quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O último garimpeiro

O último garimpeiro

Motorista do Centro de Geologia da UFMG em Diamantina, Geraldo Damaso, já viveu do garimpo e agora mantém uma coleção de mais de 300 pedras



  • Geraldo Damaso exibe, orgulhoso, sua coleção de pedras preciosas ainda colhidas nas montanhas de Diamantina e expostas na sala de motorista do Centro de Geologia da UFMG. Fotos: Felipe Sáles
    Geraldo Damaso exibe, orgulhoso, sua coleção de pedras preciosas ainda colhidas nas montanhas de Diamantina e expostas na sala de motorista do Centro de Geologia da UFMG. Fotos: Felipe Sáles
    As montanhas que circundam Diamantina, recheadas de pedras que reluzem à luz do sol, inevitavelmente remetem às abundantes muralhas de preciosidades de um tempo que se foi. Poucos imaginariam que um verdadeiro tesouro extraído dos antigos garimpos está hoje reunido na sala de motorista da Casa da Glória, onde funciona o Centro de Geologia Eschwege, órgão do Instituto de GeoCiências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). São mais de 300 pedras, algumas raríssimas, mantidas por Geraldo Vieira Damaso, de 53 anos. O motorista Geraldinho, como é conhecido, chegou a achar três diamantes – um deles verde, o mais valioso –, até um acidente de bicicleta mudar seu destino e transformá-lo num dos últimos garimpeiros diamantinenses a lucrar com os minerais da cidade e, de quebra, acumular conhecimentos geológicos de surpreender profissionais do ramo.
    Quando tinha 18 anos, Geraldinho sucumbiu à influência de um amigo que, para fugir do marasmo, sugeriu tentar a sorte da fortuna. Passava mais de 10 dias embrenhado nas montanhas diamantinas em busca do ouro perdido – aventura que, na década de 1980, ainda valia a esperança. Tanto que, um dia, encontrou seu primeiro diamante.
    “Na época, valia mais do que um ano inteiro de trabalho. Como Diamantina é uma cidade pequena e não tem muita coisa para fazer, fui convencido por amigos a tentar a sorte no garimpo. Valeu a pena, embora tudo tenha sido dividido com meu amigo de garimpo, como de costume, e com o dono da terra que cobrava de 10% a 15% por cada achado”, lembra.
    Logo vieram mais dois diamantes – um deles, o cobiçado verde. Graças ao garimpo, conseguiu comprar um lote de terra – onde, mais tarde, ergueria sua atual residência – e a famigerada bicicleta. Montado nela, Geraldo atropelou o filho de um vizinho, tentou fugir e, antes de dar a volta no quarteirão, deu de cara com o enfurecido pai do menino. O acidente lhe valeu uma surra memorável do seu pai e o fim das aventuras nas montanhas.

    Sua coleção fica exposta a estudantes e turistas que visitam a histórica Casa da Glória, onde funciona o Centro de Geologia da UFMG
    Sua coleção fica exposta a estudantes e turistas que visitam a histórica Casa da Glória, onde funciona o Centro de Geologia da UFMG
    Revolta do garimpo
    De promissor homem de bens, Geraldo passou a ganhar a vida lavando peças de automóveis na oficina de um amigo. A revolta só não foi maior porque, logo depois, veio a proibição do garimpo – durante séculos, a principal atividade econômica da população e que levou, inclusive, à fundação da cidade. Até reencontrar os tempos de bonança no turismo histórico, o povo de Diamantina viveu à míngua de quaisquer perspectivas. Garimpeiros fecharam as ruas da cidade e chegaram a montar acampamento em frente à prefeitura durante mais de um mês, com direito a fogueira para a comida, como costumavam fazer no meio do mato.
    Geraldo até protestou junto com os colegas, sonhando em um dia voltar à atividade. Mas não teve jeito. Acabou passando no concurso para motorista da UFMG, artimanha do destino para mantê-lo novamente perto das preciosidades.

    Geraldo exibe a bateia com a qual já encontrou três diamantes
    Geraldo exibe a bateia com a qual já encontrou três diamantes
    Pesquisador autodidata
    Como motorista do instituto, ele acaba acompanhando – e ensinando a prática da garimpagem a – muitos estudantes e pesquisadores que visitam as montanhas. Entre idas e vindas, ainda encontra uma pedra mais valiosa. Transformou o antigo trabalho em hobby que, por sua vez, foi convertido em renda extra. Com as negociatas junto a colecionadores como ele, Geraldo tornou-se um dos últimos “garimpeiros” que ainda ganham dinheiro com as riquezas minerais de Diamantina.
    Todo o seu tesouro fica em exposição para os visitantes que veem, além de pedras preciosas, sua antiga bateia – a peneira usada por ele e com a qual encontrou os diamantes – que  herdou de um velho amigo garimpeiro. Mesmo sem ter concluído o Ensino Médio, Geraldo demonstra conhecimento de fazer inveja a muito especialista. Ouvindo um professor aqui, um estudante acolá, ele acabou aprendendo e contando com a ajuda de professores da universidade, que incentivam seu aprendizado doando livros sobre o assunto.
    “Entre os mais raros que tenho estão um quartzo com inclusão flúdica, uma turmalina preta, também conhecida como afrizita, que ainda tem feudispato e outros minerais...”, ensina, em tom professoral, até deixar escapar o mineirêstradicional. “Eu gosto desse negócio de pedra, moço, tem jeito não, sô...”

