domingo, 6 de julho de 2014

Vale é pouco afetada por queda de preços do minério de ferro

Vale é pouco afetada por queda de preços do minério de ferro

A mineradora é a mais protegida do setor por ser detentora do minério de ferro de melhor qualidade do mundo e ser reconhecida por ter baixos custos


Um funcionário monitora o processo de fundição de níquel em uma instalação da Vale
Vale: Se a Vale for afetada, todas as outras mineradoras já terão sido impactadas antes, diz especialista
São Paulo - O atual cenário do minério de ferro acendeu o sinal amarelo em torno dos negócios das mineradoras, no entanto, a Vale é vista como a empresa do setor mais protegida em relação à redução dos preços e só uma queda mais brusca afetaria de fato a lucratividade da brasileira.

Por ser detentora do minério de melhor qualidade do mundo e dona do título de mineradora de mais baixo custo, a companhia está em melhor posição competitiva em relação aos concorrentes, embora o preço mais baixo já esteja batendo em seus dados financeiros. Neste ano, o minério acumula perdas de 28%.
"Quando os preços do minério de ferro caírem a ponto de atingir a Vale de fato, todas as outras mineradoras do mundo já terão sido impactadas muito antes", disse o especialista em mineração e ex-diretor do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), José Mendo de Souza, e consultor da J.Mendo.
Neste ano, o preço do minério de ferro registrou a mínima em quase dois anos, batendo US$ 89 a tonelada no mercado à vista chinês no mês passado. Na quinta-feira, 03, estava em US$ 96,5 a tonelada na China.
Segundo cálculos do UBS, o ponto de equilíbrio (break even point) do preço do minério para a Vale, ou seja, valor que separa a atividade lucrativa daquela que gera perdas, é de US$ 68 a tonelada na China. "A Vale é muito lucrativa com o minério em US$ 100 a tonelada", afirma o analista do banco suíço Andreas Bokkenheuser.
Embora os preços estejam neste momento um pouco abaixo desse valor, a previsão é de que fiquem em torno de US$ 100 neste terceiro trimestre, segundo especialistas consultados pela reportagem.
"Acreditamos que os preços serão suportados ao longo das próximas quatro a seis semanas devido à atividade sazonal da construção na China", afirma Bokkenheuser.
Em relatório recente, o BTG Pactual destacou que, na sua visão, o preço médio para este ano ficará em US$ 105 a tonelada, mesmo valor projetado para 2015. Para o longo prazo, iria para US$ 90. "Em nossa opinião, a única razão para reduzir Vale é se os preços caírem em torno de US$ 80, um cenário que consideramos improvável", de acordo com os analistas Leonardo Correa, Luiz Fornari e Antonio Heluany. A recomendação do BTG para as ações da Vale é de compra.
Os analistas do BTG destacam que a maioria da indústria de minério de ferro ficaria em grande pressão com os preços no patamar de US$ 80 a tonelada.
Um dos pontos que merece ser olhado, lembram, é como será a reação das mineradoras chinesas em relação à queda ainda maior dos preços do insumo, já que grande parte dessas companhias é de custo elevado. Os profissionais lembram que em setembro de 2012, quando os preços caíram abaixo de US$ 90 a tonelada, algumas mineradoras locais suspenderam atividade.
No mercado, a percepção é de que a Vale conseguiu ao longo dos últimos anos ampliar a sua posição competitiva, tendo em vista que os investimentos em logística a aproximou de seu principal mercado consumidor, a China. A diferença da distância entre Brasil e Austrália para a China sempre foi um ponto a favor das australianas BHB Billinton e Rio Tinto.
No primeiro semestre deste ano, por exemplo, o centro de distribuição da Vale na Malásia começou a receber os navios Valemax, que possuem capacidade para carregar 400 mil toneladas, que foram banidos dos portos chineses em 2012. Nele a Vale irá estocar minério e assim poderá atender com mais proximidade seus clientes asiáticos.
Neste ano, um dos fatores de pressão sobre os preços do minério de ferro é a entrada de novas capacidades. A previsão é de que as quatro maiores mineradoras do mundo irão adicionar uma oferta de 100 milhões de toneladas por ano no mercado internacional até 2015.
Outro ponto que gera cautela é a preocupação em torno da atividade econômica chinesa. No entanto, de janeiro a maio, a produção de aço ainda registrou alta na relação anual.
Segundo a Associação Mundial do Aço (WSA, na sigla em inglês), a produção de aço na China subiu 2,7% nos cinco primeiros meses do ano, para 342,519 milhões de toneladas.

Como Eike, egocêntrico e vendedor de ilusões, afundou o Império X

Como Eike, egocêntrico e vendedor de ilusões, afundou o Império X

Confira análise da autobiografia lançada por ex-bilionário há dois anos, que mostra os sonhos prometidos e o que de fato o 'mito', como se auto-proclamou, entregou ao mercado

 
 O mineiro Eike Batista vivia possivelmente o melhor momento como empresário. Estampava publicações nacionais e estrangeiras, embolsava prêmios como grande homem de negócios do País (e uma promessa mundial, ousariam afirmar) e era a inspiração de empreendedores brasileiros. Meses antes, o ex-bilionário, que fundou o Grupo EBX, mandou o recado: passaria Bill Gates, da Microsoft, para trás e se tornaria o homem mais rico do mundo. Para muitos, ele era o cara. 
Empresário tenta salvar empresas que se dividem

Em dezembro daquele ano, Eike aproveitou toda a popularidade do momento e lançou a autobiografia "O X da Questão – A trajetória do maior empreendedor do Brasil". O livro alcançou 203 mil exemplares e foi o título mais vendido até hoje pela editora Primeira Pessoa, braço da Editora Sextante especializado em biografias.
Hoje, depois de 23 meses, ler o relato de Eike ao longo de rasas 159 páginas proporciona momentos irônicos e analíticos. Irônicos porque sua autobiografia traz um amontoado de clichês e afirmações que não passaram de promessas. Sem nem um traço sequer de modéstia, o empresário avalia um de seus momentos nos negócios – a exploração de uma operação de garimpo de ouro em Alta Floresta, ao norte de Mato Grosso. "Os méritos maiores foram persistência, obstinação, ousadia e o que as pessoas costumam qualificar de capacidade visionária".
Sobram frases no livro de culto ao ego, como "sou um empreendedor diferente da média", "sou perito em identificar diamantes não polidos e aprendi, ao longo da vida, a polir esses diamantes". Ou ainda "minha trajetória é a prova de que o capitalismo brasileiro está mais maduro. As aberturas de capital de minhas companhias são verdadeiros atestados de maioridade".
Ego, um grande companheiro
Ao mesmo tempo que o livro confirma que Eike tem um ego difícil de ser delimitado, mostra hoje a inconsistência do plano de negócios do empresário. Naquela época, Eike afirmava no livro: "Por trás do mito, há uma saga empresarial erguida acima de tudo com muito suor e trabalho... Felizmente acertei bem mais do que errei e numa escala e num tempo impensáveis no mundo empresarial". Quem não ruborizaria ao falar de si recorrendo a palavras como "mito" e "visionário"? Eike Batista.
Eike, o empresário que não teve recato ao se auto-proclamar um mito, afundou. Na última semana (dia 11), mais uma de suas empresas, a OSX (chamada por ele de Embraer dos mares), teve de recorrer à recuperação judicial na tentativa de ganhar tempo junto aos credores e conseguir uma sobrevida. A primeira a usar esse expediente foi a OGX, em 30 de outubro ("A OGX tem no seu DNA algo especial que herdou de mim: a vontade de encantar e surpreender", descreveu no livro). De figura de destaque nas listas dos maiores bilionários do mundo, o dono do Império X virou sinônimo de caloteiro e agora tem de conviver com o peso de bilhões de reais na forma de dívida, não mais em fortuna.

