Bamburro! Esse grito, que no dialeto dos garimpeiros significa encontrar uma grande fortuna, não tem data marcada para ser emitido. Mas, quando soltá-lo, Itzhak Ben-David, 50 anos, estará comemorando um achado de pelo menos 4 bilhões de dólares em diamantes. Ben-David não é um faiscador. Ele não lava o cascalho em prosaicas peneiras. Seu negócio é a mineração que usa máquinas de raio X, satélites e magnetômetros. Com esses e outros instrumentos, Ben-David está procurando por um kimberlito em Juína, cidade 800 quilômetros a norte de Cuiabá. (O primeiro kimberlito foi achado na fazenda Kimberley, na África do Sul, no século passado. Kimberlito deriva desse nome e hoje é sinônimo de mina de diamantes.) Ben-David é o sócio majoritário da Mineração e Comércio de Diamantes Juína, a CDJ. Sua empresa está associada à Diagem International Resource Co., do Canadá, empresa que tem ações cotadas na Bolsa de Vancouver e da qual ele também é acionista. Juntos, Ben-David e a Diagem já investiram 10 milhões de dólares na procura de minas de diamantes no interior do Mato Grosso. É possível que muito mais dinheiro seja colocado no negócio. É possível também que o kimberlito jamais seja encontrado, embora Ben-David descarte essa possibilidade. "Quando acharmos o kimberlito, minha fortuna, que é de algumas dezenas de milhões de dólares, passará a centenas de milhões", diz ele. Por sua origem e modo de viver, Ben-David é uma figura improvável num cenário como o interior do Brasil. Sua história tem início no século 17, quando quatro famílias judias foram da Rússia para a Pérsia, atual Irã. O xá Nader as colocou sob a sua proteção e nomeou um dos chefes familiares ministro das Finanças. Ao longo dos anos, descendentes dos quatro clãs casaram-se entre si e formaram a família Kelati. (Nada a ver com quilate. Kelati designa quem é originário de um antigo povoado do Mediterrâneo.) Hoje há vários Kelatis espalhados pelo mundo: "Tenho cerca de 4 000 primos", diz Ben-David, o quinto de oito irmãos. O pai deles, David, era rico. "Tínhamos até avião particular", diz Ben-David. Durante a Segunda Guerra Mundial, Ben-David e um irmão revendiam pneus Dunlop, um artigo que na época valia ouro. Com o dinheiro, a família comprava proteção. Influenciado por um consultor alemão, David decidiu explorar uma jazida de mica. O consultor era péssimo engenheiro de minas. Mas tinha boa lábia e sempre convencia David a prosseguir na pesquisa. "Só mais 100 metros e a gente acha o veio", dizia. A mica jamais foi encontrada. "De 100 em 100 metros meu pai quebrou. Tivemos de fugir para Israel em 1961", diz Ben-David. "Chegamos sem nenhum tostão." Na escola, em Tel Aviv, Ben-David tornou-se poliglota. (Fala cerca de dez línguas. Mas ainda escorrega nas sutilezas do português. Falando para um homem, diz: "Por que menina estar preocupado com minha dinheiro?") Em Israel, Ben-David, aos 18 anos, montou uma fábrica de suéteres. Um ano depois, ele já faria seu primeiro milhão de dólares. Depois deixaria a fábrica com a família para tentar a sorte em Londres. Já no final dos anos 60, Ben-David receberia uma carta de um tio-avô, dono de uma joalheria na Itália. Dizia que gostaria de se mudar para Israel e propunha uma associação na fábrica de suéteres. Ben-David disse sim, mas impôs a condição de se tornar sócio no negócio de jóias. O tio-avô lhe ensinou tudo sobre as jóias. Hoje a família tem uma rede de lojas em Israel e na Inglaterra, a SBD. Mas Ben-David queria lucros maiores. Aos 28 anos, ele foi arriscar a sorte em Ciudad Bolivar, Venezuela, um cenário de faroeste em pleno século 20. Comprava e vendia pedras preciosas. Ben-David - que não usa cordões de ouro, anéis ou qualquer outra jóia - utilizou com os índios locais a mesma estratégia dos colonizadores portugueses no Brasil. "Eu trocava espelhos por pedras preciosas", diz ele. "Mas havia muitos concorrentes. Eu queria um lugar para dividir com poucos." Foi então que decidiu vir para o Brasil. Chegou em 1982 e foi morar no Rio de Janeiro, onde se meteu num negócio com ouro e ouviu falar de Juína. Alguém o informou que a sul-africana De Beers, maior mineradora de diamantes do mundo, fizera pesquisas no município. "Pensei que se a De Beers rondou a área era porque lá havia diamantes", diz Ben-David. Em 1986 ele se mudou para Juína, onde se tornou uma espécie de lenda. Ben-David é um homem de pequena estatura: cerca de 1,60 metro. Míope, usa óculos de 8 graus. Não faz cirurgia para redução da miopia e nem coloca lentes de contato por nada deste mundo. "Itzhak sem óculos não é Itzhak. É minha marca registrada", diz. Invariavelmente veste calça azul-marinho e camisa de linho branca, compradas em Londres por 15 dólares. Segundo ele, não há peças coloridas em seu guarda-roupa. "Vestir-se assim é prático. Não preciso perder tempo escolhendo roupas ou combinando cores." Fuma desbragadamente. (Segundo ele, isso já lhe custou uma diretoria na Diagem: as restrições ao fumo nos vôos e no Canadá fizeram-no abrir mão do cargo.) E dorme pouco. "Faz 40 anos que durmo apenas 4 horas por dia." Ben-David troca a noite pelo dia devido aos fusos horários dos mais importantes mercados de diamantes do mundo - Israel, Índia, Bélgica e também o de Diagem, na Costa Oeste do Canadá. Por isso, em Juína ele dorme entre as 13 e as 17 horas. (Para matar o tempo e se distrair, Ben-David joga xadrez contra um computador que não repete aberturas, o que torna o jogo mais instigante. E ocupa 2 horas diárias no estudo da Torá.) Outro de seus hábitos é, ao acordar, sentar-se à calçada para degustar um uísque, olhar o pouco movimento de Juína e namorar as moças de Mato Grosso. Uma serviçal mantém o copo sempre cheio. Não de um scotch importado qualquer. Ben-David bebe o legítimo e brasileiríssimo Natu Nobilis. "É o melhor que existe", afirma com convicção. "E não é falsificado. Nunca tenho dor de cabeça com ele." O uísque não é incompatível com seus costumes ortodoxos. Ben-David e o irmão, Amir, formam a comunidade judaica de uma cidade onde não há sinagogas. Os irmãos penam em Juína: não existe um restaurante que possam freqüentar, pois consomem apenas pratos kosher, preparados de acordo com os preceitos judaicos. "A comida dele é trazida de São Paulo", diz Isaías Fonseca, o Shaia, funcionário e braço direito de Ben-David. Amir é casado e sua mulher também vive em Juína. Ben-David é divorciado de uma francesa, com quem teve dois filhos. Por isso sua vida é um bocado reclusa, monótona e solitária. "Houve um ano em que ele atravessou a rua uma só vez", diz