sábado, 23 de junho de 2018

SEU MANÉ: SUCESSO E FRACASSO NO CORAÇÃO DA AMAZÔNIA

SEU MANÉ: SUCESSO E FRACASSO NO CORAÇÃO DA AMAZÔNIA 

Era começo da década de 70. O Brasil ainda comemorava o tri-campeonato mundial conquistado pela seleção e Mané Garrincha dava seus dribles últimos estonteantes nos gramados brasileiros. Na Amazônia, o governo militar rasgava a floresta abrindo uma estrada para levar homens para este pedaço esquecido do país. 
A nova fronteira atraiu aatenção de milhares de pessoas, personagens anônimos de uma história escrita a suor, sangue e abandono. Entre estes personagens está o não tão anônimo Aldo Inácio, paulista nascido em 1949 que foi atraído na década de 70 pelo chamado do governo para ocupar a Amazônia. Em 1979, Inácio chegou à cidade de Itaituba, na Transamazônica, com um punhado de roupas, um mega fone e muitos sonhos na bagagem. Fã de Mané Garrincha, Inácio transformou o nome Mane em uma marca e passou a ser chamado, ele mesmo, de Seu Mane. Hoje, aos 57 anos, ele fala sobre o passado como um filme que conta a história de sucesso e fracasso no coração da Amazônia. 
Douglas Araújo – Como foi o seu primeiro dia em Itaituba? 
Seu Mané – Meu primeiro dia em Itaituba foi dormindo na calçada da (agência da) Transbraziliana, porque eu não tinha dinheiro para pagar um hotel. Então, eu e a minha família dormimos na calçada. Depois disso, no dia seguinte, eu tinha um mega fone e fui para a frente de algumas lojas gritar e ganhar o pão nosso de cada dia. Depois eu montei um restaurantezinho com o nome “Mãe Maria, a clientela foi aumentando e passei para um espaço maior, em frente ao Sonda Bar. Em homenagem ao grande jogador Garrincha, eu coloquei o nome do restaurante de “Seu Mane”, ai este nome cresceu, as coisas foram dando certo. Eu fui o primeiro anunciante da Hora Certa e de outras programações da Rádio Nacional, de Brasília. A partir daí foi divulgado muito o nome “Seu Mane” e ai coisas vieram surgindo naturalmente. Ao longo de seis anos eu já tinha um patrimônio invejável. Mas depois de dois anos veio o Plano Collor, incêndios, queda de avião e assaltos – fui assaltado três vezes. Alguns funcionários me deram o cano, um deles com até 20 quilos de ouro. Em dois anos eu perdi 600 quilos de ouro. Eu nunca fui vaidoso, só queria que o nome ‘Seu Mané’ fosse uma marca registrada, mas jamais esperei que acontecesse tanto acidente em tão pouco tempo. Diante de tantas perdas materiais teve uma em especial, a minha esposa Dade, que para mim foi uma das maiores perdas. As coisas já vinham se afundando e quando uma engrenagem dá para trás, você trava. Eu nunca fui um homem de vícios, bebidas, drogas ou farra. Nunca sentei à mesa de um bar. Eu nunca fui um homem de praticar roubos, sempre paguei em dia os meus fornecedores. Da mesma maneira que Deus me mostrou o sucesso, ele me mostrou o insucesso. Deus me mostrou os dois lados da vida.
Douglas Araújo – Como está a sua vida hoje? 
Seu Mané – A gente nunca está feliz. O ser humano nunca consegue uma felicidade total, sempre tem algo a desejar, mas posso dizer que estou muito bem, não tanto financeiramente quanto no passado, mas posso afirmar que estou bem junto com meus filhos, netos, noras. Administrando a rodoviária de Novo Progresso, hoje já tenho restaurante e lanchonete, ainda tenho muita esperança na região, acredito muito na vinda deste asfalto (da rodovia BR-163). Com relação ao meu passado nem precisa tocar muito, a História conta a minha vida. Eu fui um homem que gostava muito de mídia, fiz o programa do Jô Soares na Rede Globo em 1991. A BBC de Londres esteve uma semana em minha casa para um curta metragem. Fiz o Globo Repórter em 1988 e o Fantástico. Fui entrevistado pela Rádio Capital de São Paulo. Faculdades se interessavam pelo meu caso. Estive em várias outras emissoras e acho que a mídia hora ajuda, hora atrapalha. Fui fundador do Chapéu do Povo em Itaituba, das Rádio Itaituba e Clube, da TV Itaituba, na época afiliada a Rede Globo, e também a TVS, hoje o SBT. Foram dois canais de televisão. Fundei o Foto Itaituba, que dei de presente para os cincos funcionários. Tudo com laboratórios fotográficos modernos para a época, uma loja montada, mas infelizmente na hora que eu mais precisei fui sacrificado, marginalizado, ignorado.
