sexta-feira, 13 de junho de 2014

Riqueza histórica

Riqueza histórica


Pesquisadores realizam levantamento histórico sobre diamantes extraídos no Vale do Jequitinhonha

Durante séculos, Minas Gerais foi a maior região produtora de diamantes do mundo. Grande parte dessa produção veio de Diamantina, cidade localizada na Serra do Espinhaço, a 292 quilômetros da capital mineira. A própria origem do município está relacionada à exploração das pedras, já que seu subsolo é constituído principalmente por rochas metamórficas como filitos e quartzitos. A exploração foi iniciada no início do século XVIII. Em 1832, o fim do monopólio real desencadeou uma nova corrida em busca de diamantes, o que motivou a chegada de exploradores de diferentes regiões.

Apesar dos mais de 100 anos de produção dessa gema no Estado, não havia uma rotina de registro das pedras encontradas na região. Os documentos existentes são voltados exclusivamente para a obtenção de impostos sobre a produção. Como resultado, a história dessa atividade, incluindo a documentação das grandes pedras extraídas, é rara e fragmentária.

Recuperar essas informações é um dos objetivos de uma pesquisa desenvolvida, desde janeiro de 2007, pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) *. A proposta é criar um acervo da memória oral, com levantamento das maiores pedras extraídas na Serra do Espinhaço. Segundo a professora Soraya de Carvalho Neves, coordenadora da pesquisa, o trabalho irá resultar no cadastramento, incluindo a localização e ano do achado, dos maiores diamantes extraídos nos municípios de Diamantina, Gouveia, Datas, Presidente Kubitschek, Serro, Couto Magalhães de Minas, Rio Vermelho e Carbonita.

O único registro oficial, segundo a pesquisadora, é o chamado “livro da Capa Verde”, em exposição no Museu do Diamante, em Diamantina. Mas deve-se considerar que a maioria das grandes pedras encontradas foi contrabandeada. Para suprir essa lacuna, os pesquisadores tentarão buscar informações em um acervo informal das pessoas que participaram da exploração e comercialização das gemas e que, eventualmente, redigiram rascunhos pessoais.

Como a maioria dos envolvidos na atividade é falecida, a equipe está tentando o resgate de livros-caixa e diários que possam ter sido guardados pelos famiiares. Além do levantamento histórico, há a pesquisa geológica, a fim de avaliar a questão da área fonte dos diamantes, ou onde estaria localizada a rocha matriz. “Existem duas correntes: uma seria que a rocha original localiza-se fora da Serra do Espinhaço, e a segunda diz que a rocha matriz pode estar na região de Diamantina”, afirma. A definição das chamadas áreas fontes dos diamantes pode atrair empresas para prospectar essas áreas potenciais, resultando em positivo impacto econômico para o município com o retorno da atividade mineradora.

O resgate da memória oral envolve o levantamento de dados a partir de um questionário, levado a garimpeiros, mineradores e diamantários. As perguntas abordam, entre outros, a atividade que costumava desempenhar (garimpeiro, comprador de diamantes, entre outros), maiores pedras que já viu ou ouviu falar e se possui dados quantitativos ou outras informações relevantes sobre a atividade. Já foram realizadas 33 entrevistas e a pesquisadora obteve relatos em relação a 10 pedras com tamanho de até 20 quilates, 20 diamantes de até 30 quilates, 31 com até 50 quilates, alguns com até 90 quilates. Acima de 100 quilates, não há registro confiável. A maior pedra encontrada seria de 122 quilates, ainda no período colonial.

