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O controle e a riqueza gerada com a extração de diamantes na região de Minas Gerais.
No início do século XVIII, a descoberta de ouro na região de Minas Gerais estabeleceu a busca por novas áreas que pudessem conter aquele mesmo tipo de riqueza pioneiramente encontrada pelos bandeirantes. Na verdade, além de outras regiões ricas em ouro, o desenvolvimento da atividade mineradora também abriu espaço para a descoberta de regiões ricas em pedras preciosas.
Segundo alguns registros, a descoberta de diamantes teria acontecido na mesma época em que as primeiras jazidas de ouro teriam sido conhecidas pela Coroa Portuguesa. No entanto, a oficialização desse evento aconteceu somente em 1729. No mês de julho daquele ano, o governador Lourenço de Almeida enviou algumas pedras para o governo de Portugal pensando que tinha encontrado diamantes na Comarca de Serro Frio.
Diferentemente da atividade aurífera, os portugueses tiveram grandes dificuldades para evitar a ação de contrabando dos diamantes encontrados nessa região. Afinal de contas, era impossível fundir as pedras preciosas e, desse modo, impor a mesma cobrança de impostos que era reservada ao ouro. Com isso, o governo de Portugal determinou que todos os mineradores da região fossem imediatamente expulsos dali e demarcou a região do chamado Distrito Diamantino.
Em um primeiro momento, o governo lusitano determinou que fosse promovido o arrendamento da região diamantífera para as mãos de contratadores. Nessa modalidade de contrato, os contratadores forneciam, antecipadamente, o pagamento de uma quantia em troca da exploração dos diamantes naquela localidade. Com isso, a Coroa esperava adiantar o lucro com a atividade e evitar problemas com o contrabando de pedras.
Tal modelo de funcionamento e arrecadação veio a funcionar entre as décadas de 1740 e 1770. No ano seguinte, o governo português decidiu reformular o processo de extração das pedras preciosas com a criação da Real Extração, uma espécie de empresa que cuidaria diretamente dessa atividade. Realizando a extração de forma direta, a metrópole esperava ampliar seus ganhos em um período em que as minas de diamante apresentavam sinais de esgotamento.
Garimpeiros e mineradora canadense travam disputa por ouro de Belo Monte
A hidrelétrica de Belo Monte ganhou um forte aliado para alimentar as polêmicas que envolvem a exploração dos recursos naturais da Amazônia. Desta vez, porém, o interesse não está nas águas do Xingu. Agora, o alvo é o ouro. Nos pés da barragem de Belo Monte, a apenas 14 km do paredão erguido pela barragem da hidrelétrica, uma guerra foi deflagrada entre garimpeiros que vivem na região e a empresa canadense Belo Sun. A companhia, que não tem nenhum vínculo com a usina, quer transformar o local no maior projeto de exploração de ouro do Brasil. Mas as ambições minerais viraram caso de polícia.
A Belo Sun denunciou os garimpeiros de terem mexido em terras da região sem a devida autorização ambiental, justamente na área onde a empresa pretende instalar sua planta industrial para extrair ouro nas margens do rio Xingu, no município de Senador José Porfírio (PA).
A Polícia Civil abriu inquérito e partiu para cima dos garimpeiros. Há três semanas, a Divisão Especializada em Meio Ambiente (Dema), vinculada à Polícia Civil, convocou 16 garimpeiros para prestarem esclarecimentos na delegacia. Se condenados por crime ambiental, podem ser obrigados a prestar serviços sociais ou a pagar cestas básicas.
A população local ficou indignada. Os garimpeiros, que trabalham no local há mais de 60 anos, acusam a Belo Sun de querer expulsá-los sem direito a indenizações. Cerca de 2 mil pessoas da região vivem do garimpo. "As pessoas só querem ter seus direitos reconhecidos. A empresa não ofereceu nada para o povo. Estamos falando de gente que nasceu e se criou no lugar, e que não sabe fazer outra coisa", disse Valdenir do Nascimento, presidente da Cooperativa dos Garimpeiros da região.
O ouro de Belo Monte está encravado no subsolo de uma região conhecida como Volta Grande do Xingu. A licença ambiental que os garimpeiros tinham para atuar na região venceu em dezembro do ano passado. Eles alegam que pediram renovação do documento para a Secretaria do Meio Ambiente do Pará, mas que esta deu uma autorização de lavra para uma área completamente fora do local onde eles atuavam, um pedaço de terra que não tem ouro. "Quando reclamamos que a demarcação estava errada, disseram que a gente não queria autorização nenhuma e cancelaram a licença. Ficamos sem ter onde trabalhar", afirmou Nascimento.
O delegado Waldir Freire Cardoso, chefe de operação da Dema, disse que a polícia constatou a lavra de ouro sem autorização. "A denúncia envolvia pessoas e pequenas empresas que atuavam numa área que a Belo Sun diz que é dela. Para nós, não interessa se a denúncia vem da Belo Sun ou de quem quer que seja. A autuação foi motivada por conta de constatação do dano ambiental", disse.
Licenças
Há três anos a Belo Sun busca o licenciamento para o seu garimpo industrial, processo que é tocado pelo governo do Pará. A empresa já tem a licença prévia do projeto e se prepara para pedir a licença de instalação, documento que libera efetivamente a extração do ouro.
O Ministério Público Federal questionou o Ibama sobre a necessidade de o órgão federal assumir a responsabilidade pelo licenciamento, dada a sua proximidade com a hidrelétrica e a potencialização dos impactos socioambientais por conta da mineração, mas o tema não saiu dos escaninhos da secretaria estadual.
A Norte Energia, dona da hidrelétrica, evita falar publicamente sobre os planos da Belo Sun, mas sabe-se que sua diretoria torce o nariz sobre a possibilidade de ter bombas explodindo no subsolo do Xingu, bem ao lado de sua barragem.
