segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Cristal de cassiterita

cassiterita
Foto do Mineral Forma Cristalográfica
 
Cristal de cassiterita
Direções ópticas e cristalográficas
Fórmula Química - SnO2
Composição - Óxido de Estanho
, 78,7% de Sn, 21,3% de O
Cristalografia -
Tetragonal
        Classe -
Bipiramidal ditetragonal

Propriedades Ópticas -
Uniaxial positivo

Hábito -
Prismáticos agregados ou massas informes, seixos rolados, cristais prismáticos

Clivagem -
Clivagem prismática imperfeita {100} e {110}
Partição - Partição {111}
Dureza -
6 - 7
Densidade relativa -
6,8 - 7,1
Brilho -
Brilho adamantino a submetálico
Cor -
Marrom a preto, às vezes amarelo, vermelho, cinza, branco a quase incolor; as cores podem aparecer irregularmente distribuídas ou distribuídas em zonas ou bandas.

Associação -
Pode estar associada a quartzo, muscovita e topázio.
Propriedades Diagnósticas -
Traço cinza, castanho esverdeado ou incolor. Distingue-se do rutilo pela densidade maior, menor birrefringência e teste positivo (película cinza-metálica) quando colocado em contato com zinco metálico e HCl (queima da cassiterita).
Ocorrência -
Ocorre em filões de alta temperatura, granitos, pegmatitos, albita granito, greisens etc., e em cascalho de elúvios, colúvios, alúvios e pláceres.
Usos - É o mais importante e praticamente o único minério de estanho que se explora; excepcionalmente aproveita-se a cilindrita (Sb2S3.6SnS2.6PbS), a teallita (PbSNS2) e a estanita (Cu2FeSn4), que acompanham a cassiterita em alguns jazimentos.

Cristal de columbita-tantalita em rocha

Foto do Mineral Forma Cristalográfica
  bdcolumbitatantalita.gif (8696 bytes)
Cristal de columbita-tantalita em rocha
Da  esquerda para direita, direções ópticas e cristalográficas dos minerais columbita e tantalita respectivamente
Fórmula Química - (Fe,Mn)(Nb,Ta)2O6
Composição -
Série isomórfica columbita- tantalita, onde Nb e Ta respectivamente, substituem-se em todas as proporções e com ferrocolumbita, ferrotantalita, mangancolumbita e mangantantalita. 78.72 % Nb2O5 ou Ta2O5 e 21.28 % FeO
Cristalografia - Ortorrômbico
        Classe -
Bipiramidal

Propriedades Ópticas -
A columbita é biaxial negativa e a tantalita é biaxial positiva


Hábito -
  Prismas ou tabular
Clivagem -
Clivagem boa {100}
Dureza relativa -
6
Densidade -
5,35 para columbita, 7,8 para tantalita; 5,2 para mangancolumbita, e 7,3 para mangantantalita
Brilho -
Brilho metálico a submetálico
Cor -
Preto, sendo os tipos ricos em ferro opacos mesmo em seções bem delgadas e os ricos em Mn marrom a vermelho-escuro em seção delgada

Associação -
Pode estar associada  a cassiterita e wolframita.
Propriedades Diagnósticas -
Traço preto a castanho-esverdeado escuro, insolúvel, sendo que a tantalita e mangantatalita são fracamente solúveis em ácidos. Difere da cassiterita por cor mais escuro, menor dureza, traço mais escuro e da wolframita por apresentar dureza maior.
Ocorrência -
Formada pela cristalização magmática, nas fases, pegmatítica, pneumatolítica e hidrotermal, sendo encontrada em albita granito, pegmatitos, greisens, veios hidrotermais e em aluvios, colúvios e elúvios.
Usos - É um dos principais minerais de minério de Nb, fornecendo também Ta e elementos terras raras. (No Brasil o principal mineral de Nb é o pirocloro).É o principal mineral de minério de tântalo; que é usado para evitar a oxidação dos aços e melhorar suas características mecânicas e produz um carbureto muito duro.

