quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Rondônia: Índios e garimpeiros 'reabrem' garimpo de diamantes na reserva Roosevelt

Rondônia: Índios e garimpeiros 'reabrem' garimpo de diamantes na reserva Roosevelt
Há dez anos, 29 garimpeiros foram assassinados na região em meio a desentendimentos com os índios


 
Numa porção da floresta Amazônica onde pode estar uma importante jazida de diamantes, índios e garimpeiros refizeram uma lucrativa parceria para extrair e vender as pedras de maneira ilegal.

A atividade foi retomada no fim do ano passado na Terra Indígena Roosevelt, uma área que se estende por Rondônia e Mato Grosso.  Há dez anos, 29 garimpeiros foram assassinados na região em meio a desentendimentos com os índios por causa do tesouro que aflora nessas terras.

O que sai da região tem um destino conhecido de autoridades: o comércio internacional ilegal de diamantes.  As suspeitas são de que as pedras de Roosevelt acabem chegando às mãos de compradores na Bélgica, Emirados Árabes Unidos, EUA, Índia e Israel, centros de lapidação e comércio de diamantes.  É uma longa cadeia ilícita, da qual em geral participam doleiros, contrabandistas, empresas de fachada e, por vezes, agentes da lei.

A situação de Roosevelt é delicada para o Brasil.  O país é participante do Sistema de Certificação do Processo Kimberley, que regulamenta, com a chancela da ONU, o comércio internacional dos diamantes brutos e exige de seus signatários medidas para garantir que suas pedras sejam extraídas somente de áreas legalizadas.  Diamantes brutos só podem sair do país com certificado Kimberley, emitidos pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).  Se forem de áreas não legalizadas, não são, em tese, certificados.

Autoridades brasileiras veem Roosevelt com dupla preocupação.  Primeiro porque mineração em terra indígenas é proibida no país e o caso expõe a dificuldade do Estado de evitar que parte dos diamantes brasileiros continue sendo extraída e comercializados de maneira ilícita.  A segunda preocupação é com a segurança.

"O momento é o pior possível.  Talvez até pior do que era há dez anos, no auge do garimpo", disse na sede do Ministério Público Federal em Porto Velho o procurador da República em Rondônia, Reginaldo Pereira Trindade.

"O contexto de violência em Roosevelt ainda está presente como naquela época das mortes, mas como a questão parece ter esfriado o governo está muito mais desinteressado".  Para ele, o risco é de novos conflitos levarem índios e garimpeiros a se matarem por causa dos diamantes.  "Basta que alguém risque um palito de fósforo para que esse barril de pólvora, que está aí latente, exploda."

Um intermediário na venda de diamantes contou à reportagem, sob a condição de não ter seu nome divulgado, que viu em janeiro no garimpo, índios armados e um ambiente hostil com os garimpeiros que trabalham e dormem no garimpo.  "O clima estava estranho", definiu ele.

Desde 2004 - quando em abril os 29 corpos foram encontrados -, a Polícia Federal mantém vigilância no entorno de Roosevelt para evitar a entrada de máquinas e garimpeiros e para garantir a paz na terra indígena e nas cidades próximas.  Em dez anos, a Operação Roosevelt reduziu, mas nunca barrou de vez a extração ilegal de diamantes na região.

A Terra Indígena Roosevelt é uma das quatro áreas reservadas aos índios cinta-larga entre o sudeste de Rondônia e o noroeste do Mato Grosso.  Roosevelt tem 230,8 mil hectares.  Todo o território cinta-larga, 2,7 milhões de hectares - o equivalente ao Estado de Sergipe.  São entre 2.000 a 2.500 índios.  A Operação Roosevelt tem menos de 60 homens e seis bases no entorno da terra.

O Valor esteve na última semana de janeiro em uma das principais aldeias dos cinta-larga: a aldeia Roosevelt.  De Cacoal, no sudeste de Rondônia, até lá são quatro horas de viagem.  O cacique é Daniel Rondon, quase 50 anos, sisudo e com português carregado de sotaque de sua língua materna, o tupi mondé.


