sábado, 5 de março de 2016

Carbono e Kimberlito

O carbono é um dos elementos mais comuns no mundo e é um dos quatro princípios básicos para a existência da vida. Os seres humanos contêm mais de 18% de carbono em seu corpo, e o ar que respiramos contém traços de carbono. Quando ocorre na natureza, o carbono existe em três formas básicas:
  • diamante: um cristal extremamente duro e claro;
     
  • grafite: um mineral preto e macio, feito de carbono puro. Sua estrutura molecular não é tão compacta quanto a do diamante, por isso é mais fraco;
     
  • fulerite: um mineral feito de moléculas perfeitamente esféricas, consistindo de exatamente 60 átomos de carbono. Esta alotropia foi descoberta em 1990.
Diamantes se formam a, aproximadamente, 161 km abaixo da superfície da Terra, na rocha derretida do manto da Terra, que proporciona a pressão e o calor adequados para transformar carbono em diamante. Para que um diamante seja criado, o carbono deve estar embaixo de, pelo menos, 435.113 libras por polegada quadrada (psi ou 30 kilobars) de pressão a uma temperatura de, pelo menos, 400º C. Se as condições estiverem abaixo destes dois pontos, será formado o grafite. Em profundidades de 150 km ou mais, a pressão vai para 725.189 psi (50 kilobars) e o calor pode exceder 1.200º C.

A maioria dos diamantes que vemos hoje foram formados há milhões (ou até bilhões) de anos. Poderosas erupções de magma trouxeram os diamantes até a superfície, criando chaminés de kimberlito.
Kimberlito é um nome escolhido em homenagem a Kimberly, África do Sul, onde estas chaminés foram encontradas pela primeira vez. A maior parte destas erupções ocorreu entre 1.100 milhões e 20 milhões de anos atrás.

As chaminés de kimberlito foram criadas conforme o magma passava por profundas fraturas na Terra. O magma de dentro da chaminé de kimberlito funciona como um elevador, empurrando os diamantes e outras rochas e minerais pelo manto e crosta em poucas horas. Estas erupções eram breves, mas muitas vezes mais poderosas do que erupções vulcânicas que acontecem atualmente. O magma destas erupções foi originado em profundidades três vezes mais profundas do que a fonte de magma nos vulcões, como o Monte St. Helens, de acordo com o American Museum of Natural History (site em inglês).
Com o tempo, o magma esfriou dentro das chaminés de kimberlito, deixando para trás as veias cônicas da rocha de kimberlito que contêm diamantes. Kimberlito é uma rocha azulada que os mineradores procuram quando estão atrás de depósitos de diamantes. A área da superfície das chaminés de kimberlito que contêm diamantes variam de 2 a 146 hectares.
Diamantes também podem ser encontrados em leitos de rios, chamados de reserva aluvial de diamantes. São originados em chaminés de kimberlito, mas se movimentam por atividade geológica. Geleiras e águas podem movimentar os diamantes para milhas de distância de seu local de origem. Hoje, a maioria dos diamantes é encontrada na Austrália, Brasil, Rússia e vários países africanos, incluindo Zaire.
São encontrados como pedras brutas e devem ser processadas para se transformarem em predras brilhantes, prontas para a venda.

Crátons arqueanos
As temperaturas podem chegar a 900ºC nos crátons arqueanos. São os locais onde os diamantes se formam. São formações geológicas estáveis e horizontais, criadas há bilhões de anos, que não foram afetadas pelos principais acontecimentos tectônicos, de acordo com a Rex Diamond Mining Corp (site em inglês). São encontradas no centro da maioria dos sete continentes (a maior parte das atividades tectônicas ocorre ao redor das margens).

A pesquisa de diamantes em fontes primárias como kimberlitos e lamproitos.

A pesquisa de diamantes em fontes primárias como kimberlitos e lamproitos.



 
A pesquisa de diamantes em fontes primárias como kimberlitos e lamproitos, não é para qualquer um. É um trabalho altamente técnico, incrivelmente caro e se não for adequadamente conduzido, há o risco de se perder uma jazida ou de investir onde não existe depósito econômico.

Quando os teores são baixos, o que é o caso da maioria dos kimberlitos, uma amostra de pequeno volume não tem nenhuma representatividade e qualquer que seja o teor obtido não deve ser considerado. Para entender essa premissa é necessário ler os próximos parágrafos.

 A concentração dos diamantes na rocha fonte é, frequentemente muito pequena, de apenas algumas miligramas por tonelada. Isso obriga o pesquisador fazer verdadeiras minas piloto para obter dados fidedignos como teor, qualidade, preço e tamanho médio dos diamantes.

