sexta-feira, 11 de agosto de 2017

S&P eleva rating da Anglo American para BBB-, grau de investimento

S&P eleva rating da Anglo American para BBB-, grau de investimento


A S&P elevou hoje o rating de longo prazo da mineradora Anglo American de BB+ para BBB-, que equivale ao primeiro grau de investimento. A perspectiva do rating é estável.
A elevação veio após a Anglo divulgar fortes resultados financeiros referentes ao primeiro semestre, que refletiram a recuperação dos preços de commodities, em especial do minério de ferro e do carvão.
Em comunicado, a S&P também ressaltou que a Anglo apresentou uma nova estrutura para alocação de capital e uma nova política financeira, com o objetivo de manter seu balanço compatível com o grau de investimento.
Fonte: IstoÉ

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Top 10 pedras preciosas mais caras do mundo

Algo que podemos verificar com bastante facilidade, é o fato de que há uma grande quantidade de pessoas que acabam por ter interesse em obter jóias, no entanto, acabam por não entender os seus valores que são bastante elevados, e é justamente por isto que iremos citar os valores e o nome das pedras preciosas mais caras do mundo para que assim você consiga entender os valores das jóias.
Grandes magnatas e sheiks pagam uma fortuna para ter pedras raras e, claro, ter a exclusividade de ter uma jóia com uma pedra de poucas quantidades descobertas no planeta. Os valores são inestimáveis para um mineral de proporções tão pequena. Confira:

Top 10 pedras preciosas mais caras do mundo


10°

Jeremejevite


Jeremejevite pedra preciosa
A pedra preciosa que ficou em décimo lugar como a mais cara do mundo é a Jeremejevite sendo que a sua pronuncia correta seria Ye-Rem-ay-Ev ite e esta seria conhecida como uma pedra céu azul ou até mesmo incolor, sendo que possui uma alta qualidade e teria vindo da Namíbia. O seu preço médio é de 2000 dólares por quilate.

Opala Preto


opala preto
A nona pedra é a Opala Preto, sendo que esta teria vindo da Austrália, e é considero como o país clássico desta pedra, sendo o maior fornecedor, no entanto o seu preço médio é de aproximadamente U$ 2.355,00 dólares o quilate da pedra.

Esmeralda Beryl Red


Beryl Red Emerald
A oitava pedra mais cara do mundo seria a Esmeralda Beryl Red , sendo que se trata de um berilo vermelho, é encontrado principalmente na Faixa de Thomas nas montanhas de Utah, e o seu preço médio seria de aproximadamente U$10 mil por quilate. O valor é estimado por se tratar de uma pedra extraída de rochas vulcânicas sob baixa pressão e alta temperatura.

Musgravite


Pedra Musgravite
Já a sétima pedra seria a Musgravite, uma das pedras mais raras do mundo, pois se trata de um mineral de silicato sendo que a sua composição seria de berilo, magnésio e também alumínio, e o seu preço médio seria de aproximadamente 35 mil dólares por quilate.

Grandidierite

Pedra Grandidierite

A sexta pedra seria a Grandidierite, um mineral verde azulado que é encontrado principalmente em Madagascar, inicialmente seria confundida com um serendibite. A pedra possui um preço aproximado de U$50 mil por quilate da pedra.

Painite

Pedra Painite
A quinta pedra seria a Painite. Ela sempre foi considerada como o mineral mais raro da terra, mesmo com os avanços nas pesquisas de hoje, apenas três pequenos cristais foram encontrados até agora, porém, claro, sempre há a esperança de explorar e encontrar uma quantidade maior. A principal motivação é o preço médio é de aproximadamente U$50.000,00 a U$60.000,00 o quilate da pedra.

Garnet Azul

Garnet blue
O quarto lugar ficou reservado para a Garnet Azul, pedra valiosíssima que pode ser encontrada em diversas cores, no entanto, a mais rara de todas seria a azul, que foi descoberta em Madagascar, o seu preço médio de venda é de U$1.5 milhão o quilate. A pedra ficou conhecida após a venda de uma jóia de 4,2 quilates por U$6,8 milhões de dólares.

