quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O mapa do tesouro

O mapa do tesouro

Principais áreas de ocorrência de pedras preciosas e metais nobres do Brasil. A sobreposição de cores identifica regiões potencialmente explosivas. Segundo levantamento, há mais de 200 garimpos em reservas indígenas



Saudade dos olhos da miss

Saudade dos olhos da miss


RAFAELA Menditi, capixaba de Mimoso do Sul, de olho nas gemas expostas na 17a Fipp: “Se eu tivesse dinheiro, compraria todas elas”
O Brasil é uma das sete “províncias gemológicas” mais importantes do planeta, com produção em todos os estados, alguns dos quais destacam-se também pela exclusividade. Por exemplo, o Piauí, único produtor de opalas brancas, descobertas em 1973, e a Paraíba, terra das “turmalinas paraíba”, pedras azuis e verdes de rara beleza, encontradas pela primeira vez em 1989. Ouro Preto, MG, também faz parte desse grupo. Na antiga Vila Rica encontram- se as únicas jazidas de topázio imperial rosa do planeta. A Bahia destaca-se pela produção de esmeraldas, safiras e águas-marinhas, além de diamantes. O Rio Grande do Sul, pelas ametistas, ágatas, citrinos, cristais de rocha e outras. O Pará, pelo ouro. Minas, por dezenas de pedras – o estado não tem esse nome à toa. Água-marinha, opala, morganita, topázio, safira, rubi, turmalina, berilo, rubelita, cristal de rocha, quartzo, ametista, pirita (mineral chamado “ouro dos trouxas”), citrino, calcedônia, cornalina, ágata, alexandrita, amazonita, rutilo, brasilianita, granada, hematita, iolita, turquesa, olho-de-gato, espodumênio, ônix, kunzita, lazulita, malaquita, obsidiana, pedra-da-lua, diamante etc., o país guarda gemas coradas de todas as cores e tonalidades, várias delas multicoloridas como a opala nobre ou a turmalina “melancia” – lapidada a partir de cristais com a cor verde por fora, uma fina camada branca e o miolo rosa. 

O Brasil produz 90 tipos diferentes de pedras preciosas. Há de tudo no mercado. Pedras sintéticas, artificiais, coloridas por irradiação, tratadas por difusão, tingimento, imersão em óleo e outras técnicas. Encontra-se até diamantes sintéticos, embora ainda de qualidade inferior àqueles formados há milhões de anos no interior da Terra, de cujo magma emergiram para cristalizar em Diamantina, Gran Mogol, no mundo inteiro, enfim, para satisfação de seu Ida, Totôca, seu Marão e tantos outros. 

A degradação ambiental oculta pelos garimpos de topázio imperial no Alto Maracujá

A degradação ambiental oculta pelos garimpos de topázio imperial no Alto Maracujá

