sexta-feira, 10 de julho de 2015

Piauí entra para a rota da extração de diamante e se torna referência mundial

Piauí entra para a rota da extração de diamante e se torna referência mundial

O Piauí está prestes a entrar na rota da extração de diamantes e pode se tornar referência mundial na extração da pedra preciosa. A novidade é possível graças à descoberta feita pela em uma pesquisa realizada pelo Departamento Nacional de Produção Mineral, que aponta que o município de Gilbués, localizado a 742 quilômetros de Teresina, possui uma grande reserva de diamantes.

Estimado em dois milhões de quilates - o equivalente a 400 toneladas de pedra preciosa - o diamante do Piauí é puro e possui certificação de Kimberley, órgão criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), para atestar diamantes quanto à sua origem e legalidade.
A descoberta das novas jazidas de Gilbués fez com que o Piauí se tornasse rota para a extração de diamantes no continente . Hoje Estado é tido por especialistas do setor de mineração como um ponto de referência não só no Brasil, mas em toda a América Latina. Para efeito de informação, hoje o país encontra-se na décima colocação de exportação de diamantes.
A nova jazida de Gilbués sozinha pode fazer o Brasil se aproximar de números da Rússia e Botswana que hoje são os países líderes no setor. Este, aliás, é um dos principais motivos em ter empresas e mineradores do Piauí como parte da Bolsa de Diamantes do Panamá, que desejam pôr o Piauí em destaque mundial no setor.
A novidade atrai pessoas interessadas em todo o continente americano. Ali Pastorini, diretora do Comitê de Marketing da Bolsa de Diamantes do Panamá, enxerga um futuro brilhante para o Piauí.
“Eu, como diretora do Comitê de Marketing mundial da Bolsa, e responsável por trazer empresas latinas para integrarem a mesma, vejo a entrada do Piauí na bolsa de diamantes como uma mudança considerável para o setor”, destaca.
A mina de diamantes em Gilbués até o momento é a única jazida da pedra encontrada no Nordeste e pode trazer a sorte grande para o Estado. “A nova jazida de Gilbués pode fazer o Brasil se aproximar de números da Rússia e Botswana, que hoje são os países líderes no setor da extração de diamantes”, confirma Ali Pastorini.
As pedras de diamantes foram descobertas de forma acidental por pesquisadores nacionais da Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais. Eles realizavam análises sobre a descoberta de uma grande reserva de Ferro no município de Paulistana quando se depararam com a jazida de diamantes, avaliada em dois milhões de quilates.
Se em Paulistana as reservas de ferro eram três vezes maiores que o previsto na pesquisa inicial, o mesmo pode acontecer em Gilbués: estimativas apontam que a reserva da pedra no Estado supera 400 toneladas, mas comentários extra oficiais dão conta que o montante pode ser duas vezes maior. Por isto o interesse da Bolsa de Diamantes do Panamá na pedra preciosa.
A Bolsa de Diamantes do Panamá, primeira e única da América Latina, está localizada na cidade do Panamá numa zona livre de impostos, há apenas 15 minutos do Aeroporto Internacional do Panamá. Toda a comercialização de diamantes, pedras preciosas, gemas, ouro, prata, joias e relógios realizado dentro da Bolsa não são taxados.
O que a torna extremamente atrativa para o mercado, pois lá, empresas e empresários de países como Índia, Israel, Estados Unidos, Itália e Bélgica negociam produtos de alta qualidade, excelente procedência e competitividade no preço. Além de colocar as empresas extrativistas da pedra em um nível internacional dada a grande exposição que a bolsa de diamantes tem.
Diamante do Piauí está em fase de lavra
"Pelo que tivemos conhecimento da jazida de diamantes em Gilbués, sabemos que até o momento ela é a única do Nordeste", celebra o secretário de Mineração, Petróleo e Energias Renováveis do Governo do Estado, Alexandre Silveira.
E o Departamento Nacional de Produção Mineral já autorizou o cadastro de mineradores interessados em desbravar as jazidas de Gilbués. "Tudo está em fase preliminar. Primeiro vamos realizar o cadastro para sabermos se o número de interessados é maior ou menor que a reserva de diamante.
Ouvimos muito falar nas riquezas naturais do Piauí. Por isto queremos colocar tudo no papel e fazer com que o Governo faça parte deste processo, pois a mineração vai gerar muitos dividendos para o Piauí", afirma.
E o Piauí só tem a ganhar. Em Gilbués, o trabalho de garimpo funciona ainda a título de pesquisas, com uma guia de autorização. Com a assinatura da portaria de outorga a lavra passa a ser profissional, em uma mina.
A futura primeira mina do Piauí, e também do Nordeste, já exportou cerca de três mil quilates de diamantes certificados e já faz parte dos produtos que compõem a pauta de exportações do Piauí. "Estamos atrás de agilizar esta pauta.
Falta apenas resolver algumas questões junto à Secretaria de Meio Ambiente para colocar o Piauí na rota mundial do diamante", pontua o secretário de Mineração, Petróleo e Energias Renováveis do Governo do Estado do Piauí. (O.B.)
Extração ilegal de diamantes já acontece em Gilbués
Feitos de carbono submetido a altíssima pressão, os diamantes foram forjados até 200 km abaixo da superfície há pelo menos 3 bilhões de anos. As minas são criadas em regiões com alta concentração de um tipo de rocha, denominado pelos geólogos de kimberlito.
Esse material é formado pelo resfriamento do magma, que chegou até a superfície há milhões de anos, carregando elementos de regiões profundas da Terra.
No Brasil, a produção se concentra em minas formadas por erosão de kimberlito. As águas de rios e lençóis freáticos carregam pedras, que se concentram em áreas superficiais e passam a ser exploradas por mineradores.
Em Gilbués, algumas empresas já extraem a pedra preciosa de forma ilegal, mesmo sendo necessária uma ordem para a retirada da mesma. "Temos informações extraoficiais de que pequenos mineradores e algumas empresas extraem diamante em Gilbués de forma ilegal", conta Alexandre.
Entretanto, a Secretaria de Mineração, Petróleo e Energias Renováveis do Governo do Estado do Piauí está de mãos atadas até que a situação da jazida seja devidamente regulamentada. "Não podemos fazer nada até haver a assinatura da portaria de outorga a lavra", lamenta.

RESERVA ROOSEVELT: RONDÔNIA POSSUI UMA DAS MAIORES MINAS DE DIAMANTES DO MUNDO

RESERVA ROOSEVELT: RONDÔNIA POSSUI UMA DAS MAIORES MINAS DE DIAMANTES DO MUNDO


 
A extração de diamantes das terras indígenas de Roosevelt, Parque Indígena Aripuanã e Serra Morena, no sul do estado de Rondônia e oeste do Mato Grosso pode render cerca de US$ 3,5 bilhões por ano caso seja regulamentada. "Pelo que já se encontrou de diamantes e pelo tamanho da área de incidências geológicas, mostram que poderíamos estar diante de uma das maiores reservas de diamante do mundo", disse, nesta terça-feira, o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto.

