sábado, 9 de abril de 2016

Para o setor de mineração, o pior ainda está por vir

Para o setor de mineração, o pior ainda está por vir

Quando você está em um buraco, diz o ditado, pare de cavar.
Uma lição simples que, possivelmente, foi ignorada pelo setor de mineração, que perdeu mais de US$ 1,4 trilhão do valor para os acionistas por cavar buracos demais em todo o globo.
A queda de 73% do setor em relação ao pico de 2011 está muito além da perda de 49% do setor do petróleo durante o mesmo período.
Quanto tempo levará para que o mundo use os estoques repletos de metais, carvão e minério de ferro foi o debate central na maior conferência de investimento do setor de mineração na Cidade do Cabo nesta semana, que atraiu mais de 6.000 altos executivos, banqueiros, corretores, analistas, mineradores e repórteres. Aqui está o que eles concluíram.

O pior ainda está por vir

Este ano poderia ser ainda pior, com preços com tendência mais baixa por mais tempo, de acordo com o presidente executivo da Anglo American, Mark Cutifani, que diz que sua empresa deveria estar melhor preparada “para o inverno que inevitavelmente vem depois do verão”.
O australiano revelou que desde que assumiu o cargo, há 33 meses, a receita da empresa caiu em média US$ 350 milhões por mês.
A Rio Tinto Group também está se preparando para um ano difícil, e o CEO Sam Walsh previu na Bloomberg Television na quinta-feira (11) que a queda das commodities vai se espalhar. A empresa se juntou às concorrentes ao descartar sua chamada política progressiva de dividendos.

Afligir-se ou impressionar

O setor está se dividindo em dois tipos de pessoas: aqueles aflitos e aqueles que vão impressionar por atravessar a retração e sair do outro lado em uma posição mais forte para entrar no próximo ciclo.
Tom Albanese, presidente executivo da Vedanta Resources, hesitou em dizer que tinham chegado ao fundo do poço. A Vedanta, como seus pares, está focada em pagar suas dívidas e vai “fazer isso e resistir”, disse ele em entrevista à Bloomberg Television.

Excesso de produção

A abundância generalizada, do minério de ferro ao cobre, é o principal desafio para o setor.
O crescimento econômico mais lento da China em uma geração provocou a abundância dos metais, e o setor é o maior responsável, disse Cutifani. O alto custo da limpeza ambiental depois do fechamento de uma mina impede fechamentos e prolonga a crise.

Ouro, uma luz que brilha

O ouro, a commodity de melhor desempenho neste ano, está dando certa esperança às mineradoras. O status de refúgio seguro faz com que o ouro seja imune a muitas das forças que pesaram sobre os metais industriais e as commodities a granel.
Os preços estão fortes e as empresas estão querendo adquirir, disse Neil Froneman, o presidente executivo da Sibanye Gold, o maior produtor de ouro da África do Sul.

Transações vão acontecer

Os maiores produtores foram prejudicados pela queda nos preços das commodities que obrigou os produtores a descartar minas e fundições de menor qualidade.
A Anglo American, que está vendendo mais da metade de seus ativos, provavelmente vai anunciar vendas de seus ativos de carvão no país nas próximas duas semanas, de acordo com o Ministro sul-africano de Recursos Minerais.
Grupos de private equity estão circulando.
O valor das transações de private equity no setor de mineração vai aumentar neste ano dos US$ 3,2 bilhões em 2015 porque os maiores produtores economizam dinheiro e descartam operações não desejadas, de acordo com a firma de advocacia Berwin Leighton Paisner, do Reino Unido.

Enxurrada de ações

Evy Hambro, da BlackRock, um dos investidores de mineração mais importantes, foi contundente em sua avaliação do setor.
Quando perguntado sobre as perspectivas para a oferta, ele brincou que o bem mais abundante seriam novas ações em empresas de mineração.
Ele projeta que “as comportas [das vendas de ações] vão se abrir” porque o setor vai captar recursos para reerguer seus balanços enfraquecidos.