A degradação ambiental oculta pelos garimpos de topázio imperial no Alto Maracujá

A degradação ambiental oculta pelos garimpos de topázio imperial no Alto Maracujá
Robson José Peixoto
O garimpo é uma atividade de extração mineral existente já há muito tempo no mundo. Os primeiros sinais dessa atividade datam do século XV, com os europeus que partiam em busca de novas terras para conquistar suas riquezas minerais. No Brasil, os garimpos começaram a despontar com maior destaque no século XVIII, com as campanhas em busca de ouro e diamantes no estado de Minas Gerais.
Para melhor entendimento, o garimpo é uma forma de extrair riquezas minerais (pedras preciosas e semipreciosas são mais comuns) utilizando-se, na maioria das vezes, de poucos recursos, baixo investimento, equipamentos simples e ferramentas rústicas. Segundo a legislação brasileira vigente sobre mineração, a atividade garimpeira é considerada uma forma legal de extração de riquezas minerais desde que atenda a determinadas regras e obrigações. É facultado a qualquer brasileiro ou cooperativa de garimpeiros que esteja regularizado no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão no país que controla todas as atividades de mineração.
O garimpo se torna problema justamente porque a maioria deles segue às margens da lei. Infelizmente, no Brasil, muitos garimpos quase sempre estão associados a confrontos, assassinatos, roubos, disputas de terra, prostituição, vícios, insegurança, impunidade, patrocínio de armas e narcotráfico e à degradação ambiental. Isto porque os garimpos ilegais são extremamente difíceis de serem controlados. Situam-se em regiões de difícil acesso, são dispersos pelo país, é migratório e não há regularidade na mão-de-obra e no regime de trabalho. Há muitos riscos para se estudar diretamente essa atividade. Dentro deste cenário se insere o garimpo de topázio imperial no Alto Maracujá, no distrito de Cachoeira do Campo, município de Ouro Preto, Minas Gerais. Este garimpo se enquadra muito bem em parte das descrições expostas anteriormente.
O Alto Maracujá vem sofrendo desde a década de 1970, com a ação de garimpos de topázio imperial. O nome Alto Maracujá se refere à região que abriga as nascentes do rio Maracujá, afluente da margem esquerda do rio das Velhas, este último afluente da margem direita do rio São Francisco.
Revista Gems&Gemologist
Topázio imperial lapidado
O topázio imperial é uma pedra preciosa de beleza impressionante, porém muito rara na natureza. Logo, tem valor de mercado muito elevado, o que aguça a procura pelos garimpeiros.
Desde 1750, o topázio imperial é extraído na região de Ouro Preto. Esse município é considerado, atualmente, como o único local no mundo onde ainda é possível se extrair este mineral em condições econômicas viáveis, visto que a formação geológica permite sua retirada com o mínimo de danos possíveis à sua estrutura. Uma pedra de topázio imperial que sofre danos físicos, apresentando-se trincada ou lascada, tem seu preço desvalorizado no mercado.
O Alto Maracujá tem toda sua área praticamente exposta à ação dos garimpos de topázio imperial. Quase todos os pontos de extração do mineral são clandestinos, o que agrava a situação. São utilizados métodos de lavra agressivos em termos ambientais além da grande quantidade de água gasta na extração e lavagem do topázio.
O rio Maracujá é formado basicamente por quatro córregos: Cipó, Arranchador ou Ranchador, Caxambu ou Olaria e Cascalho. Os garimpos se concentram, em sua maioria, no leito, às margens e nas cabeceiras dos córregos Cipó e Caxambu. O Cipó é considerado o principal córrego formador do rio Maracujá. Logo, todas as atividades que geram degradação ambiental nesse curso d'água afetam de forma negativa grande parte do rio. Os córregos Cascalho e Arranchador são os únicos que se encontram em melhor qualidade ambiental. O Cascalho, porque não há ocorrência de topázio em suas margens e leito, e o Arranchador, devido à ação efetiva da proibição de garimpos pelos proprietários das terras por onde ele passa.
O topázio imperial é geralmente encontrado a profundidades que variam de dois a sete metros na região do Alto Maracujá. É comum a existência de uma camada de solo que encobre os veios de cascalho (quartzo) onde está embutido o topázio. A retirada dessa camada de solo é feita por meio de escavação com picareta, enxadas e enxadões ou trator, quando o garimpo é semimecanizado. Essa operação é uma das principais causadoras da degradação ambiental e dos acidentes de trabalho na região. O solo exposto é carregado pela água da chuva ou dos próprios córregos, quando em períodos de cheias, e os sedimentos se espalham pela bacia, gerando o que se conhece como assoreamento. Este impacto dificulta a sobrevivência de peixes, entope canais e tubulações, muda o curso dos córregos bruscamente, aumenta os riscos de enchentes, além de proporcionar um aspecto visual negativo ao espelho d'água, degradando a paisagem.
