sábado, 24 de setembro de 2016
Do sertão para a Champs Elysées- Turmalina é destaque de negócios
Do sertão para a Champs Elysées- Turmalina é destaque de negócios
Turmalina brasileira avaliada em US$ 1,3 milhão desperta a cobiça de grifes internacionais como Chanel e Dior.
Diz o ditado que o diamante é o melhor amigo das mulheres. Mas a depender de beleza, raridade e preço, uma candidata desponta para tomar o posto da mais prestigiada das gemas na preferência feminina: a turmalina brasileira. De cores que variam do vermelho ao verde, do bicolor ao azul neon – a mais famosa e rara –, a pedra atiça o desejo de amantes de joias mundo afora. E, mais recentemente, de joalheiros e colecionadores. O motivo é um novo achado no Seridó, região do semiárido na divisa entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte e um dos poucos recantos do planeta onde se pode encontrar a gema. No fim de abril, cinco garimpeiros escavaram uma pedra bicolor, de tom verde numa extremidade e âmbar na outra, no município de Picuí.
Na balança, a gema pesou impressionantes 804 gramas – aproximadamente o tamanho de um punho fechado –, o que faz dela a maior e já desenterrada no mundo. Rara pelo porte, a pedra foi vendida, segundo relatos da cooperativa dos mineradores local e do governo da Paraíba, por US$ 1,3 milhão a um empresário de Belo Horizonte, e está guardada num cofre da capital mineira. Logo deve mudar de casa. Seu provável destino é o acervo de um colecionador ou o portfólio de uma grande joalheria para ser lapidada – além de nomes nacionais como H.Stern e Amsterdam Sauer, são potenciais interessadas grifes como Chanel e Dior, as maiores compradoras desse tipo de raridade. Segundo especialistas ouvidos pela DINHEIRO, o valor desembolsado pela pedra é elevado e indica qualidade, embora o preço costume embutir certa subjetividade de quem a avalia.
“Cada pedra é uma pedra. Por esse valor, tudo indica que está fora do mercado”, diz Hecliton Santini, presidente do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM). Turmalinas bicolores também são bastante procuradas por joalheiros para confeccionar peças que exploram as duas tonalidades. O valor da gema é determinado pela pureza das cores, nitidez da divisa entre elas e ausência de fissuras. “A turmalina bicolor ganha em valor muito mais pela qualidade das cores do que por sua raridade”, afirmou Dino Psomopoulos, gemólogo da Amsterdam Sauer, uma das principais joalherias nacionais. O interesse – e o preço pago – pela turmalina encontrada pelos cinco garimpeiros não é incomum. Suas variedades mais valiosas costumam superar os US$ 500 o quilate.
A mais famosa e cobiçada delas é conhecida como turmalina Paraíba. Encontrada pela primeira vez em 1989, em num garimpo em São José da Batalha, na Paraíba, a pedra teve suas reservas esgotadas pouco tempo depois. Pela exclusividade, seu preço superou o do diamante, chegando a custar US$ 30 mil o quilate, contra US$ 25 mil da gema mais conhecida. Só mais recentemente, turmalinas similares à estrela brasileira começaram a ser encontradas na Nigéria e em Moçambique. “As brasileiras costumam valer o dobro das africanas”, diz Santini. Além de joalherias nacionais como Amsterdam Sauer e H.Stern, grifes internacionais como Chanel e Dior têm joias confeccionadas a partir da mais nobre das turmalinas para seus clientes mais exclusivos.
Um broche da Chanel cravejado com diamantes e uma grande turmalina no centro, por exemplo, está avaliado em € 1,5 milhão. Mas nada se compara à Ethereal Carolina Divine Paraíba. De propriedade do milionário canadense Vincent Boucher, ela tem 191,87 quilates e está avaliada entre US$ 25 milhões e US$ 125 milhões e, desde o ano passado figura no Guinness – o livro dos recordes – como a maior turmalina lapidada do mundo. Apesar de badalada, a pedra ainda é pouco conhecida no Brasil. Tampouco é pouco divulgado o retorno que traz para os cofres brasileiros. Entre maio e janeiro deste ano, o País exportou US$ 1,1 bilhão em pedras preciosas e joias, 35% a mais que no mesmo período do ano passado. Desses, US$ 1,1 milhão foram em diamantes, brutos e lapidados. Sobre as turmalinas, não se sabe.