Durante o trabalho, a equipe vai conhecendo os mitos existentes na região. Um deles conta sobre um diamante vermelho do tamanho de um ovo de galinha que teria sido encontrado no distrito de Extração (Curralinho). “Toda a população local fala sobre esta pedra”, diz. Até 1988, a economia da cidade girava em torno dos diamantes e a maioria da população masculina local é formada por garimpeiros. Com a implementação da legislação ambiental a partir desta data, iniciou-se um período de modificação socioeconômica na região. “O município ainda vive uma crise econômica. A cada dia, a extração se torna mais difícil e cara. Hoje, são poucos os que conseguem explorar esse mineral e mais raro ainda é bamburrar – forma popular de expressão que os garimpeiros utilizam para designar aqueles que encontram grandes pedras ou somas de diamantes e conseguem fazer fortuna.”

A pesquisa envolve o trabalho de quatro professores e uma bolsista e inclui viagens ao Rio de Janeiro e Portugal para levantar dados em museus e bibliotecas. Os resultados preliminares foram apresentados no X Simpósio de Geologia do Sudeste, que aconteceu em Diamantina no ano passado, e o trabalho completo será publicado posteriormente. Vale destacar, ainda, os resultados esperados com relação à preservação do meio ambiente. “Caso fosse comprovada a existência da rocha matriz, haveria uma redução da atividade mineradora em rios e córregos da região, que provocam o assoreamento e degradação dos cursos dágua. A exploração poderia ser transferida para as áreas onde ocorrem essas rochas e as lavras seriam, então, executadas por empresas de alta tecnologia, capazes de absorver a mão-de-obra ociosa, recuperar os impactos ambientais gerados e minimizar os impactos já existentes”, prevê a pesquisadora.

Thaís Pontes

O mineral indomável

O diamante é formado de carbono puro. As pedras cristalizaram há milhões de anos na crosta terrestre e foram projetadas posteriormente pelas erupções dos vulcões. A pedra é a mais dura das substâncias na natureza, de dureza 10 na Escala de Mohs. É o mais valioso dos minerais, porque representa poder, sucesso e riqueza. O diamante é incolor, mas pode apresentar cores. O nome vem do grego “adamas”, que significa indomável.

Seu peso é medido em quilates, que equivale a um quinto do grama. Cada quilate tem 100 pontos. Apesar de ser líder na produção e ter garantido os melhores diamantes extraídos para as jóias da coroa de Portugal, a maior parte dos grandes exemplares brasileiros foi descoberta mais tarde, no Triângulo Mineiro. Em 1853, uma escrava encontrou naquela região um diamante rosa que pesava 254,5 quilates e recebeu o nome de Estrela do Sul. Foi reduzido a 128,8 quilates após a lapidação.

O primeiro grande diamante descoberto nessa região foi o Regente de Portugal, com 144 quilates e que teria sido encontrado ainda no século 18. Em 1859, teria sido encontrada outra grande pedra com 250 quilates, denomi-nada Estrela do Egito. O diamante Getulio Vargas possuía 726,6 quilates e foi encontrado em 1938, em Coromandel.

O maior diamante encontrado até hoje é o Cullinan, achado na África do Sul em 1905. A pedra tinha 3.106,75 quilates. Em relação ao preço, a média mundial é de 81 dólares por quilate de diamante, mas esse valor pode chegar a 21 mil dólares por quilate, dependendo do tamanho da pedra, como negociado recentemente. O Brasil foi o maior produtor até a descoberta de pedras em Kimberley, na África do Sul.

Enigma geológico

Enigma geológico


Pesquisa do IGC/UFMG estuda as rochas que dão origem aos diamantes


Passeando pelas ruas de algumas cidades do interior de Minas Gerais, visi-tando igrejas e praças, percebe-se a presença de um de seus elementos históricos mais marcantes: o diamante. Ele já motivou tropeiros e comendadores e tornou famosa a escrava Xica da Silva. Ao lado da importância histórico-cultural e econômica, a pedra preciosa desperta também o interesse da geologia. Mais do que o próprio diamante, o que tem motivado pesquisas nas universidades mineiras é a rocha que encerra o mesmo: o kimberlito.