Além do assoreamento, o garimpo instalado junto às margens dos córregos promove a retirada de boa parte das matas ciliares e de cabeceira, que são formações vegetais essenciais à proteção não só das águas, mas principalmente das nascentes (áreas de recarga). Na região, não é difícil visualizar árvores derrubadas lançadas no leito dos córregos. Esta prática é crime porque vai contra o Código Florestal que proíbe atividades desse tipo em áreas como as descritas acima.
Margem do córrego Cipó destruída por garimpo
Muitas vezes são construídas pequenas barragens rudimentares para a lavagem do solo e cascalho que contêm o topázio. Essas barragens modificam o curso dos córregos, fazendo com que eles atinjam estradas e pastos de pequenos sítios da região, causando prejuízos consideráveis principalmente no período das chuvas.
Como se não bastasse a degradação ambiental, os garimpeiros e pessoas que trabalham e trafegam pela região estão expostos a uma série de riscos de segurança e saúde ocupacional. Como as escavações para a retirada do topázio são realizadas sem técnica, há riscos de desmoronamento constantes. Já houve vários casos de acidentes fatais. Outros riscos podem ser citados tais como problemas ergonômicos, doenças devido ao trabalho exposto à intensa umidade, alcoolismo, brigas entre garimpeiros, assassinatos, quedas em buracos sem proteção ou cheios de água e lama, etc.
Barragens feitas no leito do Córrego Cipó
Enfim, os problemas são muitos para serem descritos. Tanto a polícia do meio ambiente quanto a prefeitura local vêm tentando resolver o problema, mas o nível de complexidade da situação, somado à falta de aparelhamento dessas entidades, inibe uma solução a curto prazo.
Realmente, soluções definitivas para esse problema estão muito longe de serem alcançadas. Isto porque os garimpos geram impactos não só nos meios físico e biótico, como também no social. A criação de uma cooperativa de garimpeiros seria uma alternativa, porém, não se sabe com precisão quantos são, quem são e onde estão esses trabalhadores. Não existe um censo que demonstre com certeza a massa trabalhadora que se expõe nas frentes de lavra dos garimpos de topázio imperial do Alto Maracujá. Informações extra-oficiais indicam que existem pais de família que dependem desse trabalho para sustento familiar devido ao desemprego, assim como existem pessoas de má índole, aventureiros, aqueles que buscam o garimpo de topázio como fonte de renda extra, aqueles que tem o garimpo como vício e não querem mudar de situação, grandes empresários que agem nos "bastidores" e pessoas com grau de instrução considerável, estes últimos fazem tanto estrago quanto aqueles garimpeiros sem instrução, o que é mais lamentável ainda.
Uma das nascentes do córrego Cipó destruída pelo garimpo
O que é necessário se fazer hoje pela "saúde" da bacia do rio Maracujá, bem como pela segurança dos seres humanos envolvidos direta ou indiretamente no garimpo, é um estudo de grande porte, abrangendo diversas áreas do conhecimento, de forma a identificar todos os problemas detalhadamente nos campos físico, biótico e socioeconômico para que as alternativas de solução possam ser mais bem elaboradas e aplicadas. O certo é que o foco deve ser direcionado para a informação do garimpeiro e a tentativa de persuadi-lo de que suas ações impensadas corresponderão a reações irreversíveis no futuro não só dele mas dos seus descendentes. O que foi percebido nos estudos de campo é que vários garimpeiros sabem que seu trabalho prejudica o meio ambiente. Provavelmente, as medidas a serem tomadas para mudança desse panorama devam começar por esses elementos.
O rio Maracujá está sujeito a problemas de poluição muito parecidos com os de outros rios brasileiros. Logo, a revitalização da bacia tem que passar por políticas públicas de saneamento e investimento em informação. A questão do garimpo é só mais um agravante que influencia a já crítica situação do rio.
Programas de educação ambiental devem ser realizados junto à população, principalmente nas escolas, para que todos tomem consciência de que a água é um bem essencial ao ser humano. Este deve protegê-la com sabedoria , para que um dia ela não se torne artigo de luxo, como já anda acontecendo em muitos lugares do planeta.
Cascata do Dom Bosco formada pelas águas do rio Maracujá
E quanto ao garimpo? Bem, os recursos minerais existem na natureza para serem utilizados. Afinal, muitos deles são essenciais à vida da sociedade moderna. O que se deve levar em consideração é que é possível se fazer garimpo, ou mineração em geral, com responsabilidade social e ambiental. Basta haver investimento, boa vontade, e trabalho dentro das normas técnicas e de desenvolvimento sustentável.

