quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A produção garimpeira em Brotas de Macaúbas

A produção garimpeira em Brotas de Macaúbas
 
Brotas de Macaúbas“A produção garimpeira em Brotas de Macaúbas.”

O MUNICÍPIO DE BROTAS DE MACAÚBAS

O Município de Brotas de Macaúbas está situado na microrregião da Chapada Diamantina, distando 590 quilômetros de Salvador. O acesso é através da BR-242, que, a partir do entroncamento, dista 42 quilômetros da sede do município. Possui área de 2.372,64 km2, sendo dominado por um clima semi-árido e seco a sub-úmido, com temperatura mínima média em torno de 16°c, a máxima média em torno do 35°c, ficando a média geral em torno de 20°c. Seu período chuvoso estende-se de Novembro a Março, atingindo a pluviosidade anual média de 723 mm, com mínimos de até 309 mm e máximas de até 1593 mm.
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Sua população é estimada em 11.427 habitantes, conduzindo a uma densidade de 4,82 habitantes por km², com 9.631 eleitores cadastrados vinculados ao município. (SEI, 2006)
Em termos de infraestrutura, aspectos básicos são contemplados. Dispõe de uma agência de banco privado, do Bradesco, e um posto de banco estatal, do Banco do Brasil. Entretanto, o posto não mostra funcionamento corrente, devendo os interessados dirigir-se ao município vizinho de Ipupiara.
De acordo com a JUCEB, o Município de Brotas de Macaúbas possui 15 indústrias, ocupando o 126º lugar na posição geral do Estado da Bahia, e 172 estabelecimentos comerciais, o que o coloca na 195ª posição dentre os municípios baianos.
O consumo elétrico residencial médio é de 55,22 Kwh por habitante, o que a coloca no como 301º no ranking baiano.
Possui uma pousada com cerca de 20 vagas e algumas pequenas hospedagens, dispondo o seu parque hoteleiro total de estimados 73 leitos.
Dispõe de um hospital privado conveniado ao Sistema Único de Saúde - SUS, atendendo emergências básicas, dispondo de 19 leitos.
Em termos de estabelecimentos educacionais, há 59 infantis, 79 de ensino fundamental, 2 de ensino médio.
Tem como destaque agrícola 200 hectares de plantações de feijão e 100 hectares de plantações de cana-de-açúcar. Destacam-se também na Produção Agrícola, embora em quantidades menores, banana, arroz, coco e manga.

Seus rebanhos atingem 12.600 cabeças de gado, 1.420 suínos e 3.000 ovinos. 460 cabeças de vacas leiteiras. 18.000 galinhas produzem 90 mil dúzias de ovos por ano. Além disso, há destaque para a apicultura, que produz 10.000 kg de mel por ano.
Suas ocorrências minerais já anotadas são amianto, barita, cobre, cristal de rocha, diamante, ferro, manganês, ouro, quartzito, mármore.
O Produto Interno Bruto do Município fica em torno de R$ 26.852.000,00, conforme o IBGE/2005, chegando-se a um per capita de R$ 2.325,00.
Em termos de doenças transmissíveis de notificação obrigatória, foram registrados, em 2005, 3 casos de hanseníase.
Os municípios localizados na micro-região garimpeira de Brotas de Macaúbas são considerados por alguns estudos dentre os mais pobres do Estado da Bahia. São basicamente Brotas de Macaúbas, Oliveira dos Brejinhos, Ipupiara e Gentio do Ouro.
Seus Índices de Desenvolvimento Humano – IDH exibem o problema vivenciado por esses municípios, dentre os quais somente Ipupiara apresenta um índice razoável.

Município - IDH
Brotas de Macaúbas - 0,628
Oliveira dos Brejinhos - 0,648
Ipupiara - 0,670
Gentio do Ouro - 0,575


O QUARTZO NA BAHIA

O Anuário Mineral do Brasil – 2006, do Departamento Nacional da Produção Mineral - DNPM revela a existência de reservas inferidas de 1.213.050 toneladas, locadas tão somente no Município de Capim Grosso.
Este valor revela uma queda em relação às expectativas anteriores. O Quartzo da Bahia aparece, no Anuário Mineral Brasileiro – 1998 do DNPM, anotado em mais municípios e em volume bem maior.

A produção baiana de Quartzo em 2005 atingiu 15.253 toneladas de minério bruto, cotada a R$ 19,58 por toneladas. (DNPM, 2006)
Entretanto, essa produção é praticamente dominada pelos garimpeiros, o que torna o controle de quatitativos extremamente dificultada.
No Brasil, em 2007, praticamente não houve consumo de lascas para crescimento de cristal sintético. Daí a produção ter de buscar mercado consumidor no exterior.
Em 2006, as exportações brasileiras de quartzo atingiram o montante de 22.561 t, para um correspondente valor em divisas de US$ FOB 4.901.000. O destino dos bens primários de quartzo exportados foi: Espanha (31,6%), Japão (13,7%), Israel (10,4%), Itália (7,7%), Bélgica (6,8%), Chile (5,2%) e Estados Unidos da América (4%).
O Quartzo beneficiado, ainda que a nível primário, aponta como sítio de maior possibilidade de venda local a Cidade de Lençóis. é um caminho para a vontade de ampliação de oferta de produtos lapidados, artesanato mineral e adorno mineral.
OS GARIMPOS

O Município de Brotas de Macaúbas dispõem de intensa atividade baseada especialmente no garimpo de Quartzo, com origens assentadas na década de 1930. Desde então passou-se a explorar e explotar suas variedades verificadas que são Quartzo hialino, Quartzo leitoso, Quartzo fumê e Quartzo fumê rutilado.
A produção sempre foi reconhecidamente de vulto, entretanto, de dimensionamento altamente problemático.
Seus estimados cerca de 200 pontos de garimpos distribuídos no município, todos voltados para a produção dessas variedades de Quartzo, não mostram registros de produção confiáveis.
As estimativas são feitas por amostragem, ainda assim, em atitudes isoladas e sem qualquer indicador mais objetivo.