Ouro vive melhor ano desde 1974 e fura previsões dos especialistas

Ouro vive melhor ano desde 1974 e fura previsões dos especialistas

Depois de começar 2016 num dos valores mais baixos das últimas duas décadas, o ouro está a protagonizar uma espetacular recuperação que deixou os analistas confusos. Normalmente, a segurança do metal mais valioso do mundo é utilizada como defesa dos investidores contra a inflação alta, mas a verdade é que num ano de baixa ou inexistente subida dos preços o ouro está a ter o melhor início dos últimos 42 anos.
No final dos anos 70 do século passado, as economias mundiais viviam uma altura de fortíssima inflação, que chegava aos 15% nos Estados Unidos explica a Bloomberg, e por isso o ouro estava em grande destaque nos mercados. Mesmo com um contexto muito diferente, os primeiros dois meses e meio de 2016 trouxeram uma valorização de 18% ao metal mais precioso do planeta, uma variação pouco vista na matéria-prima com preço mais estável das bolsas.
Os especialistas estão à procura de explicações alternativas e parecem ter encontrado justificações no contexto económico. As maiores economias do mundo, como os Estados Unidos, a China e o Reino Unido estão a crescer ao ritmo mais baixo desde o rebentar da crise de 2008 e a consequência é uma volatilidade pouco vista nos mercados.
Com os investidores a fugir das ações e títulos de dívida, receosos de um colapso iminente, o ouro parece ser a solução mais aliciante para quem quer guardar o dinheiro sem desvalorização.

Diamante rosa de 15,38 quilates, conhecido como a “Única Rosa”, será leiloado em maio

Diamante rosa de 15,38 quilates, conhecido como a “Única Rosa”, será leiloado em maio

O diamante rosa de 15,38 quilates, conhecido como a “Única Rosa” é apresentado para imprensa em Londres, no Reino Unido. A companhia inglesa de vendas por leilão Sotheby’s leiloará a peça no dia 17 de maio e espera alcançar entre 19 e 26 milhões de libras

Mineiro volta ao lugar onde se tornou um milionário

Mineiro volta ao lugar onde se tornou um milionário

Mineiro volta ao lugar onde se tornou um milionário. Júlio Bento descobriu mina no Vale do Jequitinhonha. Pedras eram escondidas dentro de uma panela no acampamento.


No coração de Minas Gerais fica um lugar que já foi procurado por bandeirantes, aventureiros, e cobiçado por impérios. A história está nas ruas, nas casas, na alma da cidade, que tem no nome a riqueza e o destino de pedra: Diamantina. Ninguém sabe ao certo, mas calcula-se que da região tenham saído mais de 600 quilos de diamantes. E também de lá saíram outras pedras que se transformaram em joias belíssimas que ainda hoje brilham pelo mundo inteiro.

Quase três séculos de mineração deixaram marcas e mitos.

"Júlio Bento foi quem tirou mais diamantes. Ele até achou que era castigo tanto diamante", conta o empresário Fábio Nunes.

"Na região, o rei do diamante é Júlio Bento", confirma o taxista Sandoval Ribeiro, o Juca.

Júlio Bento, o rei do diamante, não gosta de revelar a idade, mas dizem que ele já passou dos 80. Fala menos ainda quando se trata de fortuna. Afinal, ele continua rico ou não? Seu Júlio voltou à Diamantina para mostrar o garimpo onde achou a primeira de muitas e muitas pedras valiosíssimas. Um tesouro encontrado justamente na região de Minas Gerais famosa pela pobreza, o Vale do Jequitinhonha.

A estrada é de terra, mas, naquele tempo, nem ela existia. Seu Júlio abriu as primeiras picadas e passou com uma tropa de mulas. De um trecho em diante, só com tração nas quatro rodas. Depois de uma hora de solavancos, chega-se ao local. Foi em um trecho do Rio Pinheiro que seu Júlio passou os primeiros cinco anos no garimpo.

Depois da investida dos bandeirantes, no Período Colonial, Diamantina viveu, na época de seu Júlio, uma segunda febre do garimpo. No começo dos anos 80, Diamantina chegou a ter mais de 30 mil garimpeiros. Só em uma mina trabalhavam 250 homens. Os diamantes que saíam da região espalhavam riquezas pelo Brasil inteiro e por outros países do mundo. Mas tudo isso tem um custo para a natureza: onde o garimpo chega, a paisagem muda. Areia que foi parar no meio do rio saiu de outro garimpo que ficava um pouco acima.

O leito do rio também foi desviado. Os muros construídos pelos garimpeiros ainda estão de pé. Seu Júlio volta a explorar o lugar, desta vez, para garimpar a própria história. Dois quilômetros adiante, um reencontro com o passado. O velho garimpeiro descobre o acampamento onde ele e os colegas passavam as noites.

"Ficou tudo do jeito que era porque a pedra protege. A comida era carne, arroz, feijão, verdura", lembra seu Júlio.

O homem que cozinhava para os garimpeiros hoje é chefe de cozinha em um restaurante de Diamantina. Mas, naquele tempo, Luiz Lobo – o Vandeca, como ainda é conhecido – tinha outra função, da maior importância: esconder os diamantes que seu Júlio tirava do rio.