Douglas Araújo O que é felicidade para o senhor. Dinheiro? 
Seu Mané – Felicidade, em minha opinião, é estar de bem com Deus, bem com a sua família. Felicidade, felicidade, você nunca pode ter por completo, mas pode viver momentos felizes. Tenho 33 filhos e 22 netos e sou feliz com isso.
Douglas Araújo – Quando o senhor era milionário, qual foi o maior erro que cometeu, que não faria novamente? 
Seu Mané – Como radialista de minha própria emissora eu atingi várias pessoas. Agi muito errado. Hoje eu não faria mais isso. Muitas vezes você fala de determinada pessoa e você sente que está com o poder da mídia na mão e que pode tudo. Depois de tudo isso, eu paguei um preço muito alto. A ‘impressa marrom’ me machucou demais. A gente diz uma palavra, eles trocam vírgulas, então eu pequei muito neste ponto. Seu Mané (centro) com amigos na década de 80
Douglas Araújo – E onde estão os seus amigos de tempos de milionário? 
Seu Mané – Umas das pessoas que eu ajudei muito, na hora que eu mais precisei me mandou entregar um envelope com 300 trezentos reais. Eu não devolvi porque infelizmente eu estava precisando. Mas esta pessoa eu havia colocado, há muitos anos, dentro de um avião meu e mandei para Brasília, para se tratar. Ela e seu marido sempre foram funcionários muito bem remunerados, dentro de minhas empresas sempre tiveram uma credibilidade muito grande. Moraram durante 10 anos dentro de minha casa sem nunca pagar aluguel, e na hora que eu mais precisei eles viraram as costas, mas acredito na Justiça divina, que é muito grande.
Douglas Araújo – Naquela época você tinha fortes aliados…
Seu Mané – Eu devo muito ao seu José Candido Araújo (Zé Arara). Tenho muito respeito, como um dos homens mais dignos que já conheci. Com relação ao Zé do Abacaxi (Fazendeiro e dono de garimpo em Itaituba), nós não tivemos nenhum vínculo ou aproximação.
Douglas Araújo – Os seus amigos poderosos te abandonaram? 
Seu Mané- Não vou citar nome, mas um ex-prefeito de Altamira foi um dos homens que eu mais ajudei. Na hora que eu mais precisei ele me virou as costas, mas Deus sabe…
Douglas Araújo – Como é uma pessoa que conheceu os dois lados da moeda? 
Seu Mané – Você acaba conhecendo os três lado da moeda. São situações completamente diferentes. Depois que eu quebrei fui vender banana na carriola, e ai um filme começa a passar na sua cabeça. As pessoas ainda te criticam, passam por você e sorriem. Houve um momento de profunda depressão, mas você tem que ser forte. Minha família foi meu principal apoio, em momento algum me deixou só. Eu sempre fui um vencedor, fracassados são aqueles que procuram defeitos em mim, fracassados são aqueles que não têm uma historia como a minha para contar. São aqueles que são desonestos. O homem que bater no peito e falar que é um herói por ser honesto está totalmente errado, porque ser honesto é obrigação de cada cidadão. Quando o telefone emudece, parece que todo mundo sabe que você é um fracassado. Eu tinha 13 telefones em minha mesa, de repente todos ficaram calados. Eu tinha 380 funcionários diretos em 19 empresas, tinha 11 aviões e 80 carros. Eu pagava todos meus funcionários diariamente.
Douglas Araújo – E como é o fundo do poço? 
Seu Mané – A lembrança que eu tive foi da pessoa que eu coloquei dentro de meu avião e mandei para Brasília durante quatro meses com tratamento médico por minha conta. Foi a mesma pessoa que me mandou um envelope com os trezentos reais. Eu sempre ajudei muitas pessoas, sempre tive o prazer de fazer uma pessoa sorrir. Ajudei muitos garimpeiros a voltarem para a sua terra. No momento mais difícil da minha vida uma pessoa que eu nunca tinha feito algo por ela, ficou sabendo que eu estava doente em um quartinho quatro por quatro e me tirou de lá e me mandou para um hospital particular, depois me deu um emprego e hoje sou o administrador do Terminal Rodoviário de Novo Progresso. Esta pessoa chama-se Nery dos Prazeres (ex-prefeito de Novo Progresso), hoje meu grande amigo.