Atualmente, a extração de pedras preciosas em reservas indígenas no Brasil é proibida, mas é intenção do governo federal regulamentar o garimpo na terra dos índios Cinta-Larga, a partir de um processo gradativo, envolvendo os Ministérios da Justiça, Minas e Energia e da Fundação Nacional do Índio (Funai), responsável pelo acompanhamento do impacto que a exploração teria sobre os índios e a natureza.

Apesar do alto valor que poderá ser conseguido com a regulamentação do garimpo, o secretário alerta que será um processo demorado, e que as pedras não serão colocadas no mercado de forma imediata, para não afetar o preço dos diamantes. "O diamante é muito sensível, até a exploração você tem que medir, porque se nós tirarmos todo aquele diamante de uma vez e vendermos no mercado externo, o diamante teria preço de vidro", destacou o secretário.

Ele estima que a capacidade total da reserva mineral seja de 15 kimberlitos, ou seja, 15 vezes maior do que a capacidade da maior mina de diamantes do mundo que fica na África, que possui de um a dois kimberlitos. "Há estudos de satélites que mostram incidências magnéticas, que seriam, mais ou menos, locais onde poderia haver diamantes", revelou Barreto.

O secretário-executivo ressaltou que para chegar a essa etapa, primeiro será necessário evitar mais conflitos na região, onde foram mortos 29 garimpeiros, que entraram na reserva clandestinamente, no início de 2004. São 1.200 indígenas que vivem no local e cerca de 6.000 garimpeiros interessados nas pedras. "Seria uma terceira etapa de regulamentação desse procedimento de maneira sistemática, razoável e controlada pelo Estado brasileiro", lembrou ele.

