domingo, 6 de julho de 2014

Disputa com mineradora em vilarejo na Amazônia testa direitos de garimpeiros


Disputa com mineradora em vilarejo na Amazônia testa direitos de garimpeiros

Vilarejo de São José (Nayana Fernandez)
Ouro é usado como moeda em estabelecimentos de São José (PA)
Na extraordinária corrida que se seguiu à descoberta do ouro na bacia do rio Tapajós, em 1958, dezenas de milhares de garimpeiros se instalaram no local.
Apenas alguns enriqueceram. Mas a maioria conseguiu melhorar de vida, tendo lucrado mais do que se tivesse continuado extraindo borracha, pescando ou investindo na agricultura de subsistência.
Apesar de a atividade de ter diminuído nos últimos anos, muitos homens ainda trabalham de forma primitiva em minas de ouro ainda não cadastradas.
A descoberta de vastas reservas do metal precioso no subsolo coloca os garimpeiros em pé de guerra com as grandes empresas mineradoras, que reivindicam o direito de tocar essas riqueza, inacessíveis pelos métodos artesanais.
A aldeia de São José, que fica às margens do rio Pacu, no sul do Pará próximo ao Amazonas, está no centro de um conflito entre garimpeiros e a companhia Ouro Roxo Participações.
Há alguns anos, a Ouro Roxo Participações – parte do grupo de mineração canadense Albrook Gold Corporation – garantiu os direitos de exploração do subsolo na mina de Paxiuba, onde garimpeiros ainda extraem ouro com métodos tradicionais.
Em março de 2010, a Polícia Federal e autoridades do governo chegaram a ordenar a saída dos garimpeiros.
Após uma relutância inicial, eles acataram as ordens, mas argumentaram que suas famílias haviam vivido na região por mais de meio século e durante este tempo haviam adquirido direitos sobre a terra.
Bordel  (Nayana Fernandez)
Cidade tem quatro bares que funcionam como bordéis nos fins de semana
O líder garimpeiro José Gilmar de Araujo diz que desde então eles vêm tentando legalizar as atividades de mineração, tendo levado seu pleito até Brasília.
"Mas não estamos chegando a lugar nenhum", disse.

Vida de minerador

São José não é mais tão agitada como antigamente, mas continua sendo um local onde os garimpeiros se encontram com prostitutas ou para beber no final do dia.
As lojas em torno da praça central, que funciona também como campo de futebol, vende produtos a preços inflacionados.
Comerciantes cobram mais de R$10 por um quilo de cebolas, usando pequenas balanças para medir o pagamento em ouro.
Há quatro bordéis. Durante a semana, mulheres entediadas passam o tempo em torno dos bares, servindo bebidas.
Mas no final de semana, as casas ganham vida.
Os garimpeiros chegam das minas próximas e, depois de extraírem seu ouro, gastam o dinheiro ganho com suor.
No início, havia muita violência em São José, segundo os residentes. "Quando cheguei em 1986, alguém era morto quase todo dia", relembra Ozimar Alves de Jesus, dono de um bordel.
Mas hoje o lugar é bastante tranquilo. Traficantes são convidados a deixar o local, e associações de moradores se reúnem com frequência para resolver qualquer problema da comunidade.
A prostituição é aceita. Há muitos casos de mulheres que chegam para trabalhar nos bordéis, casam com garimpeiros e abrem pequenos negócios na cidade.