Com frases e mais frases feitas, o ex-bilionário oferece em "O X da Questão" grandes momentos de auto-ajuda para quem sonha em se tornar empreendedor. "Uma lição que fica para quem decide iniciar um negócio é não desistir na primeira dificuldade", ensina.
'Minha trajetória é a prova de que o capitalismo brasileiro está mais maduro', diz Eike em biografia

No mesmo capítulo, o autor avança no tema: "A única coisa certa no mundo dos negócios é que você vai errar. Se tiver humildade para reconhecer esta verdade, terá meio caminho andado para aprimorar suas práticas como empreendedor". A frase, lida sob a luz do atual momento de Eike, certamente causaria irritação e indignação nos investidores que aportaram bilhões de reais em seus projetos. Provocaria também indignação entre os minoritários que apostaram no vendedor de sonhos e colocaram suas economias em ações que viraram pó. "Posso ser acusado de excesso de ousadia, mas nunca pensei em correr atrás do Santo Graal", garante no livro.
Outro capítulo, o "Visão 360 graus", também deve incomodar quem comprou os sonhos de Eike, tamanha a sua incoerência. "Eu não aspiro à perfeição. Aspiro ao êxito. Aspire ao êxito você também. Eu desejo entregar ao mercado, aos acionistas, aos colaboradores e à sociedade o que me comprometo a entregar." Ele ficou na promessa. Demitiu boa parte de seu quadro de funcionários e viu suas seis empresas listadas na Bolsa minguarem. "Meu negócio é converter sonho em realidade, e talvez seja este o principal traço da minha trajetória", explicou. Sua crença, mostram os atuais fatos, fez água.
Para o investidor ainda em dúvida sobre as diferenças entre Eike escritor e Eike gestor, mais um trecho: "Não se deve subestimar a própria capacidade de cometer erros de avaliação. Alguma dose de cautela é vital... Mas se alguém quer risco zero, o melhor é colocar dinheiro no cofre e enterrar a chave em lugar seguro". Entenderam, senhores investidores?
'Acredite na sua intuição, mas procure confirmá-la com dados científicos ou pesquisa', outra dica do livro

No capítulo " Cartilha da Ética", um reforço de mensagem de confiança aos que tinham alguma dúvida naquele momento. O dono da EBX afirmou que "há empresários que operam 100% dentro da cartilha correta. Sou um deles e faço questão de me manter assim."
Taxativo, o autor ensina em sua autobiografia que é preciso se cercar de informações científicas quando se está estruturando um negócio ("Acredite na sua intuição, mas procure confirmá-la com dados científicos ou pesquisa"). Em outro trecho, o empresário volta ao assunto – "Por isso a pesquisa foi tão importante em minha trajetória". A dica, no entanto, parece não ter sido útil para o consumo interno. No caso da petroleira OGX, relatórios mostraram que as reservas dos campos de exploração eram bem menores do que havia sido anunciado. Faltou informação? Quem sabe.
Megalomania
No capítulo 10, "A perfeição é uma utopia", Eike Batista volta ao tema da megalomania – "Na medida certa, um pouco de megalomania ou ousadia é recomendável. Nã há empreendedor bem-sucedido que não tenha provado uma pequena dose. Quando o negócio se mostra viável, seu idealizador deixa de ser um megalomaníaco". O leitor poderia então perguntar hoje, com os negócios e a credibilidade de Eike mergulhados em um lamaçal: o autor da frase acima é um megalomaníaco?
Talvez faça parte de pessoas com o perfil de Eike a estratégia da repetição. Fala-se muitas vezes a mesma coisa de forma convincente na intenção de que as pessoas acreditem que aquilo é uma verdade. Um exemplo é quando o autor se descreve como alguém com habilidade para transitar entre várias especialidades, já que "posso lidar com ouro, prata, níquel, cobre, zinco, petróleo, energia, enfim, posso fazer um mundo girar à minha volta..."
Hoje, ao chegar a última página de "O X da Questão", a conclusão que o leitor tem é de que Eike deixou de citar uma característica importante. É apressado. Foi assim ao se lançar em várias frentes de negócios ao mesmo tempo, ao correr para o mercado para capitalizar suas empresas quando ainda não passavam de projetos e ao proclamar-se um empresário exitoso muito antes de conseguir entregar o que prometeu.

sábado, 5 de julho de 2014

ESMERALDA DE CARNAÍBA-OUTROS MINERAIS NA BAHIA

1 - CIANITA DE ANAGÉ

Características: Jazida com 188 mil toneladas de reserva medida, situada no município de Anagé, a cerca de 22km a oeste de Vitória da Conquista. Esta área, de titularidade da CBPM, também inclui a jazida de bentonita licitada e ganho pela empresa Companhia Brasileira de Bentonita – CBB cuja unidade mínero-industrial de produção de bentonita ativada está implantada e em fase pré-operação. São 352,5 hectares, onde ocorrem quatro corpos elúvio-coluviais de concentrações residuais principalmente de cianita, mas com participações subordinadas de granada, estaurolita e quartzo, em meio a material areno-argiloso inconsolidado, resultante da decomposição de xistos. Cinqüenta e seis por cento da reserva são formados por cristais de cianita maiores do que 5mm. Nos 44% restantes o comprimento dos cristais de cianita oscila entre 0,6 e 5mm. As concentrações de cianita apresentam a seguinte composição (%): SiO2 - 42,5 a 40,0; Al2O3 - 57,6 a 53,5; Fe2O3 - 2,5 a 0,93; MgO - 0,18 a 0,05; Na2O - 0,17 a 0,03; e K2O - 0,35 a 0,04. O minério é adequado para utilização como refratário, dentro das especificações da indústria nacional. A operação de lavra e beneficiamento da jazida poderá ser realizada com baixo custo, em razão da favorabilidade de suas características geológicas e da simplicidade das operações para a concentração do minério.

