O kimberlito é uma rocha ígnea intrusiva, um peridotito composto por
olivina (normalmente serpentinizada) com quantidades variáveis de
flogopita, ortopiroxênio, clinopiroxênio, carbonatos e cromita.
Os
kimberlitos são a mais importante fonte de diamantes, porém sua
existência só se tornou conhecida no ano de 1866. Os depósitos da região
de Kimberley na África do Sul foram os primeiros reconhecidos e deram
origem ao nome. Os diamantes de Kimberley foram encontrados
originalmente em kimberlito laterizado. Classifica-se grosseiramente, em
função das características do kimberlito de Kimberley o kimberlito como
sendo “yellow ground” e “blue ground”. Yellow ground é relativo ao
kimberlito intemperizado que se encontra na superfície. Blue ground é
relativo ao kimberlito não intemperizado, encontrado em profundidades
variáveis.
O kimberlito ocorre principalmente nas zonas de
crátons, porções da crosta terrestre estáveis desde o período
Pré-Cambriano. No Brasil existem três áreas cratônicas. O cráton
Amazônico é a principal delas, porém ao sul de Rondônia e norte do Mato
Grosso também encontra-se kimberlitos. O cráton do São Francisco ocupa
grande parte de Minas Gerais e destaca-se na região sudeste do Brasil,
porém nele, com exceção dos kimberlitos pobres da Serra da Canastra, não
se conhecem rochas kimberlíticas mineralizadas.
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2 - MORFOLOGIA
Os
kimberlitos são um grupo de rochas ultrabásicas ricas em voláteis
(principalmente dióxido de carbono). Normalmente apresentam textura
inequigranular característica, resultando na presença de
macro-cristalizações inseridas em uma matriz de grãos finos. A montagem
destas macro-cristalizações consistem em cristais anédricos de ilmenita
magnesiana, piropo titaniano pobre em cromo, olivina, clinopiroxênio
pobre em cromo, flogopita, enstatita e cromita pobre em titânio, sendo
que a olivina é o membro dominante. Os minerais da matriz incluem
olivina e/ou flogopita juntamente com perovskita, espinélio, diopsídio,
monticellita, apatita, calcita e serpentina.
Alguns kimberlitos contém flogopita-estonita poiquilítica em estágio avançado.
Sulfetos
de níquel e rutilo são minerais acessórios comuns. A substituição de
olivina, flogopita, monticellita e apatita por serpetina e calcita é
comum.
Membros desenvolvidos do grupo do kimberlito podem ser
pobres ou desprovidos de macro-cristalizações e compostos essencialmente
de calcita, serpentina e magnetita juntamente com flogopita, apatita e
perovskita, os últimos em menor quantidade.
Segundo Kopylova
(2005), em referência a Clement e Skinner (1985), o kimberlito pode ser
dividido em três unidades, baseadas em sua morfologia e petrologia:
2.1 - KIMBERLITO DE CRATERAS
A
morfologia de superfície de kimberlitos intemperizados é caracterizada
por uma cratera de até dois quilômetros de diâmetro cujo piso pode estar
a centenas de metros abaixo da superfície. A cratera é geralmente mais
profunda no meio. No entorno da cratera há um anel de tufa relativamente
pequeno (em geral com menos de 30 metros) quando comparado com o
diâmetro da cratera. Duas categorias principais de rochas são
encontradas em kimberlitos de crateras: piroclásticas, depositadas por
forças eruptivas e epiclásticas, retrabalhadas por água.
Rochas
Piroclásticas: Encontradas preservadas em anéis de tufa no entorno da
cratera ou dentro da cratera. Os anéis possuem pequena relação altura
por diâmetro da cratera e são preservados em muito poucos kimberlitos.
Os únicos locais com anéis de tufa bem preservados no mundo são Igwisi
Hills na Tanzânia e Kasami em Mali. Os depósitos são normalmente
acamados, vesiculares e carbonizados.
Rochas Epiclásticas: Estes
sedimentos representam retrabalho fluvial no material piroclástico do
anel de tufa no lago formado no topo da diatrema. Apresentam-se
dispersas quanto mais afastadas do centro e das paredes rochosas.
Considerando
a raridade de kimberlitos de crateras é difícil desenvolver um modelo
para determinar com certeza que todos os kimberlitos serão conformados
segundo as características observadas acima.