A corrida aos diamantes de Roosevelt começou em 1999.  Entre 2003 e 2004, de 4 mil e 5 mil homens trabalharam na clareira


"A cada 15 a 20 dias, cada família [que controla um pedaço de terra nas margens do igarapé Lajes, onde está a clareira do garimpo ] recebe R$ 10 mil, R$ 15 mil.  É mais ou menos 20% das vendas", explicou ele na varanda de um casa de alvenaria espaçosa e muito simples a poucos metros das margens do Rio Roosevelt.

De 20% a 25% sobre a venda dos diamantes são o que, em geral, os índios têm recebido por "liberar" a mineração em Roosevelt para garimpeiros, segundo Rondon e outros cinta-larga.

A aldeia Roosevelt parece um pequeno e pobre bairro rural.  Não tem ocas, mas 40 casas padronizadas com paredes pintadas de branco e manchadas de terra e outras poucas construções.  Tudo com verba do governo federal.  Nas cidades próximas à Roosevelt, o relato frequente é que algumas poucas lideranças ficam com o grosso do dinheiro dos diamantes e que o desperdiçam em noitadas, bebida, prostitutas e motos e carros.

Em 2010, a Fundação Nacional do Índio (Funai) firmou uma parceria com os cinta-larga para encerrar a atividade garimpeira.  À Funai caberia reforçar as ações de ajuda à população de Roosevelt além de pagar a cada família que atuasse como polícia indígena, para impedir o garimpo.  O valor pago a cada indígena pelo Projeto Lajes chegou a R$ 1.500 por mês.  Com o acordo, o garimpo foi "oficialmente" fechado pelos índios em 2010.  Em 2012, houve um repique e a PF destruiu com explosivos máquinas no garimpo.

"No primeiro momento a gente avançou, mas depois a gente passou a não ter mais estrutura, dinheiro", disse Urariwe Suruí coordenador regional da Funai em Cacoal.  Houve também, disse, problemas entre os cinta-larga por conta de quem as lideranças escolhiam ou deixavam de escolher para a função remunerada a cada mês do Projeto Lajes.  "[O projeto] acabou em outubro passado.  Eles disseram que não queriam mais.  E aí o garimpo voltou com tudo", diz o jovem suruí.

Líderes cinta-larga usam um único argumento para justificar a extração ilegal de diamantes: o governo não os ajuda a ter projetos agrícolas rentáveis e sustentáveis e as famílias cinta-larga se envolvem com o garimpo para comprar alimentos, remédios, roupas, carros para transporte de doentes, combustível e também TV com canais por assinatura, celular, moto e tudo o que aprenderam a consumir desde os primeiros contatos com o mundo exterior nos anos 60.

"O que acontece é que tem tanta reunião, reivindicação e o governo demora para atender.  Aí os índios falam 'não vamos esperar mais o governo, não'", resume Nacoça Pio Cinta-Larga, de 55 anos, um dos líderes locais, ao falar da reabertura do garimpo.

Os garimpeiros usam resumidoras, um tipo de esteira para bater o cascalho, e bombas de água.  Rondon diz que o movimento no garimpo caiu um pouco.  "Tinha 30 máquinas e agora, 19."

A reportagem não chegou ao garimpo do Lajes, o principal de Roosevelt, que fica numa clareira que de ponta a ponta, segundo a PF, tem quatro quilômetros.  Uma ilha de lama no meio da floresta.  Da aldeia até lá são mais quatro horas.  Lideranças cinta-larga na aldeia não permitiram a visita da reportagem sob a alegação de que a estrada estava intrasitável.

A corrida aos diamantes de Roosevelt começou a ser notada em 1999.  Entre 2003 e 2004, de 4 mil e 5 mil homens trabalharam na clareira, segundo a Polícia Federal.  "Naquela época era muita gente.  Hoje, se tiver, são 100 e poucas pessoas", diz Marcelo Cinta-Larga, de 33 anos, citando um número sem confirmação de autoridades.  Rondon fala em menos de 100.


