sábado, 3 de maio de 2014

Diamante: Ellendale 4, o retorno

Diamante: Ellendale 4, o retorno
Ellendale 4 é um dos primeiros lamproitos diamantíferos descobertos na história da geologia. Esses lamproitos foram descobertos na região de Kimberley no Oeste da Austrália. Logo após foi feita a descoberta do maior depósito de diamantes do mundo o lamproito Argyle.
Ellendale entrou em produção, mas em 2009 a mina foi paralisada pela sua dona a Gem Diamonds. No entanto, graças aos seus diamantes extraordinários e as boas perspectivas futuras, Ellendale foi vendida, em 2013, para junior australiana Kimberley Diamonds que agora vai reativá-la.  A produção anual prevista será de quase 800.000 quilates  por ano no Distrito.
Uma longa história para um dos marcos da geologia do diamante.

As pedras no caminho

As pedras no caminho

Minerais encontrados pela primeira vez no Brasil já são 54
Matioliíta
“Nasceu!”
Daniel Atencio disparou um e-mail com esse título no dia 2 de novembro de 2010 para comunicar, como ele explicou em seguida, “o nascimento de minha décima segunda filha, carlosbarbosaíta, que veio fazer companhia a chernikovita, coutinhoíta, lindbergita, matioliíta, menezesita, ruifrancoíta, footemineíta, guimarãesita, bendadaíta, brumadoíta e manganoeudialita”. Professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP), Atencio tinha acabado de receber uma mensagem da Associação Mineralógica Internacional aprovando seu pedido de registro do novo mineral, o 54o encontrado pela primeira vez no Brasil e sem registros em qualquer outro país. Novas espécies de minerais, chamadas minerais-tipo, aparecem agregadas a minerais de valor comercial, as gemas, como topázio e turmalina, comuns em Minas Gerais. Só duas gemas, porém, o crisoberilo e a brazilianita, tiveram o registro inicial feito no país.
Novos minerais exibem composições químicas ou arranjos atômicos inusitados, inicialmente sem aplicações comerciais. São encontrados com frequência em rochas ígneas conhecidas como pegmatitos, formadas nas últimas etapas da cristalização do magma no interior da Terra. Das primeiras fases do resfriamento de um magma, resultam rochas e minerais mais simples e homogêneos. À medida que o magma cristaliza, os elementos químicos mais raros formam uma espécie de sopa residual. Em um segundo momento, esse líquido residual se solidifica e dá origem aos pegmatitos, muitas vezes ricos em fosfatos. No Brasil, uma das áreas mais ricas em pegmatitos – e, portanto, em novas espécies de minerais – é o leste de Minas. Em Divino das Laranjeiras, um dos municípios dessa região, foram encontradas quatro, incluindo a atencioíta, mineral marrom caracterizado pelo russo Nikita Chukanov, e a brazilianita, uma gema de cristais amarelo-esverdeados. Da vizinha Galileia saíram 10 minerais novos.
Desde dezembro de 2006, quando saiu de uma pedreira vizinha a um campo de futebol do município de Jaguaraçu, leste de Minas, a carlosbarbosaíta fez um percurso que mostra como encontrar novas espécies de minerais combina pa­ciência, amizade e muita colaboração entre especialistas não acadêmicos e acadêmicos. Luiz Menezes, engenheiro de minas, colecionador e comerciante de minerais que coletou o que lhe parecia ser um novo material, fez as primeiras análises em um microscópio eletrônico da Universidade Federal de Minas Gerais. Como não pôde ir adiante, mandou sua amostra para a USP. Atencio examinou-a por raios X, confirmou que se tratava de uma espécie nova de mineral, mas também não conseguiu avançar: os cristais de 50 x 10 x 5 milésimos de milímetro eram minúsculos demais, dificultando as análises. Pela mesma razão, durante quatro anos, pesquisadores da USP de São Carlos, do Canadá, da Rússia e dos Estados Unidos que entraram na história avançavam pouco, até que, em abril de 2009, Mark Cooper, da Universidade Manitoba, Canadá, conseguiu um equipamento de raios X que finalmente completou as análises, elucidando a estrutura atômica do mineral, cujos cristais formam longas agulhas ricas em óxido de urânio e nióbio.
A pedido de Menezes, Atencio escolheu o nome para o novo mineral, em homenagem a Carlos do Prado Barbosa, engenheiro químico e colecionador de minerais falecido em 2003 que participou da identificação da bahianita, reconhecida como novo mineral em 1978, e da minasgeraisita, de 1986. Geó­logos vivos também são homenageados, embora, como os biólogos, não possam pôr o nome deles próprios em espécies novas que descobrirem.