A COOPERATIVA AGROMINERAL SEM-FRONTEIRAS – CASEF

Visando agregar a mão de obra garimpeira, normalizando a sua conduta, procurando colocar a produção em um caminho de regularização e melhoria, surgiu a Cooperativa Agromineral Sem-Fronteiras – CASEF. Esta passou a agregar praticamente todos os garimpos e garimpeiros do Município de Brotas de Macaúbas, além de outros dos municípios em torno.
Os garimpos em relação aos quais efetua lavra legalizada estendendo-se por Brotas de Macaúbas, Oliveira dos Brejinhos, Ipupiara e Gentio do Ouro, contando com associados cooperativas ligados a todos esses municípios.
Fundada em 1º de janeiro de 1990, sob a égide da Lei 7.805, materializou estatutariamente o objetivo de assegurar aos seus associados o direito de exploração e explotação dos garimpos da região, especialmente aqueles de quartzo.
O movimento de criação da CASEF recebeu apoio em vários níveis: Municipal, Estadual e Federal. Nisso contaram com ações especialmente de Prefeitura e Câmera Municipal de Brotas de Macaúbas, alguns Secretários de Estado, como também alguns deputados Estaduais e Federais.
O seu foco, a finalidade de regularizar a atividade mineira garimpeira na região, além do quantitativo de pessoal envolvido, logo envolvido, atraiu interesses políticos.
A CASEF indica que a esfera estadual tem se mostrado apenas relativamente regular nos apoios. A seqüência de prefeitos municipais se caracterizou por uma irregularidade acentuada no apoio desde a inauguração da CASEF.
O reconhecimento da CASEF como organização não governamental foi oficializado a 19 de Maio de 1996.
Desde então, recebeu apoio internacional por parte dos Governos da Bélgica e da China.

Drusa de Quartzo - Garimpo Bojo do Ioiô - Brotas de Macaúbas

AS INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS

A CASEF possui uma sede própria com área construída de 744m2. Esta sede dispõe de duas edificações.
A primeira unidade é a sede propriamente dita, sendo constituída por uma edificação de 300m2. O seu objetivo primeiro era já ser o sítio da Cooperativa que se dedicasse a funcionar como escola de Lapidação, Artesanato mineral e Adorno de bijuterias. Constitui-se de:
- 03 salas administrativas
- 01 auditório
- 01 cozinha
- 01 refeitório
- 01 sala de exposições.
Possibilita a agregação, em um único instante, com relativa folga, de 60 associados. Entretanto, relatório interno indica que preservou alguma comodidade para uma quantidade de até 100 associados ao mesmo tempo.
A segunda unidade, localizada no mesmo terreno, porém distante da primeira cerca de 50 metros, é o Galpão de Produção. Este tem cerca de 160m2, sendo fundamentalmente destinado ao beneficiamento do Cristal de Rocha.
Dispõe de equipamentos operacionais constituintes normais de um núcleo de artesanato mineral funcional. O primeiro destaque é uma serra caixão, localizada operacional. A bancada de formação básica é composta por dois motores a ela dedicados, podendo assentar quatro artesão ao mesmo tempo. Na mesma linha, há dois motores para ao alisamento e dois para o polimento, cada um podendo receber dois artesão ao mesmo tempo.
Praticamente paralisado, atualmente, sua operação é mínima, atuando geralmente apenas um único artesão, envolvendo-se, em raros momentos, até quatro artesãos.
Uma bancada é dedicada à perfuração de gemas e pedras, para a eventual montagem de bijouterias. Dispõe de dispondo de 10 máquinas adquiridas por indicação da consultora Karina Achoa, que foi sugerida à CASEF pela atualmente extinta Superintendência de Geologia e Recursos Minerais - SGM.
Havendo recebido recursos de apoio chinês à CASEF, foram destinados esses à compra dessas máquinas, das quais 7 jamais funcionaram, em 10 anos. Estas chegaram inoperantes e a empresa que a consultora indicou, cujas máquinas vendeu, desapareceu, uma vez realizada a compra.
Após um período em que somente uma máquina funcionou mais duas maquinas passaram a funcionar, assim se encontrando ainda a situação. Estes problemas reduziram em muito as expectativas iniciais de produção de bijouterias pelo núcleo.
A CASEF dispõe ainda de um paiol devidamente regularizado junto ao Ministério do exército, no qual são alojados os explosivos que são utilizados nas detonações para aberturas em garimpos. Encontra-se esse paiol instalado no garimpo do Bojo Vermelho.

OS ASSOCIADOS

A Cooperativa Agromineral Sem Fronteiras – CASEF, conta atualmente com um quadro de 645 associados.
Cooperativa Agromineral Sem Fronteiras – CASEF - Brotas de Macaúbas.

