terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A Corrida do Ouro no Rio Madeira

Desafiando o Rio-Mar 


A Corrida do Ouro no Rio Madeira

A Corrida do Ouro no Rio Madeira


Elas não podem impedir a navegação. Isso é proibido.
Se forem vistas fazendo isso, é apreensão na certa.
A lavra deve ser feita apenas onde não houver risco ambiental.
 (Fred Cruz - Assessor do DNPM)

O Rio Madeira esconde sob suas águas barrentas e apressadas a ilusão de enriquecimento “rápido” de milhares de seres humanos que abandonaram o conforto de suas casas e a convivência de seus familiares para morar em precários e barulhentos flutuantes, cercados por estranhos, ancorados no leito do Rio, em busca do ouro. Na “Corrida do Ouro”, da década de oitenta, o Rio Madeira foi palco de um drama onde raras pessoas fizeram fortuna e onde muitas perderam tudo que tinham e, não raras vezes, a própria vida.

Em nossa descida, pelo maior afluente da margem direita do Rio Amazonas, avistamos milhares de dragas trabalhando diuturnamente removendo areia, lama e cascalho com tal intensidade que são capazes de alterar a geografia do Rio. São verdadeiras Vilas flutuantes, algumas margeando, quase bloqueando, perigosamente os canais de navegação, prejudicando o tráfego naval e colocando em risco as vidas de seus residentes e dos tripulantes das embarcações. A partir de Borba à medida que nos aproximamos da foz do Madeira seu número vai diminuindo lentamente até se tornarem raras. Avistamos à noite algumas trafegando temerariamente, praticamente, às escuras, sem qualquer tipo de sinalização com a finalidade de mudar de local de garimpo ou, em virtude da cheia, voltar à sua Comunidade de origem onde permanecem estacionadas até a vazante.


-  A Amalgamação
Fonte: Jurandir Rodrigues de Souza e Antonio Carneiro Barbosa

A utilização do mercúrio no processo de amalgamação do ouro já era conhecida pelos fenícios e cartagineses em 2.700 a.C. Caius Plinius, em sua “História Natural” (50 d.C.) descrevia a técnica de mineração do ouro e prata com um processo de almagamação similar ao utilizado hoje nas minas de ouro. O Brasil não produz mercúrio. A sua importação e comercialização são controladas pelo IBAMA por meio da Portaria n° 32 de 12/05/95 e Decreto n° 97.634/89, que estabelece a obrigatoriedade do cadastramento no IBAMA das pessoas físicas e jurídicas que “importem, produzam ou comercializem a substância mercúrio metálico”. O uso do mercúrio metálico na extração do ouro é também regulamentado. O Decreto 97.507/89 proíbe o uso de mercúrio na atividade de extração de ouro, “exceto em atividades licenciadas pelo órgão ambiental competente”. Por outro lado, a obrigatoriedade de recuperação das áreas degradadas pela atividade garimpeira é igualmente regulamentada pelo Decreto 97.632/89.

As dragas, instaladas em flutuantes, estendem suas lanças de sucção, acionadas por bombas de 5 a 12 polegadas, que reviram o leito arenoso e despejam o cascalho, lodo e areia juntamente com milhares de litros de água em uma calha.

Lança de Sucção: tubulação com sistema de cabeças cortantes que penetram as rochas duras no fundo dos Rios. Algumas destas lanças são manuseadas por mergulhadores que permanecem por mais de quatro horas submersos. A baixa visibilidade das águas contribui para a incidência de acidentes fatais casuais ou mesmo intencionais provocados por garimpeiros rivais.

O material passa, então, por uma calha concentradora que elimina a lama e a água, o restante é misturado ao mercúrio (Hg) que tem a propriedade de unir-se a outros metais produzindo uma amálgama.