Cassino

O trabalho dos garimpeiros é árduo e imprevisível. Para muitos, é esse o aspecto mais sedutor da vida de um garimpeiro. "É meio como ir a um cassino", confessa um deles, ao contar como volta diversas vezes à mesma mina, na esperança de encontrar algo.
O principal problema deles é o futuro incerto da mina - e o poder das grandes mineradoras.
Atividade mineradora  (Nayana Fernandez)
Garimpeiros reclamam da dificuldade para conseguirem se regularizar
"Essas empresas chegam e todas as portas se abrem", diz o garimpeiro José de Alencar. "Eles conseguem regularizar a situação do dia para noite. Parece que há uma lei para as grandes mineradoras e outra para nós."
Depois da expulsão de 2010, os garimpeiros passaram três anos tentando obter permissão para retornar à mina Paxiuba.
Em 12 de junho de 2013, eles cansaram de esperar e decidiram agir, retomando o controle do lugar.
Gilmar Araújo, o líder garimpeiro, disse que a decisão foi tomada por "necessidade econômica".
"Colocamos todo o nosso dinheiro nessa mina. Seria o nosso fim se não pudéssemos produzir nenhum ouro."
E desde então eles continuam trabalhando na mina. Enquanto isso, a Ouro Roxo Participações está perdendo dinheiro - e está irritada.
"Se eles permaneceram lá, vão tornar o projeto todo inviável para nós, por conta do dano que estão causando lá", disse Dirceu Santos Frederico, um dos acionistas da empresa.
"Os garimpeiros não evoluem. Eles estão presos na cultura da pobreza, da prostituição e das drogas."
Frederico atua como representante da Ouro Roxo na região. Em documentos obtidos pela reportagem, ele assina em nome da empresa.
A BBC também ligou duas vezes para o escritório que a Ouro Roxo mantém na cidade de São Paulo, sem conseguir contato com nenhum outro representante da companhia até o fechamento do reportagem, além de tentar contato com a Albrook no Canadá, que não quis fazer comentários.

Tensão

Atividade mineradora  (Nayana Fernandez)
Acionista de mineradora diz que garimpeiros estão 'presos na cultura da pobreza'
De acordo com o advogado dos garimpeiros, Antônio Joâo Brito Alves, o conflito está enfrentando uma escalada. Ele afirma ter sofrido ameaças de Frederico, que teria dito que o advogado e sua família "sofreriam as consequências" se ele não desistir do caso de Paxiuba.
Frederico nega com veemência a acusação.
As ramificações desse conflito, no entanto, têm implicações que vão muito além das margens do rio Pacu.
Se os garimpeiros ganharem, ou se receberem uma considerável indenização por terem de deixar a mina, muitas outras comunidades garimpeiras podem fazer a mesma demanda.
Assim, o vilarejo de São José tem se tornado um improvável teste de uma batalha muito mais ampla sobre o direito dos garimpeiros.

Produção de ouro em Rondônia supera royalties das hidrelétricas do Madeira

Produção de ouro em Rondônia supera royalties das hidrelétricas do Madeira


Um levantamento de Furnas revela a existência de 115 dragas de grande porte trabalhando durante o ano inteiro tirando ouro do rio Madeira, mais 165 de pequeno porte atuando nos seis meses do período de estiagem, no garimpo que persiste no trecho onde serão construídas as hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau. Os garimpeiros que ainda existem no trecho do rio Madeira onde serão construídas as hidreléricas de Santo Antonio e Jirau, remanescentes do Grande Garimpo dos Anos 80 e 90, estão produzindo R$ 120 milhões por ano, mais do que Rondônia e Porto Velho receberão de “royalties” pelo funcionamento das usinas. Os construtores das hidrelétricas precisam pensar numa forma de não interferir nessa produção de ouro que, segundo os cálculos mais modestos, entre os que foram feitos por Furnas, é equivalente ao que Furnas promete pagar de “royalties” a Rondônia (metade para Porto Velho) pela geração de eletricidade no rio – daqui a alguns anos quando as usinas forem construídas e somente quando começarem a funcionar.. Os cálculos são feitos com base em estimativas divulgadas pela própria Furnas. Estima-se que cada draga de grande porte produza entre 1,8 kg a 2 kg de ouro por mês. As dragas de pequeno porte - do tipo chupadeiras, ou balsas - estariam produzindo, ainda segundo as estimativas oficiais, 300 a 400 gramas de ouro por mês - trabalhando durante os seis meses de estiagem. Façam as contas: 115 dragas x 1.800 gramas de ouro/ mês = 207 quilos x 12 meses = 2.484 quilos de ouro por ano. 165 dragas pequenas x 300 gramas de ouro/ mês = 49,5 quilos de ouro x 6 meses = 297 quilos de ouro por ano. Então a produção anual do atual garimpo de ouro do rio Madeira, na área das hidrelétricas, é de 2.781 quilos de ouro, que, Ao preço atual de R$ 43.600,00 o quilo de ouro e multiplicando-se esse valor por 2.781 quilos de ouro temos o total R$ 121.251.600,00 por ano. Uma fortuna natural que movimenta a economia da região – conforme também reconhece Furnas.

