segunda-feira, 24 de junho de 2013

Novas jazidas de diamantes no Brasil

Novas jazidas de diamantes no Brasil

Oito especialistas do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), órgão vinculado ao Ministério das Minas e Energia, mapearam e identificaram dezenas de novas áreas potencialmente ricas em diamantes no País, especialmente no Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Pará.
Essa iniciativa faz parte do projeto Diamante Brasil, cujas pesquisas de campo começaram em 2010. Desde então, os geólogos visitaram cerca de 800 localidades em diversos estados, recolheram amostras de rochas e efetuaram perfurações para descobrir mais informações sobre as gemas de cada um dos pontos.
O ponto de partida para as expedições foi uma lista deixada ao governo pela empresa De Beers, gigante multinacional do setor de diamantes que prestava serviços para o Brasil na área de mineração. Neste documento, constavam as coordenadas geográficas de 1.250 pontos, entre os quais muitos kimberlitos*. Apesar das informações sobre as possíveis localidades dessas jazidas, não havia detalhes sobre quantidades, qualidade e características das pedras, impulsionando o trabalho de campo dos geólogos.
O objetivo principal dos pesquisadores era fazer uma espécie de tomografia das áreas diamantíferas no território brasileiro, visando atrair investimentos de mineradoras e eventualmente ajudar a mobilizar garimpeiros em cooperativas. Essas medidas podem trazer um aumento na produção de diamantes em território nacional e coibir as práticas ilegais relacionadas a essas pedras preciosas.
Atualmente, o Brasil conta principalmente com reservas dos chamados diamantes industriais e de gemas (para uso em jóias). Os de gemas são os que fazem girar mais dinheiro, considerando que um diamante desses pode ser vendido em um garimpo do Brasil por R$ 2 milhões. Já o valor da pedra lapidada pode chegar à R$ 20 milhões.
Os detalhes dos achados ainda são mantidos em sigilo. Com o fim do trabalho de campo, os geólogos do Diamante Brasil darão início à descrição dos minerais encontrados e as análises das perfurações feitas pelas sondas. A intenção dos pesquisadores é divulgar todos os dados em 2014.
*O que é um Kimberlito?
De acordo com Mario Luiz Chaves, doutor em geologia pela Universidade de São Paulo e professor adjunto da UFMG, kimberlitos são rochas hibridas, ígneas ultrampaficas, potássicas e ricas em voláteis, com origem a mais de 150km de profundidade e que chegam a superfície por meio de pequenas chaminés vulcânicas ou diques. Normalmente, os diamantes são encontrados neste tipo de rocha. Confira uma foto:

Os cinco maiores diamantes lapidados do mundo

A obra Diamante: a pedra, a gema, a lenda, de autoria do professor doutor Mario Luiz Chaves e do doutor em engenharia de minas Luís Chambel, aborda aspectos geológicos e de mineração relacionados aos famosos minerais e traz diversas curiosidades para os leitores. Abaixo separamos uma lista baseada no livro com dados sobre os maiores diamantes do mundo e fotos incríveis de cada um deles.
1)    Cullinan I
Essa pedra foi encontrada em 1905 na África e recebeu o nome de Cullinan em homenagem ao dono da mina, Thomas Cullinan. É considerado o maior diamante já encontrado e pesa 3.106 quilates. Atualmente, adorna o Cetro do Soberano, propriedade real da Inglaterra.
2)    Incomparable
O Incomparable, ou Imcomparável, tem uma história curiosa: foi encontrado em 1984 por uma garota em uma pilha de cascalho próxima à mina MIBA Diamond, no Congo. Considerado inútil pela administração da mina, o cascalho foi descartado com a pedra, e a menina acabou descobrindo o segundo maior diamante bruto do mundo, com 890 quilates. O corte do diamante gerou 14 gemas menores e o Incomparável, um diamante dourado com 407,48 quilates.
3)    Cullinan II
O Cullinan II, conhecido como Pequena Estrela da África, foi encontrado no mesmo ano e local que o Cullinan I. Com 317.4 quilates (63.48 g) é o terceiro maior diamante lapidado do mundo, e foi colocado na coroa imperial, também pertencente à realeza da Inglaterra.
4)    Grão Mogol
Encontrado na Índia em 1550, pesa 793 quilates. A pedra deu nome a um município em Minas Gerais. O paradeiro atual desta preciosidade é desconhecido.
5)    Nizam
O Nizam é o diamante mais antigo desta lista e foi descoberto na Índia em 1830. A pedra tem 227 quilates e já adornou coroas e joias reais (Elizabeth). Atualmente ninguém sabe ao certo qual foi o seu último destino.

A CHAPADA DOS DIAMANTES

A CHAPADA DOS DIAMANTES

Serra do Sincorá, Bahia



Augusto J. Pedreira
CPRM-Serviço Geológico do Brasil
Av. Ulysses Guimarães, 2862 - CAB
41213-000 Salvador, Bahia, Brasil
Tel: (0xx71)230-9977





© Pedreira,A.J. 2002. A Chapada dos Diamantes - Serra do Sincorá, Bahia. Publicado na Internet em Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil no endereço: http://www.unb.br/ig/sigep/sitio085/ChapadaDosDiamantes.htm







A SERRA

    A serra do Sincorá é uma parte da Chapada Diamantina, situada na região central do Estado da Bahia, que constitui um sítio de grande beleza paisagística devido ao modelado de suas serras, que expõem vales profundos de encostas íngremes e amplas chapadas. Essas escarpas permitem o exame da sua geologia, onde tempos atrás foram explorados diamantes e carbonados.
     A serra do Sincorá está localizada na região central do Estado da Bahia, distante da cidade de Salvador, capital do estado, cerca de 400km (figura 1). Para chegar à serra do Sincorá a partir de Salvador, deve-se seguir em direção a Feira de Santana (rodovia BR-324), continuando então para sul em direção ao Rio de Janeiro pela rodovia BR-116. Cerca de 70km a sul de Feira de Santana, à margem do rio Paraguaçu, entra-se à direita pela rodovia BR-242, em direção a Brasília. Cerca de 220km adiante, chega-se à cidade de Lençóis: ai está a serra do Sincorá, que fica dentro do Parque Nacional da Chapada Diamantina. O acesso por via aérea é feito por linhas regulares através do Aeroporto Cel. Horácio de Matos, situado na vila de Tanquinho (figura 1).
Figura 1 - Mapa de localização da serra do Sincorá. Legenda: 1-Região da serra; 2-Rodovia pavimentada; 3-Estrada não pavimentada; 4-Rio; 5-Cidade ou vila; 6-Aeroporto.


