sexta-feira, 20 de maio de 2016

Cristais: Beleza pura

Poucas coisas são tão perfeitas no mundo como os cristais - as obras-primas que a natureza leva centenas de milhares de anos para produzir. Suas formas, cores e combinações parecem não ter fim
A variedade de formas, tamanhos e cores faz dos cristais um dos mais raros e belos espetáculos da natureza — especialmente quando se encontram vários de um mesmo mineral ou de minerais diversos agrupados. Componentes naturais da crosta terrestre, os minerais têm estrutura cristalina e composição química definidas. Essa estrutura nada mais é que a forma como se arranjam os átomos dos diversos elementos que formam um mineral. Por isso, ela tem influência decisiva na determinação das propriedades físicas e químicas de cada um deles.
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Bons exemplos são a grafite e o diamante: ambos constituídos de carbono puro, possuem no entanto estruturas cristalinas diferentes. A primeira é um mineral comum encontrado nas rochas que se formam usualmente na parte superior da crosta terrestre; nela, os átomos de carbono se dispõem em planos de anéis de seis faces. Já o diamante, muito raro, forma-se nas profundezas da crosta, em rochas vulcânicas muito especiais, onde a pressão e a temperatura são muito altas. Por isso, seus átomos de carbono constituem uma estrutura muito mais compacta, em forma de pirâmide de quatro faces iguais. Com estruturas tão diferentes, não é de estranhar que as propriedades físicas de grafites e diamantes também sejam diferentes.
Enquanto a grafite é mole, cinzenta, opaca e leve - sua densidade é de apenas 2,1 gramas por centímetro cúbico - o diamante é incolor, duro (é o material mais duro que se conhece), transparente e denso - 3,5 g/cm3 - e provoca intensa dispersão da luz que o atravessa. Quando a estrutura cristalina dos minerais se reflete externamente nas pedras, com faces planas e simetricamente distribuídas, é chamada de cristal. A natureza leva centenas de milhares de anos para fazer um cristal. Mas a tecnologia permite fabricá-lo em laboratórios, ou mesmo em casa, em questão de um mês.
A experiência pode ser feita usando-se o sulfato de cobre, dissolvido e deixado num recipiente com água. Esta começa a evaporar lentamente. A concentração do sulfato aumenta até atingir o limite máximo de saturação à temperatura ambiente. Então, o produto começa a se depositar no fundo do recipiente já em forma sólida. Como a evaporação prossegue, os átomos de cobre, enxofre e oxigênio vão ocupando seus lugares na estrutura cristalina. Ao fim dessa alquimia, surgem no fundo do recipiente inúmeros cristaizinhos de faces externas planas, que só param de crescer quando a água se evapora por completo.
Outro processo permite fabricar um único e grande cristal. Basta pendurar por um fio um pequeno cristal de sulfato de cobre num recipiente e ele servirá como gérmen. À medida que a solução no recipiente chega ao ponto de saturação, tem início a cristalização. Sobre o cristalzinho se depositam átomos de cobre, enxofre e oxigênio e ele começa a crescer. Daí resulta um cristal grande em forma de prisma oblíquo, cuja base é um paralelogramo intensamente azul. Mas não será certamente tão belo quanto os que a natureza se esmera em produzir.
O processo natural é semelhante ao doméstico, mas as condições são muito mais severas. Por um longo período, massas enormes de magma - rochas em estado de fusão que constituem a grande parte da massa da Terra - rompem outras rochas que estão na base da crosta, provocando nelas intensa deformação e fraturas. As frações mais leves do magma - que contêm maiores quantidades de elementos químicos leves, água superaquecida a temperaturas de até 300 graus e gases - se concentram na periferia das rochas magmáticas e penetram nas fraturas das rochas adjacentes, a temperatura é mais fria. É assim que os minerais começam a se formar.
À medida que vão diminuindo, devido ao contato com as paredes mais frias das fraturas das rochas, os sais contidos na água passam a se depositar ordenadamente, formando cristais, como na experiência doméstica. Mas na natureza os recipientes são as fendas de algumas centenas de metros de comprimento que se abrem nas rochas. Com freqüência ocorrem mudanças na composição química das soluções que atravessam as fraturas; isso permite que minerais diferentes se cristalizem sobre outros já formados.