PERSONALIDADES DO JARI: BARBUDO SARRAF, O REI DO OURO

PERSONALIDADES DO JARI: BARBUDO SARRAF, O REI DO OURO

Idemar Sarraf Felipe, mais conhecido como Barbudo Sarraf, nasceu em Alemirim, estado do Pará, em 22 de julho de 1950.
Barbudo no seu flutuante exibindo suas jóias
Hoje com 61 anos de idade, Barbudo já fez de tudo foi pescador, taxista, garimpeiro e agora empresário é uma figura lendária de Laranjal do Jari que se tornou conhecido em todo o Brasil por suas extravagâncias com ouro.
Desde muito jovem, Barbudo tinha o ouro como fetiche e sonhava usar muitas jóias do minério. E ele conseguiu realizar seu sonho, transformando-se em uma das atrações culturais e liderança política da sua região o que lhe rendeu a alcunha de "O rei do ouro da Amazônia". Como você pode conferir no link http://www.youtube.com/watch?v=DElEmPvIC3Q. E foi com a extração do ouro que Barbudo Sarraf tornou-se um dos homens mais bem sucedidos do Amapá.
Sarraf circula nas ruas de Laranjal do Jari com adereços de ouro como pulseiras, botons personalizados, botões de camisas, armação de óculos, isqueiros, cifrão entre outros enfeites que chegam a pesar cerca de 3Kg que ele afirma ser de ouro legítimo.
No seu auge como garimpeiro e empresário, com todas as jóias  que carregava pelo corpo diziam que sem sombra de dúvidas, daria para comprar um luxuoso apartamento em São Paulo, avaliado em R$ 200 mil.
Em Laranjal do Jari, cidade onde reside atualmente muitos o admiram, ganhou fama e já se tornou lenda; é famoso nos estados do Amapá e Pará e, porque não dizer em todo o Brasil. 
Barbudo e sua ex-esposa dona Luíza
Muitos programas de televisão de âmbito nacional, como o Domingo Legal, de (na época apresentado por Gugu Liberato), Programa do Ratinho (ambos do SBT) e Repórter Record já mostraram Sarraf, como um exemplo de um brasileiro que alcançou o sucesso através de seu trabalho, da persistência e acima de tudo do seu carisma.
Ganhou grande notoriedade no Jari, em 1995 quando era empresário do ramo de transporte aquaviário (catraias e barcos de pequeno porte) na travessia entre Laranjal do Jari e Monte Dourado (e vice-versa) manteve o preço 50% abaixo da concorrência e isentou do pagamento idosos e crianças.
Ele é dono de muitas histórias. Numa delas contam que Barbudo foi a uma grande loja de Macapá todo desarrumado com chinelos de dedo e com um saco de sarrapilheira. Nenhum vendedor deu bola para ele. Quando enfim ele conseguiu escolher o que queria levar informou que pagaria à vista. Abriu o saco cheio de dinheiro e fez o pagamento a admiração dos ali estavam.
No ano de 2005, ele inaugurou uma boate flutuante, a Balsa do Barbudo (apelidada pelo próprio Barbudo de Putanic) oferecendo entretenimento às pessoas do Vale do Jari enquanto subia e descia o rio Jari. A Balsa do Barbudo, era uma espécie de boate flutuante com quatro andares/ambientes para a população se divertir com variados rítmos musicais.
Fonte: sarrafinho.fotoblog.uol.com.br       Balsa do Barbudo
Barbudo Sarraf já foi candidato à prefeito de Laranjal do Jari e a deputado estadual. Na eleição de 2008, quando foi candidato à prefeito pela coligação “Laranjal que Merecemos”, encabeçada pelo PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), seu partido conseguiu, 25.86 % dos votos, a segunda maior votação, perdeu com a diferença de apenas 412 votos para a primeira colocada, Euricélia Cardoso.
Barbudo chegou a ser diplomado prefeito e governou a cidade por sete meses, entre  os meses de maio e dezembro de 2009 quando Euricélia Cardoso teve seu diploma de candidatura cassado pelo TRE do Amapá. 
* Barbudo como prefeito
No período em que esteve à frente da Prefeitura de Laranjal do Jari, a principal realização foi o polêmico aterramento da área destruída pelo incêndio de outubro de 2008, onde se localizava o Centro Comercial.
