domingo, 7 de junho de 2015

BREVE HISTÓRIA DO DIAMANTE NO BRASIL De finais do século XIX até os dias atuais (2ª parte)

BREVE HISTÓRIA DO DIAMANTE NO BRASIL
De finais do século XIX até os dias atuais (2ª parte)



No final do século XIX, um evento histórico relacionado ao mundo do diamante alterou drasticamente o panorama vigente. A descoberta das primeiras pedras na África do Sul, ocorrida em 1866, foi um divisor de águas neste cenário, pois o Brasil, que até então detinha a primazia da produção, foi suplantado após aproximadamente 150 anos de liderança.
Os anos seguintes ao achado africano marcaram um período de franco declínio da produção brasileira, que não deveu-se ao esgotamento de suas reservas, mas sim aos baixos teores dos depósitos, que eram intensamente lavrados com base em trabalho escravo, abolido no final do século XIX. Quando os primeiros diamantes provenientes da África do Sul alcançaram a Europa, por volta de 1870, Lisboa, outrora o principal centro de comercialização de mercadoria bruta, também já perdera importância, se comparada aos centros de lapidação de Amsterdã e Antuérpia.
Após o fim da denominada era brasileira na história do diamante, a região de Diamantina, em Minas Gerais, continuou sendo a principal fonte deste mineral no país, embora sua produção tenha se mantido em níveis relativamente baixos até o princípio dos anos 1960 quando, além das atividades dos garimpeiros autônomos e dos garimpos semi-mecanizados, empresas de mineração iniciaram a exploração das aluviões diamantíferas, utilizando o método de dragagem em larga escala, ao longo dos leitos do Rio Jequitinhonha e de seus afluentes. Esta região manteve-se hegemônica no país até meados dos anos 80 mas, atualmente, seus depósitos encontram-se relativamente próximos da exaustão.
Por outro lado, o Triângulo Mineiro alcançou projeção nacional, devido a sua produção significativa e por ser a região de ocorrência de grande parte dos maiores diamantes brasileiros encontrados na primeira metade do século XX, sobretudo nos domínios hidrográficos do rio Abaeté, nos municípios de Coromandel, Estrela do Sul, Tiros, Patos de Minas, Monte Carmelo, Abadia dos Dourados e Romaria. Atualmente, está em curso um projeto de identificação de kimberlitos nas regiões oeste e central do estado de Minas Gerais.
A produção de diamantes matogrossense ressurgiu no início do século XX com as descobertas ocorridas nas regiões de Poxoréo, que remontam à década de 20, e Nortelândia, Alto Paraguai e Arenápolis, entre o final da década de 30 e início dos anos 40. As atividades de garimpagem em aluviões dessas regiões continuaram, intermitentemente, durante as décadas seguintes e intensificaram-se a partir dos anos 70, no noroeste do estado, em Juína, e no sudoeste, nos municípios de Tesouro, Guiratinga, Alto Garças, Barra do Garças e Poxoréo, sendo, neste último, criada uma reserva garimpeira, em 1979. Nesta mesma década, a chegada de empresas de mineração, que passaram a prospectar diamantes sistematicamente na região, contribuíram para que a produção alcançasse maior relevância nos últimos 35 anos, convertendo Poxoréo em um importante centro produtor nacional.
Em Rondônia, junto à divisa com o estado do Mato Grosso, a reserva indígena Roosevelt apresenta grande potencial diamantífero. Como no Brasil as atividades de mineração em terras indígenas são ilegais, há uma expectativa por parte da etnia Cinta-Larga, das mineradoras e dos garimpeiros quanto a sua regulamentação, após conflitos ocorridos em 2004. Atualmente, há diversos kimberlitos no estado sendo pesquisados com vistas à implantação de empreendimentos de mineração, principalmente na promissora região de Pimenta Bueno, no leste do estado.