A Belo Sun foi insistentemente procurada para comentar o assunto, mas não retornou ao pedido de entrevista. A empresa, que pertence ao grupo canadense Forbes & Manhattan, um banco de capital fechado que investe em projetos de mineração, tem planos de aplicar US$ 1,076 bilhão no projeto "Volta Grande", de onde sairiam 4,6 mil quilos de ouro por ano, durante duas décadas.
"A Belo Sun não tem mais direito de estar naquela área do que os garimpeiros artesanais, que estão ali há seis décadas. Apesar disso, a empresa age como se fosse proprietária da região, constrangendo os moradores do local e pressionando sua saída", disse Leonardo Amorim, advogado do Instituto Socioambiental (ISA). "Trata-se de uma mineradora com um mero pedido de lavra e uma licença ambiental sub judice, numa terra pública." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo
Turmalina paraíba foi descoberta há 20 anos, em São José da Batalha (PB). Pedra tem um azul único e um brilho incomparável.
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Serra da Borborema, região do cariri paraibano. A imensa cordilheira que corta a caatinga tem muito mais do que beleza. Na região foi descoberta a mais especial e rara das pedras preciosas: a turmalina paraíba. De um azul único, brilho incomparável, alcançou valores nunca imaginados. Um recorde: a turmalina brasileira superou a cotação dos diamantes.
Um caminho de terra e poeira é a ligação da cidade do tesouro com o resto do mundo. Em São José da Batalha, o berço das turmalinas, nada mudou com a descoberta das pedras tão valiosas. O povoado segue a rotina sem pressa e sem novidades. Os moradores apenas assistiram a riqueza ser levada para bem longe do local. As turmalinas permanecem nas histórias que alimentam muitos sonhos na região.
"Muita gente teve pedras valiosas na mão", conta o ex-garimpeiro Antônio Carlos Costa.
"Uma pedrinha dessas custa de R$ 8 a R$ 10 mil. Não me desfaço dela. Fica como lembrança, para as pessoas verem o que eu faço na vida. Pelo menos fica para os netos, bisnetos, tataranetos. E a história continua", diz o ex-garimpeiro Gerlado Oliveira.
Os moradores guardam mágoa de um passado em que a riqueza esteve bem perto, ao alcance das mãos deles. Mas naquele tempo a turmalina paraíba não tinha o valor que tem hoje.
"Ninguém sabia o valor, entoa, trocava por moto, carro. E assim mandaram tudo para fora", conta Geraldo Oliveira.
E é atrás da história de persistência e obstinação que se vai ao encontro do garimpeiro José de Souza, conhecido por Deda. Dá para imaginar que o homem que ocupa uma casa tão modesta já morou na melhor casa da cidade? Ele já foi dono de caminhões, de um bom carro, de minas de garimpo. Tudo comprado com o dinheiro das turmalinas que achou. Mas hoje a cobiçada pedra azul não passa de um retrato na parede.
"Não tenho ideia de quanto a pedra valeria hoje, mas eu não entregaria a ninguém por menos de R$ 2 milhões. Tenho esperança de que vou conseguir outra", diz Deda, que vai em busca da pedra da fortuna. A caminhada é longa. São seis quilômetros até a mina. Basta seguir por um túnel.
O garimpeiro não teve dinheiro para pagar a energia e tem que trabalhar no escuro, à luz de velas. A mina tem 150 metros de extensão.
"Na realidade, dá para ver o mínimo. Mas não tem outro jeito", conta o garimpeiro, que não tem medo de perder a turmalina no meio da escuridão. "Trabalhamos de olho nela".
Não importa se é dia ou noite, o caçador solitário de turmalinas cava sem parar. A maratona continua empurrando o carrinho.
De carregamento em carregamento, todo o material é retirado de dentro da mina. São toneladas de cascalho. O rejeito da mina cobriu toda a encosta do morro. Deda conta que são oito anos de suor no local. "Meu pensamento fica em Deus", diz.
Caulim é uma argila branca, onde os garimpeiros encontram as turmalinas. Na primeira mina de turmalina da região, uma galeria gigantesca está desativada. Exploração agora, só com máquinas.
"É impossível calcular, mas, pela experiência que temos, ainda não foram explorados 10% dessa mina", conta o minerador Sérgio Barbosa.
As galerias têm passagens para todos os lados e chegam a 60 metros de altura.
E pensar que a mais rara das pedras preciosas foi encontrada em uma região marcada pela aridez, em uma terra considerada pobre, que não serve para plantar. A primeira turmalina paraíba foi descoberta a sete metros de profundidade, 20 anos atrás, graças à obstinação de um homem: Heitor Barbosa, que o Globo Repórter foi conhecer em Belo Horizonte, Minas Gerais.
Heitor Dimas Barbosa é o dono da mina de São José da Batalha. Todas as pedras que ele guarda vieram de lá. Com orgulho, mostra revistas estrangeiras onde é citado como o homem que descobriu a raríssima turmalina paraíba, em 1982. Era tão bonita e diferente que até comerciantes de joias achavam que não era verdadeira.
"Falavam que era sintética", lembra Heitor Barbosa, que não desistiu. Enviou amostras do mineral ao Gemological Institut of America, nos Estados Unidos, que comprovou: era uma turmalina com cobre e manganês na composição, o que dá o azul especial. Heitor Barbosa diz que não ficou rico porque vendeu as pedras por valor muito baixo e aplicou todo o dinheiro na mina de São José da Batalha, mas garante que ainda vai enriquecer. "Eu tenho uma convicção muito forte de que ainda vou encontrar uma pedra acima de três quilos", diz.
A mina do tesouro, em São José da Batalha, fica em uma região onde não existem empregos. Homens arriscam a vida diariamente nas profundezas da terra.