Istoé dinheiro
Diz o ditado que o diamante é o melhor amigo das mulheres. Mas a depender de beleza, raridade e preço, uma candidata desponta para tomar o posto da mais prestigiada das gemas na preferência feminina: a turmalina brasileira. De cores que variam do vermelho ao verde, do bicolor ao azul neon – a mais famosa e rara –, a pedra atiça o desejo de amantes de joias mundo afora. E, mais recentemente, de joalheiros e colecionadores. O motivo é um novo achado no Seridó, região do semiárido na divisa entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte e um dos poucos recantos do planeta onde se pode encontrar a gema. No fim de abril, cinco garimpeiros escavaram uma pedra bicolor, de tom verde numa extremidade e âmbar na outra, no município de Picuí.
Na balança, a gema pesou impressionantes 804 gramas – aproximadamente o tamanho de um punho fechado –, o que faz dela a maior e já desenterrada no mundo. Rara pelo porte, a pedra foi vendida, segundo relatos da cooperativa dos mineradores local e do governo da Paraíba, por US$ 1,3 milhão a um empresário de Belo Horizonte, e está guardada num cofre da capital mineira. Logo deve mudar de casa. Seu provável destino é o acervo de um colecionador ou o portfólio de uma grande joalheria para ser lapidada – além de nomes nacionais como H.Stern e Amsterdam Sauer, são potenciais interessadas grifes como Chanel e Dior, as maiores compradoras desse tipo de raridade. Segundo especialistas ouvidos pela DINHEIRO, o valor desembolsado pela pedra é elevado e indica qualidade, embora o preço costume embutir certa subjetividade de quem a avalia.
“Cada pedra é uma pedra. Por esse valor, tudo indica que está fora do mercado”, diz Hecliton Santini, presidente do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM). Turmalinas bicolores também são bastante procuradas por joalheiros para confeccionar peças que exploram as duas tonalidades. O valor da gema é determinado pela pureza das cores, nitidez da divisa entre elas e ausência de fissuras. “A turmalina bicolor ganha em valor muito mais pela qualidade das cores do que por sua raridade”, afirmou Dino Psomopoulos, gemólogo da Amsterdam Sauer, uma das principais joalherias nacionais. O interesse – e o preço pago – pela turmalina encontrada pelos cinco garimpeiros não é incomum. Suas variedades mais valiosas costumam superar os US$ 500 o quilate.
A mais famosa e cobiçada delas é conhecida como turmalina Paraíba. Encontrada pela primeira vez em 1989, em num garimpo em São José da Batalha, na Paraíba, a pedra teve suas reservas esgotadas pouco tempo depois. Pela exclusividade, seu preço superou o do diamante, chegando a custar US$ 30 mil o quilate, contra US$ 25 mil da gema mais conhecida. Só mais recentemente, turmalinas similares à estrela brasileira começaram a ser encontradas na Nigéria e em Moçambique. “As brasileiras costumam valer o dobro das africanas”, diz Santini. Além de joalherias nacionais como Amsterdam Sauer e H.Stern, grifes internacionais como Chanel e Dior têm joias confeccionadas a partir da mais nobre das turmalinas para seus clientes mais exclusivos.
Um broche da Chanel cravejado com diamantes e uma grande turmalina no centro, por exemplo, está avaliado em € 1,5 milhão. Mas nada se compara à Ethereal Carolina Divine Paraíba. De propriedade do milionário canadense Vincent Boucher, ela tem 191,87 quilates e está avaliada entre US$ 25 milhões e US$ 125 milhões e, desde o ano passado figura no Guinness – o livro dos recordes – como a maior turmalina lapidada do mundo. Apesar de badalada, a pedra ainda é pouco conhecida no Brasil. Tampouco é pouco divulgado o retorno que traz para os cofres brasileiros. Entre maio e janeiro deste ano, o País exportou US$ 1,1 bilhão em pedras preciosas e joias, 35% a mais que no mesmo período do ano passado. Desses, US$ 1,1 milhão foram em diamantes, brutos e lapidados. Sobre as turmalinas, não se sabe.