Shaia. Foi olhar, da outra calçada, a decoração de Natal do prédio que mandou erigir para abrigar uma escola de lapidação. São três andares e cerca de 5 000 metros quadrados de área. Custou cerca de 10 milhões de dólares. A meta era competir com a Índia na lapidação de pequenos diamantes. Para ensinar os aprendizes, Ben-David gastou 1,5 milhão de dólares em equipamentos e dilapidou uma fortuna em diamantes. "Ninguém aprende sem estragar gemas", diz ele. Deu tudo errado e hoje a construção é um semi-elefante branco. É que, para baratear os custos, Ben-David fez um acordo com o Senai de Mato Grosso. A entidade ficou responsável pelos encargos sociais. Na eleição de 1994, um candidato a deputado estadual, morador de Juína e ligado à Federação das Indústrias do estado, pediu-lhe dinheiro para a campanha. Ben-David não deu. O candidato retaliou e o convênio foi rompido por fax. No mesmo dia a escola de lapidação para 1 200 alunos fechou. "Se pagarem os custos sociais, eu volto a abrir a escola", diz Ben-David. O edifício também é um bunker. Vigiado por câmeras de vídeo, nele estão também os apartamentos de Ben-David e Gustavo Mendonça, 64 anos, sócio da CDJ e braço direito dos irmãos. No de Ben-David o teto da sala é preto. Objetos de culto judaico e tapetes persas compõem a decoração. No quarto, de 30 metros quadrados, as cortinas e a colcha, de cetim, são em tons de vinho. Há um banheiro imenso, cheio de espelhos e com uma enorme banheira. Uma televisão completa o conforto de que Ben-David dispõe naquele fim de mundo. "Morar em Juína é um sacrifício", diz ele. "Faço isso por minha família. Se encontrar o kimberlito, terei dinheiro para cuidar das futuras gerações. Entre os Kelatis, cada membro rico cuida da educação de 20 pobres." (Ninguém é de ferro: uma vez por ano Ben-David se desintoxica num spa. E periodicamente viaja ao Canadá, Israel e Inglaterra.) Tentar achar o kimberlito é o maior risco já assumido por Ben-David. É preciso pesquisar muito, o que leva tempo e custa um dinheirão. O grupo inglês RTZ, um dos maiores do mundo em mineração, investiu alguns milhões de dólares na região. Encontrou 26 kimberlitos, todos inviáveis. Qualquer mina, para ser viável, deve conter um mínimo de 4 bilhões de dólares em diamantes. São necessários 10% disso - 400 milhões de dólares - em investimentos apenas na fase de prospecção. "Nenhum particular, nem mesmo Bill Gates, arriscaria tanto", diz Ben-David. Por isso ele se associou à Diagem, que tem acesso a capitais baratos. Em 1996, a Diagem comprou um total de 11 000 hectares antes pertencentes a duas subsidiárias da De Beers. Ambas foram expulsas pelos garimpeiros. (Já houve 60 000 faiscadores em Juína. Com a queda dos preços dos diamantes, sobraram apenas 500. A cidade tem atualmente 35 000 habitantes. Com 26 350 quilômetros quadrados, Juína é um dos maiores municípios do país. A maioria das terras pertence aos índios da tribo dos Cinta Larga.) Nem com toda a sorte do mundo um garimpeiro acharia um kimberlito. A pesquisa requer dinheiro e sofisticação tecnológica. Um levantamento aerofotográfico localiza os sítios mais favoráveis. No caso, procura-se por pequenos vulcões extintos. Neles são feitos furos de até 250 metros de profundidade. Cada metro perfurado custa 100 dólares. "Dentro dos vulcões estão os kimberlitos", diz o geólogo Paulo Andreazza, funcionário da Diagem. "Um kimberlito é uma rocha. É preciso quebrá-la para achar os diamantes." O problema é que as crateras dos vulcões, fechadas pela erosão acumulada em milhões de anos, estão invisíveis a olho nu. Andreazza foi o responsável por 7 dos 26 kimberlitos descobertos pelo RTZ e por uma mina de ouro em Paracatu, Minas Gerais. Recentemente, ele se transformou em acionista da Diagem. Recebeu 250 000 ações da empresa. Cada uma delas foi lançada a 2,8 dólares canadenses. Hoje, vale cerca de 10 centavos. Para financiar as pesquisas, a Diagem conta com a venda de diamantes de aluvião. De 1996 para cá a empresa comercializou mais de 7 milhões de dólares. O faturamento deve crescer a partir de agora, pois a empresa espera extrair 20 000 quilates por mês em Juína, contra 9 000 em 1997. "Nenhum lugar já produziu tantos diamantes quanto Juína", garante Ben-David. Em média, no mundo, se acha 0,3 quilate por tonelada de cascalho processado. Em Juína, são 2,8 quilates. Quase dez vezes mais. Ben-David, que nos anos 80 chegou a comprar e vender 500 000 quilates por mês, avalia que foram extraídos 10 milhões de quilates no município. "Isso não corresponde nem a um terço do total que a nossa área contém", diz Andreazza. A empresa calcula a existência de pelo menos 35 milhões de quilates de aluvião. Mas as gemas de qualidade são apenas 15% disso. Num cálculo superficial, a reserva valeria pelo menos 300 milhões de dólares. Extrair esses diamantes custa caro. Numa das áreas de pesquisa da Diagem estão instaladas uma "lavanderia" e duas máquinas Sortex. O cascalho da beira e dos leitos dos rios é levado de caminhão até a lavanderia, que custou cerca de 2 milhões de dólares. (Por enquanto sua enorme capacidade produtiva está subaproveitada, pois não processa nem 10% das 100 toneladas diárias de que é capaz. Mesmo assim andou degradando o meio ambiente. A Diagem já se comprometeu a consertar os estragos.) Da lavanderia, o cascalho vai para as Sortex, máquinas que emitem raio X de forma contínua e custam 500 000 dólares. Cerca de 4 000 pedras estão lá. A separação final é feita a olho nu. "Na média, quatro são diamantes. Não fosse assim eles não seriam raros e nem caros", diz Andreazza. Tão grande quanto a longevidade dos diamantes é a esperança de Ben-David em achar o kimberlito. No começo da segunda quinzena de março, suas expectativas foram reforçadas por um acordo firmado pela Diagem e a Rio Tinto, anunciado no Canadá. Pelo acordo, a Diagem investirá numa área de 20 000 hectares em Juína pertencente à Rio Tinto. Do que for encontrado, 40% caberão à Diagem. Os restantes 60% ficarão com a Rio Tinto. "Fizemos o acordo porque a Diagem tem porte suficiente para bancá-lo", diz Elpídio Reis, diretor de exploração da subsidiária brasileira da Rio Tinto. Bend-David diz que vai gastar o que for preciso para encontrar o kimberlito. Ilusão de fortuna? Itzhak Ben-David garante que não repetirá a história de David, seu pai. Por contrato, cabe a ele decidir qual o tamanho dos 100 metros, isto é, o limite dos gastos. É um assunto sobre o qual Ben-David não quer pensar no momento. "Eu tenho certeza de que acabaremos encontrando o kimberlito", diz ele.