O local de trabalho do garimpeiro José Tadeu Taveira fica a 60 metros de profundidade. O jeito é colocar o capacete e encarar uma escada. "Não tem perigo", garante Tadeu, que enfrenta esse expediente todo dia.
Os garimpeiros trabalham sempre em dupla: um retira o caulim com a picareta e o outro recolhe com a pá. É também uma medida de segurança. Em caso de desmoronamento, um pode socorrer o outro.
"O perigo está sempre por perto", diz José Tadeu.
Mais perto do que se imagina. Durante a entrevista, uma barreira desabou.
"Na época da chuva é perigoso porque dá infiltração e começa a desabar", explica José Tadeu.
O desmoronamento foi em uma parede. Por precaução, as escavações estão suspensas nas galerias mais profundas.
O professor José Adelino Freire, do Departamento de Minas da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), alerta: o garimpo de São José da Batalha é uma atividade arriscadíssima. "Quem trabalha lá corre risco de morte. Acho que a universidade deve atuar nessas áreas e orientar os garimpeiros para que eles façam uma exploração mais racional", diz o professor.
O garimpeiro Geone de Sousa escapou de morrer graças ao colega que estava com ele e foi buscar socorro. "Caiu uma barreira quando eu estava embaixo, suspendendo a bomba. Quando escutei o barulho, não deu tempo de correr. Caiu por cima de mim. Eu quebrei o fêmur em dois lugares", conta Geone, que retornou ao trabalho com oito pinos na perna e contando com a proteção divina.
Energia nuclear muda a cor e multiplica o preço de cristais
Com tecnologia, quartzo é transformado em ametista. Lapidário revela como destaca a beleza de pedras brutas.
Em busca da perfeição. Será que é possível mudar a cor e a beleza dos cristais? É sim, com energia nuclear e criatividade de artista. Em Minas Gerais encontram-se, em cidades vizinhas, dois homens que se dedicam a essa transformação. Em Lagoa Santa, Walter Ferreira trabalha com as mãos. Na capital, Belo Horizonte, o professor Fernando Lameiras e sua equipe bombardeiam cristais com raios gama.
Os alquimistas nunca conseguiram fazer ouro. Mas, em Belo Horizonte, os cientistas conseguem mudar a cor e multiplicar o preço dos cristais. Na mão deles um quartzo vira uma ametista.
A transformação acontece no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear de Minas Gerais. A técnica foi descoberta na Alemanha, na década de 40, e aprimorada no Brasil. Cristais claros, sem cor, ganham tons de que vão do amarelo ao azul.
O primeiro passo é selecionar o cristal certo. Nem todos mudam de tonalidade. Mas o Brasil desenvolveu a tecnologia mais avançada do mundo para avaliar a composição química dos minerais e assim saber se a pedra vai ou não ganhar cor. Aí entra o poder da energia nuclear.
O laboratório é cercado de medidas de segurança. Para acionar a cápsula radioativa é preciso primeiro digitar no computador a senha que desbloqueia o sistema.
Pablo Grossi é o responsável pela segurança do laboratório e um dos únicos que têm acesso à chave da câmara de irradiação, onde as pedras mudam de cor.
Só é permitido entrar no local com o sistema desligado. Mesmo assim, nos corredores que levam à cápsula, é difícil esquecer que estamos a poucos metros de uma perigosa fonte radioativa.
"A fonte de radiação fica um metro abaixo do solo. É uma fonte de cobalto 60. Quando ela é exposta, sai de sua blindagem de chumbo e fica em uma região onde os produtos são irradiados e todo o processo ocorre. Ela fica dentro de um cilindro, que serve para proteger o material radioativo que está lá dentro", explica Paulo Grossi.
Para mudar de cor, os cristais ficam expostos à radiação de três dias a dois meses. Os cientistas explicam que o processo não deixa nos minerais nenhum resquício de radioatividade. O que muda mesmo é o valor da pedra.
"No Brasil, costuma sair pedra em um estado que vale muito pouco, cerca de R$ 20 o quilo. Bruta e sem cor. Uma pedra que já está bruta e colorida pode chegar a valer R$ 2 mil o quilo", explica Fernando Lameiras.
Walter Ferreira faz parte de um grupo de artistas cada vez mais raros. A lapidação artesanal de joias vem diminuindo muito no Brasil. Quase sempre as pedras são exportadas em forma bruta e lapidadas no exterior, geralmente na Ásia, onde a mão-de-obra é mais barata. Walter resiste. Começou a trabalhar aos 11 anos e nunca mais parou. Para ele, toda pedra é preciosa. O lapidário acha que só ajuda a revelar a beleza que ela sempre teve.
"Quanto à forma, eu só obedeço. A pedra é que me mostra o seu formato. Eu enxergo formatos dentro das pedras. Se eu não puder por meu trabalho em uma pedra com respeito, eu não ponho. Porque temos que respeitar a natureza", diz Walter.
A lapidação do quartzo consome a tarde inteira. Mas, antes de o sol se por, a peça fica pronta. Apesar das incertezas da profissão, Walter nunca pensou em desistir. "Sou apaixonado por pedras, pela natureza e por minha profissão", afirma.
A mesma paixão que levou o ex-garimpeiro Júlio Bento para Diamantina, o dono de mina Heitor Barbosa para a Paraíba, e que alimenta, todo dia, o sonho dos garimpeiros Miguel Tressi, Deda, Valdemar Bilibil e tantos outros. O sonho de encontrar a felicidade em uma pedra. Para eles, uma pedra mais do que preciosa.
Mineiro volta ao lugar onde se tornou um milionário. Júlio Bento descobriu mina no Vale do Jequitinhonha. Pedras eram escondidas dentro de uma panela no acampamento.