2 - ESMERALDA DE CARNAÍBA

CARACTERÍSTICAS: As zonas mineralizadas em esmeralda ocorrem em três áreas de pesquisa da CBPM, totalizando 1.512,49 hectares, situadas no Distrito de Esmeralda de Carnaíba, município de Pindobaçu, no norte da Bahia. A zona mineralizada mais importante, e já investigada com sondagem, situa-se na parte da reserva garimpeira numa área com 41,54 hectares. A esmeralda concentra-se na zona de interação metassomática de filões de pegmatitos, ou de mobilizados graníticos, com corpos ultramáficos serpentinizados. Esta interação resulta na formação de filões de biotita xistos, muitas vezes com um núcleo quartzo-feldspático. Esses filões são os hospedeiros das esmeraldas, que se apresentam como cristais hexagonais de berilo verde, em geral zonados (mais claros no interior) e de tamanhos variados (poucos milímetros a poucos decímetros de comprimento). Os fatores que controlam a concentração preferencial e a qualidade das gemas, como intensidade da cor, cristalinidade e inclusões, dentro dos filões, ainda não são bem compreendidos. A CBPM não só realiza trabalhos de pesquisa em suas áreas, principalmente através de sondagem, como também dá apoio técnico aos garimpeiros e micro-empresários da região. Em suas áreas de pesquisa, ela dimensionou, recentemente, uma reserva total de 18,3 milhões de toneladas de biotita xistos, das quais 6,3 milhões são de reserva medida e 12 milhões de reserva indicada. Em outras áreas de titularidade da CBPM, prevê-se um bom potencial de xistos hospedeiros de esmeralda-berilo. Dados históricos nos garimpos apontam para uma produtividade de 1,11kg de esmeralda total (gemológica e não gemológica) por tonelada de biotita xisto lavrado. Com base nesta relação, presumem-se, respectivamente, reservas da ordem de 7 mil e 13,4 mil toneladas de esmeraldas gemológica e não gemológica.

3 - AREIAS ILMENÍTICAS DE PRATIGI, MUNICÍPIO DE ITUBERÁ

CARACTERÍSTICAS: Compreende mineralizações de placers de ilmenita, com rutilo, cianita e zirconita associados, relacionadas com cordões litorâneos localizados na região de Valença a Itacaré. Dez áreas de pesquisa de titularidade da CBPM distribuem-se numa área de 8.697,12 hectares. Os trabalhos de pesquisa e avaliação mineral desenvolvidos pela CBPM nas áreas de pesquisa de sua titularidade localizadas na região de Pratigi, no litoral sul da Bahia, resultaram no dimensionamento de 8,2 milhões de toneladas de areias ilmeníticas (cut-off 1,5%), com teor médio de 3,09% de minerais pesados, predominantemente ilmenita, estaurolita e zirconita, em depósitos placers antigos relacionados a cordões litorâneos.
Com o objetivo de estudar em detalhe os aspectos ambientais envolvidos na futura explotação dos depósitos, a CBPM contratou um grupo multidisciplinar de consultores externos que desenvolveram estudos de zoneamento ambiental na área de ocorrência das areias ilmeníticas. Os resultados desses estudos demonstraram que é perfeitamente possível compatibilizar as operações de lavra com as normas ambientais em vigor, tanto mais quando se considera que o método de lavra proposto (dragagem por sucção, seguida de concentração gravimétrica) executa imediatamente, e de modo contínuo, a recomposição das áreas lavradas.
A área avaliada, com extensão de 21km por 11km, abrange depósitos de minerais pesados formados em extensos cordões litorâneos, de idade holocênica e pleistocênica (Figura 1), durante fases de avanço e recuo do mar (jazidas do tipo paleopraia). Os depósitos foram amostrados com furos de trado, em malha de pesquisa de 500m x 50m. As amostras, após concentração dos minerais pesados, foram submetidas a estudos mineralométricos para identificação dos minerais e determinações de teor. Os resultados subsidiaram a elaboração da modelagem do depósito, feita com o software Gemcom. As análises mineralométricas efetuadas em 50 amostras de concentrados têm os seus valores médios expressos na tabela 1:
TABELA 1 - COMPOSIÇÃO MINERAL MÉDIA DO CONCENTRADO
DE MINERAIS PESADOS DA REGIÃO DE PRATIGI, ITUBERÁ- BAHIA
MINERAL
PESO (%)
MINERAL
PESO (%)
Ilmenita
75,14
Rutilo
0,35
Estaurolita
9,31
Hiperstênio
0,23
Zirconita
4,83
Espinélio
0,07
Cianita
4,26
Epidoto
0,02
Silimanita
1,65
Monazita
0,02
Turmalina
1,33
Muscovita
Traços
Actinolita
1,22
Anatásio
Traços
Andaluzita
0,97
Clorita
Traços
Granada
0,59
Biotita
Traços
Para a modelagem do depósito foram considerados os dados das pesquisas realizadas pela CBPM nas áreas de Barra dos Carvalhos, Rio do Campo e Barra do Serinhaém e o contorno das áreas de preservação ambiental definidas nos estudos de zoneamento realizados por consultoria contratada pela CBPM (Figura 2).
Para o cálculo das reservas foram usados teores de corte (cut-off) de 1,5%, 1,8% e 2,0%, que normalmente são utilizados por empresas que explotam depósitos de minerais pesados similares. A distribuição das reservas por intervalo de teor de minerais pesados nos depósitos de Pratigi, para o cut-off 1,5%, é mostrada na Figura 3. A Tabela 2 sintetiza as reservas da região de Pratigi, discriminadas por zona ambiental e por diferentes teores de corte.
TABELA 2 - RESERVAS DE MINERAIS PESADOS NA REGIÃO DE PRATIGI (em toneladas)

Teor
de
Corte
(%)
ZONAS AMBIENTAIS DO DEPÓSITO

RESERVA TOTAL
Zona de
Mangue (ZM)
Zona de vida silvestre (ZVS)
Zona sem restrição ambiental (SRA)
Reserva (t)
Teor Médio (%)
Reserva (t)
Teor Médio (%)
Reserva
(t)
Teor Médio
(%)
Reserva
(t)
Teor Médio
(%)
1,5
510.003
2,36
187.528
2,35
7.520.509
3,18
8.218.040
3,09
1,8
386.029
2,74
142.549
2,71
6.647.654
3,62
7.176.233
3,54
2,0
319.486
3,02
119.675
2,71
6.139.055
3,93
6.578.216
3,54


A pesquisa foi desenvolvida pela CBPM em três etapas distintas (Valença-Itacaré, Ilmenita de Serinhaém e Rio do Campo) cujos resultados, conjugando informações geológicas, econômicas e ambientais, apontam para a viabilidade da explotação sustentável dos depósitos de areias ilmeníticas de Pratigi, em harmonia com as normas legais e princípios de preservação do meio ambiente.