O kimberlito é um conduto vulcânico, ou seja, uma estrutura que conecta a superfície da Terra ao seu interior e por onde o magma (material expelido pela parte visível do vulcão) flui, a partir das partes mais profundas, onde ele se forma. Para visualizar seu formato, basta lembrar que, em inglês, conduto significa neck, ou seja, pescoço.

Kimberlitos são objetos de estudos de pesquisadores do Departamento de Geologia do Instituto de Geociências (IGC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob a coordenação do professor Geraldo Norberto Chaves Sgarbi. Com o apoio da FAPEMIG, o projeto denominado “Identificação de kimberlitos nas regiões Oeste e Central de Minas Gerais” teve início no ano passado e começou abrangendo as cidades da região do Alto Paranaíba, como Carmo do Paranaíba, Patos de Minas, Arapuá, Coromandel, Patrocínio, Lagoa Formosa e Tiros. A segunda fase do projeto, aprovada pela Fundação no final do ano passado, vai aprofundar as pesquisas já realizadas e abranger também a região central do Estado.


A vegetação indica a presença de rochas vulcânicas
Diamantes mineiros
O diamante forma-se no interior da Terra, em profundidades de cerca de 150 km, sob altas pressões e temperatu-ras, por átomos de carbono. Segundo o professor Geraldo, o conduto vulcânico atua como uma espécie de “táxi” para a pedra preciosa, visto que o magma, ao subir em direção à superfície, a uma velocidade de aproximadamente 800 km/h, transporta a pedra, que se encontra em estado bruto. Alguns geólo-gos fazem uma analogia desse magma, que sobe em altíssima velocidade, com uma “perfuradeira química”, que dissolve as rochas encontradas durante sua ascensão.

Todo esse material é submetido a uma pressão muito alta no interior da Terra, a qual é liberada ao atingir a superfície. Nesse momento, o magma kimberlítico geralmente explode, devido à súbita redução da pressão, e se solidifica em uma rocha denominada kimberlito. Quanto aos diamantes, apenas uma ínfima fração resiste a esse transporte até a superfície.

O processo de formação de kimberlitos ocorreu, no oeste mineiro, há cerca de 85 milhões de anos e, hoje, os pesquisadores se deparam com um “enigma geológico”: no Brasil, temos muitos kimberlitos estéreis, ou seja, sem diamantes. Entretanto, a pedra pode ser encontrada em alguns leitos dos rios dessas regiões. Curiosamente, alguns países de dimensões continentais como a Austrália, África do Sul, Canadá e Rússia produzem diamantes não somente através dos leitos dos rios, como no Brasil, mas direto da fonte, ou seja, através dos kimberlitos. Isso fez com que esses países sejam grandes produtores, ultrapassando o Brasil, que foi o maior produtor mundial no século XIX.

Por que não fazemos o mesmo? Porque, pelo que se sabe até então, não temos kimberlitos mineralizados em diamantes. É justamente esse o contexto do enigma: não temos kimberlitos mineralizados, mas temos aluviões com diamantes nas mesmas regiões onde se encontram esses kimberlitos. Então, a pergunta correta é: qual a origem dos diamantes mineiros? Um fator que ajuda a compreender a dificuldade na realização dessas pesquisas é o clima brasileiro, pois, em climas tropicais úmidos, a água aumenta consideravelmente a velocidade das reações químicas. Assim, como os minerais que formam a massa principal do kimberlito não são muito resistentes à degradação química, este se transforma e se confunde com outras rochas.


Prof. Geraldo Norberto Sgarbi, da UFMG
A pesquisa desenvolvida pela UFMG é pioneira no Estado. Além da importância econômica, que não pode ser desconsiderada quando se trata de diamantes, sobretudo em um país de tradição diamantífera, a pesquisa cons-titui uma base para a geologia, para o conhecimento da terra e dos recursos de que dispomos.