A produção de diamantes na região da Chapada Diamantina, no centro do estado da Bahia, teve seu esplendor na segunda metade do século XIX, quando as ocorrências de Lençóis, Andaraí, Palmeiras e Mucugê, na bacia do rio Paraguaçu, foram intensamente lavradas. As atividades de garimpagem diminuíram gradativamente no final do século XIX, até quase cessarem ao término da segunda década do século passado. A partir dos anos 80, várias garimpos entraram em atividade nos leitos dos rios situados no Parque Nacional da Chapada Diamantina e próximos dele. Por uma ação conjunta de entidades ligadas à mineração e ao meio ambiente, estes garimpos foram fechados em 1996.
Os diamantes foram descobertos em Roraima no início do século XX, inicialmente na região do rio Maú e, mais tarde, nos leitos dos rios Cotingo, Quinô e Suapí. Na década de 30, deu-se a descoberta do depósito da serra do Tepequém, próximo à divisa com a Guiana, que manteve-se como o mais importante do estado por longo tempo. No início da década de 60, ocorreu um declínio da produção, como resultado da impossibilidade de aplicação de métodos rudimentares aos já baixos teores das aluviões remanescentes. A partir dos anos 70, teve início a produção mecanizada e, em meados da década seguinte, foi criada a reserva garimpeira de Tepequém, fechada em 1989. Dois anos mais tarde, deu-se a criação do Parque Nacional dos Índios Ianomâmis, neste estado em que as questões indígenas e ambientais exerceram influência preponderante na produção.
Depósitos diamantíferos menos significativos foram descobertos nos séculos XIX e XX em diversas regiões do país, nos estados de Minas Gerais (Serra da Canastra e Presidente Olegário), Piauí (Gilbués e Monte Alegre), Paraná (Rio Tibagi), São Paulo (Franca), Mato Grosso do Sul (Aquidauana), Goiás (Israelândia e Araguatins), Pará (Itupiranga e Itaituba), Tocantins e outros.
Atualmente, o Brasil detém uma posição quase insignificante no mercado global de diamantes, respondendo por aproximadamente 1 % da produção mundial. O modo de ocorrência dos diamantes em todas as localidades brasileiras mencionadas é similar, sendo as gemas lavradas em depósitos secundários, sejam aluviões, eluviões, colúvios e/ou em metaconglomerados.
Embora no Brasil ocorram centenas de kimberlitos e lamproítos, as fontes primárias do diamante, a imensa maioria destes corpos rochosos é estéril ou apresenta teores insignificantes sob o ponto de vista econômico, de modo que, até onde sabemos, toda a produção ainda é oriunda de depósitos secundários. Os corpos mineralizados conhecidos ocorrem, assim como em todo o mundo, em regiões estáveis a pelo menos 1,5 bilhões de anos e, no Brasil, estão associados a lineamentos estruturais, embora não seja esta uma premissa em termos mundiais. Em nosso país, a proporção entre as pedras para uso em joalheria e as destinadas à indústria é muito variável segundo a origem, sendo o percentual de diamantes-gema na região da Serra do Espinhaço (MG) o mais alto do país, superior a 80 %, uma das maiores médias mundiais.
Quanto à gênese, a teoria mais aceita hoje em dia é a de que os diamantes encontrados nos depósitos secundários brasileiros derivaram de fontes primárias de idade pré-cambriana, em alguns casos originalmente localizadas a centenas de quilômetros da região onde hoje são encontrados os diamantes, que teriam sido transportados e distribuídos por eventos glaciais. A título de curiosidade, cabe mencionar que evidências sugerem que os diamantes de algumas ocorrências, como as da região de Franca (SP) e do rio Tibagi (PR), sejam oriundos, em parte, do continente africano, evidentemente formados antes da separação continental América do Sul / África.
Desde os anos 60, diversas empresas de mineração vêm atuando na prospecção sistemática por fontes primárias e secundárias de diamante em várias regiões do país que, descobertas e comprovadas viáveis, resultarão na renovação dos meios de produção, com os métodos empregados na atividade de garimpagem sendo gradativamente substituídos pelas operações mecanizadas de lavra e beneficiamento.
Fontes