Atualmente, Barbudo faz parte dos quadros do PR (Partido Republicano) pelo qual mantêm o firme propósito de ser candidato à prefeito de Laranjal do jari em 2012.
Em 1 de julho 1995 foi tema de uma reportagem da extinta Revista Manchete do grupo Bloch. Abaixo está transcrita parte da referida reportagem com texto e fotos.
"...Idemar Barbudo Sarrafo Felipe, mais conhecido como Barbudo Sarraf diz ter orgulho da nascer no mato, como se refere à sua cidade natal.
Barbudo e sua onça de estimação
Herói ou bandido, comerciante do garimpo a sua fama já ganhou o Brasil. 'Vocês deveriam conhecê-lo. É riquíssimo, anda cheio de ouro e ajuda muita gente. Pena que esteja preso em Macapá'. 'É bom ter cuidado, o Barbudo só sai cheio de capangas e contrariá-lo é morte na certa. Só que agora ele está preso na cadeia de Belém. Veio um navio cheio de polícia para levá-lo', as duas opiniões se dividem.
Nem em Belém, nem em Macapá. Barbudo continua vivendo a maior parte do tempo na confortável casa - 'só de madeira boa' - que mandou construir no Beiradão. Mas anda cauteloso. Há pouco mais de dois meses teve este mesma casa invadida por policiais munidos de um mandado de busca e apreensão de armas e tóxicos. Não acharam nada. Nem mesmo Barbudo, que conseguiu fugir.
Barbudo pesando ouro
Ele sabe da fama que tem: 'No Jari, segundo o que o peão fala, eu sou o chefe da máfia. Deixo levar, porque é bom para esta vida que levo. Mas nunca sofri pressão de ninguém'. Suas filhas Priscila e Idemara estudam na escola de Monte Dourado; além disso, Barbudo frequenta clubes como Jariloca e é sócio do clube Ponte Maria onde, democraticamente, convive com o pessoal das três empresas Caemi [Jari Celulose, CADAM S/A e Mineração Santa Lucrécia].
A fortuna que tem, começou a acumular em 1984, vendendo cachaça nos garimpos próximos das terras do Jari: 'Peguei muito dinheiro, mas torrei tudo com vida mundana. Passei um ano só com boêmia. tinha cinco mulheres na minha conta. Blefado, cheguei nesse Monte Dourado e conheci a Luíza, minha esposa. Era era menina exemplar e eu garanhão. Então, gastei o dinheiro todo só para ficar de bacana. Depois, consegui me recuperar'.
Da venda de pinga - pela metade do preço dos concorrentes - o negócio evoluiu para o comércio de sacaria (arroz, feijão, farinha). O transporte por canoa foi incrementado com a compra de barcos a motor. As transações, feitas na beira do rio, foram transferidas para a cantina em terra firme.
O empresário Barbudo e uma de suas catraias
Hoje, Barbudo garante ter o suficiente para não precisar mais trabalhar. As economias foram sacadas dos bancos a partir do Plano Collor e investidas em ouro, terras, gado, telefones e motores para dragas de garimpo. A aventura teve um preço. Sarrafo já perdeu a aconta das malárias que contraiu; sofre de uma gastrite que o obriga a moderar na bebida; e tem dois medos na vida: de ser preso e de morrer. Porque, como ele mesmo diz, 'no garimpo não tem brabo, só medroso; ninguém discute; saca logo a arma e mata'.
Dos planos que fez para o futuro, o que mais o anima é eleger-se prefeito. Para isso, tem ido aos encontros regionais do PSDB do Amapá e garante contar com o apoio de um deputado federal. Votos - diz - ele tem.
A comunicação com o garimpo era feita por rádio
Desde que baixou o preço das catraias [em 1995] (ele é dono de quatro) [esse número aumentou muito] que fazem o transporte do Beiradão para Monte Dourado e determinou que grávida, velho e estudante não pagam, ganhou muitos votos virtuais. Mas sabe que terá de mudar alguns hábitos: "O maior problema é largar a minha vida de garanhão. Vai ser difícil porque meu hobby é mulher novinha - até 16 anos - para quem sou professor".         
Fonte: sarrafinho.fotoblog.uol.com.br     Barbudo e amigos