Calha Concentradora: nessas calhas acarpetadas a recuperação do ouro, normalmente, é inferior a 50%. A amalgamação dos concentrados é feita através de misturadores de alta velocidade, bastante ineficientes, que permitem que as partículas finas de mercúrio sejam despejadas nos rios juntamente com os rejeitos de amálgama. O mercúrio vai, então, formando os chamados “hot spots” (pontos quentes), isto é pontos com alta concentração do poluente. O mercúrio metálico inicia, lentamente, seu processo de oxidação aumentando sua solubilidade e tornando-se um poluente da biota aquática.

Posteriormente, para separar o ouro do mercúrio, usa-se o processo conhecido como “queima do amálgama”, onde a liga metálica é submetida a altas temperaturas fazendo o mercúrio voltar ao estado líquido, separando-o do ouro. O preço do mercúrio nos garimpos embora atinja cinco vezes o preço internacional é um reagente considerado relativamente barato tendo em vista que um quilo de Hg pode ser adquirido com apenas um grama de ouro.

-  Garimpo nos Reservatórios das Hidrelétricas

Em 2008, foi liberada atividade garimpeira no Rio Madeira em duas áreas determinadas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e Secretaria de Estado de Meio Ambiente/RO. A primeira ficava a uns 20 quilômetros a montante da Cachoeira do Teotônio e se estendia até as proximidades do Rio Jaci e a outra desde uns 15 quilômetros a montante da Cachoeira do Jirau até a Cachoeira do Paredão. Na época mais de 1.700 requerimentos foram protocolados no DNPM, mas apenas um garimpeiro e duas cooperativas apresentaram licenças ambientais e receberam as 28 permissões para extrair ouro na região. Cerca de duas mil pessoas, 250 pequenas balsas e 70 dragas trabalharam nas duas áreas liberadas antes da inundação dos reservatórios de Santo Antônio e Jirau.

-  Licenciamento do IPAAM

A garimpagem do ouro ao longo do Rio Madeira foi autorizada pelo DNPM após licenciamento do IPAAM. A decisão foi tomada apesar de o Rio ser uma Hidrovia Federal e esta atividade ocorrer, também, na Floresta Nacional de Humaitá e nas suas cercanias. A legalização teve participação da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiental do Amazonas (SDS), que elaborou o “Projeto de Extrativismo Mineral e Familiar do Rio Madeira” incentivando a criação de uma Cooperativa e facilitando a compra de equipamentos (cadinhos ou retortas) que deveriam ser usados para reduzir a poluição com mercúrio.

Cadinhos ou Retortas: o cadinho, ou retorta é constituído por um compartimento onde o amálgama é aquecido por uma tocha ou um leito de carvão incandescente e um tubo condensador resfriado a água. O uso deste recurso permite que 95% do mercúrio das amálgamas de ouro possa ser condensado e novamente usado.

Segundo relatório do IBAMA, o projeto do Governo Estadual não considerou a proibição de o garimpo ser executado nas margens ou barrancos de rios nem limitou o número de bombas de sucção ou de balsas por área. O documento afirma, ainda, que o mercúrio continua a ser usado indiscriminadamente, apesar dos equipamentos disponibilizados pelo Governo Estadual e que o destino dos rejeitos deste metal não foi estabelecido no projeto. Os garimpeiros, segundo o documento, não foram orientados, devidamente, para adquirir os cadinhos (retortas), somente de comerciantes cadastrados pelo IBAMA, como, também, não foram devidamente instruídos sobre a atividade na FLONA Humaitá e no seu entorno.

Podemos afirmar, contrariando a preocupação do IBAMA, que à jusante de Porto Velho não existe nenhum tipo de garimpagem sendo executado nas margens ou barrancos do Rio Madeira. Outro ponto importante, que devemos ressaltar, é o que se refere à violência que, normalmente, impera, nas regiões de garimpo. Como a maioria das dragas é operada por membros das Comunidades, que se conhecem e não raras vezes unidos por laços de família, o aspecto da violência foi praticamente anulado.
No Eldorado do Juma (Nova Aripuanã), o Governo do Estado do Amazonas, atropelando a Constituição Federal, pretende executar um processo semelhante ao do Rio Madeira. O ouro do Juma além de se encontrar no subsolo, propriedade do Governo Federal, está situado em um Assentamentodo INCRA, cabendo, portanto, a um Órgão Federal, no caso o IBAMA, o processo de licenciamento ambiental.