Um bom exemplo é a mina de Letseng no Lesotho. Ela é uma das mais importantes minas de diamante primário do mundo.

No kimberlito de Letseng o teor médio é de apenas 3 quilates (600 miligramas) por tonelada de minério.

Com teores tão baixos as amostras pequenas, de 50kgs, por exemplo, irão quase sempre dar resultados negativos para diamante. Se você fizer esse erro poderá simplesmente perder uma jazida de bilhões de dólares. Ou, gastar muito em um prospecto sem nenhum valor...

A pergunta que se deve fazer é: qual o tamanho mínimo de uma amostra que seja representativa do teor, qualidade, preço e tamanho do diamante de Letseng?

Lembre-se que o investimento em Capex para uma mina destas pode chegar e ultrapassar a 1 bilhão de dólares, o que nos obriga a ter muita confiança nos dados obtidos na pesquisa. Na realidade antes da viabilidade econômica o nível de confiança deve estar próximo dos 97,5%, mas isso é uma outra história...

Sem entrar em cálculos estatísticos complexos a resposta mais utilizada pelos pesquisadores é que é necessário coletar um mínimo de 2.000 quilates de diamante (por amostra) para que essa tenha alguma representatividade de teor.

Por este cálculo simples seria necessário uma amostra mínima de 67.000 toneladas. Ocorre que em Letseng os diamantes médios são os maiores do mundo. Este kimberlito é o que produz mais diamantes acima de 10 quilates, o que faz o preço médio do diamante de Letseng ser um dos mais elevados.

Estas características fazem com que uma amostra representativa tenha que ser, no mínimo, de 1 milhão de toneladas.

Assustado?

Lembre-se que dependendo do kimberlito existem imensas variações faciológicas o que vai aumentar em muito o número de amostras a serem coletadas. O pior é que cada fácie tem um teor diferente e alguns, no mesmo pipe, podem ser estéreis.

Ou seja, é necessário uma verdadeira mina para que o investidor tenha a certeza de que o projeto é viável.

É por essas características da jazida que várias empresas amostraram o kimberlito e nunca conseguiram entender os teores, qualidade e tamanhos médios reais. Alguns anos atrás eu debati esse assunto com um “expert” em diamantes Sul-Africano. Ele me confidenciou que a empresa dele havia investido milhões em Letseng sem conseguir ver a viabilidade do projeto, pois nunca amostraram grandes volumes, como necessário.

Como se vê, essas particularidades fazem a pesquisa em Letseng ser caríssima. Foi por isso que entre a descoberta em 1957 e a mina se passaram 20 anos e muitos perderam dinheiro em uma das jazidas mais rentáveis da África.

A sorte é que a garimpagem feita ao longo destes 20 anos produziu dezenas de milhares de quilates o que permitiu, aos mais espertos, uma avaliação preliminar dos teores, qualidade, preço e tamanho.

O histórico de produção serviu como uma mina piloto e orientou os geólogos quanto ao tamanho mínimo da amostra de Letseng.

Lembre-se deste exemplo quando for avaliar os teores de um kimberlito. Talvez a resposta só seja possível se a sua empresa estiver disposta a investir dezenas de milhões na pesquisa.

Letseng é um kimberlito excepcional.

Letseng é um kimberlito excepcional.



 
Letseng é um kimberlito excepcional. A jazida está situada no montanhoso Lesotho, um enclave da África do Sul e tem uma história bastante peculiar.

Letseng é um desses kimberlitos de baixíssimo teor.

Imagine só que cem toneladas de minério produzem 3 quilates de diamante, apenas 600 miligramas.

Some a esse problema o fato de que em Letseng o tamanho médio das pedras é elevado e veremos que são necessárias milhares de toneladas para termos alguma produção de diamante.

Foi essa característica ímpar que literalmente matou vários programas de pesquisa efetuados neste kimberlito ao longo de 20 anos. Os geólogos não conseguiam entender qual seria o volume médio a ser amostrado para a obtenção de um teor médio.

Vários tentaram e somente um conseguiu.

A equipe que teve sucesso calculou que seriam necessárias, no mínimo, 1 milhão de toneladas de amostra para se ter um estudo representativo sobre os teores a qualidade e tamanho das pedras de Letseng, parâmetros fundamentais para a construção de um cash flow preciso.

Em outras palavras, o minerador teve que fazer uma lavra piloto para obter esses dados.

Foi essa percepção e enorme investimento que transformaram Letseng em uma das minas mais bem sucedidas de diamantes do mundo.

Eles descobriram que o kimberlito estatisticamente produz pedras enormes com alta qualidade. O sonho de todo o minerador.