Serendibite

Pedra Serendibite
O terceiro lugar é da Serendibite, uma pedra na cor turquesa originaria do Sri Lanka, e a sua composição seria de cálcio, magnésio, alumínio, sílico e boro. Foram encontrados apenas 3 cortes da raridade até os dias atuais, e claro, o valor do quilate não poderia deixar de acompanhar a quase-exclusividade de se ter uma pedra preciosa dessa. O preço por quilate é de aproximadamente 1,8 milhões de dólares.

Diamante vermelho

Red daimond diamante vermelho
O segundo lugar ficou reservado para o diamante vermelho (Red Diamonds). Por se tratar de uma preciosidade de valor inestimável, já foi produto de roubo em diversos filmes de ficção na telinha. Poucas pessoas tiveram a oportunidade de apreciar a sua beleza, o seu brilho e a cor viva do vermelho arroxeado. É considerado como o diamante mais caro do mundo, e sua extração é de origem australiana. O seu preço médio é de 2,5 milhões de dólares por quilate.

Jadeite

pedra Jadeite
E para finalizar, a pedra mais cara do mundo é a Jadeite. O titulo é em razão do histórico leilão que a vendeu em um jóia de apenas 0,5 milímetros por 9.3 milhões de dólares em Hong Kong. Ela é considerada com uma pedra misteriosa, mistica por alguns, e sua origem seria da Guatemala, mas possui diversos exemplares que vieram da Califórnia, e a suas cores seriam branco ou então acinzentado. Sendo assim, podemos verificar que o quilate da pedra pode custar aproximadamente 3 milhões de dólares.

Fonte: UOL

terça-feira, 8 de agosto de 2017

A intrusão diamantífera Abel Régis (Carmo do Paranaíba, MG): kimberlito ou lamproíto?

Resumo
Centenas de intrusões de natureza kimberlítica ou relacionadas são conhecidas na Província Diamantífera do Alto Paranaíba, em Minas Gerais e Goiás. O pipe Abel Régis, localizado em Carmo do Paranaíba e descoberto pela De Beers na década de 1970, é um desses corpos, que tem sido, em geral, considerado como um kimberlito. Na área da intrusão, ocorrem metassedimentos neoproterozóicos do Grupo Bambuí, os quais são atravessados pelo pipe cretácico (?) de forma superficial aproximadamente circular, com cerca de 1.400 m de diâmetro. Foram distinguidas diversas fácies petrográficas no corpo, que é um dos poucos de toda a província mineral onde encontram-se preservadas feições da zona de cratera. Como o acervo de informações pré-existentes não era esclarecedor quanto à mineralogia de tal corpo, efetuaram-se também estudos com microssonda eletrônica, os quais demonstraram significativas mudanças quanto ao até então admitido. As mais importantes foram: predomínio local de Cr-espinélio sobre ilmenita entre os minerais indicadores, ilmenitas pouco magnesianas e presença abundante do K-feldspato sanidina. Essas características, somadas ao aspecto em forma de taça apresentado pelo corpo, permitem sugerir, em princípio, que a intrusão Abel Régis possa ser de natureza lamproítica.
Palavras-chave: Diamante, kimberlito, lamproíto, intrusão Abel Régis.

Abstract
Hundreds of kimberlite or related intrusions are known in the Alto Paranaíba Diamondiferous Province, in the states of Minas Gerais and Goiás. The Abel Régis intrusion, located in Carmo do Paranaíba county is one of these bodies that was discovered in the 1970´s by De Beers, and has generally been recognized as kimberlite. Neoproterozoic metasedimentary rocks of the Bambuí Group are found in the intrusion area. These rocks are cut by the Cretaceous(?) body outcropping as a nearly circular section with 1,400 m in diameter. Distinct petrographic facies, including crater facies, can be recognized in the body. As the previous data was not informative about the mineralogical features of the intrusion, studies were also performed with electron microprobe, which indicated significant changes in relation to the allowed concepts. The most important were: the local predominance of Cr-spinel in relation to ilmenite, Mg-poor ilmenites, and an abundant presence of the K-feldspar sanidine. These characteristics, added to the cup-shaped body, point out that the Abel Régis intrusion could probably present a lamproitic affinity.
Keywords: Diamond, kimberlite, lamproite, Abel Régis intrusion.