Fonte: O Liberal

"ALGUNS APELIDOS FAMOSOS NOS GARIMPOS DO TAPAJÓS" -

"ALGUNS APELIDOS FAMOSOS NOS GARIMPOS DO TAPAJÓS - 

Pilotos
Ameba, Arara, Boca Mole, brucutu, Bigode, Capitão Caverna, Chulê, cabeção, Cachimbão, Deixe Comigo, Dentinho (morto em desastre de avião), Gato (desaparecido na selva),
Longarina (mecânico), Manequim, Botinha, Melissinha (irmão do Botinha), Manequim, Pantera cor de Rosa, Pé na Cova, , Pedro Bô, Pedro Mucura, Tatu, Peninha, Pombo, Metralha, Polaco, Papagaio, Salsicha, Urubu, Xulê, Pai Velho. 
Garimpeiros
Maneco e Caroba (Garimpeiros de Serra Pelada) Acari e Diquinho (Garimpo do Marupa) Zezão do Abacaxi, Alagoas, Boroca, Boca Rica, Boca de ouro, Luis Barbudo, , Bauru, Brabo, Bodinho, Bundão, Boca Molhe, Bocão, Banana, , Carabina, Caroço, Carioca, Caranguejo, Coxiu, Cabeludo, Ceará, Chico Caçamba, Cabeção, Cearazão, Ceara da Cobra, Caçador, Ceguinho, Cabeça Branca, Casadinho, Dentista, Dico, Doutor, Escafandro, Fogoso, Fernando Feio, Fininho, Guaxeba, Caxeta, Goina, Cabeção, Gago, Gordo, Índio, Japão, Lampião, Locutor, Louro, Morono, Mulher Velha do Barraco, Maranhão, Menino, Moíto, meloso, Maraca, Mineiro, Nó Cego, ouriçado, Pinto Louco, Paulista, Piaba, Palito, Pé de Fogo, Paranã, Oitenta e sete, Pintado, Paraíba, Sapo, Serra Verde, Soldado, Soco, sabonete, Tinindo, Sardinhas, Tatú, Tarracha, Tigrão, Terra Cega, Velho gipão, Xibiu, Zé da Cama, Zé da Balsa, Zé do óculos, Zé da Dalva, Zé do Tilim, zé da Viola, Zé Arara, Zé do Bio, Zé da Roça, Zé Urubu, Zé Pretinho, Zé do Fole, Zé das Medalhas.
Prostitutas
Elas não tem apelidos, mas nomes de guerra diferenciados do nome dado na sua terra de origem e diferentemente dos garimpeiros e pilotos, elas exigem e só respondem por esse nome de guerra; Os nomes de guerra mais comuns para as mulheres: Milenes, Creusas, Simones, Carlas.