Conheça a brasileira que viveu vestida de homem entre garimpeiros


No município de Curionópolis, no sudeste do Pará, começou a história de vida da enfermeira Idelzuite Fontes. Quando jovem foi proibida de trabalhar.


Amazônia
Globo Repórter Amazonia 3 (Foto: Rede Globo)Globo Repórter Amazonia (Foto: Rede Globo)
No município de Curionópolis, no sudeste do Pará, começou a história de vida da enfermeira Idelzuite Fontes. Quando jovem foi proibida de trabalhar.
“A única forma que eu encontrei foi me vestir de homem e todos os trajes de homem. O meu disfarce era boné, o bigode postiço e calça comprida, sempre gostei de calça, camisa. Fiquei assim 8 meses”, contou Idelzuite Fontes.
Idelzuite viveu um dos momentos mais ricos e também trágicos da história de milhares de Brasileiros. Serra Pelada, o maior garimpo a céu aberto do mundo. Mais de 80 mil trabalhadores vieram pra cá.

O complexo mineral foi descoberto na década de 70. O documentarista inglês Adrian Cowell filmou por mais de dez anos os milhares de corpos recobertos de barro da cabeça aos pés.
“Se eu trabalhasse à noite todinha limpando ouro, eles me pagavam a quantia de 8 a 10 gramas de ouro”, disse Zaqueu Ferreira Neto, ex-garimpeiro.
Picaretas na mão, homens vindos do Ceará, do Pernambuco, do Maranhão, de todos os cantos do país enxergavam lá uma chance de melhorar de vida .
“E a senhora conseguiu ganhar dinheiro em serra pelada?”, perguntou a repórter Daniela Assayag.
“Eu não cheguei porque quando estava perto, perto mesmo, próximo de eu pegar bastante ouro, foi a época que o garimpo fechou”, disse Idelzuite.

O formigueiro humano ficou para trás, histórias de vida enterradas. No lugar onde funcionava o garimpo, agora é um imenso lago que toma conta da paisagem. Os barrancos ficaram submersos. Não existe mais a corrida pelo ouro, mas essa região continua rica em minérios. Uma associação de 38 mil garimpeiros hoje é dona desse lugar.
Idelzuite agora trabalha como enfermeira. Mas nunca esqueceu da vida no garimpo. “Eu vi trabalho, eu vi escravidão, eu vi brigas”, contou.
E muitas tragédias. Cerca de 50 pessoas morriam por ano nas avalanches de terra.
“Eu cheguei a ver um garimpeiro soterrado com as mãos pra cima, e ele morreu. Foi uma cena assim que eu nunca vou esquecer é como se eu tivesse vendo sempre”, disse Idelzuite.
“E a senhora nunca teve medo disso acontecer com a senhora quando a senhora estava lá?”, questionou a repórter.
“Você teme, todo mundo teme a morte, mas aquele medo, medo de morrer nunca tive”, respondeu Idelzuite.
A última pepita de ouro foi retirada de lá em 1992. A partir daí os trabalhadores passaram a viver de bicos. E até hoje é assim. A famosa vila de Serra Pelada ainda existe. São cerca de sete mil moradores em centenas de barracos, quase todos de madeira. As ruas não têm calçamento. Não existe rede pública de iluminação. A luz é clandestina. A água não recebe tratamento.
O fundo do lago, a mais de cem metros de profundidade, está cheio de mercúrio, que era usado para garimpar o ouro. A paisagem é bonita, mas ninguém pode tomar banho ou beber água. Foi a herança que ficou para os moradores da vila de serra pelada.
“Essa água não serve pra nada. Essa água pra gente, pelo nosso entendimento, ela está poluída, jamais, a gente sequer põe os pés dentro”, afirmou uma mulher.
De olho nos negócios, os 38 mil garimpeiros fecharam um acordo inédito na história. Se associaram a uma empresa multinacional que ganhou o direito de explorar toda essa área. No lugar das antigas bateias, máquinas. A tecnologia está por toda parte.
Os primeiros levantamentos feitos pela empresa canadense no terreno indicaram a presença de, pelo menos, 50 toneladas de metal precioso, ouro, platina, paládio. A "Nova Serra Pelada", como foi batizada, deve entrar em operação no segundo semestre de 2013.
“Hoje seria difícil garimpar do jeito que era garimpado há 30 anos atrás?”, perguntou a repórter.
Não tem como, não tem como porque o garimpo ficou muito fundo, não tem como não ser mecanizado. Manual acredito que não. Tem que ter máquina”, respondeu Zaqueu.
A retomada da produção em Serra Pelada, agora mecanizada, é a esperança de uma vida mais tranquila financeiramente pra esse povo.
“A senhora acha que serra pelada foi um lugar que fez bem ou fez mal para as pessoas?”, questionou Daniela Assayag.
“Ela fez o bem porque foi uma descoberta, todo mundo trabalhou, quem pegou ouro pegou, quem não pegou viveu, viu a história. Isso o bem. O mal foi porque muitas famílias, muitas mulheres ficaram viúvas, os esposos vinham pra trabalhar aqui e nunca mais retornavam então ficou muita viúva por causa de serra pelada”, disse Idelzuite.
Hoje, esposa e mãe de 4 filhos, Idelzuite ainda se emociona ao falar de Serra Pelada. Com orgulho guarda, numa caixinha, em casa, os documentos da época de garimpeira.