BREVE HISTÓRIA DO DIAMANTE NO BRASIL Da descoberta até finais do século XIX (1ª parte)

BREVE HISTÓRIA DO DIAMANTE NO BRASIL
Da descoberta até finais do século XIX (1ª parte)



A Índia foi a única fonte importante de diamantes do oitavo século antes de Cristo, quando surgem as primeiras referências a esta gema, até a sua descoberta no Brasil, no início do século XVIII, sendo a ilha indonésia de Bornéu uma fonte pouco relevante a partir do século VII.
Não há consenso quanto à data e local exato da descoberta de diamantes no Brasil, bem como de quem pela primeira vez o encontrou ou determinou sua verdadeira natureza. Normalmente, se aceita a tese de que a descoberta oficial ocorreu em 1725, embora alguns historiadores assegurem que o achado se deu ainda no final do século XVII, nas proximidades do antigo Arraial do Tijuco, hoje Diamantina, estado de Minas Gerais.
Consta que os primeiros exploradores que desbravaram as matas em busca de ouro ao longo do rio Jequitinhonha (MG) e de seus afluentes encontravam pedras brilhantes no fundo de suas bateias e, sem saber que se tratavam de diamantes, as empregavam como tentos em jogos de cartas, até que um sacerdote, que estivera na Índia, as teria reconhecido.
Há uma versão segundo a qual os primeiros diamantes teriam sido encontrados por Francisco Machado da Silva e sua esposa Violante de Souza, em 1714; outra credita a descoberta a Bernardino Fonseca Lobo, enquanto alguns historiadores a atribuem ao português Sebastião Leme do Prado, que residira em Goa, uma possessão lusitana situada na costa oeste da Índia.
O fato é que a notícia da descoberta e a chegada dos primeiros diamantes brasileiros a Lisboa levaram a Coroa Portuguesa a empreender uma busca desenfreada pelo precioso mineral ao longo dos leitos, margens e áreas próximas dos rios da região, utilizando numerosa mão-de-obra escrava e métodos rudimentares.
A descoberta teve enorme impacto na Europa, salientado pelo fato de que, à época, os depósitos aluvionares indianos encontravam-se quase esgotados. Para evitar que grandes quantidades fossem exportadas para este continente e ocorresse uma queda abrupta dos preços, prejudicando aqueles que até então detinham a primazia do comércio, disseminou-se na Europa a falsa notícia de que as pedras oriundas do Brasil seriam diamantes indianos de baixa qualidade, exportados de Goa para nosso país e daqui para a Europa. Os portugueses se viram, então, forçados a transportar as pedras brasileiras para Goa, de onde eram enviadas para a Europa como diamantes indianos, cuja boa reputação era inquestionável.
Durante o período colonial, a exploração de diamantes foi monopólio da Coroa Portuguesa, com regulamentação e fiscalização rigorosas, mas insuficientes para impedir o contrabando, gerado pela taxação excessiva e dificuldade no controle do enorme fluxo de garimpeiros à região produtora.
Às descobertas em Diamantina, seguiram-se outras no estado de Minas Gerais, sobretudo na região do Rio Abaeté (Triângulo Mineiro), em 1728, por mineradores que, clandestinamente, prospectavam pedras e ouro, apesar da proibição da Coroa Portuguesa. Mais tarde, esta região se tornaria célebre pela ocorrência dos maiores diamantes já encontrados no país. Em 1827, foram encontrados diamantes também na localidade de Grão Mogol, situada ao norte de Diamantina.
Acredita-se que os diamantes foram descobertos na região da Chapada Diamantina, no centro do estado da Bahia, por volta de 1839, inicialmente na localidade de Mucugê e, posteriormente, em Lençóis, Andaraí e Palmeiras, na bacia do rio Paraguaçu. Estas ocorrências foram intensamente lavradas, levando opulência aos comerciantes da região, mas os trabalhos foram diminuindo gradativamente no final do século XIX, até quase cessarem com a Depressão Mundial, na segunda década do século XX.
A ocorrência de diamantes em garimpos de ouro no Mato Grosso já era conhecida desde meados do século XVIII, onde foram descobertos na localidade de Diamantino, situada a noroeste de Cuiabá. No entanto, a dificuldade de acesso e a proibição de prospecção pela Coroa Portuguesa fizeram com que estas e outras regiões do estado só viessem a ser exploradas em meados do século seguinte. Ocorrências de diamante, neste período, nos estados de São Paulo (regiões de Franca e São José do Rio Pardo) e Paraná (Rio Tibagi) também são dignas de nota.
O Brasil supriu o mercado mundial durante aproximadamente 150 anos, desde sua descoberta, em 1725, até alguns anos após o achado de diamantes na África do Sul, ocorrido em 1866, quando foi então suplantado pela produção africana, o que alterou completamente o panorama mundial desta gema. É provável que esta seqüência de eventos, caracterizados por descobertas de novas fontes quando as antigas declinavam, que muitos atribuem à casualidade, deva-se, de fato, às forças econômicas.
Apesar da precariedade dos dados de produção, estima-se que tenham sido extraídos aproximadamente 13 milhões de quilates de diamantes no Brasil, no período compreendido entre a sua descoberta, em 1725, e o final do século XIX. Acredita-se que a imensa maioria destas pedras tenha sido de qualidade gema, uma vez que, na época, a demanda por diamantes para fins industriais era muito reduzida. Deste montante, supõe-se que cerca de 5,5 milhões teriam sido extraídos da região de Diamantina, 3,5 milhões da Bahia e 1,5 milhões de outras regiões de Minas Gerais, sendo os 2,5 milhões restantes roubados ou contrabandeados para fora do país. O autor do artigo não dispõe de informações a respeito da produção histórica dos estados de Mato Grosso, São Paulo e Paraná no período.
Fontes

