domingo, 23 de outubro de 2016

Histórias de garimpo em Altamira

Histórias de garimpo em Altamira

Em consonância com o nome, Vila da Ressaca é o que sobrou dos tempos em que havia ouro abundante no local. Essa comunidade de garimpeiros fica na chamada Volta Grande do rio Xingu, uma grande curva em formato de ‘U’ que começa logo abaixo de Altamira. Esse trecho do rio está condenado pela hidrelétrica de Belo Monte, que vai secá-lo com a construção de um canal de 100 quilômetros, o qual criará um atalho reto entre uma ponta e a outra da Volta Grande, até chegar à boca da usina. As comunidades ribeirinhas que vivem à sua margem, deixarão de sê-lo: não serão mais banhadas pelas águas do Xingu.

A construção de Belo Monte fez Altamira borbulhar de crescimento. Da construção civil ao transporte aquático, o preço de tudo subiu. A passagem de uma voadeira da cidade até Vila da Ressaca triplicou, de R$15 para até R$50. Chegar lá toma uma viagem de 2 horas rio abaixo.

Uma curiosidade sobre a Ressaca: ela fica dentro do município de Senador José Porfírio, porém a cidade de Altamira está entre metade e um terço da distância da Vila até a sede de Senador Porfírio. Estamos no Pará, em plena Amazônia, onde municípios podem ter a área de países.

Nos áureos tempos, a Ressaca chegou a abrigar 6 mil habitantes. Hoje, o número caiu para cerca de 200 famílias, que somam algo como 800 pessoas. Metade se dedica à extração de ouro, dividido em 6 garimpos: do Galo, Itatá, Morro dos Araras, Grota Seca, Ouro Verde e Curimã.

Ao contrário do Galo, onde os túneis atingem 380 metros de profundidade, no garimpo Morro das Araras, a exploração é rasa, feita em buracos de até 10 metros de profundida por 20 de largura. O nome vem dos índios que ali habitaram até 1930, quando foram expulsos pela chegada da mineração. Eles lutaram, matando e afundando os barcos dos recém-chegados, que também morriam de malária. O pico da produção de ouro na região foi na década de 1960 e 70, quando a exploração era feita por empresas do ramo. Elas foram embora quando acabou o ouro fácil, próximo da superfície. Hoje, a exploração é rude, feita por garimpeiros precariamente equipados.

No morro das Araras, a rotina da busca do ouro é desmatar e cavar buracos com água de mangueiras de alta pressão. Um buraco é aberto a cada 2 dias. A medida que é liquifeita, a terra é retirada por uma máquina apelidada de "chupadeira", que a joga em uma rampa. A lama desce pela rampa de madeira de alguns metros de comprimento até o seu fim, quando é filtrada por uma caixa que contém uma peneira e mercúrio. A peneira segura os resíduos que podem conter ouro, o mercúrio aglutina o metal. O líquido enlameado que passa, já contaminado por mercúrio, enche um outro buraco. Uma vez exploradas, as crateras são abandonadas.

Quando o material é composto por pedregulhos, passa pelos chamados "moinhos", máquinas que trituram a rocha. Após essa etapa, também seguem para o mesmo tipo de rampa que termina no tanque fechado com mercúrio.

O segundo método de mineração – e o mais usado agora que o ouro é escasso –é através de galerias dentro de túneis profundos. Eles são abertos com explosivos. E de explosão em explosão, de galeria em galeria, podem chegar a 400 metros de profundidade.

Descida de arrepiar

A descida até lá dura 20 minutos e é feita através de um sistema tosco de cordas e roldanas, operadas pelos companheiros da superfície, que acompanham o processo por rádio. Os garimpeiros brincam que muitos se acovardam a descer. Pudera, acidentes fatais são costumeiros, a temperatura lembra a de uma sauna e a única luz da descida é uma lanterna de pilha, segura na mão e presa ao peito do garimpeiro por um cabinho. Durante o percurso, o túnel pode ter larguras de até 10 metros ou passagens estreitas de 1 metro. O destino final é uma galeria de cerca 10 metros de largura por 7 de altura, mal iluminada por lâmpadas de 60 watts. Lá, o garimpeiro enche uma grande esfera oca, de borracha grossa, capaz de suportar uma carga de pedregulhos que podem conter ouro. Essa bola é içada à superfície, e se tudo der certo, o garimpeiro volta também. Os acidentes mortais são encarados como destino divino.

Para os gerentes do garimpo, o dinheiro pode ser bom. Eles ganham até R$10 mil por semana, pagos em ouro, que aqui ainda é moeda. Nada é feito de acordo com a lei. As licenças de mineração expiraram e os explosivos – que exigem permissão do exército -- são usados ilegalmente. O trabalho é informal e o trabalho infantil, comum. Filho de garimpeiro entra logo para o garimpo, aprende a trabalhar, nem que seja para carregar pedras de um lado para o outro, com um carrinho de mão.

Itaituba- Pará no auge do ouro

Itaituba no auge do ouro

Rua Dr. Hugo de Mendonça, na época do ouro do "bamburro"

Itaituba já foi uma cidade movimentadíssima, com sua economia baseada fundamentalmente na produção aurifera. Tivemos um aeroporto com maior número de pousos e decolagens do Brasil, chegando inclusive a ser objeto de matéria jornalística no programa "Globo Repórter", da Rede Globo de Televisão.

A Dr. Hugo de Mendonça, principal rua da cidade e centro comercial, era cheia de escritórios de compra de ouro. Ruas sem asfalto. Verão, muita poeira. Inverno, muita lama. Nos garimpos a moeda era o ouro. Os produtos eram cotados por gramas e quilos do mineral amarelo e altamente cobiçado.

