domingo, 13 de março de 2016

DIAMANTE OU BRILHANTE?

DIAMANTE OU BRILHANTE?

Quando você pensa em um DIAMANTE logo vem em sua mente algo branco que reluz brilho, soa como pureza e mexe com os sentidos como a paixão?
Ok, mas antes da sua joia feita com eles, existem uma grande historia e explicações que espero ajudar a esclarecer dúvidas!
Carbono puro a mesma do carvão e do grafite- aquele de lapis! Isso mesmo, essa é a composição dessa pedra tão fascinante e desejada.
Cristalizado sob altas pressões e temperaturas, nas mais profundas entranhas da terra há bilhões de anos.
Para se ter uma ideia, a mais jovem rocha vulcânica da qual se extrai diamantes possui a idade de 70 milhões de anos.A origem do nome, "Adamas", é grega. Significa invencível, indomável.
 DIAMANTE X BRILHANTE – SÃO IGUAIS ?
Sim e Não. Calma, vamos explicar. Se considerarmos o princípio que "brilhante" é o nome de uma das formas (redonda) que um Diamante lapidado possa ter, então realmente um DIAMANTE é a mesmíssima coisa que um BRILHANTE. Porém, a palavra "Brilhante" é usada além desta explicação acima. Ou seja, diversas Gemas - naturais e sintéticas -são também denominadas "Brilhantes" pelo simples fato de reluzirem com os princípios físicos da Luz que "atravessa" o prisma e explode em brilho e cores. Então a melhor solução - ou definição - é que "Um Diamante pode ser um Brilhante, mas nem todo Brilhante é um Diamante".
Mas não vamos complicar!
RESUMINDO : As pessoas costumam errar ao dizer que querem comprar uma peça com brilhantes. A gema é diamante, brilhante é apenas o nome da lapidação. O diamante pode ser lapidado em diversas outras formas e lapidações e então não será mais "brilhante".O mais belo corte (lapidação) para o diamante é o chamado brilhante, criado pelo joalheiro veneziano Peruzz, no final do século XVII. Essa lapidação tem a forma redonda e compõ-se de 58 facetas. Cada faceta é simétrica e disposta num ângulo que não pode variar mais de meio grau.

Os diamantes podem ser lapidados em outras formas como gota, navete, baguete, coração, etc. – O formato coração costuma ser o mais caro pois, perde-se muito da pedra na lapidação pela quantidade de angulos!

Os dois conceitos humanos antagônicos do Tapajós: fofoca e posse

Os dois conceitos humanos antagônicos do Tapajós: fofoca e posse

Conceito de fofoca o que significa sacar do estoque natural e ir para outro lugar após a retirada do ouro fácil
Conceito de ancestralidade que se mistura com o conceito de posse da terra, incluindo o subsolo, posse do grupo, mas não posse coletiva.
Dois conceitos radicalmente antagônicos e coexistindo no Tapajós
Esse antagonismo se explica pelo tempo:
A fofoca corresponde ao tempo curto da descoberta e a um fluxo maciço de pessoas.
A ancestralidade se manifesta décadas após a fofoca ocorrer nas pessoas que não saíram do local após a fofoca esvaziar e durante um tempo longo ao ponto de haver mais de uma geração
Não são antagônicos, são sucessivos e aplicam-se a dois tipos de pessoas diferentes: as que querem enriquecer rápido e as que querem encontrar um local para viver num garimpo pouco lucrativo, mas com a esperança de novas fofocas como motor.
No primeiro caso, as casas são só barracos de lonas provisórias e
no segundo, há construção de casas definitivas apesar de toscas e aberturas de campos para gado.
No primeiro caso, as empresas de mineração não entram, por causa da balburdia ligada a fofoca, mas podem visitar para juntar informações.
No segundo caso, as empresas pesquisam e acabam criando um mercado de mão de obra local e ao sair deixam informações valiosas que perpetuam a produção e vida no garimpo.

A propriedade no local é marcada pela historia desde a descoberta, as compras de direitos entre pessoas e a abertura de derrubadas na mata que caracterizam a posse, além de descobertas de filões de ouro que marcam a propriedade.