Istoé dinheiro
Joias com Pedras preciosas de Minas agora só se vier da China
Cinquenta metros abaixo do chão, trabalhadores caminham por túneis estreitos, abertos na rocha e cheios de poças de água, para extrair a pedra que caiu no gosto do mercado de luxo da China. Com pás, picaretas e furadeiras, uma centena deles retira todos os dias quilos e quilos de turmalina na Mina do Cruzeiro, no município de São José da Safira, interior de Minas Gerais. As pedras são exportadas em forma bruta, lapidadas na China e também lá transformadas em anéis, brincos e pingentes usados por chinesas endinheiradas.
O aumento do interesse chinês por turmalinas e outras pedras preciosas e semipreciosas de cor do Brasil é ainda uma novidade, mas já provoca uma pequena revolução no mercado de gemas. Os chineses tornaram-se mais visíveis como compradores depois da crise financeira mundial de 2008, quando os compradores tradicionais - americanos e europeus - se retraíram. A demanda da China literalmente salvou empregos em algumas cidades do interior de Minas Gerais - o Estado mais tradicional na produção e venda de "pedras coradas" do país - que são centros de exploração ou comércio de pedras. Mas o apetite asiático também é motivo de preocupação.
Grandes joalherias brasileiras que usam em suas peças pedras nacionais viram quase de uma hora para outra compradores chineses arrematando grandes lotes de turmalinas, topázios, águas-marinhas e muito quartzo. A disponibilidade de pedras para o mercado nacional diminuiu, ao mesmo tempo em que os preços explodiram. Algumas pedras estão sendo vendidas a preços 400% superiores aos que eram praticados há quatro anos e muitos produtores acabam privilegiando fazer negócios com os chineses porque eles estariam em geral mais dispostos do que os compradores brasileiros a pagar mais pelas pedras, compram lotes maiores e pagam à vista.
Um dos efeitos do aquecimento do mercado pela China se vê nas minas. Segundo o chefe do escritório do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) em Governador Valadares, Marlucio Dias de Souza, há um movimento de reabertura de minas na região.
O aumento do interesse chinês por turmalinas e outras pedras preciosas e semipreciosas de cor do Brasil é ainda uma novidade, mas já provoca uma pequena revolução no mercado de gemas. Os chineses tornaram-se mais visíveis como compradores depois da crise financeira mundial de 2008, quando os compradores tradicionais - americanos e europeus - se retraíram. A demanda da China literalmente salvou empregos em algumas cidades do interior de Minas Gerais - o Estado mais tradicional na produção e venda de "pedras coradas" do país - que são centros de exploração ou comércio de pedras. Mas o apetite asiático também é motivo de preocupação.
Grandes joalherias brasileiras que usam em suas peças pedras nacionais viram quase de uma hora para outra compradores chineses arrematando grandes lotes de turmalinas, topázios, águas-marinhas e muito quartzo. A disponibilidade de pedras para o mercado nacional diminuiu, ao mesmo tempo em que os preços explodiram. Algumas pedras estão sendo vendidas a preços 400% superiores aos que eram praticados há quatro anos e muitos produtores acabam privilegiando fazer negócios com os chineses porque eles estariam em geral mais dispostos do que os compradores brasileiros a pagar mais pelas pedras, compram lotes maiores e pagam à vista.
Um dos efeitos do aquecimento do mercado pela China se vê nas minas. Segundo o chefe do escritório do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) em Governador Valadares, Marlucio Dias de Souza, há um movimento de reabertura de minas na região.
Em seu discreto escritório na cidade, Douglas Willian Neves, um dos proprietários da Mina do Cruzeiro, diz que antes da crise de 2008 a China representava 20% de suas vendas. Hoje, representa 80%. Neves está à frente também da Nevestones, empresa de compra e venda de gemas. "A China aqueceu o mercado. Eles compram de tudo, pedras para joias e para bijuterias. Antes de 2008, até o cascalho de turmalina [pedras pouco aproveitadas para lapidação, mas que têm valor para coleções e entalhes], que custava US$ 200 o quilo, hoje custa US$ 3,5 mil."