A menezesita, mineral rico em bário, zircônio e magnésio, ganhou esse nome em reconhecimento ao trabalho de Menezes, que mora em Belo Horizonte e vive enviando coisas interessantes para geólogos. Reconhecida em 2005 e publicada em 2008, a menezesita apresenta uma estrutura atômica similar à de um composto que havia sido sintetizado em 2002 para combater o vírus causador da Aids.
A luz dos minerais
A coutinhoíta, mineral amarelo como o enxofre, um silicato de urânio e tório, que Atencio e Paulo Anselmo Matioli, geógrafo formado pela Universidade Católica de Santos, trouxeram de Galileia, Minas, é outro exemplo de gratidão aos pioneiros – neste caso, a José Moacyr Vianna Coutinho, professor da USP que, no final dos anos 1950, ao voltar da Universidade de Berkeley, Estados Unidos, disseminou no Brasil o uso da microscopia polarizadora, que indica o desvio da luz e, a partir daí, as estruturas atômicas, facilitando a identificação de minerais no Brasil. Como resultado, ele participou da caracterização de nove dos 16 novos minerais brasileiros identificados nos últimos oito anos, incluindo a carlosbarbosaíta. “Ajudo sempre que posso”, diz Coutinho, aos 86 anos, ainda assíduo em sua sala no Instituto de Geociências da USP.
“Coutinho, além de um olhar fantástico no microscópio, tem uma habilidade imensa para desenhar cristais e orientações ópticas dos minerais”, diz Atencio, mostrando os desenhos de artigo de 1999 em que eles e outros colegas descreveram a hainita, de Poços de Caldas, na divisa de Minas com São Paulo. Em outro canto da estante de metal estão as amostras de sílex que Atencio coletou aos 10 anos de idade de uma obra próximo à sua casa em São Bernardo do Campo, em um episódio que o fez escolher mais tarde ser geólogo.
Duas por ano
Muitos minerais novos são encontrados em apenas um lugar, mas um mineral avermelhado com um dos nomes mais difíceis de pronunciar, tupersuatsiaíta, já tinha sido identificado na Groenlândia e na Namíbia antes de 2005, quando Atencio, Coutinho e Silvio Vlach, também da USP, relataram que o haviam encontrado em Poços de Caldas. Às vezes, a descrição oficial de uma nova espécie de mineral concilia descobertas paralelas. É o caso da bendadaíta, mineral de cristais alongados esverdeados encontrado em Portugal, no Brasil, no Chile, em Marrocos e na Itália, que geólogos de sete países – Áustria, Alemanha, França, Rússia, Austrália, Brasil e Estados Unidos – apresentaram em junho de 2010 na Mineralogical Magazine.
O PROJETO
Minerais novos do Brasil: caracterização cristaloquímica e síntese – nº 2009/09125-5
Modalidade
Linha Regular de Auxílio a Projeto de Pesquisa
Co­or­de­na­dor
Daniel Atencio – IG/USP
Investimento
R$ 79.750,75
“Às vezes é mais fácil colaborar com pesquisadores da Rússia e da Alemanha do que daqui”, diz Atencio. Segundo ele, a principal razão é a escassez de especialistas na identificação de minerais – menos de uma dezena no Brasil, enquanto a Itália abriga cerca de 200 e a Rússia, bem mais. Mesmo assim, o número de novas espécies de minerais identificadas originalmente no Brasil está crescendo. Até 1959 havia no país apenas 19 espécies de minerais consideradas válidas, a maioria descrita apenas por estrangeiros. De 1959 a 2000, a comissão de novos minerais da Associação Mineralógica Internacional reconheceu 18 espécies novas, com uma média de 0,43 por ano, e nos últimos oito anos, outras 16, subindo a média para duas por ano. Segundo Atencio, o Brasil está entre os países em que atualmente se descobrem mais minerais novos, quase sempre próximo dos Estados Unidos. A Rússia é o país onde mais se descobrem minerais novos.
Não é só por falta de especialistas que as descobertas não proliferam. Nas pedreiras, um procedimento comum é tratar as gemas, de valor comercial, com banho de ácido, para remover as impurezas, que incluem possíveis novidades. Os interessados em novos minerais às vezes conseguem chegar antes do banho de ácido. Outro problema é a transformação do espaço. Atencio conta que em 1991 descreveu com Reiner Neumann, o primeiro estudante que orientou, Antonio Silva e Yvonne Mascarenhas, seus colaboradores do Instituto de Física de São Carlos da USP desde os anos 1980, minerais raros de urânio, encontrados em Perus, no município de São Paulo. “Devia ter muito mais”, diz ele, “mas o Rodoanel cobriu tudo”.