Fonte: O Liberal

O QUE SÃO COMMODITIES?

O QUE SÃO COMMODITIES?

Commodities (significa mercadoria em inglês) pode ser definido como mercadorias, principalmente minérios e gêneros agrícolas, que são produzidos em larga escala e comercializados em nível mundial. As commodities são negociadas em bolsas mercadorias, portanto seus preços são definidos em nível global, pelo mercado internacional.
As commodities são produzidas por diferentes produtores e possuem características uniformes. Geralmente, são produtos que podem ser estocados por um determinado período de tempo sem que haja perda de qualidade. As commodities também se caracterizam por não ter passado por processo industrial, ou seja, são geralmente matérias-primas.
Existem quatro tipos de commodities:
Commodities agrícolas: soja, suco de laranja congelado, trigo, algodão, borracha, café, etc.
Commodities minerais: minério de ferro, alumínio, petróleo, ouro, níquel, prata, etc.
Commodities financeiras: moedas negociadas em vários mercados, títulos públicos de governos federais, etc.
Commodities ambientais: créditos de carbono
O Brasil é um grande produtor e exportador de commodities. As principais commodities produzidas e exportadas por nosso país são: petróleo, café, suco de laranja, minério de ferro, soja e alumínio. Se por um lado o país se beneficia do comércio destas mercadorias, por outro o torna dependente dos preços estabelecidos internacionalmente. Quando há alta demanda internacional, os preços sobem e as empresas produtoras lucram muito. Porém, num quadro de recessão mundial, as commodities se desvalorizam, prejudicando os lucros das empresas e o valor de suas ações negociadas em bolsa de valores. 

Fonte: DNPM

GARIMPOS DO TAPAJÓS - PARÁ

GARIMPOS DO TAPAJÓS - PARÁ

A Província Aurífera do Tapajós inserida na Reserva Garimpeira do Tapajós, criada através de Portaria Interministerial nº 882, de 25 de julho de 1983, com publicação no Diário Oficial da União em 28 de Julho de 1983, ocupa uma superfície de aproximadamente 250.000 km².
As jazidas de ouro localizadas nessa região, distribuem-se ao longo da intensa rede de drenagem tributária do Rio Tapajós, mencionando-se entre os mais importantes cursos d’água, os rios Jamanxim, Tocantins, Crepori, Creporizinho, Marupá, Novo, Surubim, Tropas, Mutum e Pacu. Os Rios Parauari, Amana e seus tributários, já pertencem a bacia do Rio Amazonas.  
Por longas décadas o sonho de “Bamburrar” (fazer fortuna) acalentou o sonho de milhares de garimpeiros. É a história comum na vida dos homens que abandonaram e até hoje, abandonam suas famílias, para buscarem na floresta Amazônica o mais cobiçado dos metais: o ouro. Muitos acabaram nunca saindo dos garimpos, e nem tão pouco enriqueceram, padeceram na própria floresta, abatidos pela malária, violência e/ou pelas dificuldades de se viver sem a mínima infraestrutura. O resultado deste componente são histórias de abandono, violência, o aumento dos surtos de malária e a crescente contaminação por mercúrio. 
        