“Eu não fiquei rica, mas vivi a história. Pra mim é a melhor lição de vida”, completou Idelzuite.
 

História de Serra Pelada: da primeira pepita ao fechamento do garimpo

História de Serra Pelada: da primeira pepita ao fechamento do garimpo


Estima-se que cerca de 120 mil pessoas viveram ali eno auge do garimpo, de 82 a 86. A primeira pepita foi encontrada em dezembro de 79, por um vaqueiro da fazenda do velho Genésio, dono daquelas terras. A fofoca correu e, entre fevereiro e março de 80, mais de 30 mil homens chegaram ao local. A princípio o ouro era só na Grota Rica, um curso dŽágua que dava pepitas na raiz do capim, nem precisava cavar quase nada. Não demorou muito para encontrarem um dos maiores depósitos de ouro do mundo logo ali ao lado, a aberração geológica que conhecemos como Serra Pelada.

  • Breno Castro Alves/UOL
    Núcleo de extração do ouro em Serra Pelada, em foto de 1983, época do "formigueiro humano"...

Começaram a descer os barrancos. Quem chegasse ali primeiro e demarcasse seu espaço era o dono da área. Todo mundo com um revólver 38 na cintura, não havia disputa física e a palavra do homem valia. Os barrancos mediam 2 m x 3 m e iam descendo, saindo dali em sacos nas costas dos trabalhadores. As pepitas eram mais raras, o grosso estava em pó. O solo retirado era quebrado, lavado e passado no mercúrio, material que se liga e concentra o ouro. Ao aquecer a mistura dos dois metais o mercúrio evapora primeiro, deixando para trás a riqueza dourada que motivou toda essa história.

O lucro e os custos do ouro, ambos muito altos, ficavam para os sócios do barranco. Os trabalhadores recebiam diárias e uma pequena porcentagem na exploração, que com um pouco de sorte seria uma fortuna. Muita gente enricou, reinvestiu, perdeu tudo, enricou novamente. Era uma loteria, mas com chances elevadas de acerto. O título de maior garimpo do mundo não é gratuito, custou muito ouro.

Água no Tilim
Em 84, o presidente Figueiredo pagou uma indenização de US$ 69 milhões à Vale, então a estatal Companhia Vale do Rio Doce, que detinha o direito de exploração mineral da área, incorporado da Amazônia Mineração S/A em 1981. O acordo previa o fechamento do garimpo em três anos ou por mais vinte metros de profundidade, quando alcançaria a a cota 190, número que representa a altitude em relação ao nível do mar. O garimpeiro entendeu o interesse da companhia naquele depósito e a cota 190 alcançou patamar quase mítico, muitos sustentando que ali 60% ou 70% de todo o material seria ouro puro. A descida foi desenfreada e aumentou a cobrança de vidas nos barrancos que, sem estrutura, desabavam soterrando garimpeiros na própria riqueza que buscavam.

  • Breno Castro Alves/UOL
    A riqueza passada sobrevive nos dentes e no pescoço dos homens

Em 85, próximos à sonhada cota 190, o buraco foi interrompido pelas autoridades. Desligadas as bombas de sucção, o Tilim, ponto mais profundo da cava, encheu de água no irrigado solo amazônico. Utilizando o argumento da segurança, fecharam aquele garimpo para abrir novo bem ao lado.

Segurança nos homens
A nova descida prosseguiu de forma mais racional, menos íngreme em direção ao fundo e mais segura. Foi a partir de 1987, quando novamente se aproximavam da cota 190, que sabotagens e boicotes se tornaram freqüentes. Diversos motores das bombas de sucção foram inutilizados com areia e açúcar em suas engrenagens. De um dia para o outro o segundo Tilim amanhecia submerso, necessitando muito tempo de trabalho para drená-lo com as máquinas dos garimpeiros.

A passagem da água criava sulcos nas paredes da cava, aumentando muito o risco de desabamento. Em busca de segurança era preciso derrubar aquelas paredes frágeis dentro do próprio buraco que abriam, para só então recomeçar a cavar. Após muitos dias de trabalho voltavam ao ponto que estavam antes e não passava muito tempo até nova sabotagem ocorrer, exigindo repetir o trabalho. Essa estratégia quebrou financeira e moralmente o trabalhador que ainda insistia em sua busca. Em 88 se tornou inviável prosseguir e o garimpo em Serra Pelada, ao menos na cava, o buraco mais profundo, terminou. Para o garimpeiro, o mote "agua no Tilim e segurança nos homens" se tornou símbolo cínico da sabotagem que os impediu de chegar aos depósitos mais profundos de ouro.