Tais soluções carregam impurezas que se alojam em pequenas quantidades na estrutura cristalina dos minerais. São elas que dão a um mesmo cristal cores diferentes ou as tonalidades tão diversas que encantam os olhos. Onde quer que sejam encontrados, os minerais apresentam a mesma estrutura cristalina. Da mesma forma, os cristais deles derivados têm a mesma simetria. O quartzo, por exemplo, cristaliza-se sempre sob a forma de prismas de base hexagonal - de seis lados - que terminam na combinação de dois cubos deformados (romboedros), assemelhados a uma pirâmide de seis faces. As proporções podem mudar, mas a simetria é invariavelmente a mesma.
Já o topázio se cristaliza sob a forma de prismas de base losangular - de quatro lados - que terminam com faces de pirâmides de diferentes inclinações. A água-marinha e a esmeralda, variedades de berilo, formam prismas hexagonais que terminam normalmente em pequenas faces de pirâmides truncadas por outra face plana perpendicular ao prisma. No caso da turmalina, os prismas que se formam têm base triangular que terminam em pirâmides. As dimensões dos cristais variam muito. Os diamantes, por exemplo, medem normalmente poucos milímetros, enquanto os cristais de quartzo freqüentemente ultrapassam 1 metro de comprimento. Existem cerca de 3 mil espécies conhecidas de minerais, e a variedade de formas, cores e combinações dos cristais deles derivados parece infinita.
De Minas para o mundo
Uma das mais fantásticas e importantes coleções de cristais do mundo pode ser vista no Museu Nacional de História Natural da França, em Paris. São 78 peças gigantes cuja idade varia entre 200 milhões e 1 bilhão de anos e cujo peso oscila entre 200 quilos e 4 toneladas. Têm em comum uma característica: são, todas, pedras de quartzo brasileiro. A coleção começou a ser montada em 1957, quando o comerciante de gemas Ilia Deleff, búlgaro de nascimento, esteve pela primeira vez no Brasil. Na década de 70, Deleff foi viver em Governador Valadares, Minas Gerais, onde Henri-Jean Schubnel, conservador de Mineralogia do museu francês, descobriu a preciosa coleção.
Schubnel não sossegou enquanto não convenceu o governo francês a comprar as pedras guardadas em Minas. Mas oito anos se passaram até que, em 1982, o presidente Fançois Mitterrand liberou os recursos para a transação. Não se sabe quanto a França pagou: os museus do governo jamais revelam o custo de suas aquisições. Deleff, que divide seus dias entre o Brasil e a França, diz que tentou em vão vender sua coleção a instituições brasileiras. Mas, como elas não demonstraram interesse, acabou por negociar com os franceses. Segundo ele, também museus britânicos, japoneses e americanos pretenderam comprar as pedras. O interesse se explica: a boa qualidade da cristalização e a perfeição das formas que caracterizam esses cristais não se encontram em nenhuma outra coleção.
A cura pelas pedras
Uma corrente com um pequeno cristal pendurado no pescoço ou um anel de ametista no dedo podem significar mais que meros enfeites. Os adeptos da New Age - última moda em esoterismo nos Estados Unidos - acreditam que os cristais têm poderes curativos. A papisa dessa seita é a atriz Shirley MacLaine. Eles recorrem às pedras para combater uma variedade de mazelas, de insônia a má digestão. Há quem ache que isso funciona. O técnico em Mineralogia Edson Roberto Endrigo, 21 anos, conta que, ao participar no ano passado de uma exposição de pedras, em Pasadena, Califórnia, teve um acesso de sinusite acompanhada de enxaqueca. Um negociante de cristais que ali estava se ofereceu para curá-lo, passando um quartzo incolor em torno dos ombros e da cabeça de Edson. “Três minutos depois, eu não sentia mais nada”, ele jura.
Os fãs da New Age incluem tanto os apreciadores dos hexagramas do I Ching ou das cartas do tarô quanto os crentes em discos voadores e nos poderes dos cristais. Os iniciados dizem que um quartzo dentro de um aquário torna os peixes mais limpos e brilhantes. Perto de um vaso, faria as plantas crescer mais depressa. Os partidários da cristaloterapia acreditam que tudo isso se explica pela transmissão de energia contida nas pedras. Como toda crendice sempre gera um próspero comércio, existem nos Estados Unidos institutos que prometem literalmente vida nova a seus pacientes por meio de cristais. É o caso de um certo Instituto de Concentração do Cristal, no Estado do Novo México, que cobra a bagatela de 1500 dólares por uma semana de “tratamento”, numa aprazível praia do Havaí.