A metodologia de extração do ouro evolua em parte, totalmente impactante na fofoca, mas com reservas e cuidados no conceito de posse

Léo Resende: 20 anos voando para os garimpos do Tapajós

Léo Resende: 20 anos voando para os garimpos do Tapajós


Léo Cassiano Resende nasceu no dia 27 de maio de 1957, na cidade de Bagé, no Rio Grande do Sul. Sua família trabalhava na agricultura mecanizada, onde ele também atuou, tendo feito alguns cursos relativos ao uso e à manutenção de máquinas agrícolas. Porém, desde muito cedo despertou a paixão pela aviação. Aos 18 anos de idade já se encontrava fazendo o curso para piloto privado, em Bagé. Pouco tempo depois de concluir esse curso ele foi para São Paulo estudar para ser piloto comercial. Terminada essa etapa, teve uma rápida passagem por Goiânia, de onde veio para Itaituba, ainda muito jovem. O comandante Léo Resende é o destaque desta edição, na série 50 Anos do Garimpo de Ouro do Tapajós.
“No começo era para eu trabalhar na aviação agrícola; mas, eu fui direto para a aviação comercial. Muito tempo depois de formado piloto, dez anos após chegar a Itaituba é que eu fui atuar como piloto agrícola, por pouco tempo.
Minha vinda para Itaituba teve uma trajetória interessante. Quando eu fui estudar aviação comercial em São Paulo, eu conheci um colega que era de Goiânia, que se chamava Adolfo Herten Rossi. Ele era catarinense, mas morava em Goiânia. Nós fizemos o curso juntos. Logo que nós terminamos o curso fomos para Goiânia. Ficamos tentando uma coisa e outra. Foi nesse tempo, final de 1979, que eu conheci o comandante Wagner Domingues da Fonseca, o Pai Velho. Ele tinha ido buscar um avião que estava em manutenção, lá. Como ainda iria demorar uns dias para aprontar o avião, ele contratou esse meu amigo para traze o avião para Itaituba. Eu fui convidado pelo meu amigo para trazer a aeronave junto com ele, em janeiro de 1980. Eu vim e a gente acabou ficando. Eu acabei ficando por vinte anos. O Adolfo terminou tendo uma morte trágica. Foi assassinado.
Meu primeiro emprego foi no Táxi Aéreo Crepuri, do seu Lourival; depois eu fui trabalhar na empresa do Pai Velho e dos filhos dele. Eles tinham vários aviões. Mais tarde fui trabalhar para o Sebastião Balbino de Sousa, o Sabá do Piranha, que tinha aviões, mas ainda não existia o Táxi Aéreo Piranha. A rigor, esses foram os meus três únicos empregos fixos em Itaituba. Fiz muitos vôos como freelance. Ao longo desses vinte anos que fiquei em Itaituba eu voei aproximadamente 15 mil horas.
Desde 1984, quando começaram a usar as máquinas conhecidas como chupadeiras, quando o Sabá começou a colocá-las nos garimpos dele, eu também coloquei uma para mim no garimpo São Sebastião. Aquela foi a primeira vez que eu trabalhei com garimpo. Depois eu coloquei mais alguns pares de máquinas, até que em 1987, eu e mais dois sócios fizemos uma pista. Eu fui sócio do Xerife, um piloto bastante conhecido, que voou nessa região e do Maetano, famoso e lendário garimpeiro Maetano. Essa pista ficava entre o Piranha e o São João, na qual colocamos o nome de Comandante Arara, em homenagem a um piloto que morreu ali por perto, no ano de 1983 ou 84. Fiquei um tempo nesse garimpo com os sócios, depois fiquei só, mais tarde, em 1991, eu vendi para o Sabá e fui trabalhar no Piranha. Durante quase todo o tempo que eu vivi emItaituba eu estive mexendo com garimpo.
Depois da morte do Sabá, que aconteceu em 1993, eu acertei com a D. Tereza, esposa dele, que morava fora, para tocar o Piranha, ficando desde então, até o ano de 1999, pouco antes eu me mudara para Macapá, como arredantário da Pista do Piranha. Foram seis anos cuidando, inclusive, dos interesses da família (do Sabá).
Tudo valeu a pena! No período em que vivi em Itaituba em trabalhei, também com barco, usina de arroz, minha esposa Lia teve loja. Eu nunca me limitei a apenas uma atividade. Tenho certeza que valeu muito a pena. Financeiramente, eu também segui a sina do garimpeiro, mesmo sendo muito comedido na minha vida. Às vezes as coisas não saem como a gente planeja. Eu vim para Macapá e num primeiro momento as coisas não deram certo. Mas, assim é a vida. Repito que valeu a pena em todos os sentidos, pois adquiri uma experiência de vida fantástica. Foram anos maravilhosos de minha vida. Não tenho receio de dizer que foi um dos períodos mais felizes de minha vida o que eu vivi em Itaituba.