-  Contaminação por Mercúrio

São agressões ao sistema nervoso, comprometimento da visão,
locomoção, surgimento de anomalias. (Biólogo Vanderley Bastos)

O garimpo, além do impacto social relevante, provoca um prejuízo ambiental importante. As margens do Rio são destruídas, o material dragado resulta no assoreamento do leito e o mercúrio, altamente tóxico, afeta a cadeia alimentar da região contaminando os peixes, principal base alimentar da população ribeirinha. Mesmo na comercialização, longe dos garimpos, o mercúrio continua fazendo vitimas. A decomposição térmica da amálgama gera uma “esponja” de ouro contendo 20 g de Hg residual por quilo de ouro. Os compradores de ouro, nas povoações fundem o ouro a ser comprado à vista dos garimpeiros para eliminar as impurezas minerais associadas. O processo desprende o mercúrio residual que contamina a atmosfera do ambiente de trabalho e as imediações do estabelecimento comercial contaminando as pessoas que vivem nas imediações.

Pesquisadores da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), analisaram amostras de peixes, detritos e fios de cabelos dos ribeirinhos. Os exames mostraram que o nível de contaminação por mercúrio é três vezes maior que o permitido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O Hospital de Base de Porto Velho já registrou dezenas de casos de crianças anencéfalas (sem cérebro). A maioria dessas crianças recém-nascidas, com deformidades, é de áreas próximas aos garimpos. O mercúrio pode contaminar o ser humano de duas maneiras: ocupacional e ambiental. A ocupacional está ligada ao ambiente de trabalho, como mineração e indústrias. A contaminação acontece pelas vias respiratórias atingindo o pulmão e o trato-respiratório. A inalação dos vapores de mercúrio acarreta fraqueza, fadiga, anorexia, perda de peso e perturbações gastrointestinais. A contaminação ambiental é provocada pela dieta alimentar, usualmente através da ingestão de peixes, entrando diretamente na corrente sanguínea, afetando o sistema nervoso central. A ingestão de compostos mercuriais provoca úlcera gastrointestinal e necrose tubular aguda. O mercúrio vai progressivamente se depositando nos tecidos, causando lesões graves nos rins, fígado, aparelho digestivo e sistema nervoso central.

Um processo de conscientização e fiscalização rígida é extremamente necessário. No processo de recuperação do ouro, não devem ser lançados resíduos de mercúrio no solo e no leito dos rios e a queima do amálgama deve ser executada em retortas, evitando que o vapor de mercúrio contamine a atmosfera. 

-  Doença de Minamata
    Fonte: Marcello M. da Veiga e Jennifer J. Hinton - Universidade de British Columbia, Canadá e Alberto Rogério B. Silva - ARBS Consultoria Belém-Pará.

A “Doença de Minamata” foi pela primeira vez detectada em 1953, mas somente em 1959, cientistas da Universidade de Kumamoto atribuíram os sintomas ao metilmercúrio consumido através de peixes e de moluscos. De 1932 a 1968 a companhia Chisso produziu acetaldeído, utilizando óxido de mercúrio como catalisador. O metilmercúrio era formado na reação e descarregado (cerca de 400 toneladas) com os efluentes na baía de Minamata. Moradores de Minamata e vizinhanças, que consumiam extensivamente peixes e frutos do mar sofreram as piores consequências desta irresponsabilidade industrial. Até 1997, 10.353 pessoas, das quais 1.246 faleceram, foram certificadas pelo governo japonês como vítimas da “doença de Minamata”.