Recomeçou a corrida do Ouro no Tapajós?

Recomeçou a corrida do Ouro no Tapajós?

Mentor intelectual do movimento que resultou na criação, em 1990, da Associação dos Mineradores de Ouro do Tapajós (Amot), que dirige até hoje, diretor da Associação Nacional do Ouro (Anouro) e atualmente dono de nove garimpos, três dos quais ativos, o empresário Dirceu Frederico, com escritório de compra de ouro na cidade de Itaituba, garante que está começando uma nova corrida do ouro no vale do Tapajós - região que já foi a maior produtora do Brasil em boa parte da segunda metade do século passado e cujo ápice ocorreu na década de 1990. E mais: mesmo com a decadência da garimpagem, hoje reduzida a menos de dez por cento do que foi no passado, a atividade ligada ao ouro injeta ainda hoje, na economia da região, entre 10 e 11 milhões de reais por mês.

Segundo Frederico, apontado em Itaituba como "um baú de memórias da garimpagem no Tapajós", o ciclo do ouro tem sua origem nos idos de 1948, data do primeiro relato de que se tem notícia da ocorrência do metal. Da chegada dos primeiros faiscadores, nessa época, até o início da década de 1980, a extração do ouro se processava exclusivamente pelo método manual.

Ele lembra que foi a partir de 1982 que teve início a mecanização dos garimpos, com a chegada dos primeiros motores, bico-jatos e "chupadeiras" ao rio Marupá, inaugurando em território paraense técnicas até então restritas ao rio Madeira, em Rondônia. Continuando a imitar os procedimentos adotados pelos produtores de ouro de Rondônia, os garimpeiros do Tapajós introduziram, pouco tempo depois, uma novidade: as dragas de rio, com as quais passaram a revolver os "baixões" (vales e drenagens naturais do Tapajós e de alguns de seus afluentes).

Dois fatores se combinaram nessa época para provocar o que ficou conhecido então como "a febre do ouro" no vale do Tapajós. Ainda que um tanto rudimentar, a mecanização da atividade garimpeira provocou, de imediato, um extraordinário crescimento na produção. "O volume produzido foi multiplicado por dez", garante Frederico.

Ao mesmo tempo em que as máquinas impulsionavam a produção, o mercado internacional, surpreendentemente aquecido, registrava um grande aumento na cotação do ouro, induzindo com isso novos investimentos nas atividades de exploração. Ou seja, os preços do ouro compensavam os gastos com a aquisição de máquinas, que, por sua vez, resultavam em mais crescimento na produção.