Pegmatito Gentil (Mendes Pimentel, MG

Pegmatito Gentil (Mendes Pimentel, MG) e suas paragêneses mineralógicas de fosfatos raros

Gentil Pegmatite (Mendes Pimentel, MG) and their rare phosphate mineral assemblages





RESUMO
Centenas de corpos pegmatíticos na região nordeste de Minas Gerais produzem minerais gemológicos e de coleção, muitos desses corpos possuindo afinidades com determinada espécie, grupo ou classe mineral. O Pegmatito Gentil em Mendes Pimentel, ora descrito, notabiliza-se por sua assembléia de minerais fosfáticos, a maior parte dos quais raros ou raríssimos na natureza. A associação mineral identificada inclui microclínio, quartzo, muscovita, almandina-espessartita, berilo e trifilita como fosfato primário, que foi alterado formando uma extensa paragênese de espécies secundárias. Entre essas, destacam-se brazilianita, frondelita, gormanita, huréaulita, lazulita, litiofilita, purpurita, reddingita, woodhouseíta, zanaziíta e, recentemente descrita nesse corpo, a matioliíta.
Palavras-chave: Pegmatitos, minerais fosfáticos, Província Pegmatítica Oriental do Brasil.

ABSTRACT
Hundreds of pegmatitic bodies occur in the northern region of the State of Minas Gerais, several of these bodies producing gemologic and collection minerals. Such pegmatites are known by the mineral affinity with certain minerals species, groups or classes. The Gentil Pegmatite (Mendes Pimentel county) is characterized by the phosphatic mineral assemblage, and some of these minerals are rare or very rare in nature. Primary species are microcline, quartz, muscovite, almandine-espessartine, beryl, and triphylite as the main phosphate that was altered to an extensive paragenesis of secondary phosphates. In this list are noted brazilianite, frondelite, gormanite, hureaulite, lazulite, lithiophilite, purpurite, reddingite, woodhouseite, zanaziite, and matioliite, a species recently described in the Gentil Pegmatite.
Keywords: Pegmatites, phosphate minerals, Eastern Brazil Pegmatitic Province.



1. Introdução
A região nordeste de Minas Gerais, onde se insere a "Província Pegmatítica Oriental do Brasil", é mundialmente famosa devido à ocorrência de minerais excepcionais pela raridade e/ou por seus aspectos visuais, permitindo com que sejam comercializados no atrativo mercado de minerais para coleção. No contexto dessa província mineral, a região compreendida entre Galiléia, ao sul, passando por Divino das Laranjeiras e se estendendo até Mendes Pimentel, ao norte, destaca-se pela ocorrência de minerais fosfáticos raros ou raríssimos na natureza, diversos deles descritos originalmente na própria região. Nesse caso, incluem-se barbosalita, coutinhoíta, faheyíta, frondelita, lindbergita, moraesita e tavorita em Galiléia; e brazilianita, scorzalita e souzalita em Divino das Laranjeiras (detalhes sobre descrições e depósitos desses minerais encontram-se em Pough & Henderson, 1945, Cassedanne, 1983, Atencio, 2000, Chaves et al., 2006), bem como, de recente descrição, a matioliíta em Mendes Pimentel (Atencio et al., 2006). Esse último mineral foi encontrado no Pegmatito Gentil, cuja geologia e mineralogia detalhada constituem o objetivo central do estudo ora apresentado.
Fanton et al. (1978) e Cassedanne e Cassedanne (1982) realizaram os primeiros estudos de detalhe, enfocando a geologia e mineralogia geral, respectivamente, dos pegmatitos da área. Esses minerais foram também estudados pelos autores e equipe em outras ocasiões (p. ex., Karfunkel et al., 1997, Chaves et al., 2001, 2003, 2005, Scholz, 2002, 2006, Scholz et al., 2003). No Pegmatito Gentil, R. Scholz coletou, em 2003, um mineral de coloração azul-piscina, como agregados de pequenos prismas (2-5 mm), que logo foi presumido como uma espécie raríssima ou, então, nova para a ciência. Estudos preliminares apontaram que tratar-se-ia, em princípio, de uma burangaíta (Bermanec et al., 2004a, 2004b), embora os resultados químicos não tivessem sido inteiramente satisfatórios. Estudos paralelos e mais completos efetuados por pesquisadores da USP determinaram esse mineral como uma nova espécie, designada matioliíta (Atencio et al., 2006). Como as amostras coletadas pelos presentes autores são de maior tamanho e fazem parte de uma pesquisa integrada envolvendo as paragêneses fosfáticas do depósito, acredita-se que a apresentação dos atuais resultados complementem o citado estudo, bem como ajudem a difundir a imagem do mineral através de fotografia e imagens com MEV de espécimens excepcionais obtidos nos trabalhos de campo.

