domingo, 9 de julho de 2017

Mata do Jamanxim é cobiçada por madeireiros e garimpeiros

Mata do Jamanxim é cobiçada por madeireiros e garimpeiros

Floresta no Pará é unidade de conservação mais desmatada da Amazônia.
Desmatamento na área atingiu o equivalente a 6.400 campos de futebol.

Um incêndio criminoso está no meio de uma disputa pelos recursos da Floresta Nacional do Jamanxim. Essa área sofre a ação constante de garimpeiros, grileiros e madeireiros.
Em uma ação recente, agentes do Ibama armados colocaram fogo em duas balsas usadas por garimpeiros de ouro ilegais. Os equipamentos foram flagrados na Floresta Nacional do Jamanxim, no sudoeste do Pará, a unidade de conservação mais desmatada da Amazônia. Além de garimpeiros, a mata é cobiçada por madeireiros ilegais. Por isso, uma grande quantidade de toras chamou a atenção do Ibama.
“Essa região aqui já foi muito explorada. Praticamente, não tem mais remanescente florestal capaz de ter o suporte de matéria prima como esse aqui”, diz Rene Luís de Oliveira, coordenador-geral de Fiscalização do Ibama.
Entre as toras, ipês, madeira valiosa. Mas, neste caso, não foi possível saber se a madeira era legal ou não. Os maiores inimigos da floresta, no entanto, são os grileiros, pessoas que invadem terras públicas, tomam posse e montam fazendas. Pelo menos 250 posses estão sendo reivindicadas no interior da floresta. Só numa área, o desmate atingiu o equivalente a 6.400 campos de futebol.
O enigma dessa área é saber quem desmatou e quem seria o dono dela. A área está registrada em nome de uma pessoa que não é da região, possivelmente um laranja. A falsificação de registros de terras no Brasil esconde o criminoso e leva à impunidade, e a impunidade abre as portas para o desmatamento ilegal.
É o que acontece também em outra área, sem dono legal, que fica no limite da floresta. Três grileiros disputam a posse. Mas quem está ocupando são posseiros como Oswaldo, que abriu uma clareira na mata e montou um barraco onde guarda as poucas coisas que tem.
“Tudo que eu tenho está aqui. Tudinho que eu tenho, está aqui”, afirma o agricultor Oswaldo José Fabrício.
Ele quer escapar do regime de quase escravidão dos trabalhadores da região. “O senhor trabalha com fazendeiro, trabalha com tudo quanto é coisa, você não tem direito em nada. O seu acerto assim: R$ 50, R$ 30, tá aqui”, diz.
Oswaldo recebeu a promessa de ganhar dez alqueires e meio em um assentamento ilegal. Alenquer é quem coordena a divisão da terra em 125 lotes. Ele é presidente de um sindicato que não tem registro no Ministério do Trabalho e que não é filiado a nenhuma central sindical.
A notícia de terra de graça atraiu muita gente. Marilene veio de Rondônia.
“Eu e meu marido viemos de ônibus, foi três dias e meio. Mas o caminhão levou cinco dias com a mudança. Tentar, né. Tentar a sorte, vê se vai dar certo”, disse a agricultora Marilene Antunes.
Uma forma de legalizar uma ocupação em terras da união ou em florestas nacionais é usar a população pobre do campo que apenas quer ter um pedaço de terra para viver. Os grileiros incentivam a formação de assentamentos familiares ilegais em pequenos lotes criam uma situação social e abrem caminho para a legalização de suas grandes áreas.
Alenquer diz que está dividindo um pedaço de terra que teria sido doado por um dos três grileiros que disputam a área.
JN: Ninguém dá uma coisa de graça sem querer uma coisa em troca.
Agricultor Alenquer dos Santos: Pois é, mas eles deram para nós.
JN: Mas você não está acreditando nisso?
Alenquer: Estou, estou acreditando. Tanto é que estou aqui porque estou acreditando.
JN: Que é de graça e não vai acontecer nada?
Alenquer: Não, nós vamos pagar, nós vamos pagar o governo, né, a legalização.
JN: Sim, mas a área não. Porque a área não é dessa pessoa que doou.! Ele está doando uma área que não é dele
Alenquer: É grilagem, né, concordo.
Quando a Jamanxim virou floresta protegida, em 2006, já havia desmatamento e de lá para cá a área desmatada cresceu.
Para permitir a legalização das posses, o Congresso aprovou uma medida provisória que transformaria 37% da área da floresta em área de proteção ambiental, que permite atividades como garimpo e pecuária. A MP foi vetada pelo presidente Temer.
O prefeito do município de Novo Progresso, onde fica a floresta, é um dos líderes do movimento em favor da diminuição da área protegida. Ele já recebeu multas, nunca pagas, no valor de quase R$ 1,7 milhão, acusado de desmate ilegal.
“A minha defesa é que a área não era minha. Quando eles me procuraram, em 2009, eu apresentei quem que era os donos das fazendas do lado e eles falaram que eu tinha que procurar a Justiça para fazer minha defesa, que eles não queriam nem saber”, explica o prefeito Ubiraci Soares Silva.
Os fazendeiros dizem que só multar não resolve.
“Se nós tivéssemos o mesmo aparato que tem a fiscalização hoje para fazer a legalização, a regularização, com certeza esse desmatamento já não existia mais na nossa região”, disse Gelson Dill, vice-presidente do Sindicato dos Produtores Rurais.
Para eles, é preciso adequar a legislação à realidade. O Ibama discorda.
“Adequar à realidade hoje seria a legalização do desmatamento existente. Mas o bioma Amazônia continuaria sofrendo pressão e continuaria sendo desmatado. O problema é que teria uma legalização”, Maria Luiza Gonçalves de Souza, gerente-executiva do Ibama/Santarém.
Fonte: G1