Gema vermelha

Se os diamantes são pedras belas e raras, ainda mais belos e raros são os diamantes vermelhos, cujos tons vão do rosa e laranja ao amarronzado. Eles existem apenas no Brasil, Bornéu, Venezuela, India e Africa do Sul. Um dos cinco únicos diamantes vermelhos catalogados no mundo foi exibido em Washington pelo National Museum of Natural History. A pedra foi doada ao museu pelo negociante Sydney DeYoung (falecido em 1986), que já transacionara com gemas que pertenceram à imperatriz francesa Maria Antonieta e a Cata ri na, a Grande, da Rússia, sem falar em celebridades plebéias como Helena Rubinstein e Elizabeth Taylor. O diamante doado por De Young, com seus 5,03 quilates, perde apenas por 0,02 quilate para o maior diamante vermelho de que já se teve notícia - cujo paradeiro, por sinal, é desconhecido. Tampouco se sabe ao certo quando e onde o diamante de De Young foi encontrado.

Como se lapida um diamante?

Como se lapida um diamante?
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A lapidação ou serragem ocorre pelo atrito das partes menos duras do diamante com um rolo de metal cuja superfície tem uma camada de pó de diamante de 1 vigésimo de milímetro de espessura. Os materiais de igual dureza não se cortam e nem se riscam, mas como o grau de resistência da pedra varia em muitos pontos, o pó acaba agindo nas partes mais fracas. O processo é longo: para uma pedra de 1 quilate (6 a 7 milímetros de diâmetro) são necessárias de 5 a 8 horas de trabalho

Descoberto no Brasil mineral "tecnologicamente fantástico"

Descoberto no Brasil mineral "tecnologicamente fantástico"