A população do município cresceu absurdamente. Na época Itaituba era o maior município do mundo em área territorial e tinha cerca de 300 mil habitantes. 

 Garimpeiros, trabalhando no "barranco"

Ninguém queria trabalhar como empregado. De vez em quando, surgia uma "fofoca", lugar onde diziam ter ouro, geralmente baixões. Mulheres e homens adentravam as matas, viajavam de barco e avião para garimpos mais distantes e as famosas "currutelas" se formavam. Algumas prosperaram tanto que deram origem a pequenas cidades, como é o caso de Crepurizão, Crepurizinho, etc. 

Tudo existia em função do ouro. Servidor público não tinha crédito no comércio e os preços eram altos, bastante inflacionados pelo ouro.

Muita gente "bamburrrou", ou seja ficou rica da noite para o dia.Muitos tiravam kilos de ouro por dia, alguns tiraram toneladas de ouro. Outros, acabaram adoecendo de malária ou hepatite.Muitos morreram!

sábado, 22 de outubro de 2016

Ouro, a riqueza eterna

Ouro, a riqueza eterna
A história, o fascínio e, claro, seu valor fazem do metal objeto de desejo. Mas sua extração pode gerar conflitos e problemas ambientais
foto: Colin Hawkins/Gettyimagens



Beleza e Utilidade
Dirceu Frederico Sobrinho, diretor da Associação Nacional do Ouro (Anoro), fez, durante décadas e com pessoas das mais variadas procedências sociais e culturais, o seguinte teste: de um lado, uma barra de ouro; de outro, um maço de notas de dinheiro. Qual você escolheria? O ouro, ainda que o valor do dinheiro fosse maior? Todos sempre fizeram essa opção – sem que houvesse muita explicação para isso. O estranho fascínio que esse metal exerce é capaz de conduzir a algumas reflexões, mas dificilmente a uma resposta objetiva sobre os motivos de tanta valorização.

O belo sempre fascina. Mas não se pode dizer que o ouro seja um metal de indiscutível beleza – em algumas situações pode ser até de mau gosto exibi-lo. Ah, sim, ele é caro e raro – mas não mais do que a platina, um minério muito útil e admirado, mas incapaz de seduzir de maneira tão unânime quanto o ouro.

Resta apenas acreditar no carisma, nas tradições e na força emblemática desse precioso metal. A historiadora e designer de joias Julieta Pedrosa atribui à história a admiração provocada pelo ouro. “É um apelo quase ancestral. Ter ouro, nas mais diferentes culturas, sempre significou ter poder.”
Faz sentido. Afinal, existem registros sobre o uso e a veneração do ouro desde o Egito antigo – mais de 5 mil anos atrás –, quando os mortos de boa estirpe, como os próprios faraós, eram contemplados com objetos do metal, como máscaras mortuárias, em suas câmaras eternas. Desde aquela época, e talvez antes até, o ouro vem sendo associado diretamente à riqueza, ao poder e, não raras vezes, à divindade.

Que o digam os alquimistas, cujas lendas sobreviveram aos séculos justamente porque buscavam aquilo que no fundo todos queriam: transformar os metais “vis” em ouro. Mas, na verdade, não buscavam o ouro apenas como riqueza – a intenção era adquirir a sabedoria de encontrar o perfeito, aquilo que purifica e conduz à imortalidade.

Pelos séculos e continentes, o ouro foi apenas consolidando ainda mais o seu estigma de preciosidade, pureza e qualidade. Nas Américas, as civilizações nativas igualmente veneravam o metal dourado como o sol, ainda que não por motivos tão pecuniários quanto os espanhóis, que promoveram genocídios de incas e astecas para se apropriar da riqueza: o ouro identificava a presença da divindade e era usado em adornos pelos imperadores incas em festas de caráter religioso.

O tempo operou mudanças nesses comportamentos, mas a veneração ao ouro continua a mesma. Até 1967, todos os dólares que estavam em circulação deveriam ter, como lastro, um valor correspondente em ouro nos cofres do governo americano: US$ 1 valia 0,88 g de ouro puro – uma garantia do poder de compra da moeda americana. Se essa regra foi extinta, não importa: o ouro continua a ser associado a riqueza e poder, ainda que a forma de expressar essa relação seja diferente nas culturas mundo afora. Os abastados que frequentam Dubai, nos Emirados Árabes, gostam de exibir sua riqueza utilizando o ouro como ingrediente em receitas um tanto exóticas. Os rappers­ americanos exibem seu sucesso imprevisto revestindo os dentes com o preciso e ofuscante metal. Nos rincões perdidos da Amazônia, o garimpeiro bem-sucedido usa colares e pulseiras de ouro onde, talvez, um quilo de café seja uma raridade. Alianças que não sejam de ouro não podem celebrar dignamente um matrimônio. Enfim, não importa onde ou como, a majestade e a divindade do ouro sobrevivem ao longo dos séculos e nas mais diferentes culturas.
foto: Arshad Arbab/Latin Stock
A maleabilidade e a resistência fazem do metal uma ótima opção para jóias
Mais do que belo
A verdade, no entanto, é que o ouro, muito além de seu fascínio e de seus simbolismos, é, de fato, um minério especial – tem características físicas que, somadas, o tornam único. É maleável, ou seja, permite que seja moldado. É resistente, suportando pressão, carga e estresse quando é exigido em situações críticas. E é inerte, portanto, não reage a outras substâncias. Essas não são características exclusivas deste metal, mas o conjunto delas, sim.