Sintomas da doença de Minamata nunca foram comprovados na Amazônia, mas constatação de efeitos neurológicos em pessoas que se alimentam frequentemente de peixe com médios a altos níveis de metilmercúrio têm sido reportadas. O metilmercúrio é excretado lentamente pelas fezes (de 1 a 4% por dia) e uma pequena parte pelo cabelo. Normalmente, o nível de metilmercúrio no cabelo é 300 vezes mais alto do que a concentração no sangue. (...) Teores de Hg em cabelo inferiores a 5 e 10 ppm são aceitáveis para não impor nenhum risco ao feto (em caso de grávidas) e ao adulto respectivamente. Infelizmente teores de até 84 ppm Hg foram analisados em cabelos de mães da região garimpeira do Rio Madeira.


-  Produção

As Balsas de Grande Porte trabalham durante todo o ano a uma profundidade de até 45 metros produzindo, mensalmente, uma média de 2 kg de ouro enquanto as Balsas de Pequeno Porte (chamadas na região de Chupadeiras) trabalham, normalmente, no período de estiagem, em torno de seis meses por ano, trabalhando a uma profundidade de, no máximo, 10 metros e produzem mensalmente uma média de 350 gr de ouro.

-  Muitos Sonhos Desfeitos, Poucos Sonhos Realizados

Milhares de pessoas, vindo inclusive de outros Estados, vieram em busca do Eldorado no Rio Madeira. A maioria sucumbiu ao trabalho difícil, o ambiente hostil ou não conseguiu se adaptar às leis selvagens do garimpo abandonando a atividade logo no início. Poucos, mas muito poucos, dos que resistiram, conseguiram juntar ouro suficiente para mudar de vida.

-  Futuro do Garimpo do Rio Madeira
    Fonte: Marcello M. da Veiga e Jennifer J. Hinton - Universidade de British Columbia, Canadá e Alberto Rogério B. Silva - ARBS Consultoria Belém-Pará.

A atividade garimpeira no Rio Madeira e afluentes está com os dias contados, ano a ano a produção diminuiu e é inevitável que a lavra artesanal, com o passar dos anos venha a ser substituída pela industrial como afirmam, no seu excelente artigo, os autores de “O Garimpo de Ouro na Amazônia: Aspectos Tecnológicos, Ambientais e Sociais”.

A tendência de todos os garimpos de ouro é semelhante no mundo inteiro, ou seja, a transformação da atividade artesanal em industrial. À medida que o ouro superficial e de fácil extração for se exaurindo, o garimpeiro tenta a sorte extraindo ouro primário. Sem o domínio técnico, o garimpeiro vê seus investimentos sendo dragados pelos altos custos operacionais. Quando os garimpeiros possuem titulação mineraria, através de concessão (Alvará de Pesquisa), ou permissão (Permissão de Lavra Garimpeira), o passo natural é vender ou se associar com empresas de mineração que possuam competência técnica.



A Vale conseguirá recuperar a segunda posição no ranking mundial?

A Vale conseguirá recuperar a segunda posição no ranking mundial?

Segundo os executivos da Vale a mineradora está tentando voltar a ocupar a posição de segunda maior, que perdeu para a Rio Tinto.
Será que a Vale está fazendo corretamente a sua estratégia e conseguirá recuperar a posição?
Vejam os pontos abaixo que irão lhe ajudar a decidir se essa recuperação será factível:

VALE
RIO TINTO
Orçamento para 2014
Redução de 9,2% para  $14,8  bilhões
Redução de 20% para $11 bilhões
Ampliação da  produção de minério de ferro e investimentos
10% em 5 anos
$2 bilhões em minério de ferro para crescer 25% em 2 anos
Valor de Mercado
$77 bilhões
$100 bilhões
Produção de minério  de ferro 2013
306Mt
290Mt
Produção de minério  de ferro 2014
312Mt
330Mt
Produção de minério  de ferro 2018
450Mt
360Mt
Redução de custos  em 2013
$2 bilhões
$2 bilhões
Previsão orçamento  de 2015