Cinquenta anos do garimpo de ouro do Tapajós

Cinquenta anos do garimpo de ouro do Tapajós

Luiz Preto: Quatro décadas dedicadas ao garimpo
Quando nasceu, no Ceara, no município de Juazeiro do Norte, no dia 02 de janeiro de 1945, seus pais lhe deram o nome de Luiz Silva de Sousa, mas, ficou mesmo conhecido foi pelo apelido de Luiz Preto. Em 1957 deixou seu Ceará por causa de um forte seca, mudando-se para o Maranhão. Ele tem passado a maior parte de sua vida, mais de quatro décadas, exercendo a atividade de garimpeiro. É esse personagem bastante conhecido na região, o destaque desta edição na série de reportagens sobre o cinquentenário da garimpagem no Tapajós.

"Eu comecei a trabalhar em garimpo, no ano de 1965, já vivendo no Estado do Pará. Chamava-se garimpo do Cajueiro, na margem do Rio Araguaia, no município de São Geraldo do Araguaia. Deu pra fazer um dinheirinho lá. Depois voltei para o Maranhão, onde trabalhei num garimpo perto de Imperatriz. Eu tinha só vinte anos de idade. Passei um tempo em Marabá, onde não dei muita sorte. No verão de 1970 mexi com caça de gato do mato para vender a pele. Em 1971 fichei na ECIR, que trabalhava na construção da Transamazônica, de Marabá para Itaituba. No verão de 1974 estava desempregado. Depois de trabalhar na juquira durante o inverno, eu vim tentando conseguir alguma firma para fichar, até que cheguei a Itaituba. Tomei conhecimento das atividades de garimpo, me animei e resolvi entrar. Entrei no dia 28 de novembro de 1974 levado para o Marupá pelo seu Argemiro, irmão do seu Lulu do Juliana Park Hotel.

Nesse tempo tinha dono de garimpo que cobrava até 45 diárias numa passagem para garimpo. Eu tive sorte de achar aquele cidadão que me levou por apenas 16 diárias. O preço era 32 gramas de ouro pela passagem; como ele pagava dois gramas por diária, com 16 dias trabalhados a gente pagava a passagem de avião.Teve um que cobrava 45 diárias, quer me perguntou se eu não queria ir. Eu respondi que não, porque não era ladrão do meu próprio bolso.

A gente foi direto para a pista velha do Marupá; aquela mesmo, que começa ao lado do cemitério, conhecida como a pista dos Sudário. Fui trabalhar com o seu Argemiro e com o seu Goiano, mais tarde, dono da Táxi Aéreo Goiás. Eles eram sócios. Naquele tempo o Goiano era pobre, daquele tipo que levantava às quatro e meia da manhã para fazer o café dele.

Fomos em três daqui. Chegando lá nos dirigimos direto para o baixão do Bem-Ti-Vi. Não era fácil! Um tinha que ficar para fazer e levar a merenda, enquanto dois saiam com escuro, pois a gente tinha que secar o barranco na lata, pois minava muita água. Quando dava lá pelas oito horas da manhã a gente terminava de secar o barranco para poder começar a trabalhar na busco do ouro.

