domingo, 15 de junho de 2014

Eles ficaram milionários ao tirar ouro da mina, mas esbanjaram - hoje vivem na miséria

Eles ficaram milionários ao tirar ouro da mina, mas esbanjaram - hoje vivem na miséria

Os Garrinchas de Serra Pelada


Depois de receber uma bolada em dinheiro, Índio fretou um avião da falida Transbrasil para encontrar uma namorada no Rio e passou dois meses hospedado no Copacabana Palace. Hoje, vive da aposentadoria de R$ 515 da atual mulher, sua 14ª companheira. Com Zé Sobrinho aconteceu algo parecido. Com os milhões que ganhou no trabalho, promoveu festas onde não faltavam bebidas importadas e mulheres bonitas. Aos 70 anos, dá expediente numa cooperativa para pagar as contas. As trajetórias de Índio e Zé Sobrinho lembram a história de muitos jogadores de futebol, como Garrincha, o gênio de pernas tortas que conquistou duas Copas do Mundo. Nascidos em famílias pobres, ficaram milionários da noite para o dia, não souberam administrar suas fortunas e agora vivem à beira da miséria. A diferença é que os dois não enriqueceram jogando bola, mas garimpando ouro em Serra Pelada na década de 1980. “Não gosto de falar dessa história”, disse Índio ao iG em sua casa de madeira e sem rede de esgoto no povoado que reúne cerca de 6 mil pessoas, a 55 quilômetros de Curionópolis (PA). “Às vezes parece até que foi um sonho”.
Em casa com a mulher, Índio vive ma nova realidade: depois de tirar mais de uma tonelada de ouro de Serra Pelada, o garimpeiro fretou um avião para ir ao Rio de Janeiro
A história de José Mariano dos Santos, o Índio, cuja mãe ascendia a tribos locais, ganhou contornos de lenda em Serra Pelada. Nascido em 1953 em Penalva, município a 250 quilômetros de São Luís do Maranhão, largou a escola para ajudar a pagar as contas de casa. Trabalhava numa oficina de motosserras no município paraense de Jacundá quando ouviu falar de Serra Pelada pela primeira vez. Não pensou duas vezes e, aos 27 anos, resolveu tentar a sorte na mina de ouro. Durante os dois primeiros anos só conseguiu o suficiente para sua subsistência. Não imaginava o que estava por vir. Entre 1982 e 1986, Índio “bamburrou” (enriqueceu, na gíria dos garimpeiros) ao garimpar 1.183 quilos de ouro – R$ 81,5 milhões em valores atualizados. Com os descontos de impostos e pagamentos de empregados, sócios e fornecedores, ficou com um lucro de 411 quilos (cerca de R$ 28 milhões). “Com esse dinheiro o cabra analfabeto quer ir logo atrás de mulher, boate e carro novo”, contou.