Outro comerciante de pedras preciosas e semipreciosas de Valadares, José Henrique Fernandes, dono da Pinkstone International e da Mina de Aricanga, diz: "Se não fossem os compradores asiáticos, nós, pedristas, teríamos quebrado. Exportávamos para o mercado dos EUA e da Europa, mas, com a crise, a tendência dos preços era cair".
Não se trata apenas de uma substituição do mercado. Os empresários que produzem pedras dizem que com os chineses - e em menor escala outros novos clientes da Índia e Rússia e de alguns países asiáticos - compram mais do que os americanos e europeus.
Em 2009, a China já era o principal destino das exportações de pedras brutas brasileiras. Naquele ano, Hong Kong sozinha comprou US$ 6,5 milhões e a China continental mais US$ 6,2 milhões. Em 2011, as vendas para cada um estavam na casa dos US$ 11 milhões. Para a Índia, as exportações saltaram de US$ 4,1 milhões para US$ 9,5 milhões. No mesmo período as exportações para os EUA ficaram num nível bem inferior: de US$ 3,8 milhões em 2009 para US$ 4,7 milhões no ano passado. Para a Alemanha, a maior economia da Europa, foram de US$ 1 milhão para apenas US$ 1,5 milhão.
Outro comerciante de pedras preciosas e semipreciosas de Valadares, José Henrique Fernandes, dono da Pinkstone International e da Mina de Aricanga, diz: "Se não fossem os compradores asiáticos, nós, pedristas, teríamos quebrado. Exportávamos para o mercado dos EUA e da Europa, mas, com a crise, a tendência dos preços era cair".
Não se trata apenas de uma substituição do mercado. Os empresários que produzem pedras dizem que com os chineses - e em menor escala outros novos clientes da Índia e Rússia e de alguns países asiáticos - compram mais do que os americanos e europeus.
Em 2009, a China já era o principal destino das exportações de pedras brutas brasileiras. Naquele ano, Hong Kong sozinha comprou US$ 6,5 milhões e a China continental mais US$ 6,2 milhões. Em 2011, as vendas para cada um estavam na casa dos US$ 11 milhões. Para a Índia, as exportações saltaram de US$ 4,1 milhões para US$ 9,5 milhões. No mesmo período as exportações para os EUA ficaram num nível bem inferior: de US$ 3,8 milhões em 2009 para US$ 4,7 milhões no ano passado. Para a Alemanha, a maior economia da Europa, foram de US$ 1 milhão para apenas US$ 1,5 milhão.
Quando a China começou a abrir sua economia, o consumo local por pedras preciosas era quase todo limitado ao jade, pedra verde com longa tradição no país e que era usada para joias, estatuetas e talismãs, diz Hécliton Santini Henriques, presidente do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM), cujos escritórios ficam em Brasília e em São Paulo. Com a abertura, outras pedras ganharam espaço. Comerciantes de diamantes foram um dos primeiros a se estabelecer. Depois, veio o forte consumo de platina. "De três anos para cá, os chineses começaram a descobrir a cor, a variedade de pedras de cor. E começaram a comprar turmalina, principalmente a vermelha. Daí essa valorização brutal", diz Henriques. "Eles também compram quartzo rutilado e a demanda por esmeraldas está em um processo de crescimento."
Esse interesse, trouxe à região de Valadares um tipo diferente: o comprador chinês de pedras preciosas. "Os chineses ficam circulando por aqui, nas cidadezinhas menores, como São José da Safira, por exemplo. Estão em todo o lugar. Nos garimpos ilegais, eles dominam", diz Douglas Neves. Em Curvelo e Corinto, municípios da região central de Minas e onde o forte é o quartzo, chineses também passaram a fazer parte da paisagem e da economia locais.
Esses compradores são tipos sui generis, segundo a descrição que se ouve entre empresários: andam de chinelo, mal vestidos, dormem em pensão ou às vezes debaixo de lona no mato e falam um português arrevesado (quando falam). E, apesar da aparência, compram lotes de pedras com dinheiro vivo, à vista - muitas vezes pagam adiantado por uma produção. São eles que passaram a concorrer com vários compradores de pedras brasileiros.
