mais de duas mil famílias, com o início da construção da usina, essa atividade também já foi perdida. Os animais (silvestres), com a destruição provocada pelos canteiros, canais e diques, os que escapam, saem sem destino. Os porcos do mato comem as roças, as onças atacam os animais (domésticos), as cobras vão para dentro de casas dos colonos…”.
Para ela, há uma estreita relação entre a usina e o projeto de mineração na Volta Grande do Xingu. “Tudo é bem casado: barragem e mineração caminham juntos. Além da Belo Sun, tem a Vale e outras empresas que já estão chegando por aqui. Tudo indica que os indígenas serão forçados a sair de suas áreas porque o rio vai secar”.
Os trechos que publicamos abaixo foram extraídos da página da Belo Sun Mining Corp, traduzidos pela nossa equipe de reportagem, explicam um pouco a estreita ligação entre os projetos de exploração hídrica e mineral da Volta Grande do Xingu e como a mineradora canadense pretende utilizar a energia gerada pela UHE Belo Monte na fase inicial do seu projeto.
Trata-se de um estudo sobre a infraestrutura da Volta Grande apresentado pela mineradora em que a Belo Sun destaca que a cidade de Altamira “é equipado com uma linha de transmissão de 230 quilowatts a partir do qual o projeto vai utilizar a energia para os primeiros anos de produção. A própria Volta Grande está situada ao lado do rio Xingu, sobre a qual o governo brasileiro iniciou a construção terceira maior instalação de  hidro-represamento do mundo – a Usina Hidrelétrica de Belo Monte.”
E continua: Belo Monte “aumentou acesso a Volta Grande, sem nenhum custo adicional para Belo Sun, e “após a conclusão da barragem”, poderá ter “acesso à eletricidade alternativa de baixo custo a uma taxa estimada de US $ 0,055 por quilowatt-hora”.
Em outro trecho, informa: “O estado do Pará é uma das regiões de menor custo do Brasil no que diz respeito a energia – com acesso a uma linha de energia de 230 quilowatts, neste momento (pré-barragem) a taxas de US $0,07 por quilowatt-hora. Belo Sun está bem situada para desfrutar de energia de baixo custo com adição limitada a despesas de capital iniciais”.
Em seu estudo, a Belo Sun também “antecipa que irá tirar a sua eletricidade a partir da linha de energia a ser construída para apoiar a construção da barragem (138 kV), que será localizada a curta distância da Volta Grande, a fim de reduzir as despesas operacionais em curso para acesso à energia”. E avalia que “através do desenvolvimento da hidrelétrica de Belo Monte”, o nível das águas do Xingu naquele trecho será mantido no “ponto de ‘baixo nível’ de forma consistente ao longo do ano” e que a “redução consistente dos níveis de água irá beneficiar potencialmente ainda mais o acesso de Belo Sun aos recursos no depósito Ouro Verde”.
A mineradora ressalta que, no Brasil “a mineração é permitida perto de um rio, uma vez é aplicada uma ‘compensação ambiental’ e que com a “redução permanente do nível dos rios”, poderá expandir a descoberta de novos depósitos de ouro e a expansão dos atuais.

2.238 processos minerários

Buscamos contato com a Belo Sun Mining Corporation para pedir uma entrevista, mas a assessoria de imprensa informou que o Projeto Volta Grande está em “fase de estudos de viabilidade”. A assessora nos comunicou que “os executivos (da Belo Sun) estão com a agenda cheia neste período, já que  acabaram de receber a Licença Prévia e têm muitas providências a tomar”.