DENSIDADE RELATIVA 2ª Parte

DENSIDADE RELATIVA




2ª Parte – Conceito e Determinação pelo Método dos Líquidos Densos
Um importante método para obter-se um valor aproximado da densidade relativa das gemas é o denominado método dos líquidos densos ou pesados.
Este método consiste em introduzir-se a gema a ser testada em um recipiente, usualmente um béquer, que contenha um líquido de peso específico conhecido. Caso a densidade relativa (DR) da pedra seja maior que a do líquido, ela obviamente afundará, ao passo que, se for menor, a gema flutuará. Caso líquido e pedra possuam o mesmo peso específico, esta permanecerá em suspensão, sem afundar nem flutuar. Efetuando sucessivos ensaios, isto é, imergindo a pedra em diferentes líquidos e observando seu comportamento, pode-se determinar os limites entre os quais oscila seu peso específico, o que muitas vezes é suficiente para identificá-la. Com alguma prática, é possível estimar-se a DR com razoável precisão pela simples observação das velocidades de descida ou subida da gema colocada em um determinado líquido denso.
Os principais líquidos pesados utilizados em gemologia são o bromofórmio (composição CHBr3; DR = 2,89), o iodeto de metileno (composição CH2I2; DR = 3,32) e a solução de Clerici (solução aquosa de sais de tálio; DR = 4,15).
Recomenda-se manusear estes líquidos em local ventilado, utilizando máscaras anti-inalantes e luvas durante os ensaios, tendo em vista sua elevada toxicidade, sobretudo a solução de Clerici, que é muito venenosa. Como os líquidos densos são voláteis e escurecem com o tempo, devem ser mantidos hermeticamente fechados e protegidos da ação da luz. É aconselhável ainda colocar plaquetas de cobre nos frascos onde são guardados o bromofórmio e o iodeto de metileno, pois este elemento reage com o iodo e o bromo livres, evitando a decomposição e o escurecimento dos líquidos.
Os exemplares a serem ensaiados devem ser puros, isto é, não podem estar misturados com outras espécies minerais. Antes de cada ensaio, as gemas e a pinça devem ser lavadas, preferencialmente com benzeno (caso se utilize bromofórmio ou iodeto de metileno). Todas as pedras que flutuarem em um líquido denso devem ser tocadas levemente com uma pinça para assegurar-se de que elas realmente têm DR menor que a do líquido, pois, eventualmente, elas possuem peso específico maior que a do fluido, mas não afundam devido à tensão superficial deste. Quando a temperatura ambiente estiver muito alta, é recomendável trocar a água a intervalos de tempo regulares para manter a acuidade dos resultados.
Cada pessoa pode preparar um conjunto de líquidos densos mais adequado às suas necessidades, levando em consideração as gemas com as quais lide com mais freqüência. Este conjunto normalmente é constituído dos citados líquidos, tanto puros quanto diluídos com outros de menor densidade relativa. A prática tem demonstrado que, de modo geral, o conjunto mais útil consiste dos seguintes líquidos densos:
1. Bromofórmio diluído a 2,65 (DR do quartzo);
2. Bromofórmio diluído a 2,71 (DR do berilo);
3. Bromofórmio puro (DR = 2,89);
4. Iodeto de metileno diluído a 3,06 (DR das turmalinas verde ou rosa);
5. Iodeto de metileno puro (DR = 3,32);
