Turmalina Paraíba
As turmalinas conhecidas sob a
designação ”Paraíba”, em alusão ao Estado onde foram primeiramente
encontradas, causaram furor ao serem introduzidas no mercado
internacional de gemas, em 1989, por suas surpreendentes cores até então
jamais vistas. A descoberta dos primeiros indícios desta ocorrência
deu-se sete anos antes, no município de São José da Batalha.
Estas turmalinas ocorrem em vívidos matizes azuis claros, azuis
turquesas, azuis “neon”, azuis esverdeados, azuis-safira, azuis
violáceos, verdes azulados e verdes-esmeralda, devidos principalmente
aos teores de cobre e manganês presentes, sendo que o primeiro destes
elementos jamais havia sido detectado como cromóforo em turmalinas de
quaisquer procedências.
A singularidade destas turmalinas cupríferas pode ser atribuída a
três fatores: matiz mais atraente, tom mais claro e saturação mais forte
do que os usualmente observados em turmalinas azuis e verdes de outras
procedências.
Em fevereiro de 1990, durante a tradicional feira de pedras preciosas
de Tucson, no Estado do Arizona (EUA), teve início a escalada de preços
desta gema. A mística em torno da turmalina da Paraíba havia começado e
cresceu extraordinariamente ao longo das mais de duas décadas que se
seguiram, convertendo-a na mais valiosa variedade deste grupo de
minerais.
A elevada demanda por turmalinas da Paraíba, aliada à escassez de sua
produção, estimulou a busca de material de aspecto similar em outros
pegmatitos da região, resultando na descoberta das minas Mulungu e Alto
dos Quintos, situadas próximas à cidade de Parelhas, no vizinho estado
do Rio Grande do Norte. Estas minas passaram a produzir turmalinas
cupríferas de qualidade média inferior às da Mina da Batalha, mas
igualmente denominadas “Paraíba” no mercado internacional,
principalmente por terem sido oferecidas muitas vezes misturadas à
produção da Mina da Batalha.
Embora as surpreendentes cores das turmalinas da Paraíba ocorram
naturalmente, estima-se que aproximadamente 80% das gemas só as adquiram
após tratamento térmico.
Até 2001, as turmalinas cupríferas da Paraíba e do Rio Grande do
Norte eram facilmente distinguíveis das turmalinas oriundas de quaisquer
outras procedências mediante detecção da presença de cobre com teores
anômalos, através de análise química por fluorescência de raios X de
energia dispersiva (EDXRF). No entanto, as recentes descobertas de
turmalinas cupríferas na Nigéria e em Moçambique acenderam um acalorado
debate envolvendo o mercado e os principais laboratórios gemológicos do
mundo, em torno da definição do termo “Turmalina da Paraíba”.
Até o ano de 2001, o termo “Turmalina da Paraíba” referia-se à
designação comercial das turmalinas da espécie elbaíta, de cores azuis,
verdes ou violetas, que contivessem pelo menos 0,1% de CuO e proviessem
unicamente do Brasil, precisamente dos estados da Paraíba e do Rio
Grande do Norte.
Tudo começou a mudar quando, naquele ano, uma nova fonte de
turmalinas cupríferas foi descoberta na Nigéria, na localidade de Ilorin
(mina de Edeko), voltando a ocorrer quatro anos mais tarde, em meados
de 2005, desta vez em Moçambique, na região de Alto Ligonha, a
aproximadamente 100 km ao sudoeste da capital Nampula.
De modo geral, as elbaítas com cobre destes países africanos não
possuem cores tão vívidas quanto às das brasileiras, embora os melhores
exemplares da Nigéria e de Moçambique se assemelhem aos brasileiros.

O
achado destes depósitos africanos ocasionou acalorados debates no
mercado e entre laboratórios, uma vez que as gemas de cores azuis a
verdes saturadas procedentes da Nigéria e de Moçambique não podem ser
diferenciadas das produzidas no Brasil por meio de exames usuais e
tampouco por análises químicas semi-quantitativas obtidas pela técnica
denominada EDXRF.
Há alguns anos, felizmente, constatou-se ser possível determinar a
origem das turmalinas destes 3 países por meio de dados geoquímicos
quantitativos de elementos presentes como traços, obtidos por uma
técnica analítica conhecida por LA-ICP-MS.
Em fevereiro de 2006, o Comitê de Harmonização de Procedimentos de
Laboratórios, que consiste de representantes dos principais laboratórios
gemológicos do mundo, decidiu reconsiderar a nomenclatura de turmalina
da “Paraíba”, definindo esta valiosa variedade como uma elbaíta de cores
azul-néon, azul-violeta, azul esverdeada, verde azulada ou
verde-esmeralda, que contenha cobre e manganês e aspecto similar ao
material original proveniente da Paraíba, independentemente de sua
origem geográfica.
Esta política é consistente com as normas da CIBJO, que consideram a
turmalina da Paraíba uma variedade ou designação comercial, e a definem
como dotada de cor azul a verde devida ao cobre, sem qualquer menção ao
local de origem.
Por outro lado, como essas turmalinas cupríferas são cotizadas não
apenas de acordo com seu aspecto, mas também segundo sua procedência,
tem-se estimulado a divulgação, apesar de opcional, de informações sobre
sua origem nos documentos emitidos pelos laboratórios de gemologia,
caso disponham dos recursos analíticos necessários.