Para Frederico, o vale do Tapajós abriga em seu subsolo muitos minérios, o que a coloca como uma província polimetálica. A província aurífera, porém, está confinada a uma área de 98 mil quilômetros quadrados delimitada pelos rios Tapajós, Iriri (afluente do Xingu) e rio das Tropas. Nessa área chegaram a funcionar mais de dois mil pontos de garimpo, cuja produção na época pode ter superado a casa de 700 toneladas de ouro.

No auge da produção garimpeira, entre 1982 e 1990, a CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, do Ministério de Minas e Energia) chegou a catalogar na região 432 pistas de pouso. "Provavelmente havia mais, já que não existiam os modernos recursos de hoje, como imagens de satélites", afirma Frederico. Em Itaituba, o que se diz é que o município chegou a ter perto de 700 campos de pouso em operação.


Descobertas Novas Jazidas

Dirceu Frederico observa que, historicamente, o ouro sempre valeu como ativo financeiro em torno de US$ 10 a 11 mil o quilo, o equivalente a cerca de US$ 340 a onça troy. Em 1983, coincidindo com um período de grande turbulência na economia mundial, o ouro chegou a valer US$ 800 a onça troy, o equivalente a perto de US$ 25 mil o quilo. Ou seja, quase duas vezes e meia a sua cotação histórica, o que resultou, aqui, numa febre de investimentos em abertura de pistas e compra de maquinário.

Mais de vinte anos depois, embora a época e as condições sejam diferentes, conforme o diagnóstico de Frederico, está se repetindo algo semelhante, com a cotação do ouro já atingindo um valor próximo à casa de US$ 30 mil o quilo. "O resultado disso é que já está ocorrendo uma nova corrida do ouro em Itaituba", garante.

Ele destaca que, até 1995, por dispositivo da Constituição Federal de 1988, a legislação brasileira não permitia a entrada direta de capital estrangeiro para investimento no setor mineral. A aprovação de uma emenda constitucional em 1995, no início do governo Fernando Henrique, eliminou essa restrição. A partir daí, a convite do governo brasileiro, através do Ministério de Minas e Energia, a Amot integrou comissões internacionais para tentar atrair, principalmente nos EUA, empresas dispostas a atuar em pesquisas no Brasil.

Dirceu Frederico calcula que cerca de trinta empresas americanas se interessaram pelo projeto e, delas, aproximadamente a metade se fixou na região para o desenvolvimento de projetos de pesquisa.

Do trabalho dessas poucas empresas já é possível concluir, segundo o diretor da Amot, que no vale do Tapajós existe ainda muito ouro. Ele confirma, inclusive, a descoberta de algumas jazidas de classe mundial.


"Restrições Ambientais engessam uso de riquezas"


Depois da morte de Irmã Dorothy Stang, em Anapu, em 2005, o governo brasileiro decidiu responder, da pior maneira possível, à intensa pressão da comunidade internacional: passou a criar unidades de conservação às pressas e sem o menor critério, que viram engessar perigosamente a Amazônia.

A opinião é de Dirceu Frederico, que, como diretor da Anouro, acompanhou as discussões em torno das restrições ambientais planejadas para a região. Representando os mineradores do Tapajós, ele chegou a participar de várias reuniões em Brasília e de audiências públicas realizadas na própria região oeste do Pará.

"A morte de Dorothy fez com que as unidades de conservação nascessem antes da hora", afirma. O resultado, segundo Frederico, somente hoje está sendo percebido. "As áreas onde existem grandes reservas minerais estão se transformado em reservas indígenas ou unidades de conservação".

O diretor da Amot observa que é assim na reserva Roosevelt, em Rondônia, área riquíssima em diamantes e que foi palco, no dia 7 de abril de 2004, de um massacre em que 29 garimpeiros foram trucidados por índios. Áreas ricas em minério estão hoje interditadas também em Mato Grosso, no Pará e em Roraima.