DESCRIÇÃO DO SÍTIO

    A serra do Sincorá está localizada na borda centro-oriental da Chapada Diamantina, aproximadamente entre as vilas de Afrânio Peixoto (antiga Estiva)  a norte e de Sincorá Velho a sul (figura 1). Sua vertente ocidental é uma escarpa quase contínua, com cerca de 300m de altura e 80km de extensão; a escarpa oriental, que domina a planície do vale do Paraguaçu (400m), atinge rapidamente a altitude de 1200m, nas primeiras cristas da serra. Assim  descreve a serra, o biólogo Roy Funch, em seu livro Um guia para o visitante da Chapada Diamantina: o Circuito do Diamante: o Parque Nacional da Chapada Diamantina; Lençóis, Palmeiras, Mucugê, Andaraí, editado em Salvador pela Secretaria de Cultura e Turismo do Estado da Bahia em 1997.

Montanhas  e cachoeiras


    A serra do Sincorá compreende um conjunto de diversas serras de menor extensão com as da Cravada, do Sobrado, do Lapão, do Veneno, do Roncador ou Garapa, do Esbarrancado, do Rio Preto, entre muitas outras. Essas serras possuem picos com até 1700m de altitude e são separadas por vales íngremes e profundos como canyons
    Uma feição que se destaca na serra do Sincorá, é o morro do Pai Inácio à margem da rodovia BR-242, a norte do vale do Cercado (figura 2).


Figura 2 - Vale do Cercado, a sul  do morro do Pai Inácio, na rodovia BR-242.



    Mais ainda a norte do morro do Pai Inácio, está o morro do Camelo ou Calumbi (figura 3), e a sul, o Morrão (figura 4), cujo acesso se faz através da estrada entre a cidade de Palmeiras e a vila de Caeté Açu (figura 1).


Figura 3 - Morro do Camelo ou Calumbi


Figura 4 - Morrão

 
 
    Entre o Morrão e a vila de Caeté Açu, é cruzada a ponte sobre o rio Riachinho, onde existe um antigo garimpo de diamantes (figura 5).
 

Figura 5 - Rio Riachinho


    O principal rio desta região, é o rio Paraguaçu. Após atravessar a serra do Sincorá desde a localidade de Comércio de Fora (figura 6), ele a deixa na localidade de Passagem de Andaraí, formando a cachoeira de Donana (figura 7). Daí, o rio prossegue em busca do oceano Atlântico, na baía de Todos os Santos.



Figura 6 – Escarpa da serra do Sincorá em Comércio de Fora, a oeste da cidade de Mucugê.





Figura 7 - Cachoeira de Donana


    As rochas que afloram na serra do Sincorá, consistem essencialmente em arenitos e conglomerados. Orville A . Derby (1851-1915), geólogo norteamericano, que no início do século XX trabalhou na região, disse delas o seguinte: “ Este conglomerado representa um depósito de cascalho formado em uma época geológica remota pelo mesmo modo que se formaram, e ainda hoje se formam, os cascalhos (conglomerados incoerentes e ainda não transformados em pedra) em que os mineiros procuram os diamantes.





Figura 8 – Arenitos, isto é, rochas formadas por areias consolidadas na vila de Igatu.
 
 


Figura 9 – Conglomerados(antigos cascalhos)  intercalados com arenitos no vale do rio Combucas, a norte da cidade de Mucugê.



Diamantes

No ano de 1844, foram descobertos diamantes na serra do Sincorá, na região de Mucugê (figuras 1 e 12). A partir dessa região toda a serra foi explorada, garimpando-se diamantes desde o rio Sincorá a sul (figuras 1 e 7), até a região de Afrânio Peixoto a norte (figura 1).






Figura 10 – Como os diamantes são transportados do interior da Terra (à esquerda); Como as rochas são erodidas, liberando os diamantes, que então são garimpados nos rios (à direita).



    Esses diamantes, que deram fama e riqueza à região formaram-se em algum lugar do interior da Terra onde a crosta terrestre era bastante espessa, e foram transportados por rochas chamadas kimberlitos, que forçaram o seu caminho para a superfície (figura 10). Assim, os diamantes se comportariam como meros passageiros em uma parada de ônibus (lado esquerdo). Quando os kimberlitos que os continham alcançaram a superfície, eles sofreram processos de erosão, liberando os diamantes, que foram encontrados em areias e cascalhos de rios (lado direito). Dando uma idéia da sua raridade, Jiri (George) Strnad, geólogo canadense especialista em diamantes, estimou que em um kimberlito diamantífero exposto em uma escarpa medindo 10 x 2m, estaria contido apenas um diamante minúsculo, com um milímetro de diâmetro !

    

    Na serra do Sincorá, a fonte dos diamantes ainda é amplamente discutida. Sabe-se apenas que eles vieram do leste, mas o local exato ainda não foi definido. Os diamantes eram garimpados no cascalho produzido pela decomposição de conglomerados (figura 11), aflorantes no vale do rio Combucas (figura 12).



Figura 11 - Detalhe do conglomerado do vale do rio Combucas (figura 12), depositado por antigos rios.





Figura 12 - Rio Combucas, a norte da cidade de Mucugê, próximo à sua confluência com o rio Mucugê, local das primeiras descobertas de diamantes na serra do Sincorá.


    A cachoeira do Serrano na cidade de Lençóis (figura 13), também foi intensamente explorada. Aí, os conglomerados são formados por fragmentos de diversas rochas (figura 14). Eles foram depositados no sopé de escarpas.

Figura 13 - Cachoeira do Serrano, na cidade de Lençóis.