Corrida bilionária pelo ouro na Amazônia deixa rastro de destruição

Corrida bilionária pelo ouro na Amazônia deixa rastro de destruição

Dezenas de milhares de garimpeiros ilegais se lançam na floresta amazônica no Brasil, Peru, Bolívia, Venezuela e Colômbia, na esperança de ficarem ricos

Barco de mineradores no rio Madeira, em Rondônia (Foto: Chris Arsenault/Reuters)
Em uma balsa ilegal de garimpo de ouro na bacia amazônica, um garimpeiro de 22 anos segura uma garrafa de plástico cheia de mercúrio tóxico com as mãos sem nenhuma proteção e diz estar ciente dos perigos do trabalho.
De bermuda, regata e chinelo, ele acende um maçarico e direciona uma chama azul em um pedaço de minério que a balsa retirou do fundo do rio Madeira, no Estado de Rondônia, na fronteira com a Bolívia.
Centenas de balsas semelhantes --fabricadas com madeira compensada, metal e movidas por motor a diesel-- cavam os rios da maior floresta tropical do mundo, deixando rastros de destruição por onde passam, de acordo com funcionários do governo
"Eu sei que isso é um pouco perigoso, mas o que mais eu vou fazer para ganhar a vida aqui?", disse o jovem garimpeiro, que conversou sob condição de anonimato devido ao seu envolvimento em atividades ilegais. Quando perguntado sobre equipamentos de segurança, ele apenas riu.
Dezenas de milhares de garimpeiros ilegais se lançam na floresta amazônica no Brasil, Peru, Bolívia, Venezuela e Colômbia, na esperança de ficarem ricos.
A corrida pelo ouro tem dizimado partes da floresta amazônica e envenenado pessoas que dependem dos alimentos com mercúrio dos rios e outras toxinas utilizadas no processo de mineração.
A indústria ilícita é alimentada pelo tráfico de pessoas para extrair o ouro e mulheres para trabalhar como prostitutas para os garimpeiros, de acordo com procuradores da Justiça.
Dificuldades
Com bilhões de dólares em jogo e complexas redes de contrabando e lavagem de dinheiro do ouro extraído ilegalmente através das fronteiras, funcionários do governo admitem que têm dificuldades para combater o problema.
"Temos dificuldades imensas", disse Ranilson Monteiro Câmara, do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), vinculado ao Ministério de Minas e Energia, à Thomson Reuters Foundation, em Porto Velho.
Dezenas de barcos sem registro retiram ouro do rio a apenas 2 quilômetros de seu escritório.
Câmara afirmou que é o único funcionário do DNPM no Estado de Rondônia responsável pelo monitoramento dos garimpeiros e da indústria de bilhões de dólares.
"Os níveis de atividade irregular (de mineração) no rio são altos", disse Câmara. Funcionários de diversos órgãos estão trabalhando para tentar barrar barcos ilegais, enquanto outros estão sendo registrados formalmente para que possam operar legalmente, segundo Câmara.
Não é tarefa fácil.
Em um determinado ano, garimpeiros ilegais enviaram 40 toneladas de ouro extraído da Amazônia para os Estados Unidos, de acordo com um estudo de 2016 da Verité, órgão de monitoramento com sede em Massachusetts. Esse montante representa quase o dobro das exportações legais de ouro das cinco nações amazônicas cobertas pelo estudo.
Entre 2006 e 2016, 68 toneladas de ouro foram extraídas ilegalmente da Amazônia e contrabandeadas para fora da região através da Bolívia, de acordo com a Global Initiative Against Transnational Organized Crime, um grupo de monitoramento com sede em Genebra, na Suíça.
Garimpeiros ilegais despejam mais de 30 toneladas de mercúrio letal nos rios da Amazônia todos os anos, envenenando peixes e causando danos cerebrais a pessoas que vivem a quilômetros de distância a jusante, de acordo com o Carnegie Amazon Mercury Project, um grupo de estudos científicos dos EUA.
Tentativas de regulação
Os produtores de ouro, por sua vez, dizem que muitos trabalham dentro da lei e são estigmatizados injustamente como bandidos.
"Somos vistos como bandidos pela sociedade, mas na verdade trabalhamos, pagamos impostos e apoiamos a economia local", disse Fabiano Sena Oliveira, membro sênior de uma cooperativa de produtores de ouro em Rondônia.