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2.2 – KIMBERLITO DE DIATREMAS
Diatremas
kimberlíticas possuem de 1 a 2 quilômetros de profundidade e geralmente
apresentam-se como corpos cônicos que são circulares ou elípticos na
superfície e afinam com a profundidade. O contato com a rocha hospedeira
é dado usualmente entre 80 e 85 graus. A zona é caracterizada por
material kimberlítico vulcanoclástico fragmentado e xenólitos agregados
de vários níveis da crosta terrestre durante a subida do kimberlito à
superfície.
2.3 – KIMBERLITO ABISSAL
Estas rochas são
formadas pela cristalização de magma kimberlítico quente e rico e
voláteis. Geralmente não possuem fragmentação e parecem ígneos.
São notáveis as segregações de calcita-serpentina e as segregações globulares de kimberlito em uma matriz rica em carbonato.
Página 7
3 – MODELOS DE CLASSIFICAÇÃO DE KIMBERLITOS
Vários
modelos de classificação foram desenvolvidos para os kimberlitos e as
grandes variações de textura e mineralogia apresentadas por estas rochas
implicam em dificuldades para classificá-los. O modelo mais conhecido e
geralmente bem aceito foi proposto por Clement e Skinner (1985). Esta
classificação é largamente utilizada, no entanto é importante notar aqui
as implicações genéticas neste modelo. O termo “tufisítico” significa
presumir que o kimberlito foi formado através de processo de
fluidização, porém ainda existem controvérsias com relação à formação
dos kimberlitos.
Classificação dos Kimberlitos
De Clement e Skinner 1985 Crater-Facies
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As
subdivisões das fácies principais são determinadas por diferenças na
textura. As características diferenciadoras podem ser resumidas:
Kimberlitos
de crateras são reconhecidos por características sedimentares.
Kimberlitos de diatremas são reconhecidas por formações geodésicas do
magma cristalizado e formações semelhantes geradas durante a perda dos
gases.
Kimberlitos abissais são comumente reconhecidos pela
presença abundante de calcita e textura segregada com
macro/mega-cristalizações.
A divisão entre “breccia” e “não
breccia” (coluna dois – Tipo de Rocha) denomina rochas fragmentadas e é
comumente aportuguesada do italiano pelo termo “brecha”. A denominação
aqui é baseada no volume percentual dos fragmentos visíveis
macroscopicamente. Qualquer rocha com mais de 15% do volume de
fragmentos visíveis é denominada “breccia”. Fragmentos podem ser
acidentados ou cognatos. As subdivisões da terceira coluna envolvem
características específicas discutidas em detalhes por Clement e
Skinner, 1985, mas que fogem do escopo deste texto. Vale ressaltar que
não existem classificações inteiramente aceitas para o kimberlito. O
diagrama proposto por Clement e Skinner é o mais comumente aceito
utilizado e por isto é apresentado aqui.
Página 9
4 - MODELOS DE FORMAÇÃO DO KIMBERLITO
Desde
a descoberta de diamantes em kimberlito muitas teorias surgiram a
respeito do processo de formação desta rocha. Mitchell (1986) apresenta
em detalhes as diferentes teorias. Destas, serão apresentadas as três
mais conhecidas e discutidas.
4.1 – TEORIA DO VULCANISMO EXPLOSIVO
Esta
teoria envolve o apontamento de magma kimberlítico em baixas
profundidades e o subseqüente acúmulo de voláteis. Quando a pressão
confinada é suficiente para romper a rocha superior segue-se uma
erupção. Acreditava-se que epicentro da erupção encontravase no contato
da fácie abissal com a diatrema.
Através da extensiva atividade
mineradora desenvolvida nas regiões kimberlíticas tornou-se claro que
esta teoria não é sustentável. Não foi encontrada nenhuma câmara
intermediária nas profundidades sugeridas. Além disso o ângulo de
mergulho da grande maioria é muito alto (80-85 graus) para ter sido
formado em tais profundidades, ou seja, a relação entre o raio na
superfície e a profundidade é muito pequena. Fácies de transição entre
diatremas e fácies abissais têm cerca de 2km de profundidade, enquanto
crateras têm geralmente cerca de 1km de largura, perfazendo assim uma
taxa de 1:2. Estudos do ponto original das explosões revelaram que a
taxa deveria estar perto de 1:1.