Figura 14 - Conglomerado da cachoeira do Serrano. Acredita-se que ele tenha sido depositado no sopé de escarpas, o que se chama de leques aluviais.


    A garimpagem também foi intensa nas regiões de Andaraí e Igatu. A figura 15 mostra os conglomerados na estrada entre essas duas localidades. O rejeito dos antigos garimpos ainda pode ser visto ao longo desta estrada, como amontoados de blocos de tamanhos e formas diversas.

Figura 15 - Conglomerados ao longo da estrada Andaraí - Igatu

    Após uma fase áurea de aproximadamente 25 anos, a garimpagem de diamantes entrou em declínio a partir de 1871. Já no século XX, houve diversas tentativas de mecanizar os garimpos, que na década de 80 foram instalados nos leitos dos rios dentro e fora do Parque Nacional. Estes garimpos, graças a uma ação conjunta de diversas autoridades ligadas à mineração e ao meio ambiente, foram fechados definitivamente em março de 1996.
     Mesmo após 150 anos de exploração dos aluviões diamantíferos, ainda existe garimpagem manual, embora em ritmo mais lento, devido à exaustão e decadência das lavras. Devido ao número ilimitado de situações geológicas e topográficas da serra, existem os seguintes tipos de garimpo manual, mencionados pelo biólogo Roy Funch, cada qual com suas peculiaridades:cascalhão, barranco, brejo, grupiara, emburrado, curriolo, engrunada, gruta, escafandro, serviço a seco, lavagem e faísca (figura 16).



Figura 16 - Representação esquemática dos tipos de garimpo manual (descrições no glossário)
    Esses fatos confirmam a afirmação de Orville A . Derby : "Quanto à riqueza mineral, a única até hoje aproveitada é a de diamantes e carbonados, e a sua constituição geológica [da serra do Sincorá] pouca esperança oferece da existência de outra...".


MEDIDAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

    O trecho da serra do Sincorá  situado entre Cascavel e Mucugê e a rodovia BR-242, está incluído no Parque Nacional da Chapada Diamantina. A norte da rodovia BR-242, os morros do Pai Inácio e do Camelo estão dentro da APA (Área de Proteção Ambiental) de Iraquara-Marimbus.
    De acordo com informações do biólogo Roy Funch, o rio Mucugê, em cujo leito foram descobertos os primeiros diamantes, está razoavelmente bem protegido: o seu alto curso fica dentro do Parque Nacional e o baixo curso corre dentro da área do Parque Municipal de Mucugê (uma reserva com cerca de 270 hectares). Este parque ainda inclui o baixo curso do rio Combucas e vários dos seus afluentes, limitando-se com o Parque Nacional.
    Além dessas medidas, existe no município de Mucugê, o Projeto Sempre Viva. Este projeto tem os seguintes objetivos: 1) implantação de uma unidade de conservação estruturada para o ecoturismo, no Parque Municipal de Mucugê; 2) desenvolvimento de tecnologia de reprodução de plantas nativas; 3) implantação de um Sistema de InformaçõesGeográficas (SIG); e, 4) execução de um programa de educação ambiental. A sua sede, construída no estilo dos antigos abrigos de garimpeiros, é mostrada na figura 17.




Figura 17 - Parte das instalações do Projeto Sempre Viva.



PARA SABER MAIS

Catharino, J.M. 1986. Garimpo-Garimpeiro-Garimpagem, Chapada Diamantina, Bahia. Rio de Janeiro, Philobiblion/Banco Econômico, 270 p.

CPRM-Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, 1994. Projeto Chapada Diamantina: Parque Nacional da Chapada Diamantina-BA: Informações Básicas para a Gestão Territorial: Diagnóstico do Meio Físico e da Vegetação. Salvador, CPRM/IBAMA, 104 p.

Funch, R., 1997. Um guia para o visitante da Chapada Diamantina: o Circuito do Diamante: o Parque Nacional da Chapada Diamantina; Lençóis, Palmeiras, Mucugê, Andaraí. Salvador, Secretaria de Cultura e Turismo/EGBA, 209 p. (Coleção Apoio).

Lima, C.U. & Nolasco, M.C. 1997. Lençóis, uma Ponte entre a Geologia e o Homem. Feira de Santana, UESC/EGBA, 152 p.

Moraes, W., 1991. Jagunços e Heróis. 4ed. Salvador, Empresa Gráfica da Bahia/IPAC, 217 p.

Pedreira, A .J. & Bomfim, L.F., 2000. “Morro do Pai Inácio, Bahia”.  Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. http://www.unb.br/ig/sigep/sitio072/sitio072.htm 


Pedreira, A .J. 2001. “Serra do Sincorá, Bahia”.  Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. http://www.unb.br/ig/sigep/sitio085/sitio085.htm 

Sampaio, T.1955. O rio São Francisco e a Chapada Diamantina. Salvador, Livraria Progresso Editora, 278p. (Coleção de Estudos Brasileiros)

 

 

 

 

 

 

GLOSSÁRIO


Aflorantes – Rochas expostas na superfície, de modo que podem ser estudadas sem necessidade de escavações.

Aluvião – Areias e cascalhos depositados por rios. Ocasionalmente podem ser explorados em busca de metais preciosos.

Arenito – Rocha composta por grãos de areia com diâmetro máximo de 2 milímetros unidos por um cimento. Quando o cimento é ferruginoso, o arenito é amarelo ou avermelhado.

Barranco - Barranco alto de barro sobre uma fina camada de cascalho.

Brejo - Área baixa e úmida com pouco solo sobre o cascalho.

Cascalhão - Barrancos altos com cascalho e areia.

Conglomerado – Rocha composta por fragmentos rolados e subangulares de diversas origens, reunidos por ação de água ou de força de gravidade e cimentados entre si. Quando os fragmentos são angulosos, toma o nome de brecha.

Curriolo - Garimpo no leito de um rio, com muito cascalho e pedras soltas.

Emburrado – Garimpo em área de cascalho com grandes blocos de rocha.

Engrunada - Garimpo subterrâneo.

Escafandro - Garimpo submerso, trabalhado por mergulhadores.

Faísca - Pequeno garimpo feito em um dia.