No levantamento contido no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da UHE Belo Monte, feito pela Leme Engenharia em 23 de junho de 2010, haviam sido identificados 127 processos minerários abrangendo as ditas Área Diretamente Afetada (ADA) e a Área de Influência Direta (AID) da Usina Hidrelétrica Belo Monte, com potencialidade de extração de ouro, diamante, bauxita, cassiterita, cobre, fosfato, tantalita, zinco, granito, saibro, argila e areia. Porém, dados atuais do “Cadastro Mineiro” do DNPM apontam que nos onze municípios do entorno de Belo Monte existem 2.238 processos minerários relativos a requerimentos de autorização de pesquisa, registro de licença ou de lavra garimpeira (Altamira (1.459), Anapu (158), Brasil Novo (58), Gurupá (1), Medicilândia (60), Pacajá (110), Placas (84), Porto de Moz (15), Senador José Porfírio (142), Uruará (75) e Vitória do Xingu (76), segundo consulta feita no dia 31/07/2014 no site do DNPM. Esses requerimentos abrangem as seguintes substâncias minerais: ouro, diamante, cassiterita, cobre, estanho, fosfato, chumbo, cassiterita, basalto, granito, zinco, níquel, paládio, platina, columbita, tantalita, cromo, manganês, ilmenita, ametista, tungstênio, molibdênio, wolfranita, bauxita, quartzo, alumínio, areia, cascalho, saibro e argila (link e documento).
A Belo Sun figura em 42 processos minerários nos municípios de Altamira, Anapú, Pacajá, Senador José Porfírio, Vitória do Xingú e em Itaituba. Nos municípios situados na região da Volta Grande do Rio Xingu os requerimentos da Belo Sun são de autorização de pesquisa e de disponibilidade para pesquisa de ouro, minério de ouro e tantalita.
A assessoria de comunicação da Belo Sun aponta 2016/2017 como prazo previsto para a mineradora entrar em funcionamento e estima a retirada de cerca de “45 toneladas de ouro em 13 anos de operação”. No entanto, em sua página na internet, a Belo Sun Mining Corp afirma que “O Projeto Volta Grande hospeda um recurso de ouro compatível com 5,1 milhões de onças” (unidade de medida que equivale a aproximadamente 31,1 gramas) o que corresponderia a aproximadamente 158,6 toneladas de ouro. Em um relatório da Belo Sun datado de 3 de outubro de 2013, a mineradora canadense menciona “um aumento importante nas categorias medidas e indicadas”, baseando-se em “resultados de 94 furos adicionais (22.595 metros de perfuração) que representam os resultados de todos os buracos concluídos no Projeto Volta Grande até o momento”.
Perguntamos a Belo Sun se há alguma relação da mineradora com os projetos anteriores de prospecção mineral na região da Volta Grande do Xingu como a Oca, Verena, ou outras. A assessoria de comunicação negou, mas apuramos que Verena foi adquirida pela Belo Sun e, segundo nos informou o procurador da Coomgrif, Gilberto Amaral, as instalações da Belo Sun em Altamira ficam exatamente no local onde antes funcionava o escritório da antiga Mineração Oca.
Sobre a política da empresa para a população local, a assessoria da Belo Sun respondeu que a empresa “tem o compromisso de realizar a capacitação da população local, gerar emprego, renda e oportunidades, entre outros programas de apoio social, em um município carente e sem perspectiva atual de emprego e desenvolvimento”.

Garimpo ilegal de ouro leva milhares a reserva ambiental no Amazonas

Avesso à vida urbana, o agricultor Arildo Ari Mar, 72, nunca quis seguir os irmãos e trocar a comunidade Santa Rosa por Manaus, a cerca de 500 km de viagem de barco. um mês, porém, ele viu uma cidade de garimpeiros surgir sobre o trecho do rio Madeira diante da sua casa.
"Essas balsas chegaram do nada. Nem sabíamos que tinha ouro aqui. Sei que testaram ali, ficaram e foi chegando pessoal de Humaitá, Porto Velho", diz o ex-seringueiro.
Na gíria amazônica, o fenômeno é conhecido como fofoca. Um garimpeiro encontra grande quantidade de ouro, a notícia se espalha, e logo uma multidão surge para buscar a mesma sorte.