Em Belém, capital do Pará, Índio tentou comprar uma passagem de avião para ir ao Rio encontrar uma mulher por quem se apaixonara. Vestido de garimpeiro (camiseta, bermuda e chinelos), foi menosprezado por uma balconista da antiga Transbrasil. Quando ela foi atender um cliente engravatado que pedia informações sobre o mesmo voo, Índio não se conteve. Começou a gritar que não queria comprar uma passagem, mas fretar um avião. Com a confusão armada, o garimpeiro foi chamado pelo gerente da companhia para conversar. Ali, soube que poderia fretar o avião, mas que isso custaria muito caro. “Disse que não queria saber o preço, só quando o avião decolaria”, disse Índio. Logo ele embarcaria para o Rio acompanhado do piloto, co-piloto e uma comissária de bordo. E só. O arroubo de novo rico custou o equivalente a quase cinco quilos de ouro, ou R$ 345 mil em valores atualizados.
No auge de Serra Pelada, Índio guardava sua fortuna em sacos de dinheiro escondidos em guarda-roupas, tinha 13 casas em sua maioria em Belém e Serra Pelada e 11 carros zero quilômetro na garagem. Mas a gastança desenfreada fez com que o sonho virasse um pesadelo. Índio vive com Raimunda, a 14ª mulher, com quem está casado há oito anos. Não tem renda e suas contas são pagas com a aposentadoria da mulher, de R$ 515. Até para comprar a carteira de cigarro de R$ 2 o garimpeiro precisa pedir dinheiro emprestado. Boa parte da comida que vai à mesa vem do quintal de casa, onde eles criam galinhas, cultivam um pomar e uma pequena horta. Aos 57 anos, Índio voltou a estudar e sonha em fazer faculdade – Geologia ou Direito estão entre suas opções. “Se pudesse, faria tudo diferente”, disse ele. “Nunca achei que fosse envelhecer ou que o ouro fosse acabar."
“Aproveitei a vida”
Entre os moradores de Serra Pelada não é difícil encontrar exemplos de garimpeiros que tiveram história de ascensão e queda como a de Índio. No auge do garimpo, quando cerca de 100 mil pessoas exploravam a mina artesanalmente e carregavam nas costas sacos de lama de até 35 quilos, transformando a cava num verdadeiro formigueiro humano, estima-se que foram extraídas 42 toneladas de ouro da região. Os feitos dos garimpeiros eram contados ao final do dia na principal avenida do vilarejo, ao pé de uma árvore que ficou conhecida como “Pau da Mentira“. O apelido tem fundamento. Apesar do volume expressivo, poucos ficaram ricos com o ouro de Serra Pelada. Os moradores costumam repetir que apenas 1% dos que exploraram a mina encontraram ouro em grande quantidade. Destes, apenas 10 enriqueceram de fato. O restante “blefou” – ou perdeu tudo, na gíria dos garimpeiros.
José Sobrinho da Silva, 70 anos, é um dos “blefados”. Natural de Barra de São Francisco, no Espírito Santo, chegou a Serra Pelada em 1980 e encontrou milhares de homens cavando a terra em busca de riqueza. Logo seria recompensado: tirou quase uma tonelada de ouro da mina e estima que tenha ficado com 50% desse valor. “A primeira coisa que garimpeiro faz quando ganha dinheiro é investir no ‘banco rachado’ (mulheres, na gíria local)”, disse ao iG. Zé Sobrinho gostava de beber e promovia festas de arromba para os amigos e familiares. Em meio a bebedeiras, ficava generoso. “Dei um carro semi-novo para um amigo só porque tinha raspado a lateral”, afirmou. O resto do dinheiro ele reinvestiu na mina. No auge do garimpo teve 27 barrancos (área em que se explorava o ouro) e mais de 100 funcionários. O sonho de encontrar mais ouro acabou em 1992, com o fechamento da mina pelo então presidente Fernando Collor.
Dá época áurea, restou apenas uma coleção de fotos amareladas guardadas num envelope. Em uma delas, Zé Sobrinho posa com 12 quilos de ouro em uma bateia - espécie de peneira sem furo. Hoje, trabalha como vice-presidente da Coomigasp, a cooperativa que se associou à mineradora canadense Colossus para retomar a exploração de Serra Pelada, e tem renda de R$ 5 mil. Apesar disso, vive com a família numa casa modesta, feita de madeira, em Serra Pelada. O garimpeiro está animado com a mecanização. Primeiro, por causa dos empregos que serão gerados na região. E depois por causa dos lucros gerados pelo ouro – a jazida comprovada está avaliada em R$ 2,3 bilhões. Ele sabe que nenhum garimpeiro vai “bamburrar”, mas acredita que o lucro do negócio vai gerar uma renda para os moradores da região. “Perdi tudo o que tinha, mas aproveitei a vida”, disse Zé Sobrinho. “Não adianta nada ter uma tonelada de ouro guardada no banco”.

Como o Garimpo Começou

Como o Garimpo Começou

Quando se fala em Serra Pelada é natural pensar logo no garimpo que teve i seu auge entre os anos de 1982 e 1986. Em dezembro de 1979 encontraram a primeira pepita na região, numa fazenda conhecida como a fazenda do Velho Genésio, o dono das terras. Logo a pepita se transformou um burburinho que correu todo o país e em março de 1980 mais de 30 mil chegaram a região em busca do ouro do garimpo.
Garimpo Em Serra Pelada
Garimpo Em Serra Pelada
Estimativas apontam que cerca de 120 mil pessoas viveram nessa região durante o auge do garimpo. No começo o ouro foi encontrado apenas na Grota Rica, um curso d’água em que era possível encontrar pepitas na raiz do capim. Não era necessário grande dedicação a escavação para encontrar o tão sonhado ouro.
Depois de pouco tempo de reconhecimento da região logo se percebeu que existiam depósitos de ouro ainda maiores. Basicamente os garimpeiros estavam diante de uma das maiores aberrações geológicas do mundo, a que chamamos gentilmente de Serra Pelada, e que também se constituía num dos maiores depósitos de ouro do mundo.

Atrás do Ouro da Serra Pelada

Na época da descoberta da Serra Pelada a terra não era de ninguém e assim os garimpeiros desciam desesperados os barrancos em busca de fazer demarcações de espaço. Os garimpeiros sempre estavam devidamente armados com um revólver 38 na cintura, sendo assim a palavra valia quando o assunto era demarcar área.
Esses barrancos da Serra Pelada mediam mais ou menos 2 m x 3 m e de lá saíam homens com sacos nas costas. O que mais se podia achar na região era o pó do ouro, as pepitas em si eram mais raras.