$8 bilhões
Variação da  produção do minério de ferro nos últimos três anos
Zero%
25%
Vendas de ativos  2013
$3,15 bilhões
$3,3 bilhões
Vendas futuras de  ativos
$3,5 bilhões
$1,8 bilhões
Cortes futuros

$450 milhões
Débito 2013
$29.5 bilhões
$22 bilhões
Standard & Poor´s  rating
A-
A-
Estratégia e foco
ferro
Ferro e cobre
Custo minério de  ferro no porto
$22,10/t

Lucro no primeiro  semestre 2013
$6,5 bilhões
$8 bilhões

Como pode ser visto na tabela acima a  similaridade entre as  duas empresas é bastante grande. Ambas estão engajadas em uma estratégia  bastante próxima.
No  entanto, no mercado futuro, a Rio Tinto, que tem uma base de ativos minerais  mais ampla  do que a Vale, com  excelentes ativos de alumínio, cobre e diamantes, parece ter um potencial de  crescimento maior. Somente o minério de ferro da Rio irá crescer 25% nos  próximos 2 anos podendo, inclusive, superar a produção da própria Vale até 2015.  A Vale ainda tem alguns grandes projetos como o Serra Sul, na manga. O corte de  custos da Rio Tinto é bem mais drástico do que o da Vale. Isso implica em  aumento de lucros pois a produção deverá subir e com ela as vendas brutas.
O estudo desses pontos indica que tudo leva a crer que a Vale não irá recuperar a segunda posição tão facilmente.



Se a Vale estivesse adicionando valor aos seus produtos de exportação como o minério de ferro fino e pelotizado que é a maior fonte de receita e que  praticamente não tem nenhum valor agregado, talvez ela pudesse evoluir para a maior do mundo. Do jeito que está ela deverá ficar neste limiar de terceiro/segundo lugar por muito tempo.

Como se forma o ouro? Como são descobertas novas jazidas?

Como se forma o ouro? Como são descobertas novas jazidas?

Esse metal raro e precioso surgiu do mesmo jeito que todos os outros elementos químicos: por causa de uma fusão nuclear. "No período de formação do Sistema Solar, 15 bilhões de anos atrás, núcleos dos átomos de hidrogênio e hélio, os elementos mais simples, combinaram-se a altíssimas temperaturas, dando origem a elementos mais complexos, como o ouro", afirma o geólogo Roberto Perez Xavier, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Na Terra, formada há 4,5 bilhões de anos, o ouro apareceu na forma de átomos alojados na estrutura de outros minerais. Mas a quantidade é muito pequena. Para se ter uma idéia, na crosta terreste - a camada mais superficial do planeta - em cada bilhão de átomos, apenas cinco são de ouro. As jazidas apareceram milhões de anos atrás, criadas pela ação de processos geológicos que modificaram a cara da superfície terrestre, como vulcões e erosões.
O resultado é que o ouro hoje pode ser encontrado e extraído tanto de minas subterrâneas - a até 1,5 quilômetro de profundidade - quanto de minas e garimpos a céu aberto - onde o metal é retirado a apenas 50 metros da superfície - ou mesmo do leito de um rio. Quando uma rocha contendo ouro é encontrada, ela precisa ser tratada quimicamente para que o mineral se separe de outros elementos. "Nas jazidas, a concentração de ouro é de apenas alguns gramas por tonelada extraída", afirma Roberto. Não é à toa que a produção mundial é pequena: cerca de 2 500 toneladas por ano. Para encontrar novos depósitos de ouro, os geólogos precisam de um arsenal de informação. "Primeiro, imagens de satélite apontam, no terreno, ou falhas geológicas ou a presença de certos minerais e rochas que indicam a ocorrência de uma jazida. Depois, é preciso fazer um mapeamento geológico da região, com coleta de amostras de rochas, solo e sedimentos para analisar as áreas que podem ter o metal. Se houver alguma certeza, é hora de furar o terreno. Aí, uma boa dose de sorte também ajuda", diz Roberto.