Desta vez, a corrida do ouro se deu em trecho do rio Madeira bem em frente à comunidade de 16 famílias, fundada no final do século 19 pelo avô de Arildo, no ciclo da borracha. A área faz parte da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Rio Madeira, de 283 mil hectares.
No início, durante as primeiras semanas deste mês, havia cerca de 700 balsas de garimpo, segundo a administração da RDS. Isso significa uma população flutuante de 3.000 pessoas. Todas operando ilegalmente.
















Mas não havia ouro para todo mundo, e o minério começou a "fracassar". Quando a Folha esteve na região, em meados do mês, cerca de metade das balsas havia deixado o local.
Por outro lado, havia quatro grandes dragas recém-chegadas em operação, com capacidade de processamento equivalente a várias balsas. Conhecidas como "dragões", podem consumir mil litros de diesel por dia e conseguem perfurar pedras no fundo do leito.
Os transtornos da invasão para os moradores foram imediatos. Por causa da contaminação, passaram a comprar galões de água em Novo Aripuanã, a cidade mais próxima, a cerca de 40 km.
Do barco escolar, crianças, na maioria evangélicas, chegaram a ver mulheres nuas em cima do prostíbulo flutuante, estacionado a poucos metros das casas. O barulho do motor não para. As plantações de banana, principal fonte de renda, viraram banheiro para os garimpeiros. A pesca foi interrompida.
Até agora, as ações de fiscalização foram pontuais e de pouco efeito. No início, o chefe da RDS, Miqueias Santos, usou dois PMs para retirar garimpeiros de uma praia. Dias depois, recebeu ameaças e teve de deixar Novo Aripuanã.
Por se tratar de um rio interestadual, a fiscalização é de responsabilidade federal, mas apenas a Marinha esteve na região, limitando-se a inibir que os balseiros obstruam a navegação e a fiscalizar condições de segurança.
À Folha, o secretário estadual de Meio Ambiente, Antônio Stroski, afirmou que grandes ações de comando e controle na Amazônia são lentas por causa das distâncias e do custo, mas que uma operação com o governo federal está sendo planejada.
DIVERGÊNCIAS
Passado o susto inicial, a comunidade Santa Rosa, toda com laços de parentesco, se dividiu. Parte das famílias quer a saída imediata e incondicional dos garimpeiros. Sentindo-se ameaçadas após darem entrevista a uma TV local, se recusaram a falar com a reportagem.
Mais pragmática, a ala liderada por Arildo se acostumou com a ideia de conviver com o garimpo, que pode ficar em atividade por anos, principalmente durante o período da seca. "Estamos até entrosados", afirma.
Na condição de presidente da associação de moradores, Arildo passou a pedir uma contribuição semanal de R$ 100 para cada uma das balsas. Com o dinheiro arrecadado, comprou um gerador de eletricidade novo e planeja um poço artesiano.
Empolgado, um dos seus filhos pegou dinheiro emprestado para investir cerca de R$ 30 mil numa balsa e contratou dois garimpeiros. Nos dias em que a reportagem esteve na região, tentava colocar o motor para funcionar.
"Entrei no negócio pela fofoca do ouro", diz Arildo Filho, 40. "Mas não sei operar."
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PRECARIEDADE
Imersas na maior floresta do mundo, as balsas de garimpo parecem saídas da Revolução Industrial. O barulho alto do motor ligado dia e noite, o ar impregnado de fumaça de óleo diesel e o espaço exíguo fazem esquecer que se está em plena Amazônia.
Foi sobre balsas assim que Jaime Cruz, 50, o Jamico, passou a maior parte da sua vida. Atrás do ouro desde os 22 anos, possui quatro delas, operadas com seis filhos, nove garimpeiros e a mulher.
Filho de seringueiro, Jamico nasceu em uma comunidade ribeirinha próxima a Humaitá (AM), na bacia do Madeira. De infância pobre, compara-se com os filhos dizendo que "já foram criados tomando água gelada", mas afirma que o garimpo tornou a vida um pouco melhor.