Apenas 20 por cento dos garimpeiros operam ilegalmente, disse Oliveira à Thomson Reuters Foundation em uma loja com janelas gradeadas, onde ele compra e vende ouro.
As cooperativas de proprietários de barcos de mineração estão desenvolvendo um trabalho para melhorar o monitoramento ambiental e estimular outros proprietários a legalizar seus barcos e pagar impostos, disse Oliveira, usando uma corrente de ouro.
"No passado, é verdade que os garimpeiros usavam muito mercúrio", disse Oliveira, mas hoje eles usam muito menos, pois é caro.
Como parte do processo de mineração, o mercúrio é misturado aos sedimentos retirados do fundo do rio. A mistura de mercúrio e sedimento é então aquecida, ajudando a separar o ouro dos outros elementos.
Visitas da Thomson Reuters Foundation a barcos de garimpo, porém, parecem contradizer os comentários de Oliveira.
Vida no barco
Sidney Magrão exerce a atividade de garimpeiro há 35 anos. Ele trabalha em um grande barco de garimpo com um tubo poderoso que suga sedimentos do fundo do rio Madeira. Na sequência, os garimpeiros do barco batem os tapetes usados para reter os sedimentos e separam a sujeira, em busca de pequenas pepitas de ouro.
Magrão começou no garimpo como mergulhador em rios pequenos, com um tubo de mão, e agora é um operador sênior em um barco no valor de 3 milhões de reais.
"Ganhei 23 mil reais no mês passado", disse. "Um salário alto para um homem da classe trabalhadora na Amazônia", disse Magrão, de 62 anos, à Thomson Reuters Foundation, enquanto manobrava a alavanca para dirigir o tubo de sucção, com um cigarro na boca.
O barco de dois andares com ruído estrondoso parece ter saído de um filme de ficção científica como "Mad Max" ou "Waterworld". No segundo andar, há vários quartos com beliches e uma cozinha que funciona em período integral.
Os trabalhadores dizem que o barco está formalmente registrado com as autoridades brasileiras e que emitem nota fiscal sobre todo o ouro retirado, o que significa que eles têm que pagar imposto sobre os seus ganhos.
"Nós somos pagos em ouro", disse Valda Mendes, de 60 anos, cozinheira do barco, enquanto preparava arroz e bife na brasa para o almoço.
Lavagem de dinheiro
Enquanto alguns barcos obedecem à lei, grande parte do ouro da Amazônia é extraída de áreas onde a mineração é proibida, disse um professor que estuda o comércio ilícito de ouro no Amazonas.
Em outros casos, o ouro é retirado de terras ou águas onde a mineração é permitida, mas depois é contrabandeado do Brasil para a Bolívia para evitar impostos, disse Aurelio Herraiz, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas.
"Muitos compradores vão nos barcos para comprar ouro... Isso é invisível", disse Herraiz à Thomson Reuters Foundation. "Não há registro em nenhum lugar."
Segundo Herraiz, a contaminação por mercúrio é uma das maiores ameaças ambientais do mercado de ouro, e o produto químico tóxico é barato e fácil de ser obtido na vizinha Bolívia.
Funcionários da polícia na fronteira de Rondônia com a Bolívia dizem que é difícil rastrear ouro ilícito e produtos químicos entre diferentes países da Amazônia.
"Como todas as fronteiras, há problemas e questões a serem resolvidos aqui", disse Heliel Martins, delegado da Polícia Federal em Guajará-Mirim, na fronteira com a Bolívia.
De volta ao barco de mineração ilegal, o garimpeiro de 22 anos abre uma garrafa de plástico de mercúrio antes de derramá-la em uma pepita de ouro.
A dona do barco começou como cozinheira no garimpo há 18 anos e juntou dinheiro para ter sua própria balsa.
"É burocrático e caro registrar o barco", disse ela, acrescentando que teve que pagar uma multa alta por operar ilegalmente. Para pagar as multas, ela tinha apenas uma fonte de receita: ouro.
Por Chris Arsenault e Karla Mendes. A Society of Environmental Journalists (SEJ) forneceu suporte financeiro de viagem para essa reportagem
Fonte: ÉPOCA NEGÓCIOS



