O BAMBURRO DE OURO PERIQUITOS
Dois dos garimpeiros mais bem sucedidos no Rio Madeira, têm uma história singular e interessante. Sou amigo dos dois.
São dois sócios que se complementam na perfeição e cujo trabalho conjunto tem resultados muito bons.
Um, o Silvino, nissei baixo e forte, com uma boa formação técnica e
uma inteligência perspicaz, que o leva a investir sempre em equipamentos
de última geração. O outro, o Rogério, português, o “português dos
Periquitos” como passou a ser conhecido, vindo de pobre família de
pescadores, franzino mas rijo, longas barbas, fez um curso de mergulho e
escafandro em Portugal, com o objectivo de emigrar para a Venezuela e
trabalhar nas plataformas dos poços de petróleo. De passagem para a
Venezuela, em Manaus ouviu falar dos garimpos de mergulho no Rio
Madeira... voltou para trás e aqui ficou. Dele se diz que tem faro para o
ouro!
O destino levou-os a encontrarem-se no Rio Madeira, nos Periquitos,
no tempo em que ainda não havia dragas, e começaram os dois como
mergulhadores, em parceria, quando um mergulha, o outro fica atento ao
compressor de ar.
Assim nasceu entre eles uma sólida amizade e um interesse em comum,
que os levou a serem sócios na compra de uma balsa. Fizeram ouro,
juntaram, e quando apareceram as primeiras dragas, as chamadas “queixo
duro”, em que a lança era movimentada manualmente com uma catraca,
compraram uma.
E foi a queda, a derrocada, a draga não fazia ouro de início e as
economias do tempo da balsa, fortemente diminuídas pela compra da draga,
em pouco tempo se desgastaram por completo.
Num dia vinte e quatro de Dezembro, completamente blefados e no auge do desânimo, resolveram vender a draga.
O Silvino e os peões foram para Porto Velho e o Rogério, que não
tinha família com quem passar a noite de Natal, ficou sozinho na draga,
guardando o equipamento.
Na noite de vinte e quatro para vinte e cinco, triste e encostado no
barranco, constatando que ainda tinha um resto de óleo diesel no tanque,
mas sem dinheiro nem gasolina na voadeira para levar a draga para o
meio do rio e poitar, optou por gastar aquele óleo diesel ali mesmo.
Colocou o motor para funcionar e mandou brasa !
O combustível era pouco e deu para poucas horas de trabalho, ao fim
das quais, apurado o dragado, deu mais de meio quilo de ouro.
O Rogério mandou um peão conhecido a Porto Velho, avisar o Silvino para não vender a draga e começou aí o bamburro deles.
Nesse barranco, trabalhando os dois sozinhos e por turnos, fizeram
vários quilos de ouro, e o Rogério tornou-se conhecido como o português
dos Periquitos.
Nunca mais voltaram a passar por uma situação difícil. Daí em diante,
sempre atualizando equipamentos, são seguramente os garimpeiros que
mais ouro produzem no Rio Madeira.