O Método de Garimpo do Ouro

Como o que realmente tinha em grande quantidade era o pó do ouro o solo era quebrado, depois lavado e passado no mercúrio. O mercúrio tem a capacidade de se ligar e se concentrar no ouro.
Quando se aquece essa mistura dos dois metais o mercúrio acaba evaporando primeiro e assim libera o ouro. Devemos destacar que se os lucros do ouro são altos o custo do garimpo também. Esses custos ficavam a cargo dos sócios do barranco.
Os trabalhadores que estavam de sol a sol em busca da riqueza dourada recebiam diárias e também uma porcentagem pequena da exploração. Tendo a sorte de encontrar uma boa quantidade de ouro para o dono do barranco alguns trabalhadores podiam até mesmo fazer uma pequena fortuna.
Saiba Mais
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Durante a fase do garimpo na Serra Pelada (que passa pela descoberta da primeira pepita, o auge do garimpo e a sua decadência) muitas pessoas ficaram ricas, outras reinvestiram no garimpo, muitas perderam tudo e alguns ainda conseguiram ficar ricos novamente.
O garimpo da Serra Pelada era um tipo de loteria em que as chances de ser o vencedor era grande, mas que também exigia paciência e sorte. Serra Pelada é detentora do título de maior garimpo do mundo e com certeza deve essa “glória” a uma grande quantidade de ouro.

A Ganância

No ano de 1984 o então presidente Figueiredo fez o pagamento de uma indenização de US$ 69 milhões à Vale. Com esse dinheiro a estatal Companhia Vale do Rio Doce (dona dos direitos de exploração mineral da área) incorporou a Amazônia Mineração S/A no ano de 1981.
Basicamente o acorda previa que o garimpo fosse fechado em três anos ou então por mais vinte metros de profundidade quando chegaria a cota 190 (o número que representa a altitude em relação ao nível do mar). Quando os garimpeiros entenderam o interesse da companhia naquele depósito muitos passaram a acreditar que cerca de 60% ou 70% do material era de ouro puro.
Sendo assim a descida dos barrancos se deu de forma bastante desordenada e assim muitos trabalhadores passaram a perder a vida nesses barrancos devido a falta de estrutura. Os barrancos simplesmente desabavam soterrando os garimpeiros que ainda estavam em busca de uma riqueza grandiosa.
No ano de 1985 quando os garimpeiros chegaram próximos a tão sonhada cota 190 o garimpo foi interrompido pelas autoridades. Desligaram então as bombas de sucção, o Tilim (ponto mais profundo que é cavado) foi cheio de água. O argumento utilizado foi o da segurança, porém, logo se abriu um novo garimpo bem a lado.

A Segurança dos Homens

Depois de tantas vidas perdidas para o garimpo a nova descida foi feita de uma forma mais planejada, menos íngreme e bem mais segura. Porém, no ano de 1987 os garimpeiros estavam novamente chegando a cota 190. Nessa fase começaram a ser feitas sabotagens e boicotes.
Muitos motores de bombas de sucção foram sendo inutilizados com a adição de aç´car ou areia em suas engrenagens. Da noite para o dia o segundo Tilim amanheceu submerso, o que necessitou de muito tempo de trabalho para fazer a drenagem com as máquinas que os garimpeiros possuíam.

Riscos

A passagem da água ia criando sulcos nas paredes da cava e isso gerava um grande risco de desabamento. Para que o ambiente se tornasse mais seguro foi necessário derrubar as paredes frágeis do próprio buraco que estava sendo aberto para somente depois recomeçar a cavar.
Foram muitos dias de trabalho para que os garimpeiros pudessem retornar ao ponto em que estavam antes. Porém, não demorava muito e acontecia uma nova sabotagem o que obrigava os garimpeiros a repetir todo o processo de trabalho. Essa estratégia da sabotagem acabou quebrando financeiramente grande parte dos trabalhadores que seguiam na busca pelo ouro da Serra Pelada.
No ano de 1988 ficou inviável continuar o garimpo na cava, o buraco mais profundo havia finalmente terminado. Para os trabalhadores duas expressões marcaram essa exploração em busca de ouro “água no Tilim” e “segurança dos homens”. Os dois termos se tornaram sinônimos de sabotagem para impedir que eles chegassem aos depósitos mais profundos de ouro.

Serra Pelada nos Dias de Hoje

No ano de 1987 venceu o prazo de vencimento de três anos acordado em 1984, porém, o congresso aprovou uma lei que aumentava o prazo de exploração da área. Depois de vários decretos o prazo ficou esticado até 1992 quando o então presidente Collor devolveu a Vale o direito de explorar a região.
Após 10 anos, em 2002, o Congresso aprovou uma lei para o garimpo recomeçasse. Em 2004 o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) que a garimpagem deveria ser feita somente mediante a autorização da Vale.
No ano de 2007 a Vale assinou um contrato com a Coomigasp que passou a realizar o garimpo e fazer constantes relatórios de atualização a respeito do ambiente.