Parte das pedras sai do subsolo de Minas Gerais de modo ilegal e entra também de modo ilegal no mercado. Não há consenso entre empresários e autoridades, qual o peso da extração e do comércio clandestino no comércio total de pedras no Brasil. Mas até o DNPM em Valadares admite que o número de minas sem autorização de funcionamento deve ser muito maior do que as meras dez autorizadas em todo o leste e nordeste do Estado. Quanto ao envio das pedras para o exterior, o caminho alegadamente mais fácil para quem está no mercado clandestino é o de subfaturar lotes de pedras - algo difícil de ser captado pelas autoridades.
Para os produtores e comerciantes de maior porte, como Neves e Fernandes, a porta para o mercado externo costuma ser outra. Como vários exportadores brasileiros, José Henrique Fernandes, participa da feira de joias e gemas de Hong Kong, a Jewellery and Gem Fair. É lá onde faz muito de seus negócios. "Antes participávamos das feiras de Tucson, Nova York e Las Vegas (EUA) e na Basileia (Suíça). Hoje, nos concentramos só nas feiras de Hong Kong, que não atrai só compradores chineses, mas americanos e europeus." Na edição de setembro da feira (são três edições anuais), das 35 empresas no pavilhão do IBGM, 30 são de Minas, segundo Hécliton Henriques.
Esse interesse, trouxe à região de Valadares um tipo diferente: o comprador chinês de pedras preciosas. "Os chineses ficam circulando por aqui, nas cidadezinhas menores, como São José da Safira, por exemplo. Estão em todo o lugar. Nos garimpos ilegais, eles dominam", diz Douglas Neves. Em Curvelo e Corinto, municípios da região central de Minas e onde o forte é o quartzo, chineses também passaram a fazer parte da paisagem e da economia locais.
Esses compradores são tipos sui generis, segundo a descrição que se ouve entre empresários: andam de chinelo, mal vestidos, dormem em pensão ou às vezes debaixo de lona no mato e falam um português arrevesado (quando falam). E, apesar da aparência, compram lotes de pedras com dinheiro vivo, à vista - muitas vezes pagam adiantado por uma produção. São eles que passaram a concorrer com vários compradores de pedras brasileiros.
Parte das pedras sai do subsolo de Minas Gerais de modo ilegal e entra também de modo ilegal no mercado. Não há consenso entre empresários e autoridades, qual o peso da extração e do comércio clandestino no comércio total de pedras no Brasil. Mas até o DNPM em Valadares admite que o número de minas sem autorização de funcionamento deve ser muito maior do que as meras dez autorizadas em todo o leste e nordeste do Estado. Quanto ao envio das pedras para o exterior, o caminho alegadamente mais fácil para quem está no mercado clandestino é o de subfaturar lotes de pedras - algo difícil de ser captado pelas autoridades.
Para os produtores e comerciantes de maior porte, como Neves e Fernandes, a porta para o mercado externo costuma ser outra. Como vários exportadores brasileiros, José Henrique Fernandes, participa da feira de joias e gemas de Hong Kong, a Jewellery and Gem Fair. É lá onde faz muito de seus negócios. "Antes participávamos das feiras de Tucson, Nova York e Las Vegas (EUA) e na Basileia (Suíça). Hoje, nos concentramos só nas feiras de Hong Kong, que não atrai só compradores chineses, mas americanos e europeus." Na edição de setembro da feira (são três edições anuais), das 35 empresas no pavilhão do IBGM, 30 são de Minas, segundo Hécliton Henriques.
O Brasil é, segundo o IBGM, o maior produtor de pedras coradas em termos de variedade. Produz mais de cem tipos de gemas, num mercado que só aqui movimenta entre US$ 250 milhões e US$ 300 milhões. Estimativas citadas pela instituição em seu site apontam o Brasil como a fonte de cerca de um terço do volume das gemas do mundo - sem levar em conta diamantes, rubis e safiras. Dois Estados são grandes produtores e polos de negócios: Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Minas é o maior produtor em termos de valor.