RO - A terrível história dos Cinta Larga

RO - A terrível história dos Cinta Larga
Estado: Rondônia
Município: Porto Velho
Município(s) atingidos: Ji-Paraná, Porto Velho
População atingida: Povos indígenas e seringueiros
Danos causados: Ameaça à qualidade de vida, Desnutrição, Doenças transmissíveis
Sintese do conflito: Em fevereiro de 2003, organizações indígenas brasileiras estiveram em Washington para uma reunião com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) onde denunciaram as violações de direitos humanos sofridas pelos povos indígenas de Raposa Serra do Sol, em Roraima, e dos Cinta Larga, em Rondônia e Mato Grosso.
O documento entregue à Comissão destaca, sobre os Cinta Larga, ?o saque e a espoliação econômica de recursos das Terras Indígenas, especialmente os garimpos de diamantes, que envolvem assassinatos, tortura e semi-escravidão de índios e garimpeiros. Outros pontos importantes são a disseminação de alcoolismo e de prostituição entre as comunidades indígenas e o aumento da ocorrência de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), desnutrição e mortalidade infantil. Esta grave situação coloca os Cinta Larga como o único povo cuja população tem diminuído nos últimos anos, em contraposição ao aumento geral da população indígena no Brasil.?
Contexto ampliado: Para uma contextualização histórica da situação dos Cinta Larga, utilizamos vários trechos do estudo “Os Cinta Larga, os diamantes e os conflitos: uma cronologia”, elaborado pela equipe Povos Indígenas no Brasil, do Instituto Socioambiental (ISA).
Ocupando uma área de 2,6 milhões de hectares nos Estados de Rondônia e Mato Grosso, a Terra Indígena (TI) Roosevelt possui um raro kimberlito - rocha vulcânica em que é encontrado o diamante. Segundo estudo da Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM), órgão do Ministério das Minas e Energia, este minério é único no país, e poderia gerar uma mina industrial de diamante de gema com capacidade para produzir, no mínimo, um milhão de quilates de pedras preciosas por ano, o que representaria uma receita anual de US$ 200 milhões.
A extração mineral em Terra Indígena é ilegal e depende da regulamentação do Congresso Nacional. Entretanto, a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e o serviço de inteligência da Polícia Federal (PF) estimam que US$ 20 milhões em diamantes da TI Roosevelt saiam ilegalmente do País. Essa terra é considerada uma das dez maiores minas de diamante do mundo e está incluída na rota dos grandes traficantes internacionais de pedras.
Em meados do século XX, seringalistas pioneiros no território chegaram com exploradores de garimpos. Segundo a cronologia do ISA, a década de 1950 registrou vários conflitos dos Cinta Larga com garimpeiros e seringueiros. Este quadro se agravou com a inauguração da estrada Cuiabá-Porto Velho (BR 364), em 1960.
A conturbada trajetória dos confrontos da colonização de Rondônia com os Cinta Larga, como lembraria o sociólogo e advogado Roberto Santos, em artigo também publicado pelo Instituto Socioambiental (ISA), terá início, na fase mais contemporânea, em 1963, motivada provavelmente pelo potencial das jazidas da Terra Indígena (TI) Roosevelt. Ele cita a seguinte passagem de autoria do antropólogo Shelton Davis:
”Em 1963, um homem chamado Francisco de Brito, que trabalhava para a Arruda e Junqueira [empresa de produção de borracha], organizou um bando de garimpeiros e pistoleiros para expulsar os Cinta Larga de suas terras. De acordo com relatos desse incidente, que mais tarde ficou conhecido como o Massacre do Paralelo Onze, Brito alugou um avião para atacar as aldeias dos Cinta Larga. No momento do ataque, os Cinta Larga estavam em meio a um importante cerimonial. Parece que, ao meio-dia, o avião com Brito e seus capangas chegou à aldeia dos Cinta Larga e jogou pacotes de açúcar sobre os índios. Em seguida, o avião deu uma rasante e começou a dinamitar a aldeia. Ninguém sabe exatamente quantos índios foram mortos nesse ataque. Alguns, porém, escaparam, e outra expedição foi organizada para exterminar a tribo”.
Conflito envolvendo questões de garimpagem voltou a ocorrer em 1968, quando: ”uma turma de sete homens, contratados pelo seringalista José Milton de Andrade Rios para a pesquisa mineral, foi cercada por dezenas de Cinta Larga nas imediações do rio Roosevelt. Os mineradores estavam fortemente armados e mataram dez índios. (...) No mesmo mês, a oeste, os Cinta Larga atacaram o acampamento do garimpeiro Raul Moreda, o 'Raul Espanhol', às margens do rio Aripuanã. (...) Morreu o garimpeiro Constantino Borges e três outros foram flechados. Os Cinta Larga carregaram ferramentas, utensílios, roupas e mercadorias, jogando as espingardas na água. [Mas] segundo antigos moradores de Aripuanã, Raul Espanhol teria buscado reforços no acampamento do seu comparsa Manelão, causando muitas baixas entre os índios.
Neste mesmo ano, teve início a Operação Cinta Larga, que consistia em um plano de 'pacificação' do grupo, (...) sob o comando geral de Hélio Bucker, chefe da 6ª Inind [a Inspetoria Regional (Inind) era vinculada ao Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Após a extinção do SPI e criação da FUNAI, em 05/12/1967, a Inind passou a ser denominada Delegacia Regional. Hélio Bucker, militar reformado, dedicou-se à causa indígena, sendo já titular da 5ª Delegacia Regional da FUNAI, no antigo Estado do Mato Grosso, em 1968]. A Operação Cinta Larga desdobrou-se em duas frentes. Uma delas foi liderada pelo sertanista Francisco Meirelles e concentrou-se na região de Riozinho e Cacoal, em Rondônia, resultando no contato com os Índios Suruí que ali viviam. A outra frente foi encetada pelo sertanista João Américo Peret e visava atingir os índios do vale do Aripuanã. Através do Decreto presidencial n°62.995 de 16/07/1968, a área entre os rios Juruena e Roosevelt foi interditada para fins de pacificação dos Cinta Larga e outros grupos.
Em 1969, a recém-criada FUNAI criou o subposto Roosevelt, dividindo o pólo de atração com o posto Sete de Setembro. (...) Em julho de 1969 foi criado o Parque Indígena do Aripuanã (Decreto n° 64.860), atendendo aos mesmos limites da área interditada pelo decreto anterior, 'com a característica principal de área reservada aos índios Cinta Larga e Nambikwara, para os efeitos do artigo 186 das Constituição'. Com isto, foi garantida parcela significativa do território aos Cinta Larga e as condições iniciais para a Funai melhor desenvolver seus trabalhos na área.
Em fins de 1971, “os Cinta Larga mataram dois funcionários da FUNAI, Possidônio Bastos, ex-jornalista que há pouco chefiava o subposto Roosevelt, e o radiotelegrafista Acrísio Lima. Na versão de um Cinta Larga, um garimpeiro compareceu a uma festa na aldeia, mas foi impedido de 'namorar' uma das índias e teria passado veneno no pilão de fazer chicha (bebida fermentada tradicional, à base de mandioca ou milho). Em vingança, os índios atacaram o acampamento onde a Funai recém instalara-se. Para os Cinta Larga, o envenenamento seria a explicação mais plausível para a epidemia de gripe, doença até então desconhecida entre eles, que dizimou a população de várias aldeias”.
Entre 1971 e 1974, os Cinta Larga começaram a corresponder às tentativas da FUNAI de aproximação, fazendo visitas e algumas celebrações em pequenos grupos, além da troca de prendas com técnicos do órgão e pesquisadores.