Garimpo – Jazidas situadas em areias ou cascalhos depositados por rios, onde se exploram minerais preciosos, especialmente diamantes.

Grupiara - Cascalho na serra.

Gruta - Garimpo em túnel natural da serra.

Kimberlito – Rocha verde escura a negra, com aspecto de brecha e proveniente do interior da Terra, que transporta os diamantes para a superfície. O seu nome provém de Kimberley, na África do Sul.

Lavagem - Retrabalhamento do rejeito de um garimpo antigo.

LavraExploração econômica de uma jazida mineral, como uma mina ou garimpo. O local onde isto se realiza.

Leque aluvial – Depósito de sedimentos em forma de leque, construído por uma corrente no local em que ela abandona as terras altas ou uma cadeia de montanhas e entra em um vale largo ou planície. Os leques aluviais são comuns em climas áridos ou semi-áridos, mas não restritos a eles.

RejeitoMaterial geralmente não portador de diamantes, que pode ser retrabalhado posteriormente.

Serviço a seco - Garimpo em local sem água.

Sistema de Informações Geográficas (SIG ou GIS)  - Sistema de computação capaz de reunir, armazenar, manipular e exibir informações referenciadas topograficamente, isto é, dados identificados de acordo com as suas localizações.











































América do Sul vive nova corrida ao ouro

América do Sul vive nova corrida ao ouro


O comerciante colombiano Lucio Ruiz (Foto: João Fellet/BBC Brasil)
Lucio Ruiz observa as pilhas de ouro que serão negociadas com grupos empresariais de Medellín
A valorização de quase 100% no preço do ouro desde o início da crise econômica mundial, em 2008, está provocando uma nova corrida ao minério na América do Sul, com a reabertura de minas desativadas há décadas e a migração em massa para áreas de garimpo.
O fenômeno é sentido, em variados graus, em pelo menos nove países, segundo levantamento da BBC Brasil.
Enquanto tentam atrair investimentos estrangeiros para o setor, os governos da região vêm intensificando os esforços para combater a mineração informal.
Eles argumentam que a atividade destroi o meio-ambiente, sonega impostos e cria áreas sem lei, onde há problemas como a exploração sexual de mulheres. Além disso, dizem que grupos criminosos em alguns países sul-americanos estão se valendo da exploração de ouro para se financiar e lavar dinheiro.
Considerado um investimento seguro em tempos de instabilidade nas bolsas e forte oscilação de moedas, o ouro valia cerca de US$ 800 a onça (31 gramas) no fim de 2007.
Desde então, dobrou de preço, chegando a US$ 1.600. "Com o preço nesse nível, minas que não eram viáveis por terem baixo teor de ouro, hoje, se tornaram rentáveis, e minas já exploradas estão sendo reabertas", disse à BBC Brasil Arão Portugal, vice-presidente no Brasil da mineradora canadense Yamana.
No Brasil, entre as minas que serão reabertas está a de Pilar de Goiás, cidade fundada em 1741 durante o primeiro ciclo de ouro brasileiro. Outra é Serra Pelada, no Pará, que deve retomar suas atividades no início de 2013.

Migração

No Peru, principal produtor de ouro da América do Sul e sexto maior do mundo (os primeiros do ranking são China, Austrália e Estados Unidos), a alta do minério tem estimulado dezenas de milhares de moradores da região andina a tentar a sorte na Amazônia, onde há vastas reservas inexploradas sob a floresta.
Muitos deles se instalaram em barracas à beira da recém-inaugurada Interoceânica, estrada que liga o noroeste brasileiro a portos peruanos no Pacífico, para explorar ouro no entorno do rio Madre de Deus e de seus afluentes.
A BBC Brasil esteve em alguns desses garimpos, que se estendem na rodovia por ao menos 50 quilômetros e começam a surgir a cerca de 250 km da fronteira com o Brasil.
Ao redor dos acampamentos, áreas desmatadas e que tiveram o solo revirado expõem os efeitos colaterais da atividade, agravados à medida que a exploração avança pela floresta. Os danos ambientais incluem ainda a sedimentação dos rios e contaminação de suas águas por cianeto e mercúrio, usados no beneficiamento do minério.
Para combater a mineração informal, o governo peruano aprovou, no início do ano, um decreto que torna a atividade crime, com pena de até dez anos de prisão. Simultaneamente, passou a explodir dragas encontradas nos garimpos.
Em resposta, cerca de 15 mil mineradores, segundo estimativa da imprensa local, foram protestar em Puerto Maldonado, capital de Madre de Dios. O grupo se deparou com 700 policiais, que abriram fogo para dispersar a multidão. Os confrontos deixaram três mineradores mortos e ao menos 55 pessoas feridas, entre as quais 17 policiais.

Economia local

Confrontos em razão de restrições governamentais à mineração informal também têm ocorrido na Colômbia. Em dezembro, mineradores da região do Baixo Cauca, no noroeste colombiano, incendiaram pneus e fecharam vias na cidade de Caucasia. Eles protestavam contra o que consideram um tratamento prioritário dado pelo governo às multinacionais na concessão de licenças para mineração. As forças de segurança intervieram com bombas de gás lacrimogênio.
Garimpeiro (Foto: João Fellet/BBC Brasil)
Alta no preço do ouro provoca reabertura de minas desativadas e migração para áreas de garimpo
Segundo Carlos Medina, professor da Faculdade de Direito e Ciência Política da Universidade Nacional da Colômbia, o ouro começou a ser explorado no Baixo Cauca nos tempos coloniais. No entanto, a atividade foi reduzida drasticamente nas últimas décadas, porque deixara de ser rentável. Com a escalada nos preços, o ouro voltou a sustentar a economia local.
O lojista Davidson Garcez, que atua na compra e revenda de ouro em Caucasia desde 1986, calcula que nos últimos quatro anos houve um incremento de 40% no comércio do minério. Ele diz que, quando ingressou no mercado, os mineradores que empregavam retroescavadeiras tinham de encontrar três castelhanos (ou 13,5 gramas) de ouro por dia para cobrir seus custos. Hoje, devido à valorização, basta que encontrem 1 castelhano (4,5 gramas) ao dia.
"Minas que foram degradadas há 15, 20 anos voltaram a ser exploradas", disse ele à BBC Brasil.
Em sua loja, o vendedor Lucio Ruiz observa orgulhoso as pilhas de ouro que serão negociadas com grupos empresariais de Medellín, maior cidade da região. De lá, serão exportadas principalmente para a Europa, Ásia e Estados Unidos.
"Gosto de imaginar que logo este ouro poderá estar no pescoço de alguma mulher americana, ou quiçá nos cofres de um banco no Japão", afirma.

