Os chineses ameaçariam, de fato, o mercado de pedras semi-preciosas brasileiras.
Isso
porque o brasileiro parece pouco empenhado em defender esse setor e até
manifesta um profissionalismo falho no comércio do produto para o
exterior.
É muito difícil generalizar. Mas conversando com o
atacadista suíço da área (Didier Rodelli, 35 anos de Waedenswil, perto
de Zurique, talvez o maior da Suíça) tivemos a impressão de que os
produtores brasileiros de pedras semi-preciosas deixam escapar um filão
importante: o do trabalho de acabamento, limitando-se principalmente à
produção de material bruto.
Didier Rodelli – que dispõe de uma
área de 500 m2 repleto das mais diferentes pedras, procedentes dos 4
cantos do mundo (China, Austrália, Madagascar, África do Sul, Marrocos,
Estados Unidos, Uruguai e Argentina), mas, principalmente do Brasil –
deve com freqüência importar o produto brasileiro para a China. E uma
vez que ele é trabalhado naquele país, importa para a Suíça, onde o
coloca a disposição dos lojistas do ramo.
Seriedade em questão
Ele
notou que o brasileiro não parece realmente querer defender um segmento
da produção importante que dá mais valia ao produto. Quando ele faz
encomendas específicas de produtos, de tal e tal dimensão, o que recebe
corresponde geralmente apenas parcialmente ao estipulado e o acabamento
deixa a desejar. E uma agravante: o prazo de fornecimento combinado é
pouco respeitado. “Será no fim do mês, brinca o importador, mas não se
sabe de que mês”.
Se o atacadista faz a mesma encomenda na China,
tem a certeza de que irá receber o produto realizado segundo o que foi
acertado no acordo. E tem a certeza também de que o prazo será observado
à risca, afirma.
O chinês forneceria, portanto, o produto na
medida exata estabelecida e no prazo fixado. E levaria uma outra
vantagem sobre o brasileiro: o transporte China-Rotterdam-Zurique fica
pelo mesmo preço que o transporte do produto brasileiro no trecho
Rotterdam-Zurique, ou seja muito mais barato.
Brasil abre espaço para a China
Quem
trabalha no comércio sabe que as leis do mercado são impiedosas. Quem
quiser fazer negócios de certo vulto é preciso, por assim dizer, entrar
no esquema.
Se, por exemplo, no ramo específico que abordamos, se atende a determinada demanda, o produto fornecido precisa ser uniforme.
Outra
norma de referência para não assustar o cliente é que os preços sejam
bastante estáveis. Não é o caso do Brasil, nesse setor. Da China, sim,
observa Rodelli.
A conclusão de tudo isso é lógica: o brasileiro
perde fatias do mercado, perde divisas, perde possibilidade de criar ou
manter postos de trabalho. O Brasil, o maior produtor de pedras
semi-preciosas deixa escapar oportunidades e acaba perdendo know-how no
setor.
Fica a pergunta: a China é uma real ameaça? Só uma
investigação mais aprofundada pode dar uma resposta. Mas que o Brasil
perde terreno nesse campo, não restaria dúvida. Se não é que já tenha
tomado consciência do problema.
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