                                                             Pista do Sudário - Rio Marupá

Os Precursores da Garimpagem na Região
Em 1958 os irmãos Nilson e Edson Pinheiro, descobriram a primeira jazida de ouro no Tapajós, denominada “Grota Rica das Tropas” localizada a poucos quilômetros a montante da foz do Rio das Tropas, tributário da  margem direita do Rio Tapajós. Essa área chegou a produzir toneladas de ouro, tipo pepita.  Posteriormente vieram os Irmãos Sudários precursores da garimpagem na região do Rio Marupá. Os Irmãos Uchoa (Wilson, Walter e Weimar) criaram diversos garimpos na região do Rio Amana, inclusive o garimpo do Porquinho. O José Cândido de Araújo, o Popular Zé Arara – um dos maiores produtores e compradores de ouro de toda a região dominou por muitos anos a Região do Garimpo do Patrocínio no Rio Surubim, que posteriormente vendeu parte do Garimpo ao Ruy Barbosa de Mendonça.
A descoberta do ouro no Rio Teles Pires aconteceu em 1978 com a decadência dos garimpos de Peixoto de Azevedo. A febre do ouro fez com que durante o auge da extração em 1989, o município de Apiacás chegasse a ter 55 mil garimpeiros. Com a fim do grande ciclo de mineração no final da década de 90, muitos tentaram ocupar terras na região, começando um período marcado por muitos conflitos fundiários e mortes.

REGIME DE LAVRA GARIMPEIRA
A Lei 7.805 que criou o regime de Lavra Garimpeira, foi editada em 18 de Julho de 1989, regulamentada pelo Decreto nº 98.812, de 09 de janeiro de 1990. Essa Lei, extinguiu o regime de matrícula do garimpeiro, o que ajudou a tornar célere a atividade na região. Mas o ponto negativo desse episódio, é que quando foram criadas as Unidades de Conservação na região do Tapajós (13.02.2006), os garimpeiros e agricultores que já historicamente estavam no âmbito das unidades trabalhando legalmente, passaram a ser considerados “Criminosos ambientais”.