Cada associado tem direito à exploração dos garimpos administrados pela Cooperativa. Isto os coloca em situação regularizada, trabalhando em área com direitos minerários e licenças ambientais correntes. Além disto, passam a ter direito a freqüentar eventuais cursos na sede, e utilizar seus alojamentos, quando da freqüência em cursos de treinamento ou aprimoramento no local.
Estes alojamentos também são utilizados quando o associado freqüenta algum colégio regular no município.
Como deveres, os associados devem pagar uma taxa de manutenção da área de 10% da sua produção. Além disso, a revenda controlada de explosivos pela CASEF costuma a cobrar ágio de 30%, o qual é utilizado para novas aquisições e necessária manutenção do seu estoque.
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Drusa de Quartzo - Garimpo Bojo do Ioiô - Brotas de Macaúbas
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Cumprindo solicitação do Departamento Nacional da Produção Mineral – DNPM, em 1992, foi coordenado pela CASEF um cadastramento de garimpos e garimpeiros nos municípios da sua atuação, não havendo levantamento mais recente.
Foram cadastradas 3.000 famílias em conexão direta com atividades garimpeiras, atuando numa área de aproximadamente 60.000 hectares, nos municípios de Brotas de Macaúbas, Oliveira dos Brejinhos, Ipupiara e Gentio do Ouro.
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OS GARIMPOS ADMINISTRADOS PELA CASEF

Atualmente, a CASEF administra e responde legalmente por garimpos distribuídos por uma área de 4 quilômetros por 13 quilômetros.
A contagem mais recente, de 2008, apontou a existência, nos municípios envolvidos de 174 garimpos sob responsabilidade da CASEF. Dentre esses destacam-se o Garimpo do Bojo Vermelho e o Garimpo Mina da Banana.
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Drusa de Quartzo - Garimpo Bojo do Ioiô - Brotas de Macaúbas
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O ACESSO

O acesso aos garimpos é feito através de estradas carroçáveis cujas condições costumam piorar em épocas de chuva mais intensa.
Rumo a alguns garimpos, apesar de em mapa parecerem próximos, inexistem, em muitos casos, estradas que ultrapassem a serra de maneira um mínimo aceitável. Isto obriga a contornos, forçando um deslocamento através de viagens de até 100 km, por tais estradas carroçáveis, até garimpos que estariam mais acessíveis se forem implantadas estradas em melhores condições .
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A PRODUÇÃO NOS GARIMPOS

Os trabalhos, durante o ano de 2008, se concentraram no Garimpo do Bojo Vermelho.
A produção se caracteriza por recursos muitos limitados, em paragens muito distantes e de acesso prejudicado pelas condições das estradas e problemas como o de manutenção dos compressores.
O domínio do minerador informal não permite que haja uma grande perspectiva de desenvolvimento local. A isto some-se que a convergência desses mineradores para a CASEF tem se revelado também apenas insuficiente para resolver os problemas. Deve-se tal fato especialmente a um regime de cobranças muito estrito da CASEF, que procura exigir o menos possível dos associados, sabendo-os de baixa a baixíssima condição financeira.
Isto posto haver constantes demandas dessa cooperativa que, apesar de justificadas e amparadas em indicadores técnicos, tiveram constantemente sinalizações desfavoráveis de apoio do Estado.
A produção de lascas de quartzo, isto é, fragmentos selecionados, é feita manualmente, produzindo peças pesando menos de 200 gramas. Esta é tão importante quanto a produção de cristais íntegros, que chegam facilmente à escala decimétrica.
Nos dois garimpos visitados, viram-se pilhas de lascas de quartzo de qualidade diversificada, marcadamente não homogênea.
Os cristais de grau eletrônico são os de elevado grau de pureza e características químicas muito específicas, sendo usados na indústria de cristais cultivados. São mais raros, com surgimento menos freqüente nestes municípios, o que conduz a uma produção esporádica. Entretanto, são encontrados.
Há uma metodologia de retirada de cristais que inclui cavas ou poços geralmente decamétricos, que dão acesso a veios. Estes são seguidos, em profundidade, produzindo-se pequenos túneis em conformidade com a conformação dos veios. O trabalho de alargamento e ruptura de áreas mais rígidas é necessariamente feito com explosivos.
Obtido o cristal, o trabalho nos sítios limita-se à limpeza do grosso do estéril, separação das unidades mais expressivas. Pode ser resumida a uma seleção relativamente grosseira do material obtido.
Uma observação é que não foi observada qualquer menção à necessidade de busca de maior capacitação tecnológica, a qual permitisse uma agregação de valor mais efetiva. As demandas circulam em torno tão somente da melhoria do acesso, que permita a chegada aos garimpos de caminhão de mais capacidade que a caminhonete atualmente utilizada.
Nessa unidade, o Garimpo do Bojo Vermelho, a produção já chegou a 105 toneladas, as quais foram todas negociadas, predominantemente com compradores chineses.
Entretanto, foram anotadas dificuldades evidentes de relacionamentos com os compradores. Conforme relatos, não é raro os garimpeiros confiarem em compradores e, em um dado momento, este não mais prestar contas de volumes expressivos de produto, resultando em prejuízos expressivos.
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TRANSPORTE

Conta, atualmente, a CASEF tão somente com um único veículo, uma caminhonete Toyota. Após ter a CASEF sua caminhonete furtada, a atual foi primeiramente emprestada e finalmente doada pela Companhia Baiana de Pesquisa Mineral – CBPM, a título de fomento às atividades da CASEF.
Este veículo apresenta capacidade de transporte de limitada, em relação à produção garimpeira, provocando redução de ritmo nos garimpos, enquanto a produção não é completamente recolhida. Esse evento é realizado, muitas vezes, em mais de uma viagem, através de longos deslocamentos, aumentando em muito o custo do cristal local.
Considerando a distância dos garimpos, o estado das estradas, e a disposição deste um único veículo, mantém-se a produção uma produção limitada, amarrada a limites bem abaixo do potencial local.
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OUTRAS DIFICULDADES