A Terra Indígena Roosevelt é uma das quatro áreas reservadas aos índios cinta-larga entre o sudeste de Rondônia e o noroeste do Mato Grosso.  Atualmente, os garimpeiros usam resumidoras, um tipo de esteira para bater o cascalho, e bombas de água.


Assim como Rondon e Pio, Marcelo diz que a relação com os garimpeiros que estão novamente em suas terras está tranquila.  Rondon diz os garimpeiros foram mortos porque estavam ameaçando de morte os índios.  Segundo a PF, desde 2007 não há mortes relacionadas aos diamantes.  Além dos 29, a polícia computa 20 assassinatos ocorridos antes e depois de 2004.

Ao falar sobre a venda das pedras, Rondon narra assim a rotina do negócio: "Tem um barracão lá no garimpo e os caras que compram vão lá para avaliar e comprar.  De 15 em 15 dias eles vêm comprar".  E acrescenta: "A gente não sabe quem é o comprador forte."  Ele e outros dizem que no passado tinham negócios com compradores de Minas Gerais, Mato Grosso e São Paulo.  Usando a palavra em tupi mondé que significa pedra branca e também diamante, Rondon diz que o "ikaxirá" mais caro que viu nos últimos tempos foi um de 8 quilates vendido por R$ 80 mil.

Um conhecedor do mercado de diamantes falou de uma pedra bem mais valiosa.  À reportagem, por telefone, ele afirmou que há quatro meses apareceu na mão de um comprador de Juína (MT) uma pedra recém-extraída de Roosevelt de 90 quilates vendida por R$ 450 mil.  E que há poucos dias, surgiu na cidade outra, também de Roosevelt, de 30 quilates.  Um quilate é o equivalente e 200 miligramas.

"Os diamantes de Roosevelt são totalmente distintos de qualquer diamante do Brasil.  São predominantemente pedras brancas, têm várias formas, mas muitas octaédricas [o que permite cortes valorizados na fase de lapidação], são pedras de alto teor de pureza, muito bonitas e grandes.  Eu já vi diamantes de lá de 50, 70, 80 quilates", disse, de Brasília, o geólogo do Serviço Geológico do Brasil, Valdir Silveira, que lidera um projeto para mapear áreas diamantíferas, o Projeto Diamante Brasil.

Segundo ele, há indicações seguras de que a terra dos cinta-larga está sobre corpos kimberlíticos com alto potencial diamantífero.  Mas por ser terra indígena, nunca nenhuma empresa prospectou nem lavrou a região.

O comércio mundial de diamantes brutos é afunilado em poucas cidades, entre elas Antuérpia, Dubai, Nova York, Mumbai e Tel-Aviv.  São centros de comércio e de lapidação de padrão internacional.  O preço de um diamante bruto pode ser multiplicado alguma vezes após lapidado.  Em tese, esses mercados movimentam apenas diamantes com origem legal.  Mas no setor, são ainda frequentes relatos sobre caminhos ilícitos para 'esquentar' pedras de áreas proibidas.  Para Valdir Silveira, esse é o caso dos diamantes de Roosevelt.

"O destino é ilegal, não tem como não ser, porque a produção de diamante lá é ilegal", diz.  "Com certeza, os diamantes de Roosevelt estão saindo do Brasil de forma clandestina, eles estão indo para a Venezuela ou Guiana ou outro país da região."  São rotas conhecidas onde os contrabandistas obteriam certificados Kimberley de forma mais fácil do que no Brasil.  Outra opção seria misturar pedras de Roosevelt em lotes de áreas regulares ou recorrer a pessoas que levam para o exterior pedras na roupa ou dentro do corpo.

Em sua sala na sede da Operação Roosevelt, em Pimenta Bueno (RO), o delegado Alexandre de Andrade Silva, chefe da base central da operação, diz que PF faz patrulhas nas estradas que dão acesso à terra indígena, mantém equipes nas seis bases no entorno da terra e eventualmente sobrevoa a região.  "O desafio da PF é chegar a quem está comprando, ao grande comprador, ao grande financiador."