O garimpo é uma atividade de extração mineral existente já há muito tempo no mundo. Os primeiros sinais dessa atividade datam do século XV, com os europeus que partiam em busca de novas terras para conquistar suas riquezas minerais. No Brasil, os garimpos começaram a despontar com maior destaque no século XVIII, com as campanhas em busca de ouro e diamantes no estado de Minas Gerais.
Para melhor entendimento, o garimpo é uma forma de extrair riquezas minerais (pedras preciosas e semipreciosas são mais comuns) utilizando-se, na maioria das vezes, de poucos recursos, baixo investimento, equipamentos simples e ferramentas rústicas. Segundo a legislação brasileira vigente sobre mineração, a atividade garimpeira é considerada uma forma legal de extração de riquezas minerais desde que atenda a determinadas regras e obrigações. É facultado a qualquer brasileiro ou cooperativa de garimpeiros que esteja regularizado no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão no país que controla todas as atividades de mineração.
O garimpo se torna problema justamente porque a maioria deles segue às margens da lei. Infelizmente, no Brasil, muitos garimpos quase sempre estão associados a confrontos, assassinatos, roubos, disputas de terra, prostituição, vícios, insegurança, impunidade, patrocínio de armas e narcotráfico e à degradação ambiental. Isto porque os garimpos ilegais são extremamente difíceis de serem controlados. Situam-se em regiões de difícil acesso, são dispersos pelo país, é migratório e não há regularidade na mão-de-obra e no regime de trabalho. Há muitos riscos para se estudar diretamente essa atividade. Dentro deste cenário se insere o garimpo de topázio imperial no Alto Maracujá, no distrito de Cachoeira do Campo, município de Ouro Preto, Minas Gerais. Este garimpo se enquadra muito bem em parte das descrições expostas anteriormente.
O Alto Maracujá vem sofrendo desde a década de 1970, com a ação de garimpos de topázio imperial. O nome Alto Maracujá se refere à região que abriga as nascentes do rio Maracujá, afluente da margem esquerda do rio das Velhas, este último afluente da margem direita do rio São Francisco.
Revista Gems&Gemologist
Topázio imperial lapidado
O topázio imperial é uma pedra preciosa de beleza impressionante, porém muito rara na natureza. Logo, tem valor de mercado muito elevado, o que aguça a procura pelos garimpeiros.
Desde 1750, o topázio imperial é extraído na região de Ouro Preto. Esse município é considerado, atualmente, como o único local no mundo onde ainda é possível se extrair este mineral em condições econômicas viáveis, visto que a formação geológica permite sua retirada com o mínimo de danos possíveis à sua estrutura. Uma pedra de topázio imperial que sofre danos físicos, apresentando-se trincada ou lascada, tem seu preço desvalorizado no mercado.
O Alto Maracujá tem toda sua área praticamente exposta à ação dos garimpos de topázio imperial. Quase todos os pontos de extração do mineral são clandestinos, o que agrava a situação. São utilizados métodos de lavra agressivos em termos ambientais além da grande quantidade de água gasta na extração e lavagem do topázio.
O rio Maracujá é formado basicamente por quatro córregos: Cipó, Arranchador ou Ranchador, Caxambu ou Olaria e Cascalho. Os garimpos se concentram, em sua maioria, no leito, às margens e nas cabeceiras dos córregos Cipó e Caxambu. O Cipó é considerado o principal córrego formador do rio Maracujá. Logo, todas as atividades que geram degradação ambiental nesse curso d'água afetam de forma negativa grande parte do rio. Os córregos Cascalho e Arranchador são os únicos que se encontram em melhor qualidade ambiental. O Cascalho, porque não há ocorrência de topázio em suas margens e leito, e o Arranchador, devido à ação efetiva da proibição de garimpos pelos proprietários das terras por onde ele passa.
O topázio imperial é geralmente encontrado a profundidades que variam de dois a sete metros na região do Alto Maracujá. É comum a existência de uma camada de solo que encobre os veios de cascalho (quartzo) onde está embutido o topázio. A retirada dessa camada de solo é feita por meio de escavação com picareta, enxadas e enxadões ou trator, quando o garimpo é semimecanizado. Essa operação é uma das principais causadoras da degradação ambiental e dos acidentes de trabalho na região. O solo exposto é carregado pela água da chuva ou dos próprios córregos, quando em períodos de cheias, e os sedimentos se espalham pela bacia, gerando o que se conhece como assoreamento. Este impacto dificulta a sobrevivência de peixes, entope canais e tubulações, muda o curso dos córregos bruscamente, aumenta os riscos de enchentes, além de proporcionar um aspecto visual negativo ao espelho d'água, degradando a paisagem.
Além do assoreamento, o garimpo instalado junto às margens dos córregos promove a retirada de boa parte das matas ciliares e de cabeceira, que são formações vegetais essenciais à proteção não só das águas, mas principalmente das nascentes (áreas de recarga). Na região, não é difícil visualizar árvores derrubadas lançadas no leito dos córregos. Esta prática é crime porque vai contra o Código Florestal que proíbe atividades desse tipo em áreas como as descritas acima.
Margem do córrego Cipó destruída por garimpo
Muitas vezes são construídas pequenas barragens rudimentares para a lavagem do solo e cascalho que contêm o topázio. Essas barragens modificam o curso dos córregos, fazendo com que eles atinjam estradas e pastos de pequenos sítios da região, causando prejuízos consideráveis principalmente no período das chuvas.
Como se não bastasse a degradação ambiental, os garimpeiros e pessoas que trabalham e trafegam pela região estão expostos a uma série de riscos de segurança e saúde ocupacional. Como as escavações para a retirada do topázio são realizadas sem técnica, há riscos de desmoronamento constantes. Já houve vários casos de acidentes fatais. Outros riscos podem ser citados tais como problemas ergonômicos, doenças devido ao trabalho exposto à intensa umidade, alcoolismo, brigas entre garimpeiros, assassinatos, quedas em buracos sem proteção ou cheios de água e lama, etc.
Barragens feitas no leito do Córrego Cipó
Enfim, os problemas são muitos para serem descritos. Tanto a polícia do meio ambiente quanto a prefeitura local vêm tentando resolver o problema, mas o nível de complexidade da situação, somado à falta de aparelhamento dessas entidades, inibe uma solução a curto prazo.
Realmente, soluções definitivas para esse problema estão muito longe de serem alcançadas. Isto porque os garimpos geram impactos não só nos meios físico e biótico, como também no social. A criação de uma cooperativa de garimpeiros seria uma alternativa, porém, não se sabe com precisão quantos são, quem são e onde estão esses trabalhadores. Não existe um censo que demonstre com certeza a massa trabalhadora que se expõe nas frentes de lavra dos garimpos de topázio imperial do Alto Maracujá. Informações extra-oficiais indicam que existem pais de família que dependem desse trabalho para sustento familiar devido ao desemprego, assim como existem pessoas de má índole, aventureiros, aqueles que buscam o garimpo de topázio como fonte de renda extra, aqueles que tem o garimpo como vício e não querem mudar de situação, grandes empresários que agem nos "bastidores" e pessoas com grau de instrução considerável, estes últimos fazem tanto estrago quanto aqueles garimpeiros sem instrução, o que é mais lamentável ainda.
Uma das nascentes do córrego Cipó destruída pelo garimpo
O que é necessário se fazer hoje pela "saúde" da bacia do rio Maracujá, bem como pela segurança dos seres humanos envolvidos direta ou indiretamente no garimpo, é um estudo de grande porte, abrangendo diversas áreas do conhecimento, de forma a identificar todos os problemas detalhadamente nos campos físico, biótico e socioeconômico para que as alternativas de solução possam ser mais bem elaboradas e aplicadas. O certo é que o foco deve ser direcionado para a informação do garimpeiro e a tentativa de persuadi-lo de que suas ações impensadas corresponderão a reações irreversíveis no futuro não só dele mas dos seus descendentes. O que foi percebido nos estudos de campo é que vários garimpeiros sabem que seu trabalho prejudica o meio ambiente. Provavelmente, as medidas a serem tomadas para mudança desse panorama devam começar por esses elementos.
O rio Maracujá está sujeito a problemas de poluição muito parecidos com os de outros rios brasileiros. Logo, a revitalização da bacia tem que passar por políticas públicas de saneamento e investimento em informação. A questão do garimpo é só mais um agravante que influencia a já crítica situação do rio.
Programas de educação ambiental devem ser realizados junto à população, principalmente nas escolas, para que todos tomem consciência de que a água é um bem essencial ao ser humano. Este deve protegê-la com sabedoria , para que um dia ela não se torne artigo de luxo, como já anda acontecendo em muitos lugares do planeta.
Cascata do Dom Bosco formada pelas águas do rio Maracujá
E quanto ao garimpo? Bem, os recursos minerais existem na natureza para serem utilizados. Afinal, muitos deles são essenciais à vida da sociedade moderna. O que se deve levar em consideração é que é possível se fazer garimpo, ou mineração em geral, com responsabilidade social e ambiental. Basta haver investimento, boa vontade, e trabalho dentro das normas técnicas e de desenvolvimento sustentável.

