Grupo canadense quer extrair ouro ao lado de Belo Monte
O rio Xingu vai deixar de ser palco exclusivo de
Belo Monte, a polêmica geradora de energia em construção no Pará. Em
uma região conhecida como Volta Grande do Xingu, na mesma área onde
está sendo erguida a maior hidrelétrica do país, avança discretamente
um megaprojeto de exploração de ouro. O plano da mineradora já está em
uma etapa adiantada de licenciamento ambiental e será executado pela
empresa canadense Belo Sun Mining, companhia sediada em Toronto que
pretende transformar o Xingu no "maior programa de exploração de ouro
do Brasil".
O projeto é ambicioso. A Belo Sun, que pertence ao grupo canadense
Forbes & Manhattan Inc., um banco de capital fechado que desenvolve
projetos internacionais de mineração, pretende investir US$ 1,076
bilhão na extração e beneficiamento de ouro. O volume do metal já
estimado explica o motivo do aporte bilionário e a disposição dos
empresários em levar adiante um projeto que tem tudo para ampliar as
polêmicas socioambientais na região. A produção média prevista para a
planta de beneficiamento, segundo o relatório de impacto ambiental da
Belo Sun, é de 4.684 quilos de ouro por ano. Isso significa um
faturamento anual de R$ 538,6 milhões, conforme cotação atual do metal
feita pela BM&FBovespa.
A lavra do ouro nas margens do Xingu será feita a céu aberto, porque
"se trata de uma jazida próxima à superfície, com condições geológicas
favoráveis". Segundo o relatório ambiental da Belo Sun, chegou a ser
verificada a alternativa de fazer também uma lavra subterrânea, mas
"esta foi descartada devido, principalmente, aos custos associados."
Para tirar ouro do Xingu, a empresa vai revirar 37,80 milhões de
toneladas de minério tratado nos 11 primeiros anos de exploração da
mina. As previsões, no entanto, são de que a exploração avance por até
20 anos. Pelos cálculos da Belo Sun, haverá aproximadamente 2.100
empregados próprios e terceirizados no pico das obras.
O calendário da exploração já está detalhado. Na semana passada, foi
realizada a primeira audiência pública sobre o projeto no município de
Senador José Porfírio, onde será explorada a jazida. Uma segunda e
última audiência está marcada para o dia 25 de outubro. Todo processo
de licenciamento ambiental está sendo conduzido pela Secretaria de Meio
Ambiente do Pará. O cronograma da Belo Sun prevê a obtenção da licença
prévia do empreendimento até o fim deste ano. A licença de instalação,
que permite o avanço inicial da obra, é aguardada para o primeiro
semestre do ano que vem, com início do empreendimento a partir de junho
de 2013. A exploração efetiva do ouro começaria no primeiro trimestre
de 2015, quando sai a licença de operação.
Todas informações foram confirmadas pelo vice-presidente de
exploração da Belo Sun no Brasil, Hélio Diniz, que fica baseado em
Minas Gerais. Em entrevista ao Valor, Diniz disse o
"Projeto Volta Grande" é o primeiro empreendimento da companhia
canadense no Brasil e que a sua execução não tem nenhum tipo de ligação
com a construção da hidrelétrica de Belo Monte ou com sócios da usina.
"Somos uma operação independente, sem qualquer tipo de ligação com a
hidrelétrica. Nosso negócio é a mineração do ouro e trabalhamos
exclusivamente nesse projeto", disse Diniz.
O "plano de aproveitamento econômico" da mina, segundo o executivo,
ficará pronto daqui a seis meses. Nos próximos dias, a Belo Sun abrirá
escritórios em Belém e em Altamira. Hélio Diniz disse que, atualmente,
há cerca de 150 funcionários da empresa espalhados na Volta Grande do
Xingu, região que é cortada pelos municípios de Senador José Porfírio,
Vitória do Xingu e Altamira.
O local previsto para receber a mina está localizado na margem
direita do rio, poucos quilômetros abaixo do ponto onde será erguida a
barragem da hidrelétrica de Belo Monte, no sítio Pimental. A exploração
da jazida, segundo Diniz, não avançará sobre o leito do rio. "A mina
fica próxima do Xingu, mas não há nenhuma ação direta no rio."
Para financiar seu projeto, os canadenses pretendem captar recursos
financeiros no Brasil. De acordo com o vice-presidente de exploração da
Belo Sun, será analisada a possibilidade de obter financiamento no
BNDES. "Podemos ainda analisar a alternativa de abrir o capital da
empresa na Bovespa. São ações que serão devidamente estudadas por nós."
Segundo a Belo Sun, o futuro reservado para a região da mina, quando a
exploração de ouro for finalmente desativada, será o aproveitamento do
projeto focado no "turismo alternativo", apoiado por um "programa de
reabilitação e revegetação". Na audiência pública realizada na semana
passada, onde compareceram cerca de 300 pessoas, a empresa informou que
haverá realocação de pessoas da área afetada pelo empreendimento e que
a construção de casas será financiada pela Caixa Econômica Federal. A
Belo Sun listou 21 programas socioambientais para mitigar os impactos
que serão causados à região e à vida da população.