Lançamentos – Eu peguei ainda a época em que a gente fazia lançamentos de mercadorias em clareiras. Eu mesmo fiz muitos lançamentos. A primeira vez que eu fui lançar uma carga, fazia pouco tempo que eu estava voando. Foi para a abertura de uma pista chamada Santa Luzia, na região do Crepurizinho. O proprietário, se não estou enganado, era Chico Farias, que estava dentro do avião jogando a carga. Eu não tinha prática nenhuma daquilo. A metade da carga eu joguei fora da clareira. O dono da carga, para não perder tudo, pediu que eu pousasse na pista do Crepurizinho, de onde a carga foi levada na costa. Era quase um dia de viagem. O objetivo do lançamento era facilitar e para ganhar tempo, mas eu joguei a metade da carga fora. Depois eu fui aprendendo, pegando a prática e passei a acertar o alvo.
Durante os vinte anos que operei em Itaituba e na região, não sofri nenhum acidente grave. Em 1981 eu tive um acidente na pista Santa Terezinha, inclusive com meu amigoLuiz Preto, que era meu passageiro. Foi uma imperícia minha, que terminou com a quebra da aeronave na pista, que era bastante crítica. Acabei pilonando o avião (ficou com as rodas para cima), que era do Pai Velho. Houve danos materiais, mas, felizmente, ninguém se feriu. Esse foi o acidente mais grave que eu sofri. Houve alguns outros sustos menores.
Pelas informações que eu tenho, as primeiras pistas de garimpo começaram a surgir no começo dos anos 60, poucos anos depois do início da garimpagem. Isso dinamizou o garimpo porque facilitava a atividade, pois deu mobilidade ao garimpeiro. Antes, o garimpeiro passava dias e dias para chegar a um determinado lugar.
Quando comecei voar para garimpo, eu considero que tive sorte, porque fui operar numa pista considerada boa para os padrões do garimpo. Era a pista do Crepuizinho, que tinha uns 400 metros ou um pouco mais. Depois, passei a voar, também, para pistas de todo tipo, bem menores. A pista do Santa Terezinha era crítica, pois era curta e de subida; não tinha mais que 280 metros. Tinha a pista do Bacurau, no Rio Marupá, que também era muito crítica e não tinha mais que 300 metros, tinha muitas ondulações no terreno, com uma aproximação horrível, pois tinha um morro na cabeceira. Havia muitas outras pistas ruins.
Nesses anos todos, muitos colegas de profissão perderam a vida. Há registros oficiais de que, de 1980 a 1990, somente na aviação de garimpo do Tapajós nós tivemos 150 pilotos mortos. Esse período de dez anos foi o pico da atividade garimpeira. Nós tínhamos um colega piloto, o Lioto, que catalogava todos os acidentes. Ele hoje vive emManaus. Somente no ano de 1984 morreram 18 pilotos na aviação de garimpo. A média era de 15 pilotos mortos por ano, ou mais de um por mês, nesse período. A maioria dos acidentes – e isso não se deu nem se dá apenas na aviação de garimpo -, acontece por imprudência. No caso da aviação de garimpo, somava-se a imprudência, com a carência de pistas seguras e a falta de uma manutenção adequada, pois ainda não tínhamos grandes oficinas, o que fazia com que as manutenções maiores tinham que ser feitas todas no sul do País. Tudo isso era ingrediente para que houvesse tantos acidentes.
A partir do início dos anos 90, com a desaceleração da atividade garimpeira e do aumento das alternativas de transporte, os vôos foram diminuindo, e consequentemente, com mais rigor na fiscalização, o número de acidente foi decrescendo”.
Na próxima edição Léo Resende completará o seu relato. Ele vai falar da experiência nada fácil de ter passado uma noite cercado numa casa, no garimpo, com arma na mão, enquanto do lado de fora alguns homens armados queriam acertar o dono da casa; vai relembrar de uma história que ele já contou ao Jornal do Comércio a respeito de um incidente pitoresco num vôo para Itaituba. E a seguir, o personagem a ser destacado nesta série será Rui Mendonça, que tem muita coisa para contar, pois é dono de uma memória invejável, capaz de lembrar os menores detalhes.