2. Localização e contexto geológico regional
O Pegmatito Gentil (18°41'21"S/41°27'02"W) localiza-se no município de Mendes Pimentel, o qual dista cerca de 80 km a leste de Governador Valadares, nordeste de Minas Gerais (Figura 1 - destaque). A partir de Mendes Pimentel, seu acesso pode ser realizado pela rodovia asfaltada MG-417 (que liga a cidade à BR-381), de onde, após 5 km, toma-se uma estrada de terra mal conservada à esquerda em direção à área do Córrego Indaiá. Essa estrada alcança a Lavra do Indaiá, ora explorada para feldspato e, a 2 km para leste, em caminho carroçável, alcança-se a Lavra do Gentil (Figura 1). Ressalte-se, ainda, que, no mapa geológico da região efetuado pelo convênio COMIG/CPRM (Vieira, 2000), essas duas importantes lavras não se encontram cadastradas.



Na região de Mendes Pimentel - Divino das Laranjeiras, afloram rochas metassedimentares gnáissicas e/ou xistosas, intrudidas por várias gerações de rochas plutônicas ácidas (Figura 1), todas essas seqüências sendo datadas no Neoproterozóico (Netto et al., 1998). Pegmatitos, associados a tal granitogênese, fazem parte do Campo Pegmatítico Galiléia-Mendes Pimentel, do Distrito Pegmatítico de Conselheiro Pena.
As rochas gnáissicas e xistosas compreendem as Formações Tumiritinga e São Tomé, de natureza metassedimentar, que integram o Grupo Rio Doce. O relacionamento estratigráfico entre ambas ainda não se encontra exatamente definido. A primeira ocorre a nordeste e sudeste da região, constituída na maior parte por biotita-sillimanita-granada-(cordierita) gnaisses, localmente grafitosos. A Formação São Tomé, aflorante sobre a faixa central topograficamente mais arrasada da área, destaca-se por incluir a maioria dos corpos pegmatíticos. A unidade é composta de quartzo-biotita-granada xistos, localmente com estaurolita e sillimanita, além de muscovita e schorlita como produtos de metassomatismo. Intercalações de quartzitos impuros e rochas calcissilicáticas são freqüentes. A foliação principal possui direções variáveis com ângulos de mergulhos geralmente elevados.
Intrusivos nesses metassedimentos ocorrem duas fases de magmatismo ácido sintectônico, designadas de Tonalito São Vítor e Tonalito Galiléia, bem como corpos tardi- a pós-tectônicos, estes últimos não representados no mapa da Figura 1 (Féboli, 2000, Vieira, 2000). A Suíte Galiléia constitui a maior parte da região, formando corpos de dimensões batolíticas de rochas leucocráticas a mesocráticas, estrutura gnáissica e textura média a grossa, localmente porfiroblásticas. Essa suíte possui composição metaluminosa a pouco peraluminosa de afinidade cálcio-alcalina e litotipos granitóides do "tipo-I", representados por tonalitos, tonali-granodioritos, granodioritos e granitos. A Suíte São Vítor, de composição similar, aflora em pequena porção, a oeste de Linópolis, e parece corresponder a uma variedade faciológica do Tonalito Galiléia com estrutura fracamente orientada (Féboli, 2000).