Eu demorei bastante tempo nesse garimpo, porque o seu Argemiro e o seu Goiano foram excelentes patrões. Eu era brabo em garimpo de ouro e aprendi a trabalhar com eles. Fiquei mais de um ano lá com eles. Foi quando apareceu a chance de ir para outro serviço melhor, juntamente com o Vovô e o Felipão, dois crioulos das guianas que me ensinaram muitas coisas. Foram tempos muito difíceis. Eu só fui conseguir dinheiro para ir até a currutela depois de seis meses. Se tivesse tirado um ouro bom antes, talvez tivesse ido embora, pois eu custei a me acostumar com aquela vida, longe de tudo. A malária me achou muito cedo, com uns vinte dias que eu estava lá ela me pegou. Todo mês eu perdia uma semana ou mais. Mas, com o tempo fui me acostumando e estou até hoje no garimpo.

A situação melhorou quando eu encontrei um cidadão, também, muito bom, que foi o Zé da Roça, que vendia uns remédios com os quais eu me dei bem. Nesse tempo, no Marupá, eu já estava mais manso e cheguei a juntar mais de um quilo de ouro, quando eu tocava um serviço próprio, com mais de vinte pessoas trabalhando. A essa altura eu já vinha a Itaituba, comprava o rancho e levava num vôo completo. Houve um tempo em que eu gastava na currutela tudo que ganhava. Mas, depois eu vi que aquilo não tinha futuro e parei com as farras.

Algum tempo depois eu mudei para o garimpo Nova Vida, que era do Elídio Leal onde eu fiquei quase um ano; com isso, eu acabei completando quase quatro anos na região do Marupá. Passei um tempo explorando perto da pista do Luiz Barbudo, do final de 1978 para o início de 1979; foi quando aconteceu um negócio que não foi muito agradável no Marupá (quando a reportagem pergunta que tipo de negócio desagradável foi esse, Luiz Preto fica silencioso e desconversa) e aí eu tive que vir para Itaituba.
Nesse tempo uma malária braba me pegou. Um dia, subindo uma ladeira eu estava tão mal que eu achei que não iria conseguir chegar em cima. Dava um passo para frente e dois para trás, com muito sacrifício consegui chegar num barraco que havia lá. Sem comida, comi um jacu insosso; a fome estava braba e quando eu dei fé tinha comido quase tudo.

A chegada no Crepurizinho

Em Itaituba, onde vim tratar da malária, encontrei o Bitonho que eu já conhecia lá do Marupá. Ele tinha ido olhar o Crepurizinho. Ele me disse que eu tinha tudo para me dar bem por lá, pois havia bastante terra para ser explorada. O Crepurizinho já era uma curritela grande. Me contaram que a exploração de garimpo começou do final de 1959 para o começo de 1960. O Aluizio Mourão conhece tudo direitinho; ele sabe quando começou.

Vai fazer 30 anos que eu cheguei. No dia 28 de outubro de 1978 eu cheguei no Crepurizinho. Na noite daquele dia eu conheci um camarada chamado Raimundo Varador, com o qual eu fui para o baixão do Papagaio. Na manhã seguinte. Ele me vendeu um servicinho, fiado, que ele tinha lá com uma tralha, por cem gramas de ouro. Até hoje eu estou naquele lugar.

No Crepurizinho eu passei por momentos muito bons, mas, também vivi situações muito difíceis. Isso aconteceu (o bom) a partir do momento em que surgiu o trabalho com balsa, mais tarde veio a chupadeira e melhorou de 80% a 90%. Foi de 1982 para 1983. Eu cheguei a ter até 18 pares de máquinas. Foi um período em que a gente produziu bastante. Tinha um rapaz que trabalhava comigo, que anotava tudo; em pouco mais de dois anos e meio de exploração, até 1987, a gente produziu mais de 170 quilos de ouro.

Quando a situação estava muito boa, veio o governo do presidente Fernando Collor de Melo. O grama do ouro estava sendo vendido entre 850 mil e 890 mil Cruzeiros. Quem vive em Itaituba e na região de garimpo desde aquele tempo sabe muito bem do que estou falando. O Collor arrebentou com a gente. Eu mesmo afundei, pois eu tinha mais de cinco quilos de ouro que era para saldar uma conta de um milhão e duzentos mil Cruzeiros.