Com o Preço Nas Alturas, Ouro Faz Crise Ser Mais Leve em Itaituba - Parte 1

Com o Preço Nas Alturas, Ouro Faz Crise Ser Mais Leve em Itaituba - Parte 1

     No tempo em que houve hiper inflação, nos anos 1980, quando a moeda era o Cruzado e mais tarde o Cruzado Novo, Itaituba tinha sua própria moeda, o ouro. Os negócios eram fechados em gramas ou quilos de ouro. Atualmente, com a crise na economia nacional, a moeda local usada é a mesma do restante do país, mas, como naquele período, o ouro continua ditando o humor do mercado itaitubense. E para falar sobre a grande influência que o ouro continua exercendo sobre a economia local e regional, o Jornal do Comércio conversou com os empresários Francisco Trentino e Dirceu Frederico, sócios-proprietários da D´Gold.
JC - Com o atual preço do grama do ouro, Itaituba passa por um bom momento na sua economia, apesar da crise nacional?
Francisco Trentino
Foto: JParente
Trentino - De fato, o preço do ouro está muito bom e isso é ótimo para a nossa economia, tanto do nosso município, quanto dos municípios da área da reserva garimpeira do Tapajós. Hoje ( o ouro está na faixa de 1.114 a 1.250 dólares a onça, ou R$ 180,00 o grama nas compras de ouro em Itaituba. Esse preço é para o ouro mil. Então, enquanto na maior parte do Brasil sofre com uma crise econômica aguda, nós aqui temos o ouro que nos ajuda a superar essa fase da economia nacional. Um detalhe importante é a subida do dólar, que para o mercado de ouro do Brasil é muito bom, assim como para quem exporta o que produz, como calçados e outros. 
JC - Dirceu, no começo de 2006, quando o Jornal do Comércio tinha apenas alguns meses de circulação, o preço da onça de ouro estava em torno de U$ 400,00. Na ocasião você afirmou em uma entrevista ao JC, que aquele preço não era nada atrativo. Somente quando alcance o valor de pelo menos U$ 800,00 compensaria. Hoje, passou muito disso, não é?
Dirceu - É verdade. Lembro dessa entrevista. De lá para cá, nós tivemos um aumento significativo no preço do ouro, que é uma comodity internacional, incluenciada pelas diversas crises que tem havido em vários países. Teve picos mais elevados, mas, hoje se mantém em torno de U$ 1.100,00 e U$ 1.200,00 a onça. Transformando isso em quilo, dá mais ou menos U4 37 mil a U$ 38 mil dólares o quilo. Com esses valores, ficou muito atrativo produzir ouro. 
    O maior valor que o ouro alcançou até hoje no mercado internacinal foi U$ 1.850,00, o que dá aproximadamente U$ 59 mil dólares o quilo. Aqui a gente não sentiu muito os efeitos positivos disso na economia porque o dólar estava a R$ 1,70. Mesmo assim, o quilo chegou a R$ 128 mil. Isso foi la por 2011 a 2012. No momento, com a alta do dólar, chegamos a ter o grama do ouro negociado a R$ 155 na bolsa, ouro mil. Se a gente chegasse nos dias de hoje ao patamar de U$ 1.850 a onça, o preço do grama ouro mil teria chegado a R$ 236. A tendência continua sendo de alta do preço, e podemos imaginar que ainda este ano, ou começo do ano que vem poderemos chegar ao patamar de R$ 160 a R$ 170 o grama na bolsa. Essa é a perspectiva do mercado com a qual a gente convive.
JC - O custo da produção de ouro subiu consideravelmente por diversos motivos. Um deles é a maior dificuldade para encontrar o metal, diferente do que acontecia no auge do ciclo. Apesar disso, com esse preço do grama o custo-benefício está compensando?
Trentino - Mesmo com esse aumento do preço do combustível que a gente teve há poucos dias, o ouro a esse preço o grama paga qualquer custo deixando bom lucro para o garimpeiro. Está todo mundo correndo atrás de modernizar seu maquinário porque o valor do ouro está compensando. Se essse preços e mantiver, os garimpeiros vão continuar se empenhando cada vez mais para aumentar sua produção. Ressalte-se que garimpeiros que estavam parados, estão voltando à ativa porque está sendo compensador produzir ouro. Até pouco tempo, quando um garimpeiro pegava dez gramas não queria mais trabalhar. Hoje dez gramas valem mais de R$ 1.000,00.
JC - Quanto custa produzir um grama de ouro, hoje?
Dirceu - Como comprador de ouro e como garimpeiro há quase 25 anos, eu faço contas de quanto um carote de óleo diesel (60 litros) precisa produzir para dar lucro. Ou seja, quantos gramas de ouro devem ser extraídos com um carote para que o trabalho compense. Hoje, com o advento da PC há um custo adicional desse equipamento. Então, a conta que eu faço é de que onde eu consigo tirar nove gramas de ouro com um carote de óleo diesel, eu sei que eu empato a conta. Só começo a ganhar com uma produção acima de nove gramas por carote. 
     O maior custo do garimpo chama-se óleo diesel, o segundo maior são peças de reposição. Eu venho fazendo essa conta há vários anos, atualizando-a sempre. Então, se eu produzir ao menos nove gramas com um carote de óleo diesel eu empato, ou ganho um pouquinho. Antes, quando o valor do grama estava bem mais baixo, essa conta chegava a 13 ou 14 gramas por carote. Com o bom aumento do preço do grama de ouro essa relação mudou. 
     Em função de tudo isso, o custo da produção de um quilo de ouro está entre R$ 70 mil e R$ 80 mil. Entra nessa conta de despesas, equipamento, combustível, alimentação, comissão do pessoal. Fica em mais ou menos 70% o custo de produção. Com a mecanização, baixões onde antes era antiprodutivo trabalhar, porque o ouro era pouco, (relação grama/tonelada) tornou-se compensador porque você abaixa o custo operacional e aumenta o volume produzido.
JC - É possível estimar quanto ouro é comprado, mensalmente, legalmente pelas compras de ouro formais do município de Itaituba?
Trentino - Estima-se entre 400 e 500 quilos todo mês, apenas por parte das DTVMs, porque existem por aí umas quinze ou mais compras de ouro ilegais que não tem como dar nota fiscal para o garimpeiro. Creio que saem mais de mil quilos de ouro de Itaituba todo mês, somando-se o que sai de maneira ilegal. E nesse meio incluem-se os que compram ouro em quartos de hotéis, que também são ilegais. O governo federal deixa de arrecadar muito e o município deixa de arrecadar porque falta uma presença firme do ente governamental para evitar essa grande evasão de divisas que todos sabem que existe. Acho que deveria haver uma fiscalização mais rigorosa nas compras de ouro ilegais, porque as que são legais são fiscalizadas. As ilegais pagam o preço do ouro mais caro porque não pagam impostos.