Pedro Antunes, representante de uma empresa especializada em hardwares, explica que o ouro está em quase todos os contatos elétricos de equipamentos de alta tecnologia. Processadores e placas-mãe de computadores domésticos são interligados por filamentos de ouro ou banhados a ouro. Segundo Antunes, o ouro não é o melhor condutor elétrico – e sim o cobre –, mas é o mais resistente. Outra característica que faz do material uma boa opção para usos tecnológicos é sua alta ductibilidade. Isso significa que ele pode ser comprimido e esticado com relativa facilidade sem se romper. “É possível esticar um grama de ouro até dois quilômetros de comprimento. Mesmo sendo caro, o ouro oferece a melhor relação custo-benefício por todas essas vantagens.”

A medicina também é pródiga nos usos que faz do ouro – e há milhares de anos: os próprios egípcios usavam medicamentos preparados com o metal. As primeiras aplicações do ouro na medicina chinesa, por exemplo, destinavam-se ao tratamento de doenças como varíola e úlceras na pele. “Metais sempre foram usados com fins médicos desde a Antiguidade, desde os primeiros alquimistas”, afirma Carlos Alberto Fiorot, presidente da Associação Médica Homeopática Brasileira. No caso do ouro, além das já citadas maleabilidade e resistência, outras duas características fazem do metal uma boa opção.

A primeira é a sua biocompatibilidade, ou seja, o corpo humano não rejeita o material. A segunda é sua resistência à colonização por bactérias. Sendo assim, o ouro é um metal recomendável para, por exemplo, implantes ou procedimentos cirúrgicos em locais de alto risco de infecção, como a boca. Os implantes dentários de ouro têm, ainda, a vantagem de apresentar alta resistência à corrosão. Assim como na Grécia antiga, o metal também pode ser usado para combater problemas relacionados com humor. A depressão, por exemplo. Há mais de 200 anos, médicos homeopatas utilizam um medicamento à base de ouro, o “aurum metalicum”, nesses tratamentos.

Por todos esses motivos, e muitos outros que residem no imaginário coletivo das gerações que se sucedem, o ouro é, e sempre será, o mais cobiçado dos minérios.
foto: Paulo Santos/ Interfoto
O mercúrio usado para separar o ouro dos sedimentos é um dos maiores problemas ambientais no garimpo
Os conflitos da extração
No Brasil, a exploração do metal teve início com o ciclo do ouro, depois da chegada dos colonizadores portugueses (veja quadro na página 42) e era feita de forma manual com a utilização de mão de obra escrava. Foram os africanos os responsáveis por introduzir o uso das famosas bateias – espécie de bacia de madeira, redonda e achatada – nas lavras brasileiras, substituindo os pratos de estanho. Nesse primeiro momento, a garimpagem era feita com padrões tecnológicos muito rudimentares. Predominava o tipo de garimpeiro que, hoje, é chamado de faiscador e trabalha com a bateia ou com o chamado caixote, ferramenta artesanal que ajuda na separação do ouro. Aureliano Lopes tem 98 anos e conta que foi faiscador durante grande parte da sua vida. Morador da pequena cidade de Paracatu, no noroeste de Minas Gerais, ele diz que vendeu sua primeira pepita aos 15 anos. “Nessa época, era só mexer um pouco essa terra que você encontrava pedrinhas de ouro”, diz, apontando para a pequena estrada que passa em frente a sua casa.

A cidade, fundada em 1798, no fim do ciclo do ouro, sustentou muitos dos seus moradores com essa riqueza. Da época em que Aureliano encontrava ouro na rua, ainda no fim da década de 1920, até o início da década de 1980, quase todas as famílias de Paracatu tinham pelo menos um faiscador, mesmo que a atividade fosse paralela a outra profissão. Quando a notícia da presença de ouro na região se espalhou, muitos garimpeiros chegaram à cidade à procura do metal. No auge, eram cerca de quatro mil garimpeiros trabalhando, segundo as contas de Anísio Gomes, garimpeiro em Paracatu na década de 1980. Ele saiu da capital paulista para a pequena cidade mineira com o objetivo de vender máquinas de garimpo na região. Acabou se rendendo ao fascínio do ouro e passou a se dedicar a procurá-lo. Aureliano, que já havia se rendido a esse fascínio muito antes, não ficou rico em seu quase um século de vida. Vive hoje em uma casa simples na periferia de Paracatu. Bem ao lado da atual residência, está uma construção muito modesta, já antiga, feita com barro. “Essa aí eu levantei com o dinheiro do ouro”, aponta ele. Não foi de fato uma grande recompensa.

A verdade é ninguém ficou rico, mas, pelo menos, também nunca faltou nada – afinal, ganhava-se mais do que trabalhando na lavoura ou nos pastos, como afirma o paulista Anísio Gomes. A grande maioria das pessoas começa a lavrar a terra com a intenção de “bamburrar”, ou seja, de enriquecer, na linguagem dos garimpeiros. Mas são raros os casos em que isso acontece. Segundo Hélio Shimada, pesquisador e diretor do núcleo de recursos minerais da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, hoje, se uma área de 10 m2 render 100 ou 200 gramas de ouro, o garimpeiro deve ficar satisfeito.