Combate

Em discurso em janeiro em Caucasia, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, afirmou que buscaria coordenar esforços com países vizinhos que também estariam sofrendo com a mineração ilegal, entre os quais citou o Equador, o Peru e o Brasil.
"É um fenômeno que está acontecendo na região, entre outras coisas, pelo alto preço do ouro, mas também porque os grupos criminosos encontraram um filão onde às vezes os Estados demoram em ser efetivos em sua reação."
Nos últimos anos, governos da Venezuela, Bolívia e Equador também vêm adotando linha mais dura quanto à mineração informal, empregando inclusive as Forças Armadas em operações contra a atividade.
No Brasil, 8.700 militares atuam desde o último dia 2 numa megaoperação na Amazônia que busca, entre outros objetivos, combater garimpos ilegais nas fronteiras com a Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.
A ação, denominada "Agata 4", mobilizará, por um mês, 11 navios, nove helicópteros e 27 aviões. A iniciativa se soma a três operações da Polícia Federal (PF) ocorridas desde o ano passado para combater o garimpo ilegal de ouro na região Norte.
O governo brasileiro vem sendo cobrado especialmente pela Guiana Francesa, Guiana e Suriname a controlar a ação de garimpeiros brasileiros na fronteira com esses países, atividade desenvolvida há décadas mas que ganhou novo fôlego com a alta dos preços.
No dia 25 de abril, num sinal da crescente tensão na região, cerca de cem mineradores brasileiros foram presos na Guiana.

Como se extraem esmeraldas?

Como se extraem esmeraldas?

Há sistemas de iluminação, de ventilação e de comunicação que ligam a entrada ao fundo do poço. As minas funcionam 24 horas diárias.

por Marcos Nogueira

Para se chegar a um veio de esmeraldas, é preciso cavar buracos verticais com até 500 metros de profundidade no solo rochoso. Os garimpeiros passam dias a fio dentro dessas minas, dotadas de uma estrutura rústica, mas eficiente. Há sistemas de iluminação, de ventilação e de comunicação que ligam a entrada ao fundo do poço. As minas funcionam 24 horas diárias.
Os trabalhadores manipulam dinamite, respiram fuligem o tempo todo, urinam e defecam em sacos plásticos e estão sujeitos a desabamentos. O risco de morrer é real, mas pode compensar: uma gema de boa qualidade com 1 quilate (2 gramas) é vendida por até 5 mil dólares.
No Brasil, uma das principais áreas de extração de esmeraldas fica na serra da Carnaíba, Bahia, onde o mineral foi descoberto em 1 963. Lá as minas são cavadas dentro de barracões cobertos, sendo invisíveis para quem anda nas ruas do garimpo. Sob a terra, o cenário lembra um formigueiro (veja infográfico). Para iniciar a perfuração de uma mina, é preciso instalar bananas de dinamite em fendas feitas com uma britadeira. À medida que se encontram veios de pedra preciosa e a rocha fica mais solta, os garimpeiros se valem de ferramentas mais “delicadas”, como marretas e picaretas. Isolados do resto do mundo, os caçadores de esmeraldas desenvolveram um vocabulário peculiar (leia quadro).
As primeiras esmeraldas foram descobertas há cerca de 5 mil anos, no Egito. A pedra verde é considerada a quinta gema mais valiosa do mundo – perde apenas para o diamante, o rubi, a alexandrita e a safira. A cor de uma esmeralda varia do um verde pálido ao verde intenso, com tonalidades azuladas ou amareladas. A qualidade da gema depende, fundamentalmente, dessa cor. As mais valiosas e raras são aquelas que têm verde intenso, puro ou com ligeira tonalidade amarelada. O grau de transparência e a presença de rachaduras também influem na avaliação de uma gema.

A eterna busca de pedras e ilusões


A eterna busca de pedras e ilusões


Entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte, Seridó alimenta sonhos de caçadores de minérios
JOÃO MAURO ARAÚJO