O apoio governamental, algumas vezes, conduziu a prejuízos. Cita-se o caso de recomendação, por parte de profissional indicado pelo Estado, de compra de máquinas de perfuração. As dez adqüiridas com capital oferecido pelo Governo da China Popular resultou em problemas, pois somente duas unidades funcionaram, ao longo de cerca de 10 anos. Tal prejuízo não foi jamais diretamente reposto.
O Artesanato Mineral e a Bijuteria produzidos pelos poucos artesão em operação na CASEF resultam em produtos que permanecem, geralmente, expostos no interior dessa Cooperativa. Esta, com a costumeira ausência do responsável, posto este ser também responsável pela caminhonete e pelo transporte, resulta em difícil acessibilidade aos produtos.
Além disto, ainda que seja uma produção local, não foi observado qualquer ponto-de-venda de destaque localizado no centro comercial urbano.
Dentro desse problema, o quadro de artesãos ali formados encontra-se disperso, muitas vezes migrado, deslocado dessa profissão. Apenas um único artesão permanece em trabalho ocasional e solitário na sede, podendo ser considerados, para intervalos mais espaçados, quatro artesãos que fazem uso do equipamento.
Outro problema grave é a tomada de garimpos legalmente atrelados à CASEF por terceiros, o que demanda tempo demasiado para reação legal e desalojamento dos infratores. Este evento, além de sustentar constate tensão entre os garimpeiros, faz com que a cooperativa perca uma boa parte da produção, sem que haja qualquer retorno.
 

Ametista : conheça o Garimpo das Pedras

Ametista : conheça o Garimpo das Pedras


Localizado em território do município de Marabá, a 60 quilômetros do centro de Parauapebas, o Garimpo das Pedras foi descoberto há 27 anos por garimpeiros da região. De lá para cá, as jazidas têm produzido e comercializado milhares e milhares de toneladas de pedras de ametista para o Brasil e o mundo, tornando-se a segunda maior jazida do mundo, em termo de quantidade de reserva.
No último domingo (23), a reportagem da Sucursal do CORREIO DO TOCANTINS em Parauapebas esteve na Vila Garimpo das Pedras e conversou com exclusividade com a ex-deputada estadual Elza Abussafi Miranda, membro da família detentora da área onde se localiza o garimpo.
De acordo com Elza Miranda, a família dela adquiriu a propriedade rural em 1975, sem saber da existência das reservas em subsolo de ametista. Em 1983, por acaso, alguns garimpeiros acostumados com a exploração de pedra semipreciosa descobriram a jazida de ametista, considerada a segunda maior do mundo, em termo de quantidade de reserva, só perdendo para a África.
Elza Miranda explica que a extração da pedra é subterrânea, em túneis verticais, perpendiculares e horizontais com extensão que vão até 300 metros de profundidade. Mas a ametista começou a ser descoberta à flor da terra.
Perguntada sobre segurança na exploração das pedras no fundo da terra, Elza respondeu que os garimpeiros trabalham com total segurança, e por isso o índice de acidente é zero. “Mas já foram registrados acidentes com um ou dois garimpeiros que não observaram os itens de segurança”, admite.
CESSÃO DA ÁREA Ela conta que após a descoberta das jazidas de ametista na fazenda a família Miranda administrava com exclusividade toda a produção do minério. Algum tempo depois, para dar legalidade jurídica à exploração das jazidas, foi celebrado um termo de cessão gratuita de uso por tempo indeterminado de uma área de 240 alqueires com a Cooperativa dos Produtores de Gemas do Sul do Pará (Coopergemas), criada pelos próprios garimpeiros da vila.
A partir daí, a exploração das pedras passou a ser controlada pela cooperativa, que dá origem ao produto, emitindo nota fiscal para saída do minério e descontando 6% do valor comercializado. A família Miranda explora uma mina com seis trabalhadores com direito a 100% da produção.
A produção, que chega até 100 toneladas de pedras semipreciosas por mês, é toda comercializada no próprio garimpo. Os maiores comparadores são da Bahia e de Minas Gerais. “Alguns clientes diretamente da China, que não sabem nem falar a língua portuguesa, vêm também comprar pedras aqui na vila com intérpretes”, revela a garimpeira.
Elza Miranda lembra que quando ela era deputada chegou a levar o então governador Almir Gabriel ao garimpo, e ele viu a necessidade se implantar na vila uma escola de lapidação de pedra, com o objetivo de gerar emprego e renda, “mas esbarramos na falta de mão-de-obra qualificada para instruir a comunidade. A ideia continua de pé”.
Segundo Elza Miranda, a comunidade do Garimpo das Pedras conta hoje com uma população aproximada de quatro mil pessoas que moram em duas vilas: a de baixo e a de cima, e todos os adultos vivem em função da exploração do minério.
A vila, que geograficamente pertence ao município de Marabá, conta com escola, posto de saúde, destacamento da Polícia Militar, supermercados, igrejas, energia elétrica, associação de moradores, farmácia e até pista para pouso e decolagem de pequenas aeronaves.
ÁGUA QUENTE
No caminho entre uma vila e outra existe uma nascente que jorra água com 40 graus de temperatura. Há alguns anos, os Miranda construíram rusticamente uma piscina para acumular água e possibilitar banho de pessoas que são atraídas pelo local. Há poucos meses, uma das paredes da piscina ruiu, ficando apenas a bica jorrando água quente, fato que vem frustrando os visitantes.
“Estudo engenharia ambiental e costumo dizer que esta área é vulcânica, que pode ou não ter entrado em erupção, daí a existência dessas pedras e também da água quente, cuja temperatura fica na ordem de 40 graus, rica em potássio, própria para o consumo, inclusive medicinal”, descreve.
Elza Miranda anuncia que nos próximos meses a família dela deve começar a reconstruir a piscina, agora com trabalho técnico de engenharia, e disponibilizá-la ao público que vai à vila. Ela lembra que com a conclusão da estrada do Projeto Salobo para Parauapebas o asfalto vai passar a oito quilômetros da Vila Garimpo das Pedras.