Em 1980, esse rendimento podia ser muito maior. Foi uma década marcada pela descoberta de grandes jazidas no Brasil – incluindo Serra Pelada, a gigantesca mina localizada em Curianópolis, no Pará (veja quadro na página 37) – quando ocorreu uma verdadeira corrida do ouro e a incorporação de novas técnicas e de novos equipamentos de exploração. Em Paracatu, a bateia e o caixote de Aureliano e dos outros faiscadores foram aos poucos sendo substituídos por dragas e outras máquinas, que tornavam a extração do ouro mais eficiente. Nessa época, já era difícil encontrar pepitas na cidade e sua ocorrência se dava na forma de pó ou pedras muito pequenas, misturadas à areia do solo. Com as novas técnicas, o garimpo também ganhava um padrão gerencial diferente. Não se tratavam mais de faiscadores trabalhando por sua conta e risco. Era necessário investimento em maquinário e em uma substância que começava a fazer parte da realidade dos garimpos: o mercúrio.

Hoje apontado como um dos grandes problemas ambientais da atividade, o mercúrio funciona como um ímã para o ouro e é utilizado para separar o metal precioso de outros sedimentos, como explica Dirceu Frederico Sobrinho, da Associação Nacional do Ouro. “Depois, basta queimar o amálgama para que o mercúrio evapore e sobre apenas o ouro nas mãos do garimpeiro”, diz. Aos poucos, o mercúrio foi associado à contaminação de lençóis freáticos e à uma série de doenças incidentes sobre as populações que entram em contato com ele. Mas Dirceu diz que é possível reverter esse quadro.

Ele explica que o mercúrio pode ser aplicado aos sedimentos em um recipiente longe dos rios, de forma que não ocorra vazamento para as fontes de água próximas. Na separação do mercúrio e do ouro, por sua vez, pode ser utilizado um equipamento chamado retorta, que impede a volatilização do mercúrio e o recupera para ser utilizado novamente no processo. O investimento na retorta vale a pena, segundo Dirceu, porque o mercúrio custa caro e o equipamento pode recuperar entre 93% e 97% dele. “O garimpeiro tem o ímpeto de encontrar ouro, porém faz isso sem nenhuma orientação”, comenta.

Nova organização dos garimpos
Diante das novas técnicas de exploração, nem todos os antigos faiscadores conseguiam investir em maquinário e em mercúrio para garimpar nesse novo cenário. Quem podia investir, comprava as máquinas para explorar uma determinada área e contratava a ajuda de outros trabalhadores. Quando decidiu ser garimpeiro em Paracatu, Anísio tinha todo o maquinário. Com ele garimpavam mais seis homens. Tratava-se, então, de um sistema hierárquico de trabalho. “Dez por cento de todo o ouro tirado era para o dono da terra na qual a gente garimpava, 30% era dos homens que trabalhavam comigo e o resto ficava para mim. Todo o investimento também era responsabilidade minha”, explica Anísio.

Essa era a organização básica das áreas de lavra em Paracatu, em Serra Pelada e na maioria dos garimpos formados durante a década de 1980. Essa organização evidencia outra questão: quem explora o ouro não é, necessariamente, o dono da propriedade. O ouro, como todos os bens minerais em terras brasileiras, é propriedade da União, a quem cabe autorizar, ou não, a lavra do minério. Quem responde por essas autorizações é Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), o todo-poderoso órgão do Ministério das Minas e Energia. “Se o DNPM autoriza que eu faça pesquisa mineral em uma terra sua, você tem duas opções. Ou entra em acordo comigo – vende a terra ou combina um royalty, por exemplo – ou espera para que a Justiça autorize a pesquisa. O que está no subsolo da sua propriedade não é seu, é do Estado”, explica Dirceu. Ele diz que como o ouro é considerado um material estratégico, dificilmente a Justiça decidiria a favor do proprietário da terra.

Dessa forma, o DNPM pode emitir uma licença para pesquisa e, depois de provada a existência de algum mineral no território, uma licença para a exploração. Ambas concedidas para pessoas jurídicas, ou seja, empresas. A outra opção seria a concessão da chamada “permissão de lavra garimpeira”, que é dada a uma pessoa física ou a uma cooperativa de garimpeiros sem a necessidade de realização de pesquisa. É preciso, entretanto, apresentar um estudo detalhado de, por exemplo, qual será a profundidade da área a ser explorada e outros aspectos técnicos, para que a lavra seja autorizada – inclusive com licença ambiental. “Como é que a gente iria conseguir isso?”, questiona Anísio. Ele diz que durante todo o tempo do garimpo em Paracatu, os garimpeiros trabalharam sem a autorização do DNPM, mas não por falta de vontade. “Montamos uma cooperativa para tentar legalizar o garimpo, mas em anos de trabalho nunca conseguimos a permissão.”
Anísio conta que os garimpeiros de Paracatu lavravam em várias fazendas, cada uma com características próprias, no entorno da cidade. “Seria preciso uma licença ambiental para cada terreno. Impossível!”, diz. Dirceu, da Anoro, concorda que as exigências são exageradas. Para ele, é preciso simplificá-las e trabalhar com a conscientização ambiental dos garimpeiros. “O problema é que o garimpo no Brasil sempre foi considerado como uma fase transitória, que passaria logo. Mas, desde que foi colonizado, o país conta com muitos garimpos, então não me parece tão transitório assim”, afirma.

Tecnologia na lavra
A história dos garimpos brasileiros nos mostra que a atividade foi, em muitos momentos, perseguida por órgãos fiscais e, em outros, tolerada. Na verdade, o garimpo foi, inclusive, estimulado como uma atividade capaz de gerar riquezas e empregos – como aconteceu durante a década de 1980. A origem do termo “garimpeiros” já denota um pouco da ilegalidade e da marginalidade a que esse tipo de lavra costuma ser relacionada. O termo começou a ser utilizado no século 18 para designar aqueles que, desrespeitando a legislação da coroa portuguesa, mineravam as jazidas escondidas nas “grimpas” (cumes) das serras.

