Matéria-prima do crescimento
Previsões apontam investimentos de US$ 470 bilhões no setor de
mineração brasileiro durante o período de 2008 a 2015. Um número
recorde, que reforça a contribuição das empresas canadenses e nacionais
para a expansão acelerada do mercado
Ferro, cobre, níquel, alumínio, bauxita, ouro, fosfato, zinco, nióbio. A
variedade de minérios encontrados em solo brasileiro já seria
suficiente para justificar os números de um dos setores que atualmente
mais crescem no país. A quantidade de investimentos e de projetos
colocados em prática, no entanto, comprova o boom da produção mineral
nos últimos anos, que, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração
(Ibram), correspondeu a R$ 46 bilhões, em 2007, representando um aumento
de 21% em relação aos R$ 38 bilhões obtidos em 2006. Se, além da
extração, os valores da indústria e da transformação mineral forem
considerados, o total chega a R$ 126 bilhões, ou seja, 9,5% maior do que
os R$ 115 bilhões registrados no ano anterior.
“Desde 2001, presenciamos o crescimento do setor em decorrência do
aumento da demanda mundial, principalmente da China, Índia, Coréia,
Alemanha e do Japão”, afirma Paulo Camillo Vargas Penna, presidente do
Ibram. Na China, por exemplo, a busca por minérios – especialmente o de
ferro – é resultado do forte processo de urbanização e de
desenvolvimento industrial do país. “A previsão é a de que, nos próximos
25 anos, cerca de 800 milhões de chineses migrem da área rural para a
urbana”, explica.
A maior parte da produção nacional é, portanto, destinada ao comércio
exterior. Das 350 milhões de toneladas de minério de ferro produzidas em
2007, apenas 20% – ou cerca de 70 milhões – permaneceram no mercado
interno. O produto mais exportado, porém, foi o ferro-nióbio, que
correspondeu a 76 mil toneladas no ano passado – o equivalente a 95% da
produção mundial. Deste total, mais de 71,8 mil toneladas desembarcaram
em terras estrangeiras, gerando para o Brasil uma receita de US$ 1,06
bilhão. A perspectiva é a de que o crescimento permaneça acelerado nos
próximos anos. “As previsões indicam que, de 2008 a 2012, os
investimentos cheguem a US$ 47 bilhões, quase 90% acima do previsto no
ano passado, que era de US$ 25 bilhões para o período 2007–2011”, afirma
Penna.
Em meio a um cenário positivo, a contribuição das empresas estrangeiras –
em especial das canadenses – para o desenvolvimento do setor ganha
destaque. “Um exemplo é a Kinross, que este ano deve se tornar a maior
produtora de ouro do Brasil”, considera Penna, ao citar ainda a atuação
das junior companies – pequenas empresas que geralmente contam com um
ativo mineral. “Essas companhias desenvolvem pesquisas de identificação
de reservas para vendê-las a companhias maiores”, completa.
Décimo terceiro produtor mundial de ouro, com aproximadamente 47
toneladas, o Brasil exportou, em 2007, 36 toneladas do minério – um
aumento de 6,5% em relação a 2006 –, sendo Estados Unidos (92%), Reino
Unido (6%), Canadá (2%) e Emirados Árabes (2%) seus maiores
importadores. Posicionada entre as principais produtoras de ouro do
país, a Kinross atua em território nacional desde 2003, depois de
adquirir ações da TVX Gold, de assumir o controle acionário da Rio
Paracatu Mineração (RPM), em Minas Gerais, e de comprar 50% da Mina de
Crixás, em Goiás, que hoje produz cerca de 6 t/ano do minério.
A empresa pretende ampliar sua presença no Brasil investindo US$ 540
milhões no Projeto Expansão – na Mina Morro do Ouro –, que visa
triplicar a produção da RPM de 5 t/ano para 15 t/ano, a partir de
setembro.
Assim como a Kinross, a Yamana Gold aposta no potencial do país,
contando, atualmente, com as unidades Serra da Borda Mineração e
Metalurgia, em Mato Grosso; Mineração Maracá, em Goiás; e Jacobina
Mineração e Mineração Fazenda Brasileiro, na Bahia. “O Brasil apresenta
um parque industrial capacitado e competitivo, grandes reservas e uma
boa relação entre governo e setor”, avalia Arão Portugal,
vice-presidente de administração da empresa, ao revelar os motivos que
atraíram, por exemplo, investimentos de US$ 177 milhões na Mineração
Maracá – cuja produção comercial de concentrado de cobre com ouro
contido foi declarada em 2007 – e de US$ 60 milhões na Serra da Borda.
“Em 2008, o orçamento mundial da Yamana é de US$ 83 milhões, sendo 50%
do valor aplicado no Brasil”, conta Portugal, ao destacar, além dos
projetos de ampliação, a exploração de uma nova mina: a Pilar de Goiás.