Eu pagaria a conta com mais ou menos um quilo e meio de ouro. Não vendi antes do Collor assumir, esperando melhorar o preço. O resultado foi que tive que vender todo o ouro para poder saldar a conta. Só não comecei do zero porque tinha um bom estoque de mercadorias e um bom estoque de óleo diesel. Se a gente tivesse tomado a decisão de parar por um tempo, talvez a gente tivesse se dado melhor, porque o que aconteceu foi que voltei a tocar o serviço, queimei o diesel todo e consumi a mercadoria e aí, sim, fiquei totalmente sem capital.

Naquele momento vieram outros problemas que pioraram a situação, que já era bem complicada. Veio separação de mulher, desonestidade de gente que trabalhava comigo, que não repassava direito o que era apurado. Apesar disso, eu nunca parei com a atividade garimpeira. Eu passo quinze dias aqui e um mês lá dentro. No início em passava seis meses lá e quinze em Itaituba. Tive que mudar porque eu não ia abandonar meus filhos, que foram largados pela mãe. São três, dois rapazes, um com dezoito anos, um com dezessete e uma moça dentro dos 14 anos.

Investimentos - Eu construi esta casa, que não está concluída, que tem quatorze compartimentos, comprei uma terra que vai do km 35 ao km 37, que se encontra invandida por um pessoal que diz ser Sem Terra; eu digo que não são Sem Terra, coisa nenhuma. É gente que viveu no garimpo, ganhou algum dinheiro, mas gastou tudo e se acostumou a tomar terra dos outros, desde aquele tempo. A terra está quase toda invadida. Ainda tenho um pouco de gado nessa fazenda e um pouco mais lá dentro, no Crepurizinho, que está melhor do que a fazenda daqui. Eu investi muito, também, em documentação de terra, tanto do solo como do subsolo.

Tenho uma terra no Crepurizinho que está quase toda regularizada, numa extensão de mais ou menos vinte mil hectares. Eu aguardo algum interesse desses grupos de estrangeiros que estão investindo na região, ou quem sabe, algum financiamento para poder eu mesmo explorar o ouro, que agora está muito mais difícil, mais profundo, pois o ouro mais raso está cada vez mais escasso. A terra em que eu estou trabalhando eu sinto que é muito boa, mas me falta o capital.

Algumas vezes corri risco de ser morto, como aconteceu quando estava construindo uma pista naquela região. Fui avisado por uma pessoa chamada Massa Bruta, de que o seu Lourival, dono de uma agência lá no Crepurizinho, aquele mesmo, que era bastante conhecido aqui em Itaituba, queria mandar me matar para evitar que eu construísse a pista.

Numa viagem de avião, do garimpo para Itaituba, ele fez a proposta para o Massa Bruta me matar, mas ele não aceitou fazer o serviço. O Massa Bruta disse que não faria porque eu era um trabalhador; ele me avisou sobre o que estava acontecendo para eu me cuidar. Eu tinha tentado fazer uma sociedade na pista que eu estava construindo, mas o Lourival não quis. Eu digo que eu escapei por pouco.

A juíza tomou meu garimpo

O momento mais difícil da minha vida de garimpeiro aconteceu quando eu fui coagido por uma juiza que trabalhou em Itaituba, chamada Cléa Maia. Ela tomou o garimpo que eu tocava na época, no inverno de 1984. Ainda tem gente daquele tempo que trabalha comigo. Outros, que não trabalham mais para mim estão na área para contar a história. Por causa disso eu passei vinte e dois dias preso. O delegado era o finado Miguel Apinagés.

Eu perdi tudo. Fui morar em casa alugada. As festas juninas de 84 eu passei preso na delegacia que funcionava onde é agora o Detran. Fui preso sem dever nada para a Justiça. Meu pecado era ser dono de uma terra que um caboco chamado Augusto Franco queria de qualquer jeito. Perdi a terra e quase perdi a vida; fui desmoralizado.

Eu estava na agência do Pai Velho para viajar, quando o delegado Miguel chegou e meu ordem de prisão. Ele ligou para a juiza e ela mandou me recolher. Naquela situação eu fui ajudado pelo Pai Velho, pelo seu Argemiro, pelo Goiano, pelo Irajá, pelo Zé da Roça e pelo Dr. Semir. Eu devo uma grande fineza do Dr. Semir, que me defendeu mesmo sabendo que eu não tinha dinheiro para nada naquela ocasião.