Zé da Roça, um polivalente no garimpo

Zé da Roça, um polivalente no garimpo


Trinta e cinco anos de vida passados no garimpo, a maioria deles no vale do Tapajós. Uma história recheada de fatos inusitados, que fazem de Zé da Roça, um personagem da vida real dos mais interessantes das milhares que foram escritas ao longo deste meio século. Nasceu no Piauí, na Barra do Maratoam, no dia 10 de fevereiro de 1934. Cedo, começou a trabalhar na roça, seguindo os passos da família. Há uns vinte anos deu uma entrevista para a revista Veja. Hoje, aos 74 anos, com uma saúde de dar inveja a muita gente mais nova, ele mora numa chácara, no Laranjal, onde a reportagem o encontrou para uma conversa de quase duas horas.


“Com dezessete anos eu casei, em 1952. Vivi doze anos com a primeira mulher. Não deu certo porque ela me botou umas perucas (de touro). A essa altura eu já estava vivendo no Maranhão, para onde eu me mudei em 1956, na esperança de ter ao menos o que eu tenho hoje, porque eu venho de uma família muito carente. Fiquei dez anos no Maranhão. Lá eu comecei a trabalhar com farmácia, mesmo com pouquinho estudo. Depois que o casamento acabou a vida desaprumou e eu resolvi vir para o Pará.