Em Paracatu, o garimpo funcionou sem a permissão do DNPM em um período em que a atividade era tolerada pelo Estado brasileiro, mas, no fim da década de 1980, esse quadro mudou. Órgãos ambientais aumentaram a fiscalização e as exigências. Depois de muita resistência dos garimpeiros, a atividade precisou ser paralisada em Paracatu. Evane Lopes mora na cidade desde que nasceu e era apenas uma criança quando o garimpo foi fechado. Ela, que desde os 6 anos tinha uma bateia e um caixote para procurar ouro, tem cenas de violência na memória. “Os garimpeiros eram tratados como bandidos. Lembro da polícia batendo no meu tio e quebrando as ferramentas dele”, diz.

O fim do garimpo não significou o fim da exploração do ouro. Em 1987, a Rio Paracatu Mineração (RPM) produziu a primeira barra de ouro na mina instalada na cidade. Em mais de duas décadas, a mineradora, que hoje se chama Kinross Paracatu, tornou-se a mina que mais extrai ouro no Brasil. Contraditoriamente, a região em que a empresa trabalha apresenta o menor teor aurífero do mundo. Em cada tonelada de minérios e sedimentos extraídos do solo, são encontrados, em média, apenas 0,42 grama de ouro. Ou seja, para obter um grama de ouro, é preciso remover mais de duas toneladas do solo. E a mineradora é ambiciosa: em 2010, a estimativa é extrair 15,5 toneladas de ouro. Para se obter essa produtividade, será preciso remover cerca de 30 milhões de toneladas de minérios e sedimentos do terreno. Para isso, a mineradora não para nunca – opera dia e noite, sete dias por semana. Marcos Paulo Gomes, gerente de processo da Kinross Paracatu, explica que a empresa tem de trabalhar com baixos custos, altíssima tecnologia e muita movimentação de minério.
Além do maquinário, o processo de separação do ouro é diferente dos garimpos. No lugar do mercúrio, as mineradoras trabalham com o cianeto de sódio. Trata-se de uma substância extremamente tóxica – letal se não for aplicada com todo o cuidado – utilizada para dissolver o ouro e, assim, separá-lo dos outros componentes das rochas. Qualquer vazamento para o meio ambiente seria desastroso para todo o ecossistema. “Os efeitos do mercúrio são sentidos lentamente, os do cianeto seriam imediatos”, explica Dirceu. Por isso, o investimento em equipamentos de segurança e em processos que garantam o depósito do cianeto em tanques impermeáveis são essenciais.

Utilizando uma robusta estrutura tecnológica, a Kinross Paracatu recupera cerca de 82% do ouro da rocha, segundo Marcos Paulo Gomes. Um garimpo dificilmente atingiria esse número. Anísio, da antiga cooperativa de garimpeiros de Paracatu, diz que conseguia extrair uma média que não ultrapassava 30% do ouro contido no solo. “É por isso que os garimpos precisam de veios muito ricos”, afirma Dirceu.
foto: Paulo Santos/Interfoto
O garmpo descoberto em Novo Aripuanã (AM) é indício de que embaixo da floresta pode gaver muito ouro
Recurso não renovável
Outra característica dos garimpos é o fato de ele ser realizado em uma área para onde o metal correu ao longo dos anos – normalmente um rio – tendo a mina propriamente dita como origem. Assim, a existência de um garimpo pode ser um indicativo da existência de uma local adequado para a implantação de uma mina nas proximidades. Mas não é tão simples assim. “Achar uma mina de ouro é muito mais difícil e caro do que uma de ferro ou manganês, por exemplo. E o investidor brasileiro não tem o perfil de desembolsar R$ 5 milhões para descobrir se existe ou não potencial aurífero em uma área”, explica Dirceu.

Desde 1995, quando o capital estrangeiro passou a ser aceito nas empresas de exploração mineral, muito ouro já foi encontrado e Dirceu acredita que ainda há muito a ser descoberto. O geólogo Paulo Boggiani, professor da Universidade de São Paulo (USP), acredita que a região amazônica pode ainda ter muitas jazidas. Como existe uma profunda camada de material orgânico sobre o solo, a composição mineral da região ainda é pouco conhecida. E o geólogo afirma, ainda, que a descoberta de ouro na floresta não deverá representar um grande problema do ponto de vista de preservação da biodiversidade. “A grande maioria das minas hoje é subterrânea e produz menos impacto no ambiente”, diz.

Ao contrário da maioria, a mina de Paracatu é a céu aberto. E se o ouro estivesse em mina subterrânea, nas quantidades que existem lá, o investimento não valeria a pena. Marcos Paulo explica que em minas subterrâneas o acesso é mais difícil, os equipamentos – como tratores e escavadeiras – são menores e o resultado é uma produção de minério inferior à das minas abertas.

Marcos Paulo conta que durante pouco mais de duas décadas a mina da Paracatu explorou a parte mais superficial da região, chamada de horizonte oxidado, que chega a cerca de 30 metros. A partir de aproximadamente dois anos atrás, o ouro começou a ser extraído também de uma camada mais profunda, chamada horizonte sulfetado, que tem em torno de 150 metros. Por causa do pouco contato com o oxigênio, essa camada mais profunda é formada por rochas mais duras e, por isso, para explorá-la, é necessário o uso de dinamites. No horizonte oxidado, os tratores eram suficientes para quebrar as rochas. Abaixo da camada sulfetada, não há mais ouro. A previsão da mineradora é de que a atividade na região dure até o ano de 2043.