Melcherita
Amostras da melcherita foram depositadas no Museu de Geociências da USP e no Museu Mineralógico da Universidade do Arizona, nos EUA. [Imagem: Divulgação/ICAM/IFSC]
Melcherita
Pesquisadores da USP descobriram um novo mineral cujas propriedades físicas e estruturais o habilitam para importantes aplicações tecnológicas.
O novo mineral foi encontrado em uma cavidade muito pequena de uma rocha de carbonatito, que é rica em calcita e dolomita, na mina de fosfato (carbonatito) de Jacupiranga, no município de Cajati (SP). Nesse tipo de cavidade se encontram os minerais mais raros.
O mineral, batizado de melcherita, foi descoberto pelo engenheiro de minas Luiz Alberto Dias Menezes Filho (1950-2014) e caracterizado pela equipe do professor Daniel Atencio, do Instituto de Física da USP em São Carlos (SP). O nome melcherita é uma homenagem ao falecido professor Geraldo Conrado Melcher (1924-2011).
A fórmula química do mineral é Ba2Na2Mg[Nb6O19]·6H2O.
Mineral de nióbio
"A estrutura da melcherita é muito versátil. E até pouco tempo só havíamos encontrado essa estrutura em compostos produzidos em laboratório, e não na natureza", explicou o pesquisador Marcelo Barbosa de Andrade.
Contudo, ao contrário dos compostos sintéticos, ou seja, aqueles produzidos em laboratório, a melcherita contém nióbio (Nb), substância bastante utilizada na fabricação de aços especiais, mas também em materiais supercondutores,novas gerações de discos rígidos para computadores e até reatores de fusão nuclear.
Por ter características diferentes dos compostos sintéticos, segundo Marcelo, a "possibilidade de aplicação tecnológica desse mineral é fantástica".
Há poucas semanas se descobriu que o nióbio se autoestrutura para formar um supercondutor. Da mesma forma, o nióbio pode originar octaedros - estruturas que contêm oito faces - que se unem formando um "super-octaedro".
O pesquisador explica que já existem estudos envolvendo o aprisionamento de substâncias por essas estruturas formadas pelo nióbio, como vírus e compostos químicos letais, como o gás sarin.
Muitas novidades
Por se tratar de um mineral recém-descoberto, ainda serão feitas análises com foco nas propriedades físicas do mineral a fim de analisar outras possíveis aplicações da melcherita, mesmo porque esse mineral ainda não foi encontrado em nenhuma outra região do mundo, a não ser em Cajati.
"A pesquisa ainda está em desenvolvimento. E, em razão de podermos substituir os elementos que existem no mineral, alterando suas propriedades físicas, esperamos apresentar muitas novidades", afirma Marcelo.
Devido à sua raridade, amostras da melcherita foram depositadas no Museu de Geociências da USP e no Museu Mineralógico da Universidade do Arizona, nos EUA, onde estarão acessíveis aos pesquisadores interessados em desenvolver novos estudos com o mineral recém-descoberto.