Pedras Preciosas no Brasil


O Brasil é um país muito rico em pedras preciosas. As mais presentes nessa região são o diamante, opala, água-marinha, esmeralda, alexandrita, ametista, ágata, citrino, topázio e turmalina.
Os garimpos são muito conhecidos e numerosos por aqui, o que faz de nosso país um dos maiores produtores de pedras preciosas do mundo, em se tratando de quantidade, variedade e qualidade.
O que faz com que nossas regiões sejam ricas dessas gemas é o fato do território brasileiro ser repleto de superfícies de rochas pré-cambrianas, com vários cortes de pegmatitos e rochas metamórficas.  
Durante 141 anos, o Brasil liderou a produção mundial de diamantes. Atualmente, encontra-se em 5º lugar no ranking de produção mundial de diamante bruto, segundo pesquisa do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral).
A opala é bastante encontrada no Piauí, principalmente na região da Serra dos Matões. A água-marinha pode ser encontrada em diversas regiões, fazendo com que o Brasil seja o maior produtor mundial dessa espécie de gema.
A esmeralda, desde a década de 80, também tem sido bastante encontrada, o que fez com que o Brasil se tornasse, desde essa época, um dos maiores fornecedores dessa pedra. A maior região de garimpo da esmeralda está no município de Carnaíba, na Bahia.
A alexandrita, uma das pedras preciosas mais valiosas, foi descoberta em Minas Gerais, no município de Malacacheta. A partir dos anos 70, o Brasil se tornou um dos maiores produtores dessa gema.
A ametista, bastante encontrada na região sul do país, também faz com que o Brasil leve o título de maior produtor da espécie de gema. Uma cidade do Rio Grande do Sul, Ametista do Sul, foi até batizada com o nome da pedra.
A ágata foi descoberta em jazidas na Bahia, Rio Grande do Sul, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Paraíba e Minas Gerais. O citrino, topázio e a turmalina também são gemas encontradas em em bastante quantidade no Brasil.