Cheguei a Belém; de lá me mandei para Santarém aonde eu cheguei urrando de liso. O trabalhou que eu arranjei foi catar litro seco, que eu lavava e vendia. Isso durou 28 dias até que eu consegui ir para Manaus e de lá para Porto Velho, com a idéia fixa de ir para o garimpo. Fiquei um tempo em Ariquemes com o velho João Estrela, cuidando da farmácia, aplicando soro. Ele era muito brincalhão e começou a me chamar de doutor Sopapo. O pessoal chegava e perguntava: cadê o doutor Sopapo?


Estava lá quando surgiu a notícia de que no Aripuanã tinha um garimpo onde a gente enchia uma garrafinha de diamante ligeirinho. Eu me empolguei. Pensei: pegando diamante bom a gente se arruma ligeirinho; eu vou morrer de rico. Mas, não foi como eu esperava que fosse, o que fez com que eu só ficasse quatro meses. Voltei para Porto Velho e de lá fui para Santarém. Quando cheguei lá o Zeca Furtado estava juntando gente para levar para o garimpo. Eu perguntei quanto ele cobrava e ele me disse que para brabo (sem experiência) eram trinta dias de trabalho.


No dia 28 de junho de 1968 eu pisei pela primeira vez num garimpo do Tapajós. Chegando na pista do Marupá eu coloquei um jamanxim nas costas pela primeira vez. Foi nessa data que eu cheguei ao garimpo do Pau D’Arco. Trabalhei quatro meses, até que a malária me pegou pra valer. Eu pedi o meu saldo, mas o Zeca Furtado não quis me dar, porque o ouro que tinha ele disse que era para o Zé Arara. Ruim como eu estava me mandei para o Marupá. Gastei dois dias, numa viagem que a gente fazia em seis horas. Onde anoitecia eu dormia.


Sozinho no mundo eu tinha que me virar de qualquer jeito. Assim, cheguei ao Marupá, muito ruim, mas não tinha para quem apelar. Fui procurar o Bebé Sudário, que tinha uma roça a qual o fogo só tinha queimado um pouco pelo meio e perguntei se ele tinha serviço. Quando ele viu o meu estado, que não era nada bom, pois eu cheguei ao Marupá me arrastando de doente, com uma anemia danada, disse: Pra homem eu tenho serviço, mas pra defunto o lugar é bem ali, disse ele, me mostrando o cemitério que era bem pertinho. Eu fiquei zangado com aquilo, mas, fazer o que?


Passados uns seis dias, eu já tinha tomado uns remédios e estava bem melhor. Nisso fui procurar o Raimundo sudário para pedir que ele intercedesse junto ao irmão dele, o Bebé, para que ele me desse um serviço, pois eu já estava devendo e tinha que pagar quem tinha me ajudado na precisão. Em pouco tempo eu deixei a roça em condições de ser plantada. Quando eu plantei foram dizer para o Bebé que o arroz estava muito junto igual cebola. Eu disse que deixasse comigo, porque daquilo eu entendia.


Depois que eu plantei disse que queria ir embora. O Bebé Sudário me falou que era para eu ir para Santarém, para a casa dele, me tratar, pois eu tinha melhorado, mas não estava bom ainda. Lá fui eu, para ser tratado pelo Dr. Manoel Fernandes. Fiquei vários dias até que achei que estava no ponto de encarar a dureza do trabalho novamente. Depois disso, nunca mais tive um dia de malária. Durante mais três anos eu continuei fazendo roça para o Bebé, com trinta ou mais linhas. Aí, outras coisas, outras atividades começaram a aparecer.


Agricultor, farmacêutico, enfermeiro e delegado


O apelido de Zé da Roça pegou lá no Marupá. Quando chegava alguém perguntando pelo enfermeiro a turma dizia: quem, o Zé da Roça. Aí, pegou. Nesse tempo, passados uns dois anos eu fiz uma roça pra mim, de umas trinta linhas. O Bebé achou ruim, querendo saber com ordem de quem eu tinha feito. Eu disse que eu fazia o que quisesse com o dinheiro que ele me pagava. Mas, a terra é minha, disse ele. Quem foi que disse que é sua? Você não tem documento nenhum dela, então eu posso plantar.