No coração de Minas Gerais fica um lugar que já foi procurado por bandeirantes, aventureiros, e cobiçado por impérios. A história está nas ruas, nas casas, na alma da cidade, que tem no nome a riqueza e o destino de pedra: Diamantina. Ninguém sabe ao certo, mas calcula-se que da região tenham saído mais de 600 quilos de diamantes. E também de lá saíram outras pedras que se transformaram em joias belíssimas que ainda hoje brilham pelo mundo inteiro.
Quase três séculos de mineração deixaram marcas e mitos.
"Júlio Bento foi quem tirou mais diamantes. Ele até achou que era castigo tanto diamante", conta o empresário Fábio Nunes.
"Na região, o rei do diamante é Júlio Bento", confirma o taxista Sandoval Ribeiro, o Juca.
Júlio Bento, o rei do diamante, não gosta de revelar a idade, mas dizem que ele já passou dos 80. Fala menos ainda quando se trata de fortuna. Afinal, ele continua rico ou não? Seu Júlio voltou à Diamantina para mostrar o garimpo onde achou a primeira de muitas e muitas pedras valiosíssimas. Um tesouro encontrado justamente na região de Minas Gerais famosa pela pobreza, o Vale do Jequitinhonha.
A estrada é de terra, mas, naquele tempo, nem ela existia. Seu Júlio abriu as primeiras picadas e passou com uma tropa de mulas. De um trecho em diante, só com tração nas quatro rodas. Depois de uma hora de solavancos, chega-se ao local. Foi em um trecho do Rio Pinheiro que seu Júlio passou os primeiros cinco anos no garimpo.
Depois da investida dos bandeirantes, no Período Colonial, Diamantina viveu, na época de seu Júlio, uma segunda febre do garimpo. No começo dos anos 80, Diamantina chegou a ter mais de 30 mil garimpeiros. Só em uma mina trabalhavam 250 homens. Os diamantes que saíam da região espalhavam riquezas pelo Brasil inteiro e por outros países do mundo. Mas tudo isso tem um custo para a natureza: onde o garimpo chega, a paisagem muda. Areia que foi parar no meio do rio saiu de outro garimpo que ficava um pouco acima.
O leito do rio também foi desviado. Os muros construídos pelos garimpeiros ainda estão de pé. Seu Júlio volta a explorar o lugar, desta vez, para garimpar a própria história. Dois quilômetros adiante, um reencontro com o passado. O velho garimpeiro descobre o acampamento onde ele e os colegas passavam as noites.
"Ficou tudo do jeito que era porque a pedra protege. A comida era carne, arroz, feijão, verdura", lembra seu Júlio.
O homem que cozinhava para os garimpeiros hoje é chefe de cozinha em um restaurante de Diamantina. Mas, naquele tempo, Luiz Lobo – o Vandeca, como ainda é conhecido – tinha outra função, da maior importância: esconder os diamantes que seu Júlio tirava do rio.
"Seu Júlio confiava tanto em mim que eu tinha na cozinha uma panela que se chamava panela do segredo. Nem os cunhados dele sabiam onde eu guardava os diamantes. Eu guardava dentro de uma panela. Eu colocava as garrafas de diamantes e os pacotes de macarrão e de sal em cima, para que ninguém desconfiasse do que estava ali dentro. Ninguém nunca descobriu", afirma Vandeca.
Hoje seu Júlio vive em São Paulo. Além de não falar se ficou rico, ele não revela, nem mesmo, a quantidade de diamantes que extraiu. Mas, de repente, tira do bolso uma recordação dos velhos tempos: um diamante de quase cinco quilates. "Há mais de 20 anos eu guardo", conta.
Tantas lembranças deixam os olhos do velho garimpeiro brilhando como as pedrinhas que ele tanto procurou. "Dá vontade de chorar", diz seu Júlio, emocionado.
Não dá mais para tirar ouro com a mão, diz coronel
Sebastião Curió chegou ao garimpo em 1980 e coordenou a extração de ouro com mão de ferro. Hoje, acompanha de longe a mecanização
Aos 75 anos, o coronel Sebastião Rodrigues de Moura conhece como poucos as agruras de Serra Pelada. Há exatos 30 anos, Curió, como é conhecido, chegou pela primeira vez na região, como enviado do governo federal para coordenar a corrida pelo ouro. Durante três anos, baixou regras rigorosas para controlar a turba de mais de 100 mil homens que tentavam bamburrar – ou enriquecer, na gíria dos garimpeiros – e viu sair 42 toneladas de ouro da mina. Quando foi deputado federal, aprovou um projeto de lei para estender por mais cinco anos o garimpo e foi prefeito de Curionópolis, município do qual Serra Pelada é um distrito e cujo nome foi dado em sua homenagem.
Com a experiência de três décadas em Serra Pelada, Curió tem uma certeza: não dá mais para tirar ouro com as mãos como nos velhos tempos. Por isso, é a favor da mecanização da mina, processo que terá início em maio, quando o governo deverá conceder a licença de lavra para a Serra Pelada Companhia de Desenvolvimento Mineral (SPCDM), joint venture entre a mineradora canadense Colossus e a Coomigasp, a Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada. “Nessa nova fase de Serra Pelada nenhum garimpeiro vai enriquecer”, disse ao iG o coronel Curió. “Mas, como acionistas da empresa, eles têm uma boa perspectiva para melhorar a qualidade de vida”.