Quadro atual

Ainda em 1987, antes do vencimento do prazo de três anos do acordo de 1984, o congresso aprovou lei aumentando o tempo de exploração da área pelos garimpeiros. Em seguida, sucessivos decretos ampliaram este prazo até 92, quando Collor conferiu novamente à Vale o direito de lavra da região. Dez anos depois, em 2002, o Congresso aprovou lei restabelecendo a possibilidade de garimpo e em 2004 foi a vez do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) definir que a garimpagem só poderia ser feita mediante cessão da Vale.

Em março de 2007, a empresa cedeu o direito de exploração à Coomigasp, que assinou com a mineradora canadense Colossus em julho do mesmo ano. Desde então a composição do cenário é a mesma, a empresa vem cumprindo sua parte e deve apresentar relatório técnico no final de 2009, para só então recorrer o alvará de lavra da área, que permite a exploração mineral.

Em sua parte mais profunda, o lago de Serra Pelada possui 120 metros de profundidade. Acima d'água não difere muito de um lago comum, talvez exceto pela montanha recortada que se projeta morro acima. Abaixo da superfície, depositadas no solo envenenado de mercúrio, estão sobrepostas camadas de ouro, lama, sangue e ganância humana.

PEPITAS DE OURO VOANDO: Implosões destroem garimpo da Serra do Caldeirão em Pontes e Lacerda

PEPITAS DE OURO VOANDO: Implosões destroem garimpo da Serra do Caldeirão em Pontes e Lacerda
As implosões tiveram início na manhã desta sexta-feira e devem ser concluídas ainda hoje, de acordo com a assessoria da Polícia Federal.



  
    


 
 As forças de segurança que atuam na desocupação do garimpo da Serra do Caldeirão, em Pontes e Lacerda (447 km de Cuiabá), realizam a implosão das escavações realizadas pelos garimpeiros. As implosões tiveram início na manhã desta sexta-feira  e devem ser concluídas ainda hoje, de acordo com a assessoria da Polícia Federal.
 
Com a utilização de explosivos, todas as galerias e frentes de trabalho abertas pelos garimpeiros na serra estão sendo destruídas e soterradas. Uma empresa especializada é a responsável pela realização dos procedimentos. A operação de destruição do garimpo teve início após a desocupação completa da área, concluída na última terça-feira.
 
A assessoria informou que, após as implosões, a Serra do Caldeirão continuará a ser monitorada pelas forças de segurança, formadas pelas polícias Federal, Rodoviária Federal, Militar, e Civil, para manter a ordem e a segurança do local e evitar que pessoas voltem a subir a serra.
 
A desintrusão da área é uma determinação da Justiça Federal, a pedido do Ministério Público Federal (MPF). Entre os principais motivos, está o fato de não haver autorização para exploração da área, o que torna o garimpo ilegal.
 
A falta de segurança e a contaminação do solo e da água com mercúrio também pesaram. Um deslizamento de terra ocorrido no dia 19 de outubro deixou cinco feridos. No total, mais de 5 mil pessoas, entre garimpeiros profissionais e amadores, teriam passado pelo garimpo da Serra do Caldeirão.

Conheça a história do homem que ganhou R$ 122 milhões e hoje está pobre

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De madrugada a temperatura cai bastante e ninguém consegue dormir sem cobertor. Uma espessa neblina encobre o garimpo quando esta estranha cidade no meio da selva, que já chegou a ter mais de 80 mil habitantes, começa a acordar para mais uma jornada. É sábado, um dia




  
    
 
Serra Pelada – O garimpo da ilusão
 
Ricardo Kotscho

De madrugada a temperatura cai bastante e ninguém consegue dormir sem cobertor. Uma espessa neblina encobre o garimpo quando esta estranha cidade no meio da selva, que já chegou a ter mais de 80 mil habitantes, começa a acordar para mais uma jornada. É sábado, um dia como outro qualquer em Serra pelada, onde o fim de semana só começa ao meio-dia de domingo.

O barulho das britadeiras moendo o cascalho nos barrancos; procissão de vultos silenciosos caminhando para a cava; a rotina recomeçava. O zunido dos pernilongos ainda está nos ouvidos, suplício apenas para os forasteiros.

“Como é que se chama pernilongo aqui?”
“Carapanã que o senhor fala? Ah, não precisa chamar não. É só deixar a porta aberta que eles vêm sozinhos...”

Apesar das precaríssimas condições de vida e trabalho no garimpo, o bom humor predomina, e é raro ouvir alguém se queixar da vida. Explica-se: para a maioria deles, a vida lá fora era ainda mais dura, e sem qualquer perspectiva de melhora. Aqui todos têm trabalho e comida, com direito a sonhar.