"Seu Júlio confiava tanto em mim que eu tinha na cozinha uma panela que se chamava panela do segredo. Nem os cunhados dele sabiam onde eu guardava os diamantes. Eu guardava dentro de uma panela. Eu colocava as garrafas de diamantes e os pacotes de macarrão e de sal em cima, para que ninguém desconfiasse do que estava ali dentro. Ninguém nunca descobriu", afirma Vandeca.

Hoje seu Júlio vive em São Paulo. Além de não falar se ficou rico, ele não revela, nem mesmo, a quantidade de diamantes que extraiu. Mas, de repente, tira do bolso uma recordação dos velhos tempos: um diamante de quase cinco quilates. "Há mais de 20 anos eu guardo", conta.

Tantas lembranças deixam os olhos do velho garimpeiro brilhando como as pedrinhas que ele tanto procurou. "Dá vontade de chorar", diz seu Júlio, emocionado.

Na 'Suíça do Piauí', opala rende até R$ 60 mil no mês a garimpeiros

Na 'Suíça do Piauí', opala rende até R$ 60 mil no mês a garimpeiros

Mas, para encontrar pedra preciosa, é preciso sorte e dedicação.
Mineral é encontrado apenas em Pedro II e na Austrália.

Na pequena cidade de Pedro II, no norte do Piauí, a opala extra, pedra encontrada apenas nessa região e no interior da Austrália - que faz o mineral ser considerado precioso e chega a custar três vezes mais que o ouro - é o que move a economia local. Por ano, a cidade vende perto de 400 quilos de joias feitas com a pedra para os mercados interno e externo.
Processo de mineração da Mina do Boi Morto, em Pedro II, no Piauí. (Foto: Divulgação/Sebrae)Processo de mineração da Mina do Boi Morto, em Pedro II, no Piauí. (Foto: Marcelo Morais/Sebrae)
 
Tamanho é o valor do mineral que um garimpeiro chega a “achar” - com sorte e muita insistência - até R$ 60 mil em pedras em um mês. Normalmente, o ganho não atinge essa cifra com tanta frequência. No entanto, segundo José Cícero da Silva Oliveira, presidente da cooperativa dos garimpeiros de Pedro II, a atividade tem se desenvolvido, e o setor vem mantendo boas expectativas de crescimento - sustentável. Hoje, são explorados, legalmente, cerca de 700 hectares, o equivalente a 7 milhões de metros quadrados.
“A exploração não é mais desordenada. Todos os trabalhadores da cooperativa trabalham em áreas regulares, com licenciamento, com equipamento de segurança. Sempre recebemos a visita de fiscais de vários ministérios”, afirmou. No regime de cooperativa, 10% de tudo o que se ganha em vendas é dividido entre os 150 associados. “Mas se um encontra uma pedra maior, por exemplo, fica para ele. Se não fosse assim, não daria certo, né?”, ponderou.
Na chamada Suíça piauiense, devido às temperaturas mais amenas, que não castigam a cidade, diferente de muitos municípios do Nordeste, Pedro II tem cerca de 500 famílias, entre garimpeiros, lapidários, joalheiros e lojistas que vivem da opala, de acordo com dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) do Piauí. A população de Pedro II, segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 37.500 pessoas.
Opala bruta (E) e anéis feitos com a pedra, em Pedro II. (Foto: Carlos Augusto Ferreira Lima/Sebrae)Opala bruta (esq.) e anéis feitos com a pedra, em Pedro II. (Foto: Carlos Augusto Ferreira Lima/Sebrae)
 

Pedro II tem se consolidado, nos últimos anos, como um polo de lapidação de joias. “Além da opala, também usamos pedras de outros estados do Sudeste, do Sul. Compramos essas pedras, lapidamos e fazemos as joias”, contou a presidente da Associação dos Joalheiros e Lapidários de Pedro II, Surlene Almeida. Esse tipo de atividade é desenvolvida há cerca de oito anos.

Em relação ao tempo em que as minas de opala são exploradas, a transformação das pedras em joias é recente, mas está evoluindo. Na cidade, já foi instalado um centro técnico de ensino de lapidação, design e joalheria, segundo Surlene. “É como se fosse um curso técnico mesmo, onde as pessoas se especializam nessa atividade.”

Apesar de o forte da economia de Pedro II ser a mineração, a cidade também vive da agricultura familiar. Durante o inverno, que tem períodos mais chuvosos, muitos garimpeiros migram para esse outro tipo de sustento.