De sua casa em Brasília, Curió, que antes de chegar a Serra Pelada havia combatido a guerrilha do Araguaia, falou sobre a mecanização da mina e fala dos tempos em que comandava os garimpeiros. Acompanhe os principais trechos da entrevista:
iG: Como o senhor foi parar em Serra Pelada? Sebastião Curió: Por causa de uma busca e apreensão que fiz com o Zé Arara, o maior comprador de ouro da região. Trouxe o material apreendido e fiz uma apresentação para o ministro da Fazenda, o presidente da Caixa Econômica, vários generais e representantes do presidente da República, João Figueiredo. Contei o que estava acontecendo em Serra Pelada e, depois dessa palestra, foi determinado que a exclusividade de compra do ouro fosse dada para a Caixa Econômica e que eu fosse o coordenador do garimpo.
iG: Em que condições o senhor encontrou a região? Curió: Havia uma corrida do ouro e milhares de garimpeiros chegavam diariamente em Serra Pelada. Cheguei no dia 2 de maio de 1980, e o povoado devia ter uma população de 40 mil pessoas. Ao chegar, falei que meu objetivo era evitar desvios, contrabando e coordenar a exploração. Trouxe alguns benefícios. Entre outras coisas, cortei o percentual que eles pagavam ao Genésio, o suposto dono da propriedade, um posseiro que cobrava taxa de 20% da produção dos garimpeiros.
iG: Por que o senhor proibiu a entrada de mulheres em Serra Pelada?Curió: Muitos dizem que foi discriminação, mas não é verdade. Eram muitos homens e a presença das mulheres causaria muitas mortes por noite. Além das mulheres, proibi jogo de azar, bebida alcoólica e o uso ostensivo de armas. Recebi uma ordem de Brasília para desarmar todo mundo. Mas não dava para desarmar 60 mil homens com apenas 16 policiais.
iG: E se alguém não respeitasse as regras? Curió: Quem não tinha carteirinha da Receita Federal (naquela época ainda não existia a cooperativa) era colocado num avião e mandado embora do garimpo. Eram os chamados furões. Brigões e ladrões também eram expulsos de Serra Pelada.
iG: Como era o relacionamento com os garimpeiros? Curió: Excelente. Montávamos um telão com lençóis brancos e 40 mil homens assistiam a filmes à noite. Quando decidi que iria hastear a bandeira nacional todas as manhãs, convidei todo mundo para assistir. Cerca de 30 mil homens apareceram. Quando começou a tocar o hino e coloquei a mão no peito, percebi que os garimpeiros fizeram a mesma coisa. Toda dia pela manhã, 40 mil homens hasteavam a bandeira e cantavam o hino nacional. Era um espetáculo de civismo.
iG: O senhor viu muita gente enriquecer em Serra Pelada? Curió: Muita. Tem um caso engraçado. Estava no meu barraco de lona e vi um tumulto na pista de pouso. Tinha um monte de garimpeiro correndo atrás de um cara. Quando ele se aproximou de mim, pude ver que fumava um charuto de notas de Cr$ 1 mil. Além disso, tinha uma cauda parecida com as usadas em pipas, mas feita de notas de Cr$ 1 mil ao invés de plástico. O garimpeiro parou perto de mim e gritou: ‘bamburrei (enriqueci, na gíria local), meu chefe’. Perguntei o que era aquele rabo e ele falou: ‘sempre andei atrás do dinheiro. Agora o dinheiro anda atrás de mim’. Ao todo, colocamos 42 toneladas de ouro nos cofres do Banco Central.
iG: Mas os garimpeiros não viviam numa situação muito degradante? Curió: Muita gente me pergunta se os formigas (carregadores de sacos) não viviam num sistema semi-escravo. Eles carregavam sacos com cinco, seis, oito pás de cascalho, mas ganhavam de cinco a seis salários mínimos por mês. Era a mão de obra não especializada mais bem remunerada do País.
iG: Por que o senhor resolveu se candidatar a deputado federal? Curió: Não tive escolha. Em 1982, recebi ordem da presidência da República para me candidatar a deputado. Um compadre acha que fizeram isso para me tirar do garimpo. Quando saí de lá desligaram as bombas que puxavam a água, a cava encheu e acabou a exploração. Fui estrategicamente retirado de Serra Pelada.
iG: Por que o senhor acha que fizeram isso? Curió: Para que Serra Pelada não funcionasse. Eleito deputado, recebi a orientação para voltar à Serra Pelada para dizer aos garimpeiros que o garimpo havia terminado. Fiz o oposto. Em 1984, apresentei um projeto de lei para prorrogar o garimpo por cinco anos, criei a cooperativa dos garimpeiros de Serra Pelada. Deixei de ser deputado e os garimpeiros pediram que eu fosse presidente da cooperativa. Aceitei, mas estava numa situação muito difícil porque já não tinha o apoio do governo.
iG: O senhor é a favor da mecanização de Serra Pelada? Curió: Sou. A lavra manual tornou-se impossível, o ouro pode ser encontrado a 150 metros abaixo do solo. Não dá mais para tirar com a mão.
iG: Se a mecanização é boa, por que ela não aconteceu antes, como na época em que o senhor foi presidente da cooperativa dos garimpeiros? Curió: Quando era presidente da cooperativa, pedi o alvará de lavra industrial de empresa de mineração. Ou seja, a cooperativa passou a ser cooperativa de mineração dos garimpeiros de serra pelada, deixou de ser só dos garimpeiros. Se não tivesse feito essa mudança, ela não poderia fazer um convênio com uma empresa como a Colossus.
iG: Os garimpeiros que ficaram em Serra Pelada acreditam que saíram perdendo com o acordo fechado com a Colossus. O que o senhor acha disso? Curió: Muitos têm razão. O problema é que a cooperativa não teria condições de industrializar a mina. Tem de ter uma empresa de porte da Colossus para realizar o trabalho. O que é perigoso é a cooperativa perder os direitos minerais e administrativos. Consta que a diretoria da cooperativa assinou um contrato com uma cláusula passando os direitos para a Colossus. É isso que preocupa uma parcela dos garimpeiros.
iG: Algumas pessoas acreditam que Serra Pelada só produziu miséria. O senhor acha que agora ela vai produzir riqueza? Curió: Se o acordo funcionar direito, o garimpeiro deixa de ser um sonhador para ser um cotista, um acionista. Ele vai receber um percentual do lucro da mineração de acordo com o número de cotas que ele tem. É uma boa perspectiva.