Blefados ou bamburrados na loteria do garimpo

Quatro homens do barranco 26 jogam dominó. Libânio, Antônio, Vitorino e Francisco vieram do Maranhão há menos de um ano. Três eram estudantes, um trabalhava na roça. São meias-praças, vão ter direito a 5% do ouro que for encontrado no barranco – o pedaço que lhes cabe no imenso tabuleiro esculpido numa enorme cratera de 24.615 metros quadrados, com 1.200 metros de diâmetro e mais de 100 metros de profundidade – mas até agora não encontraram nada. O dono do barranco mora em Belém. Só vem de vez em quando para prover a turma de comida e óleo para a britadeira, comprar alguma ferramenta que falta. Por que eles estão aqui?

“É mais a necessidade de aventurar alguma coisa”.

Eles agora estão jogando dominó em pleno dia de trabalho porque, quando chegam as chuvas, o garimpo começa a ser desativado. Apenas uma pequena parte da cava, não mais do que 10% ainda tem condições de continuar funcionando. Dentro de poucos dias, eles irão embora para outro garimpo, o de Cumaru.

“A gente chega lá e vai caçar patrão. Tem muito serviço lá”, explicava Libânio.



O maior garimpo a céu aberto do mundo

A cada dia, lotando caminhões que ligam esta ferida aberta na selva, 130 quilômetros a Sudoeste de Marabá, a 13 localidades do Pará, Maranhão e Goiás, milhares de paus-de-arara do ouro vão deixando para trás, em meio à poeira, o maior garimpo a céu aberto do mundo.

São os blefados, que deixam para trás também sua saúde, seus sonhos de riqueza desfeitos. Nos teco-tecos e bimotores, que fazem a ponte aérea Marabá – serra Pelada, vão embora também os bamburrados, aqueles 2% de garimpeiros que ficam com 72% da renda de todo o ouro do garimpo descoberto no início dos anos 80 e festejado como o tesouro que resolveria os problemas do Brasil.

Homens enlameados até os cabelos, caminhando como formigas com sacos de cascalho nas costas e cavando como tatus, levantando poeira ou barco dentro de um grande buraco, o garimpo – esta é a paisagem humana que encontrei quando vim aqui a primeira vez, está fazendo quase oito anos. Naquele tempo, quase nenhum piloto se arriscava a ir para lá. Só os mais malucos. Motivos não faltavam, mesmo para estes suicidas pilotos de garimpo que topam qualquer serviço.

A pista improvisada no cabo de enxada era apenas uma tênue nesga de terra rasgada no meio da mata, quase sempre escondida pela chuva, a neblina ou a poeira. Cercada por morros, era também a principal e única rua do garimpo, vivia coalhada de gente. Descer lá sem problemas era como acertar sozinho na loto.

A imagem não é gratuita: Serra pelada sempre foi, desde o começo, um jogo, um contrato de altíssimo risco. Ali, a distância entre a riqueza e a miséria, a vida e a morte, a glória e o ridículo, o céu e a terra sempre foi muito pequena, nem dá para notar lá do alto. Estávamos em serra Norte, onde mais tarde viria nascer a República dos Carajás. O piloto não inspirava nenhuma confiança. Era um refugiado angolano que aceitava qualquer vôo e para ele tudo era lucro. Não sei o que me dava mais medo, se era o piloto ou o aviãozinho dele, todo remendado.

Meia hora depois, só céu e mata, quando já deveríamos estar chegando a Serra Pelada, o angolado começou a mostrar sinais de preocupação. Constatou simplesmente que estava perdido, a rota não era aquela. Tenta contatar outro avião pelo rádio, e nada. Para encurtar a agonia, depois de mais meia hora o homem conseguiu descobrir onde estava e gloriosamente vislumbramos o garimpo. Pela primeira vez na vida, e por pouco a última, ouvi um avião buzinando para pousar. O pessoal não saiu da pista, o angolano teve que dar uma arremetida toda torta e quase batemos num carro.

Quem mandava ali por todos os seus prepostos à paisana ou fardados era o Exército. Mais precisamente, o garimpo era comandado pelo major Curió (anos mais tarde, ele se elegeria deputado federal com os votos dos garimpeiros). Em poucas semanas, aquele pedaço de fim de mundo perdido na selva amazônica seria transformado num retrato três por quatro em branco e preto deste lugar do mundo chamado Brasil.

Quase meio milênio após a chegada dos descobridores portugueses, repetiam-se as mesmas cenas de devastação, depredação das riquezas naturais e humanas, o vale tudo na terra de ninguém. E reuniam-se novamente em busca do tesouro os senhores, os feitores e os escravos, aqui chamados de formigas, os homens expulsos de outras terras que chegaram ao fim da linha e tentavam sobreviver carregando sacos de terra molhada do garimpo até as máquinas dos seus proprietários, onde os sonhos passariam pela peneira.