3. Corpos pegmatíticos da área e o Pegmatito Gentil
Na região entre Divino das Laranjeiras e Mendes Pimentel, são conhecidos mais de 30 corpos pegmatíticos de porte maior que 2 m, em um quadrilátero de, aproximadamente, 100 km² (os 20 mais importantes são representados na Figura 1). Esses corpos encontram-se encaixados nos biotita-quartzo xistos da Formação São Tomé, geralmente de forma concordante com a xistosidade principal, ou, ainda, condicionados em direções destacadas de fraturamento.
Associados à fase tardia da última granitogênese, os pegmatitos se caracterizam pela presença de uma grande variedade de minerais fosfáticos raros (Chaves et al., 2005), onde se inserem espécies como brazilianita, scorzalita e souzalita, descritas no Pegmatito Córrego Frio (Pough & Henderson, 1945, Cassedanne, 1983). A maior parte desses pegmatitos possui mineralogia característica de corpos diferenciados, enriquecida em minerais de lítio como ambligonita-montebrasita, trifilita-litiofilita e, mais raramente, lepidolita e espodumênio. Os corpos, geralmente, não apresentam zoneamento textural pronunciado, entretanto possuem porções internas em menor escala com grande variação textural e composicional; nessas porções, aparecem os minerais raros. As dimensões desses corpos variam, em geral, entre 2-30 m de espessura, 10-120 m de comprimento e, para a totalidade dos casos, faltam estudos sobre a profundidade dos corpos.
O Pegmatito Gentil aflora encaixado de forma concordante no biotita-quartzo xisto da Formação São Tomé, no local com direção NNE-SSW mergulhando fortemente para SSE (Figura 2). Esse corpo pegmatítico, diferentemente da maioria dos demais da região, possui zoneamento característico. Nas bordas, a rocha encaixante é metassomatizada (zona marginal), rica em cristais isolados de schorlita. Uma zona mais interna é constituída de pegmatito gráfico, onde já aparecem alguns corpos de substituição (pockets). Estes, porém, são mais abundantes na zona feldspática, rica em grandes cristais de microclínio, com menor volume de quartzo, muscovita, almandina-espessartita, berilo e trifilita como outros minerais primários. O núcleo é de quartzo quase maciço.



Além da trifilita, aparece, em quantidade muito menor, a montebrasita. Nos corpos de substituição, a mineralogia secundária é representada por albita, muscovita rica em lítio, elbaíta, além de uma diversificada paragênese de minerais fosfáticos formados a partir da alteração hidrotermal e/ou supergênica da trifilita, que estão descritos no próximo item. A trifilita aparece em cristais euédricos a subédricos, com dimensões variáveis entre 0,5 cm e 5 cm incluídos em microclínio e/ou quartzo, bem como constituindo grandes massas agregadas complexas, em conjunto aos mesmos minerais. Em geral, a trifilita encontra-se parcial ou inteiramente substituída, resultando em paragêneses secundárias que incluem espécies fosfáticas raras.

4. Paragêneses minerais fosfáticas
Os processos de diferenciação magmática nos pegmatitos da região permitiram o desenvolvimento de associações minerais variadas, a maioria das quais envolve fases fosfáticas (Tabela 1). A evolução geral da mineralogia dos fosfatos em pegmatitos constitui três etapas distintas (primária, metassomática e hidrotermal), responsáveis pela formação de assembléias e paragêneses específicas, que ocorrem em função da composição química e temperatura do meio (Moore, 1973). Assim, o processo evolutivo vai depender, tanto de fatores internos, como composição química e mineralogia do ambiente primário, quanto de fatores externos, como a possível entrada de água meteórica, de modo que fosfatos primários podem ser submetidos a estágios de alteração com intensidades variáveis. Os processos mais intensos são capazes de substituir, completamente, a mineralogia inicial, mascarando a paragênese primária do corpo, enquanto os de menor intensidade substituem somente parte dela.
Os pegmatitos inseridos no Distrito Pegmatítico de Conselheiro Pena foram, anteriormente, relacionados a seis grupos distintos por Scholz (2002) e Scholz et al. (2003), em função de seus minerais fosfáticos (ou ausência dos mesmos): (I) pegmatitos sem fosfatos primários; (II) pegmatitos pobres em lítio, com triplita; (III) pegmatitos ricos em lítio, com trifilita predominante; (IV) pegmatitos ricos em lítio, com montebrasita predominante; (V) pegmatitos com apatita e (VI) pegmatitos com monazita. Tendo por base tal classificação, descrevem-se paragêneses presentes em pegmatitos do "tipo III", onde se insere o Pegmatito Gentil, bem como diversos outros corpos nos arredores de Galiléia, ao sul, a exemplo das lavras Boca Rica, Cigana, Sapucaia e Boa Vista-1 (Chaves et al., 2005). Em todos esses corpos, a trifilita ocorre fazendo parte da mineralogia primária junto com microclínio, quartzo e berilo, formando associações com numerosos minerais de alteração, alguns destes de origem supergênica.
No Pegmatito Gentil, as paragêneses mais comuns verificadas foram (fórmulas químicas segundo o IMA (Mandarino & Back, 2004):
Trifilita [LiFe2+PO4] + fosfossiderita [Fe3+PO4.3H2O] + purpurita [Mn3+PO4]. Essa associação corresponde a agregados de cristais de trifilita de cor verde-escura, inseridos no microclínio e com as bordas parcialmente alteradas para fosfosiderita e/ou purpurita (Figura 3).