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quarta-feira, 21 de outubro de 2015
Cinquenta anos do garimpo de ouro do Tapajós
Cinquenta anos do garimpo de ouro do Tapajós
Luiz Preto: Quatro décadas dedicadas ao garimpo
Quando nasceu, no Ceara, no município de Juazeiro do Norte, no dia 02 de janeiro de 1945, seus pais lhe deram o nome de Luiz Silva de Sousa, mas, ficou mesmo conhecido foi pelo apelido de Luiz Preto. Em 1957 deixou seu Ceará por causa de um forte seca, mudando-se para o Maranhão. Ele tem passado a maior parte de sua vida, mais de quatro décadas, exercendo a atividade de garimpeiro. É esse personagem bastante conhecido na região, o destaque desta edição na série de reportagens sobre o cinquentenário da garimpagem no Tapajós.
"Eu comecei a trabalhar em garimpo, no ano de 1965, já vivendo no Estado do Pará. Chamava-se garimpo do Cajueiro, na margem do Rio Araguaia, no município de São Geraldo do Araguaia. Deu pra fazer um dinheirinho lá. Depois voltei para o Maranhão, onde trabalhei num garimpo perto de Imperatriz. Eu tinha só vinte anos de idade. Passei um tempo em Marabá, onde não dei muita sorte. No verão de 1970 mexi com caça de gato do mato para vender a pele. Em 1971 fichei na ECIR, que trabalhava na construção da Transamazônica, de Marabá para Itaituba. No verão de 1974 estava desempregado. Depois de trabalhar na juquira durante o inverno, eu vim tentando conseguir alguma firma para fichar, até que cheguei a Itaituba. Tomei conhecimento das atividades de garimpo, me animei e resolvi entrar. Entrei no dia 28 de novembro de 1974 levado para o Marupá pelo seu Argemiro, irmão do seu Lulu do Juliana Park Hotel.
Nesse tempo tinha dono de garimpo que cobrava até 45 diárias numa passagem para garimpo. Eu tive sorte de achar aquele cidadão que me levou por apenas 16 diárias. O preço era 32 gramas de ouro pela passagem; como ele pagava dois gramas por diária, com 16 dias trabalhados a gente pagava a passagem de avião.Teve um que cobrava 45 diárias, quer me perguntou se eu não queria ir. Eu respondi que não, porque não era ladrão do meu próprio bolso.
A gente foi direto para a pista velha do Marupá; aquela mesmo, que começa ao lado do cemitério, conhecida como a pista dos Sudário. Fui trabalhar com o seu Argemiro e com o seu Goiano, mais tarde, dono da Táxi Aéreo Goiás. Eles eram sócios. Naquele tempo o Goiano era pobre, daquele tipo que levantava às quatro e meia da manhã para fazer o café dele.
Fomos em três daqui. Chegando lá nos dirigimos direto para o baixão do Bem-Ti-Vi. Não era fácil! Um tinha que ficar para fazer e levar a merenda, enquanto dois saiam com escuro, pois a gente tinha que secar o barranco na lata, pois minava muita água. Quando dava lá pelas oito horas da manhã a gente terminava de secar o barranco para poder começar a trabalhar na busco do ouro.
Eu demorei bastante tempo nesse garimpo, porque o seu Argemiro e o seu Goiano foram excelentes patrões. Eu era brabo em garimpo de ouro e aprendi a trabalhar com eles. Fiquei mais de um ano lá com eles. Foi quando apareceu a chance de ir para outro serviço melhor, juntamente com o Vovô e o Felipão, dois crioulos das guianas que me ensinaram muitas coisas. Foram tempos muito difíceis. Eu só fui conseguir dinheiro para ir até a currutela depois de seis meses. Se tivesse tirado um ouro bom antes, talvez tivesse ido embora, pois eu custei a me acostumar com aquela vida, longe de tudo. A malária me achou muito cedo, com uns vinte dias que eu estava lá ela me pegou. Todo mês eu perdia uma semana ou mais. Mas, com o tempo fui me acostumando e estou até hoje no garimpo.
A situação melhorou quando eu encontrei um cidadão, também, muito bom, que foi o Zé da Roça, que vendia uns remédios com os quais eu me dei bem. Nesse tempo, no Marupá, eu já estava mais manso e cheguei a juntar mais de um quilo de ouro, quando eu tocava um serviço próprio, com mais de vinte pessoas trabalhando. A essa altura eu já vinha a Itaituba, comprava o rancho e levava num vôo completo. Houve um tempo em que eu gastava na currutela tudo que ganhava. Mas, depois eu vi que aquilo não tinha futuro e parei com as farras.