O grande problema, segundo Frederico, é que se tem hoje uma visão caolha da questão ambiental no Brasil. "O foco é única e exclusivamente na questão da biodiversidade. Não há a mesma preocupação com a população estabelecida nessas áreas, e muito menos com a geodiversidade, que tem para o futuro do Brasil importância estratégica".

As crescentes restrições ambientais impostas à região, segundo ele, ignoram o fato de que a riqueza mineral existente no subsolo é um patrimônio da nação e, como tal, deve ser aproveitada em benefício de toda a sociedade. "Não se leva em conta nem o fato de que uma empresa de mineração, para obter o alvará de lavra, tem que assumir o compromisso prévio de regeneração da área impactada".


GIGANTE DAS DRAGAS DE RONDÔNIA FAZ CHOVER DINHEIRO NAS CIDADES DO AMAZONAS

DEPOIS DO PARÁ E MATO GROSSO, GIGANTE DAS DRAGAS DE RONDÔNIA FAZ CHOVER DINHEIRO NAS CIDADES DO AMAZONAS

Objeto principal da ‘Operação Eldorado’, da Polícia Federal brasileira, atônitos, aliados da entidade, ‘estão migrando em revoada para os garimpos ao longo do Rio Madeira e de cidades do Amazonas’, revelam garimpeiros tradicionais que há mais de 50 anos exercem a lavra eco-familiar sem a utilização de mercúrio.