De uma lavra de turmalina, topázio imperial ou água marinha no interior de Minas, até a vitrine de uma joalheira brasileira num shopping de São Paulo, por exemplo, o caminho costuma ser mais ou menos o mesmo. Começa com o empresário, o dono da lavra; passa pelos representantes das empresas de joias que vão a campo ver e escolher os lotes de pedras; segue para as mãos de lapidários; dos designers e da equipe de montagem da indústria joalheira e pronto, as peças estão à disposição dos clientes. Se o efeito China é ótima notícia para quem investe e trabalha na ponta inicial dessa cadeia, para os demais é um estorvo.
Os lapidários, por exemplo, parecem estar em fase de extinção. "Aqui em Valadares havia há uns 10 ou 15 anos cerca de 2 mil oficinas de lapidação. Hoje são no máximo 50", diz Ronaldo Rodrigues Barbosa, 45, ele mesmo um lapidário. É a velha questão dos custos da mão de obra: enquanto no Brasil o preço do trabalho por quilate oscila de US$ 0,80 a US$ 1,20, na China, fica entre US$ 0,25 e US$ 0,35. Um grama é equivalente a 5 quilates. Barbosa conta que muitos de seus colegas de profissão ficam duas ou três semanas sem trabalho; outros tantos simplesmente abandonaram o ramo porque os clientes que tinham passaram a contratar lapidários na China e na Índia.
Mas quem se queixa mais da concorrência asiática são mesmo as empresas de joias que dependem da oferta das pedras nacionais. "Tivemos de rever o tamanho das pedras de algumas de nossas coleções. Antes, podíamos fazer o que quiséssemos com pedras de quaisquer tamanhos, hoje já não é mais assim", diz Rodrigo Robson, designer da Vivara, empresa paulistana, fundada em 1962, que se apresenta como a maior rede varejista de joalherias do Brasil. Segundo ele, a maioria dos fornecedores de pedras da empresa são de Minas Gerais. Topázio e quartzo são as duas mais usadas nas joias de Vivara. "O que estamos percebendo é uma diminuição na oferta de pedra bruta. As pedras maiores vão para a China."
Daniel Sauer, diretor da Amsterdam Sauer, sediada no Rio, diz: "Se eu quiser comprar, tenho de pagar o preço que eles [chineses] estão pagando ou mais. E tem pedras que eles estão pagando o dobro e ninguém quer pagar mais". "A China não está apenas comprando commodities. Está consumindo muito produto de luxo e a joia está nesse contexto."
A vantagem de sua empresa, diz ele, é estar há 70 anos no mercado, enquanto os chineses ainda não estabeleceram uma base de confiança com muitos fornecedores. Os chineses, no entanto, compram quantidades maiores e pagam valores acima do que as joalherias nacionais estão dispostas a pagar.
Em Belo Horizonte, a grife joalheira mais conhecida da cidade, a Manoel Bernardes, desistiu de depender da pedra preciosa de cor brasileira. "Comprávamos mais de Minas Gerais, mas hoje 80% das pedras brutas de cor que compramos vêm da África, de Moçambique e Nigéria. Às vezes também do Paquistão", diz Marcelo Bernardes, que junto com o irmão, Manoel, dirige a empresa fundada pelo pai. A vantagem, diz ele, é que a oferta africana é maior e mais contínua.
Segundo Bernardes, a oferta brasileira de pedras é pequena e os produtores preferem vender mais para quem paga mais, que são os chineses atualmente. "É difícil para nós pagarmos o preço que eles pagam. Sai mais barato comprar em Moçambique do que aqui".
Nem todos veem assim. Raymundo Vianna, um dos maiores exportadores de joias do Brasil, com vendas para 112 países, é um deles. Dono da Vianna Brasil, ele diz que se fosse depender de pedras importadas para competir mundo afora seria derrubado pela carga tributária do Brasil, que onera pedras preciosas de fora em 40%. "Nossa empresa já está tendo dificuldade de adquirir matéria-prima no Brasil. Se continuar assim, a empresa não terá condições de sobreviver."
Presidente do Sindicato da Indústria de Joalheria, Bijuteria e Lapidação de Gemas de Minas Gerais (Sindijoias-MG), Vianna defende medidas drásticas do governo: estancar a saída de pedra bruta do Brasil e motivar empresas de joias e lapidação a se instalarem aqui. "Algo tem de ser feito, senão acaba a indústria da joia no Brasil."