Fonte: Geologo

Chico Leite – O mais antigo garimpeiro em atividade no Tapajós

Chico Leite – O mais antigo garimpeiro em atividade no Tapajós

Francisco Leite continua sonhando que um dia voltará a bamburrar no ouro
Quem vê aquela figura simplória, franzina, mas forte como um touro, carregando nas costas em um jamanxin por vários quilômetros um fardo de açúcar pesando 30 quilos como se estivesse levando pena, não imagina que um dia ele já foi um milionário do ouro, ou um bamburrado como se fala na linguagem garimpeira.
De pequena estatura, aos 73 anos, zanzando de um lado pro outro na comunidade, ora no baixão, com seu jamanxin nas costas, não faz a menor ideia de que está diante de um garimpeiro que fez fortuna no garimpo e perdeu tudo do dia pra noite. Trata-se do famoso Francisco da Silva Leite, mais conhecido por Chico Leite, que nunca saiu da comunidade Antônio Sudário, que ainda continua sonhando que um dia voltará a bamburrar de novo.
Chico Leite também tem parentesco com os irmãos Sudário e é a pessoa que detém maior conhecimento sobre a saga garimpeira do quarteto de Bandeirantes Tapajônicos que desbravaram a região do Marupá a partir da primeira pista de pouso construída na garimpagem do Tapajós, que ficou conhecida como Pista do Sudário, numa alusão ao nome dos seus criadores.
Caboclo nativo da região, Chico Leite nasceu na comunidade de São Luiz do Tapajós. Como Dom Quixote, ensarilhou suas armas de sonhos e desafios e caiu no mundo em busca de fortuna atraído pelas fofocas e brilho do ouro do Tapajós. A diferença é que Chico Leite é de carne e osso e sua luta não era utopia. Com todas as letras, Chico Leite assegura que quando chegou na região do Marupá, os irmãos Sudário: Antônio Sudário da Silva, Raimundo Sudário da Silva, Sebastião Sudário da Silva e Elias Sudário da Silva (todos falecidos) já tinham na raça e na coragem construído oficialmente a primeira pista de pouso de aeronaves do Tapajós e, em homenagem ao nome dos desbravadores foi batizada de Pista do Sudário, dando origem hoje a uma comunidade registrada e organizada com o nome de Comunidade Antônio Sudário, se tornando por isso a maior produtora de ouro da região, na época.
Chico Leite ainda se mantém na atividade garimpeira em um baixão lá do Marupá. Ele relata que quando chegou, os Sudário já tinham construído 100 metros de pista, do total de 1.500 concernentes ao tamanho oficial da pista, sendo historicamente esse fato registrado no ano de 1962, na região do rio Marupá, que mais tarde batizou a comunidade aurífera em função desse rio. Tudo de forma manual, utilizando apenas xibanca, machado, enxada (nessa época ainda não existia motosserra).
Mesmo aos 73 anos de idade Chico Leite continua no que chama ”micróbio ou germe do garimpo” trabalhando duro e causando inveja a muito garotão de 20 que não tem, segundo ele, metade de sua disposição. Se gaba de sua invejável memória e vai nos repassando fatos e datas, tudo dentro de um cronograma preciso, falando de coisas que ocorreram há cerca de 59 anos, como se fossem ontem.
Chico pediu pra que eu registrasse e divulgasse que a primeira pista da garimpagem do Tapajós foi a do Sudário, depois veio a do Cuiú-Cuiú. Em seguida vai relembrando os laços familiares dos tios Sudário, citando sua mãe Raimunda Bastos da Silva. Chico Leite estudou só até a 4ª série, mas sabe ler e escrever e para sobreviver trabalhou de tudo um pouco no garimpo, sendo até cozinheiro no baixão. Em sua odisseia garimpeira saiu e voltou várias vezes da comunidade Antônio Sudário, por conta própria. Chico Leite chegou por lá em 1972, saiu e voltou de novo em 1976, aos 28 anos e ainda solteiro.
Falando sobre a vida dos quatro Sudário, Chico Leite considera que eles foram os verdadeiros heróis da garimpagem, pois nada entendiam de ouro já que eram seringueiros no alto Tapajós, numa área conhecida por Laranjal e de lá fizeram a varação pro Marupá, tão logo souberam que Nilson Pinheiro havia descoberto o Rio das Tropas em Jacareacanga, que ainda pertencia ao território de Itaiuba. E tão logo iniciaram a exploração de ouro (aprenderam a trabalhar no Rio das Tropas) vieram a se tornar hábeis garimpeiros, principalmente na arte da pesquisa e exploração.