O que os olhos vêem, o coração senteTodas as transformações que ocorrem nas camadas internas da Terra, assim como os elementos que ali se formam, produzem efeitos visíveis na superfície do Planeta. Sendo assim, para descobrir kimberlitos, é possível utilizar alguns critérios físicos que funcionam como indicadores. Segundo o pesquisador, a partir dos estudos teóricos, a equipe, composta de um biólogo e três geólogos, foi a campo em busca dos elementos que pudessem dar indícios da presença de kimberlitos.

Ele destaca o critério geobotâ- nico, que diz respeito à presença das espécies arbóreas Terminalia argentea (capitão), Pseudobombax sp (paineira) e Myrcine sp (pororoca), pois elas utilizam em sua dieta elementos constitutivos do kimberlito. Quanto aos critérios geológicos, tem-se, por exemplo, a presença de uma depressão de formato circular no terreno. Esta pode ter se originado da alteração do conduto vulcânico, considerando-se que, na medida em que essa rocha sobe em direção à superfície, ao longo do tempo, torna-se menos resistente e, portanto, mais suscetível a alterações. Em certos locais, como na África do Sul, a depressão é tão acentuada que o acúmulo de água permite a formação de um lago. Ela é conhecida como cratera “Maar”.

A água também fornece outro indicativo. As chuvas enfrentam dificuldade para erodir as rochas kimberlíticas, pois as mesmas possuem consistência argilosa. Por isso, é comum a formação de rios ou cursos d’água na zona de contato entre o kimberlito e a rocha não-mineralizada que estiver em contato, chamada de rocha encaixante. Dessa maneira, muitos kimberlitos são, a priori, identificados em função de uma diferença física entre as duas rochas. É preciso considerar que essa zona de contato já vem recebendo um fluxo de água há milhões de anos, o que propicia uma espécie de abertura prévia, um canal natural. Assim, o rio evolui, causando erosão em ambas as rochas.

Outro critério de campo é a ocorrência de uma “capa de canga”, rocha rica em ferro. Essa formação, que possui cor avermelhada, ocorre apenas sobre o kimberlito, porque o mesmo é composto de minerais ricos em ferro, como magnetita e hematita (produto de alteração da magnetita). A existência de ferro condiciona também a presença de cupinzeiros de cor vermelha, ao passo que os cupinzeiros de cor clara são aqueles que se instalam sobre alguns tipos de rochas encaixantes.

A vegetação natural, assim como a agricultura, também pode ser usada para identificar kimberlitos. É que o solo composto por rochas kimberlíticas é mais fértil devido à forte presença de elementos como potássio, cálcio e magnésio. Por isso, as espécies vegetais encontradas sobre o kimberlito são mais saudáveis que aquelas encontradas no entorno. As rochas encaixantes são relativamente estéreis, em decorrência da forte presença de alumínio e sílica. Como pode ser visto na fotografia acima, referente ao kimberlito batizado pelos pesquisadores de “Larissa”, a cor e a textura fazem a diferenciação entre o kimberlito (verde-escuro) e a rocha encaixante (verde mais claro). Ao fundo, existe o vale de um córrego que flui no contato entre o kimberlito e sua encaixante. Essa estrutura encontra-se na cidade de Carmo do Paranaíba.


Amostra de Kimberlitos, rochas associadas à presença de diamantes
Do campo para o laboratórioUma vez identificados visualmente esses aspectos, os pesquisadores partem para a procuraefetiva do kimberlito, cavando a terra. De acordo com os conhecimentos teóricos sobre a rocha intrusiva, os pesquisadores coletam o material desejado e levam para o peneiramento. Para facilitar a busca, considera-se a presença de pequenos minerais coloridos, como piropo, ilmenita, diopsídio e espinélio, minerais satélites ou indicadores de diamantes que, por sua vez, apontam para a existência de kimberlitos, pois desenvolvem-se junto aos diamantes e são resistentes ao clima tropical úmido. Se o resultado observado na peneira apresentar um aspecto de gradação do claro (borda) para o escuro (centro), com a presença desses minerais indicadores, significa que temos um kimberlito.