Saiba mais sobre a primeira mina de ouro do Brasil

Saiba mais sobre a primeira mina de ouro do Brasil

O pico do Jaraguá, na zona oeste de São Paulo, já foi o lugar que recebeu as antenas de TV da cidade. Muito antes disso, era o cenário da primeira mina de ouro do Brasil colônia. A exploração do minério chegou ao extremo sul do país quase dois séculos antes de descobrirem metais preciosos e diamantes na futura Minas Gerais

A busca pelo ouro e outras riquezas minerais norteou as primeiras aventuras ibéricas no Novo Mundo. Na carta enviada ao rei de Portugal informando sobre o descobrimento do Brasil, Pero Vaz de Caminha lamentava o fato de não ter encontrado ouro ou prata nas novas terras. Anos depois, o governador-geral Martim Afonso de Sousa enviou expedições mata adentro em busca de metais e pedras preciosas. Sem sucesso. Mais sorte deram os espanhóis, que acharam prata no Peru, em 1545. No Brasil, as boas notícias só começaram após o início da colonização do planalto. As primeiras descobertas de ouro não foram em Minas Gerais, mas no Pico do Jaraguá, em São Paulo. Conhecido por ser o ponto mais alto da região metropolitana, com 1 135 m de altitude (o que justifica as antigas antenas de televisão espetadas no cume), hoje as pessoas escalam o morro em busca de um mirante para ver a paisagem da capital paulista. No final do século 16, porém, elas eram atraídas por outra beleza: a do ouro.


Muito antes do ciclo do ouro ocorrido em Minas Gerais, no século 18, o Jaraguá atiçava a cobiça dos mineradores por abrigar jazidas do minério. Não só ali, mas em outros pontos da atual Grande São Paulo, como a Serra da Cantareira, Guarulhos e Santana de Parnaíba. No Ribeirão das Lavras, região onde séculos depois seria construído o Aeroporto Internacional de Guarulhos (Cumbica), havia um garimpo que funcionou até o século 19. Depois, os exploradores foram descendo pelo Vale do Ribeira em direção a Paranaguá, no Paraná, e ao norte catarinense. "Onde havia aldeias de índios geralmente havia ouro por perto", explica o arquiteto e historiador Nestor Goulart Reis, professor titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, que catalogou 150 minas de ouro localizadas entre São Paulo e o norte de Santa Catarina. Para dar conta da movimentação e evitar a sonegação de impostos, no final do século 17, havia três casas de fundição nas capitanias do sul: em São Paulo, Iguape e Paranaguá. Fundadas pela Coroa portuguesa, as casas de fundição eram as responsáveis pela cobrança do "quinto" ¿ o imposto sobre a mineração do ouro. Apenas em terras paulistas foram extraídas 4 650 arrobas de ouro entre 1600 e 1820. É pouco se comparadas às 35,8 mil arrobas produzidas em Minas Gerais entre 1700 e 1820. Mas, se não ganharam em quantidade, os paulistas podem se orgulhar de abrigar as primeiras minas para a exploração do minério na colônia.