Todo o ouro que havia no garimpo o Augusto Franco tirou nos cinco ou seis anos que ele ficou lá. Ele construiu casa de trinta ou mais quilos de ouro aqui, construiu casa em Santarém, teve fazenda. Ele só saiu de lá quando esgotou o garimpo.

Por estar preso, eu perdi uma roça de 55 hectares de arroz, que estava no ponto de ser colhido. Preso, não tive como colher.

A minha situação ficou tão complicada, mas, tão complicada, mesmo depois que eu ganhei a liberdade, que tinha horas que eu não sabia o que fazer. Eu fui para o garimpo, pois tinha outra terra. Mas, para trabalhar eu tinha que ir por um caminho, por uma vereda, e voltava por outro. Tinha polícia pra todo lado, tudo contra mim. Por último, eu criei coragem de enfrentar tudo aquilo, sabendo que podia morrer a qualquer momento; mas, eu precisava trabalhar.

O Reinaldo tentou me matar

Final dos anos 80, começo dos anos 90 eu fui morar com uma mulher, mãe destes meninos (dois rapazes e uma moça citados antes). Ela estava envolvida nuns negócios que eu não sabia, mas que podia ter custado minha vida.

Tinha uma quadrilha formada pelo Barradas, o Reinaldo e outros que queria me pegar. Eles arrumaram tudo para a mulher vir morar comigo, que era para ver o que eu tinha, para que eles me sequestrassem e me matassem. Mas, antes de me matarem eles me forçariam a assinar uns papéis, passando para eles tudo o que eu tinha.

O que me fez entrar para a política foi que eu estava num conflito tão grande, tão aflito com aquele situação, com aqueles caras cercando minha casa, dizendo que eram meus amigos, que queriam me proteger, quando na verdade queriam me matar. O Reinaldo vivia dentro da minha casa, atendendo telefonema e colocando os capangas dele para me vigiar. Eu estava sem controle da minha vida. Eu tinha gasto mais ou menos uns cinco quilos de ouro tentando esclarecer a morte do meu irmão Raimundo.

Na Semana Santa de 1991 eles esperavam fazer o serviço. Uma noite o Reinaldo chegou na mina casa com uns homens, com uma conversa furada, dizendo que era para me proteger, porque podia acontecer alguma coisa comigo. Eu olhei para o Céu e disse que achava que ele tinha vindo de lá.

Um dia um amigo me convidou para ir fazer uma visita para o seu Wirland Freire, que conhecia o Reinaldo. Seu Wirland mandou chamar ele. Quando o Reinaldo chegou o seu Wirland disse que eu era amigo dele, além de ser um bom cliente dele e que não queria que acontecesse absolutamente nada comigo. Foi só assim que eles me deixaram em paz. A partir daí minha vida começou a melhorar de novo. Por isso entrei na política.

Pouco tempo depois a mulher foi embora deixando os três filhos, quase assumindo a culpa, enquanto o Reinaldo foi morto não muito tempo depois de tudo isso. Hoje, ela toca a vida dela e eu toco a minha, cuidando dos meus filhos, sem nunca abandonar o garimpo. Mas, por eles, pelos filhos, eu mudei até o tempo de permanência lá pra dentro. Assim tem sido minha vida, vida de garimpeiro.

Novo garimpo de ouro é descoberto no sul do Amazonas

Novo garimpo de ouro é descoberto no sul do Amazonas; Veja fotos

   


Do correspondente.

Um novo garimpo de ouro foi descoberto no sul do Amazonas no município de Santo Antônio do Matupi distante 180km do município do Humaitá, o garimpo fica localizado na rodovia Transamazônica no KM 156 da linha União KM e tem rendido inicialmente alguns quilos de ouro.  O município de Santo Antônio do Matupi, também é conhecido como KM 180 vem crescido diariamente o movimento, recebendo centenas de garimpeiros de Rondônia, Amazonas e Pará. Movimentando a economia local, promovendo o desenvolvimento e o crescimento desordenado da cidade.


A exploração era feita de forma manual por integrantes de uma família que decidiiram abrir para os empresários e a todos que se interessam em explorar a lavra de ouro. Acredita-se que é um novo explorar a lavra do ouro. Acredita-se que é um novo Eldorado, que tem previsão maior que o do Rio Juma (Apuí).