4.2 – TEORIA MAGMÁTICA (FLUIDIZAÇÃO)
Segundo Kopylova, a proposição original desta teoria foi feita por Dawson (1962,
1971). Subseqüentemente foi desenvolvida por Clement (1982) e vem sendo estudada atualmente por Field e Scott Smith (1999).
Em
termos gerais a teoria aponta que o magma kimberlítico sobe à
superfície em diferentes pulsos, formando o que é denominado de
“embryonic pipes” (chaminés embrionárias; Mitchell, 1986). O resultado é
uma rede complexa de chaminés embrionárias sobrepostas de fácies
abissais de kimberlito. A superfície não é rompida e os voláteis não
escapam. Um algum ponto as chaminés embrionárias alcançam uma
profundidade rasa o suficiente (cerca de 500 metros) na qual a pressão
dos voláteis é capaz de vencer o peso da rocha que o recobre e os
voláteis escapam. Com a fuga dos voláteis um breve período de
fluidização ocorre. Isto envolve o movimento ascendente dos voláteis,
que é suficientemente rápido para “fluidizar” o kimberlito e a rocha
hospedeira fragmentada de modo que as partículas são carregadas em um
meio sólido-líquido-gasoso. Fragmentos da rocha encaixante que se
encontrem neste sistema fluidizado podem afundar dependendo de sua
densidade. A fronte fluidizada move-se descendentemente a partir da
profundidade inicial. Acredita-se que a fluidização seja muito breve
pois os fragmentos normalmente são angulares.


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Desenvolvimento da Chaminé Embrionária
De Mitchell 1986
Esta
teoria supostamente explica as características observadas em chaminés
kimberlíticas tais como: fragmentos de rocha encaixante encontrados até
1km abaixo do nível estratigráfico através de fluidização; chaminés
íngremes com ângulos de ~80-85 graus, dado que a explosão inicial
acontece a profundidades relativamente baixas; Rede complexa de chaminés
de fácies abismais encontradas em profundidade; a transição de fácies
abismais para fácies de diatremas.
Descobertas recentes de
chaminés de kimberlitos em Fort a la Corne no Canadá sugerem uma
re-avaliação da teoria magmática. Field e Scott Smith não negam que a
água pode desempenhar um papel na vasta variedade de chaminés de
kimberlitos obervados. Eles acreditam que em alguns casos os magmas
kimberlíticos possam entrar em contato com aqüíferos e neste caso a
morfologia resultante será significantemente diferente das chaminés
encontradas em outros lugares, particularmente na África do Sul. Eles
consideram que a

Página
1 configuração geológica em que o kimberlito está inserido desempenha
um papel significante na sua morfologia. Rochas bem consolidadas, que
são aqüíferos pobres, tais como basaltos, que cobrem a maior parte da
África do Sul, promovem a formação de chaminés muito inclinadas com 3
fácies kimberlíticas distintas. Sedimentos mal consolidados são
excelentes aqüíferos e podem promover a formação de chaminés com ângulo
de mergulho suave, o quais são preenchidos com kimberlitos de crateras,
enquanto existe ausência de kimberlitos de diatremas.
A figura
abaixo é baseada no esquema montado por Field e Scott Smith 1998. De
especial interesse é a morfologia da chaminé de kimberlitos de Fort a la
Corne em Saskatchewan no Canadá. As paredes da chaminé possuem mergulho
especialmente raso e são preenchidas com rochas vulcanoclásticas ou
sedimentos das fácies da cratera. A geologia local apresenta sedimentos
pouco consolidados. Field e Scott Smith atribuem a diferença na
morfologia observada nas chaminés de Saskatchewan ao hidrovulcanismo.
Exemplos de Chaminés Kimberlíticas
De Field e Scott Smith 1998
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4.3 – TEORIA HIDROVULCÂNICA (FREATOMAGMÁTICA)
O principal propositor desta teoria é Lorenz (1999), que desenvolveu o modelo hidrovulcânico por 3 décadas.
Magmas
kimberlíticos ascendem à superfície por fissuras estreitas (~1m). Pode
ocorrer de o magma kimberlítico encontrar-se em falhas estruturais, que
agem como foco de água, ou a “brechação” resultante da exsolução
(desmescla) dos voláteis pela ascensão do kimberlito pode atuar como
foco para água. Em qualquer um dos casos o ambiente próximo à superfície
é rico em água e a interação do magma quente com a água fria produz uma
explosão freatomagmática.