O Decreto n° 73.563 de 24/01/1974 alterou os limites do parque indígena, estabelecendo o rio Aripuanã como seu limite leste. Mas, no mesmo dia, o Decreto n° 73.562 interditou duas áreas contíguas aos limites do Parque, diminuindo ainda mais sua extensão. “Poucos meses após a primeira visita, um grupo de sessenta e nove Cinta Larga visitou Aripuanã. Foram recebidos pelos moradores com aguardente, fumo, roupas velhas e o pouco de comida (...). Os índios acabaram contraindo gripe. Ao voltarem para a floresta, a doença se alastrou, resultando na morte de quase metade da população Cinta Larga dessa região”.
No ano seguinte, ocorre a “descoberta de ouro em um dos córregos do rio Branco. Pouco depois os garimpeiros se transferiram para o igarapé Jurema, afluente do Ouro Preto. A exploração de ouro teve altos e baixos, porém atraiu a atenção dos Cinta Larga. Alguns que moravam a pouco mais de 30 Km passaram a frequentar o local”.
Por volta de 1979-80, “uma firma norte-americana (Amcon Mining) havia comprado os direitos sobre a área do garimpo Ouro Preto, identificada em 1976, dando início a suas atividades de pesquisa”. Em 1984, houve a “retirada do garimpo Ouro Preto e a instalação de um Posto Indígena da FUNAI com a ocupação das instalações do antigo garimpo”.
Em meados de 1987, “os garimpeiros voltaram para área, comprando os índios com mercadorias, transporte e participação na extração do ouro. A direção da FUNAI era cúmplice nesse processo, havendo denúncias de subornos e corrupção”.
A partir de 1999, os achados na Terra Indígena Roosevelt adquirem nova proporção. É descoberta a jazida de diamantes, que traz toda forma de pressão, conflitos e mortes. No ano seguinte, acontece a “invasão das terras e a criação de um mega-garimpo de diamantes”. O foco principal era a TI Roosevelt, mas o garimpo se alastra “para outras TIs dos Cinta Larga: Serra Morena, Aripuanã e Parque Aripuanã, como também para as terras dos Suruí, Zoró, Gavião, Arara, Nambikwara e os Arara de Aripuanã”. No início de 2001, acontece a “retirada de cerca de mil garimpeiros da TI Roosevelt pela Polícia Federal”.
Em setembro de 2001, Carlito Cinta Larga, 28 anos, filho do cacique Mario Parakida, denuncia “ao Ministério Público a exploração ilegal de madeira nas terras da etnia”. Carlito auxiliava o pai na negociação de madeira com os madeireiros. “A Polícia Federal enviou equipe para investigar o caso, mas os agentes só encontraram uma balsa no local. (...) No mês seguinte, uma operação da Polícia Federal, FUNAI, Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e Instituto Nacional de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) apreendeu sete caminhões carregados com mangueiras, tubulações, motores, tambores de óleo diesel, tratores, fogões e 11 mil metros de tubos na TI Roosevelt”.
No final de 2001, Carlito Cinta Larga foi assassinado a tiros quando chegava em casa, na cidade de Aripuanã. Pouco depois, César Cinta Larga, de Espigão d’Oeste, cidade próxima ao garimpo Roosevelt, foi também assassinado. César morreu por afogamento e teve uma das mãos decepadas, provavelmente sendo torturado antes de morrer.
Em 21 de março, teve início a operação de expulsão de cerca de 2.500 garimpeiros da TI Roosevelt, na qual índios e policiais federais se uniram para combater o garimpo clandestino.
Em abril de 2002, os caciques Cinta Larga Nacoça Pio, João Cinta Larga, Alzac Tataré e Amaral, todos moradores da TI Roosevelt, foram presos, “acusados de homicídio, favorecimento de garimpo ilegal, degradação ambiental e porte ilegal de armas”. Os quatro haviam liderado a mudança de posição dos Cinta Larga em relação ao garimpo, passando a ser contra a atividade. “Os caciques foram soltos após passarem seis dias recolhidos na carceragem da Polícia Federal, em Porto Velho (RO)”.
A seguir, a TI Roosevelt foi “invadida pelos garimpeiros que dali haviam sido retirados”. A invasão teria resultado em quatro garimpeiros mortos e 28 feridos. Em 26 de abril, o jornal O Estadão do Norte, de Rondônia, informou que “o ex-prefeito de Ariquemes e ex-senador cassado Ernandes Amorim estava incitando os garimpeiros a invadir novamente a terra indígena”.
Em junho de 2002, o presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu carta de movimentos sociais manifestando oposição ao Projeto de Lei (PL) 1610, que buscava a legalização da mineração em terras indígenas. O documento alertava para as perdas das comunidades indígenas e os danos ambientais que resultariam da aprovação do projeto do senador Romero Jucá (PMDB).
Em junho de 2002, “lideranças das diversas Terras Indígenas Cinta Larga (...) decidiram que os próprios índios deveriam cuidar da exploração mineral e da preservação ambiental em suas terras. A garimpagem seria levada a cabo pela Associação Indígena Pamaré”.
A partir de 2003, diante do agravamento da situação e das intrusões garimpeiras na terra indígena Roosevelt, diferentes missões começaram a visitar os Cinta Larga. Entre janeiro e agosto, houve uma ação de desintrusão da TI. Em junho, a Plataforma Dhesca denunciou o caso da etnia.
Em outubro de 2003, garimpeiros ameaçaram invadir novamente a área. Entre outubro e novembro, os Cinta Larga foram visitados pela Comissão Parlamentar de Direitos Humanos [da Câmara dos Deputados] e pelo relator nacional para o Direito Humano ao Meio Ambiente da Plataforma Dhesca, Jean Pierre Leroy - acompanhado da subprocuradora geral da República, Ella Volkmer de Castilho, de representantes de entidades indígenas e da FUNAI, além da indigenista Maria Inês Hargreaves.
Notícia veiculada em 24 de outubro de 2003 pelo site do ISA registrou a chegada do avião com José Roberto Gonzales no garimpo Roosevelt, poucos dias antes, em que ele teria se apresentado: “como funcionário da Companhia de Mineração de Rondônia (CMR) e membro de uma ONG de Minas Gerais chamada Centro Mineiro para Conservação da Natureza (CMCN). Avisada pelos índios, a Funai de Cacoal foi até a área e Gonzalez foi encaminhando pela polícia ambiental à Polícia Federal em Pimenta Bueno. Ali, de acordo com informações do delegado Fabiano Bordignon, Gonzalez foi ouvido e declarou estar no garimpo para entregar aos índios uma proposta em nome da Companhia de Mineração de Rondônia. (...) A presidente da Companhia de Mineração de Rondônia (CMR), Leandra Vivian, também chefe de gabinete do governador Ivo Cassol, ouvida pela reportagem do ISA, confirmou que Gonzalez era assessor para assuntos comercias da companhia, mas que desconhecia o fato de ele haver estado com os Cinta Larga”.
Ao se dirigir à PF, Gonzales teria deixado na aldeia Roosevelt uma bolsa “cheia de papéis no mínimo comprometedores. Entre eles, uma procuração da presidente da Companhia de Mineração de Rondônia, Leandra Vivian, a mesma que negou à reportagem do ISA desconhecer a presença de seu assessor comercial na aldeia Cinta Larga. Havia ainda uma proposta de se fazer uma cooperativa indígena para vender diamantes para a Companhia de Mineração de Rondônia”, contou Walter Blós - coordenador do Grupo Tarefa para a questão Cinta Larga e assessor da presidência da FUNAI. Também foi encontrada uma minuta de convênio entre o Centro Mineiro para a Conservação da Natureza (CMCN), organização vinculada à Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, na qual Gonzalez também trabalha como coordenador de projetos, e a Associação Paerenã Indígena Ecológica de Proteção Ambiental, uma das organizações dos Cinta Larga.