A febre do ouro em Serra Pelada

A febre do ouro em Serra Pelada
Guto da Costa tinha pouco dinheiro no bolso e muita esperança em 1983. Havia completado
18 anos, e “de maior”, sonhava em ficar rico. Andava de namorico com a filha de um homem
“bem de vida”, que não via com bons olhos aquele romance ameaçando entrar sem pedir
licença na própria casa. Com os brios feridos, o coração em chamas, o corpo afogueado,
Guto olhou para a imensidão à frente, observou atônito, o vai e vem de homens embrutecidos
e de poucas palavras, respirou fundo e disse a si mesmo. “É aqui que vou ‘enricar’ e voltar pra
casar com ela”. Vinte e nove anos depois, Guto é dono de uma pequena venda em uma vila
pobre e empoeirada. Ri dos arroubos da juventude. Nunca mais voltou para casa. Nem saiu do
garimpo de Serra Pelada. A história poderia ser um enredo ficcional para uma novela ou filme.
Mas é real. Como reais são as histórias de milhares de ex-garimpeiros de Serra Pelada. O
mergulho em apenas uma delas é mais rico do que qualquer roteiro cinematográfico, mas o
cinema insiste em tentar capturar a quase inatingível essência do mais famoso garimpo de
ouro do Brasil.
A empreitada mais recente será a que unirá Wagner Moura, um dos mais talentosos atores de
sua geração, ao diretor Heitor Dhalia. O filme terá como pano de fundo a região de Serra
Pelada. A história se passa em 1978, quando dois amigos saem do Rio de Janeiro em
direção ao Pará, com a intenção de encontrar ouro em Serra Pelada, mas a cobiça pelo poder
e pela riqueza vai abalar a relação da dupla. Ao divulgar o projeto, Dhalia disse que há muito a
ser explorado nessa história, que marcou uma época no Brasil e ainda não foi contada nos
cinemas.
Os garimpeiros não tinham noção dessa grandiosidade épica quando fincaram pés e mãos no
barro da serra em busca de ouro. Não pensavam em ser protagonistas ou coadjuvantes de
nada. Sonhavam apenas com o metal que mudaria as próprias vidas. Cinema, por exemplo,
só os do telão meio encardido que exibia uns filmes de faroeste. “Aqui tinha o telão do cinema
todo dia, e sempre tinha um artista por aqui fazendo show. Aparecia uns circos de vez em
quando. Os filmes que passava no cinema, os que os garimpeiros mais aplaudia, depois
passava de novo”, lembra Almir Ferreira, 71 anos num português atropelado.
Quando Serra Pelada chamou a atenção do mundo, o cinema veio atrás. “Era nosso
divertimento”, diz Ferreira. “Quando Os Trapalhões vieram aqui, se melaram tudo de
melechete (lama proveniente da lavagem da terra). Aí enchia o saco de folhas, saía subindo as
escadas na pedra preta que nem os garimpeiros. Mas o nosso era cheio de terra. Eu achei
aquilo muito bom, pra você vê como nós era importante”.
“Os Trapalhões na Serra Pelada” é um filme de 1982, dirigido por J.B. Tanko. A história é
simples. Os amigos Curió, Boroca, Mexelete e Bateia aventuram-se em busca de ouro no
garimpo de Serra Pelada. A mina é controlada pelo estrangeiro Von Bermann, cujas ordens
são executadas pelo capanga Bira. Sedento por poder, o gringo contrabandeia o ouro e
deseja apoderar-se das terras do brasileiro Ribamar, que se recusa a fazer negócio antes da
chegada do filho Chicão. Mesmo sendo uma típica comédia ao estilo de Renato Aragão e
companhia, a sinopse do filme apresenta as possibilidades de discussão a respeito da forma10/12/13 Diário do Pará- A febre doouroemSerra Pelada
www.diariodopara.com.br/impressao.php?idnot=154688 2/3
colonizadora que caracteriza a região. O capital estrangeiro dominando o local onde homens
simples tentam construir sonhos a partir de uma realidade difícil.
“Sabe qual é a história mais bonita, seu moço? É quando era só nós, os garimpeiros. O cara
saía por dentro da mata, com saco de ouro nas costas, com um 38 do lado e mais uns quatro
companheiros. Um respeitava o outro, mas não tinha muita conversa”, lembra Luiz Fonseca
Oliveira, 65 anos, enquanto senta num banco rústico fugindo do sol. “Quando tirei a carteira de
garimpeiro fiquei orgulhoso. Me senti gente importante, cidadão mesmo”, ri, olhando para o
boné amassando nas próprias mãos.
Novos Colonizadores
Saber que Serra Pelada e outros pontos da Amazônia voltaram a interessar ao cinema
nacional desperta reações diferentes. Como os próprios garimpeiros, a Amazônia será
apenas cenário ou protagonista nessa relação?