"Nós não temos tempo de morar em terra. Se parar, o que vou comer?", diz Jamico, um dos primeiros a chegar à nova "fofoca", gíria usada tanto para indicar um local de ouro recém-descoberto quanto para uma fila de balsas.
As condições de trabalho são difíceis. Amarradas em linha a poucos metros do barranco, cada balsa tem uma mangueira acoplada a um motor que suga água e terra do rio. A maioria é operada de cima, mas algumas balsas usam mergulhadores, submersos de 3h a 4h por turno.
Água e lama passam por uma plataforma inclinada forrada de carpete, capaz de reter o do ouro, e volta ao rio.
A cada intervalo, um garimpeiro usa a cuia para checar se a água está trazendo ouro ("fagulhando"). Caso não esteja, a mangueira é mudada de posição. No rio Madeira, o ouro é extremamente fino e com ordem de pureza de mais de 98%, segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).
Diego Padgurschi /Folhapress
Balsas de garimpo ilegal sugam água e terra do rio Madeira, no Amazonas
Balsas de garimpo ilegal sugam água e terra do rio Madeira, no Amazonas
DESCANSO EM REDES
Nas balsas do Jamico, três garimpeiros, geralmente em chinelos e sem camisa, se revezam no controle do fluxo da água em turnos de 4h, noite e dia. O descanso é sobre redes num pequeno espaço acima do motor e do carpete.
"Por obrigação, nos acostumamos a essa vida. O barulho do motor é a nossa cantiga pra dormir", diz Jamico.
A cada 40 horas, o motor é desligado para que o ouro possa ser extraído do carpete e recuperado com uso do mercúrio. O resultado de tantas horas costuma ser do tamanho de uma bola de gude, da qual 45% é ouro.
Depois de separado, é vendido a um comprador, que geralmente aparece aos domingos, o único dia de descanso. Naquela semana, o grama saía por R$ 108.
Para o ambiente, a boa notícia é que a queima para a separação do ouro passou a ser feita no cadinho nos últimos anos. O aparelho, parecido a uma pequena panela, retém quase todo o mercúrio, que pode ser usado novamente.
É um alívio para o garimpeiro devido ao alto custo do mercúrio —1 kg do mineral custa cerca de R$ 1.000.
A atividade, porém, tem impactos ambientais significativos. Para o DNPM, os principais problemas são a mudança no leito do rio, despejo de derivados de petróleo e a perturbação da fauna aquática.
Dono de uma balsa vizinha à de Jamico, Edemir Albuquerque, 51, admite que o garimpo polui, mas diz que é pouco em comparação ao lixo produzido pelas cidades amazônicas.
COBRANÇA ILEGAL
A corrida do ouro não atrai apenas garimpeiros. Em um domingo, acompanhados de dois PMs armados, três secretários municipais de Novo Aripuanã visitavam balsa por balsa exigindo um imposto municipal de R$ 200 de cada um.
A cobrança é ilegal, segundo a secretaria estadual de Meio Ambiente.
Surpreendidos pela reportagem da Folha, eles explicaram que a cobrança se refere a um imposto municipal e que agiam em nome do prefeito da cidade, Robson de (Pros).
Segundo o secretário municipal de Meio Ambiente, Herald Santana, a cobrança tem amparo em uma lei que licencia extração mineral. Falou que a visita servia para "promover educação ambiental", mas admitiu que não haveria nenhuma sanção para quem não pagasse.
Com ele estavam o secretário de Habitação e Tributo Municipal, Jorge de Assis, e o secretário da Agricultura, Valmir Mello.
Aos garimpeiros que concordavam com a cobrança, os secretários entregavam um recibo escrito a mão. Em pelo menos um caso, eles aceitaram receber apenas R$ 100.
"Isso é sacanagem", disse o secretário estadual de Meio Ambiente, Antonio Stroski. Segundo ele, o licenciamento é competência do Estado.