6. Solução de Clerici diluída 3,52 (DR do diamante);
7. Solução de Clerici diluída a 4,00 (DR do coríndon, isto é, rubi e safira).
Por serem hidrocarbonetos, o bromofórmio e o iodeto de metileno não são miscíveis em água, devendo ser diluídos com os solventes tolueno (composição C6H5CH3; DR = 0,86), benzoato de benzila (DR = 1,17) ou monobromonaftaleno (composição C10H7Br; DR = 1,49). No caso da solução de Clerici, o solvente a ser utilizado é a água destilada; não se pode usar água corrente, pois esta tornaria a solução turva.
Entre as inúmeras aplicações deste método, destacamos a distinção entre o diamante (DR = 3,52) e a moissanita sintética (DR = 3,32), utilizando-se os líquidos 5 ou 6; entre o diamante (DR = 3,52) e a zircônia cúbica (DR variável entre 5,50 e 5,90), empregando-se os líquidos 6 ou 7; entre a água-marinha (DR = 2,71) e o topázio azul (DR = 3,56) ou o espinélio azul sintético (DR = 3,65), com auxílio dos líquidos 2, 3, 4, 5 ou 6; entre o olho-de-gato (crisoberilo, DR = 3,73) e o quartzo olho-de-gato (DR = 2,65), utilizando-se os líquidos 1, 2, 3, 4, 5 ou 6; entre o citrino (DR = 2,65) e o topázio amarelo (DR = 3,52), empregando-se os líquidos 1, 2, 3, 4, 5 ou 6.
Embora o método dos líquidos densos seja quase sempre utilizado para obter-se apenas um valor aproximado da densidade relativa de uma gema, pode igualmente ser empregado para determinações precisas. Neste caso, deve-se introduzir a pedra no líquido denso e diluí-lo muito lentamente, gota a gota, misturando-o continuamente com um bastonete de vidro, até que a gema permaneça em equilíbrio no líquido, isto é, não flutue nem afunde, momento no qual ambos terão a mesma densidade relativa. O passo seguinte será determinar o peso específico do líquido, o que pode ser feito de diversas maneiras. A mais simples é a que utiliza um jogo de indicadores (minerais ou vidros de pesos específicos conhecidos, oferecidos por fabricantes de instrumentos gemológicos), mas também pode-se efetuar tal determinação por meio de um picnômetro, um hidrômetro ou uma balança de Westphal, itens que raramente estão ao alcance de gemólogos, comerciantes ou joalheiros.
As principais vantagens do método dos líquidos densos são a simplicidade do procedimento (no caso de estimativas e não no das medições precisas, como vimos acima) e a possibilidade de ensaiar diversas gemas simultaneamente, inclusive aquelas de tamanhos muito reduzidos, o que não ocorre quando se emprega o método hidrostático.
As principais desvantagens do método dos líquidos densos são o fato de que estes líquidos são tóxicos, caros e voláteis; ocorre um razoável e inevitável desperdício de líquidos, tornando o método ainda mais dispendioso; há dificuldade em ensaiar gemas demasiadamente grandes e não se deve testar gemas porosas, tais como opala ou turquesa, pois elas podem reter algum líquido e, por este motivo, ter suas cores alteradas. Além disso, no caso de determinações precisas, o método é lento e relativamente complicado.
Um importante fator restritivo, não apenas do método dos líquidos densos, mas de qualquer outro para determinação da densidade relativa, é a impossibilidade de ensaiar gemas cravadas.