(Trifilita) + reddingita [Mn2+Mn2+2(PO4)2(H2O)] + huréaulita [Mn2+5(PO4)2PO3(OH)2.4H2O] + fosfossiderita. Tal paragênese constitui produto de alteração da trifilita e está presente em cavidades de substituição/alteração tardias (Figura 4A), ou em substituição total a cristais de trifilita. No primeiro caso, cristais de litiofilita apresentam reddingita e huréaulita na superfície ou em cavidades.


 
(Triflilita) + frondelita [Mn2+Fe3+4(PO4)3(OH)5] + litiofilita [LiMn2+PO4] + lazulita [MgAl2(PO4)2(OH)2] + huréaulita. A frondelita aparece recobrindo corpos de substituição tardios e, sobre esse mineral, ocorrem litiofilita, huréaulita e/ou lazulita. Estão também relacionados à substituição total da trifilita.
(Trifilita) + frondelita + ferrissicklerita [Li(Fe3+,Mn2+)PO4] + purpurita. Essa paragênese ocorre como produto de alteração da trifilita, formando blocos maciços. A purpurita é formada a partir da seguinte seqüência de alterações: trifilita-litiofilita ® sicklerita-ferrissicklerita ® purpurita-heterosita.
(Trifilita) + fluorapatita [Ca5(PO4)3F] + brazilianita [NaAl3(PO4)2(OH)4] + woodhouseíta {CaAl3[(P,S)O4]2(OH,H2O)6} + matioliíta [(Na,Mg)Al5(PO4)4(OH)6.2H2O]. Nessa paragênese, a trifilita encontra-se inteiramente substituída, verificando-se uma interessante e singular associação de fluorapatita (secundária), brazilianita mal cristalizada, woodhouseíta em pseudocubos (única ocorrência brasileira do mineral conhecida) e da recentemente descrita matioliíta, com cristais azuis milimétricos em prismas longos (Figura 4B).

5. Química mineral dos fosfatos em geral e da matioliíta do corpo
Análises químicas com microssonda eletrônica foram efetuadas em amostras representativas de matioliíta (Figura 5A), brazilianita, frondelita, lazulita e trifilita (Tabela 2), após suas identificações com difração de raios X. As análises com microssonda foram obtidas no Laboratório de Microanálises, Defis-ICEX/UFMG. Na coluna 1 dessa tabela, apresentam-se os dados de amostra coletada em 2003, então considerada como burangaíta - [(Na,Ca)(Fe2+,Mg)Al5(PO4)4(OH,O)6.2H2O] (Bermanec et al., 2004a, 2004b), posteriormente reconhecida por Atencio et al. (2006) como nova espécie (matioliíta) compondo uma série isomórfica com a primeira. Imagens de microscopia eletrônica de varredura detalham os prismas alongados extraídos da mesma amostra (Figura 5B-C). Nas colunas 2 e 3, são fornecidas, comparativamente, as análises pertinentes desses últimos autores em relação ao novo mineral e a uma outra fase de composição intermediária na referida série e, na coluna 4, valores da burangaíta da localidade-tipo, o Pegmatito Buranga, em Ruanda (Knorring et al., 1977). Os dados apresentados indicam que a matioliíta ora analisada é empobrecida em Na2O e relativamente mais rica em P2O5 e Al2O3.