Segundo a notícia do ISA, o texto do convênio estabelecia o objetivo “de organizar e facilitar entre as partes a cooperação e a colaboração científica e tecnológica em projetos, ações, programas voltados para a preservação e conservação de recursos ambientais, aproveitamento de recursos renováveis ou não renováveis, bem como a busca de outros recursos que viabilizem a concretização dos objetivos dos conveniados”. Contudo, “em momento nenhum aparecem escritas as palavras mineração ou garimpo. Apenas se fala em aproveitamento dos recursos renováveis e não-renováveis. A minuta também não tem data, mas está assinada pelo cacique João Cinta Larga, por Laércio Couto, presidente da CMCN, por José Roberto Gonzalez, também pela CMCN. O último nome é o de Marco Kalisch, observador de uma organização denominada Great Forest Inc, que entretanto não assinou a minuta. A papelada foi registrada em cartório de Cacoal, em 23 de setembro de 2003”.
Em 2004, o relator de direitos humanos ao meio ambiente da Plataforma de Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (Plataforma Dhesca Brasil) Jean Pierre Leroy sintetizou a situação dos índios Cinta Larga (que já haviam sido objeto de um relato Dhesca, no ano de 2003):
“O caso dos Cinta Larga no Estado de Rondônia reúne todas as formas de manifestação da violência já mencionadas da força policial. Na histórica e total omissão do Poder Público, seu território foi explorado e saqueado, foram massacrados a ponto da população ser reduzida de 5.000 para 1.300 indivíduos em apenas 40 anos. Ainda hoje sofrem pressão intensa dos garimpeiros e madeireiros. São humilhados e ameaçados nas cidades próximas, o que levou muitas famílias indígenas a retirar seus filhos das escolas com medo da violência e da discriminação. A imprensa local contribui para criar o clima de animosidade contra os Cinta Larga, por meio de matérias sensacionalistas, caluniosas e difamatórias. Em abril de 2004, após a desintrusão da área com apoio do governo federal, houve conflitos que resultaram na morte de garimpeiros que estavam ilegalmente no interior das terras dos Cinta Larga. Em resposta, centenas de garimpeiros, na cidade de Espigão d'Oeste, capturaram e amarraram um professor indígena a uma árvore em praça pública, humilharam-no, apedrejaram-no e por pouco não cumpriram o intento de linchá-lo até a morte porque a Polícia Militar, mesmo acuada, chegou ao local. Na delegacia da cidade, inúmeros inquéritos para apurar crimes contra os Cinta Larga estão inconclusivos, com as investigações paradas. Quando Cinta Larga são os investigados, o Judiciário local decreta a prisão de suspeitos, mesmo com prova escassa e dúbia”.
Em março de 2004, “a PF prendeu 15 pessoas por envolvimento na compra ilegal de diamantes das terras indígenas dos Cinta Larga. Entre elas estavam o delegado da Polícia Civil em Espigão D’Oeste, um agente da PF, um servidor do Incra, empresários e Marcos Glikes. Antecipando o auge do conflito prestes a ocorrer, “a Polícia Federal iniciou uma greve 'por tempo indeterminado', fazendo com que a precária fiscalização das áreas de garimpo dos Cinta Larga ficasse praticamente nula e paralisando totalmente as ações contra contrabandistas de diamantes em Rondônia”.
Na provável data de 07 de abril, os guerreiros Cinta Larga atacaram garimpeiros no interior da TI Roosevelt, resultando na morte de 29 deles.
“Em 10 de abril, o professor Marcelo Cinta Larga e quatro menores da etnia foram retirados de um táxi por garimpeiros às 12:00, e levados para o meio da praça de Espigão d'Oeste. Mesmo sem ter qualquer ligação com o garimpo, Marcelo foi espancado, violentado e amarrado a uma árvore, em resposta ao assassinato dos garimpeiros na semana anterior. Marcelo ficou em poder dos garimpeiros por mais de 10 horas até conseguir ser libertado pela PM e levado para Ji-Paraná, sob escolta. No dia 11 de abril, se deu a retirada dos corpos de três garimpeiros assassinados no dia 07. (...) Depois de uma semana de procura e muitas denúncias por parte dos garimpeiros, a Superintendência da Polícia Federal confirmou a localização de mais 26 corpos na TI”.
Em 29 de abril, os Cinta Larga denunciaram à FUNAI uma nova invasão de garimpeiros na TI Roosevelt. No dia 18 de maio, Moisés Cinta Larga, de 14 anos, foi assassinado com dois tiros nas costas em emboscada em Espigão D’Oeste, a menos de dois Km da TI Roosevelt. Uma ação penal foi instaurada após o episódio dos 29 garimpeiros mortos, momento em que o envolvimento de políticos e a atuação corrupta de funcionários públicos e de contrabandistas começam a ser melhor detalhados.
Durante a 5ª reunião da Comissão Nacional de Politica Indigenista (CNPI), realizada em Rio Branco, em setembro de 2009, o Portal Jipa registrou que o procurador da República Reginaldo Pereira Trindade, lotado em Rondônia, observou que o ”círculo vicioso [em torno dos Cinta Larga e a TI Roosevelt] é caracterizado pela cooptação de lideranças indígenas pelo crime organizado. 'Não raro, em vez do pagamento em espécie, os índios são agraciados com créditos abertos no comércio das cidades circunvizinhas à Reserva Indígena, notadamente Espigão D’Oeste e Cacoal, a ponto de, atualmente, as dívidas do Povo Cinta Larga somarem centenas de milhares de reais”. Tal prática transformaria o pagamento das dívidas, segundo o mesmo procurador, na principal engrenagem para a continuidade do garimpo. 'Quanto mais os índios garimpam ou deixam garimpar, mais devem e mais precisam continuar garimpando. Muitas dívidas são ilegais e há tempos são cobradas sob a mira de arma de fogo”, enfatizou.
Meses antes de “a morte de 29 garimpeiros por guerreiros Cinta Larga”, o envolvimento direto do gabinete do governador Ivo Cassol na exploração e garimpo ilegal das pedras preciosas locais ficou configurado, segundo revelou notícia da Agência Brasil (EBC) publicada pelo site Amazônia, em setembro de 2004. De acordo com a matéria, o Ministério Público Federal (MPF) pediu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) a ”abertura de inquérito contra o governador de Rondônia, Ivo Cassol, por envolvimento em questões referentes à extração de diamantes na reserva indígena Roosevelt, do povo Cinta Larga. Cassol é suspeito dos crimes de responsabilidade, facilitação de contrabando e descaminho e prevaricação”. O governador de Rondônia teria sido ”francamente favorável ao garimpo ilegal, chegando, segundo o MP, a incentivar a prática e repudiar a ação constitucional da FUNAI em entrevistas à televisão”.
A mesma notícia informou que o senhor José Roberto Gonzales, ligado à ONG Centro Mineiro de Conservação da Natureza, fora contratado pela chefe de gabinete do governador de Rondônia, Leandra Fátima Vivian, presidente da estatal Companhia de Mineração do Estado de Rondônia (CMR), para intermediar a relação com as lideranças indígenas Cinta Larga. Uma conversa telefônica mantida entre Gonzales e o delegado da Polícia Federal José Bocamino - também acusado de pertencer ao esquema de contrabando de diamantes - foi monitorada no âmbito da 'Operação Lince', permitindo a identificação de um esquema de exploração ilegal de diamantes na reserva. Os contrabandistas teriam investido R$ 1 milhão para compra, transporte e manutenção de máquinas de lavra e pagamento de comissões e propinas. Gonzales deveria proporcionar a entrada e instalação das máquinas no interior da aldeia liderada pelo cacique João Bravo, por meio de contatos e acertos com os indígenas.