4 - OURO E METAIS BASE DO RIO SALITRE

CARACTERÍSTICAS: Prospectos em estágio inicial de exploração - Anomalias geoquímicas e geofísicas, sondagens e registros de massas de sufetos maciços, essencialmente a pirita-pirrotita, rastreados por uma extensão de 1,5km ao longo do strike.

5 - OURO E METAIS BASE DE SOBRADINHO

CARACTERÍSTICAS: Prospectos em estágio inicial de exploração - Anomalias geoquímicas e geofísicas, e um furo de sonda rotativo com interseção de mais de 100m de um horizonte pelito-grafitoso com persistentes valores de Au entre 0,1 e 0,4 g/t Au;
6 - OUTROS PROSPECTOS DE METAIS EM ESTÁGIO INICIAL DE AVALIAÇÃO

CARACTERÍSTICAS: Além dos depósitos minerais já avaliados, a CBPM possui outros prospectos em diversos ambientes geológicos do Estado, ainda em estágio inicial de avaliação. Na maior parte, apresenta potencial para ouro, metais-base e ferro. A maioria dos indícios de mineralização está localizada em ambientes vulcanossedimentares do tipo greenstone belt, que ocorrem em várias partes do Estado. Esses prospectos foram selecionados a partir de dados de levantamentos geológicos e aerogeofísicos, realizados em áreas requeridas pela CBPM. As informações contidas nos prospectos, ainda em estágio preliminar de avaliação de dados, relacionam-se com registros isolados ou agrupados de ocorrências minerais e de anomalias geoquímicas e geofísicas. O acervo já reunido está disponível para análise e avaliação por parte dos investidores e empresas de mineração. Ainda assim, a CBPM planeja realizar progressivos trabalhos de pesquisa e avaliação nessas áreas, que apresentam perspectiva de sucesso na atração de novos investimentos para o setor mineral do Estado. Os prospectos mais destacados são aqueles com potencialidade para minérios de ferro, ouro e metais base (Ni, Cu, Pb e Zn). Incluem-se nesta situação os conjuntos de áreas situados na extensão do Vale do Rio Paramirim, no centro-oeste da Bahia, e na borda ocidental da Chapada Diamantina. Em alguns desses prospectos a CBPM já iniciou os trabalhos de pesquisa e avaliação.

7 - NEFELINASSIENITO DE ITARANTIM

CARACTERÍSTICAS: A nefelina é um insumo mineral de largo emprego industrial na fabricação de vidros e produtos cerâmicos. O Canadá e a Noruega são praticamente os únicos produtores mundiais, enquanto os Estados Unidos e a Europa Ocidental são os maiores consumidores. O depósito, situado no Município de Itarantim, no sudoeste do Estado da Bahia, em sete áreas de titularidade da CBPM, com 5.782,57 hectares, compreende um maciço de biotita-nefelina-sienito com 16km de comprimento, largura variando de 3 a 12km e elevação máxima de 300 metros em relação ao terreno circundante. Nos corpos pesquisados, que constituem apenas uma pequena parte do maciço sienítico, foram dimensionadas reservas da ordem de 55,15 milhões de toneladas, das quais 2,65 milhões são de reserva medida (Serra do Felícimo) e 52,5 milhões de reserva indicada. A parte central do maciço alcalino, ainda não pesquisada em detalhe, sugere um potencial superior a 200 milhões de toneladas. A composição mineralógica média dos corpos pesquisados é a seguinte: K-feldspato (30-36%); albita (27-35%); nefelina (23-24%); carbonato (2-3%); minerais contendo ferro, principalmente biotita, com menor quantidade de ferro-hastingsita e magnetita (8-10%) e traços de apatita, titanita e zirconita. O minério do depósito foi submetido com sucesso a testes de beneficiamento e ensaios tecnológicos. Como resultados foram obtidos produtos com valores médios de 61% de sílica, 22% de alumina, 13,6% de álcalis e menos de 0,1% de ferro total, que atendem, portanto, às especificações exigidas pelas indústrias de vidro e cerâmica. Por se tratar de uma jazida de classe mundial, o empreendimento mínero-industrial para produção de nefelina poderá suprir, além de uma indústria de vidros associada ao próprio empreendimento, todo o mercado nacional, seguindo a estratégia de promover a substituição do feldspato.
Os depósitos de Nefelina Sienito de Itarantim e da Areia de Alta Pureza de Santa Maria Eterna, são jazidas de classe mundial que distam entre si aproximadamente 120km, e constituem insumos minerais essenciais para a produção de vidros planos e vidros especiais. Ensaios industriais de produção de vidro plano utilizando a areia de alta pureza de Santa Maria Eterna, juntamente com a nefelina da jazida de Itarantim, resultaram em excelentes produtos, que superam em qualidade as mais rígidas especificações industriais.

8 - CALCÁRIO CALCÍTICO DA REGIÃO DE JACOBINA

CARACTERÍSTICAS: Depósitos aflorantes de calcário calcítico, identificados e investigados pela CBPM no âmbito das áreas de 7 direitos minerários de sua titularidade, totalizando 4.745,57 hectares, situadas nas localidades de Lages do Batata, Fazenda Bonsucesso, Fazenda Ouro Verde, Taquarandi e Caatinga do Moura, no município de Jacobina (seis áreas com 3.880,21 hectares) e Taquarandi, no município de Mirangaba (uma área com 865,36 hectares), distando cerca de 330km a NW de Salvador. O minério desses depósitos é de excepcional qualidade para uso nas indústrias de cal, de cimento portland e de carbonato de cálcio precipitado. Os valores médios, em percentagem (%), de seus principais componentes são os seguintes: CaO – 54,18; MgO – 0,72; SiO2 – 1,36; Al2O3 – 0,19; P2O5 < 0,02; S < 0,04, Fe Total< 0,05; e TiO2 < 0,03.
Nestes depósitos foram dimensionados reservas da ordem de 149,66 milhões de toneladas, das quais 106,24 milhões são medidas, 7,42 milhões são indicadas e 36 milhões são inferidas. Os depósitos da fazenda Bonsucesso e da fazenda Ouro Verde, com reservas medidas de 51,26 milhões e 49,86 milhões de toneladas, respectivamente, são os mais importantes. Os depósitos apresentam excelentes condições de lavra, em razão da baixa relação estéril/minério; incipiente cobertura de solo; inexistência de intercalações silicosas e de níveis dolomíticos checados através de sondagens; mergulho suave das camadas (5o); e grande largura aflorante. A área dispõe de excelente infra-estrutura (energia elétrica, estradas asfaltadas, ferrovia relativamente próxima, água, telecomunicações e serviços) para implantação de um empreendimento mínero-industrial.