Os estudos não param por aí. Com o intuito de refinar a pesquisa, os mine-rais encontrados são levados para análises mineralógicas e químicas na UFMG. A análise mineralógica é feita através de um método denominado Espectroscopia Raman, que visa a identificar o tipo de mineral. Cada amostra é levada até uma sonda, que emite um feixe de laser, fazendo com que o mineral emane energia de acordo com seu sistema cristalino. Cada mineral possui seu espectro próprio, como uma impressão digital, que permite distingui-lo entre os demais. Essa técnica é utilizada para checagem de jóias, a fim de atestar se a mesma é verdadeira ou falsa, natural ou sintética. O próximo passo é a análise química, realizada por meio de uma microssonda eletrônica. Esse aparelho permite determinar os componentes químicos dos minerais. Numa análise direcionada aos kimberlitos, o resultado que indica a possibilidade de se obter diamantes expressa altos teores de cromo e magnésio, e baixos de cálcio. Todos esses equipamentos foram adquiridos com os recursos da FAPEMIG.

Subindo o leito do rioA pesquisa desenvolvida vem investigando a existência de diamantes nas crateras kimberlíticas, ou seja, direto da fonte. Mas, como saber se os diamantes encontrados nos leitos dos rios são de fato originados dessas rochas ou vieram transportados de outros locais? De acordo com o professor Geraldo, a próxima etapa da pesquisa é fazer o caminho inverso, ou seja, partir do leito do rio em direção às possíveis fontes kimberlíticas. O objetivo é verificar qual a localização do kimberlito erodido que fez com que os minerais fossem encontrados em determinado rio. O pesquisador conta que, em função dos minerais satélites – pois o diamante em si é muito difícil de ser encontrado –, os pesquisadores começam a subir o rio em direção contrária ao seu escoamento, que é sempre em função da gravidade. Assim, tem-se a rocha fonte dos minerais indicadores e, portanto, do diamante.

Outro aspecto teórico da segunda parte da pesquisa é o cálculo da distância de transporte do mineral, através do formato do grão. Quanto mais longa a distância em que foi transportado por um rio, mais arredondado é o fragmento, pois o atrito ocasiona a perda dos cantos. Além da pesquisa de campo, os geólogos utilizarão um equipamento importado, semelhante a um tambor giratório, que simula a erosão de um rio, para a realização desse cálculo.

O geólogo ressalta, ainda, o interesse que a pesquisa despertou nos garimpeiros, através de divulgação na mídia eletrônica especializada. Muitos entraram em contato com ele através de e-mail para adquirir mais informações sobre o assunto, além de procurá-lo no próprio campo. Ele lamenta, porém, a falta de iniciativas governamentais, como cursos de capacitação, no sentido de preparar melhor esses trabalhadores e conscientizar sobre a preservação do meio ambiente. Para o professor Geraldo, os garimpeiros são pessoas inteligentes e intuitivas, mas que não tiveram oportunidade de estudar. “Se eles tivessem oportunidade de conhe-cer a Geologia, porque, no final das contas, eles estão trabalhando como geólogos, acho que o trabalho seria mais produtivo e traria menos impactos ao meio ambiente”, completa.

Minas investe na coloração de gemas

Pedras preciosas


Minas investe na coloração de gemas


Matéria-prima é o que não falta. Minas Gerais é o maior produtor mundial de gemas coradas, mais conhecidas como pedras preciosas. Mas, apesar de ser responsável por cerca de 25% da produção mundial, quando se trata de exportação de jóias, Minas não atinge a marca de 5% do mercado brasileiro, quantia insignificante no cenário mundial. Parte das gemas mineiras são incolores em seu estado natural e necessitam de tratamentos especiais para adquirir cor, beleza e valorização no mercado.