Sim, uma hora o ouro acaba – afinal, não se trata de um recurso renovável. Mas, até que chegue essa hora, novas tecnologias vão aparecer, assim como novas minas e novos empreendedores. E como o rei Midas, que transformava em ouro tudo que tocava, continuaremos a buscar o metal em rochas – resta saber o que deixaremos para trás quando o toque de Midas perder seu poder.

Quem é dono do ouro
Atualmente, quem mais lucra com a extração do ouro no mundo é a China: com 295 toneladas do metal extraídas por ano, o país é o maior produtor mundial de ouro. O Brasil está em 13o lugar no ranking e o mercado no país é dominado por três grandes empresas: Anglo Gold Ashanti, Yamana Gold e Kinross. Juntas, elas extraem 62% do ouro brasileiro. Outros 11% ficam por conta dos garimpos e o restante é explorado por empresas menores.

A extração nos garimpos
Os garimpos se estabelecem geralmente às margens de rios ou em encostas de morros. Nas margens dos rios, o processo começa nos chamados “barrancos”, onde são retiradas as camadas superiores de argila e areia. Nas encostas, utiliza-se jatos de água de alta pressão para fragmentar as rochas. Em seguida, o ouro deve ser concentrado. Para isso, utiliza-se, mais comumente, uma máquina operada manualmente chamada “cobra fumando”, cuja função é peneirar o ouro. Nessa etapa, é comum o garimpeiro usar o mercúrio, que retem o ouro mais fino. Em seguida, o material é levado para a concentração final na batéia, etapa chamada de apuração, em que novamente utiliza-se o mercúrio. É uma etapa que requer cuidado para não se perder ouro e para se evitar que o mercúrio entre em contato com o ambiente. O resultado final é a amálgama (ouro e mercúrio), que é aquecida com maçarico para que o mercúrio evapore e libere o ouro. Nessa etapa, recomenda-se o uso da retorta, aparelho que evita a liberação do vapor do mercúrio e o reaproveita para reiniciar o processo.
foto: CM/N Imagens
Imagens de Serra Pelada rodaram o mundo e mostram a que os homens se submetem em busca do ouro
Barrancos de ouro
Centenas, milhares de homens imortalizaram, na década de 1980, imagens bíblicas de uma moderna corrida do ouro. Em Serra Pelada, onde foi estabelecido o maior garimpo a céu aberto do mundo, as áreas de lavra eram divididas em barrancos, distribuídos entre os garimpeiros que buscavam a fortuna. Em seu auge, cerca de 30 mil desses trabalhadores procuravam o metal dourado.

O barranco de Júlio de Deus Filho era o Canaã – seria sua terra prometida. Foi de lá que saiu, em 1984, uma pepita de 60 quilos. A maior em exsposição no mundo, segundo Paulo Amauri de Oliveira Mello, coordenador do Museu de Valores do Banco Central, em Brasília, onde a pedra está exposta e é conhecida pelo mesmo nome do barranco de Júlio. De acordo com Amauri, geólogos da Universidade de Brasília estudaram a peça e avaliaram que, dos 60 quilos, cerca de 56 são ouro. O restante é paládio.

Serra Pelada foi fonte de grandes pepitas. As três maiores expostas no Museu de Valores vieram de lá e possuem 60, 40 e 33 quilos. Do restante da coleção de 64 pepitas, grande parte foi também extraída em Serra Pelada. Uma delas, de sete quilos, servia de peso para papel de um dos mais lendários garimpeiros que passaram por lá: José Arara. “O Banco Central só negociava as pepitas com a Caixa Econômica, que era a intermediária. Abria exceção só para José Arara, com quem negociávamos diretamente”, conta Amauri. O garimpeiro fez fortuna extraindo pepitas do seu barranco e servindo de intermediário entre outros garimpeiros e o Banco Central. Conta-se que ele chegou a ter uma frota pessoal de 40 aviões. A pedra de sete quilos exposta no Museu de Valores recebeu seu nome a pedido do próprio garimpeiro.

O garimpo foi fechado em 1992 e a região sofre, desde então, com a falta de investimentos. Em 2010, o Conselho Estadual do Meio Ambiente do Pará concedeu, para a Companhia de Desenvolvimento Mineral, uma licença prévia para a extração de minerais metálicos na região. Tudo indica que Serra Pelada voltará ao mapa mundial da mineração.

Não tão puro assim
O ouro encontrado na natureza, em geral, está associado a outros metais, como a prata, e precisa ser refinado para que atinja o grau máximo de pureza e o preço mais elevado possível. Uma vez nas mãos dos ourives, entretanto, ele precisa ser novamente associado a outro metal antes de ser trabalhado. A designer de joias Julieta Pedrosa explica que o “ouro mil”, ou seja, puro, é excessivamente maleável para ser moldado. “Um anel de ouro puro teria o aspecto de um anel amassado”, diz. Assim, no Brasil, o que mais se utiliza é o chamado ouro 18 quilates. O ouro puro tem 24 quilates. Isso quer dizer que o 18 quilates é formado por 750 partes de ouro e 250 partes de liga metálica (prata e cobre, em geral).

Vizinhos do ouro
Paracatu é uma pequena cidade com belas construções erguidas durante o período colonial. Não existem grandiosas igrejas barrocas, mas belos casarões antigos, muitos deles bem preservados. Os deliciosos doces caseiros não nos deixam dúvidas sobre as raízes mineiras do povo, mas o ar quente e seco nos remete à localização da cidade, já quase no Centro-Oeste brasileiro. De alguns bairros, é possível observar a mina de ouro, que se inicia logo depois da última casa, e confere à cidade um horizonte de terra cinza e remexida.