1. Introdução
Na atualidade, centenas de intrusões de natureza kimberlítica ou parentais são conhecidas na Província Diamantífera do Alto Paranaíba, em Minas Gerais e regiões contíguas de Goiás, especialmente na faixa NW-SE, que abrange os municípios mineiros de Monte Carmelo, Abadia dos Dourados, Coromandel, Patos de Minas e Carmo do Paranaíba. Embora depósitos diamantíferos aluvionares tenham sido descobertos no país nos primórdios do século XVIII, somente no final da década de 1960 iniciou-se a pesquisa sistemática de rochas fontes primárias pelo BRGM, órgão estatal francês de mineração. Através de sua subsidiária brasileira, a SOPEMI (mais tarde encampada pelo grupo minerador sul-africano De Beers), essa empresa identificou os primeiros pipes kimberlíticos na bacia do Rio Santo Inácio, em Coromandel, onde depósitos secundários eram lavrados desde inícios do século XX.
Na Província do Alto Paranaíba, logo dezenas de outros corpos foram identificados e pesquisados. Além disso, uma outra província diamantífera foi descoberta pela SOPEMI, cerca de 200 km a sudeste da anterior, designada de Província da Serra da Canastra. Tais pesquisas levaram à definição de alguns pipes mineralizados a baixo teor, bem como ao primeiro depósito primário no país com reservas economicamente viáveis, o kimberlito Canastra-1 (Chaves et al., 2008). A Província do Alto Paranaíba abrange uma superfície com pelo menos 30.000 km². Nesse contexto, em diversos corpos onde a mineralização foi anunciada, os seus potenciais econômicos permanecem de conhecimento exclusivo das companhias portadoras dos direitos minerários, e, assim, o relacionamento entre as intrusões com os diamantes aluvionares ainda não está perfeitamente estabelecido na região como um todo.
O "kimberlito" Abel Régis constitui um desses casos. Ele foi descoberto na década de 1970 e, do mesmo modo que a maioria das intrusões da região, foi classificado como um kimberlito (Read et al., 2004; La Terra, 2006; La Terra et al., 2006), embora esses trabalhos careçam de dados geoquímicos e/ou mineralógicos pertinentes. Informações adicionais obtidas em campo revelam ainda que o corpo tem produzido regularmente microdiamantes, amostrados com o programa de sondagens efetuado (Geólogo Ricardo Prates, inf. verbal, 2007). Através do levantamento detalhado do corpo (1:5.000), que determinou sua geologia e as fácies petrográficas típicas, bem como amostragem dos principais minerais indicadores visando a detectar aspectos mineraloquímicos em análises com microssonda eletrônica, observou-se que as pesquisas anteriores foram insatisfatórias na caracterização da tipologia da rocha, levando a uma proposta de redefinição da mesma no presente artigo.

2. Localização, breve histórico e síntese geológica
A intrusão está localizada cerca de 12 km WNW da sede da cidade de Carmo do Paranaíba, meio-oeste de Minas Gerais. O centróide aproximado do corpo está em (GPS) 349400N/7901500E, zona 23 e datum Córrego Alegre (Figura 1). Na década de 1970, quando a SOPEMI (Grupo De Beers) descobriu alguns de seus afloramentos através de rastreamento de minerais indicadores e prospecção geofísica por magnetometria, eles foram designados como Abel Régis, Sucesso-1 e Sucesso-2, admitindo-se, na ocasião, a existência de três blows independentes. O primeiro nome foi tirado do proprietário da fazenda, cuja sede localiza-se no interior da intrusão.
Novas pesquisas efetuadas pela Parimá Mineração, na década de 1990, rebatizaram tais blows como Régis-1, Régis-2 e Régis-3; os dois primeiros recentemente integrados em um só corpo (Régis) pela SAMSUL Mineração a partir de dados aerogeofísicos. Essa última etapa de pesquisas incluiu seis furos de sonda rotativa, dois deles (na porção central da intrusão) recuperando microdiamantes (MD): um com 316 m de profundidade amostrou 129 MD e outro, com 251 m, amostrou 20 MD (Geólogo Ricardo Prates, inf. verbal, 2007). Doravante, a intrusão será designada conforme sua caracterização original pela SOPEMI - "Abel Régis'.
A geologia da região compreende principalmente siltitos, argilitos e diamictitos do Grupo Bambuí, de idade neoproterozóica, nos quais a intrusão encontra-se na maior parte hospedada (Seer et al., 1989; Signorelli et al., 2003; Tuller & Silva, 2003). Sobre o Grupo Bambuí, ocorrem arenitos e conglomerados do Grupo Areado (Cretáceo Inferior) além de rochas tufáceas do Grupo Mata da Corda (Cretáceo Superior). Em termos geotectônicos, o pipe está localizado nas proximidades da margem oeste do Cráton do São Francisco (Figura 1); inexistem datações divulgadas sobre o mesmo, embora outros situados nessa província diamantífera sejam datados no Eocretáceo (Svisero et al., 1983; Pereira & Fuck, 2005).