“Até o fim do ano, esperamos chegar a 1,3 milhão de onças de ouro, com a
meta de aumentar, em 2012, a produção para 2,2 milhões”, completa.
Entre os investimentos previstos para até 2012, mais de US$ 1 bilhão
será aplicado na exploração do ouro, segundo o Ibram, que destaca a
atuação da junior company Jaguar Mining – por meio da subsidiária
Mineração Serras do Oeste (MSol) – nas minas de Paciência e do Pilar, em
Minas Gerais. “Temos projetos em outras regiões do estado e no Ceará”,
conta Adriano Nascimento, vice-presidente de exploração e engenharia da
MSol. Cleber Macedo, diretor-financeiro da empresa, informa que os
recursos, em 2007, foram de US$ 73 milhões – 32% a mais do que o
registrado em 2006.
“Formamos uma joint venture com a Xstrata no Ceará e adquirimos áreas da
Vale na região de Caeté”, explica, ao revelar a venda de 67 mil onças
de ouro no mercado externo no ano passado – um aumento de 91% em relação
a 2006. “Até 2012, o recurso previsto é de US$ 560 milhões. Cerca de
US$ 140 milhões serão investidos em 2008, pois esperamos vender 150 mil
onças de ouro”, acrescenta.
Com uma produção tão acelerada quanto a do ouro – correspondente a 200
mil toneladas em 2007 –, o cobre é um dos metais básicos explorados pela
Aura Minerals, que hoje avalia a viabilidade da jazida Serrote da Laje,
em Alagoas. “Pretendemos iniciar a produção no local até 2011. Além
deste projeto, realizamos pesquisas em outras 30 regiões de Alagoas”,
diz Carlos Bertoni, managing director da empresa. No ano passado, a
Serrote da Laje exigiu investimentos de R$ 17 milhões – 456% mais do que
em 2006. “Em 2008, os números devem chegar a R$ 25 milhões”, adianta
Bertoni, ao revelar as ações de preservação ambiental na região.
“Minimizamos as possibilidades de desmatamento, atingindo somente as
áreas essenciais para a atividade, além de reaproveitar todo o material
suprimido”, acrescenta.
Fonte primária – A existência de diamantes em fonte primária –
originários dos quimberlitos – tem atraído investimentos em pesquisas da
Brazilian Diamonds, responsável pela descoberta do minério em São Roque
de Minas, em Minas Gerais. “Os quimberlitos requerem grandes
investimentos em pesquisa, já que apenas uma a cada mil rochas apresenta
o minério. Hoje, estamos em processo de licenciamento, visando instalar
uma mina no local”, informa Érico Ribeiro, diretor-administrativo e
financeiro da empresa no Brasil. Além do Projeto Canastra 1, a companhia
dedica-se a outros estudos.
Além de diamantes, a anglo-australiana Rio Tinto é reconhecida por sua
atuação nos segmentos de alumínio, cobre, minério de ferro, minerais
energéticos (carvão e urânio) e industriais (bórax, dióxido de titânio,
sal e talco). No Brasil desde 1971, a empresa agora investe na
capacidade da mina em Corumbá, em Mato Grosso do Sul, depois de anunciar
recursos de US$ 2,15 bilhões para expandir a produção de minério de
ferro – que deverá saltar dos 2 milhões de t/ano para 12,8 milhões de
t/ano em 2010 – chegando futuramente a 23,2 milhões de toneladas. O
objetivo é ampliar sua participação em mercados da América Latina e no
Oriente Médio. No segmento de alumínio – que, segundo a Associação
Brasileira do Alumínio (Abal), terá um consumo doméstico de produtos
transformados de mais de um milhão de toneladas em 2008 –, a companhia
conta com a atuação da Rio Tinto Alcan, após a aquisição da canadense
Alcan por US$ 3,8 bilhões, em 2007. Unidas, as duas potências ganharam
uma capacidade produtiva de 4,4 milhões de t/ano, impulsionando os
números mundiais do mercado.
Aliada aos recordes em investimentos, a atuação das mineradoras
nacionais contribui para consolidar a imagem do país no exterior. Este é
o caso da Vale, que, desde a aquisição da Inco, em 2006, aplica seu
know how no Canadá por meio da Vale Inco. “Quando adquirimos a Inco,
projetamos a tonelada do níquel a US$ 9 mil/t. Hoje, ela está em US$ 18
mil/t, o dobro do previsto. Este foi, portanto, um negócio que valeu a
pena”, diz Roger Agnelli, presidente da Vale, ao destacar que os
recursos de US$ 59 bilhões programados para até 2012 serão elevados nos
próximos meses. A meta é alavancar a produção de minérios, como o carvão
e o cobre. Para o carvão, por exemplo, a alternativa é dar início à
fase 2 do projeto em Moatize, em Moçambique, que poderá elevar a
produção de 15 mil toneladas para 40 mil toneladas em 2012, enquanto
para o cobre é possível dobrar o projeto de Salobo, no Pará, de 100 mil
toneladas para 200 mil toneladas anuais.