A explosão tem curta duração. A rocha
brechada satura-se novamente com a água superficial. Outro pulso de
magma kimberlítico segue a mesma fraqueza estrutural da rocha até a
superfície e novamente entra em contato com a água produzindo outra
explosão. Pulsos subseqüentes reagem com a água da mesma maneira
enquanto a fronte de contato move-se para baixo até alcançar a
profundidade média da transição entre a fácie abismal e a diatrema.
De Mitchell 1986
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Críticas a esta teoria apontam os seguintes problemas:
I)
A teoria não explica porque toda erupção ocorre em contato com água,
certamente algumas erupções teriam ocorrido em regiões pobres em água.
I) A complexa rede de chaminés encontradas na área de transição da fácie
abismal e da diatrema não é explicada. I) A falta de características
que apontem para a subsidência através da chaminé. IV) A ausência de
soerguimento associado com as chaminés kimberlíticas.
A teoria
hidrovulcânica tem seus méritos e é aceita como o processo de formação
dos kimberlitos encontrados em Saskatchewan pelos propositores da teoria
da fluidização (Field e Scott Smith, 1999). No entanto não explica as
características observadas na maior parte das outras chaminés
kimberlíticas. A formação de “maares” são associadas a explosões
hidrovulcânicas e possuem estrutura interna diferente dos kimberlitos,
sendo as principais características a estrutura interna com subsidência
em forma de disco, a descontinuidade que forma um anel no entorno da
cratera e o soerguimento da rocha encaixante associado à explosão.
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5 – PETROLOGIA
Kimberlitos dividem-se em Grupo I (basáltico) e Grupo I (micáceo). Esta divisão é feita através de bases mineralógicas.
A
mineralogia dos kimberlitos do Grupo I é considerada como a
representação do derretimento do lherzolito e harzburgito, eclogito e
peridotito no manto inferior. A mineralogia dos kimberlitos do Grupo I
podem representar um ambiente semelhante ao do Grupo I, porém a
diferença é a preponderância de água ao invés de dióxido de carbono.
Diagrama de Rochas Plutônicas Ultramáficas
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5.1 – KIMBERLITOS DO GRUPO I
Kimberlitos
do Grupo I são ricos em CO2 e predomina a mistura de olivina
forsterítica, ilmenita magnesiana, piropo cromiano, piropo-almandina,
diopsídio cromiano
(em alguns casos subcálcico), flogopita,
enstatita e cromita pobre em titânio. Kimberlitos do Grupo I exibem
textura inequigranular distintiva com macrocristalizações (0,5-10mm) a
megacristalizações (10-200mm), fenocristais de olivina, piropo,
diopsídio cromiano, ilmenita magnesiana e flogopita em uma massa de
grãos finos a médios.
A composição mineralógica da matriz de
micro-cristalizações, que apresenta com maior propriedade a composição
de uma rocha ígnea, contém olivina forsterítica, granada piropo,
Cr-diopsídio, ilmenita magnesiana e espinélio.
5.2 – KIMBERLITOS DO GRUPO I
Kimberlitos
do Grupo I (ou orangeítos) são ricos em H2O. A característica
distintiva dos orangeítos são as macro e megacristalizações de
flogopita, juntamente com presença de micas que variam em composição de
flogopita até tetraferroflogopita (flogopita anomalamente rica em Fe).
Macrocristalizações de olivina ou cristais euédricos primários de
olivina reabsorvidos são comuns mas não são constituintes essenciais.
Fases
primárias características na matriz microcristalina incluem piroxênios
zonados (núcleos de diopsídio circulados por aegirina-Ti), minerais do
grupo do espinélio, perovskita, apatita, fosfatos, rutilo e ilmenita.
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6 – KIMBERLITO E OS DIAMANTES DE MINAS GERAIS
Os
diamantes são formados no manto, em profundidade superior a 150km. Duas
rochas são responsáveis pelo transporte do diamante até a superfície:
kimberlitos e lamproítos.
Os diamantes foram descobertos no Brasil
em 1729, na região de Diamantina-MG, porém especula-se que a extração
de diamantes no Brasil seja um pouco mais antiga. Durante toda a
história do Brasil a extração de diamante tem sido feita em aluviões.
Segundo CHAVES (1999) em Minas Gerais pode-se identificar duas
macro-regiões nas quais se concentram os principais depósitos do estado:
a província mineral do Espinhaço e a do Alto Parnaíba.