Região serrana do ES tem histórico de garimpo de pedras preciosas

Região serrana do ES tem histórico de garimpo de pedras preciosas

Em Santa Teresa, a atividade garimpeira já trouxe muitas riquezas.
Até pedra de 250 kg já foi encontrada no local.


Já conhecida como "Serra Pelada" capixaba, a comunidade de Várzea Alegre, no interior de Santa Teresa, região serrana do Espírito Santo, tem um histórico de garimpo e busca por pedras preciosas.
A região já trouxe riquezas para muitos garimpeiros. Em vez de ouro, o que despertava interesse na região eram as pedras preciosas.
"Tudo começou com um caçador que, atrás de um tatu, achou uma pedra brilhante perto de sua toca", diz o comerciante da região Antônio Lopes.
A corrida das pedras começou na década de 40 do século passado. O produtor rural Vandacir Roncon conta que já encontraram até pedra de 250 kg na área. "Teve que descer um varão, carregada nas costas", lembra.
Antônio Lopes ressalta que a atividade garimpeira trouxe muitas riquezas, mas que nem todos souberam desfrutar dela. "Muita gente ficou rica, mas perderam tudo, nem eles existem mais. Aqui na pedra da onça dava águas marinhas e outros cristais também", diz Antônio.
Hoje a área está abandonada, mas antigamente era bem movimentada, vivia repleta de garimpeiros em busca do sonho de ficar rico. A última descoberta foi em 2004, quando o produtor rural Alonso Possatti encontrou uma água marinha pura. "Com o dinheiro, deu pra quitar dívidas, comprar casa e terreno para os filhos", diz.

Trabalhadores que viviam da extração de cristais criam o tesouro verde do Brasil

Trabalhadores que viviam da extração de cristais criam o tesouro verde do Brasil

Cristalina é privilegiada, com mais de 250 rios, córregos e nascentes. Com muita água correndo por todos os cantos, foi possível fazer brotar nessas terras alimento o ano todo.

A primeira vista, um município como tantos outros. Mas não se engane, essa é uma terra de sonhos.
Solo fértil, de onde já brotaram cristais. Riqueza que deu fama e nome a cidade: Cristalina, no Planalto Central, em Goiás.
Mas os cristais deram lugar a um novo tesouro, que mudou a paisagem e impulsiona a economia: o agronegócio. Hoje, Cristalina é o maior pib agrícola do país.
Segundo o IBGE, a agricultura de Cristalina movimenta R$ 1,3 bilhão.
A região é privilegiada, com mais de 250 rios, córregos e nascentes. Com muita água correndo por todos os cantos, foi possível fazer brotar nessas terras alimento o ano todo. Os agricultores de Cristalina cultivam 34 tipos diferentes de lavoura.
De milho a soja. De cenoura a batata. Plantações a perder de vista. E que abriram novos horizontes para quem vivia do garimpo.
Olhar cuidadoso de uma mulher que passou a vida inteira procurando pedras preciosas, mas foi na lavoura do café, que Aparecida está garimpando a vida que sempre quis ter.
Aparecida
Globo Repórter: O que mudou na sua vida entre do garimpo agora pra trabalhar aqui na lavoura?
Aparecida Marques de Araújo, trabalhadora rural: Eu pude comprar as minhas coisas com mais facilidade, porque antes eu não podia, eu ganhava pouco, no garimpo.
Carlita lembra que o garimpo era uma aventura.
“Você ganhava R$ 10 e corria o risco de cair num buraco, quebrar uma perna”, conta Carlita Santana Souza, trabalhadora rural.
Foi na lavoura que ela conseguiu colher muitas preciosidades. Com emprego fixo e contracheque, Carlita conquistou junto com o marido, Francisco, o que antes parecia impossível: a casa própria.
Isael também mudou de endereço e de vida. Ele começou na roça. Hoje trabalha na oficina da indústria do beneficiamento de batatas. E não se arrepende de ter deixado o interior de São Paulo há 15 anos.
Globo Repórter: Mas não deu aquele medo de pensar nossa é um lugar longe?
Isael Nunes de Oliveira, técnico em manutenção de máquinas: Medo não. A gente pensou mais na condição de poder melhorar de vida. E melhorou.
Isael mostra orgulhoso a casa que comprou há cerca de um ano e meio.
Globo Repórter: Como é entrar na sua própria casa?
Isael: Sempre com o pé direito, porque com o pé esquerdo a gente deixa o aluguel e o pé direito a gente deixa pra casa própria. Tem o computador, tem a televisãozinha razoável, aparelho de som, o sofá não é dos ricos, mas serve pra gente se abrigar.
A procura pela casa própria aqueceu o mercado imobiliário. Na cidade e no campo.
Luciano acompanhou de perto o crescimento de Cristalina. Trabalhou na lavoura, antes de se tornar um bem sucedido corretor.
“Eu já tinha uma certa inclinação pra mexer com venda e aconteceu. Eu não esperava que fosse tão rápido o resultado. Vim de uma família muito humilde. Me considero um cara vitorioso sim”, revela Luciano Botelho, corretor de imóveis.
A família Figueiredo foi visionária. Eles vieram do Paraná na década de 80 para desbravar uma região selvagem.
“Quando meu pai chegou, uma região totalmente pra ser descoberta, totalmente pra fazer tudo. Nunca se imaginava as coisas que hoje acontecem”, conta Reinaldo Figueiredo, fazendeiro.
Os irmãos Reinaldo e Reginaldo chegaram a duvidar que os negócios teriam futuro.
“No início, eu achei que não ia dar certo. A gente precisava de um parafuso, tem que andar 300 km até Goiânia atrás de um parafuso”, lembra Reginaldo Figueiredo, fazendeiro.
Mas deu tão certo que os irmãos começam a inovar. Além da lavoura apostaram na produção de leite.
Os irmãos investiram no conforto para mimar as vacas. Elas retribuem com carinho e com a maior produção de leite em todo o estado de Goiás.
É ou não é uma terra próspera para plantar sonhos?