DENSIDADE RELATIVA


DENSIDADE RELATIVA




1ª Parte – Conceito e Determinação pelo Método Hidrostático
Entre os diversos meios de identificação de gemas soltas, sejam brutas ou lapidadas, a determinação da densidade relativa pode ser considerada o mais útil, além de não requerer métodos de ensaio destrutivos e dispensar o uso de instrumentos ópticos dispendiosos.
Esta propriedade física, também conhecida como peso específico(*), pode ser definida como o valor numérico que exprime a relação entre o peso de um determinado volume de uma substância qualquer (em nosso caso uma gema) e o peso de igual volume de água.
O peso específico é expresso em g/cm3 e, para se obter resultados precisos, adotou-se como padrão a água pura, destilada, à temperatura de 4oC, ponto crítico na qual ela é mais densa. Na prática gemológica diária, utiliza-se água corrente, eventualmente fervida, à temperatura ambiente.
Assim sendo, quando se diz, por exemplo, que o peso específico de um diamante é 3,52 g/cm3, isto significa que ele pesa 3,52 vezes mais que um volume igual de água. Nos minerais, o peso específico depende basicamente de dois fatores: o(s) tipo(s) de átomo(s) presente(s) e a maneira como eles estão arranjados entre si na estrutura cristalina. Deste modo, quanto mais estreitamente unidos e mais fortes as ligações entre eles, maior será a densidade relativa do mineral.
A influência do arranjo dos átomos sobre o peso específico está bem ilustrada no caso dos minerais polimorfos, isto é, aqueles que possuem a mesma composição química, mas diferem quanto às demais propriedades. O exemplo mais notório pode ser constatado ao compararmos as densidades relativas do diamante e da grafita, ambos constituídos unicamente de carbono. Por ter os átomos arranjados de forma mais compacta e unidos por ligações mais fortes, o diamante apresenta uma peso específico (3,52 g/cm3) muito superior ao da grafita (2,20 g/cm3).
A densidade relativa é constante para cada substância pura, porém as substituições isomórficas ou a presença de impurezas, inclusões e/ou defeitos na estrutura cristalina podem fazê-la variar, ligeiramente, dentro de certos limites.
Existem diversos métodos de determinação do peso específico, sendo que, em gemologia, dois mostraram-se úteis: o método hidrostático, que abordaremos neste artigo e o método dos líquidos densos, a respeito do qual discorreremos no próximo mês.
O processo para obtenção da densidade relativa pelo método hidrostático fundamenta-se no princípio estabelecido por volta de 250 a.C. pelo matemático grego Arquimedes, segundo o qual qualquer corpo submerso em um líquido recebe um empuxo igual ao peso do volume do líquido deslocado.
O procedimento consiste em efetuar, inicialmente, a pesagem da gema no ar, do modo corriqueiro, preferencialmente em uma balança analítica digital, com a qual se obtém resultados bastante precisos. Posteriormente, faz-se uma adaptação simples para transformá-la em hidrostática ou utiliza-se um acessório fornecido pelo próprio fabricante da balança para esta finalidade e efetua-se a pesagem da gema submersa em um béquer com água até aproximadamente ¾ de sua capacidade.
Depois de obtido o peso da gema na água, determina-se o peso específico mediante um cálculo simples:
Recomenda-se, como medida de precaução, efetuar várias medições e tomar o valor médio delas, não levando em consideração aquelas que se desviem muito das demais.
Como a tensão superficial da água é alta, é conveniente colocar-se uma gota de detergente líquido para reduzi-la e evitar a formação de bolhas de ar, o que certamente influenciaria a exatidão dos resultados, ou bem empregar líquidos de menor tensão superficial, tais como tolueno, álcool, tetracloreto ou dibrometo de etileno. Neste caso, a fórmula de cálculo deve ser corrigida, multiplicando-se o resultado pela densidade do líquido empregado, conforme descrito a seguir:
Apesar de sua comprovada utilidade e acuidade, quando efetuada com os devidos cuidados, a determinação do peso específico também apresenta alguns inconvenientes, tais como a impossibilidade de obtê-la em gemas montadas; a dificuldade de aplicá-la a gemas porosas, como são os casos da opala e da turquesa, devido à absorção da água pela gema; e a pouca confiabilidade dos resultados, quando se lida com exemplares demasiadamente pequenos.
* Os termos peso específico e densidade relativa (ou simplesmente densidade) são geralmente empregados indistintamente; no entanto, segundo alguns autores, o peso específico deveria estar sempre acompanhado das unidades, como por exemplo, grama por centímetro cúbico (g/cm3), enquanto a densidade relativa dispensaria o uso delas.