A essa altura eu já era muito procurado pelo pessoal para passar remédio, fazer curativos e costurar gente cortada. Peguei uma caixa de sabão e arrumei dentro dela um pouquinho de remédio que tinha e comecei a vender. Era uma coisainha de nada. Era medicamento para malária e outras coisas. Tinha hepavitan, dextrovitase, paludil, paludan, anecrosan, anecromin e um bocado de comprimidos.


Estava difícil porque o Bebé não deixava eu comprar remédio para aumentar o estoque. Queria que eu ficasse no cabresto, trabalhando na roça dele e na farmácia. Foi aí que o finado Valdemar, sobrinho dele me pediu o dinheiro e comprou o que eu precisava. Nisso, o Allfredo Andrade, que já tinha me ajudado quando eu estava doente, soube o que estava acontecendo e me chamou querendo saber o que estava acontecendo. Depois que eu contei ele disse que era para eu escolher um lugar para fazer um barraco no terreno dele, podendo ficar o tempo que eu quisesse. Se eu fizesse alguma benfeitoria, seria dele, mas, lá, ninguém mexeria comigo. Assim eu fiz.


Ao mesmo tempo em que atendia quem precisava de remédio, eu cuidava da minha roça de mandioca, que foi uma coisa que ajudou a fazer com que eu melhorasse de situação. Mal terminava de fazer a farinha e o pessoal já estava esperando para comprar. Para encurtar a história, com um ano nesse serviço eu tinha com o que comprar a pista que o Bebé, que foi me oferecer por 65 mil cruzeiros. Eu disse que dava no monte, mas não queria que não ficasse nenhum Sudário lá. Como ele disse que não dava para tirar o pessoal da família dele, eu não comprei. Eu continuava sendo agricultor, farmacêutico e enfermeiro, atendendo a todos os que me procuravam, com dinheiro ou sem dinheiro.


Um belo dia desceu uma guarnição da Polícia Militar para pegar uns Sudário que tinham matado o Alemão e o Cearazinho. A ordem era levar de qualquer maneira, o Elias, o Bebé e o Antônio. O Raimundo era calmo. Eu conversei com o sargento, ao qual pedi que não fizesse aquilo, pois as famílias deles iriam ficar passando necessidade. Só tem um jeito de eu não leva-los, me disse o sargento. E qual e? perguntei. Se você aceitar ser o delegado daqui, para botar ordem, porque seu nome é muito forte; você é muito respeitado. Deus me livre e guarde duma desgraça dessas, respondi. Então eu vou levar os homens, falou o sargento. Não faça isso, pedi de novo.


O sargento me fez uma proposta que eu aceitei: fazer uma votação na manhã seguinte para o pessoal decidir se queria ou não que eu fosse delegado. Eu topei e fui cedinho falar com a turma que trabalhava nos baixões, que era para votarem contra mim. Quando chegou na hora da votação o sargento disse: quem for a favor de que Zé da Roça seja o delegado, fique no lado direito; quem for contra, passe para o lado esquerdo. Todos passaram. Aí não teve jeito, tive que aceitar o cargo, mas exigi que só ficava se me mandassem uma carteira de delegado. Passados oito dias recebi a tal carteira.


Eu não agia como um delegado, mas, como um presidente de comunidade, procurando resolver as coisas por meio do entendimento. O Barba de Aço, um garimpeiro que era macho, que não enjeitava parada, eu consegui acalmar várias vezes. Quando perguntavam se ele tinha medo de mim ele respondia: não, o que eu tenho é respeito, porque ele me trata melhor do que meu pai.


Aquela vida de delegado de garimpo não era vida pra gente não. Se uma mulher enganava um homem, se um homem enganava uma mulher, corriam lá com o Zé da Roça. Felizmente, com muito jeito, eu consegui fazer um bom trabalho durante uns três anos. Nunca precisei disparar um tiro contra ninguém. Com calma e boa conversa estou aqui hoje para contar a história.