A mística dos diamantes

Uma exposição minuciosa mostra todas as formas e cores do brilhante, a mais preciosa das pedras. E revela que os cristais guardam segredos sobre a origem da nossa galáxia.
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Um diamante de 1 quilate, ou um quinto de grama, pode valer 1 milhão de dólares. Descoberto na Índia, o brilhante mais precioso fascinou gregos e romanos e conquistou todos os reis da Europa. Deixou de ser privilégio da aristocracia, mas nunca perdeu a aura de distinção. Não é só a beleza que o torna tão especial. Os fragmentos que enfeitam um brinco podem ter 3 bilhões de anos. Um diamante é a matéria mais velha que alguém pode possuir.
Quem for a Nova York até o dia 30 de agosto poderá ver a mais completa exposição já realizada sobre o tema, A Natureza dos Diamantes, no Museu Americano de História Natural. Ela reúne jóias de tirar o fôlego, cristais crus incrustados em rochas vindas do fundo do Terra, gemas de muitos usos e utilidades e tecnologias sofisticadas, da mineração à reprodução artificial.
Entre tantos tesouros magníficos, uma pedra negra passa quase despercebida. Mas não deveria. Trata-se de um pedaço do meteoro Allende, caído em 1969 na cidade mexicana que deu nome à rocha. Incrustado nele, cientistas acharam, em 1987, minúsculos grãos de diamante, nanodiamantes, visíveis apenas em microscópio, mais velhos do que o Sol. Têm entre 4,6 bilhões e 12 bilhões de anos, a idade da estrela e a idade da nossa galáxia, respectivamente.
São diamantes ETs, vindos não se sabe de onde. E em sua composição química carregam informações inéditas sobre a explosão que formou o nosso sistema solar. “São as amostras mais velhas que temos”, disse à SUPER o físico George Harlow, curador da exposição. “Elas podem desvendar fatos ainda não conhecidos sobre a nossa origem” (veja na página 62).
Quebrando a banca
O Incomparável é o terceiro maior diamante do mundo. Tem 407,48 quilates (81 gramas) e foi cortado de um bloco de cristal bruto (ao lado), achado na África do Sul, que pesava 890 quilates (178 gramas). Em 1984, um milionário suíço comprou-o, num leilão na loja Christie’s, em Nova York, por 13,2 milhões de dólares.
Mensagem subliminar
A bela Marilyn Monroe seduziu meio mundo no filme Os Homens Preferem as Loiras, de 1953, cantando a música Os Diamantes São os Melhores Amigos das Garotas. Seu carisma ajudou a popularizar a imagem glamourosa dos cristais e seu comércio. Desde 1930, as grandes joalherias vinham emprestando brilhantes gratuitamente aos estúdios de Hollywood para as atrizes exibirem em filmes. Mas estes, que Marilyn usou, eram de vidro.
A pedra mística que deu a volta ao mundo
Lorelei Lee, a nem tão ingênua garota que amava diamantes, interpretada por Marilyn Monroe em Os Homens Preferem as Loiras, talvez fosse até feminista. No filme, ela retruca ao sogro que a acusa de querer o dinheiro do filho: “Quem, eu? Eu, não. Você não sabe que a riqueza do homem é como a beleza da mulher? Você pode não se casar com uma garota só porque ela é bonita. Mas, meu Deus, ajuda, não é?” Para Lorelei, os diamantes são uma espécie de seguro das mulheres contra as juras de amor fáceis dos homens. Bem mais confiáveis.
Nem sempre os cristais foram apreciados pelo valor econômico. Na Índia, textos religiosos do século IV antes de Cristo já descrevem a beleza das gemas como a essência da pureza. Na cultura hindu, a durabilidade da pedra ganhou significação mística e poderes supostamente mágicos.
As caravanas levaram os cristais do Oriente para a Grécia. No século I, os romanos usavam anéis de diamante como talismã contra o azar, mas a pedra não era considerada preciosa. No primeiro milênio em que o cristianismo se expandiu, ela foi quase esquecida na Europa. No Oriente, entretanto, conquistou reis da Pérsia e sultões islâmicos.
Proibido pela lei
O culto europeu começou quando o rei da França Luís IX (1214-1270), proibiu as mulheres de usarem os diamantes, reservando-os ao soberano. No século XV, a insinuante Agnes Sorel, amante do rei Charles VII (1403-1461), tornou-se a primeira mulher a desafiar a lei. E toda a corte francesa imitou-a.
Veneza, capital do comércio com o Oriente, foi o primeiro centro de cristais. A descoberta da rota marítima para as Índias aumentou a oferta deles. No século XV, as alianças de diamantes passaram a freqüentar casamentos nobres, simbolizando, pela durabilidade, os ideais românticos do amor cortesão.
Em 1730, quando já rareavam na Índia, descobriu-se diamante em Minas Gerais. A produção brasileira inundou a Europa, o preço baixou e o culto generalizou-se. Até 1840, o Brasil foi o maior produtor.