O ESPODUMÊNIO E SUAS VARIEDADES

O ESPODUMÊNIO
E SUAS VARIEDADES




O espodumênio é uma espécie mineral cujo nome é menos popular entre os consumidores de gemas e jóias que os de suas variedades kunzita, hiddenita e trifana, sobretudo a primeira delas.
A kunzita apresenta exuberantes matizes rosas, lilases e violetas, que se assemelham aos da alfazema, perfeitamente transparentes e de tonalidades claras, às vezes ligeiramente azulados. Ela foi descoberta em Pala, Califórnia, no início do século 20 e deve seu nome a George Frederick Kunz (1856 – 1932), o mineralogista que primeiro a descreveu.
A atraente e rara hiddenita, igualmente transparente, possui uma coloração verde-esmeralda intensa, devida a impurezas de cromo, sendo sua designação uma homenagem a William E. Hidden (1853 – 1918), seu descobridor e um eminente colecionador de minerais em seu tempo.
A trifana, amarela pálida, cuja cor se atribui a impurezas de ferro, foi a primeira variedade gemológica de espodumênio a ser descoberta, em Minas Gerais, por volta de 1870, nove anos antes que a hiddenita fosse identificada na Carolina do Norte (EUA). A designação trifana não é consensual no meio gemológico, de modo que a tendência atual é designar as variedades com o nome do mineral, seguido pelo sufixo correspondente a sua cor, tal como espodumênio amarelo ou amarelo esverdeado. As variedades kunzita (rosa) e hiddenita (verde produzido pelo cromo) são exceções, pois tratam-se de termos consagrados. Ainda assim, na prática comercial diária, é difícil determinar se um espécime contém ou não cromo, de forma a designá-lo como hiddenita ou simplesmente espodumênio verde.
O espodumênio é um silicato de lítio e alumínio, incolor em seu estado puro. Cristaliza-se no sistema monoclínico e ocorre em característicos cristais prismáticos alongados, com terminações achatadas, muitas vezes de tamanhos consideráveis; possui seção freqüentemente quadrada ou retangular e faces longitudinais estriadas, com numerosas figuras de corrosão na forma de triângulos escalenos.
Sua dureza varia de 6½ a 7, apresenta clivagem perfeita em duas direções paralelas às faces prismáticas e quase perpendiculares entre si, o que faz com que seja uma pedra de difícil lapidação. Apresenta brilho vítreo (nacarado nas superfícies de clivagem), sendo que a kunzita geralmente exibe fluorescência de cor alaranjada a rosa dourada à luz ultravioleta, muito mais intensa sob comprimentos de onda longos e, adicionalmente, pode apresentar fosforescência.
A kunzita e a hiddenita possuem pleocroísmo intenso, perceptível até mesmo à vista desarmada, pela simples rotação dos exemplares, principalmente os mais saturados. A cor mais intensa corresponde a direção paralela à do comprimento do cristal e, para melhor aproveitar o efeito ao lapidar-se a gema, deve-se orientar a faceta principal (mesa) perpendicularmente a esta direção. Por apresentar-se sempre em tonalidades claras, o espodumênio costuma ser lapidado com a maior profundidade possível para obter-se a máxima retenção da cor, procurando-se, contudo, resguardar as proporções esteticamente corretas, o que resulta em gemas de rara beleza.
Ao contrário de muitas gemas coradas, que são lavradas principalmente em depósitos secundários, o espodumênio é mais comumente extraído de suas fontes primárias, os pegmatitos graníticos. Os principais países produtores de kunzita e hiddenita são, atualmente, Afeganistão, Brasil, Madagascar, Myanmar, Sri Lanka e EUA.
A produção brasileira de espodumênio tem se mostrado irregular nos últimos anos, sendo que os principais depósitos estão localizados no estado de Minas Gerais, nos municípios de Galiléia, Conselheiro Pena, Resplendor, Água Boa e Barra do Cuité.
As principais inclusões observadas nos espodumênios são as fásicas, os finos tubos de crescimento com aspecto de agulhas, os planos de geminação e de clivagem, além das inclusões que comprovam sua origem pegmatítica, tais como muscovita, feldspato e minerais de argila.
O fascinante matiz lavanda das kunzitas deve-se a traços de manganês, mas esta variedade pode empalidecer se exposta à luz por longos períodos de tempo. A cor pode ser restaurada por irradiação, que deve ser seguida de tratamento térmico a temperaturas entre 200oC e 250oC ou por exposição à luz, com o objetivo de remover os componentes verdes e marrons que simultaneamente se formam.
Como a autêntica hiddenita é muito rara, espodumênios de cor verde intensa devem ser vistos com extrema reserva, pois não é raro nos depararmos com material com esta coloração obtido por irradiação, de praticamente qualquer natureza, a partir de espécimes originalmente rosas. A coloração verde-esmeralda resultante deste tratamento é instável e o empalidecimento extremamente rápido, ocorrendo, às vezes, em menos de uma hora. Não há qualquer centro de cor envolvido nesta mudança, mas sim uma alteração no estado de valência do manganês, que passa de Mn3+ a Mn4+.