O auge, tempos difíceis e o presente


Não tenho nenhuma dúvida de dizer que Zé da Roça foi o pai a pobreza no Marupá por diversos anos. Quando eu estava numa situação muito favorável, com comércio grande de secos e molhados, com farmácia, nunca deixei de atender a todos. Quando a fase é favorável a gente ganha dinheiro fácil. Eu fiquei numa situação realmente muito boa. Houve dia em tinha 43 redes de doentes, armadas no meu barracão


No trabalho do garimpo, mesmo, eu nunca peguei muito ouro. Teve um baixão onde eu me dei bem, do qual tirei quatro quilos e oitocentos gramas. Peguei bastante ouro no meu comércio. Às vezes vinha para cidade fazer compras e eu trazia três quilos de ouro ou mais. Acontece que eu pegava e investia. Eu moro numa casa de madeira, não porque eu não tenha podido construir uma de alvenaria. Eu preferi investir em outras coisas para prevenir o futuro.


Tem um bocado de coisa em que não acredito, mas, o tal de olho grande, esse existe e a gente tem que se defender dele. Digo isso, porque quando eu estava no auge começou uma perseguição contra mim. O Toninho Sudário, que o Diabo o tenha no Inferno, botou um pistoleiro chamado Pinto, para me matar. Mas, mas o cabra era ruim de tiro e acertou numa lata de farinha que estava do lado. Eu saí atrás dele, disposto a matar. Mas, graças a Deus, não precisei sujar minhas mãos de sangue e espero nunca precisar em toda minha vida, pois quando eu cheguei na beira do rio ele já tinha fugido.


A perseguição foi grande em cima de mim. Um dia, depois que eu voltei de Santarém, onde fui atender o chamado de um advogado, o Toninho Sudário me peitou. Eu ainda era delegado nesse tempo. Eu falei para ele, que se ele quiser trocar tiros comigo a gente trocava na hora. Ele saiu rosnando, mas foi embora.


As coisas foram dando errado e eu fui tomando abuso pelo meu trabalho. Um dia, chegou uma mulher da vida em casa, m pleno dia. O comércio estava fechado porque eu não tinha ânimo para abrir. Ela disse: Zé, abre essa porta! O que é que está acontecendo contigo? Tu estás te entregando? Eu estava com um quilo e setecentos e oitenta gramas de ouro, em casa, ouro meu e mais quatro quilos e meio dos outros. Eu chamei o pessoal para receber o ouro deles, pois queria sair para Itaituba para me tratar. Aqui procurei o seu Alemar, que me disse que não me vendia mais nenhum comprimido, porque o meu problema, médico nenhum podia dar jeito.


Onde hoje é a Loja Giorama era o Hotel São Francisco. Eu ia passando por lá e parei para conversar com a Maria do Paulinho, que trabalha no hotel, contando tudo o que estava acontecendo comigo. Ela me disse: tu não estás vendo o que o homem (seu Alemar) está te dizendo? Bem ali tem uma velha que chegou de Fortaleza, que manda chover. A velha disse que faria o trabalho, mas que lá dentro não iria de jeito nenhum e garantiu que o que era meu estava perdido, pois tinham feito um trabalho brabo pra cima de mim. Ela ainda falou que se eu fosse lá, levasse logo o caixão, ou então teria que sair matando gente para não morrer. Se daqui a oito dias você não estiver bonzinho eu paro de trabalhar. E tem mais: a derradeira pessoa que vai lhe trair vai ser sua mulher, que vai lhe abandonar quando você blefar. Fiquei um ano e meio sem ver ela. Um dia, quando eu fui a Santarém ela estava dando os pulos dela por lá com outros, como a velha tinha dito.


Ajudei muita gente, mas também fui ajudado por diversos amigos que foram solidários nas horas de dificuldades, como o finado Raimundo Dias, que foi um homem que se condoeu de mim na hora do maior aperto. O Goiano também me ajudou bastante, no Marupá. Hoje, vivo tranqüilo com a renda da fazenda que tenho no Guajará, porque soube guardar, mesmo tendo passado por momentos difíceis. Não tenho mágoa de ninguém. O que tenho são boas lembranças, como dos crioulos, homens direitos, que pagavam tudo direitinho. Eu fazia questão de vender para eles. O Caetano, o James, o Felipão, o René, o Zé Crioulo e outros, tudo gente boa. Eu ainda vou voltar ao garimpo. Tenho um negócio aí que eu não posso falar muito. Mas eu vou voltar lá, e não vai demorar.