Em 2010, a equipe de Silva junto com a PF no Mato Grosso tentaram ir além.  "A gente ficou um ano investigando tentando pegar a ponta, tentando alargar a teia para de repente pegar um cara que está lá na Rússia, Bélgica ou em Israel.  Mas não se evidenciou", disse o delegado.  "A PF continua empenhada em tentar chegar aos compradores finais.  Não desistimos, de jeito nenhum."

Em março de 2010, um homem foi detido no Aeroporto Internacional de Confins (MG), com um diamante de 28 quilates que policiais afirmaram ter saído de Roosevelt.  A pedra foi avaliada em R$ 200 mil.  Em abril do mesmo ano, um lote com 20 pedras, avaliado em R$ 100 mil, também da terra cinta-larga, segundo a PF, foi apanhado com outro homem em Confins.  Em 2004 e 2005, a PF já havia desmantelado dois esquemas de venda ilegal das pedras de Roosevelt para o exterior.

O Brasil exportou legalmente em 2013 US$ 6,1 milhões em diamantes brutos, 44,3 mil quilates, segundo dados preliminares do DNPM.  É insignificante para o mercado internacional.  Mas a produção vem aumentando desde 2009, quando encolheu pela crise financeira internacional.  Em 2009, a exportação brasileira foi de US$ 2 milhões, 35,9 mil quilates.  Minas e Mato Grosso são alguns exportadores.  Em Rondônia, segundo dados da superintendência local, havia em janeiro, 161 pedidos de pesquisa ou lavra de diamantes.  Legalmente, não há nenhum quilate sendo extraído no Estado.

A incrível história do diamente cor-de-rosa

A incrível história do diamente cor-de-rosa

Os irmãos Gilmar e Geraldo saem do País com pedra de US$ 30 mi escondida em maço de cigarro e se ligam a doleiro que lavou US$ 1,7 bi em quatro anos