Chico Leite é um garimpeiro bem humorado, querido por todos, mas tem uma coisa que o deixa chateado: O fato de muita gente hoje, segundo ele, está bem de vida na comunidade, foram beneficiados com doação de terras gentilmente cedidas sem nenhum ônus pelos irmãos Sudário para trabalho de exploração de ouro, e sem que pagassem nada, por isso que mesmo ajudados ainda estão sendo ingratos não valorizando e nem respeitando memória dos desbravadores, nem a família Sudário como pioneiros descobridores do garimpo que mais tarde virou comunidade.
Na parte II vamos narrar como Chico Leite, de milionário voltou a ficar pobre num piscar de olhos no garimpo do Marupá. Para produzir essa e outras matérias a reportagem do Impacto percorreu quase dois mil quilômetros entre pistas e baixões.
COMUNIDADE ANTÕNIO SUDÁRIO HOMENAGEIA EQUIPE DE VACINAÇÃO DA SEMSA: O advento da estrada aberta para interligar a região garimpeira do Marupá (comunidade Antônio Sudário) com Crepurizão e Itaituba, através da Transgarimpeira, parecia um sonho inatingível, mas como um vaticínio de quem era visionário, primeiro veio a pista dos Sudário, que ensejou a criação da comunidade e depois a estrada que para muitos parecia utopia. O acesso terrestre facilitou a presença dos serviços públicos essenciais e pela primeira vez uma equipe da área de saúde esteve na comunidade utilizando a estrada denominada Transmarupá.
Uma equipe formada por Edson Garcia (responsável pela vacina), os motoristas Jean Robson e Ednelson Costa, complementando a equipe com Jéssica de Souza, Ana Cleide Vieira, Marcelo Antônio, Kelly Cristina e Joicicléia Rodrigues, técnicos em enfermagem promoveram durante dois dias campanha de vacinação no combate e prevenção à febre amarela, vacina antitetânica, antigripal e outras. A presença da equipe oportunizou a chance de centenas de pessoas que por motivos diversos que não puderam sair dos garimpos aproveitaram para completar ou iniciar suas vacinações.
Como foi levada uma grande quantidade de vacinas, todos que compareceram no posto improvisado próximo à Rua Beira Rio saíram satisfeitos pelo atendimento. Em reconhecimento ao empenho, ao esforço da equipe que já tinha passado pelo Crepurizão, Crepurizinho, Rio do Ouro, Cabaçal e outras comunidades, cada um dos integrantes recebeu das mãos dos integrantes da Família Sudário um diploma denominado “Certificado dos amigos dos Sudário”. Entre eles, Bebê Sudário, Raimundinho Sudário, Vanacy Sudário, Nara Duarte, Jurassi Sudário, Aldo Sudário, Elias Sudário, Edilson Rodrigues etc..
Os profissionais da saúde agradeceram a gentil acolhida da comunidade, considerando uma das melhores recepções comparadas por onde estiveram realizando a campanha de vacinação, tanto em logística quanto em apreço à equipe.
SAGA DOS SUDÁRIO: A façanha dos irmãos Sudário que com bravura e determinação em meio a uma mata inóspita abriram a primeira pista de pouso na região do Marupá foi testemunhada por pessoas que ainda hoje continuam vivendo na região e guardam boas lembranças. João Nogueira Batista, de 72 anos que ainda hoje continua sonhando com o “bamburro” é um deles. Conhecido por Bispo, ele tem um pá de máquina no garimpo do Marupá e mora na comunidade Antônio Sudário que serve de base de apoio como comunidade às atividades garimpeiras. Ele, em seu depoimento, demonstra toda gratidão aos irmãos Sudário.
“Cheguei aqui de jamanxin nas costas, em 1974, no Janau, fazendo exploração, e que já havia o Sabá Leal que era um delegado conciliador. Em 4 horas de viagem venci dois quilômetros de varação. Nessa época não havia muita povoação, só tinham três casas. Fui muito bem recepcionado pelos irmãos Sudário e tudo que hoje sou e tenho na região devo primeiro a Deus e em segundo aos Irmãos Sudário que nada cobravam, iam colocando as pessoas, inclusive ganhei um pedaço de terra deles e ainda tem muita gente ingrata que até hoje não reconhece isso”, declarou João Nogueira.