Depósitos de Diamantes do Brasil
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A
província do Espinhaço engloba a região de Diamantina e é marcada pela
Serra do Espinhaço. A Serra do Espinhaço é constituída de rochas
metamórficas dobradas, incluindo quartzitos, filitos e conglomerados,
que representam originalmente sedimentos depositados em rios, taludes
serranos, desertos, lagunas e mares rasos.
Se os diamantes são
sempre associados a kimberlitos e lamproítos fica aparente o paradoxo da
província do Espinhaço. A fonte original e os processos responsáveis
pelo transporte dos diamantes à província do Espinhaço é objeto de
inúmeros debates e foge do escopo deste texto.
A província do Alto
Parnaíba, ao contrário do Espinhaço, é caracterizada pela presença de
várias chaminés de rochas kimberlíticas.
Constatou-se recentemente a presença de kimberlito mineralizado na Serra da
Canastra.
A chaminé kimberlítica “Canastra 1” é atualmente o maior projeto de
mineração para os diamantes da província do Alto Paranaíba. O projeto
vem sido conduzido pela empresa canadense “Brazilian Diamonds”.
Embora
existam kimberlitos na região, até o início do projeto Canastra 1 a
extração de diamantes era realizada em aluviões por garimpeiros. O
projeto Canastra 1 concentra-se sobre uma chaminé de cerca de 1 hectare
de tamanho onde os teste indicaram uma concentração de 4 ct por
tonelada, o que é muito pouco, principalmente se comparado ao lamproíto
de Argyle na Austrália, que produz 18 ct por metro cúbico ou aos
kimberlitos sul-africanos com cerca de 6 ct por metro cúbico. Embora a
lavra de Canastra 1 seja pouco interessante economicamente o projeto
prevê a exploração de boa parte da área kimberlítica da Serra da
Canastra e é provável que alguma das chaminés kimberlíticas finalmente
coloque o Brasil entre os produtores de diamantes primários (diamantes
extraídos diretamente de kimberlitos ou lamproítos). As chaminés mais
promissoras na região são
Canastra 8 e Tucano 1.
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7 – CONCLUSÃO
A
importância do kimberlito para toda a sociedade fica clara quando se
analisa o impacto que a descoberta de kimberlito mineralizado causa
sobre a economia das províncias minerais. A descoberta de uma única
chaminé kimberlítica mineralizada na Austrália a colocou como maior
produtora mundial de diamantes e existe possibilidade que no Brasil
descoberta semelhante possa modificar todo o mercado mundial de
diamantes.
Apesar de toda a sua importância o kimberlito é uma
rocha ainda pouco conhecida e por isso mesmo alvo de opiniões
divergentes principalmente com relação a sua formação.
É consenso
que as chaminés kimberlíticas não possuem relação com riftes e que a
água desempenha um papel importante nas características da rocha, porém
todos os modelos de formação atuais, embora aceitos em termos gerais,
possuem falhas e exatamente por isso é impossível apontar um modelo como
o “mais correto”. Sabe-se no entanto que lineamentos de chaminés
kimberlíticas indicam com boa precisão a posição dos crátons em diversas
eras geológicas e este tipo de conhecimento possibilita um melhor
entendimento da formação da Terra e possue aplicações práticas na
prospecção de minerais.
O kimberlito é uma rocha magmática plutônica de grande interesse
econômico por sua associação com diamantes. Os diamantes são
transportados pelo magma kimberlítico partindo de seu local de formação a
cerca de 100km de profundidade.
O kimberlito trata-se de um
peridotito composto por olivina com quantidades variáveis de flogopita,
ortopiroxênio, clinopiroxênio, carbonatos e cromita.
Todos os
peritotitos possuem mais de 40% de sua composição de olivina. No caso do
kimberlito, a olivina componente é comumente serpentinizada.
O
kimberlito é encontrado em chaminés kimberlíticas, que são resquícios de
chaminés vulcânicas. As chaminés kimberlíticas apresentam-se geralmente
com pouco soerguimento da área ao redor e com crateras muito largas. É
comum que estas crateras se apresentem como maares. É consensual a
proposição de que os kimberlitos são formados de um magma rico em
voláteis.