Eles ficaram milionários ao tirar ouro da mina, mas esbanjaram com mulheres, carros e bebida - e hoje vivem na miséria
Texto:
Depois de receber uma bolada em dinheiro, Índio fretou um avião da falida Transbrasil para encontrar uma namorada no Rio e passou dois meses hospedado no Copacabana Palace. Hoje, vive da aposentadoria de R$ 515 da atual mulher, sua 14ª companheira. Com Zé Sobrinho aconteceu algo parecido. Com os milhões que ganhou no trabalho, promoveu festas onde não faltavam bebidas importadas e mulheres bonitas. Aos 70 anos, dá expediente numa cooperativa para pagar as contas. As trajetórias de Índio e Zé Sobrinho lembram a história de muitos jogadores de futebol, como Garrincha, o gênio de pernas tortas que conquistou duas Copas do Mundo. Nascidos em famílias pobres, ficaram milionários da noite para o dia, não souberam administrar suas fortunas e agora vivem à beira da miséria. A diferença é que os dois não enriqueceram jogando bola, mas garimpando ouro em Serra Pelada na década de 1980. “Não gosto de falar dessa história”, disse Índio ao iG em sua casa de madeira e sem rede de esgoto no povoado que reúne cerca de 6 mil pessoas, a 55 quilômetros de Curionópolis (PA). “Às vezes parece até que foi um sonho”.
A história de José Mariano dos Santos, o Índio, cuja mãe ascendia a tribos locais, ganhou contornos de lenda em Serra Pelada. Nascido em 1953 em Penalva, município a 250 quilômetros de São Luís do Maranhão, largou a escola para ajudar a pagar as contas de casa. Trabalhava numa oficina de motosserras no município paraense de Jacundá quando ouviu falar de Serra Pelada pela primeira vez. Não pensou duas vezes e, aos 27 anos, resolveu tentar a sorte na mina de ouro. Durante os dois primeiros anos só conseguiu o suficiente para sua subsistência. Não imaginava o que estava por vir. Entre 1982 e 1986, Índio “bamburrou” (enriqueceu, na gíria dos garimpeiros) ao garimpar 1.183 quilos de ouro – R$ 81,5 milhões em valores atualizados. Com os descontos de impostos e pagamentos de empregados, sócios e fornecedores, ficou com um lucro de 411 quilos (cerca de R$ 28 milhões). “Com esse dinheiro o cabra analfabeto quer ir logo atrás de mulher, boate e carro novo”, contou.
Em Belém, capital do Pará, Índio tentou comprar uma passagem de avião para ir ao Rio encontrar uma mulher por quem se apaixonara. Vestido de garimpeiro (camiseta, bermuda e chinelos), foi menosprezado por uma balconista da antiga Transbrasil. Quando ela foi atender um cliente engravatado que pedia informações sobre o mesmo voo, Índio não se conteve. Começou a gritar que não queria comprar uma passagem, mas fretar um avião. Com a confusão armada, o garimpeiro foi chamado pelo gerente da companhia para conversar. Ali, soube que poderia fretar o avião, mas que isso custaria muito caro. “Disse que não queria saber o preço, só quando o avião decolaria”, disse Índio. Logo ele embarcaria para o Rio acompanhado do piloto, co-piloto e uma comissária de bordo. E só. O arroubo de novo rico custou o equivalente a quase cinco quilos de ouro, ou R$ 345 mil em valores atualizados.
No auge de Serra Pelada, Índio guardava sua fortuna em sacos de dinheiro escondidos em guarda-roupas, tinha 13 casas em sua maioria em Belém e Serra Pelada e 11 carros zero quilômetro na garagem. Mas a gastança desenfreada fez com que o sonho virasse um pesadelo. Índio vive com Raimunda, a 14ª mulher, com quem está casado há oito anos. Não tem renda e suas contas são pagas com a aposentadoria da mulher, de R$ 515. Até para comprar a carteira de cigarro de R$ 2 o garimpeiro precisa pedir dinheiro emprestado. Boa parte da comida que vai à mesa vem do quintal de casa, onde eles criam galinhas, cultivam um pomar e uma pequena horta. Aos 57 anos, Índio voltou a estudar e sonha em fazer faculdade – Geologia ou Direito estão entre suas opções. “Se pudesse, faria tudo diferente”, disse ele. “Nunca achei que fosse envelhecer ou que o ouro fosse acabar."
“Aproveitei a vida”
Entre os moradores de Serra Pelada não é difícil encontrar exemplos de garimpeiros que tiveram história de ascensão e queda como a de Índio. No auge do garimpo, quando cerca de 100 mil pessoas exploravam a mina artesanalmente e carregavam nas costas sacos de lama de até 35 quilos, transformando a cava num verdadeiro formigueiro humano, estima-se que foram extraídas 42 toneladas de ouro da região. Os feitos dos garimpeiros eram contados ao final do dia na principal avenida do vilarejo, ao pé de uma árvore que ficou conhecida como “Pau da Mentira“. O apelido tem fundamento. Apesar do volume expressivo, poucos ficaram ricos com o ouro de Serra Pelada. Os moradores costumam repetir que apenas 1% dos que exploraram a mina encontraram ouro em grande quantidade. Destes, apenas 10 enriqueceram de fato. O restante “blefou” – ou perdeu tudo, na gíria dos garimpeiros.