Trabalhadores em jazida de quartzo
Foto: João Mauro Araujo
“Só acredito que essa terra venha a ser rica quando suas pedras derem dinheiro”, comentou em 1907 o futuro governador do Rio Grande do Norte e senador da República José Augusto Bezerra de Medeiros em viagem a Acari, no interior do estado. Ironicamente, pouco depois, o advento da 1ª Guerra Mundial confirmaria de certo modo seu prognóstico, graças a uma incipiente exportação de mica – mineral com várias aplicações industriais –, lavrada no lugar que algumas décadas mais tarde seria chamado de Província Pegmatítica da Borborema-Seridó. Essa faixa de terra na fronteira dos estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba, que abrange parte da borda ocidental do planalto da Borborema e as microrregiões do Seridó, destaca-se geologicamente pela presença de pegmatitos – rochas que abrigam diversos tipos de minerais metálicos de uso industrial e gemas.
A comercialização de mica do Seridó impulsionou a exploração de outros minerais que serviriam, durante a 2ª Guerra Mundial, para suprir a demanda dos países aliados. Tendo como principal comprador os Estados Unidos, foram extraídos tantalita, columbita, berilo, cassiterita, scheelita, entre outras matérias-primas destinadas à indústria bélica. O período testemunhou a vinda de missões técnicas estrangeiras, empenhadas em estudar o potencial mineral da região e garantir o máximo de extração em um curto espaço de tempo. Para tanto, foram introduzidos na exploração mineral equipamentos pesados, medida que contrariava o que estabelecia o Código de Minas de 1940.
Naquele tempo, o garimpeiro Mário Leitão de Araújo passou por diferentes lavras do Seridó. Órfão de mãe aos 6 anos de idade e de pai aos 8, Araújo começou a trabalhar na mineração aos 13. Ele extraía fluorita, material empregado na fabricação de aço e na fundição de ligas especiais e de outros metais. Seu primeiro sucesso na garimpagem veio, no entanto, ao trabalhar para os americanos numa jazida de scheelita, em Currais Novos (RN): “Eu ganhava 250 cruzeiros por semana, 1 mil por mês”, lembra. Ele conta que trabalhou muito também como “marteleiro”, nome dado àqueles que se encarregam das explosões nas minas.
Na década de 1940, poucas empresas brasileiras de mineração tentaram se estabelecer no Seridó. O que prevalecia naquela época e ainda se vê na atualidade é a exploração da mão de obra a baixo custo e em completa informalidade. Além do garimpo, Mário Araújo trabalhou vários anos como motorista, taxista e em outros ramos da mineração, além da compra e venda de pedras. Seu semblante de garimpeiro antigo, ou “vaqueiro de pedra”, como ele diz, revela orgulho não só por ter se mantido autônomo mas também por estar vivo, depois de enfrentar lavras de até 200 metros de profundidade: “Nunca fui empregado de ninguém, sempre trabalhei por minha conta”. Tranquilo, ele apresenta uma a uma as pedras de sua coleção e aponta na parede o quase sexagenário quadro de Nossa Senhora do Desterro, adquirido com o dinheiro de duas semanas de garimpo.
O fator climático
Com o fim da 2ª Guerra Mundial e a consequente desvalorização dos minerais de pegmatitos no mercado internacional, os garimpos do Seridó foram praticamente abandonados. Essa prática era retomada apenas nas ocasiões em que o preço dos minerais subia ou nos períodos de seca, quando a agricultura e a criação de gado são prejudicadas pela escassez de chuvas.
O clima é um fator que influencia bastante as atividades desenvolvidas no semiárido. Em geral, há dois períodos definidos: um longo, seco, seguido de outro chuvoso, curto e irregular, que pode até não acontecer. “Dentre as principais características climáticas dessa região estão temperaturas muito altas, com médias entre 25 ºC e 28 ºC, e precipitações escassas, com concentração de mais de 70% do total em quatro meses”, explica a geógrafa Simone Cardoso Ribeiro. Os solos da caatinga são pedregosos, de pouca espessura, com pouca retenção de água e grande percentual de areia em sua composição. “Em algumas áreas com maior potencial hídrico é encontrada agricultura, com o desenvolvimento de culturas cíclicas de subsistência, principalmente feijão e milho”, acrescenta Simone.
Devido à seca que assolou o nordeste no período de 1979 a 1984, os governos federal e dos estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba investiram em pesquisas geológicas na região e na formação de cooperativas de garimpeiros. Contudo, essas iniciativas só confirmaram o caráter emergencial e descontínuo dos investimentos estatais no semiárido. “O modo como os órgãos oficiais conduziram suas ações de apoio e incentivo a essas organizações parece caracterizar uma relação vertical e paternalista, na medida em que não houve uma participação maior das comunidades diretamente envolvidas no processo”, relata José Filgueira Forte em sua dissertação de mestrado, “Cooperativas de Pequenos Mineradores: A Experiência nos Garimpos de Pegmatitos do Nordeste” (Unicamp, 1994). A falta de engajamento efetivo tanto do Estado como dos mineradores nas cooperativas, explica Filgueira Forte, foi agravada pela “insuficiência crônica de capital para gerir os negócios de compra e venda dos minerais produzidos pelos associados”.
Passados mais de 20 anos da experiência de formação das primeiras cooperativas de pequenos mineradores do Seridó, novamente essa ideia desponta como “a melhor alternativa para o setor”. A nova fase foi iniciada em 2005, com dois projetos: Desenvolvimento em Rede do Arranjo Produtivo Local em Pegmatitos e Formalização da Produção Mineral na Província Pegmatítica do Seridó. Ambos objetivavam legalizar as atividades de pequenas unidades de produção mineral na região e promover, por meio de cursos de capacitação, a criação de cooperativas.
Outra medida que favoreceu esse intento partiu da presidência da República. No dia 3 de junho de 2008, o “Diário Oficial da União” publicou a lei que instituiu o “Estatuto do Garimpeiro”. Após séculos de mineração no Brasil, a atividade foi reconhecida formalmente como profissão de “toda pessoa física de nacionalidade brasileira que, individualmente ou em forma associativa, atue diretamente no processo de extração de substâncias minerais garimpáveis”. A lei nº 11.685 disciplina os direitos e deveres dos garimpeiros e estabelece cinco modalidades de trabalho desses profissionais: como autônomo, em regime de economia familiar, por contrato de parceria, em cooperativa e individualmente, com relação empregatícia. O dia 21 de julho, por marcar a saída de Fernão Dias Pais de São Paulo para Minas Gerais em 1674, foi considerado pelo estatuto o Dia Nacional do Garimpeiro, e o bandeirante foi declarado, mesmo que discutivelmente, o patrono da classe.