Para uns, os diamantes – que ornamentam a realeza e deslumbram estrelas de cinema – são eternos e servem para dizer “eu te amo”. Para outros, uma febre, cuja compulsão por ter o melhor é capaz de ceifar vidas dentro e fora do garimpo, movimentar conhecidos doleiros para evadir divisas e, mais do que nunca, dilapidar os cofres públicos. O que mais chama a atenção em uma das mais recentes maracutaias
feitas no País com gemas preciosas – séculos depois do comendador João Fernandes e sem Chica da Silva – é a ousadia. Na salada que mistura lavagem de dinheiro via Banestado, o banco americano MTB e investigação policial daqui e dos EUA, o ingrediente mais nobre é a venda de um diamante rosa de 80 quilates, no valor de US$ 12 milhões em estado bruto, para um comerciante de Hong Kong. A pedra especial – conhecida como fancy color – foi negociada pelos irmãos Gilmar Campos e Geraldo Magela Campos, donos de garimpos em Minas. O diamante avaliado em US$ 30 milhões depois de lapidado saiu clandestinamente do País dentro de um maço de cigarros rumo a Nova York. Mais uma prova de que o fumo faz mal à saúde, principalmente à da Nação. Assim começa a viagem ilegal da brazuca Pink Diamond, como é conhecida essa preciosidade no mercado internacional. A aventura é um remake do submundo do contrabando internacional de diamantes, sem o charme e a ação do agente 007.
A incrível história do diamante cor-de-rosa e do poder de fogo do doleiro carioca Dario Messer, que movimentou a fortuna que os irmãos garimpeiros ganharam com a pedra, é contada pelo próprio Gilmar Campos: “Durante mais de 50 anos, quando não era possível a exportação de pedras, Messer foi o responsável por trazer para o País todo o dinheiro do contrabando de diamantes para o Exterior.” Campos está sendo investigado pela PF por suspeita de envolvimento com o contrabando de pedras da Reserva dos Índios Cinta Larga em Rondônia. E Messer, prestes a completar 90 anos, só teve suas atividades criminosas descobertas no ano passado, durante as investigações da máfia dos fiscais, denunciada por ISTOÉ, que mostrou as atividades nada públicas do ex-fiscal Rodrigo Silveirinha e sua quadrilha. Ele ajudou os fiscais a mandar US$ 30 milhões para a Suíça. Mas o doleiro, segundo documentos do MTB comprovam, operou mais de US$ 200 milhões com o contrabando de pedras preciosas retiradas de reservas indígenas e de garimpos ilegais do País.
Gilmar jura ter ele mesmo encontrado o diamante rosa num garimpo do rio Abaeté (MG) em 1999. Pouco tempo depois, assinou o compromisso de vendê-la por US$ 12 milhões para o italiano Gino Giglio, ex-diretor da Black Swam, companhia canadense que realiza pesquisa de mineração em Minas. Campos e o italiano seguiram para Nova York com a pedra escondida em um maço de cigarro. Eles pretendiam vender o precioso diamante para uma máfia de compradores controlada por um grupo de judeus. Nos EUA, o resultado não foi o esperado. O cartel resolveu fazer um pacto de desvalorização e “queimar” a pedra, que na escala de diamantes especiais (fancys) é a mais valiosa depois do vermelho e do azul. Ao perceber que o italiano não tinha condições de cumprir o acordo, os irmãos Campos resolveram trocar o diamante verdadeiro, depositado num cofre no Chase Manhatan Bank, por uma pedra falsa.
“Nós estávamos desesperados. Depois da troca, contratamos um intérprete e seguimos para Hong Kong, onde vendemos o diamante rosa, que, depois de lapidado, está avaliado em US$ 30 milhões”, conta Magela. Tanto ele quanto Campos insistem que a venda e o uso de Dario Messer para movimentar a montanha de dólares através de uma offshore não esbarram em ilegalidade alguma: “Não fizemos nada errado. Não podíamos exportar a pedra porque o garimpo não estava legalizado. Só isso.” Os nomes de Messer e dos irmãos Campos vão se cruzar após a apreensão de uma agenda pela PF nos escritórios de Alexandre Martins e Reinaldo Pitta, ex-empresários do jogador da Seleção brasileira Ronaldo, acusados de envolvimento com a quadrilha dos Silveirinhas. Na agenda, Messer seria dono da Depollo, uma offshore no Uruguai com conta no MTB Bank de Nova York. Por essa conta, operada por sua filha, Sônia, e pelos “laranjas” Clark Seton e Roberto Natalon, o doleiro lavou US$ 1,7 bilhão nos últimos quatro anos. Por ela passaram os dólares da máfia dos fiscais do Rio e também os US$ 200 milhões dos contrabandistas de diamantes e de pedras preciosas. Documentos enviados pela Promotoria Distrital de Nova York à CPI do Banestado confirmam as relações da conta da Depollo com Messer.
