Mineração de opala pode gerar R$ 50 milhões
A mineração da pedra preciosa opala, que varia entre R$
20 e R$ 300 o grama bruto, ainda pode ser mais bem explorada no Brasil.
A afirmação, feita por especialistas no setor, indica que com um
investimento de R$ 100 milhões nas minas do Piauí o rendimento da pedra,
que hoje soma R$ 4,8 milhões no ano, poderia crescer 10 vezes,
atingindo R$ 50 milhões em cinco anos.
“O mundo possui uma grande carência da gema que poderia ser suprida
pelas minas brasileiras”, afirmou Marcelo Morais, especialista na
questão da opala pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae). O Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM)
estima que um terço do volume de produção de gemas – com exceção do
rubi, do diamante e da safira – vem do Brasil.
De acordo com o especialista, a única mina no mundo que possui a
extração da pedra está na Austrália, onde já há um desgaste bem maior do
que o encontrado nas minas brasileiras. “O movimento na Austrália, por
ser muito mais antigo, já está em fase de finalização. Números indicam
que mais de 80% da mina deles foi explorada; já a nossa exploração é
recente”, afirmou Morais.
Aproveitando esta possível lacuna dentro do setor, o professor de
Arqueologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI) Carlos Antônio
Monteiro argumenta que seria necessário um investimento na casa de R$
100 milhões para que a pedra no Brasil fosse usada com mais qualidade.
“Esse investimento, que seria em equipamentos, aumento de mão de obra,
profissionalização e estudos profundos, traria um retorno de até dez
vezes em cinco anos para as minas piauienses.”
Segundo números do Sebrae, o Piauí possui 30 minas descobertas que
possuem opala. Todas ficam localizadas na cidade de Pedro II, a 222
quilômetros da capital, Teresina, e somam 700 hectares de terreno, o que
representa sete milhões de metros “Trata-se de um espaço de potencial
elevadíssimo, com condições de trabalho e mão de obra disponível”,
afirmou Monteiro.
Para o geólogo do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM)
David Fonseca falta delimitação do minério na área, algo que deveria ser
feito por mapeamento geológico para que o total da reserva seja
calculado. “Gemas se localizam em bolsões nas rochas, portanto, precisam
de estudo específico”. Fonseca explica que a geologia de Pedro II é
errática, ou seja, de difícil localização e que as minas são exploradas
de maneira muito rústica, o que acarreta em desperdício.
Existem três tipos de opala no Brasil. A opala-de-fogo, que é
encontrada no Piauí, Rio Grande do Sul e em outros estados. A opala
comum, presente em vários estados, e a nobre, que há somente no Piauí e é
considerada a variedade mais preciosa e procurada.
Exportação
Quando o assunto é exportação, tanto Morais quanto Monteiro
concordam: o Brasil possui um potencial extremamente amplo para o
fornecimento da pedra no mundo. De acordo com números da Associação
Gemológica da Austrália, o país da Oceania é responsável por 90% do
abastecimento mundial, número que deverá ser alterado, caso o Brasil
melhore sua produção. Em 2010, o total de exportações brasileiras do
setor de gemas e metais preciosos atingiu R$ 2.269 bilhões, segundo
dados do IBGM.
Atualmente, a cidade produz cerca de 500 quilos de joias por ano, de
acordo com a Associação dos Joalheiros e Lapidários de Pedro II (Ajolp).
Deste número, apenas 6% são exportados. “Nossos principais mercados
estão na Europa. Com destaque para Alemanha, Bélgica e França”, afirmou
Antônio Mário de Oliveira Lima, presidente da maior fabricante de joias
da região, o Ateliê de Prata.
Para a presidente da Ajolp, Surlene Almeida, a exportação tem
crescido, acompanhando o crescimento da região. “Prevemos um aumento na
casa de 20% este ano, no sentido de alta nas exportações. Isso porque a
Opala está caindo cada vez mais no gosto dos estrangeiros, e os modelos
brasileiros também agradam”, afirmou.
Conforme avalia a diretora executiva da feira Bijoias, Vera Masi, a
riqueza das opalas do Piauí é inestimável, pois possuem um grau de
dureza ideal para a lapidação. “Um quilate bruto do produto chega a
custar U$ 100, enquanto 100 kg de ametista custam U$ 10 mil”, afirmou a
diretora, que atende lojistas há 25 anos.
Associação
Para organizar os ganhos com Opala na cidade, a cooperativa dos
garimpeiros de Pedro II, presidida por José Cícero da Silva Oliveira,
vem trabalhando para crescer de forma sustentável. “Hoje, somos 150
trabalhadores e podemos arrecadar por mês até R$ 60 mil, no máximo”,
afirmou.
Depois da organização da cooperativa, Oliveira afirma que já houve na
região um processo de formalização que antes não acontecia. “A
exploração não é mais desordenada. Todos os trabalhadores da cooperativa
trabalham em áreas regulares, com licenciamento, com equipamento de
segurança. Sempre recebemos a visita de fiscais de vários ministérios”,
afirmou. No regime de cooperativa, 10% de tudo o que se ganha em vendas é
dividido entre os 150 associados.
Os números do Sebrae apontam ainda que na chamada Suíça piauiense,
devido às temperaturas mais amenas tem cerca de 500 famílias, entre
garimpeiros, lapidários, joalheiros e lojistas que vivem da opala.
A população que reside em Pedro II, segundo o Censo de 2010 do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 37.500
pessoas.
“O município recebeu autorização legal para extração da pedra em
2005, antes disso, era tudo feito de forma muito crua” afirmou Monteiro.
O presidente da cooperativa explica também que em função desse mau uso da mina nos últimos 30 anos muita pedra foi jogada fora.
“Sem estrutura, os mineradores descartavam partes das rochas pois não
achavam importantes os pequenos pedaços da pedra. Hoje, trabalhamos com
toda a parte descartada, que chamamos de rejeito.”