3. Aspectos geológicos da intrusão Abel Régis
A intrusão possui forma superficial aproximadamente circular com cerca de 1.400 m de diâmetro (±140 ha de área), conforme o levantamento em escala de detalhe efetuado (Figura 2). La Terra (2006) e La Terra et al. (2006) determinaram com metodologia CSAMT (controlled-source audiomagnetotellurics) o comportamento em subsuperfície do corpo, constituindo uma das raras intrusões dessa natureza no país que já foram pesquisadas com tal detalhe, tendo seus resultados divulgados. Através de duas perfilagens N-S e uma perfilagem E-W (posição dos perfis na Figura 2), obteve-se um modelamento em duas dimensões para o pipe até cerca de 300 m de profundidade (Figura 3-A), onde se configura a aparente presença de somente um conduto vulcânico. Pela comparação das formas típicas de pipes kimberlíticos e lamproíticos (Figura 3-B e C), denota-se uma forte semelhança morfológica com o segundo tipo litológico.




Embora a maioria dos afloramentos encontre-se em adiantado estado de intemperização, foram identificadas quatro fácies petrográficas (Figura 2): (1) A fácies dominante, presente em cerca de 60% da exposição e de modo característico em suas bordas, consiste em uma brecha vulcânica compacta e pouco selecionada; (2) Localizada preferencialmente na porção centro-sul da intrusão, possuindo em torno de 30% de expressão areal, aparece uma fácies de tufos, finos até grossos, argilitizados e ricos em minerais indicadores; (3) Uma terceira fácies, de brecha grossa, é observada no bordo oeste e sudoeste do corpo, com cerca de 8% de domínio de superfície, constituindo uma zona com abundância de xenólitos crustais (principalmente quartzito e metassiltito), com blocos de material silexficado (parede da intrusão?) dispersos na superfície; (4) De ocorrência restrita a pequeno setor ao norte da intrusão (~2% de expressão areal) ocorre uma fácies de tufo acamadado, com material piroclástico (lapilli) associado.
A intrusão é uma das poucas de toda província onde ainda encontram-se preservadas feições da zona de cratera. O conduto superior de uma intrusão é de difícil preservação, por apresentar composição de material tufáceo ultrabásico que sob condições exógenas é rapidamente erodido. As crateras exibem estrutura em funil resultante de seu colapso, preenchida por sedimentos estratificados, remobilizados do próprio pipe.

4. Mineraloquímica das principais fases indicadoras
Amostragens para caracterização da mineraloquímica das mais importantes fases indicadoras do diamante foram efetuadas em três locais, duas sobre a fácies da brecha de borda e uma sobre a fácies de tufos (central), compreendendo 30 kg em cada ponto (Figura 2). Para o procedimento de coleta desses minerais, foi dada preferência aos trechos de miniravinamento sobre o corpo, onde o fator de concentração dos pesados deve chegar a pelo menos 10 vezes o da rocha, pela simples observação visual. Análises com microssonda eletrônica foram efetuadas sobre granadas, diopsídio, ilmenita e espinélio (LMA - Dep. de Física/ICEX-UFMG). No total, analisaram-se 128 grãos; em cada grão foram realizados 4 pontos de medição.
As granadas, todas identificadas do tipo piropo, foram separadas segundo distintas colorações: púrpura (29 grãos), vermelha (28 grãos) e alaranjada (21 grãos). Em geral, os dados químicos mostraram-se bastante semelhantes entre esses três tipos, não se verificando relação entre granadas de cor púrpura com maior concentração de Cr2O3, como recentemente Chaves et al. (2008) reconheceram no kimberlito Canastra-1 (São Roque de Minas).
As composições CaO x Cr2O3, para separação entre granadas de diferentes tendências químicas são apresentadas na Figura 4, onde se destaca uma população fortemente concentrada no trend G4-G5-G9 (campos mineraloquímicos conforme Grütter et al., 2004). Esses campos, em geral, caracterizam intrusões com teores desprezíveis ou inférteis em diamantes (Dawson & Stephens, 1975; Grütter et al., 2004).