"A mineração no Brasil começou em São Paulo, e não em Minas Gerais", explica Goulart Reis. Os primeiros registros sobre o minério começaram logo após a fundação de São Vicente, em 1532. Em cartas à Lisboa, os padres jesuítas relatavam a existência da "itaberaba" (pedra que brilha, em tupi), que os índios traziam do planalto para o litoral. O corsário inglês Thomaz Cavendish, que atacou São Vicente em 1588 e 1591, teria recebido "itaberabas" que os índios trouxeram da Mutinga, local junto ao Rio Tietê, próximo do Morro do Jaraguá. Registros mais consistentes surgiram entre o fim do século 16 e o começo do 17. Em 1604, o garimpeiro sertanista Clemente Álvares informou à Câmara da Vila de São Paulo que desde 1592 vinha explorando ouro nas regiões do Jaraguá e Cantareira. Em 1604, o mercador português Afonso Sardinha, o Velho, declarou, em seu testamento, 800 mil cruzados em ouro em pó (enterrados em botelhas de barro). Já em 1599, época da união ibérica entre Portugal e Espanha, o governador-geral do Brasil, dom Francisco de Sousa, por ordem da Coroa espanhola, passou um período na vila de São Paulo, atraído por notícias de ouro e ferro na região. "O que poderia levar um governador-geral a trocar uma cidade como Salvador, que já tinha 10 mil habitantes, por um lugar que possuía 180 habitantes, entre portugueses e mestiços?", indaga Goulart Reis, que até o fim do ano lançará o livro As Minas de Ouro e a Formação das Capitanias do Sul. Ao explorar o processo de mineração nas capitanias de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, entre os séculos 16 e 19, o pesquisador trouxe à tona informações pouco conhecidas do público e dos próprios historiadores.


Os jesuítas, por exemplo, foram donos de minas de ouro descobertas em fazendas da Companhia de Jesus em São Miguel Paulista, Santo Amaro e Embu-Guaçu. As lavras nesses locais foram abandonadas após a expulsão dos jesuítas pelo marquês de Pombal, em 1759. A mão de obra utilizada nas lavras das capitanias do sul era a indígena, que usava métodos rudimentares de mineração, como o bateiamento. Porém, com uma novidade: eram assalariados. "Essa ideia de que todo índio era escravo é mentira", diz Reis. O pagamento era feito com utensílios de ferro (anzóis, enxadas e machadinhas), novidade trazida pelos portugueses. Junto com a exploração do ouro surgiu outra atividade econômica importante na São Paulo seiscentista: a busca por ferro. "Desde os primeiros tempos da colonização houve em São Paulo uma atividade mineradora constante, e não foi só de ouro", explica o jornalista Jorge Caldeira, autor de O Banqueiro do Sertão. No livro, Caldeira conta a trajetória do padre Guilherme Pompeu de Almeida (1656-1713), um negociante paulista que emprestava dinheiro aos exploradores do ouro e virou banqueiro.

Filho de um industrial da época, também chamado Guilherme Pompeu de Almeida, o padre almejava um posto na Companhia de Jesus, mas casou-se com uma índia e virou um dos maiores capitalistas da época. Para ter uma ideia da riqueza, em sua casa em Araçariguama, nos arredores de Santana de Parnaíba, havia 100 camas para abrigar os hóspedes, cada uma com um penico de prata embaixo.

Segundo Caldeira, a febre do ouro no sul do Brasil ainda é pouco conhecida. "Estuda-se pouco o período e com certo preconceito", diz. Ele cita a ideia de que São Paulo era, no século 17, uma capitania pobre, com comércio ralo e praticamente desabitada. "Havia uma economia dinâmica e um mercado interno importante", diz Caldeira, citando o pai do padre Guilherme, dono de uma fundição na região conhecida como Morro do Voturuna, em Santana de Parnaíba. "Ele produziu ferro em escala suficiente pra tornar-se um dos homens mais ricos de São Paulo sem nunca ter de exportar nada, atendendo apenas ao mercado interno e, eventualmente, ao Rio de Janeiro". Já o filho padre deixou em testamento para os jesuítas uma fortuna que incluía 115 kg de prata. Goulart Reis concorda com Caldeira: "Em 1700, as capitanias do sul possuíam a mesma quantidade de vilas e cidades do norte, que englobava a Bahia e Pernambuco". "Isso se deve à mineração, ao trigo e ao comércio." Em dois anos de pesquisas, Reis cruzou informações e transportou para o livro dados curiosos: o nome Bonsucesso, por exemplo, só aparecia em áreas de mineração. É o caso do bairro com esse nome em Guarulhos. A partir de 1697, com a descoberta de lavras em Minas Gerais, a mineração no sul começou a entrar em decadência. "Decaiu, mas não acabou", diz Goulart Reis, citando minas ativas no Vale do Ribeira e no entorno de Curitiba até o fim do século 18. No Jaraguá e na Cantareira, o garimpo ocorreu até o começo do século 19, assim como no interior do Rio Grande do Sul.