Algum tempo depois eu mudei para o garimpo Nova Vida, que era do Elídio Leal onde eu fiquei quase um ano; com isso, eu acabei completando quase quatro anos na região do Marupá. Passei um tempo explorando perto da pista do Luiz Barbudo, do final de 1978 para o início de 1979; foi quando aconteceu um negócio que não foi muito agradável no Marupá (quando a reportagem pergunta que tipo de negócio desagradável foi esse, Luiz Preto fica silencioso e desconversa) e aí eu tive que vir para Itaituba.
Nesse tempo uma malária braba me pegou. Um dia, subindo uma ladeira eu estava tão mal que eu achei que não iria conseguir chegar em cima. Dava um passo para frente e dois para trás, com muito sacrifício consegui chegar num barraco que havia lá. Sem comida, comi um jacu insosso; a fome estava braba e quando eu dei fé tinha comido quase tudo.
A chegada no Crepurizinho
Em Itaituba, onde vim tratar da malária, encontrei o Bitonho que eu já conhecia lá do Marupá. Ele tinha ido olhar o Crepurizinho. Ele me disse que eu tinha tudo para me dar bem por lá, pois havia bastante terra para ser explorada. O Crepurizinho já era uma curritela grande. Me contaram que a exploração de garimpo começou do final de 1959 para o começo de 1960. O Aluizio Mourão conhece tudo direitinho; ele sabe quando começou.
Vai fazer 30 anos que eu cheguei. No dia 28 de outubro de 1978 eu cheguei no Crepurizinho. Na noite daquele dia eu conheci um camarada chamado Raimundo Varador, com o qual eu fui para o baixão do Papagaio. Na manhã seguinte. Ele me vendeu um servicinho, fiado, que ele tinha lá com uma tralha, por cem gramas de ouro. Até hoje eu estou naquele lugar.
No Crepurizinho eu passei por momentos muito bons, mas, também vivi situações muito difíceis. Isso aconteceu (o bom) a partir do momento em que surgiu o trabalho com balsa, mais tarde veio a chupadeira e melhorou de 80% a 90%. Foi de 1982 para 1983. Eu cheguei a ter até 18 pares de máquinas. Foi um período em que a gente produziu bastante. Tinha um rapaz que trabalhava comigo, que anotava tudo; em pouco mais de dois anos e meio de exploração, até 1987, a gente produziu mais de 170 quilos de ouro.
Quando a situação estava muito boa, veio o governo do presidente Fernando Collor de Melo. O grama do ouro estava sendo vendido entre 850 mil e 890 mil Cruzeiros. Quem vive em Itaituba e na região de garimpo desde aquele tempo sabe muito bem do que estou falando. O Collor arrebentou com a gente. Eu mesmo afundei, pois eu tinha mais de cinco quilos de ouro que era para saldar uma conta de um milhão e duzentos mil Cruzeiros.
Eu pagaria a conta com mais ou menos um quilo e meio de ouro. Não vendi antes do Collor assumir, esperando melhorar o preço. O resultado foi que tive que vender todo o ouro para poder saldar a conta. Só não comecei do zero porque tinha um bom estoque de mercadorias e um bom estoque de óleo diesel. Se a gente tivesse tomado a decisão de parar por um tempo, talvez a gente tivesse se dado melhor, porque o que aconteceu foi que voltei a tocar o serviço, queimei o diesel todo e consumi a mercadoria e aí, sim, fiquei totalmente sem capital.
Naquele momento vieram outros problemas que pioraram a situação, que já era bem complicada. Veio separação de mulher, desonestidade de gente que trabalhava comigo, que não repassava direito o que era apurado. Apesar disso, eu nunca parei com a atividade garimpeira. Eu passo quinze dias aqui e um mês lá dentro. No início em passava seis meses lá e quinze em Itaituba. Tive que mudar porque eu não ia abandonar meus filhos, que foram largados pela mãe. São três, dois rapazes, um com dezoito anos, um com dezessete e uma moça dentro dos 14 anos.
Investimentos - Eu construi esta casa, que não está concluída, que tem quatorze compartimentos, comprei uma terra que vai do km 35 ao km 37, que se encontra invandida por um pessoal que diz ser Sem Terra; eu digo que não são Sem Terra, coisa nenhuma. É gente que viveu no garimpo, ganhou algum dinheiro, mas gastou tudo e se acostumou a tomar terra dos outros, desde aquele tempo. A terra está quase toda invadida. Ainda tenho um pouco de gado nessa fazenda e um pouco mais lá dentro, no Crepurizinho, que está melhor do que a fazenda daqui. Eu investi muito, também, em documentação de terra, tanto do solo como do subsolo.
Tenho uma terra no Crepurizinho que está quase toda regularizada, numa extensão de mais ou menos vinte mil hectares. Eu aguardo algum interesse desses grupos de estrangeiros que estão investindo na região, ou quem sabe, algum financiamento para poder eu mesmo explorar o ouro, que agora está muito mais difícil, mais profundo, pois o ouro mais raso está cada vez mais escasso. A terra em que eu estou trabalhando eu sinto que é muito boa, mas me falta o capital.
Algumas vezes corri risco de ser morto, como aconteceu quando estava construindo uma pista naquela região. Fui avisado por uma pessoa chamada Massa Bruta, de que o seu Lourival, dono de uma agência lá no Crepurizinho, aquele mesmo, que era bastante conhecido aqui em Itaituba, queria mandar me matar para evitar que eu construísse a pista.
Numa viagem de avião, do garimpo para Itaituba, ele fez a proposta para o Massa Bruta me matar, mas ele não aceitou fazer o serviço. O Massa Bruta disse que não faria porque eu era um trabalhador; ele me avisou sobre o que estava acontecendo para eu me cuidar. Eu tinha tentado fazer uma sociedade na pista que eu estava construindo, mas o Lourival não quis. Eu digo que eu escapei por pouco.