Em janeiro deste ano, o governo da Paraíba divulgou uma medida provisória que beneficia os pequenos mineradores, associados em cooperativas, com a redução de 17% para 4% da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que incide sobre a produção mineral. Além disso, foi prometido o investimento de R$ 2,5 milhões no setor, para aplicação no Programa de Desenvolvimento da Mineração Paraibana (Promin).
Atualmente, os garimpeiros do Seridó trabalham mais com minerais como caulim, feldspato, mica, quartzo, quartzitos, destinados às indústrias de transformação dos setores vidreiro, cerâmico, de papel e celulose, metalúrgico, eletrônico e químico.
Rocha ornamental
A história da extração de quartzito em Junco do Seridó, cidade localizada na microrregião do Seridó Oriental Paraibano, a 265 quilômetros de João Pessoa, remete ao final da década de 1980, com a chegada do artesão olindense Lourenço Quirino Mendonça. “Notei que aqui havia muito quartzito ornamental. Como eu era decorador de ambientes de jardim, paisagista, vi que daria um bom negócio”, lembra Mendonça. Junco do Seridó é conhecida por seu grande potencial mineral. O quartzito é encontrado lá nas cores vermelha, verde, ouro-velho, chumbito e salmão. Ciente das possibilidades do empreendimento, Mendonça convidou alguns garimpeiros a trabalhar com ele e fundou a empresa Ita Brasil Mineração.
“Fui fazendo os mostruários e painéis que estão ali na beira da estrada há 20 anos. O mercado foi surgindo e comecei a levar o material para Recife e Olinda”, conta. Logo outras pessoas seguiram o exemplo do artesão e passaram a expor pedras para venda às margens da BR-230. “Só que, diferentemente da Ita Brasil, ninguém se legalizou. Por todo lado havia gente vendendo pedras, sempre na informalidade. Chegou a um ponto em que abandonei a empresa e fiz como os outros”, diz Mendonça. A partir dessa experiência, ele percebeu que a solução seria fundar uma cooperativa, com vistas a organizar a produção e agregar valor ao material. “Naquela situação todos perdiam: o minerador porque passava o produto barato demais e não era reconhecido como trabalhador, e o município porque a mercadoria saía sem nota, sem imposto, sem nada.”
As cooperativas são associações autônomas, em que as pessoas se unem voluntariamente para satisfazer necessidades econômicas, sociais e culturais comuns. Tais sociedades são de propriedade coletiva e devem ser democraticamente geridas. Lourenço Mendonça é fundador da cooperativa de mineradores Cooperjunco, que reúne 140 garimpeiros associados, “só que atuando mesmo contamos uns 30. Isso é muito pouco, porque o município tem, no mínimo, 800 garimpeiros. Se pensarmos na cadeia produtiva, são talvez uns 1,5 mil”, avalia.
A Cooperjunco ainda está em fase de organização. Neste ano ela obteve o alvará de pesquisa, expedido pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Previsto no Regime de Autorização do Código de Mineração (decreto de 1967), o alvará é o documento que autoriza a pesquisa para o conhecimento da geologia e a definição do depósito a ser trabalhado. Em junho último, a Cooperjunco recebeu também a licença de operação para uma lavra experimental de quartzito numa área de 10 hectares, fornecida pela Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), órgão ambiental do estado da Paraíba.
Wdirlei de Souza Reinaldo, auxiliar da cooperativa, foi quem acompanhou a reportagem para conhecer a jazida onde trabalha seu pai, José Reinaldo Sobrinho. Com o auxílio de ferramentas simples – marrão (martelo), cunha de abrir, marreta e alavanca –, mas que requerem habilidade de manuseio, o garimpeiro fez demonstrações de como o quartzito é extraído. A rocha ornamental é comercializada em três formatos: laje (ou lajão), cavaco (ou caco) e almofada. Os preços por metro são de R$ 6, R$ 2 e R$ 3,50, respectivamente. “As fissuras da própria pedra determinam o produto final”, diz Sobrinho. Ele conta que a laje sempre tem saída no mercado, mas o cavaco depende das condições climáticas: “Nas capitais está chovendo com força, então a construção civil não funciona nessa época”.
Há 20 anos, Sobrinho abandonou a enxada, na lavoura de Taperoá (PB), e migrou para Junco do Seridó, atraído pelo garimpo, que exerce desde então. Ele trabalha em média dez horas por dia, duas das quais reservadas ao almoço e a um pequeno período de relaxamento antes de retornar à desgastante ocupação: ele chega a tirar de 500 quilos a 1 tonelada de pedra por dia, para um ganho mensal em torno de R$ 600. “No município de Junco do Seridó, ou você se emprega na prefeitura, que já está inchada, ou trabalha na mineração”, afirma Sobrinho, que deseja proporcionar estudo aos três filhos para que busquem outros caminhos.
Atividade de risco
Quem atravessa o município de Junco do Seridó, viajando pela BR-230, logo vê as montanhas brancas no meio da paisagem verde. As “dunas” são, na verdade, formadas pelo acúmulo de caulim, outro mineral muito presente nos pegmatitos da região. Após a limpeza em unidades de beneficiamento, o caulim pode servir a um vasto espectro de aplicações industriais, principalmente nos setores papeleiro e ceramista. Em menor escala é usado na fabricação de materiais refratários, plásticos, borrachas, tintas, adesivos, fertilizantes e produtos alimentares e farmacêuticos, entre outras aplicações.
Segundo Francinaldo Romão de Lima, secretário da Cooperjunco, o caulim é o principal produto do município. No entanto, o trabalho de centenas de garimpeiros envolvidos em sua extração é aquilo que se pode chamar de “atividade de risco”. Primeiro, pela exposição à sílica: a inalação da poeira desse mineral pode causar silicose, um processo de inflamação nos bronquíolos e alvéolos pulmonares. Trata-se de uma doença silenciosa, que evolui lentamente. No Seridó, quase todos os mineradores conhecem alguém que já morreu ou padece de silicose – a principal causa de invalidez entre as doenças respiratórias ocupacionais.
O segundo maior fator de risco são os acidentes de trabalho: quedas nas fendas de acesso às minas, traumas por objetos que caem e soterramentos. “Infelizmente, tivemos anteontem a morte de um trabalhador. Houve um soterramento que vitimou um jovem de 19 anos”, lamenta Francinaldo Lima. Em sua opinião, mais do que um fato fortuito, esse tipo de ocorrência é resultado da desorganização do setor. A lavra do caulim em Junco do Seridó é marcada pela informalidade, o que intensifica a exploração da força de trabalho e prejudica a saúde do garimpeiro. Lima acredita que a cooperativa pode mudar esse cenário: “Por enquanto os avanços foram poucos, mas substanciais”. Ele diz que, além do empenho na conscientização e regularização dos garimpeiros, a Cooperjunco pretende disponibilizar o equipamento de proteção individual (EPI) aos associados. Entretanto, só a vontade não é suficiente para ultrapassar as limitações econômicas, e por isso muitas vezes eles precisam aguardar o incentivo de órgãos públicos e fazer parcerias para adquirir equipamentos e acessórios.