9 - LITHOTHAMNE – DEPÓSITOS CALCÁRIOS BIODETRÍTICOS

CARACTERÍSTICAS: Corresponde a acumulações de sedimentos marinhos biodetríticos originados da fragmentação, desagregação e deposição de colônias de algas que foram naturalmente extintas e acumuladas o fundo do mar. Os depósitos estão situados na região litorânea de Belmonte, no extremo Sul da Bahia, no âmbito de áreas de pesquisa de titularidade da CBPM, que totalizam 11.207,21 hectares. As acumulações de calcários biodetríticos marinhos de Belmonte constituem um importante depósito, que apresenta condições econômicas de explotação numa profundidade entre 10 e 25m de lâmina d’água. A CBPM desenvolveu trabalhos de pesquisa e bloqueou uma reserva total de 84 milhões de toneladas, das quais 35,7 milhões são de reserva medida e 48,3 milhões de reserva indicada. O minério carbonático possui os seguintes teores médios: CaO - 36%, MgO - 4% e CaO+MgO - 40%. Estes teores definem o minério dos depósitos avaliados como um calcário calcítico a magnesiano, de acordo com as classificações oficiais de calcário agrícola. Além desses principais componentes, o minério contém trinta micronutrientes sob forma livre e não composta. Isto mostra que, quando dissolvidos, esses elementos tornam-se disponíveis no solo e perfeitamente assimiláveis, tanto pelos organismos animais como vegetais. Esse calcário poderá, então, ser utilizado em agricultura na fertilização de solo e na constituição de ração animal. Essas características físicas e químicas do minério calcário lhes dão aptidão para usos industriais, como um produto carbonatado, rico em micronutrientes, 100% natural e por conseqüência, perfeitamente ecológico, não ocasionando contaminação no meio ambiente marinho e terrestre. Os depósitos reúnem excelentes características que são amplamente favoráveis ao seu aproveitamento econômico.

10 - ROCHAS ORNAMENTAIS – GRANITOS

Buscando ampliar a produção de granitos ornamentais no Estado da Bahia, hoje o terceiro maior produtor do país, a CBPM vem realizando trabalhos de pesquisa visando identificar e avaliar novas jazidas de granito. O objetivo é colocá-las à disposição da iniciativa privada para implantação de novos empreendimentos no setor de rochas ornamentais do Estado. Na atualidade a CBPM detém direitos minerários sobre 41 áreas de pesquisa para rochas ornamentais, distribuídas em várias partes do território baiano, totalizando 9.366,38 hectares. Nestas áreas, a CBPM delimitou 21 jazimentos, dos quais 9 foram transferidos para a iniciativa privada, por meio de processos de concorrência pública. Os outros 12 jazimentos definidos, totalizando reservas superiores a 2,5 milhões de metros cúbicos, permanecem disponíveis ao interesse de empresas privadas.

11 - COBRE DE RIACHO SECO

CARACTERÍSTICAS: As mineralizações de cobre estão situadas no extremo norte do Estado, na região de Riacho Seco, em cinco áreas de titularidade da CBPM, equivalentes a 2.404,52 hectares, no município de Curaçá. As mineralizações são constituídas por disseminações de sulfetos de cobre em rochas gabróicas anfibolitizadas, bastante deformadas. Em superfície, as mineralizações mostram-se oxidadas, transformadas em malaquita. Os trabalhos de pesquisa e avaliação mineral desenvolvidos pela CBPM dimensionaram uma reserva total da ordem de 5 milhões de toneladas de minério, com teor médio de 0,8% de cobre. A reserva é de pequeno porte, mas permanece em aberto a possibilidade de existência de reservas de maior porte. O depósito necessita do desenvolvimento de trabalhos adicionais de avaliação, considerando-se que está situado numa região com alto potencial para mineralizações de cobre, a exemplo da mina da Caraíba.

Esmeralda brasileira faz 50 anos. Entenda MINA DA SALININHA BAHIA

Esmeralda brasileira faz 50 anos. Entenda


Gabriel e Daniel Sauer e peça com esmeralda
Os 50 anos do descobrimento da primeira esmeralda brasileira, no garimpo da mina de Salininha, na Bahia, marca o ano de 2013. Quem certificou a pedra foi Jules Roger Sauer, fundador da Amsterdam Sauer, e quem nos contou essa história foi Gabriel Sauer, da terceira geração da família, que armou um almoço nesta quarta-feira no Manioca, nos Jardins, para o lançamento da coleção Música. Em 9 de agosto de 1963, Jules conseguiu junto ao GIA ( Gemmological Institute of America) o certificado (abaixo) das primeiras esmeraldas brasileiras, dando o start na comercialização da pedra por aqui, que dura até hoje.
A história de Jules é um capítulo à parte. Morando na região da Alsácia-Lorena na França,  em 1939, no início da segunda guerra mundial, ele foi chamado pelo seu professor na escola, que o preveniu para não voltar para casa, pois toda a sua família havia sido enviada para um campo de concentração naquela manhã. Jules estava com 18 anos e foi de bicicleta até a Itália, onde embarcou em um navio para Buenos Aires. Em uma parada em Salvador ele gostou do clima e resolveu ficar por lá. Conseguiu se estabelecer em Minas Gerais abrindo uma empresa de lapidação, onde conheceu Zilda, também refugiada da guerra na Polônia com sua família. Casaram-se em 1950 e foram para o Rio de Janeiro, onde se consolidou a joalheria. Zilda faleceu recentemente, mas Jules continua firme e forte aos 92 anos e passou os negócios para as mãos dos filhos.
Certificado expedido pelo GIA da primeira esmeralda brasileira

Prospecção de ouro na área do garimpo do Manelão (PA)

Oscilações climáticas Plio-Pleistocênicas e sua influência na prospecção de ouro na área do garimpo do Manelão (PA)