José Sobrinho da Silva, 70 anos, é um dos “blefados”. Natural de Barra de São Francisco, no Espírito Santo, chegou a Serra Pelada em 1980 e encontrou milhares de homens cavando a terra em busca de riqueza. Logo seria recompensado: tirou quase uma tonelada de ouro da mina e estima que tenha ficado com 50% desse valor. “A primeira coisa que garimpeiro faz quando ganha dinheiro é investir no ‘banco rachado’ (mulheres, na gíria local)”, disse ao iG. Zé Sobrinho gostava de beber e promovia festas de arromba para os amigos e familiares. Em meio a bebedeiras, ficava generoso. “Dei um carro semi-novo para um amigo só porque tinha raspado a lateral”, afirmou. O resto do dinheiro ele reinvestiu na mina. No auge do garimpo teve 27 barrancos (área em que se explorava o ouro) e mais de 100 funcionários. O sonho de encontrar mais ouro acabou em 1992, com o fechamento da mina pelo então presidente Fernando Collor.
Dá época áurea, restou apenas uma coleção de fotos amareladas guardadas num envelope. Em uma delas, Zé Sobrinho posa com 12 quilos de ouro em uma bateia - espécie de peneira sem furo. Hoje, trabalha como vice-presidente da Coomigasp, a cooperativa que se associou à mineradora canadense Colossus para retomar a exploração de Serra Pelada, e tem renda de R$ 5 mil. Apesar disso, vive com a família numa casa modesta, feita de madeira, em Serra Pelada. O garimpeiro está animado com a mecanização. Primeiro, por causa dos empregos que serão gerados na região. E depois por causa dos lucros gerados pelo ouro – a jazida comprovada está avaliada em R$ 2,3 bilhões. Ele sabe que nenhum garimpeiro vai “bamburrar”, mas acredita que o lucro do negócio vai gerar uma renda para os moradores da região. “Perdi tudo o que tinha, mas aproveitei a vida”, disse Zé Sobrinho. “Não adianta nada ter uma tonelada de ouro guardada no banco”.
Veja onde estão guardados os maiores depósitos de ouro do mundo
Em Fort Knox, estão depositadas as reservas de ouro do Estados Unidos, avaliadas em US$ 549 bilhões
Analistas internacionais avaliam que os preços do ouro, que alcançaram o recorde de US$ 1.600, ainda podem atingir US$1.750 a onça até o fim do ano. Alguns já falam até mesmo em US$ 2.200. Uma onça-troy equivale a apenas 31,103 gramas.
Os países e as instituições financeiras, como FMI, guardam algumas toneladas do metal precioso, que valem bilhões de dólares.
O maior estoque de ouro de mundo, mantido pelo governo americano, está guardado em Fort Knox, no estado de Kentucky, sob um forte esquema de segurança. Lá, está depositada grande parte das reservas de quase 9 mil toneladas mantidas pelos EUA, avaliadas em US$ 550 bilhões.
Saiba onde estão os maiores estoques de ouro do mundo, segundo um levantamento feito pela CNBC com as informações fornecidas pelo World Gold Council.
1. Estados Unidos
Valor das reservas: US$ 549 bilhões
Estoque: 8.965,6 toneladas
O The United States Bullion Depository em Kentucky, também conhecido como Fort Knox, é o depósito mais famoso de ouro do mundo e onde está guardada a maior parte das reservas dos Estados Unidos.
2. Alemanha
Valor das reservas: US$ 192 bilhões
Estoque: 3.747,9 toneladas
Sede do Banco Central Alemão, que administra a segunda maior reserva de ouro do mundo
3. Fundo Monetário Internacional (FMI)
Valor das reservas: US$ 159 bilhões
Estoque: 3.101.3 toneladas
O Fundo Monetário Internacional, que é formado por membros de 185 países, mantém grandes estoques do metal para estabilizar os mercados internacionais.
3. Itália
Valor das reservas: US$ 138 bilhões
Estoque: 2.701.9 toneladas
As reservas de ouro do país são administradas pelo Banca D'Italia.
5. França
Valor das reservas: US$ 137 bilhões
Estoque:2.683,8 toneladas
O Banque De France hospeda as reservas de ouro do país
6. China
Valor das reservas: US$ 59 bilhões
Estoque: 1.161,6 toneladas
O país mais populoso do mundo já detém a sexta maior reserva de ouro do planeta
7. Suíça
Valor das reservas: US$ 59 bilhões
Estoque: 1.146,2 toneladas
As reservas de ouro do país são administradas pelo Swiss National Bank
8. Rússia
Valor das reservas:US$ 47 bilhões
Estoque: 915,2 toneladas
O Kremlin ("fortaleza" em russo) de Moscou, sede do governo russo
9. Japão
Valor das reservas: US$ 43 bilhões
Estoque: 843,3 toneladas
10. Holanda
Valor das reservas: US$ 34 bilhões
Estoque: 674,9 toneladas
11. Índia
Valor das reservas: US$ 31 bilhões
Estoque: 614,6 toneladas
Em novembro de 2009, a Índia ampliou suas reservas com a aquisição de 200 toneladas de ouro do FMI.
12. Banco Central Europeu (BCE)
Valor das reservas: US$ 28 bilhões
Estoque: 553,3 toneladas
Estabelecido em 1998, o Banco Central Europeu está sediado em Frankfurt.
Alta de 100% no preço do metal provoca reabertura de minas, surgimento de garimpos ilegais e conflitos na região
A valorização de quase 100% no preço do ouro desde o início da crise econômica mundial, em 2008, está provocando uma nova corrida ao minério na América do Sul, com a reabertura de minas desativadas há décadas e a migração em massa para áreas de garimpo.
O fenômeno é sentido, em variados graus, em pelo menos nove países, segundo levantamento da BBC Brasil.
Enquanto tentam atrair investimentos estrangeiros para o setor, os governos da região vêm intensificando os esforços para combater a mineração informal.
Eles argumentam que a atividade destroi o meio-ambiente, sonega impostos e cria áreas sem lei, onde há problemas como a exploração sexual de mulheres. Além disso, dizem que grupos criminosos em alguns países sul-americanos estão se valendo da exploração de ouro para se financiar e lavar dinheiro.