No país do vil metal



NEUDO CAMPOS quer fazer do Estado um novo Paraná
No país do vil metal
A esperança de achar ouro continua fazendo parte do sonho de riqueza de garimpeiros e empresas, que correm atrás de uma reserva estimada em duas mil toneladas do minério



Os olhos de Adelmo Oliveira, 11 anos, brilham quando ele aponta com os dedinhos calejados um punhado de pó dourado na pedreira perto de seu casebre. “Parece ouro ou não parece? A gente pode ficar rico”, sonha o pequeno, indiferente à gozação do colega de estudos, brincadeiras e trabalho Antônio Muniz dos Santos, da mesma idade. O sorriso ingênuo de Adelmo é de dar nó na garganta. Ele não tem infância. Juntamente com outras 260 crianças, do povoado de Barreiro, em Teofilândia, sertão baiano, trabalha de marreta na mão britando rocha para vender à beira da BR-116 Norte. Adelmo almoça feijão com farinha, quando muito, mas não é por simples devaneio que sonha com fortuna no inferno do semi-árido. A superfície de Teofilândia é forrada por mandacarus que anunciam o eterno sertão, mas de seu subsolo, transformado em queijo suíço pela mina Fazenda Brasileiro, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) retira cinco toneladas de ouro por ano.
Como em todos os municípios de onde o Brasil arranca 50 toneladas por ano, em Teofilândia o nobre minério escancara a face de vil metal. “O ouro é tirado de onde ninguém vê. As barras saem de avião e ninguém sabe para onde”, diz o prefeito Carlito Oliveira (PL). Ele faz das tripas coração – dá até esmola a pobres em fila em sua garagem – para administrar esta cidade de 20 mil habitantes que está entre as mais pobres assistidas pelo Comunidade Solidária. Apesar de sediar a segunda maior mina de ouro da Vale, Teofilândia recebeu de royalties da companhia, de janeiro a setembro, míseros R$ 115 mil. A mina fatura por ano R$ 90 milhões e lucra R$ 22 milhões. Para abrigar seus funcionários, a Vale ergueu em meio ao sertão baiano uma vila para 383 pessoas com aparência de cidadela do Primeiro Mundo. Construiu também uma adutora de 40 quilômetros para abastecer a mina e sua vila. Para os habitantes de Teofilândia, liberou 18 bicas d’água.
“Quando cheguei, há nove anos, me perguntava diariamente: de que adianta ter tanto ouro numa cidade miserável como qualquer outra do sertão nordestino? Hoje sei que não adianta nada.” A conclusão é do padre espanhol Francisco Xavier Pedraza, 40 anos. Revoltado com a contradição, ele já incitou os camponeses a furar a adutora. “É um acinte. Os tubos da adutora passam por roças onde crianças caminham três quilômetros para beber água. Ouro não pode valer mais do que ser humano.” A voz do padre é dissonante numa região dominada por coronéis, que escrevem seus nomes em caminhões-pipa em anos eleitorais.
Teofilândia na Bahia; Curionópolis, Marabá e Itaituba no Pará; Riacho dos Machados, em Minas Gerais, onde uma mina de ouro foi fechada há dois anos, deixando 400 desempregados. A realidade miserável de cidades como estas, que vivem ou viveram da exploração do ouro, destoa muito dos números expressivos da produção do metal no Brasil. O País tem reservas detectadas de duas mil toneladas de ouro. Estima-se um potencial de 34 mil toneladas, o que, se confirmado, transformaria o Brasil no eldorado mundial. Para se ter uma idéia, de 1500 até hoje o País produziu 2.800 toneladas, menos de mil nos quatro primeiros séculos. A África do Sul – maior produtor do planeta, com 40% das reservas mundiais conhecidas – tem 18 mil toneladas.
Hoje, quase 100% da produção nacional é exportada porque a indústria joalheira no País é insignificante. Guardadas as proporções, o movimento lembra o Brasil colonial, quando o metal seguia para a Península Ibérica. Mas os locais por onde passou o ouro dos séculos passados guardam marcas de exuberância, como Ouro Preto, patrimônio da humanidade, com suas igrejas brilhantes. Bons tempos, diria o Vaticano. Na igrejinha de Teofilândia, que o lendário Antônio Conselheiro ajudou a construir no fim do século passado, as imagens são de gesso e não há uma única peça valiosa. A Vale doou apenas tinta branca para pintá-la há quatro anos.