A juíza tomou meu garimpo
O momento mais difícil da minha vida de garimpeiro aconteceu quando eu fui coagido por uma juiza que trabalhou em Itaituba, chamada Cléa Maia. Ela tomou o garimpo que eu tocava na época, no inverno de 1984. Ainda tem gente daquele tempo que trabalha comigo. Outros, que não trabalham mais para mim estão na área para contar a história. Por causa disso eu passei vinte e dois dias preso. O delegado era o finado Miguel Apinagés.
Eu perdi tudo. Fui morar em casa alugada. As festas juninas de 84 eu passei preso na delegacia que funcionava onde é agora o Detran. Fui preso sem dever nada para a Justiça. Meu pecado era ser dono de uma terra que um caboco chamado Augusto Franco queria de qualquer jeito. Perdi a terra e quase perdi a vida; fui desmoralizado.
Eu estava na agência do Pai Velho para viajar, quando o delegado Miguel chegou e meu ordem de prisão. Ele ligou para a juiza e ela mandou me recolher. Naquela situação eu fui ajudado pelo Pai Velho, pelo seu Argemiro, pelo Goiano, pelo Irajá, pelo Zé da Roça e pelo Dr. Semir. Eu devo uma grande fineza do Dr. Semir, que me defendeu mesmo sabendo que eu não tinha dinheiro para nada naquela ocasião.
Todo o ouro que havia no garimpo o Augusto Franco tirou nos cinco ou seis anos que ele ficou lá. Ele construiu casa de trinta ou mais quilos de ouro aqui, construiu casa em Santarém, teve fazenda. Ele só saiu de lá quando esgotou o garimpo.
Por estar preso, eu perdi uma roça de 55 hectares de arroz, que estava no ponto de ser colhido. Preso, não tive como colher.
A minha situação ficou tão complicada, mas, tão complicada, mesmo depois que eu ganhei a liberdade, que tinha horas que eu não sabia o que fazer. Eu fui para o garimpo, pois tinha outra terra. Mas, para trabalhar eu tinha que ir por um caminho, por uma vereda, e voltava por outro. Tinha polícia pra todo lado, tudo contra mim. Por último, eu criei coragem de enfrentar tudo aquilo, sabendo que podia morrer a qualquer momento; mas, eu precisava trabalhar.
O Reinaldo tentou me matar
Final dos anos 80, começo dos anos 90 eu fui morar com uma mulher, mãe destes meninos (dois rapazes e uma moça citados antes). Ela estava envolvida nuns negócios que eu não sabia, mas que podia ter custado minha vida.
Tinha uma quadrilha formada pelo Barradas, o Reinaldo e outros que queria me pegar. Eles arrumaram tudo para a mulher vir morar comigo, que era para ver o que eu tinha, para que eles me sequestrassem e me matassem. Mas, antes de me matarem eles me forçariam a assinar uns papéis, passando para eles tudo o que eu tinha.
O que me fez entrar para a política foi que eu estava num conflito tão grande, tão aflito com aquele situação, com aqueles caras cercando minha casa, dizendo que eram meus amigos, que queriam me proteger, quando na verdade queriam me matar. O Reinaldo vivia dentro da minha casa, atendendo telefonema e colocando os capangas dele para me vigiar. Eu estava sem controle da minha vida. Eu tinha gasto mais ou menos uns cinco quilos de ouro tentando esclarecer a morte do meu irmão Raimundo.
Na Semana Santa de 1991 eles esperavam fazer o serviço. Uma noite o Reinaldo chegou na mina casa com uns homens, com uma conversa furada, dizendo que era para me proteger, porque podia acontecer alguma coisa comigo. Eu olhei para o Céu e disse que achava que ele tinha vindo de lá.
Um dia um amigo me convidou para ir fazer uma visita para o seu Wirland Freire, que conhecia o Reinaldo. Seu Wirland mandou chamar ele. Quando o Reinaldo chegou o seu Wirland disse que eu era amigo dele, além de ser um bom cliente dele e que não queria que acontecesse absolutamente nada comigo. Foi só assim que eles me deixaram em paz. A partir daí minha vida começou a melhorar de novo. Por isso entrei na política.
Pouco tempo depois a mulher foi embora deixando os três filhos, quase assumindo a culpa, enquanto o Reinaldo foi morto não muito tempo depois de tudo isso. Hoje, ela toca a vida dela e eu toco a minha, cuidando dos meus filhos, sem nunca abandonar o garimpo. Mas, por eles, pelos filhos, eu mudei até o tempo de permanência lá pra dentro. Assim tem sido minha vida, vida de garimpeiro.
Quando nasceu, no Ceara, no município de Juazeiro do Norte, no dia 02 de janeiro de 1945, seus pais lhe deram o nome de Luiz Silva de Sousa, mas, ficou mesmo conhecido foi pelo apelido de Luiz Preto. Em 1957 deixou seu Ceará por causa de um forte seca, mudando-se para o Maranhão. Ele tem passado a maior parte de sua vida, mais de quatro décadas, exercendo a atividade de garimpeiro. É esse personagem bastante conhecido na região, o destaque desta edição na série de reportagens sobre o cinquentenário da garimpagem no Tapajós.
"Eu comecei a trabalhar em garimpo, no ano de 1965, já vivendo no Estado do Pará. Chamava-se garimpo do Cajueiro, na margem do Rio Araguaia, no município de São Geraldo do Araguaia. Deu pra fazer um dinheirinho lá. Depois voltei para o Maranhão, onde trabalhei num garimpo perto de Imperatriz. Eu tinha só vinte anos de idade. Passei um tempo em Marabá, onde não dei muita sorte. No verão de 1970 mexi com caça de gato do mato para vender a pele. Em 1971 fichei na ECIR, que trabalhava na construção da Transamazônica, de Marabá para Itaituba. No verão de 1974 estava desempregado. Depois de trabalhar na juquira durante o inverno, eu vim tentando conseguir alguma firma para fichar, até que cheguei a Itaituba. Tomei conhecimento das atividades de garimpo, me animei e resolvi entrar. Entrei no dia 28 de novembro de 1974 levado para o Marupá pelo seu Argemiro, irmão do seu Lulu do Juliana Park Hotel.