Na coluna 5 (Tabela 2), constam os dados da brazilianita que se associa à matioliíta, apresentados na Figura 5A. A brazilianita, embora descrita desde longa data (Pough & Henderson, 1945), é, ainda, um mineral pouco estudado. Análises desses autores obtidas a partir de amostras da localidade-tipo, Pegmatito Córrego Frio (situado no mesmo município - mineralogia geral mostrada na Tabela 1), possuem valores de Na2O da ordem de 8,4%, entretanto o espécime analisado também é empobrecido nesse óxido, com ±3,4%. Tais dados, juntamente com os apresentados para frondelita e lazulita do mesmo corpo (Tabela 2, colunas 6-7), demonstram a complexidade química dos fosfatos secundários encontrados, que, muitas vezes, se comportam como misturas de distintas fases e/ou ainda exibem diversos graus de hidratação. Assim, a frondelita da coluna 6 dessa tabela, com ±42,1% de FeO contra ±49,3% requeridos para valores ideais, pode indicar maior hidratação do material analisado. Os outros valores são muito semelhantes aos valores ideais. Os baixos fechamentos nas análises desses dois minerais devem-se à presença da hidroxila, não quantificável na microssonda.
Quanto às fases primárias do Pegmatito Gentil, ocorre trifilita e, de modo raro, ocorre a montebrasita. A lazulita também é um fosfato primário característico (Moore, 1973), entretanto esse autor lista, ainda, tal espécie como uma possível fase secundária, o que, provavelmente, representa a amostra analisada (Tabela 2, coluna 7). A mesma possui grande semelhança química com lazulitas da região de Diamantina, embora estas últimas ocorram em veios de quartzo (Chaves et al., 2003). A trifilita, que foi analisada a partir de amostras de três diferentes corpos de substituição (Tabela 2, colunas 8, 9 e 10), também apresentou anomalia quanto ao FeO, com 30,8-32,9% contra 45,5% requeridos para valores ideais; entretanto o MnO (não presente na fórmula química teórica) alcançou até ±9,5% nas análises, indicando um importante processo substitucional do Fe2+, pelo Mn2+, e resultando numa provável fase intermediária entre esse mineral e a litiofilita.

6. Considerações finais
O estudo regional da geologia e da mineralogia fosfática primária e secundária encontrada nos pegmatitos do Distrito de Conselheiro Pena tem permitido a identificação de diversos tipos de pegmatitos com base em suas constituições minerais, além de possibilitar a caracterização de modo integrado das assembléias e paragêneses minerais com espécies raras envolvidas. A descrição de onze novos minerais em pegmatitos dessa região (barbosalita, brazilianita, coutinhoíta, faheyíta, frondelita, lindbergita, matioliíta, moraesita, scorzalita, souzalita e tavorita), bem como a diversidade demonstrada, abre um campo largamente potencial para a descoberta de outros novos minerais na mesma. O Pegmatito Gentil, embora com atividades de lavra paralisadas desde 2004, possui, ainda, pilhas de rejeito interessantes de serem exploradas, tendo em vista o encontro de novas associações minerais.
O estudo desenvolvido nesse pegmatito integra-se com os de outros corpos da região de Mendes Pimentel, o que deve constituir objeto de futuro trabalho. A caracterização química de distintas paragêneses minerais com espécies fosfáticas envolveu análises químicas com microssonda eletrônica na principal fase primária (trifilita) e sobre algumas fases secundárias presentes (brazilianita, frondelita, lazulita e matioliíta), ressaltando-se importantes processos de substituição. Deve-se, ainda, frisar que a matioliíta, recentemente descrita nesse corpo, assim como as fases estudadas quimicamente e que apresentaram diferenças consideráveis em relação às composições químicas ideais, constitui um campo de pesquisas que pode contribuir para um melhor entendimento da evolução da mineralogia fosfática em pegmatitos.