Na praça em frente à igreja, a analfabeta Olga Cerqueira espera um carcomido ônibus escolar para pegar carona. Se perdê-lo, tem de caminhar 12 quilômetros, carregando as dúzias de ovos que não conseguiu vender, até seu barraco de quatro cômodos no povoado Caatinga de Cheiro. Ela gargalha quando é perguntada se já viu o ouro de Teofilândia. Nem sabe onde fica a mina. De seus dez filhos, sete preferiram tentar a sorte em São Paulo – onde são pobres – do que viver acuados pela seca. Os seis netos provavelmente repetirão a trajetória. “Se eu achasse pelo menos um ovinho de ouro, meu filho...”
Tragédia social – Não se pode atribuir a insistência da miséria numa cidade cheia de ouro só ao fato de o metal estar misturado a rochas profundas de onde só pode ser retirado com equipamentos de milhões de dólares. Nas áreas de garimpo, onde a exploração artesanal dispensa máquinas sofisticadas – como na época de Vila Rica – a tragédia social não é diferente. A pobreza ofusca o brilho das pepitas de Itaituba, no Pará, que concentra em 100 mil quilômetros quadrados a maior reserva garimpeira nacional. Como em Teofilândia, a riqueza não protege a infância de Itaituba.
A pequena Jeiciane Lopes, de 5 anos, integra uma geração que nasceu e cresce no garimpo Fofoca, no meio da floresta Amazônica. Não freqüenta escola e nunca teve médico ou dentista. No lugar de bonecas, brinca com gravetos. A alimentação é à base de arroz, feijão, farinha e raros pedaços de carne. O futuro não é nada promissor, mas a menina, sem consciência, passa o dia brincando de madame e esnobando as amiguinhas que não ganharam cordões de ouro dos pais. Os dela vivem pendurados no pescoço. “Meu pai é muito rico”, orgulha-se. O sonho de Jeiciane pode se realizar se o pai encontrar boas pepitas em suas escavações. A julgar pela indigência generalizada dos garimpeiros, a possibilidade é remota e Jeiciane, como as crianças de Teofilândia, deverá gastar a infância sonhando com riqueza e vivendo na miséria.
Os sonhos dourados da filha do garimpeiro de Itaituba estão no imaginário da humanidade. Desde a Antiguidade, o ouro simboliza poder e riqueza, mas, na realidade, os que passam a vida futucando a terra em busca do nobre metal estão entre os brasileiros mais desafortunados. “Garimpeiro sobrevive de teimoso”, avalia o prefeito de Itaituba, Edilson Dias Botelho (PSDB). Das 11 toneladas de ouro produzidas a céu aberto em 1998 nos garimpos do Brasil, quase duas saíram da província aurífera do rio Tapajós, em Itaituba. Oficialmente, 30 mil pessoas estão envolvidas no garimpo. Em 1998, foram declaradas à Receita Federal vendas de R$ 20,3 milhões, o que rendeu, de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), apenas R$ 112 mil. Pelos cálculos da prefeitura, a população garimpeira chega a 100 mil e o volume de vendas em 98 foi de R$ 61 milhões.
São invisíveis os benefícios sociais do vil metal de Itaituba. “O ouro daqui fez a riqueza de poucos”, admite o prefeito. Até os anos 50, a cidade vivia da borracha. Com a descoberta dos alu-viões em 1958, Itaituba passou a ser sustentada pelo ouro, vivendo seu auge nos anos 80. Com o minério em abundância e dinheiro farto, a cidade explodiu. Agências de bancos correram para lá, como empresas de mineração, transporte e fundição. O pequeno e modesto aeroporto chegou a ter congestionamento. Segundo o Departamento de Avião Civil (DAC), os pousos e decolagens chegaram a 68 mil em 1998. Mas a bonança não mudou o perfil sócio-econômico da cidade, que continua praticamente sem pavimentação. O esgoto chega a somente 10% das casas e a energia elétrica, a 5%. Trinta e um por cento dos habitantes acima da idade escolar têm menos de um ano de instrução.

