domingo, 11 de setembro de 2016

Brasil fará expedições em busca de minérios no fundo do Atlântico

Brasil fará expedições em busca de minérios no fundo do Atlântico


Brasil estudará jazidas de minérios no fundo do Atlântico
Nódulos polimetálicos fotografados a cerca de 700 km da costa do Rio de Janeiro. [Imagem: Ag.Fapesp]

Em algumas áreas no fundo dos oceanos, em profundidades que podem atingir 5 mil metros, é possível encontrar diversos tipos de depósitos de metais.
Minérios no fundo do mar
Os mais comuns são nódulos de manganês, com diâmetro entre 10 e 20 centímetros, distribuídos no assoalho oceânico, sobre o sedimento marinho, compostos por manganês, ferro, cobre, níquel e cobalto.
Já em profundidades um pouco menores, entre 500 e 1.000 metros, também podem ser observadas crostas polimetálicas, com aspecto semelhante ao de asfalto, e depositadas sobre afloramentos rochosos, que são ricas em cobalto e têm menores teores de manganês, cobre e níquel do que os nódulos polimetálicos.
Um consórcio internacional integrado por cientistas de universidades e instituições de pesquisa do Brasil e do Reino Unido pretende desvendar, nos próximos cinco anos, como esses depósitos polimetálicos foram formados no oceano Atlântico e quais condições ambientais favoreceram seu surgimento e crescimento.
"O objetivo do projeto é entender quais as razões ambientais que condicionaram a ocorrência desses depósitos polimetálicos nos montes submarinos e nas planícies abissais [zona plana que ocupa grande extensão do fundo dos oceanos e que ocorre a profundidades de, aproximadamente, 5 mil metros] do oceano Atlântico Sul e Norte", explica Frederico Pereira Brandini, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo.
Brasil estudará jazidas de minérios no fundo do Atlântico
As missões de exploração serão feitas com auxílio do navio oceanográfico Alpha Crucis. [Imagem: Stabbert Maritime]
Mineração marinha
Como há interesse econômico pelos minerais encontrados nos depósitos polimetálicos marinhos, que têm diversas aplicações industriais e tecnológicas, os pesquisadores também pretendem avaliar os impactos ambientais da extração dos minérios encontrados nas crostas e nódulos polimetálicos considerando diferentes cenários econômicos, tecnológicos e geopolíticos.
As crostas polimetálicas oceânicas, por exemplo, possuem concentrações de telúrio - um mineral fundamental para o desenvolvimento de células fotovoltaicas - muito maior do que qualquer rocha na crosta continental da Terra.
Os nódulos polimetálicos oceânicos, por sua vez, possuem teores de níquel - mineral usado em baterias de aparelhos celulares, notebooks e tablets - em nível 20 vezes maior do que os das jazidas terrestres. Esses depósitos polimetálicos concentrariam ainda 1 bilhão de toneladas de cobalto.
A ISBA (Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos, na sigla em inglês) estima que cerca de 6,35 bilhões de quilômetros quadrados, ou 1,7% do solo do oceano, sejam cobertos por crostas polimetálicas. A entidade já deuautorização ao Brasil para iniciar a prospecção mineral no Atlântico em 150 áreas.
Brasil estudará jazidas de minérios no fundo do Atlântico
Uma empresa de mineração canadense já está com tudo pronto para começar a mineração no fundo do mar, na costa da Papua Nova Guiné. [Imagem: Nautilus Minerals]
Minissubmarinos
De acordo com o pesquisador Frederico Pereira Brandini, que coordena o projeto do lado brasileiro, o estudo será realizado na Elevação do Rio Grande - uma cadeia de montanhas submersa a cerca de 1,3 mil quilômetros do litoral do Rio Grande do Sul -, e nas planícies abissais ao largo da Ilha da Madeira, no Atlântico Norte. Ambas as regiões são conhecidas por possuírem nódulos e crostas polimetálicas.
Três desses cruzeiros, com duração prevista de até 30 dias cada, serão liderados por pesquisadores brasileiros a bordo do navio oceanográfico Alpha Crucise realizados na Elevação do Rio Grande e bacias abissais adjacentes, em latitudes semelhantes ao quarto cruzeiro, a ser realizado por cientistas do Reino Unido nas planícies abissais da Ilha da Madeira.
Para estudar os ambientes oceanográficos onde estão localizados os depósitos polimetálicos serão utilizados veículos subaquáticos robóticos usados por universidades, instituições de pesquisa e por empresas petrolíferas e de mineração do Reino Unido.
Os minissubmarinos, capazes de mergulhar a profundidades de até 6,5 mil metros, são equipados com câmeras de vídeo, sensores e instrumentos científicos e possuem "braços" para manipulação, capazes de selecionar e recolher amostras de objetos pequenos e delicados com precisão e realizar experimentos no oceano profundo que seriam impossíveis de serem feitos por mergulhadores humanos devido à pressão da água.
Segundo os pesquisadores, uma das vantagens do uso de veículos subaquáticos robóticos no projeto é que eles possibilitarão visualizar a área intacta onde amostras de depósitos polimetálicos serão recolhidas por meio de imagens transmitidas em tempo real à embarcação através de cabos de fibra óptica.
Brasil estudará jazidas de minérios no fundo do Atlântico
A corrida pela mineração no fundo do mar tem foco sobretudo nos nódulos polimetálicos. [Imagem: BBC]
Origem dos minérios marinhos
Há diversas hipóteses para explicar a formação dos depósitos polimetálicos, mas existem duas teorias opostas.
A primeira delas defende que a formação de nódulos polimetálicos é mediada por microrganismos que formam, através de processos de biomineralização (em que organismos produzem minerais) micronódulos que aumentam de tamanho com o passar do tempo pela deposição de mineral resultante de processos biogênicos.
A segunda hipótese é que os depósitos polimetálicos podem ter sido criados a partir de elementos encontrados no próprio solo do fundo do mar.

Os pesquisadores do projeto esperam levantar dados suficientes para dar suporte a uma dessas teorias - ou revelar uma nova.

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