Saudade dos olhos da miss- água-marinha de 35 quilos (175 mil quilates)

Saudade dos olhos da miss

SEU TIBÚRCIO em sua casa em Novo Oriente de Minas, triste com sua sina, afastado do garimpo por ordens médicas e do seu passado de glórias pelo tempo
Lembra de Martha Rocha? De seu sorriso? Do rosto? Dos olhos azuis de nossa eterna miss? Os mais novos, talvez não, mas os mais velhos... Martha provocou comoção nacional em 1954 ao perder o título de Miss Universo por duas polegadas a mais nos quadris. Isso mesmo: duas polegadas, algo em torno de cinco centímetros. Naquele tempo, concurso de miss era coisa séria. Tinha glamour. Apelo popular. Emoção. Ela não ganhou mas empolgou a nação. O povo já a elegera a mulher mais bonita do mundo. Martha virou mito. Seu nome passou a ser sinônimo de bonito – não o da moça escolhida Miss Universo. Como é mesmo o nome dela?

Em 1957, o garimpeiro Tibúrcio José do Santos fez um achado extraordinário ao cavucar a terra em Marambaia, distrito de Teófilo Otoni, considerada a “capital mundial das pedras preciosas”, situada a 450 quilômetros de Belo Horizonte. Ele topou com uma água-marinha de 35 quilos (175 mil quilates), azulada – um azul tendendo para o verde, da cor dos olhos da miss (à dir.). Justamente uma água-marinha, gema da família dos berilos, tida como a pedra do amor e da felicidade, protetora das sereias – o historiador romano Plínio colocava-a dentro d’água, na praia, para checar sua pureza. Se “desaparecesse” na mão, confundindo-se com a água do mar, então era verdadeira. Batizada Martarrocha, é a mais famosa das gemas coradas brasileiras – gema corada é o nome que a indústria de jóias, bijuterias, folhados e artefatos de pedras dá às pedras preciosas em geral, especialmente as coloridas. Desde então, foram encontradas água-marinhas de maior tamanho mas nenhuma tão bonita (tão perfeita) quanto ela.


CITRINOS BRUTOS, cujo nome deriva do latim citrus, que significa amarelo-limão. As principais jazidas estão em Minas Gerais, Bahia, Goiás e Rio Grande do Sul
Passados tantos anos, Martha continua linda. Mora em Volta Redonda, RJ, e dedica parte do dia à pintura – dizem que seus azuis são incomparáveis. A água-marinha que levou seu nome foi vendida, revendida e mais tarde cortada em várias pedras menores. Para Tibúrcio, porém, a coisa ficou feia. Aos 83 anos, pobre, adoentado, passa o dia inteiro na cama, aos cuidados dos filhos – teve 12, quatro dos quais “particulares”, ou seja, nascidos fora do casamento oficial. Ele não lembra em nada o garimpeiro forte e sacudido dos tempos de glória. Na ocasião, apareceu em jornais e revistas de todo o país, dando entrevistas ou mostrando a pedra. Ficou famoso, mas não chegou a bamburrar. Metade do dinheiro obtido com a venda foi rateado entre os sócios Irineu de Oliveira e Lindolfo Capivara, fornecedor da quicaia – conjunto de ferramentas indispensáveis, tais como lebanca (espécie de alavanca), picareta, enxada, bateias, peneiras, cacumbu (um tipo de machado) e calumbés (gamelas cônicas, na quais o cascalho que vai ser lavado nas catas de ouro ou diamante é conduzido). Da outra metade, 20%, pelo menos, ficaram com o fazendeiro Antônio Galvão, dono da terra. Do que lhe coube ao final da partilha (cerca de 200 mil contos – um dinheirão, na época), Tibúrcio gastou quase tudo em terras, carro e farras. Hoje, restam-lhe somente um sítio improdutivo em Novo Oriente de Minas e 48 hectares em São Juliano, onde outros filhos tentam ganhar a vida com roça e gado.
Mas se a pedra fosse vendida hoje, ela valeria no mínimo 20 milhões de dólares, e depois de lapidada, 200 milhões de dólares fácil, pedra única em todo o mundo.
Com raras exceções, sua história pessoal repete a da maioria dos garimpeiros do Brasil, país pródigo em recursos minerais, pobre em investimentos no setor, confuso quanto à legislação e à fiscalização, ignorante quanto ao volume produzido, o valor movimentado, o número de pessoas envolvidas e a importância de tal contingente na economia, especialmente nas pequenas cidades. “Garimpeiro é esbanjador; vive sonhando”, afirmam Maurino dos Santos e Valdomiro Pinheiro, parceiros nas catas e túneis de Padre Paraíso, município ao norte de Teófilo Otoni.