O grande problema é que a maioria das pedras preciosas de Minas Gerais sai daqui em seu estado bruto. O tratamento e a lapidação são feitos fora do estado, na maioria das vezes no exterior. É fácil perceber os prejuízos com a venda da pedra bruta, muito barata em relação à mesma pedra depois de beneficiada (veja o quadro de preços). O lucro é transferido para quem agrega valor ao produto. No caso das pedras preciosas, muitas vezes elas retornam para o Estado tratadas e lapidadas ou em forma de jóias.


João Bosco da Silva mostra pedra de US$ 15 mil
Através do desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica, incentivada pelo governo estadual, este quadro está mudando. O Programa de Gemas e Jóias é uma das metas prioritárias estabelecidas pelo Conecit - Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia, responsável pela formulação da política pública em C&T e P&D em Minas Gerais. Esta iniciativa, coordenada pela Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, com financiamento da FAPEMIG, está gerando uma série de pesquisas na área, com formação de recursos humanos, e que deve resultar em mais empregos nas atividades de garimpo, lapidação, tratamento, coloração, designer e comércio de pedras preciosas em Minas Gerais. O objetivo final é promover a capacitação para tratamento de gemas, além de formar recursos humanos adequados para reforçar a interface entre a iniciativa privada e os centros de pesquisa envolvidos no projeto.

A importância social deste projeto ganha maiores proporções ao considerarmos os possíveis benefícios para regiões como o Vale do Jequitinhonha, uma das mais pobres do país, mas rica em recursos naturais de pedras coradas, turmalina e diamante. Quanto ao retorno econômico para o Estado, ele certamente se dará através da arrecadação de impostos.

Segundo o Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos - IBGM -, o mercado internacional de pedras coradas, que não inclui o diamante, é de R$1,5 bilhão/ano. O Brasil participa com 4%, embora a estimativa é a de que seja responsável por 30% da produção comercializada no mercado internacional. Minas Gerais, conforme cálculos do instituto, produz metade das pedras coradas brasileiras.

Tratamento de gemas

Garimpeiros buscam topázio imperial em mina de Ouro Preto.
Tingimento, impregnação, recobrimento, irradiação, tratamento térmico e outros. São muitas as técnicas de tratamento e coloração de pedras preciosas. A mais usada no mundo é a irradiação. A FAPEMIG financia projetos mineiros considerados dos mais importantes desenvolvidos no país: o Projeto Corgema, desenvolvido em parceria pelo CDTN - Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear - e a UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais -, que abrange várias ocorrências geológicas de Minas Gerais e atua com ênfase para o processo de irradiação, e o projeto de Tratamento Termoquímico do Topázio, inédito no país, realizado pela Ufop - Universidade Federal de Ouro Preto.

Seja por irradiação ou processo termoquímico, o objetivo das tecnologias é o de agregar valor à pedra preciosa. A escolha depende da característica e finalidade da gema. Algumas pedras não suportam as temperaturas elevadas do tratamento termoquímico, como o quartzo, por exemplo. Outras, como o topázio, são difíceis de “pegar” a cor por irradiação. Independente do processo, quem manda no final das contas é o mercado. “Os processos não são concorrentes. Pelo contrário, muitas vezes, se complementam”, é o que diz o Prof. Fernando Lameiras, do CDTN, um dos coordenadores do Corgema. Dependendo da origem e da característica da gema, o melhor resultado pode surgir da combinação de técnicas diferentes, segundo o Prof. Luiz Orlando Ladeira do Departamento de Física da UFMG, também coordenador do Corgema. A pesquisa da Ufop, coordenada pelo Prof. Antônio Claret Sabioni, possibilita a produção de topázios das mais diversas cores.