Em outra reportagem, a revista Isto É informa que Gonzales foi nomeado em setembro de 2003, “com amplos poderes” para representar comercialmente a CMR, no Brasil e no Exterior:
”Gonzales foi apontado pela PF como um dos principais contrabandistas de diamantes da reserva. Em depoimento prestado no dia 21 de outubro do ano passado, ele confirmou que trabalhava para um peixe ainda mais graúdo: o megacontrabandista internacional de pedras preciosas Marcus Glikas, preso na rodoviária de Cacoal, município próximo à reserva, no dia 8 de março deste ano, após fechar um acordo para compra de gemas com os índios. Investigado nos EUA por crime de lavagem de dinheiro, Glikas chegou a recrutar os agentes da PF Marco Aurélio Soares e José Cadete Silva e policiais militares da região, que acabaram presos. A PF prendeu no fim do ano passado uma rede de laranjas do contrabandista com R$ 3 milhões em pedras preciosas no Aeroporto de Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá. As pedras foram retiradas da reserva Roosevelt”.
“Fui contratado por Glikas para tentar um acordo com o governo do Estado para operar legalmente na reserva”, disse José Roberto Gonzales ao ser localizado na quarta-feira 21, em Belo Horizonte. Um mês depois de ser nomeado procurador da CMR pelo governo do Estado, Gonzales foi desmascarado pelos guerreiros Cinta Larga.
Os Cinta Larga tiveram a oportunidade de denunciar as ações de assédio e violência de que eram vítimas, bem como sua disposição de ”resistir às invasões”. Uma CPI estadual da Garimpagem também encaminhou ao Ministro da Justiça seu relatório final, além de uma carta “apontando as irregularidades que vinham ocorrendo na área e a tragédia que poderia acontecer caso não fossem tomadas providências urgentes”. Ainda observava que, ”em razão de competências federais específicas (envolvendo órgãos como a FUNAI, Polícia Federal, DNPM e IBAMA), os problemas não poderiam ser resolvidos no âmbito estadual. Os relatores pediram a intervenção do Exército nas TIs Cinta Larga e citaram que os principais responsáveis pelas invasões e extrações ilegais do diamante eram os próprios índios e funcionários da FUNAI. A CPI foi, no entanto, encerrada sem ouvir nenhum Cinta Larga”.
Em 01 de outubro de 2009, notícia veiculada pelo site do Conselho Indigenista Missionário apresentava processo do MPF contra três funcionários da FUNAI que, entre 2001 e 2007, estiveram envolvidos em delitos como “a cobrança de pedágio para entrada de garimpeiros na reserva indígena dos Cinta Larga [e] envolvimento na extração ilegal de madeira e de diamantes”.
Segundo Ana Aranda, em 2010, os índios Cinta Larga, com apoio da Polícia Federal, tomaram a decisão de paralisar completamente a exploração de diamantes em suas terras. Desde então, a PF mantém barreiras nas principais vias de acesso a TI. Essa decisão, contudo, possui um custo político que está gerando efeitos negativos dentro da terra indígena. Aranda afirma: “[As] lideranças Cinta Larga paralisaram o garimpo acreditando na promessa de implementação de um planejamento de vida que atenda as necessidades básicas para uma vida digna dentro da TI, até que a lei que regulamenta a exploração de minerais em terras indígenas saia da gaveta na Câmara Federal, onde aguarda uma decisão dos deputados desde 1999. Sem a contrapartida do governo no acordo, as lideranças indígenas que o acataram sofrem pressões de todos os lados - dos parentes, que vivem em situação de penúria e não acreditam mais nas promessas dos colonizadores, e de uma variada rede de pessoas, empresas e entidades, ávidas pelas pedras preciosas, incluindo perigosos bandidos internacionais”.
Numa reunião entre a procuradoria do estado, lideranças locais e a bancada federal do estado, em 18 de agosto de 2011, o procurador Reginaldo Trindade afirmou que a inércia do governo federal para viabilizar alternativas de desenvolvimento local se devia à falta de vontade política: “Embora se assemelhe a uma bomba prestes a explodir, a situação é cômoda para o governo, já que o garimpo está paralisado”. Na ocasião, a procuradoria solicitou que a bancada estadual no congresso pressionasse politicamente a União para que novos conflitos fossem evitados.
Lideranças indígenas Cinta Larga denunciaram a truculência dos policiais federais responsáveis pela fiscalização nas barreiras, além da enorme diferença entre os recursos investidos na manutenção da força policial no local e aqueles destinados a programas sociais nas aldeias.
Dados levantados pela procuradoria confirmaram as denúncias: “O Governo Federal aplicou em ações da Policia Federal, no período de 2006 a 2009, R$ 28 milhões e 430 mil, com valores em escala ascendente a cada ano. Já os programas sociais, de acordo com a FUNAI, tiveram um investimento de R$ 469 mil em 2008 e de R$ 649 mil em 2009, sendo que parte considerável dos mesmos foi aplicada em despesas indiretas, como pagamento de diárias e de combustível. No biênio 2008/2009, as ações repressivas somaram um montante de R$ 7 milhões/ano, sendo que para a FUNAI foi destinado 10% destes investimentos”.
Segundo relato de João Guató no portal Proind, Marcelo Cinta Larga, coordenador da Associação Cinta Larga, declarou: “Queremos resolver os conflitos que temos com os garimpeiros de forma pacífica, mas promessas não são cumpridas. (...) Não é suficiente somente paralisar os garimpos. É preciso ter alternativas”.
Em 30 de junho de 2012, Alexandre Maciel, repórter do jornal 24 News, entrevistou Marcos Aripuanã, coordenador geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e diretor da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que externou a situação de penúria em que vive o povo Cinta Larga. Segundo ele, as políticas públicas de saúde e educação são totalmente ausentes na comunidade, tornando a etnia dependente de uma política assistencialista promovida pela FUNAI - muitas famílias sobrevivem com a doação de cestas básicas.
Marcos aponta ainda outro fator importante para a cultura Cinta Larga, a perda da identidade: “Hoje eles também passam por um problema muito grave que é a questão da religião. Uma igreja evangélica implantou seus mecanismos naquela área e hoje eles também estão reféns disso”. A atuação dúbia da FUNAI estaria na origem dessa dependência. Segundo Aripuanã, “entra e sai gente das terras indígenas e eles não fiscalizam, não perguntam o que está acontecendo. Porém, quando os índios querem fazer os seus trabalhos para beneficiar a governança do seu território, dizem que não pode, por que a lei diz ‘isso e aquilo’”, reclama.
Dois meses após as denúncias de Aripuanã, três novos garimpos ilegais foram desativados na TI Roosevelt. Em uma operação que articulou fiscais do IBAMA, da FUNAI e agentes da Polícia Federal, foram apreendidos e destruídos dezesseis motores e caixas separadoras. Segundo depoimento de Carolina Gonçalves para a Agência Brasil, há denúncias de que alguns membros da etnia estariam envolvidos na operação. Aripuanã foi entrevistado por Gonçalves como representante da Coiab e admitiu que muitas aldeias já cogitam a articulação com os garimpeiros para exploração ilegal dos diamantes, pois as políticas assistenciais do Governo Federal são consideradas insuficientes para a manutenção de suas famílias.