VALDOMIRO, com a picareta, alargando o túnel pelo qual entrará com um carrinho de mão para retirar o entulho: “Qualquer hora a gente acha a pedra grande”
Maurino relaciona histórias pessoais e casos semelhantes em que os colegas ganharam bom dinheiro para em seguida perder tudo ou quase tudo. “Três vezes levantei rico e fui deitar pobre”, conta, resignado. A maior pedra de sua lavra foi um crisoberilo de 20 quilates e a mais valiosa, uma água-marinha que lhe rendeu 140 mil reais na ocasião (1979). Em agosto passado, eles inventaram um modo novo de ganhar dinheiro no garimpo: abriram um túnel atrás de gemas no morro ao lado do Parque de Exposições Pampulinha, em Teófilo Otoni, a convite dos organizadores da 16a Fipp – Feira Internacional de Pedras Preciosas, um dos maiores eventos do gênero, realizada anualmente no país, paralelamente à Feira Livre de Pedras Preciosas. Esta, parece uma feira livre comum, com inúmeras barracas ao longo da rua. Ao invés de frutas, legumes, verduras, carnes, etc., vende- se principalmente pedra bruta, além de gemas, bijuterias e artefatos minerais. Os compradores estrangeiros que acorrem ao Pampulinha também circulam por ali, atrás de bons negócios.

Maurino e Valdomiro foram contratados para VALDOMIRO, com a picareta, alargando o túnel pelo qual entrará com um carrinho de mão para retirar o entulho: “Qualquer hora a gente acha a pedra grande” mostrar aos visitantes, especialmente aos compradores estrangeiros, de onde vêm e como são extraídas algumas das pedras preciosas que eles, avidamente, procuram. Franceses, holandeses, alemães, ingleses, chineses, indianos, israelenses e sul-africanos, as feiras brasileiras do setor atraem gente do mundo inteiro. Tem até quem venha e fique, como o engenheiro mineral Markham Wilson, da Carolina do Norte, EUA. Ele veio duas vezes ao ano nos últimos 15 anos. Neto de joalheiros, comerciante de pedras brutas para colecionadores, certa vez foi convidado a visitar túneis e minas na região de Téofilo Otoni, algo que jamais ocorrera nos demais países que visitara. Ele sonhava com tal oportunidade. Queria saber como os garimpeiros chegavam às pedras que ele aprendeu a gostar – sempre usa uma em forma de colar. Encantado, descobriu nos túneis que tinha “coração garimpeiro” e mudou-se de mala e cuia para o Brasil. “As pedras me chamaram.” Virou otoniense.


FEIRA LIVRE em Teófilo Otoni: ao invés de frutas e hortaliças, mais de 100 barracas com pedras preciosas, bijuterias e artefatos variados
Nem tudo são flores (pedras), porém. A cidade onde Markham agora mora ainda é o principal centro lapidário do país, mas já foi maior. Há 20 anos, abrigava 2,7 mil oficinas. Hoje, restam 359. Havia cerca de 30 mil garimpeiros em atividade. Atualmente não passam de 500, segundo Robson de Andrade, presidente da Accompedras – Associação dos Corretores do Comércio de Pedras Preciosas de Teófilo Otoni. “Estamos caindo em rabo de égua”, diz ele, tratando logo de esclarecer a frase: “Rabo de égua só vai pra baixo”. São números significativos, segundo ele, considerando, também, o de vagas abertas no mercado: “São pelo menos dez empregos gerados por cada garimpeiro”, justifica, relacionando entre eles o lapidador, o serrador, o encanetador (“caneta” é um tubo em cuja ponta o especialista fixa a pedra que será lapidada em discos abrasivos), o polidor, o corretor (intermediário entre o garimpeiro e o comprador), o desenhista de jóias e o joalheiro além dos demais envolvidos na cadeia produtiva.

Robson também reclama da legislação por favorecer, indiretamente, a “máfia do GPS” – expressão com a qual se designa os que usam aparelhos de GPS (sistema de posicionamento global via satélite) para “marcar” terrenos potencialmente produtivos em terras alheias e reivindicar o direito de explorá-los, adiantando-se ao proprietário da terra. A propósito, o subsolo brasileiro é propriedade da União. A concessão é dada a quem a peça primeiro e demonstre condições de exploração, desde que cumpra uma série de exigências (leia O que fazer, na última página).

Robson aponta outra distorção no setor, de resto recorrente no país: exportar matéria-prima ao invés de produtos acabados, como ocorre com o café, o ferro, a soja, etc. Segundo ele, dá-se o mesmo com as gemas: o Brasil é responsável por 30% da produção mundial de gemas coradas (excetuando-se o diamante, que corre à parte), embora participe com apenas 4% do mercado internacional, que movimenta cerca de 1,5 bilhão de reais anualmente. “Israel não produz esmeraldas mas tá no topo do ranking mundial dos exportadores. Sabe como? Eles (os israelenses) vêm aqui, compram pedras brutas das mãos dos garimpeiros ou intermediários, lapidam e vendem as gemas (e jóias)”. (NR: ao eclodir a segunda guerra mundial, muitos ourives europeus de origem judaica emigraram para o Brasil. Com a recessão no mercado joalheiro internacional no pós-guerra, mudaram- se para o recém criado Estado de Israel. Lá, ajudaram a construir uma das maiores indústrias de lapidação do mundo, em grande parte com pedras brutas brasileiras. Eles falavam português. Tinham contatos aqui. Sabiam o caminho das pedras).