As pesquisas envolvem técnicas diferentes mas têm vários aspectos em comum. Ambas são interdisciplinares - gemologia, geologia, mineralogia, química, física, engenharia de materiais e engenharia nuclear -, e têm a finalidade de desenvolver tecnologia para as pedras encontradas (ocorrências geológicas) em Minas Gerais, agregando valor ao produto e formando recursos humanos para o setor.

Projeto Corgema

Segundo os coordenadores do Corgema, o projeto abrange várias gemas com ocorrência no Estado - quartzo, topázio, turmalina, água-marinha, diamantes, alexandritas e outras - e prevê etapas que começam na localização da ocorrência geológica, seguida pela caracterização física e química da gema e a engenharia da cor, com o objetivo de estabelecer o tratamento mais adequado para cada gema, até o desenvolvimento de processos de coloração, quando for o caso. Eles garantem que o processo, quando bem aplicado, resulta em gemas estáveis e duráveis, ou seja, não perdem a cor e não quebram.

Na coloração por irradiação de raios gama, a cor é definida pela dose de radiação e pelas impurezas da pedra. Existem mitos que rondam este processo, especialmente os relacionados com a radioatividade que causa danos à saúde. Os pesquisadores explicam que a origem do preconceito pode estar no processo de irradiação por nêutrons, proibido pelas normas brasileiras. “Dependendo da impureza da pedra, este tipo de radiação pode gerar radioatividade residual, sendo necessário manter a pedra tratada em um longo período de quarentena”, diz o Prof. Lameiras. A irradiação por feixe de elétrons - carga elétrica muito forte que dá a tonalidade azul ao topázio -, feita no Brasil apenas em escala de laboratório, também pode exigir a quarentena.

Mas a irradiação por raios gama - usada no Brasil em larga escala - não oferece perigo. “É como se fosse um banho de luz na pedra”, dizem os pesquisadores, exemplificando que até frutas passam por este processo, para a eliminação de microrganismos passíveis de deterioração, sem causar nenhum mal à saúde de quem as consome. É neste tipo de irradiação que a pesquisa do Corgema se concentra. A expectativa dos pesquisadores agora é a compra de um espectrômetro de ressonância magnética e ótica, que permite detectar o tipo de impureza e a cor que ela determina, e de um novo irradiador, que serão de grande utilidade na caracterização das gemas e na coloração, respectivamente.

UFOP - pioneira no processo termoquímico
Atualmente, o topázio imperial só é encontrado em Ouro Preto. A cidade é a única no mundo que produz esta pedra preciosa. Há algum tempo podia ser encontrada também no Paquistão, que hoje está com as suas reservas praticamente esgotadas. A característica desta gema é a cor amarelada - os tons variam do alaranjado ao champagne - e, quanto mais forte a cor, mais valiosa é a pedra. O topázio azul também existe na natureza, mas, além de raro, apresenta tonalidades muito pálidas.

Já o topázio incolor é encontrado em todo o país, especialmente em Minas Gerais e Rondônia, e pode adquirir praticamente todas as cores do espectro a partir do tratamento termoquímico, como explica o Prof. Claret. O projeto foi totalmente financiado pela FAPEMIG, inclusive na infra-estrutura do Laboratório de Difusão em Materiais do Departamento de Física da Ufop onde é desenvolvido. O resultado da pesquisa é inédito no país e tem importância estratégica para Minas Gerais e, por enquanto, é sigiloso para garantir a patente. O Prof. Claret ingressou em abril deste ano com o depósito de patentes junto ao INPI - Instituto Nacional de Propriedade Industrial - em nome da Universidade.

Antes da pesquisa desenvolvida pela Ufop, o tratamento térmico de gemas era realizado de maneira empírica, com baixos rendimentos e perdas elevadas. Baseado na pesquisa científica, o processo termoquímico - combinação de temperatura com reações químicas - permite maior aproveitamento da gema, com melhor rendimento, além de possibilitar a reprodução exata das cores que podem ser até mesmo definidas em catálogo. O Professor Claret afirma que a cor da gema através do processo termoquímico é mais estável do que a obtida por irradiação e, até mesmo, do topázio colorido natural.