“Já consolidamos 12 joint ventures com empresas juniores e majors,
formando um portfólio de 68 projetos nos países onde atuamos”, afirma o
diretor de exploração mineral da Votorantim Metais (VM), Jones Belther,
ao explicar a presença da empresa na Bolívia, no Peru, na Argentina, na
Colômbia e no Canadá. “Nossa meta é descobrir novos depósitos de zinco,
níquel, ferro e carvão”, esclarece. No Brasil, a VM atualmente analisa a
viabilidade de Montes Claros de Goiás (níquel), no oeste de Goiás, e de
Aripuanã (zinco e conteúdos subordinados de cobre, chumbo, prata e
ouro), no noroeste de Mato Grosso, com produção estimada para 2011 e
2012, respectivamente, entre outros projetos. “O investimento previsto
para 2008 é de R$ 150 milhões, sendo R$ 107 milhões destinados ao
Brasil”, acrescenta o executivo.
A aquisição, em julho, de metade da produção de concentrado de níquel da
australiana Mirabela do Brasil por US$ 1 bilhão impulsionará a produção
de Fortaleza de Minas (MG), que passará das atuais 6 mil t/ano para 18
mil t em 2009, enquanto o projeto de Bongará, no Peru, – viabilizado por
meio de joint venture com a canadense Solitario Resources – absorverá
quase R$ 24 milhões, em 2008. Nos demais países, a VM busca novas
oportunidades de negócios. “O investimento no Canadá este ano é de US$ 2
milhões, e, para os próximos anos, os planos são de US$ 10
milhões/ano”, diz Belther.
Tendo por acionistas a Vale e a BHP Billiton, a Samarco Mineração, por
sua vez, está voltada para a lavra, o beneficiamento, o transporte, a
pelotização e a exportação de minério de ferro. O principal produto da
companhia – que mantém a unidade industrial de Germano, em Ouro Preto e
Mariana (MG), e a de Ponta Ubu, em Anchieta (ES) – é a pelota de minério
de ferro, exportada para o Oriente Médio e a África (23%); o Japão, a
Malásia, a Indonésia e Taiwan (22%); a China (21%), a Europa (20%) e as
Américas (14%). “Para aumentar a produção em 54%, inauguramos um
mineroduto de 398 quilômetros, capacitado para transportar 16 t/ano de
polpa do minério para o Espírito Santo. Além disso, construímos outra
usina de concentração, na unidade em Mariana, que permite processar 23,5
milhões de t/ano. Os investimentos foram de R$ 3,1 bilhões, incluindo a
usina no Espírito Santo”, conta Ricardo Vescovi, diretor de operações
da Samarco.
Ao abranger desde a extração do minério de ferro até a sua transformação
em produtos como o ferro gusa e o aço, a MMX Mineração e Metálicos – do
Grupo EBX – também é um dos destaques nacionais do setor, representada
pelas unidades MMX Corumbá, MMX Amapá e MMX Minas-Rio. Recentemente, a
companhia anunciou a venda do controle do capital da IronX – subsidiária
que controla o projeto de minério de ferro Minas-Rio e o sistema de
minério de ferro Amapá – para a Anglo American, em uma operação avaliada
em mais de R$ 8 bilhões.
Estudos de viabilidade – Mais do que acelerar a produção, os
investimentos no setor têm gerado oportunidades para as consultorias e
prestadoras de serviço, impulsionando ainda mais a presença canadense no
Brasil. Entre elas, a Minerconsult Engenharia – pertencente ao grupo
quebequense SNC-Lavalin – elabora estudos de viabilidade para empresas
como Vale, Anglo American, Samarco e Kinross, incluindo todas as fases
de engenharia e construção. “Atuamos nas modalidades EPCM – Engineering,
Procurement and Construction – e Alliance, que consiste na formação de
um time integrado com o cliente, disponibilizando a expertise técnica da
SNC-Lavalin”, afirma Paulo Afonso Resende, diretor-técnico da
Minerconsult, ao citar que os procedimentos de engenharia têm o apoio de
modernas ferramentas. “Utilizamos a tecnologia 3D e programas de gestão
integrada, incluindo módulos de informação, planejamento, elaboração e
controle de orçamentos e gestão de suprimentos”, informa.