Segundo Mitchell e Bergman (1991), as composições dos clinopiroxênios não servem para diferenciar claramente kimberlitos do grupo II de lamproítos. Entretanto Mitchell (1986) fornece uma tabela com duas médias de composições de diopsídios derivados de kimberlitos do grupo II, com conteúdos de CaO por volta de 25% (Tabela 1), muito diferentes das médias encontradas na intrusão Abel Régis e, por exemplo, no lamproíto "clássico" de Leucite Hills (EUA). Ressaltem-se, ainda, os conteúdos de Cr2O3 desse mineral na intrusão estudada, bastante elevados, seja para lamproítos, seja para kimberlitos do grupo II.
Um outro aspecto mineralógico interessante diz respeito à relativa maior abundância de Cr-espinélio (cromita) sobre ilmenita na fácies de tufos, de ocorrência incomum em kimberlitos (Mitchell, 1986). Normalmente, espinélios de kimberlitos e lamproítos seguem dois trends mineraloquímicos distintos, ambos representados nas amostras do corpo Abel Régis (Tabela 2). Cromitas associadas com diamante possuem altos conteúdos de Cr2O3 e MgO, respectivamente maiores do que 62% e 12% em média, além de depleção em TiO2 (Dong & Zhou, 1980; Gurney & Moore, 1991). Dois grãos analisados do mineral revelaram tais características, sendo fortes evidências de material de manto superior, provavelmente relacionados com a presença de (micro) diamantes.
As ilmenitas de kimberlitos, em geral, possuem um característico alto conteúdo de MgO, que pode alcançar até próximo de 25% (Mitchell, 1986), enquanto as de lamproítos tendem a apresentar valores mais baixos desse óxido (Mitchell & Bergman, 1991). A média de ±7,5% reconhecida na intrusão Abel Régis, compara-se à de lamproítos australianos (Tabela 3). Em adição, observam-se, também, nessa tabela, as semelhanças notáveis dos valores de FeO e MgO do mineral em lamproítos em comparação aos dados analisados no corpo Abel Régis.
Nos três pontos amostrados, observaram-se, com relativa abundância, grãos (com até cerca de 1 mm de diâmetro) de um mineral esbranquiçado-leitoso, de forma esférica ou semi-esférica, identificado com difração de raios X como sanidina. Esse mineral, analisado posteriormente com microssonda eletrônica (ponto REG), apresentou semelhança química muito forte com espécimes descritos nos lamproítos de Leucite Hills (EUA), Kapamba (Zâmbia) e West Kimberley (Austrália) (Tabela 4).
O zircão foi observado sobretudo no ponto SUC, identificado através de análises com EDS. Apresenta-se em prismas tabulares euédricos a subédricos, de coloração incolor-amarelada, sendo que o maior cristal encontrado alcançou o notável comprimento de 0,5 cm.

5. Discussões sobre a morfologia do corpo e sua química mineral
Algumas considerações devem ser destacadas sobre a intrusão Abel Régis:
  • Sua forma muito alargada em superfície, com cerca de 1,4 km de diâmetro, é contrária à da grande maioria dos kimberlitos da mesma região (p. ex., Svisero et al., 1983, 1986; Pasin, 2003; Chaves, 2008; Chaves et al., 2008).
  • Seu curto espaço de afunilamento em subsuperfície, demonstrado pela modelagem geofísica, permite o reconhecimento de uma forma típica "de taça".
  • A relativa abundância de espinélio sobre ilmenita; o primeiro mineral é um indicador somente acessório na maioria dos kimberlitos.
  • A mineraloquímica dos indicadores, notadamente diopsídio e ilmenita, de grande semelhança com espécimes já descritos em lamproítos.
  • A presença do K-feldspato sanidina. Intrusões kimberlíticas são notoriamente pobres em minerais potássicos, os quais caracterizam as lamproíticas. Esses aspectos, integrados, permitem sugerir que a intrusão estudada possua uma afinidade lamproítica, embora, inibidora a tal aspecto, destaca-se a presença de granadas piropo, incomuns em lamproítos (Mitchell & Bergman, 1991).