Mas muita água correria pelo leito natural do igarapé da grota Rica, onde o filho de um certo Zezinho, protegido de Genésio Ferreira da silva, o antigo dono das terras da Serra Pelada, encontrou alguma coisa brilhando junto a uma bica d’água, em fevereiro de 1980, até se chegar aos confrontos entre os garimpeiros e a Polícia Militar do Pará sobre a ponte de Marabá, no final de 1987.

Da constatação de que se tratava de ouro o que o menino viu à invasão da fazenda, foi como um raio. Correm na Serra Pelada também outras lendas e versões. Uma delas dá conta de que o próprio Genésio encontrou ouro ao cavar um buraco para fazer cerca. Há quem garanta que quem encontrou ouro primeiro foi um tal de Pedrão, que limpava juquira (roçava o mato) para Genésio.



A lei do garimpo é desafiar a sorte

José Mariano dos Santos é um dos milhares aventureiros da Serra Pelada. Fiquei sabendo de sua história aos poucos, até ele ganhar a confiança da minha amizade. Na época, quando Marabá naufragou, levada nas enchentes, o garimpeiro José, o Índio, viu na televisão a notícia de que acharam o ouro em Serra Pelada. Pegou uma carona de caminhão até o KM 16 da estrada PA-150, que liga Marabá a Serra dos Carajás. Ali hoje é o entroncamento da estrada de terra que liga a rodovia asfaltada a Serra pelada, mas naquele tempo só havia um jeito: enfrentar a selva.

Índio já bamburrou e ficou blefado várias vezes, na gangorra das riquezas e misérias de Serra Pelada. Apesar de tudo, não se arrepende de ter largado a família na Baixada Maranhanse, onde trabalhava de terça na terra dos outros, ou seja, entregava ao dono da fazenda um terço do que produzia sua roça de arroz, milho, feijão, mandioca, o de sempre.

“A Serra para mim foi uma mãe” ia sempre me repetindo, sem ninguém perguntar.

Com outros trinta homens e uma máquina de lavar cascalho na cabeça, encarou o garimpo do ouro prometido, caminhando das seis da manhã às seis da tarde. Depois de passar dois dias com fome, vendeu a muda de roupa para conseguir comida, ajeitou-se num pedacinho de barranco da grota Rica e dali pára cá, “animei com o negócio, já tava lá dentro mesmo... era obrigado a passar fome, o que eu ia fazer? Não ia voltar”.



Fortuna e miséria na trilha do ouro

Como bichos, comendo e defecando no mesmo pedaço de terra, milhares de homens como Índio lançavam-se na grande aventura de ficarem ricos da noite para o dia. Para falar bem a verdade, a grande maioria nem sonhava tão alto, estava ali apenas para tentar sobreviver, longe da família e de qualquer resquício de vida, digamos, civilizada. Eram quase todos antigos lavradores, posseiros, homens que foram sucessivamente sendo expulsos das suas terras no Maranhão, no Paraná, em Minas, no Pará.


Índio chegou a ficar um ano e sete meses sem sair do garimpo, andando só de calção. “Já tava ficando doido. Mulher que conhecia era só a minha mãe...” resolveu ir para Belém. “Nunca tinha visto tanto dinheiro na minha vida, nem sabia como funcionava banco”. A esta altura, ele estava só no mundo. Sua mulher, Ângela Maria, com quem teve dois filhos, o havia abandonado depois de três anos de casamento. “Ela fugiu com outro, um motorista de caminhão. Eu era um braçal, ele era motorista, ela quis melhorar de vida...”

Ao bater com a picareta numa pepita de 13 quilos de ouro, Índio tinha ficado rico, mas agora já era tarde demais. A mulher e os filhos estavam longe, não tiveram paciência para esperar o resultado da loteria. A primeira coisa que fez em Belém foi o que fazem todos os garimpeiros bamburrados comprou um carro zero quilômetro. Como não sabia dirigir, contratou um motorista. Ele queria apenas um carro novo, mas logo descobriu que com o dinheiro do ouro daria para comprar 30 carros novos...

“Tanto dinheiro... Eu achava que era o homem mais rico do mundo. O carro era azul-metálico, todo mundo ficava olhando”. O motorista Domingos que, arrumou para roubá-lo nos oito dias em que dirigiu, conseguiu comprar dois táxis.

Mas Índio parecia conformado; dizendo que “o primeiro dinheiro que a gente pega, joga fora. Depois acaba aprendendo”.



Um estádio de futebol escavado a mão

Nem sempre isso é verdade. No garimpo, é como se não houvesse amanhã. O dinheiro corre rápido, assim como entra, sai. O que explica a multiplicação de bordéis, que depois se transformam em vilarejos em torno de Serra Pelada (até há dois anos, era proibida a entrada de mulheres no garimpo). Quem nunca perde nada é o Posto Serra Pelada. Bem em frente ao posto está instalado o depósito de gás engarrafado. O dono de tudo é um advogado paranaense, Milton Gatti, um dos pioneiros de Serra Pelada, que chegou a ter mais de 300 homens trabalhando nos seus barrancos.