Nesse tempo tinha dono de garimpo que cobrava até 45 diárias numa passagem para garimpo. Eu tive sorte de achar aquele cidadão que me levou por apenas 16 diárias. O preço era 32 gramas de ouro pela passagem; como ele pagava dois gramas por diária, com 16 dias trabalhados a gente pagava a passagem de avião.Teve um que cobrava 45 diárias, quer me perguntou se eu não queria ir. Eu respondi que não, porque não era ladrão do meu próprio bolso.
A gente foi direto para a pista velha do Marupá; aquela mesmo, que começa ao lado do cemitério, conhecida como a pista dos Sudário. Fui trabalhar com o seu Argemiro e com o seu Goiano, mais tarde, dono da Táxi Aéreo Goiás. Eles eram sócios. Naquele tempo o Goiano era pobre, daquele tipo que levantava às quatro e meia da manhã para fazer o café dele.
Fomos em três daqui. Chegando lá nos dirigimos direto para o baixão do Bem-Ti-Vi. Não era fácil! Um tinha que ficar para fazer e levar a merenda, enquanto dois saiam com escuro, pois a gente tinha que secar o barranco na lata, pois minava muita água. Quando dava lá pelas oito horas da manhã a gente terminava de secar o barranco para poder começar a trabalhar na busco do ouro.
Eu demorei bastante tempo nesse garimpo, porque o seu Argemiro e o seu Goiano foram excelentes patrões. Eu era brabo em garimpo de ouro e aprendi a trabalhar com eles. Fiquei mais de um ano lá com eles. Foi quando apareceu a chance de ir para outro serviço melhor, juntamente com o Vovô e o Felipão, dois crioulos das guianas que me ensinaram muitas coisas. Foram tempos muito difíceis. Eu só fui conseguir dinheiro para ir até a currutela depois de seis meses. Se tivesse tirado um ouro bom antes, talvez tivesse ido embora, pois eu custei a me acostumar com aquela vida, longe de tudo. A malária me achou muito cedo, com uns vinte dias que eu estava lá ela me pegou. Todo mês eu perdia uma semana ou mais. Mas, com o tempo fui me acostumando e estou até hoje no garimpo.
A situação melhorou quando eu encontrei um cidadão, também, muito bom, que foi o Zé da Roça, que vendia uns remédios com os quais eu me dei bem. Nesse tempo, no Marupá, eu já estava mais manso e cheguei a juntar mais de um quilo de ouro, quando eu tocava um serviço próprio, com mais de vinte pessoas trabalhando. A essa altura eu já vinha a Itaituba, comprava o rancho e levava num vôo completo. Houve um tempo em que eu gastava na currutela tudo que ganhava. Mas, depois eu vi que aquilo não tinha futuro e parei com as farras.
Algum tempo depois eu mudei para o garimpo Nova Vida, que era do Elídio Leal onde eu fiquei quase um ano; com isso, eu acabei completando quase quatro anos na região do Marupá. Passei um tempo explorando perto da pista do Luiz Barbudo, do final de 1978 para o início de 1979; foi quando aconteceu um negócio que não foi muito agradável no Marupá (quando a reportagem pergunta que tipo de negócio desagradável foi esse, Luiz Preto fica silencioso e desconversa) e aí eu tive que vir para Itaituba.
Nesse tempo uma malária braba me pegou. Um dia, subindo uma ladeira eu estava tão mal que eu achei que não iria conseguir chegar em cima. Dava um passo para frente e dois para trás, com muito sacrifício consegui chegar num barraco que havia lá. Sem comida, comi um jacu insosso; a fome estava braba e quando eu dei fé tinha comido quase tudo.
A chegada no Crepurizinho
Em Itaituba, onde vim tratar da malária, encontrei o Bitonho que eu já conhecia lá do Marupá. Ele tinha ido olhar o Crepurizinho. Ele me disse que eu tinha tudo para me dar bem por lá, pois havia bastante terra para ser explorada. O Crepurizinho já era uma curritela grande. Me contaram que a exploração de garimpo começou do final de 1959 para o começo de 1960. O Aluizio Mourão conhece tudo direitinho; ele sabe quando começou.
Vai fazer 30 anos que eu cheguei. No dia 28 de outubro de 1978 eu cheguei no Crepurizinho. Na noite daquele dia eu conheci um camarada chamado Raimundo Varador, com o qual eu fui para o baixão do Papagaio. Na manhã seguinte. Ele me vendeu um servicinho, fiado, que ele tinha lá com uma tralha, por cem gramas de ouro. Até hoje eu estou naquele lugar.
No Crepurizinho eu passei por momentos muito bons, mas, também vivi situações muito difíceis. Isso aconteceu (o bom) a partir do momento em que surgiu o trabalho com balsa, mais tarde veio a chupadeira e melhorou de 80% a 90%. Foi de 1982 para 1983. Eu cheguei a ter até 18 pares de máquinas. Foi um período em que a gente produziu bastante. Tinha um rapaz que trabalhava comigo, que anotava tudo; em pouco mais de dois anos e meio de exploração, até 1987, a gente produziu mais de 170 quilos de ouro.
Quando a situação estava muito boa, veio o governo do presidente Fernando Collor de Melo. O grama do ouro estava sendo vendido entre 850 mil e 890 mil Cruzeiros. Quem vive em Itaituba e na região de garimpo desde aquele tempo sabe muito bem do que estou falando. O Collor arrebentou com a gente. Eu mesmo afundei, pois eu tinha mais de cinco quilos de ouro que era para saldar uma conta de um milhão e duzentos mil Cruzeiros.
Eu pagaria a conta com mais ou menos um quilo e meio de ouro. Não vendi antes do Collor assumir, esperando melhorar o preço. O resultado foi que tive que vender todo o ouro para poder saldar a conta. Só não comecei do zero porque tinha um bom estoque de mercadorias e um bom estoque de óleo diesel. Se a gente tivesse tomado a decisão de parar por um tempo, talvez a gente tivesse se dado melhor, porque o que aconteceu foi que voltei a tocar o serviço, queimei o diesel todo e consumi a mercadoria e aí, sim, fiquei totalmente sem capital.
Naquele momento vieram outros problemas que pioraram a situação, que já era bem complicada. Veio separação de mulher, desonestidade de gente que trabalhava comigo, que não repassava direito o que era apurado. Apesar disso, eu nunca parei com a atividade garimpeira. Eu passo quinze dias aqui e um mês lá dentro. No início em passava seis meses lá e quinze em Itaituba. Tive que mudar porque eu não ia abandonar meus filhos, que foram largados pela mãe. São três, dois rapazes, um com dezoito anos, um com dezessete e uma moça dentro dos 14 anos.