A contradição entre a história preservada nas ruas da cidade e a modernidade da extração aurífera na mina aberta permeia a vida dos habitantes de várias formas. Entre argumentações econômicas, ambientais e sociais, moradores e representantes da mina travam um debate diário sobre os impactos da mineração na cidade. Os temas e os argumentos são os mais variados.

De um lado, o paracatuense Wanderley Pereira diz que a sua casa está rachando desde que começaram as explosões diárias na mina – que fazem alguns bairros da cidade estremecerem às 4 da tarde. Do outro lado, a gerente de saúde, segurança e meio ambiente da mineradora, Ana Lúcia Taveira, diz que o problema é resultado apenas da estrutura precária dessas construções. Marcelo Crisp, gerente da mina, afirma, por sua vez, que a vibração e o barulho gerados estão bem abaixo do permitido pela legislação brasileira.

O médico Sérgio Dani diz que a cidade recebe da mina uma poeira que contém arsênio – substância tóxica liberada das rochas com as explosões. Ana Taveira afirma que não, diz que os níveis de arsênio são controlados por medições em vários pontos da cidade. E, segundo Marcelo Crisp, a poeira nem chega à cidade, já que carros-pipas jogam água na mina 24 horas por dia para impedir que ela gere poeira.

As disputas prosseguem em outros assuntos. Mineradoras, como outros tipos de indústrias, causam impactos onde quer que estejam. É por isso que os órgãos ambientais têm exigido uma série de estudos anteriores à implantação das minas, vários procedimentos de segurança para a instalação e o desenvolvimento dos trabalhos e um número cada vez maior de medidas mitigadoras dos prejuízos ao ambiente e às comunidades.

Negócio lucrativo
O ouro é hoje um bem comercializado nos chamados mercados de risco. Isso significa que o seu valor é flutuante, ou seja, investir em barras de ouro pode significar lucro ou prejuízo. No mercado internacional, ele é medido em onças (uma onça corresponde a cerca de 31 gramas), cujo valor muda de acordo com as variações típicas da oferta e da procura. Em 2008, em meio à crise econômica que abalou os mercados financeiros no mundo todo, o ouro foi um dos poucos minerais que viu seu preço subir: nos mercados de risco, o ouro é uma das commodities mais seguras. O lucro pode ser inferior ao de outros investimentos, mas a possibilidade de ter prejuízo é muito menor.

Ciclo do ouro
Os índios brasileiros nunca deram valor ao ouro e foram os sertanistas de São Paulo, nas chamadas entradas ou bandeiras, que descobriram o precioso metal em Minas Gerais, provocando uma verdadeira corrida ao ouro em pleno século 17. Estima-se que 50 mil pessoas tenham se deslocado para cidades da região como Ouro Preto, Diamantina e São João Del Rey na época. Foi um período marcado por construções monumentais, intensa produção cultural e igrejas que permaneceram no tempo, como a Matriz Santo Antônio (foto), em Tiradentes (MG).