A origem do nome deu-se em função da descoberta de
kimberlitos diamantíferos na região de Kimberley na África do Sul em
1866. Classifica-se grosseiramente, em função das características do
kimberlito de Kimberley o kimberlito como sendo “yellow ground” e
“blue
ground”. Yellow ground é relativo ao kimberlito intemperizado que se
encontra na superfície. Blue ground é relativo ao kimberlito não
intemperizado, encontrado em profundidades variáveis. Esta nomenclatura,
embora usual, não caracteriza o kimberlito satisfatoriamente, tendo em
vista as discrepâncias que kimberlitos de diferentes regiões apresentam.
Estas discrepâncias entre os kimberlitos levou à teoria que haveriam
diferenças em sua formação. Baseado nesta premissa, o modelo de
classificação dos kimberlitos mais aceito hoje em dia foi proposto por
Clement e Skinner em 1985 e classifica os kimberlitos segundo três
grandes grupos relativos ao seu local de formação na chaminé
kimberlítica: Crater Facies Kimberlites, Diatreme Facies Kimberlites e
Hyperabyssal Facies Kimberlites, que numa adaptação livre podem ser
denominados simplesmente por “Kimberlitos de Crateras”, Kimberlitos de
Diatremas” e “Kimberlitos Abissais”. Os Kimberlitos de Crateras são
formados na porção superior da chaminé kimberlítica em profundidades
muito rasas. Os Kimberlitos de Diatremas são formados nas diatremas, que
é a região cônica da chaminé kimberlítica. Os Kimberlitos Abissais são
formados na região abaixo das diatremas, no fundo do cone e nos entornos
do dique de alimentação da chaminé.
Quanto à sua formação, existem três teorias mais conhecidas e aceitas: a Teoria do
Vulcanismo
Explosivo, que sugere que os voláteis (principalmente CO2) do magma
formador do kimberlito dilatem entre a fácie abissal e a diatrema,
criando uma zona de pressão contida pela rocha encaixante e que em um
certo ponto explodiria gerando uma erupção. A Teoria Magmática sugere
que somente existam explosões próximas à superfície e nestas explosões a
energia liberada fluidizasse a rocha encaixante fazendo com que
Página 21 pedaços desta afundassem no magma enquanto o kimberlito alcança a superfície. A Teoria
Hidrovulcânica aponta a água superficial como fator causador das explosões do magma kimberlítico.
Os
três modelos apresentam falhas e a formação do kimberlito ainda é
objeto de estudo, porém é tido como consenso que um modelo definitivo
será algo muito próximo da Teoria Magmática e da Teoria Hidrovulcânica,
sendo que a Teoria do Vulcanismo explosivo é praticamente descartada.
Os kimberlitos podem ser dividos em dois grupos segundo sua petrologia.
Kimberlitos
do Grupo I são ricos em CO2 e apresentam textura inequigranular. São
chamados genericamente de kimberlitos basálticos.
Kimberlitos do
Grupo I são ricos em H2O e são também chamados “orangeítos”. Sua
característica distintiva são as macro e megacristalizações de
flogopita, juntamente com presença de micas. Devido a isto são
genericamente chamados de kimberlitos micáceos.
No estado de Minas
Gerais a lavra de diamantes foi historicamente realizada em aluviões,
com destaque especial para a região de Diamantina, Província
Diamantífera do Espinhaço.
A verdadeira origem dos diamantes da
Província do Espinhaço ainda é alvo de debates, tendo em vista que a
Serra do Espinhaço é composta basicamente por rochas sedimentares e
metamórficas, sem nenhuma relação com kimberlitos (ou com lamproítos,
outra rocha relacionada ao transporte de diamantes)
Por outro
lado, a Província do Alto Parnaíba possue presença marcante de
kimberlitos, mas até pouco tempo não se conheciam kimberlitos
mineralizados na região.
Recentemente a descoberta de kimberlitos
mineralizados, embora com teores muito baixos, na Serra da Canastra, na
Província do Alto Parnaíba, despertou o interesse de mineradoras e a
região vem sendo alvo de pesquisas em busca de kimberlitos
diamantíferos.
Página 2
MAPA: OCORRÊNCIAS DE DIAMANTES NO BRASIL Lineamentos das Principais Ocorrências de Diamantes no Brasil
Página 23
ANEXO I DIAGRAMA: KIMBERLITO DIAMANTÍFERO Diagrama de Formação de Kimberlito Diamantífero