“A região nunca saiu de foco, o que acontece é que os interesses dos ‘colonizadores’ de
nossa sociedade moderna mudam de acordo com o que os convém em dado momento de
espaço e tempo”, analisa o professor e videomaker Guto Nunes. “Do ponto de vista
profissional pode ser uma boa resposta, desde que eles utilizem em suas produções,
produtoras independentes e mão-de-obra profissional e a força braçal e intelectual do nosso
povo”, diz.
Diretora do documentário “Serra Pelada: Esperança não é sonho”, Priscila Brasil não gosta
quando falam em “redescoberta amazônica”. “A expressão é cheia de uma submissão da qual
eu não gosto. Vários já se inspiraram nesse universo, cada um de um jeito, cada um na sua
lógica. Uns enxergam a selva de uma maneira mais brutal, outros de uma maneira mais
contemplativa, outros veem quase um zoológico gigante, tipo Simba Safari, que só falta rolar
ar condicionado”, critica.
A supremacia do olhar estrangeiro
“É preciso mais que um dia para entender a história dos garimpeiros”, diz, com ar de quem viu
muito, Pedro Bacabal, 53 anos. Homem de riso fácil que zomba do próprio destino, Bacabal
chegou ao garimpo com 23 anos. Ganhou e perdeu dinheiro. Batendo com o cabo de uma
enxada no chão, como a pontuar as palavras, enfatiza que em Serra Pelada os homens todos
deixaram escorrer a juventude. “Como é que vou explicar isso ao senhor?”, questiona-se. “Eu
acho que mesmo na melhor das produções ainda existe um olhar estrangeiro, os
protagonistas são de fora, uma lacuna que só vamos talvez superar com nossas produções
locais. O que me preocupa é se reforçarem o olhar do exótico, do coitadinho. Isso sempre me
irrita”, diz Segtowick.
“Tem quem ache que a Amazônia tem vocação para cenário de filme - mas o cenário
exuberante é um coadjuvante mal pago, infelizmente”, diz a jornalista, produtora e fotógrafa
Maria Christina. “Embora eu deva concordar que a história ainda por ser contada deve ser
efetivamente contada, seja em filmes ou obras literárias, o melhor era mesmo que nos
deixassem em paz. Ilusão, claro, porque a região precisa de divisas, e minha indignação com
toda a exploração que sofremos (cuja conta vamos pagar ad infinitum) me faz desejar que
fôssemos invisíveis”, complementa.
Terra de feitos épicos (e homens invisíveis)
Invisibilidade social parece ter sido sempre a marca dos garimpeiros de Serra Pelada.10/12/13 Diário do Pará- A febre doouroemSerra Pelada
www.diariodopara.com.br/impressao.php?idnot=154688 3/3
Mesmo que tenham produzido feitos épicos. “O garimpo tirou uma serra de um lado e colocou
em outro. Isso não é pra qualquer um”, bate no peito Manoel Martins de Oliveira, um homem
que chegou ao garimpo em dezembro de 1980. Dizia-se que o ouro de Serra Pelada pagaria
a dívida externa brasileira. Mais de três décadas depois, Antonio Bernardo, o Godô, luta aos
64 anos, contra uma hanseníase que lhe insiste em pregar peças. A última foi uma ferida no
rosto. O curativo imenso esconde a chaga. Pobreza e doença se tornaram companheiras dos
ex-garimpeiros. Juntam-se à saudade, a uma melancolia resignada, a um bom humor de quem
viu e viveu boas aventura e à incerteza dos dias que restam.
“A gente fez parte do Brasil. Eu sei disso”, diz o ex-garimpeiro que só atende pelo nome de
Nick. É o pseudônimo que ele descobriu para dar vazão ao lado artista. Nick é pintor. Exibe os
quadros com orgulho. A febre do ouro passou. Para ele não volta mais. Não?
Nos fundos da Loja Kaleny, bem no centro da vila de Serra Pelada, duas fotos chamam a
atenção. Numa está a clássica imagem do formigueiro humano que foi o garimpo nos anos 80.
Ao lado, uma foto com dois homens, sujos de lama da cabeça aos pés, outra imagem
bastante difundida de Serra Pelada. É quase impossível reconhecer que o rapaz de 23 anos
que posa com ar de esperança na foto, em um dia perdido de 1985, seja o mesmo
proprietário da loja que vende de tudo um pouco. Cláudio Moraes tem hoje 49 anos e criou as
duas filhas na vila de Serra Pelada. “Não enriqueci, ganhei problema de hérnia de disco, de
coluna, mas sei que fiz parte de uma história bonita do Brasil”, diz. Cláudio Moraes está
relativamente estabilizado. Não precisa diretamente do ouro do garimpo, mas quem disse que
deixou de sonhar em voltar à ativa? “Daqui não arredo pé. Se esse garimpo voltar a dar ouro
de novo, quero estar aqui”, afirma. Alguém registraria a cena? (Diário do Pará)