Histórias de blefo e bamburro

Histórias de blefo e bamburro




Aonde vai, o garimpeiro Antônio Lopes tem seguidores. Sua capacidade de enxergar ouro à distância é inigualável. Não é à toa que seu apelido é Olho de Gato. Há dez anos vivendo com a mulher Leonice na província aurífera do Tapajós, no Pará, este maranhense 36 anos descobriu recentemente um filão de ouro em meio à Floresta Amazônica. De pá em punho, abriu uma clareira na mata e começou a garimpar sozinho. A notícia rapidamente se espalhou entre os garimpeiros que viviam na corrutela de São Domingos. Todos partiram em retirada seguindo os rastros de Olho de Gato. Em 15 dias, 200 peões disputavam um pedaço de terra com ele. Todos juntos desmataram a área, cavaram um buraco de sete metros de profundidade e começaram a procura. Estava formado um novo garimpo.
Batizado de Fofoca – que na linguagem do garimpeiro quer dizer notícia de descoberta de um ponto de ouro – este é o mais novo garimpo aberto na província aurífera criada em 1984 pelo então ministro das Minas e Energia, César Cals. Em 100 mil quilômetros quadrados estão espalhados 500 pontos de extração ligados pela Transgarimpeira, estrada de 180 quilômetros. Construída pela Caixa Econômica em 1986, a estrada está abandonada e sem manutenção. O abandono é o mesmo relegado ao garimpo. Nem a profissão de garimpeiro é reconhecida.
“Minha equipe e eu trabalhamos 24 horas por dia”, comenta Olho de Gato, no garimpo há duas décadas. Ele já passou por Serra Pelada, Guiana Francesa e Suriname. Rico não ficou, mas conseguiu um certo respeito no seu meio. “Olho de Gato é lerdo de manso”. Com o comentário, o nordestino Rosalino Pereira Serrano quer dizer que o colega é exímio conhecedor de seu ofício. Rosalino não atingiu o mesmo status de Olho de Gato, mas pelo menos já ganhou apelido: Boca Rica. A alcunha não poderia ser mais apropriada. Seis dos seus dentes são cobertos de ouro. “Quando fico blefado, tiro o ouro da boca e troco por dinheiro. Quando bamburro, guardo minha reserva na boca.”
Blefo e bamburro são termos que fazem parte da vida de qualquer garimpeiro. Das histórias contadas no garimpo, muitas são trágicas. É comum ouvir relatos de mortes por queda de avião nas cerca de 320 pistas próximas a Transgarimpeira. E também de roubo de ouro, prostituição, contaminação por mercúrio, reincidência de doenças como febre amarela, malária e hepatite. Mas nem só de tragédia e miséria vive o garimpeiro. Alguns poucos têm a sorte de alcançar a sonhada ascensão social.
“Já cheguei a encontrar uma média de 100 quilos por mês nos anos 80. Durante cinco anos, juntei cinco toneladas”, lembra, saudoso, o goiano Rui Barbosa de Mendonça, 59 anos. Na época, Rui era um dos dez pequenos mineradores mais ricos da região; hoje, pode se considerar, no máximo, um membro da classe média. Rui chegou a contratar dois mil garimpeiros e comprou seis aviões e um helicóptero. Independentemente de onde venham, eles têm uma característica em comum: quando bamburram, só pensam em gastar. Essa necessidade tem sua explicação. O garimpeiro fica meses trancado no mato e quando consegue algum dinheiro, corre para a cidade. Chega sem noção de preços. No garimpo, até o sexo é pago em pepitas.
Um garimpeiro mais extravagante chegou ao extremo de fazer um rabo com notas de dinheiro para passear pela cidade e ostentar a fortuna recém-adquirida. Quem presenciou a cena lembra que Chico Índio passava os dias desfilando e, de vez em quando, olhava para trás e exclamava: “Passei a vida inteira atrás de você, agora é você que vai me seguir.” Duas semanas depois, Chico morreu num acidente de carro.“Os garimpeiros estão ficando mais ordeiros. A oferta de ouro diminuiu e eles são obrigados a conter a ânsia de gastar”, avalia a vice-presidente da Associação dos Mineradores de Ouro do Tapajós, Célia Araújo Serique. A escassez do ouro na região preocupa os principais compradores do metal. A produção de Itaituba declarada entre janeiro e setembro foi de 2,16 toneladas, muito longe das 10,4 toneladas anuais produzidas no início da década.

Balsas de garimpo viram abrigo para desabrigados

Balsas de garimpo viram abrigo para desabrigados
Na região do Baixo-Madeira, área de várzea mais atingida pela cheia histórica do principal tributário da margem direita do rio Amazonas, há dezenas de famílias morando em balsas de garimpo, batelões – barcos típicos da região - e abrigos improvisados pela própriacomunidade.
A disposição em ajudar uns aos outros uniu católicos, evangélicos, entidades como a Defesa Civil e um grupo de garimpeiros. Com a suspensão das atividades de extração de ouro de aluvião (em pó)no leito do rio, por causa da grande profundidade das águas, homens como o “Ceará” lideram um movimento para ceder as balsas de garimpo às famílias interessadas em continuar morando próximo às antigas casas, com medo de serem roubadas pelos chamados “ratos d’água”. “É o nosso jeito de ajudar na hora do sofrimento dessas pessoas”, disse ele, preferindo se identificar apenas pelo apelido.



Na maioria das comunidades inundadas, há famílias inteiras que preferem permanecer morando em balsas de garimpo, dentro de batelõese sobre estrados de madeira (maromba) construídos dentro das casas inundadas a poucos centímetros do nível da água. O pescador Thaumaturgo Ferreira Brito, 63 anos, é um dos cerca de 12 mil flagelados pelas enchentes em Rondônia. Separado da família, dorme há mais de um mês sobre um colchão protegido apenas por uma grade de madeira a poucos centímetros do nível da água, uma espécie de presa fácil para ataques de jacarés e cobras que migraram do lago do Cuniãpara a margem alagada do rio Madeira. “Nunca tinha visto uma cheia tão grande como esta”, diz Brito, em tom de desilusão por ter perdido toda a produção da banana e mandioca e de ainda correr o risco de perder a casa por causa da correnteza.