Investimentos - Eu construi esta casa, que não está concluída, que tem quatorze compartimentos, comprei uma terra que vai do km 35 ao km 37, que se encontra invandida por um pessoal que diz ser Sem Terra; eu digo que não são Sem Terra, coisa nenhuma. É gente que viveu no garimpo, ganhou algum dinheiro, mas gastou tudo e se acostumou a tomar terra dos outros, desde aquele tempo. A terra está quase toda invadida. Ainda tenho um pouco de gado nessa fazenda e um pouco mais lá dentro, no Crepurizinho, que está melhor do que a fazenda daqui. Eu investi muito, também, em documentação de terra, tanto do solo como do subsolo.
Tenho uma terra no Crepurizinho que está quase toda regularizada, numa extensão de mais ou menos vinte mil hectares. Eu aguardo algum interesse desses grupos de estrangeiros que estão investindo na região, ou quem sabe, algum financiamento para poder eu mesmo explorar o ouro, que agora está muito mais difícil, mais profundo, pois o ouro mais raso está cada vez mais escasso. A terra em que eu estou trabalhando eu sinto que é muito boa, mas me falta o capital.
Algumas vezes corri risco de ser morto, como aconteceu quando estava construindo uma pista naquela região. Fui avisado por uma pessoa chamada Massa Bruta, de que o seu Lourival, dono de uma agência lá no Crepurizinho, aquele mesmo, que era bastante conhecido aqui em Itaituba, queria mandar me matar para evitar que eu construísse a pista.
Numa viagem de avião, do garimpo para Itaituba, ele fez a proposta para o Massa Bruta me matar, mas ele não aceitou fazer o serviço. O Massa Bruta disse que não faria porque eu era um trabalhador; ele me avisou sobre o que estava acontecendo para eu me cuidar. Eu tinha tentado fazer uma sociedade na pista que eu estava construindo, mas o Lourival não quis. Eu digo que eu escapei por pouco.
A juíza tomou meu garimpo
O momento mais difícil da minha vida de garimpeiro aconteceu quando eu fui coagido por uma juiza que trabalhou em Itaituba, chamada Cléa Maia. Ela tomou o garimpo que eu tocava na época, no inverno de 1984. Ainda tem gente daquele tempo que trabalha comigo. Outros, que não trabalham mais para mim estão na área para contar a história. Por causa disso eu passei vinte e dois dias preso. O delegado era o finado Miguel Apinagés.
Eu perdi tudo. Fui morar em casa alugada. As festas juninas de 84 eu passei preso na delegacia que funcionava onde é agora o Detran. Fui preso sem dever nada para a Justiça. Meu pecado era ser dono de uma terra que um caboco chamado Augusto Franco queria de qualquer jeito. Perdi a terra e quase perdi a vida; fui desmoralizado.
Eu estava na agência do Pai Velho para viajar, quando o delegado Miguel chegou e meu ordem de prisão. Ele ligou para a juiza e ela mandou me recolher. Naquela situação eu fui ajudado pelo Pai Velho, pelo seu Argemiro, pelo Goiano, pelo Irajá, pelo Zé da Roça e pelo Dr. Semir. Eu devo uma grande fineza do Dr. Semir, que me defendeu mesmo sabendo que eu não tinha dinheiro para nada naquela ocasião.
Todo o ouro que havia no garimpo o Augusto Franco tirou nos cinco ou seis anos que ele ficou lá. Ele construiu casa de trinta ou mais quilos de ouro aqui, construiu casa em Santarém, teve fazenda. Ele só saiu de lá quando esgotou o garimpo.
Por estar preso, eu perdi uma roça de 55 hectares de arroz, que estava no ponto de ser colhido. Preso, não tive como colher.
A minha situação ficou tão complicada, mas, tão complicada, mesmo depois que eu ganhei a liberdade, que tinha horas que eu não sabia o que fazer. Eu fui para o garimpo, pois tinha outra terra. Mas, para trabalhar eu tinha que ir por um caminho, por uma vereda, e voltava por outro. Tinha polícia pra todo lado, tudo contra mim. Por último, eu criei coragem de enfrentar tudo aquilo, sabendo que podia morrer a qualquer momento; mas, eu precisava trabalhar.
O Reinaldo tentou me matar
Final dos anos 80, começo dos anos 90 eu fui morar com uma mulher, mãe destes meninos (dois rapazes e uma moça citados antes). Ela estava envolvida nuns negócios que eu não sabia, mas que podia ter custado minha vida.
Tinha uma quadrilha formada pelo Barradas, o Reinaldo e outros que queria me pegar. Eles arrumaram tudo para a mulher vir morar comigo, que era para ver o que eu tinha, para que eles me sequestrassem e me matassem. Mas, antes de me matarem eles me forçariam a assinar uns papéis, passando para eles tudo o que eu tinha.
O que me fez entrar para a política foi que eu estava num conflito tão grande, tão aflito com aquele situação, com aqueles caras cercando minha casa, dizendo que eram meus amigos, que queriam me proteger, quando na verdade queriam me matar. O Reinaldo vivia dentro da minha casa, atendendo telefonema e colocando os capangas dele para me vigiar. Eu estava sem controle da minha vida. Eu tinha gasto mais ou menos uns cinco quilos de ouro tentando esclarecer a morte do meu irmão Raimundo.
Na Semana Santa de 1991 eles esperavam fazer o serviço. Uma noite o Reinaldo chegou na mina casa com uns homens, com uma conversa furada, dizendo que era para me proteger, porque podia acontecer alguma coisa comigo. Eu olhei para o Céu e disse que achava que ele tinha vindo de lá.
Um dia um amigo me convidou para ir fazer uma visita para o seu Wirland Freire, que conhecia o Reinaldo. Seu Wirland mandou chamar ele. Quando o Reinaldo chegou o seu Wirland disse que eu era amigo dele, além de ser um bom cliente dele e que não queria que acontecesse absolutamente nada comigo. Foi só assim que eles me deixaram em paz. A partir daí minha vida começou a melhorar de novo. Por isso entrei na política.