Resumo
No garimpo do Manelão, o ouro está associado a veios de quartzo encaixados na seqüência metavulcano-sedimentar São Manoel. No período Plio-Pleistoceno, sob um clima úmido, desenvolveu-se sobre a seqüência São Manoel uma cobertura laterítica autóctone e imatura. Essa cobertura residual contém partículas de ouro com elevada pureza, sugerindo processos de lixiviação da liga Au-Ag ou de remobilização e redeposição do Au em ambiente laterítico. Durante o Pleistoceno, o clima tornou-se árido a semi-árido, favorecendo a erosão parcial da cobertura laterítica, através dos processos coluviais associados a enxurradas periódicas. Esse depósito coluvial recobre o perfíl laterítico, destruindo um possível padrão de dispersão geoquímica do ouro supergênico e prejudicando a prospecção geoquímica de superfície. No final do Pleistoceno e início do Holoceno, o clima úmido retorna, juntamente com os processos de intemperismo, formando stone line e latossolos. As coberturas laterítica e coluvial serviram de área-fonte para os aluviões atuais a subatuais do igarapé São Manoel, onde o ouro ocorre livre nos estratos sedimentares mais basais, formando concentrações da ordem de 10 g/ton.
Palavras-chave: oscilações climáticas, garimpo do Manelão, ouro laterítico.
Abstract
In the Manelão deposit the gold is associated with quartz veins hosted in the São Manoel metavolcano-sedimentary sequence. At period Plio- Pleistocene, under a humid climate, an autochthonous and immature lateritic cover was developed on the São Manoel sequence. This lateritic cover contains gold particules of high purity suggesting lixiviation or remobilization and redeposition processes of Au-Ag in a lateritic enviroment. During Pleistocene the climate changed to arid or semi-arid favouring the erosion of the lateritic profile through colluvial processes associated with periodical floods. This colluvial deposit cover lateritic profile destroying a possible geochemical disperson of pattern of the supergenic gold and harming the geochemical exploration surface. At the end of Pleistocene and beginning of Holocene the humid climate condition returned and associated with the intemperic processes form stone line and latosols. The lateritic and colluvial cover were the source area for the current alluvial material of the São Manoel river, in which the gold occurs free in the lower sedimentary strata and forms concentrations around 10 g/ton.
Keywords: climatic oscilations, Manelão gold deposit, lateritic gold.
Geolog
ia
Introdução
O garimpo de ouro do Manelão está localizado na região centro-leste do Pará, no município de Senador José Porfírio. É uma área de difícil acesso, sob densa cobertura de floresta, clima tropical chuvoso e relevo dominado por colinas e morros com altitudes variando entre 150 e 250 m. Destaca-se, ainda, um conjunto de serras com cristas alongadas, altitude média de 300 m e orientadas na direção WNW-ESE, as quais formam o lineamento estrutural do Bacajá, aqui denominado zona de cisalhamento transcorrente (ZCT) Bacajá (Figura 1).


Figura 1 - Bloco-diagrama esquemático da área do garimpo de ouro do Manelão, ressaltando as coberturas cenozóicas (perfis A e B) nas frentes de lavra garimpeira.

O levantamento geológico básico, a escala de semidetalhe (1:60.000), realizado em uma área de 230 km2 em torno do garimpo de ouro do Manelão, possibilitou individualizar as seguintes unidades arqueano-proterozóicas: a) Complexo Xingu (Silva, et al., 1974), que representa o embasamento polimetamórfico regional e comparece constituído por uma associação de granitóides e gnaisses de composição granodiorítica a tonalítica; b)seqüência metavulcano-sedimentar São Manoel (Souza, 1995), constituída por anfibolitos, xistos e quartzito; e c) granitóide Felício Turvo (Souza, 1995), correlacionado aos granitóides estratóides da Suíte Plaquê (Araújo et al., 1988). Completam esse quadro geológico as unidades cenozóicas representadas pelas cobertura laterítica, coluvial e aluvial (Figura 1). A mineralização aurífera está associada principalmente a um sistema de veios de quartzo, desenvolvido dentro do domínio da seqüência metavulcano-sedimentar São Manoel. O ouro também é encontrado sob a forma de partículas nas coberturas cenozóicas (Souza, 1995).
Esse trabalho descreve as relações litoestratigráficas entre as unidades identificadas no âmbito do garimpo do Manelão e suas influências na prospecção de ouro. A metodologia de trabalho envolveu mapeamento geológico de detalhe (1:2.000) nas escavações garimpeiras, poços e trincheiras, acompanhada de coleta de amostras de rocha, solo e concentrado de batéia. As amostras de rochas e as partículas de ouro coletadas foram submetidas à análise petrográfica através de seções delgadas, polidas e de lâminas de imersão para minerais leves e pesados, auxiliadas por difratometria de raio x. As partículas de ouro foram ainda submetidas a análises por microssonda eletrônica, objetivando carcaterizar sua composição.
 