Na semana passada, um garimpeiro de Rondônia estava pedindo US$ 6 milhões por uma raridade de mais de 100 quilates

A nova maldição

Reserva indígena, que pode ter a maior mina de diamantes do mundo, é explorada pelo crime organizado, que fatura US$ 20 milhões por mês


Numa sala dos fundos da joalheria Oriental, no centro do município de Juína, no Mato Grosso, o comerciante Rogério de Souza desdobra uma folha de veludo preto e espalha sobre a mesa centenas de pequenas pedras brilhantes. Depois de separar com uma pinça um lote de diamantes maiores, o comerciante anuncia o preço do produto: R$ 150 por quilate (1/5 de grama). “Veio de longe. Mas se você quiser as pedras boas e grandes dos índios tem de avisar antes. Na semana passada, um garimpeiro de Rondônia estava pedindo US$ 6 milhões por uma raridade de mais de 100 quilates”,
A exemplo dos demais escritórios
de diamantes do município, a Oriental fica na avenida 9 de Maio,
o local preferido dos garimpeiros
e dos compradores da Bélgica, de Israel e de vários outros países.
O comércio de pedras também
é intenso nos principais hotéis
da cidade. “IMG Comércio de Diamantes”, anuncia uma placa colocada no apartamento 202
do Hotel Caiabi. Era nesse escritório improvisado que despachava o contrabandista de Tel-Aviv Israel Mattiyahu Garby, preso em março
do ano passado pela Polícia Federal no Aeroporto Internacional Marechal Rondon, em Várzea Grande (MT), quando tentava contrabandear dois quilos de diamantes. Uma carga avaliada em R$ 1,5 milhão ao preço
do mercado de hoje. A prisão de Garby, no entanto, não foi suficiente para afugentar os compradores estrangeiros. No mesmo hotel, o belga Luix Uícus, não hesitou em dizer a ISTOÉ por meio do amigo Talai Did
o que procurava na cidade: “Diamantes grandes e bonitos.” Did e Uícus somente perderam a calma e encerraram a conversa quando
foram perguntados sobre a legalidade da transação.
Esse cenário explica por que Juína, município cercado por várias reservas indígenas, na divisa de Mato Grosso com Rondônia, é conhecido por manter em funcionamento a bolsa de diamantes do País. Na década de 90, esse título, escrito em duas torres erguidas na avenida 9 de Maio
pelo israelense Izac Ben David,
se devia à grande produção de diamante industrial no município. Minúsculo, escuro e vendido a preços bem inferiores para indústrias
de ponta, esse tipo de diamante anda em queda, mas é o único
produzido nos garimpos do município. A Polícia Federal, o Ministério Público Federal, e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sabem
que as pedras preciosas que atraem compradores e contrabandistas
para Mato Grosso têm outra procedência: a reserva Roosevelt dos
índios cinta larga. Ocupando uma área de 2,6 milhões de hectares nos Estados de Rondônia e do Mato Grosso, a reserva foi presenteada com um raro kimberlito (rocha vulcânica onde é encontrado diamante).
Segundo estudo da Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM), órgão do Ministério das Minas e Energia, o kimberlito, o único do País que pode gerar uma mina industrial de diamante de gema, tem capacidade para produzir no mínimo um milhão
de quilates de pedras preciosas por ano, o que representa uma receita anual de US$ 200 milhões. A extração de mineral em terra indígena é ilegal
e depende de regulamentação do Congresso. Mesmo assim, a Abin
e o serviço de inteligência da PF estimam que US$ 20 milhões de diamantes do Roosevelt saem ilegalmente do País todos os meses.

Para a PF e o Ministério Público, o contrabando explica a enorme discrepância entre a exportação legal
de diamantes de gemas, que segundo o Serviço de Comércio Exterior (Secex) no ano passado foi de apenas 9.096 quilates, e o destaque
que as pedras brasileiras começam a ganhar no mercado externo.
De acordo com o Mining Journal, publicação especializada da Inglaterra
que mede a comercialização de pedras preciosas na Europa, a produção de diamantes de gema do País foi de 900 mil quilates, no mesmo
período, comercializados a US$ 41 milhões. Esse número colocou o
Brasil como o 10º maior produtor de diamantes do mundo. Basta fazer
a conta – 900 mil quilates menos nove mil – para concluir que 890 mil quilates saíram ilegalmente do País . Cerca de 98% da
produção nacional. “Está claro que a maior parte desses diamantes
sai do País contrabandeada”, afirma o procurador da República Pedro Taques, que coordena uma força tarefa do MP que investiga o contrabando de diamantes em terras indígenas.
“Lá está a riqueza que os estrangeiros e os políticos querem tirar do meu povo. Tudo o que saiu é pouco. Os garimpeiros estão somente arranhando a rocha maior (kimberlito), abaixo do igarapé, onde está o grosso do diamante”, mostra o cacique Tataré Cinta Larga, enquanto a aeronave sobrevoa o garimpo do Roosevelt. Visto do alto, o cenário apontado por Tataré é assustador. Em meio à floresta devastada, dezenas de tratores e escavadeiras abrem crateras no Igarapé do Lajes, que numa extensão de 40 quilômetros se transformou num gigantesco lamaceiro. Os problemas do garimpo do rio Roosevelt não se resumem, no entanto, ao campo ambiental. A quantidade de pedras preciosas, grandes e de várias cores, atraiu, além dos garimpeiros e mineradoras do Brasil e do Exterior, todo tipo de criminoso e forasteiro para a região. Nos últimos dois anos, a PF retirou cinco mil garimpeiros do local. Centenas de carros e 200 toneladas de maquinário de garimpo foram apreendidos.
A presença de policiais federais não conseguiu, no entanto, acabar com a atividade ilegal. Contrabandistas do Mato Grosso e de Minas Gerais e até mesmo políticos da região assumiram o controle do garimpo. Cooptados pelos grupos organizados, os caciques, iludidos pelos contrabandistas com carros importados e outros presentes caros, além da porcentagem na venda das pedras, passaram a exigir um pedágio de R$ 30 mil pela entrada de cada máquina no garimpo. Um amontoado de quase mil fotos apreendidas no mês passado pela PF, ao qual teve acesso, mostra cenas assustadoras. Armados com escopetas e armas de repetição, policiais e contrabandistas desfilam com celulares ligados a satélites e em aviões que descem em pistas clandestinas para buscar as pedras valiosas.
A PF chegou a montar dois postos de fiscalização na reserva para combater
o crime organizado, mas, revoltados
com a apreensão de maquinários e camionetes do garimpo, os guerreiros cinta larga, acionados pelos caciques, expulsaram os federais de sua reserva
no mês passado. Em protesto contra
a apreensão, os caciques assumiram
o comando do escritório da Funai
em Cacoal, que permaneceu fechado durante 15 dias em outubro. O administrador do escritório, Laerte Ferraz, em conflito com os Cinta Larga, se licenciou do cargo. Os índios, que exigem a exoneração de Laerte, se aliaram aos técnicos indigenistas José Nazareno de Mares e Valdir Gonçalves, que estão sendo investigados pela PF pelo envolvimento com o contrabando de pedras. As investigações atingem também Vladimir Manqueiro, fiscal do Ibama de Cacoal.

A vida dos contrabandistas tem sido facilitada ainda pela concessão
de licenças de pesquisas minerais em áreas próximas à reserva pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão do
Ministério das Minas e Energia que regulamenta a atividade mineral
no País. Nem mesmo os parques federais são poupados pelo DNPM.
A PF acredita que licenças como essas são utilizadas pelos contrabandistas para regularizar as pedras retiradas ilegalmente da reserva. “Essa mina é amaldiçoada, é a mina da morte. Estou cansado
de tanta violência. Já pedi minha transferência para outro local”,
afirmou o delegado Raimundo de Souza Filho, de Espigão D´Oeste, assustado com a onda de crimes e violência no local.
Pelos cálculos do delegado, o garimpo do Roosevelt, que atraiu ladrões de pedras, prostitutas e traficantes para a região, provocou a morte de pelo menos 100 garimpeiros, índios e contrabandistas nos últimos dois anos. Normalmente, as vítimas são garimpeiros que não trabalham para os grupos organizados. Sem dinheiro para pagar o pedágio, eles se arriscam a entrar clandestinos na reserva, onde acabam sendo mortos por índios guerreiros e jagunços contratados pelos contrabandistas. Nos últimos dois anos, 11 ossadas foram encontradas por agentes federais.