Pouco tempo depois a mulher foi embora deixando os três filhos, quase assumindo a culpa, enquanto o Reinaldo foi morto não muito tempo depois de tudo isso. Hoje, ela toca a vida dela e eu toco a minha, cuidando dos meus filhos, sem nunca abandonar o garimpo. Mas, por eles, pelos filhos, eu mudei até o tempo de permanência lá pra dentro. Assim tem sido minha vida, vida de garimpeiro.
Falso empresário cobra comissão ilegal de garimpeiros no Marupá
Falso empresário cobra comissão ilegal de garimpeiros no Marupá
Garimpeiros estão sendo obrigados a pagar 10% ao “empresário Zé do Bebe do Sudário”
Cobrança ilegal de percentual 10 % pela extração de ouro no Garimpo do Maruá vem sendo cobrada pela família Sudário, que tem à frente o conhecido “Zé do Bebe do Sudário”. Ele alega que o garimpo pertence a família Sudário, que mesmo tendo trabalhado alguns anos e abandonado há mais de 20 anos a atividade garimpeira, inclusive não possuem nenhum documento (de posse do INCRA e Mineral do DNPM) agora, estão querendo retomar ao garimpo, expulsando centenas de garimpeiros que há mais de 20 anos estão trabalhando ali.
Informações procedentes daquele garimpo, via telefone, dão conta que Zé do Bebe Sudário, chegou ao garimpo em companhia de algumas pessoas (cerca de 6 pessoas) se titulando policiais de Santarém, que passaram a cobrar comissão de 10% da produção de cada garimpeiro, que ali está trabalhando. Com medo e ameaçados, os garimpeiros estão pagando. Quem não pagar, é obrigado a parar a garimpagem.
As informações dão conta que mais de 2 quilos de ouro já foram arrecadados pelos falsos policiais, que não tem poder de cobrar, já que o bem mineral é da União e as pessoas que estão à frente desta ilegalidade não possuem nenhum documento e mesmo que possuíssem era para trabalhar e não para cobrar comissão.
O fato já foi comunicado à Policia de Itaituba, que deverá seguir até aquele garimpo para prender os aproveitadores.
Garimpeiros abrem segunda frente de trabalho ao pé da 'nova Serra Pelada'
Garimpeiros abrem segunda frente de trabalho ao pé da 'nova Serra Pelada'
Desmoronamento em galeria e decisão judicial não intimidaram garimpeiros.
Jazida de ouro em Pontes e Lacerda é apontado como ilegal pela Justiça.
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Ignorando a ordem judicial de retirada, garimpeiros da chamada “nova Serra Pelada”, jazida de ouro encontrada na região de serras em Pontes e Lacerda (a 483 km de Cuiabá), estão explorando uma nova frente de trabalho para extração de ouro, aos pés da Serra da Borda. Enquanto o alto da serra já vem sendo explorado ilegalmente há cerca de um mês, a parte de baixo foi aberta nos últimos dias, inclusive após os garimpeiros receberem a notícia de que a Justiça Federal determinou o fechamento do garimpo na área.
Serra da Borda (Foto: Reprodução / TVCA)
A exploração tanto no alto da serra quanto na nova frente de trabalho continua nesta terça-feira (20), um dia após o desmoronamento que feriu ao menos cinco pessoas em uma galeria aberta na parte superior. Todos os cinco feridos foram resgatados com escoriações e encaminhados para a Santa Casa de Pontes e Lacerda e obtiveram alta médica no mesmo dia.
O desmoronamento serviu de alerta para os riscos da exploração no local, para o qual a Força Nacional de Segurança, a Polícia Federal (PF), a Polícia Militar (PM) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) devem se encaminhar nos próximos dias paracumprir a ordem judicial de fechamento.
Segundo relatos obtidos pela reportagem daTV Centro América no local, nos últimos dias houve descoberta de ouro na parte do pé da serra, o que atraiu os demais garimpeiros que encontravam-se escavando na parte de cima.
Serra da Borda (Foto: Reprodução / TVCA)
No pé da serra já existem barracas, caçambas e a estrutura necessária para o trabalho. Com detector de metais, os garimpeiros encontram potenciais pontos para escavar e começam a perfurar a terra, cada grupo em uma área delimitada.
Alguns trabalham para si e outros trabalham para patrões, os quais também pagam os contratados com parte do ouro extraído. Dependendo do trabalhador ou do grupo, são usados instrumentos como picaretas e enxadas ou até britadeiras e maquinário mais pesado com geradores de energia.
Serra da Borda (Foto: Reprodução / TVCA)
Retirada
Enquanto isso, parte dos garimpeiros já começa a deixar o local, forçados pela chegada iminente das forças policiais e pelos riscos que ficaram evidentes com o acidente da última segunda-feira no alto da Serra da Borda.
Enquanto isso, parte dos garimpeiros já começa a deixar o local, forçados pela chegada iminente das forças policiais e pelos riscos que ficaram evidentes com o acidente da última segunda-feira no alto da Serra da Borda.
Outros, entretanto, avisam que só vão deixar a região quando os policiais chegarem. Eles alegam que, embora haja determinação judicial para a retirada, até agora não há perspectiva de quando as forças policiais devem chegar para cumprir a ordem, de modo que vão tentar permanecer e extrair o máximo possível de ouro.
De fato, a PRF chegou a anunciar que a operação poderia acontecer a partir desta terça-feira, mas até agora os agentes só foram até o local para notificar os trabalhadores a respeito da decisão judicial e da necessidade de saírem pacificamente antes da chegada dos policiais.
Já a Prefeitura de Pontes e Lacerda, que acompanha a situação do garimpo ilegal, ainda não conseguiu contabilizar quantos garimpeiros deixaram a região, mas confirmou o aumento do movimento de saída de pessoas pela rodoviária da cidade.
E, apesar da decisão da Justiça Federal que determinou o fechamento do garimpo por ausência de autorização do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), a Prefeitura de Pontes e Lacerda também está tentando negociar com o governo federal a legalização da atividade do garimpo na Serra da Borda. O prefeito Donizete Barbosa (PSDB) reuniu-se nesta terça-feira em Brasília com representantes do Ministério de Minas e Energia e do próprio DNPM para tratar do assunto.
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