PENSAR QUE SÓ EXISTE VIDA NA TERRA É UMA ARROGÂNCIA

PENSAR QUE SÓ EXISTE VIDA NA TERRA É UMA ARROGÂNCIA


O astronauta canadiano Chris A. Hadfield, em 2001, em actividade extra-veicular (EVA) num voo do vaivém Endeavour, da NASA
O astronauta canadiano Chris A. Hadfield, em 2001, em actividade extra-veicular (EVA) num voo do vaivém Endeavour, da NASA
O astronauta canadiano Chris Hadfield, autor de um livro autobiográfico recentemente editado em Portugal, considera “uma arrogância” pensar-se que só existe vida na Terra, sustentando que a exploração espacial “vai continuar”, porque faz parte da “natureza humana”.
Chris Hadfield, 56 anos, reformou-se em 2013, ao fim de 21 anos de carreira como astronauta. Participou em três missões espaciais, a última das quais, há três anos, como comandante de uma expedição à Estação Espacial Internacional, onde esteve durante cinco meses.
Foi o primeiro astronauta canadiano a fazer uma caminhada espacial e a comandar uma expedição à estação.
Apesar de reformado, continua a assumir-se como astronauta, o que decidiu ser aos nove anos, quando o homem pisou a superfície da Lua. Ser astronauta não é um emprego, é o que o define como pessoa, vincou. Hoje, dá palestras a relatar a sua experiência.
O livro autobiográfico “Guia de um astronauta para viver bem na Terra“, o primeiro que Hadfield escreveu, foi publicado em Portugal pela editora Pergaminho.
Traduzido em 21 línguas, vê-o como “um esforço” de “ser útil” às pessoas, para que percebam “algumas das ideias que tornam a vida no espaço possível”, e de que modo podem tomar diferentes decisões nas suas vidas, para que sejam “produtivas e úteis”.
No seu caso, determinou as decisões, nomeadamente a formação de base em engenharia mecânica e como piloto da aviação militar, em função de “um desafio” de vida de “longo prazo”: quis ser astronauta quando o Canadá não tinha ainda sequer uma agência espacial e a NASA, agência espacial norte-americana, só aceitava cidadãos dos Estados Unidos.
O que parecia impossível, o de participar na “aventura espacial”, tornou-se possível, tal como a chegada do homem à Lua, em 1969, que o inspirou: a oportunidade de ser astronauta surgiu quando, anos mais tarde, em 1992, foi recrutado pela agência espacial canadiana, a CSA, criada em 1989.
Teve “o privilégio” de ver o mundo a cada 92 minutos, o tempo que a Estação Espacial Internacional demora a dar uma volta à Terra. O mundo, que fazia parte “dos sonhos” dos exploradores marítimos, é agora “uma realidade que passa em hora e meia”, sublinhou.
Do espaço, Portugal atravessa-se num minuto.
O astronauta canadiano Chris A. Hadfield, engenheiro de voo da Expedição 34 da Estação Espacial Internacional (2013)
A perceção que se tem habitualmente do mundo “é extremamente limitada e filtrada”, apontou, numa referência aos problemas do dia-a-dia. Do espaço, vê-se o mundo como ele é, “com as suas ‘cicatrizes’, a sua natureza, a sua idade”, advogou.
Para Hadfield, os maiores desafios na exploração do espaço serão sempre tecnológicos.
“Estamos muito limitados pela tecnologia. Mas, a seu ver, isso não é um entrave. A compreensão do nosso planeta” é o “resultado direto de riscos” assumidos pelo homem e da “superação dos desafios tecnológicos”, frisou.
A exploração espacial, sim, “vai continuar”, acentuou, porque, de outra maneira, seria “contrariar a história, a natureza humana”, que levou navegadores a percorrerem mares nunca antes navegados.
O astronauta entende que existe uma verdadeira civilização de exploradores do espaço desde 1961, ano em que o primeiro homem, o cosmonauta Iuri Gagarin, viajou para o espaço, e lembrou que o homem já aterrou na Lua, em 1969, e sai da Terra e vive permanentemente no espaço, na Estação Espacial Internacional, desde 2000.
“Inevitavelmente, vamos viver permanentemente mais longe… a Lua será a seguir”, admitiu, recordando que o satélite natural da Terra está ao alcance de “três dias de viagem”.
Chegar a Marte, para onde a NASA e a congénere europeia ESA apontam baterias, face à possível existência de sinais de vida, “vai levar algum tempo“, é uma missão “complicada, perigosa e cara”.
“Assim que provarmos que a tecnologia é suficiente, na superfície da Lua… [isso] talvez nos dê a confiança de que vale a pena viajar para tão longe quanto Marte”, defendeu.
Segundo Chris Hadfield, “é uma arrogância” pensar-se que só existe vida na Terra, perante um “número tão grande de planetas” no Universo, que “vale a pena explorar”.
“Uma das principais razões para explorar o espaço é descobrir quais são as limitações da nossa existência”, sustentou.
Ser-se astronauta implica “treinar durante décadas e memorizar tudo”.
“Aprender, compreender e lembrar”, enfatizou. É isso que, afirmou, faz a diferença entre a vida e a morte, o que está sempre em jogo numa viagem espacial.
/Lusa- BBC

ENCONTRADA NO SRI LANKA A MAIOR SAFIRA AZUL ESTRELA DO MUNDO


ENCONTRADA NO SRI LANKA A MAIOR SAFIRA AZUL ESTRELA DO MUNDO




BBC
A safira azul foi batizada de Estrela de Adão
A safira azul foi batizada de Estrela de Adão
Gemólogos do Sri Lanka afirmam que a maior safira azul do mundo, batizada de Estrela de Adão, foi descoberta numa mina do país.
O instituto de gemologia da capital, Colombo, certificou que a pedra preciosa pesa 1.404,49 quilates (280,8 gramas) e informou nunca terem certificado a autenticidade de uma gema maior que esta.
O valor da gema é estimado em 100 milhões de dólares (93 milhões de euros) e o atual dono estima que possa vendê-la em leilão por até 175 milhões de dólares (cerca de 160 milhões de euros).
A indústria de pedras preciosas do Sri Lanka, que tem na safira o seu principal item de exportação, movimenta pelo menos 103 milhões de dólares por ano.
As safiras azuis recebem essa denominação por causa da marca característica no centro das pedras.
“No momento que a vi, decidi comprá-la”, afirmou o atual dono da pedra preciosa, que prefere ficar no anonimato, ao programa Newsday da BBC.
“Quando me mostraram a pedra, suspeitei que poderia ser a maior safira azul do mundo, por isso resolvi arriscar e comprá-la.”
O proprietário afirmou que o valor que pagou pela gema é “absolutamente confidencial”. A safira detentora do recorde anterior pesava 1.395 carats (279 gramas).
A pedra foi retirada na cidade de Ratnapura, no sul do Sri Lanka, conhecida como “Cidade das Gemas”.
O dono batizou a pedra de Estrela de Adão, em referência à crença muçulmana de que Adão tenha chegado ao Sri Lanka após ter sido expulso do Jardim do Éden. Acredita-se que o personagem, considerado o primeiro profeta na tradição islâmica, tenha vivido nas encostas de uma montanha conhecida hoje como Pico de Adão.
O dono da Estrela de Adão explica que comprou a peça imaginando que “não era apenas uma jóia, mas um objeto para exposição”.
Armil Samoon, um conhecido comerciante de jóias e pedras preciosas no Sri Lanka, confirmou que se trata, de fato, da maior safira azul do mundo.
A existência de uma rocha de 17 kg contendo safiras foi revelada em 2013, mas o peso e dimensão das gemas no seu interior ainda não são conhecidos.
A associação de gemas e jóias do Sri Lanka informou em 2011 que o anel de noivado de Catherine Middleton, a duquesa de Cambridge, mulher do príncipe William, da Inglaterra, inclui uma safira localizada no país nos anos 1970.
O anel previamente foi usado pela princesa Diana (1961-1997), mãe de William.
ZAP / BBC