Humaitá, Sul do Amazonas – Como na cidade de Cacoal dos anos 90, que quase não teve prostituta pobre, as cidades desta parte da Amazônia Brasileira também são agredidas pela força do dinheiro sujo atribuído por supostos grupos de mafiosos que fizeram da atividade garimpeira a principal fonte de renda das corporações que representam na região.
O ouro tirado dos garimpos locais e do Vale do Madeira [em alguns casos, sem a declaração de origem do produto por dragueiros e compradores clandestinos], firma cada vez mais a presença de agentes ligados à Cooperativa dos Garimpeiros da Amazônia [COOGAM], apesar da forte investigação da Polícia e da Justiça Federal nos estados do Mato Grosso, Pará, Amazonas e Rondônia em desfavor desta entidade.
Objeto principal da ‘Operação Eldorado’, da Polícia Federal brasileira, atônitos, aliados da entidade, ‘estão migrando em revoada para os garimpos ao longo do Rio Madeira e de cidades do Amazonas’, revelam garimpeiros tradicionais que há mais de 50 anos exercem a lavra eco-familiar sem a utilização de mercúrio. E que agora estão sujeitos às leis de grupos especuladores de Rondônia, da Bolívia, China e Países Baixos.
Mas o que chamou a atenção das autoridades em 2012, sobretudo nos municípios de Humaitá e Manicoré, foi ‘a afronta à Constituição cidadã do povo amazonense pela ousadia de dragueiros rondonienses liderados pelo brasileiro-boliviano Arão Mendes Rodrigues’, que é detentor de mais de vários equipamentos de extração de longo alcance e poder destrutivo do meio ambiente. Eles chegaram e nos tomaram nossos garimpos, disseram habitantes locais.  
Segundo entidades que defendem o segmento das populações tradicionais dentro da República Aurífera do Amazonas, ‘esse senhor, de forma arrogante chegou a afrontar o prefeito Dedei Lobo, de Humaitá, que em alto e bom som, ameaçou entrar nos garimpos de cá nem que tivesse que levar a Polícia Federal junto com ele’.
O disparate foi tanto, que, ‘Arão teria investido, pesadamente, na campanha do ex-prefeito da cidade, o técnico agrícola Roberto Ruy Guerra de Souza’, na esperança de, caso derrotasse Dedei Lobo, obter o Alvará de Funcionamento das dragas da COOGAM’ presidida pelo presidente Geomário Leitão Sena - peça principal da Operação Eldorado no Pará, Mato Grosso, Amazonas e Rondônia.
Para chegar ao fio da meada, lideranças locais descobriram que ‘é Arão o maior de todos os operadores dos garimpos amazônicos dentro do quadro de ações da COOGAM investigadas pela PF’. Considerado ainda como ‘o gigante das dragas inscritas na entidade comandada por Geomário Sena, nem por isso, teria sido alcançado pelas operações ‘Rio de Ouro’, ‘Operação Eldorado’ ou mesmo pelas ‘malhas finas da Receita Federal’.
DNPM É FICHINHA – Com forte atuação na Amazônia, a COOGAM deu, recentemente, mais uma prova de força contra o poder público federal. A façanha, desta vez, é atribuída a Arão Rodrigues. Segundo disse nos distritos de São Carlos, Nazaré e Calama, ‘em breve irei controlar as áreas de lavra outorgadas às pequenas cooperativas eco-familiares de Porto Velho ao Amazonas’.
A pujança do dragueiro não surpreendeu nenhum presidente de cooperativa de garimpeiros de Rondônia e do Amazonas. Nos governos Waldir Raupp [PMDB] e Ivo Cassol [PP], a dupla Geomário Sena e Arão Rodrigues transitou com ‘desenvoltura nos meandros do DNPM [RO-AM] e da SEDAM [RO]’. A prova disso, revelam novas fontes, ‘é que Arão exibiu, de uma só vez, nos dias e noites de Humaitá, mais de nove Licenças Ambientais e Projetos de Lavra Garimpeiras [PLG], liberadas em tempo recorde’.
CAIXA 2 – A possibilidade de o dragueiro vir ser o suposto Vice-Presidente de Geomário Sena, ainda não foi descartada por autoridades amazonenses. No rol das investigações da PF, com o desdobramento da ‘Operação Eldorado’, ‘esta semana, Cooperativas consideradas lesadas por ele, pedirão à Policia Federal, que a ‘Operação Eldorado’ chegue até ele, a partir das operações noturnas de suas dragas no Baixo Madeira, Humaitá e Manicoré’.
LAVAGEM DE DINHEIRO – O gigante das dragas de Rondônia é acusado, ainda, de ‘ser o autor do descaminho do ouro extraído, ilegalmente, das áreas outorgadas à MINACOOP [Cooperativa de Garimpeiros, Mineração e Agroflorestal]. Segundo o presidente Washington Charles Cordeiro Campos, ‘as dragas dele mineram, à noite, ilegalmente, em nossas áreas há anos’.
Denúncias são feitas à Polícia Federal, SEDAM, Ministério Público [MPE-MPF], Receita Federal [RF], Secretaria de Finanças [SEFIN], Prefeitura de Porto Velho e ao Governo do Amazonas. Quando há fiscalização, disse ele, ‘parece que avisam a ele sobre as operações, e ele sai ileso’. Da parte da MINACOOP e pequenos mineradores, ‘só resta contarmos os prejuízos’, desabafou o líder garimpeiro.
Em a Humaitá, Washington fez um alerta ao governo do Amazonas. De acordo com o que protagonizou, ‘a COOGAM de Geomário Leitão Sena e Arão Mendes Rodrigues, ainda vai deixar muitos garimpeiros tradicionais e suas famílias amazonenses passando fome e na extrema pobreza’. Fizeram isso em Porto Velho, fazem nos rios Tapajós, Amazonas e farão em Humaitá e Manicoré’.
O apelo final do líder ficou por conta de, na segunda fase da ‘Operação Eldorado’, todas as cooperativas de dragueiros e pequenos mineradores sejam investigadas cujo foco principal da nova ação ‘seja na apuração de crimes de lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito, contrabando de minérios, corrupção de agentes públicos ambientais, falsidade ideológica e de documentos públicos, bem como, ações da Polícia e da Justiça que imprimam grandes baques ao crime organizado que atua nos garimpos de Rondônia, Mato Grosso, Pará, Amazonas, Roraima, Amapá e Maranhão’, sentenciou Washington Campos, 65.