“Não tinha cozinheira. Mulher aqui era igual visagem se visse uma era um assombro e para que você pudesse conseguir uma, tinha que entrar numa fila de espera, pois era tudo agendado, colocado no caderno. Era ainda jovem, mas já começava a trabalhar por minha conta, e quando aqui, na ainda conhecida pista dos Sudário, os quatro irmãos como pessoas amigas e solidárias logo me deram  um pedaço de terra pra eu tocar. A família dos Sudário tinha barracão nos baixões, isso tudo ainda na época da garimpagem manual. Depois do Sabá Leal, eu fiquei aqui sendo uma espécie de delegado, toda questão vinha pra mim e eu tinha de resolver, inclusive naquele tempo por ordem de Wirland Freire coloquei vários bate-paus que estavam causando problemas aqui no garimpo, pois sempre fui contra extorsão, roubo ou morte. Usava armas calibre 38, 20, mas nunca precisei matar ninguém graças a Deus”, relembra.
Bispo, com sua boa memória em sua narrativa homérica, vai relatando mais fatos interessantes da época. “A Polícia Militar passou a existir aqui no garimpo somente em 1984, quando aqui instalou um destacamento que até nos dias de hoje ainda existe. Naquela época com três, hoje tem quatro policiais. Quando conheci os irmãos Sudário vi que eles eram pessoas simples, nunca vi nenhum deles armado, nem humilhando ninguém, e muito menos andando com guaxebas e, na região, de fato, o primeiro garimpo foi o do Cuiú-Cuiú, mas a primeira pista de pouso que gerou exploração no Marupá, que depois de uma pista virou comunidade, foi feita pelos irmãos Sudário”, falou João Nogueira.
“Quando aqui começou a crescer, o garimpo realizava cerca de 2 shows por semana, e não faltava artistas famosos, lotado as boates, aqui veio Valdik Soriano, Diana, Amado Batista, Fernando Mendes, José Augusto, Waldirene, a Ferinha, Márcia Ferreira, Edelson Moura, Baltazar, Bartô Galeno, Hamilton Ramos, Raul Seixas e tantos outros. Aqui no auge do ouro tinham as boites Canto Do Rio, Sorriso da Noite, Califórnia (onde hoje funciona uma Igreja Evangélica); todas consideradas grandes boates, sendo que atualmente ainda existem apenas duas funcionando, mas precariamente, Canto do Rio e Globo de Ouro”, recorda Bispo.
“Na época dos grandes movimentos de compra e venda de ouro, aqui era um espetáculo com o céu colorido de aviões, de 15 a 20 aviões pousando e outros sobrevoando, esperando a vez de pousar. O bom é que       aqui não tinha drogas, e entre 1984 e 1985 cheguei a tirar dois quilos de ouro em um mês, algumas vezes até quatro. Não sou rico, mas tenho uma vida estável financeiramente. Comprei e tenho uma chácara no estado do Piauí, lá em São Pedro de Água Branca, além de que ainda estou explorando ouro e se Deus quiser um dia vou bamburrar de novo”, conta emocionado João Nogueira.
Bispo vai desfiando seu novelo de boas histórias, suas narrativas vão atraindo mais pessoas e nossa conversa vai fluindo de maneira informal sem aquele tom de entrevista. “Aqui nessa época o cabra não tinha moleza, porque na exploração manual só se utilizava como ferramentas uma peula, pá, machado e facão. Tinha a lavra, a cobra fumando e a cobrinha. Somente nos anos de 1981 e 1982 é que chegaram os motores e o maior vendendor era da empresa Imateq. Os motores mais vendidos eram 2,6 MWM 3 cilindros, e o 4/6 cilindros e tudo na base mesmo do Tatuzão, Bico Jato, Maraca”, informou.
Bispo, que apesar dos 72 anos ainda se mantém alinhado e se vestindo com elegância, confessa ser um “garimpeiro vaidoso”. “Minha vida mudou da água pro vinho, quando vivia no mundo da bagaceira e entrava numa festa era o dançarino preferido das mulheres, dançava de tudo, forró, brega, o que tocasse. Bebia, mas não era de valentias não, tanto que como delegado nomeado pelos irmãos Sudário sempre evitava confusão e conflitos aqui no garimpo, buscando uma boa conversa, um entendimento. Hoje sou um homem evangélico, faz dezoito anos que aceitei Jesus e já estou há 42 anos aqui na comunidade Antônio Sudário”, conta Bispo.
Como é detentor de vasto conhecimento prático e das histórias ouvidas por essas bandas, João Batista, que tem nome de profeta, tem vasto repertório de acontecimentos, narrando de forma linear, ora misturando épocas, fatos etc. Agora o garimpeiro ganha na porcentagem 16% com trabalho de PCS e no Tatuzão ainda são 30%, porque eles precisam fazer trabalho completo desde a capa da raiz Lagresia, o cascalho, lavagem da areia, enfim todo o processo.

Fonte: RG 15/O Impacto