De uma lavra de turmalina, topázio imperial ou água marinha no interior de Minas, até a vitrine de uma joalheira brasileira num shopping de São Paulo, por exemplo, o caminho costuma ser mais ou menos o mesmo. Começa com o empresário, o dono da lavra; passa pelos representantes das empresas de joias que vão a campo ver e escolher os lotes de pedras; segue para as mãos de lapidários; dos designers e da equipe de montagem da indústria joalheira e pronto, as peças estão à disposição dos clientes. Se o efeito China é ótima notícia para quem investe e trabalha na ponta inicial dessa cadeia, para os demais é um estorvo.
Os lapidários, por exemplo, parecem estar em fase de extinção. "Aqui em Valadares havia há uns 10 ou 15 anos cerca de 2 mil oficinas de lapidação. Hoje são no máximo 50", diz Ronaldo Rodrigues Barbosa, 45, ele mesmo um lapidário. É a velha questão dos custos da mão de obra: enquanto no Brasil o preço do trabalho por quilate oscila de US$ 0,80 a US$ 1,20, na China, fica entre US$ 0,25 e US$ 0,35. Um grama é equivalente a 5 quilates. Barbosa conta que muitos de seus colegas de profissão ficam duas ou três semanas sem trabalho; outros tantos simplesmente abandonaram o ramo porque os clientes que tinham passaram a contratar lapidários na China e na Índia.
Mas quem se queixa mais da concorrência asiática são mesmo as empresas de joias que dependem da oferta das pedras nacionais. "Tivemos de rever o tamanho das pedras de algumas de nossas coleções. Antes, podíamos fazer o que quiséssemos com pedras de quaisquer tamanhos, hoje já não é mais assim", diz Rodrigo Robson, designer da Vivara, empresa paulistana, fundada em 1962, que se apresenta como a maior rede varejista de joalherias do Brasil. Segundo ele, a maioria dos fornecedores de pedras da empresa são de Minas Gerais. Topázio e quartzo são as duas mais usadas nas joias de Vivara. "O que estamos percebendo é uma diminuição na oferta de pedra bruta. As pedras maiores vão para a China."
Daniel Sauer, diretor da Amsterdam Sauer, sediada no Rio, diz: "Se eu quiser comprar, tenho de pagar o preço que eles [chineses] estão pagando ou mais. E tem pedras que eles estão pagando o dobro e ninguém quer pagar mais". "A China não está apenas comprando commodities. Está consumindo muito produto de luxo e a joia está nesse contexto."
A vantagem de sua empresa, diz ele, é estar há 70 anos no mercado, enquanto os chineses ainda não estabeleceram uma base de confiança com muitos fornecedores. Os chineses, no entanto, compram quantidades maiores e pagam valores acima do que as joalherias nacionais estão dispostas a pagar.
Em Belo Horizonte, a grife joalheira mais conhecida da cidade, a Manoel Bernardes, desistiu de depender da pedra preciosa de cor brasileira. "Comprávamos mais de Minas Gerais, mas hoje 80% das pedras brutas de cor que compramos vêm da África, de Moçambique e Nigéria. Às vezes também do Paquistão", diz Marcelo Bernardes, que junto com o irmão, Manoel, dirige a empresa fundada pelo pai. A vantagem, diz ele, é que a oferta africana é maior e mais contínua.
Segundo Bernardes, a oferta brasileira de pedras é pequena e os produtores preferem vender mais para quem paga mais, que são os chineses atualmente. "É difícil para nós pagarmos o preço que eles pagam. Sai mais barato comprar em Moçambique do que aqui".
Nem todos veem assim. Raymundo Vianna, um dos maiores exportadores de joias do Brasil, com vendas para 112 países, é um deles. Dono da Vianna Brasil, ele diz que se fosse depender de pedras importadas para competir mundo afora seria derrubado pela carga tributária do Brasil, que onera pedras preciosas de fora em 40%. "Nossa empresa já está tendo dificuldade de adquirir matéria-prima no Brasil. Se continuar assim, a empresa não terá condições de sobreviver."