Trump mantém clima de amizade com presidente da China no G20 sobre Coreia do Norte

Trump mantém clima de amizade com presidente da China no G20 sobre Coreia do Norte

domingo, 9 de julho de 2017 10:47 BRT
 



Por Jeff Mason HAMBURGO (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adotou um tom conciliatório no sábado em reunião com o presidente da China, Xi Jinping, em que os líderes concordaram em manter o trabalho sobre duas questões: a ameaça nuclear apresentada pela Coreia do Norte e assuntos de comércio bilateral. Trump fez campanha no ano passado para a eleição presidencial criticando a China por suas práticas comerciais, mas aliviou sua retórica após assumir o cargo, dizendo que quer trabalhar com a China em questões nucleares. Ultimamente Trump tem demonstrado impaciência com o papel da China na Coreia do Norte, particularmente depois que Pyongyang lançou mísseis balísticos intercontinentais que para alguns especialistas podem alcançar o Alasca e partes da Costa Oeste norte-americana. Mas ele não mostrou nenhuma impaciência no sábado, quando os líderes se encontraram a convite de Xi no final da reunião do G20 na Alemanha. "É uma honra ter você como amigo", disse Trump a Xi, afirmando apreciar as ações que ele já havia tomada em relação à Coreia do Norte. "Em relação à Coreia do Norte, teremos, eventualmente, sucesso. Pode levar mais tempo do que eu gostaria. Pode levar mais tempo do que você gostaria. Mas haverá sucesso no fim de uma maneira ou de outra", disse Trump.
 