Fundado em Toronto, o Grupo Golder aplica sua experiência no país desde
1998, por meio da subsidiária Golder Associates Brasil. A equipe de
engenheiros, geólogos e cientistas ambientais, segundo Eduardo
Chapadeiro, gerente da área de ciências ambientais, oferece assessoria
em monitoramento ambiental, controle de emissões atmosféricas,
investigação de contaminação de solo e de água subterrânea, planos de
fechamento de minas, entre outros. “Desenvolvemos para a Kinross
projetos de reabilitação e revitalização do Córrego Rico, em Paracatu”,
exemplifica.
Em engenharia, os destaques são os estudos de utilização de novas
tecnologias de manuseio e a disposição final de rejeitos produzidos em
plantas de beneficiamento de minérios.
Atuando no Brasil nas áreas de mineração e metalurgia, a Hatch também
opera mundialmente nos segmentos de energia e infra-estrutura.
“Oferecemos conhecimento sobre o beneficiamento dos minérios ao processo
de metalurgia para metais ferrosos e não-ferrosos, incluindo a
estruturação de empreendimentos de grande porte – acima de US$ 1 bilhão –
para áreas como infra-estrutura de minas, plantas metalúrgicas e a
logística de transporte dos minérios”, explica Flavio Galvão, diretor da
unidade de negócios Base Metals, ao citar o desenvolvimento de estudos
de viabilidade, a elaboração de programas de engenharia e as construções
de plantas. “Todos os projetos contam com ações de preservação
ambiental integradas à sustentabilidade e às necessidades da
comunidade”, esclarece.
Distribuidora das empresas canadenses CME Blasting & Mining
Equipment e HLS Hard Line Solutions, a CME do Brasil oferece às
mineradoras tecnologia em forma de equipamentos que geram mais
eficiência e produtividade. “A CME Blasting fabrica afiadoras de bits –
ferramentas de perfuração de rocha – e a HLS desenvolve controles
remotos e sistemas de comunicação que dão mais segurança aos operadores e
permitem monitorar as minas a distância, por meio de sensores”,
esclarece o diretor-comercial, Fernando Lamêgo Duarte.
Além de consultoria, o crescimento do setor tem ampliado a atuação dos
escritórios de advocacia. Pedro Garcia, especialista em direito
minerário, societário e antitruste do Veirano Advogados, registra a
participação do escritório em cerca de 40 processos de aquisição de
mineradoras, além de arrendamento de direitos minerários, estruturação e
financiamento de projetos de pesquisa e lavra e assessoria no
lançamento de ações no país e no exterior. “Os clientes estrangeiros
precisam de orientação específica, uma vez que a legislação de mineração
no Brasil é altamente complexa”, explica.
Affonso Aurino Barros da Cunha, sócio na área de mineração do Tozzini
Freire, destaca o respeito das mineradoras estrangeiras pelos preceitos
legais do país.
“Isso pode ser vital, principalmente para as empresas recém-chegadas e com projetos em áreas muito remotas”, analisa.
O escritório oferece desde suporte em direito minerário até o apoio em
operações de aquisição. “Para companhias de pequeno e de médio porte
fornecemos serviços de auditoria de títulos minerários e de projetos em
geral – como questões ambientais, de energia e de logística”, completa.
“Em razão do aquecimento do mercado nos últimos anos, várias companhias
estrangeiras têm procurado oportunidades no país, especialmente as
junior companies”, diz Carlos Vilhena, sócio responsável pela área de
mineração do Pinheiro Neto Advogados, ao considerar a geologia e a
capacitação profissional como fatores atrativos. “O Brasil dispõe de uma
oferta de serviços e de equipamentos de altíssima qualidade”,
acrescenta.
A aquisição de 49% de participação na MMX Minas-Rio pela Anglo American,
no valor de US$ 1,15 bilhão, é um dos exemplos recentes da atuação do
escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados. “Na segunda fase
de negociações, temos assessorado a Anglo American na aquisição do
controle acionário da IronX, que detém 51% do projeto de minério de
ferro da Minas-Rio e 70% do projeto do Amapá”, conta a advogada Maria
Cecília Cury Chaddad, ao considerar, ainda, a assessoria prestada ao
Credit Suisse e ao Pactual na oferta pública inicial de ações da MMX, em
2007. Umas das tendências, por sinal, é a consolidação de ativos.
Segundo Garcia, do Veirano Advogados, as informações divulgadas pelas
principais empresas de auditoria indicam que as fusões e aquisições no
setor, nos últimos anos, superaram os US$ 150 bilhões. Maria Cecília, do
Machado Meyer, por sua vez, destaca a verticalização da cadeia
produtiva, em que as empresas siderúrgicas – visando ao aumento de
competitividade na produção – buscam o acesso direto aos insumos. “A
aquisição de minas pertencentes à J. Mendes pela Usiminas ilustra bem
essa situação”, cita, ao indicar um dos movimentos futuros deste
mercado.