Kimberlito


Kimberlito é vulgarmente conhecido como a rocha que contêm diamantes. Na realidade, não é um tipo específico de rocha, mas sim um grupo complexo de rochas ricas em voláteis (dominante CO2), potássicas, ultramaficas híbridas com uma matriz fina e macrocristais de olivina e outros minerais como: ilmenita, granada, diopsidio, flogopita, enstatita, cromita.
O clã dos kimberlitos são divididos em dois grupos 1 2
Grupo I: Tipicamente ricos em CO2 e empobrecidos em potássio em relação aos do grupo II. Corresponde à rocha original encontrada em Kimberley, na África do Sul.
Grupo II: Tipicamente ricos em água, apresentam matriz rica em micas e também calcita, diopsídio e apatita, e correspondem ao kimberlitos lamprofíricos ou micáceos 3
Os kimberlitos são formados pela fusão parcial do manto a profundidades maiores que 150 km. O magma kimberlítico durante sua ascensão do manto para a crosta, comumente, transporta fragmentos de rochas e minerais - também conhecidos como xenólitos e xenocristais (entre eles o diamante). O kimberlito pode trazer diamante até a superfície desde que tenha passado por regiões no manto/crosta que fossem ricas neste mineral e que sua velocidade de ascensão seja rápida o suficiente para não desestabilizar a estrutura do diamante, que caso contrário se converteria em grafite (polimorfo estável do carbono na pressão ambiente). Ressalta-se, portanto, que o magma que forma o kimberlito não é o produtor de diamante, apenas um meio de transporte.
No Brasil diversos kimberlitos foram encontrados desde a década de 1970, no entanto, poucos foram estudados 4 para a compreensão dos mecanismos de colocação destes corpos ou do tipo de manto amostrado por estes magmas. As principais descobertas de kimberlitos no Brasil foram feitas inicialmente pela Sopemi subsidiária do Grupo Sul Africano De Beers. A Sopemi descobriu clusters com dezenas de kimberlitos em Minas Gerais, Goiás e , posteriormente, em Juína no Mato Grosso onde estabeleceu a sua primeira e última lavra no Brasil. Posteriormente, na década de 90 a Rio Tinto usando intensivamente a aeromagnetometria e geoquímica descobriu outras dezenas de corpos kimberlíticos nas mesmas regiões antes trabalhadas pela De Beers. Entre 2004 e 2007 a Majestic Diamonds and Metals e Canadense a Vaaldiam descobriram e avaliaram algumas dezenas de novos kimberlitos. Ao contrário do que é publicado no Brasil vários corpos kimberlíticos foram avaliados por intermédio de sondagens, trincheiras, bulk-samplings e lavra-piloto de pequeno porte. Os kimberlitos mais conhecidos estão em Minas e Bahia estudados pela Sopemi e Vaaldiam, em Pimenta Bueno e Juína avaliados pela Rio Tinto, Vaaldiam e Diagem e em Goiás avaliados pela D10 Mineração.

Exploração de diamantes ameaça Serra da Canastra








Mineração em área de entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra pode causar danos irreversíveis ao meio ambiente




Definição de quilombo mudou ao longo do tempo.













Minas Gerais, o estado que surgiu com a exploração do ouro, volta a aparecer no mapa mundial como área de grandes interesses minerários. A descoberta de diamantes no subsolo do município de São Roque de Minas pela gigante do diamante DE BEERS, Consolidated Mines Ltd. empresa sul-africana que comercia cerca de 80% da produção mundial de diamantes e que está na região há mais de 30 anos, tornou-se uma ameaça ao ecossistema da região.




Instalações da DE BEERS
na Serra da Canastra
Foto: Thelson
Junqueira Lemos




O empreendimento está localizado em área de entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra. Criado em 1972, o Parque situa-se no divisor de águas entre as grandes bacias dos rios Paraná e São Francisco, abrigando a nascente deste último; abrange uma superfície de 71.525 hectares repleta de espécies de fauna e flora, entre elas algumas endêmicas da Serra da Canastra, como o pato-mergulhão e 45 novas espécies de plantas recentemente descobertas.
O investimento de milhões de dólares por parte da DE BEERS, além de outras mineradoras de menor porte, deve-se ao fato de terem sido encontradas pela primeira vez nas Américas amostras de uma rocha denominada kimberlito, ou rocha de Kimberley. Resultado de erupções vulcânicas, essa rocha indica a presença de diamantes no subsolo em seu estado mais puro. Este nome foi dado em homenagem à cidade de Kimberley, África do Sul, onde foi encontrada a rocha pela primeira vez no final do século passado. Hoje, após a total destruição do relevo na região, resta uma enorme cratera de aproximadamente um quilômetro de profundidade.



A Sopemi - Pesquisa e Exploração de Minério S/A, subsidiária brasileira da DE BEERS, logo após a descoberta iniciou suas atividades perfurando numerosos buracos, que chegavam a 600




Exploração de diamantes ameaça Serra da Canastra
Foto: Thelson
Junqueira Lemos




metros de profundidade. Segundo André Picardi, da ONG SOS Lobo-guará, mesmo possuindo apenas licenças para pesquisa, a DE BEERS já explorou economicamente a jazida, pois extraiu além do limite de 30 mil quilates de diamantes estipulado pela licença. Diamantes estes que saíram do país sem qualquer arrecadação de impostos para a Receita Federal. Devido a esse fato, a licença foi suspensa e no momento as atividades encontram-se paradas à espera de uma licença para lavra.