O presidente do IBGM – Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos, Écio Moraes, concorda com Robson nesse ponto. “Se um alemão, por exemplo, chega em Teófilo Otoni ou Valadares (Governador Valadares, palco da Brazil Gem Show, outra grande feira comercial de caráter internacional) e compra uma pedra bruta, ele sai do país com imposto de exportação zero. Se eu trago essa mesma pedra para lapidar (agregar valor) em São Paulo, pago 12% de ICMS”, compara. Em sua opinião, a tributação excessiva é o principal entrave ao desenvolvimento do setor – chega a 53%. Além de restrições de natureza tributária, Écio reclama da burocracia, capaz, segundo ele, de fomentar a informalidade, cujo índice ultrapassa 50% atualmente. Ou seja, mais da metade da produção e da comercialização de pedras preciosas no Brasil é feita por baixo do pano. Não se sabe ao certo quanto se tira do subsolo nem quanto se vende, muito menos o montante real nas transações. Problemas à parte, as exportações vêm crescendo 20% ao ano, de acordo com o IBGM – uma espécie de confederação de associações estaduais e empresas do setor.


RAFAELA Menditi, capixaba de Mimoso do Sul, de olho nas gemas expostas na 17a Fipp: “Se eu tivesse dinheiro, compraria todas elas”
O Brasil é uma das sete “províncias gemológicas” mais importantes do planeta, com produção em todos os estados, alguns dos quais destacam-se também pela exclusividade. Por exemplo, o Piauí, único produtor de opalas brancas, descobertas em 1973, e a Paraíba, terra das “turmalinas paraíba”, pedras azuis e verdes de rara beleza, encontradas pela primeira vez em 1989. Ouro Preto, MG, também faz parte desse grupo. Na antiga Vila Rica encontram- se as únicas jazidas de topázio imperial rosa do planeta. A Bahia destaca-se pela produção de esmeraldas, safiras e águas-marinhas, além de diamantes. O Rio Grande do Sul, pelas ametistas, ágatas, citrinos, cristais de rocha e outras. O Pará, pelo ouro. Minas, por dezenas de pedras – o estado não tem esse nome à toa. Água-marinha, opala, morganita, topázio, safira, rubi, turmalina, berilo, rubelita, cristal de rocha, quartzo, ametista, pirita (mineral chamado “ouro dos trouxas”), citrino, calcedônia, cornalina, ágata, alexandrita, amazonita, rutilo, brasilianita, granada, hematita, iolita, turquesa, olho-de-gato, espodumênio, ônix, kunzita, lazulita, malaquita, obsidiana, pedra-da-lua, diamante etc., o país guarda gemas coradas de todas as cores e tonalidades, várias delas multicoloridas como a opala nobre ou a turmalina “melancia” – lapidada a partir de cristais com a cor verde por fora, uma fina camada branca e o miolo rosa.

O Brasil produz 90 tipos diferentes de pedras preciosas. Há de tudo no mercado. Pedras sintéticas, artificiais, coloridas por irradiação, tratadas por difusão, tingimento, imersão em óleo e outras técnicas. Encontra-se até diamantes sintéticos, embora ainda de qualidade inferior àqueles formados há milhões de anos no interior da Terra, de cujo magma emergiram para cristalizar em Diamantina, Gran Mogol, no mundo inteiro, enfim, para satisfação de seu Ida, Totôca, seu Marão e tantos outros.

Principais áreas de ocorrência de pedras preciosas e metais nobres do Brasil. A sobreposição de cores identifica regiões potencialmente explosivas. Segundo levantamento, há mais de 200 garimpos em reservas indígenas





Todos os estados brasileiros abrigam riquezas minerais. Alguns, mais, outros, menos, como se pode ver no mapa ao lado. Legalmente, o subsolo pertence à União. Se um fazendeiro quiser saber o que há em suas terras deve contratar um geólogo. O segundo passo e pedir um Requerimento de Autorização de Pesquisa ao DPNM – Departamento Nacional de Produção Mineral, vinculado do MME – Ministério de Minas e Energia, descrevendo o tipo de mineral e sua localização.

Também é preciso incluir um plano de pesquisa, detalhando prazo e orçamento – a descrição da área e o plano deve ser preparado e assinado obrigatoriamente por um geólogo ou engenheiro de mineração. O DNPM o avalia e, caso não haja nenhum impedimento legal – se não estiver dentro de área indígena, parque nacional ou área de proteção ambiental e não houver requerimentos sobrepostos – emite um “Alvará de Pesquisa”, válido geralmente por três meses, mas renovável.

Antes, porém, de pôr a mão na massa, o fazendeiro precisará de licenciamento do órgão responsável pelo meio ambiente (varia de estado para estado), de estudo e relatório de impacto ambiental (EIARima) e autorização de outras instituições, caso necessite cortar árvores, usar muito água ou atingir área de proteção ou hidrovia federais. Nesse caso, terá de bater na porta do Ibama. Por baixo, gastará mais de 20 mil reais.

Quadro das exportações
Produtos negociados no mercado internacional (em US$ milhões)