Considerado um investimento seguro em tempos de instabilidade nas bolsas e forte oscilação de moedas, o ouro valia cerca de US$ 800 a onça (31 gramas) no fim de 2007.
Desde então, dobrou de preço, chegando a US$ 1.600. "Com o preço nesse nível, minas que não eram viáveis por terem baixo teor de ouro, hoje, se tornaram rentáveis, e minas já exploradas estão sendo reabertas", disse à BBC Brasil Arão Portugal, vice-presidente no Brasil da mineradora canandense Yamana.
No Brasil, entre as minas que serão reabertas está a de Pilar de Goiás, cidade fundada em 1741 durante o primeiro ciclo de ouro brasileiro. Outra é Serra Pelada, no Pará, que deve retomar suas atividades no início de 2013.
Migração
No Peru, principal produtor de ouro da América do Sul e sexto maior do mundo (os primeiros do ranking são China, Austrália e Estados Unidos), a alta do minério tem estimulado dezenas de milhares de moradores da região andina a tentar a sorte na Amazônia, onde há vastas reservas inexploradas sob a floresta.
Muitos deles se instalaram em barracas à beira da recém-inaugurada Interoceânica, estrada que liga o noroeste brasileiro a portos peruanos no Pacífico, para explorar ouro no entorno do rio Madre de Deus e de seus afluentes.
A BBC Brasil esteve em alguns desses garimpos, que se estendem na rodovia por ao menos 50 quilômetros e começam a surgir a cerca de 250 km da fronteira com o Brasil.
Ao redor dos acampamentos, áreas desmatadas e que tiveram o solo revirado expõem os efeitos colaterais da atividade, agravados à medida que a exploração avança pela floresta. Os danos ambientais incluem ainda a sedimentação dos rios e contaminação de suas águas por cianeto e mercúrio, usados no beneficiamento do minério.
Para combater a mineração informal, o governo peruano aprovou, no início do ano, um decreto que torna a atividade crime, com pena de até dez anos de prisão. Simultaneamente, passou a explodir dragas encontradas nos garimpos.
Em resposta, cerca de 15 mil mineradores, segundo estimativa da imprensa local, foram protestar em Puerto Maldonado, capital de Madre de Dios. O grupo se deparou com 700 policiais, que abriram fogo para dispersar a multidão. Os confrontos deixaram três mineradores mortos e ao menos 55 pessoas feridas, entre as quais 17 policiais.
Economia local
Confrontos em razão de restrições governamentais à mineração informal também têm ocorrido na Colômbia. Em dezembro, mineradores da região do Baixo Cauca, no noroeste colombiano, incendiaram pneus e fecharam vias na cidade de Caucasia. Eles protestavam contra o que consideram um tratamento prioritário dado pelo governo às multinacionais na concessão de licenças para mineração. As forças de segurança intervieram com bombas de gás lacrimogênio.
Segundo Carlos Medina, professor da Faculdade de Direito e Ciência Política da Universidade Nacional da Colômbia, o ouro começou a ser explorado no Baixo Cauca nos tempos coloniais. No entanto, a atividade foi reduzida drasticamente nas últimas décadas, porque deixara de ser rentável. Com a escalada nos preços, o ouro voltou a sustentar a economia local.
O lojista Davidson Garcez, que atua na compra e revenda de ouro em Caucasia desde 1986, calcula que nos últimos quatro anos houve um incremento de 40% no comércio do minério. Ele diz que, quando ingressou no mercado, os mineradores que empregavam retroescavadeiras tinham de encontrar três castelhanos (ou 13,5 gramas) de ouro por dia para cobrir seus custos. Hoje, devido à valorização, basta que encontrem 1 castelhano (4,5 gramas) ao dia.
"Minas que foram degradadas há 15, 20 anos voltaram a ser exploradas", disse ele à BBC Brasil.
Em sua loja, o vendedor Lucio Ruiz observa orgulhoso as pilhas de ouro que serão negociadas com grupos empresariais de Medellín, maior cidade da região. De lá, serão exportadas principalmente para a Europa, Ásia e Estados Unidos.
"Gosto de imaginar que logo este ouro poderá estar no pescoço de alguma mulher americana, ou quiçá nos cofres de um banco no Japão", afirma.
Combate
Em discurso em janeiro em Caucasia, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, afirmou que buscaria coordenar esforços com países vizinhos que também estariam sofrendo com a mineração ilegal, entre os quais citou o Equador, o Peru e o Brasil.
"É um fenômeno que está acontecendo na região, entre outras coisas, pelo alto preço do ouro, mas também porque os grupos criminosos encontraram um filão onde às vezes os Estados demoram em ser efetivos em sua reação."
Nos últimos anos, governos da Venezuela, Bolívia e Equador também vêm adotando linha mais dura quanto à mineração informal, empregando inclusive as Forças Armadas em operações contra a atividade.
No Brasil, 8.700 militares atuam desde o último dia 2 numa megaoperação na Amazônia que busca, entre outros objetivos, combater garimpos ilegais nas fronteiras com a Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.
A ação, denominada "Agata 4", mobilizará, por um mês, 11 navios, nove helicópteros e 27 aviões. A iniciativa se soma a três operações da Polícia Federal (PF) ocorridas desde o ano passado para combater o garimpo ilegal de ouro na região Norte.
O governo brasileiro vem sendo cobrado especialmente pela Guiana Francesa, Guiana e Suriname a controlar a ação de garimpeiros brasileiros na fronteira com esses países, atividade desenvolvida há décadas mas que ganhou novo fôlego com a alta dos preços.
No dia 25 de abril, num sinal da crescente tensão na região, cerca de cem mineradores brasileiros foram presos na Guiana.