Em comparação com o processo de irradiação, o pesquisador enumera outras vantagens, como o baixo custo no processo de coloração, que não necessita de equipamentos sofisticados, o que facilita na formação de recursos humanos para a execução do trabalho.


Jóia com topázio imperial
A Ufop está se preparando para comercializar o produto. Segundo o Prof. Claret, a instituição pretende atuar desde a captação de matéria-prima até a venda das pedras coradas com o selo da instituição, passando pelo processo de lapidação com design exclusivo e, é claro, pelo tratamento termoquímico.

A pesquisa movimentou a pós-graduação da universidade. No ano passado os cursos de mestrado e doutorado em Geologia integraram a disciplina Tratamento Térmico de Gemas. O interesse extrapolou as fronteiras do país: já há solicitação de pesquisador estrangeiro para pós-doutorado na área de tratamento térmico de gemas.

Mercado de pedras coloridas

Ouro Preto, patrimônio da humanidade, recebe turistas o ano inteiro. Grande parte são estrangeiros que se encantam com as pedras preciosas. Maria Helena Coelho, proprietária de uma das mais tradicionais joalherias da cidade, conta que a pedra mais procurada pelos turistas é o topázio imperial. O topázio azul também é bastante procurado, segundo ela, seguido pelo branco ou incolor. A cor similar ao topázio azul que passa pelo processo de coloração é encontrada na água-marinha em sua forma natural. O preço é bastante diferente. Enquanto o topázio azul custa de R$10 a R$ 20 o quilate, a água-marinha varia de R$ 50 a R$ 2.700 o quilate, dependendo da tonalidade e da lapidação.

Ela acredita no mercado para o topázio das diversas cores que o processo termoquímico possibilita, mas acha essencial identificá-lo junto aos clientes, que pedem inclusive explicações sobre os processos, a estabilidade da cor e a durabilidade da pedra.

Conheça a moldavita, um presente do espaço

Conheça a moldavita, um presente do espaço
A queda de meteoritos não traz só destruição. Frequentemente os produtos da queda podem formar minerais extraordinários como a moldavita, um impactito verde, uma gema preciosa que ocorre na Europa Central. A moldavita é um mineral vítreo, de cor verde que se formou em um mega impacto de meteorito aproximadamente a 15 milhões de anos atrás. A força do impacto foi devastadora e fundiu as rochas terrestres projetando o líquido fundido na atmosfera e talvez até no espaço. Na queda, o vidro de dureza 5,5,  se solidificou e foi espalhado por regiões da Tchecoslováquia, Áustria e Alemanha, passando a se chamar de moldavita. O mineral é caracterizado por uma textura de resfriamento, que, em algumas vezes, parecem remagliptos. Hoje as moldavitas são encontradas em sedimentos localizados, principalmente, na República Tcheca. Os formatos são, predominantemente de gotas.

Falsificações são comuns, mas a moldavita verdadeira raramente é perfeita e apresenta bolhas e inclusões. As cores da moldavita são próximas do verde floresta e não são muito vibrantes. Os preços podem ser elevados.

Serra do Gandarela pode se tornar um parque

Serra do Gandarela pode se tornar um parque
O pessoal do Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela está ativo. Ontem eles se reuniram com a Ministra do Meio Ambiente Izabela Teixeira. O objetivo do movimento é a transformação da Serra do Gandarela em uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável  . Se o pleito for atendido será criado um parque nacional com mais de 400 quilômetro quadrados.

As mineradoras que já atuam na região terão seus investimentos preservados. Por outro lado as mineradoras interessadas em instalar algum projeto mineiro na região já começam a reconsiderar. É o caso da australiana Mundo Minerais que suspendeu por tempo indeterminado a instalação da minas de ouro Engenho e Crista no Município de Rio Acima.