O próprio Francinaldo Lima fez questão de mostrar como funciona a produção de caulim no município. Durante a longa caminhada, é possível ver, entre os arbustos, verdadeiras montanhas de rejeitos de caulim.
Num dos pontos altos da serra começa um rastro horizontal de buracos cavados pelos mineradores. Esse tipo de abertura, que em linguagem técnica é chamado de “trincheira”, na região é mais conhecido por “banqueta” ou “bancada”.
Mais adiante, dois garimpeiros trabalham para retirar a água acumulada no fundo de uma banqueta. Enquanto um deles fica sentado controlando o “guincho” – máquina presa ao chão dotada de um guindaste para movimentar carga na bancada –, o outro esvazia o tonel de água. Como não há energia elétrica, o equipamento funciona com um motor alimentado a óleo.
Em outra banqueta, a uns 200 metros dali, dois homens cavam a terra no fosso com pás e colocam o caulim numa caixa, que depois é erguida à superfície, onde uma carreta já aguarda o material. Quando a caçamba está cheia, aparece a figura do intermediário ou atravessador, o “empresário” (entre aspas, pois não se trata de pessoa jurídica) que empresta os equipamentos aos garimpeiros com a condição de ter o monopólio da compra da produção. “Geralmente, a pessoa repassa depois o mineral por um preço bem maior às empresas”, explica Lima.
Dali a carga segue, sem cobertura, para as unidades de beneficiamento de caulim, as quais aproveitam a inclinação do relevo da serra para lavar o produto. O caulim é colocado no primeiro tanque com água, onde é mexido com enxada por um funcionário semissubmerso; a seguir o material atravessa uma tela, ou peneira, rumo ao segundo tanque, que separa as impurezas por decantação; a água é removida, e o produto, retirado manualmente, seca ao ar livre e em fornos. Depois de mais alguns procedimentos, o caulim é embalado para ser encaminhado às indústrias de transformação em outras cidades.
Shopping invisível
Uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos pequenos mineradores é o escoamento da produção. Sem ter um mercado consumidor garantido, eles ficam na dependência de atravessadores. A gestão anterior do governo da Paraíba havia projetado a construção do “Shopping das Pedras”, um local que serviria à comercialização de minerais de pegmatitos. A data de inauguração do local chegou a ser anunciada, mas um desentendimento entre políticos cancelou a iniciativa. “Foi desapropriado um terreno no valor de R$ 80 mil. O governador fez o cheque, mas ele nunca foi compensado. Ficamos sem o terreno, sem o shopping, e o garimpeiro está aí ainda sofrendo”, afirma Maria Aparecida Batista Lima, diretora comercial da Cooperjunco. A entidade está instalada numa sede provisória, onde funcionaria o prometido centro comercial.
Maria Aparecida reconhece que enquanto todas as autorizações de lavra não forem expedidas, mesmo os garimpeiros filiados à cooperativa continuarão de certa forma trabalhando para os atravessadores, pois não há alternativa de renda. Em sua opinião, a cooperativa está caminhando bem nas negociações com empresas e órgãos oficiais, mas a situação poderia melhorar “se o governo comprasse nossa matéria-prima para a construção civil e diminuísse a burocracia, que é tão grande, para o garimpeiro trabalhar”.
José Dagmar Alves, gerente da Cooperativa dos Mineradores de Pedra Lavrada (Coomipel), diz que o cooperativismo não vai mudar nada se não se fizer também o beneficiamento dos produtos. Fundada em 2005, a Coomipel trabalha com extração de quartzo e feldspato. O quartzo serve às indústrias de vidro, siderúrgica (aços e ligas especiais), de abrasivos, refratários e, dependendo da coloração, como gema para confecção de joias.
Na mina, os garimpeiros quebram as pedras com marretas, depois separam o mineral e fazem a limpeza superficial sob a sombra de pequenas tendas. Devido à facilidade de acesso, a Coomipel já foi muito visitada por fiscais e cumpre todas as normas de legalização e segurança: a parede do escritório está recheada de “alvarás” e a maioria dos mineradores utiliza botas, óculos, luvas e alguns até máscaras de proteção.
O feldspato extraído pela Coomipel é vendido em estado bruto para unidades beneficiadoras e depois repassado às indústrias de vidro e cerâmica. José Dagmar diz que com a aquisição de equipamento a cooperativa poderia agregar valor ao produto e gerar mais renda para os associados: “O garimpeiro recebe hoje R$ 12 pela tonelada de feldspato. Se conseguirmos moer na malha 200, o preço irá para R$ 180 ou R$ 200 a tonelada. O retorno é muito rápido”, comenta ele. No momento, uma de suas metas é trazer para a associação os equipamentos da Mina-Escola da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
A Mina-Escola foi instalada em 1977 no município de Santa Luzia (PB), com o objetivo de fornecer suporte didático científico ao curso de engenharia de minas da UFCG. Nela os alunos podiam aprender in loco como funcionam diversos equipamentos de mineração e alguns tipos de lavra. Em 1984, passou a operar na escola uma usina de beneficiamento de scheelita. Todavia, em virtude de uma crise no mercado desse mineral, a administração firmou em 1987 uma parceria com mineradores de tantalita, que também não deu certo, e desde 1989 a usina deixou de funcionar.
Como não houve mais condições de pagar pela manutenção das instalações, o maquinário se mantém até hoje em desuso. O local continua a receber alunos, esporadicamente, mas só para visitação. “Dá pena ver jogados lá equipamentos que poderiam nos ajudar”, comenta Dagmar.
Assim como a Coomipel, outras associações estão em busca de novos instrumentos de trabalho, a exemplo da Cooperativa de Garimpeiros do Município de Várzea (Coopevarzea), da Paraíba, que já fez cinco licitações para aluguel e aquisição de equipamentos. O presidente da Coopevarzea, Carlos Henrique Lopes de Melo, afirma que um dos projetos visa à transformação dos rejeitos de quartzito em argamassa para uso no rejunte ou assentamento de cerâmicas. Iniciativas como essas indicam certo avanço das cooperativas. Resta saber se elas, de fato, conseguirão cumprir suas metas e melhorar a qualidade de vida dos garimpeiros do Seridó.