Sócio do irmão Geraldo Magela na Giacampos, empresa que obteve recentemente autorização do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) para pesquisa e exportação de diamantes na região de Pará de Minas (MG), Campos usou os serviços do doleiro. Segundo os dados do MTB Bank, ele trouxe em 2002, via Depollo, US$ 6,5 milhões referente ao diamante rosa contrabandeado para a China. Os mesmos documentos comprovam que a conta foi usada para evitar o rastreamento das autoridades brasileiras e americanas. O comprador da China depositou o dinheiro numa conta de Gilmar e Geraldo Magela no Chase Manhatan Bank de Nova York. Quando precisavam de dinheiro, os irmãos transferiam recursos em dólares para a Depollo no MTB e sacavam imediatamente o dinheiro em espécie com Messer no Rio. Durante o período de abril a agosto de 2000, foram realizadas nove operações desse tipo. No dia 12 de abril, por exemplo, há referência nos documentos do MTB de uma transferência da conta nº 635001106 no Chase Manhatan para a conta da Depollo. “Não fiz nada de errado. Em vez de sair com divisas, eu trouxe divisas para o País. Quando precisava de dinheiro, eu apenas fazia a transferência da conta da Depollo e recebia o dinheiro com o Messer no Brasil”, confirma Gilmar.
Império rosa – O diamante rosa trouxe riqueza aos irmãos Campos, que montaram um verdadeiro império na região de Pará de Minas, formado por várias fazendas, construtoras e agroindústrias. Mas a exploração e o comércio de diamantes é o principal empreendimento. Recentemente a Giacampos obteve licença do DNPM para pesquisar e explorar diamantes em 17 áreas de Minas Gerais, onde emprega mais de mil garimpeiros. Essas licenças dão aos irmãos Campos o direito de obter o certificado de procedência Kimberly que lhes permite exportar cerca de um quilo de gemas por cada área licenciada. Homologado no Brasil em 2002 por uma portaria conjunta do DNPM e da Receita, esse certificado tornou-se indispensável nas transações de vendas de diamantes no mercado externo. O certificado surgiu num boicote mundial à produção e ao comércio da pedra em Serra Leoa, na África, por causa de guerras tribais e da mutilação de crianças na região.
Segundo o chefe do DNPM em Minas, Emanuel Martins Simões Coelho, a legislação permite somente a exportação de pedras retiradas das áreas autorizadas pelo governo. Guias legalizam as pedras extraídas durante a fase de pesquisa. Mas essas guias, no entanto, admite Emanuel, acabam servindo para “lavar” pedras retiradas de garimpos ilegais. “Não dá para saber ao certo de onde o diamante declarado foi extraído. Por isso, temos de acreditar nas informações passadas pelos exploradores. É preferível que as pedras saiam legalmente do País, com o recolhimento dos impostos, em vez de contrabandeadas”, disse.
Em seu escritório, no centro de Pará de Minas, Gilmar confirma que exporta
diamantes extraídos de outros garimpos. Mas nega a participação no contrabando
de pedras da Reserva dos Índios Cinta Larga. “Eu nunca fui em Rondônia, mas
se aparece alguém com diamante de lá tenho de acreditar que as pedras foram retiradas daqui da região”, afirma. Quando o assunto é duto ilegal, eles se enrolam. Documentos do MTB mostram que, mesmo legalizados, continuaram beneficiando-se da conta da Depollo. De janeiro a abril de 2002, a Yael Star, empresa compradora de diamantes, depositou cinco remessas que totalizam US$ 1 milhão na conta da offshore do doleiro. A Giacampos aparece como beneficiária da transação. Como é de costume, a fortuna foi entregue em espécie a eles por Messer no Brasil.
O sucesso dos irmãos Campos atraiu para Minas cerca de 20 mil garimpeiros à procura do diamante rosa. A pedra também desperta a atenção de companhias estrangeiras e compradores de pedras de várias partes do mundo, que fazem
de tudo para espantar a concorrência. No mês passado, os moradores do
município de São Gonçalo do Abaeté foram surpreendidos com uma chuva de
notas de R$ 50 que caiu de um helicóptero. Segundo a PM, a dinheirama foi jogada
por um comprador de pedras da Bélgica, identificado apenas como Hassam, que pretende se instalar na região.