Reação – Mas nem tudo está perdido. Uma operação conjunta de vários órgãos federais vem dando resultado. O Ministério Público e a PF comemoram a prisão do advogado Avelino Tavares Jr. e dos empresários de Juína Laudelino Alves Queiroz e Renato Marine, do piloto Eliano Antônio Correia e de um grupo de compradores do Paraná. Mas o policial militar mato-grossense Carlos Santana e o comprador Nilmo Pires dos Santos conseguiram fugir. Depoimentos sigilosos apontam que o grupo de Juína é controlado pelo ex-garimpeiro Hermes Bergamini, proprietário da Diajamur, uma das principais lojas de compras e exportação de pedras da avenida Nove de Maio. A Diajamur reserva uma sala especial para um comprador indiano, que se identifica apenas como Zavarello, principal contato de Bergamini com a Bélgica. Está sob investigação também a prefeita de Espigão D’Oeste, Lúcia Teresa Rodriguez dos Santos (PDT), acusada
em vários depoimentos de manter máquinas dentro do garimpo, que funcionariam com combustível desviado da prefeitura. As investigações atingem até mesmo assessores de políticos de Rondônia e uma quadrilha de Minas Gerais liderada pelo comprador de pedras e empresário Gilmar Alves Campos. Segundo os índios e os garimpeiros, Gilmar teria
assumido o controle do contrabando no Roosevelt logo após a prisão
de alguns integrantes da quadrilha mato-grossense. Curiosamente,
o empresário ganhou notoriedade ao aparecer no mercado de
diamantes há dois anos com uma pedra rosa de 75 quilates.
A luta dos Cintalarga
A invasão na reserva dos cinta larga começou na década de 60. Os seringueiros foram os primeiros a chegar. Logo depois, os garimpeiros passaram a rondar as terras indígenas à procura de diamantes, que já brotavam às margens do rio Roosevelt. Muito antes de o sertanista Apoena Meirelles manter contato amistoso com os cinta
larga na década de 70, os índios
que moram há pelo menos 500 anos nos cerca de três milhões de hectares nos Estados do Mato Grosso e de Rondônia já eram atormentados por invasores. “Eu era criança quando numa emboscada vi meu tio ser morto pelos garimpeiros”, recorda o cacique Tataré Cinta Larga. Naquela época, na avaliação do cacique Nacoça Piu,
os cinta larga eram uma nação composta por seis mil pessoas. Atingidos por constantes conflitos e doenças trazidas pelo homem branco, a reserva está reduzida hoje a 1.200 índios.

Mas, para antropólogos, procuradores e autoridades os estragos provocados pelo novo garimpo à beira do Igarapé Lajes conseguiram, em menos de três anos, superar os muitos anos de invasão. Embora
a maioria dos cinta larga ainda não tenha aprendido o português
e o estado de miséria seja uma realidade na reserva, os caciques
e os índios mais jovens começam a tomar gosto por carros importados, bebidas, óculos escuros, drogas, frete de avião e outros hábitos
da cidade. Na maioria das vezes, o luxo da cidade é trocado por pedras que os contrabandistas recebem por um preço infinitamente abaixo do preço do mercado. Histórias como a do índio que trocou
uma pedra preciosa por dois carrinhos de supermercado cheios de
leite Moça são contadas nas esquinas e nos bares da cidade. “Tentaram eleger o índio como o grande culpado pelo contrabando. Essa visão é simplista e atende aos grandes interesses que a
mina desperta. Os índios são as principais vítimas de tudo o que
está acontecendo”, afirma o procurador Guilherme Schelb, que
integra a força-tarefa que investiga o contrabando.

A Constituição de 1998 passou para o Congresso a responsabilidade
de regulamentar a extração mineral em terras indígenas. Um projeto
de lei, do senador Romero Jucá (PSDB-RO), que permite a entrada
das mineradoras nas reservas, tramita desde 1996. Mesmo antes
de a atividade ter sido regularizada, as mineradoras do País e os grandes produtores do mundo já demonstram cobiça pelos diamantes dos índios. De acordo com levantamento da ISTOÉ, foram registrados no DNPM mais de 400 pedidos de licença de pesquisa na reserva Roosevelt. As mineradoras esperam a aprovação da lei para disputar
o direito de extrair os diamantes da reserva.

Os maiores

Um estudo inédito que mapeou
as reservas minerais do Brasil apontou que o garimpo do Roosevelt abriga um kimberlito mineralizado (rocha de origem vulcânica que dá diamante) com idade, estrutura geológica e capacidade de produção de pedras preciosas semelhantes
às da mina de diamantes do Guaniano, na Venezuela.

Elaborado pela Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM), o levantamento apontou que o kimberlito tem 1,8 bilhão de anos e uma capacidade de produção de no mínimo um milhão de quilates por ano. Esse número subestimado coloca a Roosevelt, no mínimo, entre as cinco maiores minas de diamantes do mundo. A capacidade real somente poderá ser verificada com uma análise mais detalhada, o que ainda não foi feito, pois o garimpo está localizado em área indígena. Para especialistas, a sondagem poderá indicar a Roosevelt como a maior mina do mundo, superando a atual campeã, localizada em Botsuana, que produz nove milhões de quilates por ano.
Segundo o diretor de geologia e recursos minerais do CPRM,
Luiz Augusto Bizzi, o levantamento foi feito com base na análise
de imagens de satélite, cedidas pelo Japão e pela Nasa, e de
ondas magnéticas captadas por avião. Bizzi lembra que a mina Guaniano já está operando industrialmente com uma produção
de 350 mil quilates por ano. Nos próximos cinco anos, atingirá
a marca de um milhão de quilates. Os maiores produtores
são Austrália, Botsuana, Rússia, Congo e África do Sul.

MINERAL - FUCHSITA

MINERAL - FUCHSITA

Fuchsita e um silicato de alumínio, cromo e potássio, podendo conter até 5% de Cr2O3, Fórmula Química - K(Al,Cr)2Si3AlO10(OH,F)2, fuchsita tem Cor - Verde-erva a verde-esmeralda.
Associada - Geralmente associada a minerais de cromo, ocorre por processos pneumatolíticos, hidrotermais e metamórficos ; forma-se também na cristalização magmática de rochas ácidas. Ocorre em rochas como pegmatitos, xistos, gnaisses, entre outras.