EXCLUSIVO-Cambuhy e Itaúsa podem pagar até R$3,5 bi por Alpargatas, dizem fontes

EXCLUSIVO-Cambuhy e Itaúsa podem pagar até R$3,5 bi por Alpargatas, dizem fontes

domingo, 9 de julho de 2017 11:48 BRT


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Por Tatiana Bautzer e Guillermo Parra-Bernal SÃO PAULO (Reuters) - A Cambuhy e o Itaúsa podem pagar entre 3,3 bilhões e 3,5 bilhões de reais por uma participação majoritária na Alpargatas SA, disseram duas fontes com conhecimento do assunto. Os lucros com a venda da Alpargatas, cujas ações têm forte alta neste ano, podem ajudar a reduzir a grande dívida dos proprietários, que também estão envolvidos em escândalo de corrupção. A Cambuhy Investimentos Ltda e a Itaúsa Investimentos SA estão trabalhando para fechar os termos de um acordo já na próxima semana, quando acaba o período de exclusividade com a acionista controladora da Alpargatas, a J&F Investimentos SA, disse a primeira fonte. A Itaúsa gere a fortuna das famílias brasileiras Villela e Setúbal, que controlam o Itaú Unibanco Holding SA, maior banco da América Latina em ativos. A Cambuhy é a empresa da família do bilionário Moreira Salles, também importante acionista do Itaú. A J&F, que detém 86 por cento da Alpargatas e administra a fortuna da família Batista, tem que levantar dinheiro para pagar uma multa de leniência de 10,3 bilhões de reais e empréstimos que estão para vencer, disseram as fontes. Os proprietários da J&F, Joesley e Wesley Batista, assinaram um acordo de leniência em maio após admitirem ter subornado quase 1.900 políticos. As ações da Alpargatas acumulam alta de 63 por cento este ano. A empresa é o primeiro dos ativos da J&F a ser colocado à venda na esteira do envolvimento da família Batista no maior escândalo de corrupção do Brasil. A Reuters noticiou a oferta liderada pela Cambuhy em 16 de junho, o que as empresas confirmaram uma semana depois.[nE6N1HD02P] A J&F, a Cambuhy e a Itaúsa se recusaram a comentar. As fontes pediram para não ser identificadas porque as negociações continuam privadas.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

A enigmática e rica região no Oceano Pacífico que pode redefinir o futuro da mineração

A enigmática e rica região no Oceano Pacífico que pode redefinir o futuro da mineração