Garimpeiros de diamantes de Coromandel (MG) foram expulsos

Garimpeiros de diamantes de Coromandel (MG) foram expulsos

É cada vez maior o número de magnatas ou prepostos de magnatas que investe no subsolo brasileiro. Olacyr de Moraes, Eike Batista, Daniel Dantas, Gilberto Miranda, Naji Nahas são alguns deles. Não sei é possível avaliar o subsolo brasileiro. Só Olacyr afirma que suas reservas de minérios raros, na Bahia, valem 30 bilhões de dólares.
A tendência em ocupar o subsolo se acentuou quando uma pequena mudança na legislação, em 1995, no governo Fernando Henrique Cardoso permitiu a entrada de investimentos estrangeiros na mineração, desde que formassem uma empresa localizada e administrada em solo brasileiro.
Desde então também se acentuam os conflitos no campo, não por terra, mas pelo subsolo, com derrota dos garimpeiros brasileiros diante do poder econômico do capital multinacional. E de pequenos proprietários cujas terras são invadidas por detentores de licenças de pesquisa, muitas vezes sem receber a contrapartida estipulada em lei. Reforma agrária do subsolo, pedem algumas cooperativas de mineradores desalojados, que estão prestes a organizar um Movimento dos Sem Subsolo.
Uma pesquisa comandada pelos professores Ricardo Júnior de Assis Fernandes Gonçalves Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Goiás e Marcelo Rodrigues MendonçaProfessor Doutor do Programa de Graduação e Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Goiás mostra como os garimpeiros de diamantes de Coromandel, em Minas Gerais, sucessores de trabalhadores instalados desde o início do século XIX na região foram afastados desde que o governo concedeu a empresas transnacionais licenças de pesquisa baseadas na legislação de 1995.
“Nossa região (Coromandel e Abadia dos Dourados) abriga mais de três mil garimpeiros, pais de família que tiram o seu sustento do garimpo. E, infelizmente, estão impedidos de exercer legalmente o seu trabalho porque o subsolo é da União e ela própria concedeu licenças de pesquisas a um pequeno grupo de especuladores (na maioria estrangeiros associados a vendilhões brasileiros)” informa um garimpeiro ao jornal “Garimpando Noticias”, citado no estudo.
Em abril de 2005 a Câmara Municipal, motivada pela atuação política de vereadores que se envolveram com o movimento garimpeiro expediu o título de “Juditio Persona Non Grata” à Sam Sul Mineração Ltda., “pelos malefícios causados à Sociedade Coromandelense face a posse de 35.000 hectares de direitos de exploração do subsolo, impedindo o desenvolvimento regular da atividade garimpeira e por não contribuir em nada para o desenvolvimento do município”

Novas jazidas de diamantes no Brasil

Novas jazidas de diamantes no Brasil

Oito especialistas do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), órgão vinculado ao Ministério das Minas e Energia, mapearam e identificaram dezenas de novas áreas potencialmente ricas em diamantes no País, especialmente no Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Pará.
Essa iniciativa faz parte do projeto Diamante Brasil, cujas pesquisas de campo começaram em 2010. Desde então, os geólogos visitaram cerca de 800 localidades em diversos estados, recolheram amostras de rochas e efetuaram perfurações para descobrir mais informações sobre as gemas de cada um dos pontos.
O ponto de partida para as expedições foi uma lista deixada ao governo pela empresa De Beers, gigante multinacional do setor de diamantes que prestava serviços para o Brasil na área de mineração. Neste documento, constavam as coordenadas geográficas de 1.250 pontos, entre os quais muitos kimberlitos*. Apesar das informações sobre as possíveis localidades dessas jazidas, não havia detalhes sobre quantidades, qualidade e características das pedras, impulsionando o trabalho de campo dos geólogos.
O objetivo principal dos pesquisadores era fazer uma espécie de tomografia das áreas diamantíferas no território brasileiro, visando atrair investimentos de mineradoras e eventualmente ajudar a mobilizar garimpeiros em cooperativas. Essas medidas podem trazer um aumento na produção de diamantes em território nacional e coibir as práticas ilegais relacionadas a essas pedras preciosas.
Atualmente, o Brasil conta principalmente com reservas dos chamados diamantes industriais e de gemas (para uso em jóias). Os de gemas são os que fazem girar mais dinheiro, considerando que um diamante desses pode ser vendido em um garimpo do Brasil por R$ 2 milhões. Já o valor da pedra lapidada pode chegar à R$ 20 milhões.
Os detalhes dos achados ainda são mantidos em sigilo. Com o fim do trabalho de campo, os geólogos do Diamante Brasil darão início à descrição dos minerais encontrados e as análises das perfurações feitas pelas sondas. A intenção dos pesquisadores é divulgar todos os dados em 2014.
*O que é um Kimberlito?
De acordo com Mario Luiz Chaves, doutor em geologia pela Universidade de São Paulo e professor adjunto da UFMG, kimberlitos são rochas hibridas, ígneas ultrampaficas, potássicas e ricas em voláteis, com origem a mais de 150km de profundidade e que chegam a superfície por meio de pequenas chaminés vulcânicas ou diques. Normalmente, os diamantes são encontrados neste tipo de rocha. Confira uma foto:

Os cinco maiores diamantes lapidados do mundo

A obra Diamante: a pedra, a gema, a lenda, de autoria do professor doutor Mario Luiz Chaves e do doutor em engenharia de minas Luís Chambel, aborda aspectos geológicos e de mineração relacionados aos famosos minerais e traz diversas curiosidades para os leitores. Abaixo separamos uma lista baseada no livro com dados sobre os maiores diamantes do mundo e fotos incríveis de cada um deles.
1)    Cullinan I
Essa pedra foi encontrada em 1905 na África e recebeu o nome de Cullinan em homenagem ao dono da mina, Thomas Cullinan. É considerado o maior diamante já encontrado e pesa 3.106 quilates. Atualmente, adorna o Cetro do Soberano, propriedade real da Inglaterra.
2)    Incomparable
O Incomparable, ou Imcomparável, tem uma história curiosa: foi encontrado em 1984 por uma garota em uma pilha de cascalho próxima à mina MIBA Diamond, no Congo. Considerado inútil pela administração da mina, o cascalho foi descartado com a pedra, e a menina acabou descobrindo o segundo maior diamante bruto do mundo, com 890 quilates. O corte do diamante gerou 14 gemas menores e o Incomparável, um diamante dourado com 407,48 quilates.
3)    Cullinan II
O Cullinan II, conhecido como Pequena Estrela da África, foi encontrado no mesmo ano e local que o Cullinan I. Com 317.4 quilates (63.48 g) é o terceiro maior diamante lapidado do mundo, e foi colocado na coroa imperial, também pertencente à realeza da Inglaterra.
4)    Grão Mogol
Encontrado na Índia em 1550, pesa 793 quilates. A pedra deu nome a um município em Minas Gerais. O paradeiro atual desta preciosidade é desconhecido.
5)    Nizam
O Nizam é o diamante mais antigo desta lista e foi descoberto na Índia em 1830. A pedra tem 227 quilates e já adornou coroas e joias reais (Elizabeth). Atualmente ninguém sabe ao certo qual foi o seu último destino.

Diamantes negros, ou carbonados, têm origem extraterrestre

Diamantes negros, ou carbonados, têm origem extraterrestre


Diamantes negros
Diamantes carbonados, ou diamantes negros, podem ter vindo do espaço. [Imagem: Steve Haggerty]
Diamantes extraterrestres
Se de fato "os diamantes são para sempre," parece que, em relação ao planeta Terra, eles também "o são desde sempre". Geólogos descobriram que os chamados diamantes carbonados, ou diamantes negros, não se originaram na Terra, mas no espaço exterior.
O nome diamante carbonado foi cunhado no Brasil no século XVIII, e é usado internacionalmente ("carbonado diamonds"). Eles só ocorrem aqui no Brasil e na República Centro-Africana.
Cientistas de duas universidades norte-americanas agora descobriram que esse tipo muito específico de diamante, que não é encontrado em nenhuma mina na Terra, tem uma origem extra-terrestre.
"Elementos traço críticos para uma origem 'ET' são o nitrogênio e o hidrogênio," afirma Stephen Haggerty, um dos autores do artigo que descreve a descoberta. A presença de hidrogênio nos diamantes carbonados indica que eles foram formados em um ambiente rico nesse gás, no espaço interestelar.
Diamantes carbonados
Os diamantes tradicionais são minerados a partir de rochas vulcânicas chamadas kimberlitos. Eles também podem ser extraídos de fontes secundárias, chamadas aluviões, que se formam quando os kimberlitos são desgastados pela ação dos agentes naturais e fazem com que os diamantes soltem-se da rocha original e se acumulem, principalmente em cursos d'água.
Essa formação é praticamente idêntica em todas as minas ao redor do mundo. Mas nenhuma delas é compatível com a formação dos diamantes carbonados. Todas as minas de diamante do mundo em conjunto produziram cerca de 600 toneladas de diamantes convencionais desde 1900. Mas nenhuma delas produziu um quilate sequer de diamantes negros.
Segundo os pesquisadores, os diamantes carbonados foram formados em explosões de estrelas chamadas supernovas. Quando chegaram à Terra, eles eram do tamanho de asteróides, medindo até um quilômetro de diâmetro.