Geologia do garimpo
A seqüência metavulcano-sedimentar São Manoel é a principal unidade metalogenética da área, pois hospeda ouro associado a veios de quartzo. Entretanto essa unidade encontra-se encoberta pelas unidades cenozóicas, aflorando apenas ao longo das escavações garimpeiras (Figura 1).
Seqüência metavulcano-sedimentar São Manoel
É constituída pela intercalação de corpos lenticulares, métricos a decamétricos, de anfibolito, biotita xisto e muscovita quartzito. Essas rochas apresentam estágios deformacionais variando desde protomilonitos até ultramilonitos, reflexos da heterogeneidade deformacional à qual foram submetidas. Anfibolito e biotita xisto exibem, ainda, zonas de alteração hidrotermal dos tipos propilítica e sericítica, desenvolvidas nas áreas de contato com os veios de quartzo.
Os anfibolitos são os principais litotipos dessa unidade. Apresentam cor verde-oliva, granulação fina a média e arranjos texturais grano-nematoblástico, nematoblástico e blastofítico inequigranulares. São constituídos pela associação hornblenda, quartzo, plagioclásio (albita-oligoclásio) e biotita cloritizada, tendo como minerais acessórios epidoto-zoizita, titanita, granada, apatita e opacos (pirita, pirrotita, ilmenita e calcopirita).
Os biotita xistos apresentam cor cinza escuro, granulação fina a média e arranjo textural granolepidoblástico inequigranular. São constituídos por quartzo, biotita cloritizada e plagioclásio (albita-oligoclásio), tendo como acessórios epidoto-zoizita, apatita, granada e minerais opacos (pirrotita, pirita, calcopirita e ilmenita).
Os muscovita quartzitos apresentam cor creme esbranquiçado, granulação média a grossa e arranjo textural granolepidoblástico inequigranular. São constituídos por finos níveis de muscovita pisciformes contornando agregados recristalizados e estirados de quartzo.
Unidades do Cenozóico
Embora o processo de lateritização seja de caráter regional, particularmente na área pesquisada, seu registro está mais bem desenvolvido sobre a seqüência metavulcano-sedimentar São Manoel. Sobre essa unidade, encontra-se um manto de alteração laterítica do tipo imaturo, com espessura média de 6 metros e compartimentado, da base para o topo, nos horizontes transicional e argiloso mosqueado (Figura 1, perfil A).
O horizonte transicional apresenta espessura média de 2,5 m e preserva, parcialmente, as estruturas tectógenas e texturas de alteração hidrotermal da rocha-mãe. Preserva, ainda, o arranjo geométrico dos veios de quartzo auríferos e fragmentos da rocha-mãe envoltos em aureólas de alteração. É constituído por argilominerais, tipo esmectita e illita, além de quantidades subordinadas de vermiculita, goethita e minerais herdados da rocha-mãe, tais como hornblenda, biotita, clorita e epidoto, os quais encontram-se em desequilíbrio no ambiente intempérico. Esse horizonte evoluiu a partir da rocha-mãe inalterada e representa um estágio precoce de intemperismo laterítico, marcando uma zona intermediária entre a rocha-mãe e o horizonte argiloso mosqueado.
O horizonte argiloso mosqueado possui espessura média de 3,5 m e um contato gradativo e irregular com o horizonte transicional. Apresenta coloração amarelada com manchas e venulações de tonalidades vermelha e violeta, dispostas verticalmente e imprimindo ao conjunto um aspecto mosqueado. A densidade desse mosqueamento varia lateralmente em resposta à diversidade litológica da rocha-mãe. Esse horizonte é constituído por caolinita, quartzo e óxi-hidróxidos de ferro (hematita e goethita) e mostra-se truncado e recoberto por um nível conglomerático de natureza coluvial, marcando um contato brusco e erosivo (Figura 1, perfil A).
O nível conglomerático coluvial é irregular, descontínuo, polimítico e mal selecionado. É constituído por seixos e matacões angulosos a subangulosos de quartzo, fragmentos de brechas e da crosta laterítica ferruginosa, dispostos aleatoriamente em matriz argilosa caolinítica e mosqueada. A presença de fragmentos da crosta laterítica ferruginosa, nessa cobertura coluvial, evidencia que a cobertura laterítica subjacente chegou a desenvolver um horizonte litificado, rico em óxi-hidróxidos de ferro, na sua parte mais superior. Os seixos e matacões de quartzo são provenientes do sistema de veios encaixado na seqüência metavulcano-sedimentar São Manoel e, em parte, preservados no perfil laterítico. As brechas, por sua vez, são provenientes da ZCT Bacajá, local aonde também são encontrados megaveios de quartzo leitoso e faixas de milonitos e ultramilonitos (Figura 1).
Essa nível conglomerático é sobreposto por um latossolo castanho-claro, de consistência areno-argilosa e com espessura média de 0,5 metro. Esse latossolo contém, ainda, um nível pisolítico descontínuo à base de óxi-hidróxidos de ferro (Figura 1, perfil A).
Ao longo do flat do igarapé São Manoel, encontra-se uma faixa de sedimentos aluvionares depositados diretamente sobre a seqüência metavulcano-sedimentar São Manoel. Esse aluvião é compartimentado, da base para o topo, nos níveis de cascalho, argilo-arenoso e arenoso, denunciando a presença de diferentes ciclos deposicionais nessa unidade (Figura 1, perfil B).
O nível de cascalho basal com espessura média de 0,6 m é composto por seixos e matacões subarredondados a subangulosos de quartzo, fragmentos de rochas da seqüência metavulcano-sedimentar São Manoel e de crosta laterítica ferruginosa, dispostos em matriz argilo-arenosa de coloração azul-esverdeada. Essa matriz é constituída basicamente por argilominerais (caolinita, illita e esmectita), quartzo, micas (clorita, muscovita, vermiculita), epidoto, zircão, turmalina, fragmentos de rochas e partículas de ouro. Os cristais de epidoto, zircão e turmalina exibem formas prismáticas euédricas a subédricas, com terminações piramidais e pouco fraturados, denunciando seu curto transporte.
O nível de cascalho basal é sobreposto, gradacionalmente, por um nível argilo-arenoso de cor azul-esverdeada, finamente laminado e com espessura média de 3 m. Apresenta a mesma composição mineralógica da matriz do nível de cascalho, além de conter lentes de seixos de quartzo, diminutos fragmentos de rochas da seqüência metavulcano-sedimentar São Manoel e restos de vegetais.
O nível argilo-arenoso é sobreposto, bruscamente, por um nível arenoso de cor creme-esbranquiçada e espessura média de 0,8 m. Apresenta granulometria média a grossa, estratificação cruzada acanalada de dimensões centimétricas e é constituído por grãos de quartzo e fragmentos de rochas angulosos a subangulosos e mal selecionados.

Distribuição do ouro
No sistema de veios de quartzo, o ouro é encontrado sob a forma livre, formando agregados de partículas de dimensões milimétricas, preenchendo fissuras ou dispersos na ganga quartzosa. Esse ouro apresenta grau de pureza ou fineness(1000Au/Au+Ag) médio na ordem de 860, distribuído em 85,2% Au, 13,4% Ag e 1,4% Pt, Sb, Te, Bi, Se e As (Souza, 1995).
Na cobertura laterítica, o ouro é encontrado no horizonte argiloso mosqueado e em fragmentos da crosta laterítica ferruginosa dispersos no nível conglomerático coluvial. No horizonte argiloso mosqueado, o metal ocorre sob a forma de partículas delgadas e granulares, com tamanho inferior a 1 mm. Já nos fragmentos da crosta laterítica ferruginosa, o ouro pode ocorrer, tanto sob a forma granular, como dendrítica, com tamanho normalmente inferior a 2 mm e exibindo discretas feições de corrosão e sobrecrescimento. Nesse ambiente residual, o ouro apresenta um fineness médio na ordem de 990, distribuído em 97,6% Au, 1,6% Ag e 0,8% Pt, Sb, Te, Bi, Se e As (Souza, 1995).
O elevado grau de pureza do ouro laterítico, comparado com o ouro primário, sugere que o ouro primário ou protominério foi submetido a processos de lixiviação da liga Au-Ag e outros metais ou mesmo de remobilização e reprecipitação do Au em ambiente laterítico.
No nível conglomerático coluvial, o ouro também é encontrado em partículas com elevada pureza, indicando sua natureza laterítica com posterior retrabalhamento pelo processo coluvial. Esse ouro mostra-se distribuído de modo bastante heterogêneo, associado à matriz caolinítica mosqueada e aos fragmentos da crosta laterítica ferruginosa. Contudo foram registradas ocorrências de pepitas com até 3 gramas nesse colúvio, levando garimpeiros e empresas de mineração que ali atuam a tratar essa cobertura coluvial como um depósito economicamente viável.
Na cobertura aluvial, onde estão concentradas a maioria das frentes garimpeiras, o ouro é encontrado livre, sob a forma de pepitas granulares subarredondadas, de tamanho milimétrico, exibindo superfície levemente polida e concentradas principalmente nos extratos sedimentares mais basais. A maioria das partículas desse ouro apresentam elevado grau de pureza, denunciando que esse metal é principalmente produto do retrabalhamento dos depósitos laterítico e coluvial.