Em 1869, o garimpo brasileiro já estava esgotado, mas a abertura das minas na África do Sul ampliou a oferta, novamente. A aura dos brilhantes passou a ser disputada pelas famílias burguesas. Adotada por Hollywood, seu valor tornou-se universal. Lorelei fez milhões de seguidoras.
O maioral
O Golden Jubilee é o maior diamante do mundo. Tem 545,67 quilates (109 gramas). Foi descoberto na África do Sul, em 1994, e pertence à mineradora De Beers. Em 1997, um grupo de empresários tailandeses quis comprá-lo para dar de presente ao rei da Tailândia, por ocasião dos seus 50 anos de reinado. Mas a crise financeira da Ásia abortou o projeto. O preço foi mantido em segredo.
Amor eterno
O Diamante Krupp, com 33,19 quilates (6,5 gramas), foi comprado pelo ator Richard Burton para Elizabeth Taylor, sua esposa, por 305 000 dólares, em 1968. Era um símbolo de eterna fidelidade. Mas o casamento não durou mais que doze anos.
Do Brasil para Portugal
Tiara de 25 estrelas da rainha Maria Pia (1847-1911), de Portugal. Tem 502 diamantes. O do centro da estrela maior tem 21,6 quilates (4,3 gramas). A estrutura é de ouro e prata. Foi feita em 1866, com pedras brasileiras. Pertence ao Museu do Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa. O valor é inestimável.
O arco-íris
Uma amostra de raros diamantes coloridos naturais. Há uma gema com cor para cada 10 000 transparentes. O que tinge os cristais é a combinação de impurezas e átomos não-carbônicos, como o nitrogênio e o boro.
O segredo imemorial dos ETs de pedra
Quando o Sistema Solar se formou, muitos ingredientes originais se derreteram ou se vaporizaram, perdendo sua identidade química. Mas os diamantes saíram ilesos do inferno. Em 1987, os químicos Roy Levis e Edward Anders, da Universidade de Chicago, descobriram grãos de brilhante nos meteoros Allende, que caiu no México em 1969, e Murchison, caído na Austrália, no mesmo ano. Tinham entre 1 e 5 milionésimos de milímetro.
Em 1996, o geólogo Tyrone Daulton, do Laboratório Nacional Aargonne, nos Estados Unidos, descobriu que os nanodiamantes dos meteoros se condensaram no ambiente rico em carbono gerado pela morte de estrelas gigantes vermelhas, há bilhões de anos, quando a nossa galáxia estava se formando. Mais antigos do que o Sol, esses grãos abriram uma janela com vista panorâmica para a evolução das estrelas (veja infográfico, ao lado).
O conhecimento da origem do Sistema Solar depende do exame da composição da nuvem primordial de gás e poeira. Os cristais ETs constituem uma fração dessas partículas que formaram tudo, inclusive nós, os seres humanos. “São uma fonte preciosa de informações”, disse Daulton à SUPER. “Vários átomos de carbono do nosso corpo já foram diamantes pré-solares”.
A microestrutura dos cristais gravou segredos sobre os ciclos de evolução estelar, suas condições químicas e a escala atômica dos mecanismos de condensação. Pode desvendar os graus de pressão, de temperatura e a composição do ambiente das estrelas. O que não é pouco, nota Daulton: “Fica mais fácil descobrir a receita familiar secreta do suflê do seu amigo quando você conhece todos os ingredientes”.
Choque criativo
Meteoros também “fabricam” diamantes. Colisões cósmicas causam o que os geólogos chamam de “choque metamórfico”: um impacto capaz de transformar em cristal o carbono das rochas atingidas. Foi o que aconteceu na cratera de Popigari, na Sibéria (veja infográfico abaixo). Já foram descobertos diamantes em nove das 150 crateras de meteoros da Terra.
Há 65 milhões de anos, lembra Goerge Harlow, um grande impacto cósmico, entre os períodos Cretáceo e Terciário, coincidiu com a extinção dos dinossauros. Os diamantes também registraram isso. “Esta área de pesquisa”, afirma o curador da exposição, “deverá contribuir com descobertas incríveis.”
O método Super-Homem
O personagem de quadrinhos, inventado em 1938 por Jerry Siegel e Joe Shuster, transformava carvão em diamante com as mãos. Seu filho, numa história de 1991, também. A idéia é delirante, mas, teoricamente, possível. Basta aquecer o carvão com visão de raios X até a temperatura de 1 400 graus Celsius e apertá-lo com a pressão de 55 000 quilobares – o equivalente ao peso da Torre Eiffel (2,3 milhões de quilos) sobre uma moeda de 1 centavo. Brincadeira, para o superbebê.
Um ET em 3x4
Asteróides caídos na Terra trouxeram grãos de diamantes incrustados, como mostra esta imagem de microscópio de um cristal de 0,0000020 milímetro do meteoro Allende. A estrutura cristalina está colorida de azul. Os pontos pretos correspondem às colunas de átomos de carbono.
Viagenzinha longa
Durante a explosão das estrelas gigantes vermelhas, ocorrida entre o nascimento do Sol, há 4,6 bilhões de anos, e a formação da nossa galáxia, há 12 bilhões de anos, a condensação dos gases criou grãos de poeira e microdiamantes.