Com o prazer de quem vai mostrar sua própria casa ao visitante, benedito Evaristo, paulista de São José do rio Preto, conhecido por Adão, seu nome artístico de cantor de música sertaneja, me lva até a cava, uma cratera do tamanho do Estádio do Morumbi escavado a mão! Em torno dela corre um riacho formado pelas águas do fundo do tilim, a parte mais baixa do garimpo, bombeadas por duas dragas. É a periferia do garimpo, lugar onde trabalham os requeiros.

Vizinho ao barranco de Adão, três paulistas fazem hora para bagere, o almoço no garimpo. Um bancário, um químico e um comerciante, que largaram tudo, estão há 60 dias sem sair daqui e não se queixam: “ouro tem, é só a gente ter paciência que encontra”. E se divertem com as histórias do garimpo. “Sabe como é que a gente fazia rabo-de-galo (pinga com vermute) aqui no garimpo? Era álcool com Biotônico Fontoura. Mas, agora, até o hospital ta proibido de usar álcool e as farmácias não podem mais vender biotônico...”, confidenciou-me o bancário.

Passado alguns anos, voltei lá, voltei outras vezes e dava para ver a olho nu que a degradação da natureza acompanhava a degradação humana, na mesma proporção – a revolta silenciosa e profunda se espelhando nos rostos de homens que já não tinham mais volta, que já tinham deixado tudo para trás e agora se apegavam ao buraco feito náufragos sem esperança de chegarem à terra, mas reunindo as últimas forças para se segurarem no barco virado.

Na terceira visita à Serra assisti uma cena trágica que não abandona. Destruídas as famílias e os sonhos perdidos, só filhos dos que foram aventurar-se em Serra Pelada perambulavam pelas ruas de marabá, de Imperatriz de muitas cidades. Meninas bonitas, que fariam sucesso nas colunas sociais, se tivessem dentes, se fossem bem cuidadas, ofereciam-se a qualquer um, para que as levassem junto, para qualquer lugar. Seus pais chegaram aqui buscando riqueza. Pois agora, as filhas imploram para sair de lá.

Com pás e picaretas, carregando sacos de terra nas costas, eles tiraram do mapa um morro com mais de cem metros de altura e, em seu lugar, cavaram um enorme buraco com o mesmo tanto de profundidade por trezentos metros de largura. Em volta, a mata cedeu lugar a mais uma favela, um monstruoso favelão sem futuro, porque mais dia, menos dia, chega a temida mecanização do garimpo.

Serra Pelada sempre foi, desde o início até as revoltas mais recentes que fizeram o governo se lembrar da sua existência, um jogo em que poucos ganharam muito, alguns se arrebentaram e a imensa maioria apenas lutou para sobreviver, por absoluta falta de opção de vida, trabalhando para comer em condições que fazem lembrar as minas dos garimpeiros escravos do século XVIII. Homens enlameados até a raiz dos cabelos, caminhando como formigas com sacos de cascalho nas costas, levantando poeira ou barro de um grande buraco, enquanto uns poucos viviam como reis.
Estradas foram rasgadas na selva, algumas até asfaltadas, chegaram os fliperamas, a televisão e telefones, e já não se depende do aviãozinho do angolano para descobrir o que se passa naqueles grotões do Brasil. Nem o angolano nem seu teco-teco existem mais: dias depois daquela primeira viagem, uma pequena notícia de pé de página informava que ele havia se espatifado com três passageiros na cabeceira da pista de Serra Norte, a mesma de onde decolamos.

Ninguém saberá dizer ao certo quantos morreram nesta aventura. Foram centenas, com toda certeza – o trágico resultado de uma guerra de vida e morte pelo sonho do ouro.



O processo de extração

O processo inicia-se no fundo da cava com pá e picareta. Entre as escadas adeus-mamão os trabalhadores retiram o cascalho do barranco de seu dono – um dos 3200 quadrados de terra que compõem o tabuleiro de xadrez de Serra Pelada. Como cada barranco pertence a um proprietário diferente, a progressão na escavação é desigual, criando às vezes enormes desníveis que podem provocar desabamentos. Mais como segurança psicológica do que física, os cavadores usam cordas de nylon (azuis) amarradas no corpo na tentativa de evitar a queda junto com a terra. Durante uma das visitas dos autores ao garimpo, um desses desmoronamentos matou instantaneamente 13 garimpeiros, paralizando a extração por três dias.

Os formigas carregam os sacos de terra para fora da cava. Antes de subir, passam pelo controle do apontador de baixo que controla as saídas de cada homem da cava para conferir mais tarde a chegada da carga com o apontador de cima e executar o pagamento por viagem.

Quando o barranco cai no ouro, os sacos ficam estocados embaixo e são retirados apenas no fim da tarde ou de noite por motivos de segurança. Nestes casos uma caminhonete do proprietário do barranco fica esperando o transporte dos sacos para levá-los diretamente para sua refinadora.