Pois foi, mais uma vez, em Letseng que o mundo viu maravilhado a venda de mais uma pedra de grande tamanho.

A foto mostra um diamante branco com 314 quilates, de altíssima qualidade, que foi vendido nesta semana por US$19,3 milhões de dólares. Já é o segundo diamante, maior que 300 quilates, descoberto em Letseng neste ano.

Apesar da idade a mina continua a pleno vapor. Um recente programa de sondagem exploratória ampliou as reservas de Letseng até 350m de profundidade.

DPA: a volta do cartel dos diamantes?

DPA: a volta do cartel dos diamantes?



 
DPA é o acrônimo de Diamond Producer´s Association, a nova entidade internacional que congrega nada menos do que as sete maiores produtoras de diamante do mundo.

O mercado de diamantes era controlado, até pouco tempo atrás, pela CSO (Central Selling Organization) uma obscura e misteriosa organização que dominava, com mão de ferro, os preços do diamante no mercado mundial. A CSO, que era da De Beers, perdeu força à medida que as grandes concorrentes passaram a vender os seus diamantes fora do cartel.

Em 2013, pela primeira vez em 100 anos, os preços dos diamantes foram determinados pelo mercado e não pela CSO.

Desde então os novos players como a Alrosa, Petra Diamonds, Rio Tinto, BHP, Botswana e Angola passaram a ter maior influência no mercado que perdeu a sua coesão e objetividade.

Com a falta de um direcionamento e organização o mercado perdeu o rumo.

Somente em 2015 a sul-africana Petra Diamonds teve uma queda de 41% nas vendas de seus diamantes.

Graças aos maus resultados que as principais empresas de mineração de diamantes resolveram reativar o cartel através da DPA, que vai tentar desenvolver o setor com especial atenção ao mercado.

A DPA é formada pelas sete maiores mineradoras de diamantes que respondem por 75% dos diamantes produzidos: ALROSA, De Beers, Rio Tinto, Dominion Diamond Corporation, Lucara Diamond Corporation, Petra Diamonds Ltd. e Gem Diamonds.

Assim como a CSO a DPA vai embarcar em mega campanhas publicitárias para, mais uma vez, tentar fortalecer o mercado dos diamantes.

Foi assim que a De Beers e a CSO criaram as extraordinárias frases de campanha “os diamantes são eternos” e “ o diamante é o melhor amigo da sua namorada”.

A DPA tentará aumentar o consumo mundial de diamantes naturais através do aumento da confiança do consumidor nas mineradoras, seus diamantes e na qualidade das operações a nível mundial.

Um dos grandes beneficiários da DPA será a indústria de diamantes da Índia que é a maior do mundo e exporta US$22 bilhões por ano.

Além da luta pela excelência a DPA tentará combater a ameaça, cada vez maior, dos diamantes artificiais que estão, aos poucos, conquistando mercado.

Os artificiais podem ser produzidos em maiores quantidades e a preços mais baixos, o que permite a vendedores inescrupulosos repassá-los como diamantes naturais originados em minas.

Esses diamantes sintéticos ainda não são suficientemente baratos para deslocar os diamantes naturais, mas tudo leva a crer que falta pouco para que isso aconteça.

Quando isso acontecer a DPA estará com as suas campanhas na mídia tentando fortalecer o mercado dos diamantes brutos cujos preços caíram 13% em 2015.

Vai ser uma guerra.

No final os preços dos diamantes sintéticos deverão cair muito, o que vai acabar fortalecendo o preço dos naturais. Assim como ocorre hoje com outras pedras sintéticas que são tratadas como bijuterias pelo mercado.

Garimpeiros ilegais causam prejuízos em minas de tanzanita

Garimpeiros ilegais causam prejuízos em minas de tanzanita



Quando a pedra preciosa tanzanita foi descoberta, em 1967, ela assombrou o mundo com o seu azul brilhante circundado por uma cor púrpura. As tanzanitas ocorrem em apenas um lugar do mundo: a Tanzânia. Trata-se de uma variedade, extremamente rara, de zoizita que ocorre perto do Monte Kilimanjaro. A tanzanita tem a capacidade de mudar de cor dependendo da orientação do cristal. Para atingir o seu azul-violeta intenso a pedra deve ser tratada com calor.

As pedras são lavradas em poucas minas como as da junior TanzaniteOne Mining. A procura e a raridade fazem da tanzanita uma gema cara o que está atraindo a atenção de garimpeiros que estão invadindo terras e, até mesmo,  propriedades mineiras.

É por causa dessas invasões que a produção da TanzaniteOne caiu em 2015 causando uma queda de $4.5 milhões nas suas vendas.