Disposto a não sair em busca de abrigo na casa dos filhos na capital, ele prefere contrariar as orientações da Defesa Civil para também não incomodar os familiares que têm hábitos e costumes diferentes dos seus. “Não posso deixar minhas coisas para trás. Mas quando o rio vazar, se eu não tiver condições de recomeçar aqui mesmo, vou para o Amazonas em busca de terra mais segura”, disse ao estender a mão e se despedir.



Grande parte dos desabrigados foi transferida pela Defesa Civil para ginásios de esporte, salas de aula das escolas públicas das redes municipal e estadual, salões paroquiais como o do bairro São Francisco, em Calama, ou ainda acampamentos montados nas poucas áreas de terra ainda não atingidas com as barracas distribuídas pela Defesa Civil Nacional nas proximidades de São Carlos, Nazaré e Calama.



Jucelena Miranda é uma das sete famílias abrigadas na escola municipal Drª Ana Adelaide Granjeiro, em Calama. Muito tensa, após constatar que a correnteza quebrou todas as paredes de tábua e destruiu o telhado da sua casa no bairro São Francisco, ela reclamou da falta de distribuição regular de água mineral e da pouca quantidade de gêneros alimentícios da cesta básica, entregues a cada 15 dias às famílias. “Onde, por exemplo, eu vou conseguir sobreviver a metade de um mês com 2 k de açúcar e 250 gramas de pó de café?”, frisou.



No início da semana, a Defesa Civil, que mantém três barcos grandes e voadeiras de apoio às comunidades do Baixo-Madeira, recebeu mais 294 fardos de água mineral com seis galões cada para distribuição aos desabrigados cadastrados. Junto com mais 25 tendas cedidas pela coordenação Nacional para ampliação dos acampamentos em “Terra Firme” e Demarcação, e o abrigo da escola estadual de Calama, General Osório, as equipes locais distribuíram quinta-feira última 350 cestas básicas e receberam na terça-feira mais 300.



Cultura local

A cultura dos ribeirinhos incorporou outros hábitos e costumes e rechaça o rótulode desabrigado. Muito religiosos e com uma forte ligação em tudo o que o fazem com o rio terminam desobedecendo, mesmo em situação de risco, às orientações das equipes da Defesa Civil. Um dos exemplos é a improvisação de moradias em cima de balsas de garimpos, dentro de batelões e em marombas dentro das casas parcialmente inundadas.



Na comunidade de Papagaio, os desabrigados se reuniram eabriram uma trilha comextensão de 1 hora de canoa por entre as árvores para transportar da área inundada para terra firme o pouco que conseguiram retirar de dentro de casa. Por esse caminho, transitável apenas em canoas com “motor rabeta”, os flagelados ainda conseguiram retirar e guardarem acampamento improvisado as geladeiras, fogões, freezer, televisão, aparelhos de som e outros objetos.



O aposentado Raimundo Rodrigues de Araújo, 71 anos, estava ansioso para chegar logo à comunidade de Papagaio, de onde saiu em busca de abrigo na casa de familiares na capital.Contava os minutos para verse a casa inundada não tinha sido totalmente destruída pela correnteza do rio. Mas foi obrigado a esperar o dono de uma voadeira no flutuante de São Carlos para prosseguir viagem.

A bordo, ele contou que o número de desabrigados é bem maior do que os 10 mil divulgados pela mídia e admite que a divulgação constante de notícias sobre mais enchente espalha o medo e a desilusão entre os ribeirinhos. Para salvar a criação de aves ele improvisou um galinheiro flutuante, mas com o transbordamento do lago do Cuniã, segundo ele, o jacaré já devia ter comido as 39 galinhas, pois a água estava a poucos centímetros do assoalho da pequena maromba.



A desilusão de quem perdeu tudo

Desanimado com os prejuízos que não consegue nem contabilizar, o homem ribeirinho revela toda a sua desilusão com o flagelo da maior cheia do rio Madeira. Muito religioso,chega a implorar pela clemência de Deus para fazer o rio vazar e, principalmente, para que os agricultores possam recomeçara vida e voltar a plantar. Outros culpam a construção das duas usinas e possíveis erros nos estudos de impacto ambiental pelo drama que estão vivendo e cobram das autoridades em todos os níveis governamentais providências para que não fiquem sem trabalho.