Oscilações climáticas
A partir do final do Terciário e durante parte do Quaternário, a região Amazônica assistiu à instalação de um segundo ciclo de lateritização, caracterizado pelo desenvolvimento de coberturas residuais imaturas. Esse ciclo foi marcado pela alternância periódica das condições climáticas, variando entre os tipos úmido e árido, favorecendo ao surgimento de processos sedimentação coluvial (Costa, 1991).
Dentro desse contexto, admite-se que, no final do Plioceno e no início do Pleistoceno, a área do garimpo do Manelão encontrava-se sob um clima tropical úmido com cobertura de floresta e estabilidade tectônica. Essas condições favoreceram o desenvolvimento de uma cobertura laterítica autóctone e imatura, principalmente sobre os litotipos da seqüência metavulcano-sedimentar São Manoel (Figura 2A).


Figura 2 - Evolução e compartimentação das coberturas cenozóicas produzidas pelas oscilações climáticas identificadas na área do garimpo de ouro do Manelão (Modelo adaptado de Bigarella e Backer, 1975).

Durante o Pleistoceno, o clima, anteriormente úmido, tornou-se seco, com características árida a semi-árida, favorecendo a substituição da cobertura de floresta por savana e permitindo a intensificação dos processos erosivos. Sob essas condições climáticas, as chuvas torrenciais, ou enxurradas periódicas, proporcionaram a migração do regolito e a conseqüente erosão parcial da cobertura laterítica, na altura de seus horizontes mais superiores. Os detritos produzidos por esse processo foram transportados e acumulados em direção aos vales e depressões, originando depósitos coluviais de encosta de serra, formados após curto transporte e rápida deposição (Figura 2B).
No final do Pleistoceno e no início do Holoceno, o clima úmido retorna, juntamente com a cobertura de floresta, impondo uma retomada dos processos intempéricos sobre as unidades preexistentes, inclusive dos lateritos imaturos, com formação de níveis pisolíticos, stone line e latossolos. Com a instalação da rede de drenagem, as coberturas lateríticas e coluvial foram retrabalhadas, servindo de área-fonte para as faixas de sedimentos aluvionares atuais a subatuais, que constituem o flat do igarapé São Manoel (Figura 2C).

Considerações Finais
Dependendo das caraterísticas geológicas do depósito primário e, principalmente, da composição química e da maturidade do perfil de alteração laterítica, o ouro, nesse ambiente residual, pode estar concentrado em diferentes horizontes. Entretanto existe a tendência de o ouro concentrar-se nos horizontes mais superiores, onde suas partículas ocorrem associadas a óxi-hidróxidos de ferro e podem sofrer sobrecrescimento, aumentando sua granulometria (Mann, 1984; Webster & Mann, 1984; Benedetti & Boulègue, 1991; Bowell et al., 1993).
Tal característica tem sido utilizada como guia prospectivo nas regiões equatoriais potencialmente lateríticas do mundo, onde foi possível estabelecer, através da geoquímica de superfície, padrões de dispersão do ouro supergênico delineando a geometria aproximada do corpo mineralizado subjacente (Smith, 1989; Leconte & Colin, 1989; Porto, 1991; Lintern et al., 1997). Entretanto alguns depósitos lateríticos da África e do Brasil, em particular na Amazônia, foram submetidos a processos erosivos coluviais, sendo truncados e recobertos por material alóctone com características químico-mineralógicas distintas. Nesses depósitos, o padrão de dispersão das partículas ou a assinatura geoquímica do ouro supergênico mostram-se deslocados, difusos ou mesmo encobertos, não refletindo a real concentração do metal ao longo do perfil de alteração ou mesmo na rocha-mãe protomineralizada (Costa, 1993).
Essa situação geológica é observada no âmbito do garimpo de ouro do Manelão. O nível conglomerático coluvial, que trunca e recobre o perfil laterítico na altura de seus horizontes mais superiores, interfere negativamente nos resultados obtidos pela geoquímica de superfície. Análises para ouro, em amostras de solo coletadas no horizonte de latossolo e no nível conglomerático (Figura 2, perfil A), não apresentaram nenhum padrão de dispersão geoquímica que possibilitasse correlacionar com a concentração do metal no perfil de alteração ou na rocha-mãe promineralizada.
A presença de pepitas de ouro de tamanho anômalo, nesse conglomerado coluvial, também pode levar a erros de avaliação, durante a prospecção geoquímica de superfície. Isto porque os processos de transporte e de deposição de detritos coluviais, durante as enxurradas periódicas, ocorrem ao longo de um complexo sistema de pequenos canais entrelaçados. Nesse ambiente de sedimentação coluvial, dependendo do regime de fluxo, as eventuais partículas de ouro que estavam presentes no ambiente laterítico subjacente são transportadas e depositadas de forma aleatória ao longo desses pequenos canais. Essa forma de distribuição das partículas de ouro também não reflete a real concentração do metal no perfil de alteração ou mesmo na rocha-mãe protomineralizada.
Deve-se considerar, ainda, que, em alguns perfis lateríticos bauxíticos mais evoluídos e desenvolvidos sobre seqüências metavulcano-sedimentares arqueanas, do tipo greenstone belts, a heterogeneidade litológica da rocha-mãe pode formar barreiras geoquímicas que interferem na distribuição lateral do ouro (Davy & El-Ansary, 1986; Monti, 1988).
Essa também é uma situação geológica observada no garimpo do Manelão, onde a heterogeneidade litológica da rocha-mãe é refletida nas marcantes variações laterais de cor, textura e composição mineralógica dos horizontes lateríticos. Logo, o esclarecimento a respeito dos mecanismos de lixiviação, ou de remobilização da liga Au-Ag no âmbito do garimpo do Manelão, necessita da caracterização química do perfil laterítico.
Por outro lado, ao longo da cobertura aluvial, formada principalmente pelo retrabalhamento das coberturas laterítica e coluvial, o ouro no garimpo do Manelão ocorre livre e chega a formar concentrações próximas de 10 g/ton, atraindo a maioria das frentes de lavra garimpeira.
 
Agradecimentos
Ao CNPq e ao CG-UFPA, que possibilitaram a realização desse trabalho; ao Prof. Theodomiro Gama Jr. (CG-UFPA), pelo convite para a realização desse trabalho; à empresa Açaí Mineração Ltda., através do geólogo Carlos Faria; ao Prof. José Augusto Vieira Costa (UFRR), pelo apoio durante as etapas de campo, e a Cooperativa de Garimpeiros do Lombo Longo, in memoriam do Sr. Oscar Baiano.