A mineração está chegando na Lua?

A mineração está chegando na Lua?
A Moon Express uma empresa americana baseada em Las Vegas está fabricando um robô do tamanho de uma mesa que deverá navegar na superfície da Lua. O robô será movido a peróxido de hidrogênio (água oxigenada) e por células fotoelétricas. A Moon Express planeja ter o robô na superfície da Lua ainda em 2015 e ganhar  o prêmio de trinta milhões de dólares oferecido pelo Google ao primeiro robô financiado por uma entidade privada a andar em solo lunar.
A ideia é usar esse e outros robôs para a busca de recursos minerais na Lua sendo a platina um dos elementos a serem prospectados segundo Bob Richards o CEO da Moon Express.
È muito mais interessante e lucrativo usar esses robôs para o turismo do que para a prospecção e mineração lunar. Até onde se sabe grande parte da Lua é composta por rochas máficas que, possivelmente, foram ejetadas da própria Terra em um choque cataclísmico com um corpo de grandes proporções. A prospecção e lavra de minerais do grupo da platina na Lua é um sonho com um duvidoso retorno econômico. Aqui na Terra temos gigantescos complexos máfico-ultramáficos com imensos recursos de platinóides em vários locais da África do Sul, Canadá e Rússia. Um bom exemplo é o projeto de platina e níquel que o bilionário Bob Friedland está investindo, na parte norte do Complexo máfico-ultramáfico do Bushveld, chamado de Plat Reef. Jazimentos como o Plat Reef é o que possivelmente a Lua terá, mas com custos muitíssimo mais elevados do que os nossos.
A mineração na Lua talvez nunca seja viabilizada. Pelo menos até que a humanidade decida e legisle sobre o assunto.
Contanto que não criem um Marco Regulatório para a Mineração Lunar espelhado no nosso modelo tupiniquim, subnutrido, que anda tropeçando, aos trancos e barrancos, nos bastidores do Congresso...