A região Clarion-Clipperton, no oceano Pacífico, guarda no fundo do mar um tesouro que representa um dilema para toda a humanidade. Ali, a 4 mil metros abaixo da superfície marinha, distância equivalente a cinco vezes o tamanho do Burj Khalifa, o prédio mais alto do mundo, encontram-se vastos depósitos de nódulos de manganês, pedras ricas em níquel, cobre, cobalto e outros minerais essenciais para a fabricação de equipamentos – de celulares a baterias para carros elétricos e painéis solares.
É um tesouro para as companhias mineradoras, mas também para o mundo inteiro, que cada vez mais depende de equipamentos eletrônicos. Nada de tubarões ou cobras: 6 animais assassinos que você talvez não conheça. ”Precisamos de mais metais”, disse à BBC Mundo Michael Johnston, diretor da Nautilus Minerals, uma das empresas com licença para explorar a região Clarion-Clipperton com fins mineradores. “De alguma maneira temos que usá-los”.
Mas a região Clarion-Clipperton (CCZ, na sigla em inglês) também é um dos lugares do mundo de maior interesse para ambientalistas e cientistas. Primeiro porque se sabe muito pouco sobre ela e, segundo, porque, com o pouco que se conseguiu explorar ali até agora, se mostrou uma região particularmente diversa, com um número maior de espécies em relação a outros habitats submarinos. ”Corremos o risco de destruir algo que ainda não entendemos completamente”, adverte Astrid Leitner, uma das biólogas marinhas que trabalha no Projeto Abyssline, que busca montar um panorama do ecossistema da CCZ antes do início da extração mineradora.
Como é a região Clarion-Clipperton
A área da CCZ equivale a aproximadamente duas vezes o tamanho do México e se estende entre a costa desse país e o Havaí. O nome se deve à fronteira ao norte com a ilha Clarion, que pertence ao México, e ao sul com a ilha Clipperton, que pertence à França. Seu fundo marinho é uma região escura, com temperaturas abaixo dos dois graus centígrados e uma pressão 400 vezes maior que a da superfície. Antes, pensava-se que era apenas uma planície, mas análises mais recentes mostraram que é um terreno heterogêneo, com morros e vales, montanhas, crateras e caldeiras com paredes esculpidas por erupções vulcânicas. O fundo marinho, que à primeira vista parece ter pouca vida, está cheio de ouriços-do-mar, pepinos-do-mar, estrelas, esponjas, anêmonas, vermes, crustáceos e corais.
Os nódulos da discórdia
A comunidade científica e as companhias mineradoras concordam que se sabe muito pouco desistem”. Ambos trabalham juntas para coletar o maior número de informações sobre a CCZ antes que a extração de minerais seja permitida.
A tarja amarela representa a região da Clarion-Clipperton
E ainda que por motivos diferentes, eles se concentram no mesmo alvo: os nódulos de manganês. Esse é o tesouro que as mineradoras querem extrair e os ambientalistas querem preservar. Esses nódulos, do tamanho de uma bola de beisebol, são acumulações de minerais especialmente ricos em cobre, níquel e cobalto, que são usados na produção de grande parte dos equipamentos tecnológicos que usamos todos os dias. Cada uma dessas “pedras” leva entre milhares e milhões de anos para se formar.
Ainda que não existam cálculos exatos, estima-se que a CCZ poderia abrigar 27 milhões de toneladas de nódulos. Não se sabe, entretanto, se essa quantidade toda será acessível. Mas Michael Johnston, da Nautilus Minerals, calcula que, no ritmo do consumo de hoje, a CCZ terá cobre o suficiente para abastecer o mundo durante os próximos 30 anos.
Biólogos e ambientalistas descobriram que, de alguma maneira, todo o ecossistema da CCZ está conectado aos nódulos. Algumas espécies de esponjas e anêmonas precisam da superfície dura dos nódulos para viver. Vídeos gravados na CCZ também mostram que nos lugares onde há mais nódulos há uma quantidade maior de peixes, com tamanho e diversidade maiores que espécies em áreas com menos nódulos. ”Isso tem grandes implicações”, diz Leitner, “porque basicamente o que a mineração faz é retirar esses módulos para sempre.”
Cientistas e mineradoras trabalham juntos para obter mais informações sobre ecossistema
Os especialistas advertem que é preciso fazer mais investigações para medir com precisão qual será o impacto da mineração sobre esse ecossistema. Na semana passada, um grupo de cientistas – alguns deles financiados pela Nautilus para explorar a CCZ – publicaram uma carta na revista científica Nature na qual afirmam que “é provável que a maior parte da perda da biodiversidade causada pela mineração no fundo do mar dure para sempre”.
Johnston, respondeu às advertências dos cientistas dizendo que estes “foram longe demais”. ”Ninguém está tentando destruir essa região, estamos vendo o que se pode fazer causando o menor impacto possível. A mineração submarina é uma oportunidade para não repetirmos os erros cometidos na mineração terrestre.”
Os cientistas se esforçam agora para fazer um diagnóstico da região que permita regular a exploração da área.
Já as empresas de mineração também se preparam para quando chegar o momento de poder extrair os nódulos. ”Me preocupa que a tecnologia mineradora avança muito mais rápido que a ciência que poderia proteger a região Clarion-Clipperton”, disse à BBC Mundo Craig Smith, o principal pesquisador do projeto Abyssline e professor de oceanografia da Universidade do Havaí.
Quem manda na CCZ?
A CCZ é Patrimônio da Humanidade, ou seja, nenhum país pode declarar soberania sobre ela. A entidade encarregada de mediar os interesses mineradores e a proteção do meio ambiente na CCZ é a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhas (ISA, na sigla em inglês), um órgão ligado à ONU.
Nódulos de manganês são pedras ricas em níquel, cobre, cobalto e outros minerais essenciais para a fabricação de equipamentos eletrônicos A ISA, da qual fazem parte 167 países e a União Europeia, organiza e controla as atividades que são realizadas no fundo do mar nas águas internacionais, ou seja, não responde à jurisdição de nenhum país. A ISA outorgou 16 licenças de exploração com fins de mineração na CCZ.
Entre os contratantes, estão governos de países membros da ISA e companhias privadas patrocinadas por esses países. Hoje, a CCZ tem 32% do seu território sob contratos de exploração, 35% definido como área protegida e 33% reservado para exploração por parte de países em desenvolvimento.
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A ISA está desenvolvendo um regulamento para a exploração que deve ficar pronto até 2020.
Uma das regras que já estão definidas é que, quando a exploração começar, os benefícios provenientes dos recursos minerais encontrados serão divididos de forma igualitária entre os países membros da ISA.
Calcula-se que a exploração mineira na CCZ comece em entre 5 a 10 anos, mas, até agora, nenhuma das 16 companhias ou consórcios com presença na região manifestaram um interesse explícito em dar início à extração. Mineradoras e cientistas continuam sua corrida contra o tempo – e dos seus esforços dependerá o futuro dessa região enigmática que pertence a toda a humanidade.
Fonte: BBC