A união e a força

Diamante e grafite são dois tipos de cristal de carbono. A diferença entre eles está no arranjo das moléculas: a ligação entre os átomos faz do diamante a substância mais dura que existe.
O diamante é composto de bilhões de blocos iguais, formados por 8 átomos de carbono, cada um ligado fortemente a 4 vizinhos. A célula tem a forma de cubo. Se você der uma martelada, a pedra nem sente; quem sai perdendo é o martelo.
O grafite é formado por anéis de 6 átomos de carbono, bastante distanciados entre si e sem conexões adjacentes. Quebra fácil. Basta ver a ponta do lápis, que é feita de grafite.
Uma cápsula enviada do fundo da Terra
A maioria dos diamantes formados no planeta têm 3 bilhões de anos. Vêm de 150 quilômetros abaixo da crosta terrestre, da camada do manto superior, onde a temperatura ultrapassa 1000 graus Celsius e a pressão chega a 60 quilobares (1 bar é o peso da coluna de ar que vai do chão até a atmosfera, concentrado em cima de 1 centímetro quadrado).
As gemas concentram-se em dois tipos de rocha, a harzburgita e a eclogita, que sobem à superfície de carona no magma de um vulcão profundo, o kimberlito. Vulcões comuns têm até 60 quilômetros de profundidade e crateras de até 200 quilômetros quadrados. Os kimberlitos chegam a 150 quilômetros de profundidade, com crateras de apenas 1,5 quilômetro quadrado. Parecem uma cenoura enterrada (veja infográfico). O nome vem da mina de Kimberly, na África do Sul.
Hoje, a mineração concentra-se nas regiões árticas do Canadá, Sibéria, Escandinávia e Groenlândia. Mas ainda há diamantes de aluvião, levados para a superfície pelos vulcões e espalhados pela erosão. E depósitos marinhos, no fundo do oceano e em praias.
Mil e uma utilidades
Cem milhões de quilates de gemas naturais são extraídas anualmente e 400 milhões são fabricados em laboratório para fins industriais. Dos naturais, só 25 milhões de quilates acabam em jóias. É claro que os diamantes artificiais não têm o valor dos naturais: podem ser comprados por 1 dólar por quilate.
Poucas substâncias foram tão estudadas. O diamante é utilizado para cortar, modelar e polir. Penetra em tudo, e nada consegue riscá-lo, a não ser outro diamante. As sondas de perfuração de poços de petróleo usam cristais na ponta. As brocas que nos fazem sofrer no dentista têm diamante. A ponta de brilhante de certos bisturis cirúrgicos está sempre limpa e afiada porque ele repele a água, o sangue e os tecidos molhados.
A resistência à alta temperatura e a transparência tornam o diamante o material ideal para janelas de espaçonaves, como a da sonda Pioneer, feita de cristal artificial, que agüentou, em Vênus, uma pressão atmosférica 100 vezes maior do que a da Terra, em 1978.
O campo mais fértil é o dos microchips. A condutividade térmica dos diamantes promete supercomputadores que não esquentam. Graças à força indestrutível dos cristais, as máquinas do futuro poderão ter muito mais potência e velocidade.
O grande buraco
Em 1874, a mina de Kimberley (ao lado) era um pandemônio parecido com o de Serra Pelada, no Pará. Baldes pendurados em cordas levavam a terra escavada para ser examinada na superfície. A mina funcionou de 1869 a 1914, produzindo 150 milhões de quilates de diamantes (30 toneladas). Deixou um enorme buraco vazio, The Big Hole (foto maior), de 200 metros de profundidade.
Mineração na praia
Mina CDM, no litoral sudoeste da África do Sul. Um dique de areia de 15 metros de altura protege a escavação do mar. Retirada a areia, usam-se jatos de ar para procurar diamantes no leito.