No processo de refino o material bruto é primeiro triturado em britadeiras. A terra com ouro escorre sobre uma calha recoberta com mercúrio; que se liga quimicamente apenas ao ouro, formando a amálgama. Para separação final da mistura ouro-mercúrio da terra, o garimpeiro utiliza a baleia, que faz o papel de uma centrífuga primitiva. É nessa operação que pode ocorrer a contaminação dos rios da região pelo mercúrio excedente, que por descuido ou negligência é arrastado pela água. O manuseio sem proteção do mercúrio pode intoxicar o próprio garimpeiro, provocando seqüelas congênitas e distúrbios nervosos com a acumulação do metal no organismo.

Na etapa final do refino a amálgama é aquecida, vaporizando o mercúrio e deixando o ouro limpo. As pepitas (pequenos pedaços de ouro) são levadas ao barracão da Caixa Econômica federal onde são fundidas na presença do proprietário em um lingote que será vendido à própria Caixa. Nas produções maiores é utilizado um alto-forno. Finalmente o processo, quase totalmente artesanal, está pronto, resultando na barra de ouro puro. A última limpeza retira a fuligem que recobre o ouro. Este lingote pesa 1,7 kg, resultado de uma tarde de extração depois de 2 anos cavocando um barranco. O dono, José Aparecido, espera tirar 13 kg de ouro desse barranco, para compensar seu investimento.

De acordo com os técnicos da DOCEGEO e do DNPM – Departamento nacional de produção Mineral, o garimpo manual desperdiça em média 40% do ouro de Serra pelada. A poluição do mercúrio e o alto índice de perdas são o grande argumento dos que defendem a mecanização do garimpo.

As empresas envolvidas estimam um aumento de produção de pelo menos 30% do ouro, que até hoje já rendeu 40 toneladas. Anualmente a produção vem caindo, ocupando agora apenas 5.000 garimpeiros, muito abaixo dos 50.000 homens que trabalhavam na cava em 1983, o melhor ano da Serra.

Por outro lado criou-se uma verdadeira cidade em torno do buraco, que resiste como pode contra a mecanização. Seria o fim do sustento para milhares de garimpeiros, que consideram Serra Pelada a sua casa.



O dialeto do garimpo

CAVA: como é chamado o grande buraco do garimpo aberto à mão; a de Serra Pelada tem hoje cerca de 100 metros de profundidade e o formato de um feijão.

BARRANCO: pedaço de terra de dimensões variáveis, comprado dentro da cava por um ou mais garimpeiros para ser explorado na busca do ouro.

CATA: sinônimo de barranco, onde os garimpeiros “catam” o ouro.

APONTADOR: empregado do dono do barranco que controla a quantidade de sacos retirados pelos carregadores de terra e despejados fora da cava. Têm direito a uma porcentagem da produção de ouro do barranco.

FORMIGA: carregador de sacos de terra e cascalho. São os bóias-frias do garimpo, que recebem um pagamento correspondente aos sacos carregados entre o barranco e o alto da cava.

MELEXETES: são os formigas sujos de barro.

ADEUS-MAMÃE: nome dado às escadas utilizadas pelas formigas para levar os sacos de cascalho para a superfície. São verdadeiras estradas de trânsito com mão própria de subida e descida. O nome vem dos freqüentes acidentes fatais quando do desabamento das escadas com dezenas de formigas sobre elas.

MEIA-PRAÇA: trabalhadores braçais que têm direito a uma porcentagem sobre o ouro encontrado no barranco do dono.

CAPITALISTA: dono do barranco, que normalmente vive fora do garimpo; financia as despesas com comida e equipamentos.

EMBARCADOR: indivíduo que coloca o cascalho com ouro na britdeira, onde o material é moído por um processo rudimentar.

COBRA-FUMANDO: “uma banheira de botar água para lavar cascalho e separar ouro”, na definição dos próprios garimpeiros.

MÁQUINA: sinônimo de cobra-fumando.

PASSADOR-DE-MÃO: indivíduo que procura separar à mão o ouro da terra, na qual está misturado.

CURIMÃ: rejeito mais nobre da separação do ouro, que geralmente passa por uma segunda lavagem.

BATEIA: instrumento em forma de peneira feito de chapa de metal, utilizado para a purificação manual final da mistura de mercúrio com ouro.

APURADOR: indivíduo que faz a separação do ouro utilizando-se de uma bateia para lavar o amálgama mercúrio-ouro. O mercúrio liga-se quimicamente ao ouro, facilitando a separação das impurezas.

REQUEIRO: fazer reque; procurar ouro nos rejeitos que correm nas águas, as migalhas que sobram.

DÍZIMO: porcentagem retirada da venda do ouro destinada à cooperativa dos garimpeiros para efetuar melhoramentos e obras de estabilização da cava.

BAMBURRADO: aquele que tirou a sorte grande no garimpo, encontrando um filão de ouro no seu barranco.

BLEFADO: garimpeiro que perdeu tudo, só é dono da roupa do corpo.

CUTIA: carregador de cascalho que fica com a pele vermelha.

ORELHA DE JEGUE: vale, adiantamento.