Presidente do Sindicato da Indústria de Joalheria, Bijuteria e Lapidação de Gemas de Minas Gerais (Sindijoias-MG), Vianna defende medidas drásticas do governo: estancar a saída de pedra bruta do Brasil e motivar empresas de joias e lapidação a se instalarem aqui. "Algo tem de ser feito, senão acaba a indústria da joia no Brasil."
Após lapidadas, Turmalina contrabandeada da PB era vendida por até US$ 350 mil cada gema
Após lapidadas, Turmalina contrabandeada da PB era vendida por até US$ 350 mil cada gema
A coletiva de imprensa concedida pela Polícia Federal, em conjunto com o Ministério Público Federal, para tratar da Operação Sete Chaves, não revelou o nome dos envolvidos, apesar de haver um deputado estadual da Paraíba com suspeitas de participar do esquema de extração ilegal da pedra preciosa Turmalina Paraíba. De acordo com a polícia, após sair do Brasil, as pedras eram comercializadas por até US$ 350 mil.
Segundo informações, o deputado envolvido é João Henrique (DEM). Fontes ligadas ao parlamentar negaram que ele faça parte da quadrilha e que tenha sido preso, mas confirmou que foi cumprido um mandado de busca e apreensão na casa do deputado estadual no município de Monteiro.
De acordo com a polícia, a investigação começou desde 2009 e seria impossível calcular o quanto a receita deixou de arrecadar com a venda ilegal das pedras consideradas uma das mais valiosas do mundo. A pedra é encontrada em apenas cinco locais no mundo, três deles no Brasil e a mais preciosa na Paraíba, no município de São José da Batalha.
O modus operandi da quadrilha consistia em extrair as pedras do município paraibano onde ia até o Rio Grande do Norte, onde as pedras seriam lapidaas e seguiam para o exterior, os principais destionos eram os Estados Unidos, Hong Kong e Bangcoc. A pedra era vendida nos Estados Unidos por US$ 350 mil a gema.
A operação contou inclusive com a participação do FBI, o que possibilitou delegações no exterior. Os detidos são acusados de usurpação de bem da União, exploração sem licença ambiental, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, entre outros. Somando as penas previstas, os acusados podem pegar ataé 20 anos de prisão.
Cerca de 130 policiais federais, de todo o Nordeste cumpriram simultaneamente 35 medidas judiciais, sendo 8 de prisão preventiva, 19 mandados de busca e apreensão e 8 de sequestro de bens, nos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Minas Gerais e São Paulo. Os trabalhos estão sendo desenvolvidos nas cidades de João Pessoa, Monteiro/PB, Salgadinho/PB, Parelhas/PB, Natal/RN, Governador Valadades/MG e São Paulo.
A organização criminosa é formada por diversos empresários e por um deputado estadual, que se utilizavam de uma intrincada rede de empresas off shorepara suporte das operações bilionárias nas negociações com pedras preciosas e lavagem de dinheiro.
Considerada uma das pedras mais caras do mundo, a turmalina Paraíba era retirada de São José da Batalha, um distrito do município de Salgadinho, na Paraíba e enviada à cidade de Parelhas, no Rio Grande do Norte, onde era esquentada com certificados de licença de exploração. De lá, as pedras seguiam para Governador Valadares em Minas Gerais para a comercialização em mercados do exterior como Bangkok, na Tailândia, Hong Kong, na China, Houston e Las Vegas, nos Estados Unidos.
Os Policiais suspeitam que um gigantesco volume dessas pedras já esteja nas mãos de joalheiros e de particulares no exterior. Uma única pedra de turmalina azul “Paraíba” pode chegar ao valor de 3 milhões de Reais. O mercado clandestino da pedra pode tem gerado uma movimentação milionária de capital ilícito, no Brasil e no exterior.
A operação contou com a colaboração de fiscais do Departamento Nacional de Produção Mineral-DNPM e da Secretaria da Receita Federal.
Todos os investigadosresponderão pelos crimes de lavagem de dinheiro, usurpação de patrimônio da União, organização criminosa, contrabando e evasão de divisas.
O termo Sete Chaves – referência feita aos negociadores no mercado restrito da pedra, turmalina azul, que guardavam à “sete chaves” o segredo sobre a existência de uma pedra extra valorizada e pouco conhecida no mercado de pedras preciosas.
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