Osvaldino da Silva não tem dúvidas: foram os erros no passado dos estudos de impacto ambiental para construção das duas usinas no rio Madeira. As hidrelétricas ainda irão prejudicar muito mais a população ribeirinha. Segundo ele, vem aí o assoreamento de todo o trecho da parte baixa do rio, como já aconteceu no verão passado, na desembocadura do rio Jamari – afluente do rio Madeira – “onde só passava canoa e a gente conseguia ver a areia no fundo do rio”, lembrou. 



Valdomiro Ferreira da Silva, 64 anos, pediu um batelão emprestado de um amigo e mora dentro do barco há dois meses, próximo à comunidade de Santo Antônio do Amparo. É mais um ribeirinho que perdeu toda a plantação com as enchentes e não sabe ainda como recomeçar. “Só eu perdi 600 pés de bananeira, 6 mil pés de mandioca e um plantio (roçado) com 10 k de milho plantados. Era minha fonte de renda”.



Prejuízo incalculável

O prejuízo com a cheia histórica do nível do rio Madeirachega a ser “desanimador”, admitem entre sivários passageiros do barco “Caçote”,com capacidade para 60 pessoas e que realiza duas viagens por semana a Calama, último distrito de Porto Velho, na divisa com Humaitá (AM).



Proprietários da embarcação também começam a contabilizar os prejuízos da cheia, com a redução do número de passageiros e no transporte de produtos agrícolas. Poucossão os embarques de produtos como açaí e côco verde, em comparação com aos grandes carregamentos de mandioca, melancia, cupuaçu, laranja, banana e farinha antes da cheia. A expectativa, no entanto, é de que aumente o transporte de peixe, principalmente jaraqui e jatuarana que iniciou o período da “piracema” com a migração das áreas alagadas para o rio.

Pelos cálculos da comerciante Maria Edite Ferreira dos Santos, proprietária de um mini mercado no bairro São Francisco, em Calama, e do clube local, houve uma queda de 60% nas vendas. “Não estou mais nem fazendo novas encomendas de Porto Velho, porque o movimento caiu muito”, acrescentou: “sem contar com a falta de energia para manutenção dos produtos congelados”.



Os postos de saúde da rede básica, escolas, ginásios de esporte e outros prédios públicos, bem como os serviços de telefonia, abastecimento d’água e de energia não funcionam e os prejuízos, somente no entorno do município de Porto Velho, podem alcançar R$ 900 milhões. Não foram incluídos nesses cálculos, o valor médio de uma moradia com pouca benfeitoria na área ribeirinha.

Valor da moradia

De acordo com Raimundo Ferreira Ramos, 73 anos,o valor médio de uma casa em “Ilha Nova” onde mora há anos é de cerca de R$ 50 mil. Mas depende muito das benfeitorias, como é o caso da sua que tinha 10.000 covas de mandioca plantada e era bem melhor avaliada. “Agora tudo estáno fundo. Quando o rio baixar, vou procurar uma área mais alta para reiniciar a vida. Só depois mudarei para lá”.



O ribeirinho José Sodré, 49 anos, acolhido no Centro Catequético de Calama, lamenta que a maioria das pessoas esteja na eminência de perder suas casas e o trabalho, fatores que têm afetado a estima dos flagelados. Ele defende a concessão de auxílio temporário alimentação, pois estão sem a fonte de renda gerada pela comercialização da banana e do pescado, já que também perderam os equipamentos de pesca.



A moradora de Santa Catarina, técnica em enfermagem Doriana Nobre, considera inaceitável os atrasos na distribuição de água mineral e das cestas básicas aos flagelados. Principalmente o fato de não estarem cadastrando todas as famílias atingidas. “Eu acho que ao invés de abrigo, o governo deveria era conceder uma espécie de auxílio aluguel e moradia, As pessoas ficariam muito mais satisfeitas”.

Maior índice de abrigados em balsas

As comunidades com maior índice de famílias morando em pequenas balsas flutuantes e dentro de batelões são as localidades de Santa Catarina, Papagaio e Calama. Mas em toda a extensão da zona ribeirinha é possível ver até cinco famílias dividindo o mesmo espaço, com no máximo 8 metros quadrados.



Em Santa Catarina, segundo Osvaldino Soares da Silva, 71 anos, moravam na comunidade 41 famílias. Com a cheia, a maioria decidiu abrir um caminho de 1 hora de canoa na mata até alcançar área mais segura para instalar um acampamento onde foi abrigada a maioria das pessoas. “Mas uma boa parte está morando em cima de balsa de garimpo”, disse.

“Ceará”, um dos garimpeiros que ganha a vida com a extração de ouro de aluvião nas proximidades da comunidade Papagaio, explicou que, se não fosse a solidariedade dos garimpeiros que emprestam suas balsas para ajudar às vítimas da enchente, o problema estaria muito mais grave. “Nós preferimos emprestar nossas balsas porque há muitas famílias que não querem deixar para trás o pouco que ainda lhes resta”.