    6. Considerações finais
    Embora rochas kimberlíticas sejam conhecidas no país desde a década de 1960, ainda são escassos os estudos a respeito das centenas de intrusões que ocorrem na porção sul do Cráton do São Francisco, em Minas Gerais e imediações. Na realidade, todos os corpos conhecidos até a década de 1990 eram descritos indiscriminadamente como kimberlitos. Depois da descoberta do lamproíto diamantífero de Argyle (Austrália), diversos questionamentos foram levantados e deste modo muitas das intrusões conhecidas foram reinterpretadas como kamafugitos ou mesmo lamproítos.
    No presente estudo, o conjunto de informações apresentado sugere fortemente uma mudança no status da tipologia da intrusão Abel Régis, de kimberlítica para lamproítica. Os dados quanto à morfologia do pipe e seus principais aspectos mineralógicos coadunam com tal hipótese. Embora ocorram diversos afloramentos expostos na superfície, todos eles apresentam-se bastante intemperizados, prejudicando estudos geoquímicos na rocha que poderiam consolidar essa nova interpretação. Nesse sentido, está-se tentando, junto a SAMSUL Mineração, a obtenção de amostras de testemunhos de sondagem, no sentido de se efetuarem as análises pertinentes.

    7. Agradecimentos
    O primeiro autor expressa seus agradecimentos ao geólogo Ricardo Prates, da SAMSUL Mineração, pelo acompanhamento inicial de campo; à FAPEMIG, que através de apoio a Projeto de Pesquisa (Proc. CRA APQ-3426-5.02/07) permitiu comparações com corpos kimberlíticos da região de Coromandel; e ao CNPq pela Bolsa de Produtividade em Pesquisa.
  • A qualidade das águas na região dos garimpos de topázio imperial na sub-bacia do rio da Ponte, Ouro Preto-MG

    A qualidade das águas na região dos garimpos de topázio imperial na sub-bacia do rio da Ponte, Ouro Preto-MG

    Water quality in the topaz prospecting area of the Ponte River sub-basin, Ouro Preto - MG


    Aline Kelly Guimarães-SilvaI; Daniela Alcântara MachadoII; Hermínio Arias Nalini JrIII; Jorge Carvalho de LenaIV
    IDepart. de Geologia, Escola de Minas, Univ. Federal de Ouro Preto - E-mail: alinechemy@gmail.com
    IIDepart. de Geologia, Escola de Minas, Univ. Federal de Ouro Preto - E-mail: daniourop@yahoo.com.br
    IIIDepart. de Geologia, Escola de Minas, Univ. Federal de Ouro Preto - E-mail: nalini@degeo.ufop.br
    IVDepart. de Geologia, Escola de Minas, Univ. Federal de Ouro Preto - E-mail: jorge.delena@degeo.ufop.br




    RESUMO
    Na região de Ouro Preto observa-se significativa presença de garimpos de topázio. Essa atividade caracteriza-se pela utilização de técnicas rudimentares e sem controle de descarte dos rejeitos. Entre os danos causados ao meio físico e biótico estão o desmatamento; geração de pilhas de rejeito, aumento expressivo da concentração de finos transportados e assoreamento dos cursos d'água. Nesse trabalho foi realizado um estudo hidrogeoquímico para avaliar a qualidade das águas do rio Ponte e seus principais tributários, localizados no distrito de Rodrigo Silva, importante produtor de topázio imperial na região de Ouro Preto. Amostras de água foram analisadas para pH, Eh, oxigênio dissolvido, condutividade elétrica, turbidez, alcalinidade, cloretos, sulfatos, metais (Al, As, Ba, Ca, Cd, Co, Cr, Cu, Fe, K, Li, Mg, Mn, Mo, Na, Ni, Sc, Sr, Ti, V, Y e Zn) e material particulado em suspensão. Os resultados mostram que o principal problema da área são os altos valores de turbidez, que estão associados à presença de sólidos em suspensão introduzidos pelo garimpo (chegando a 2,9 g.L-1). Esse material representa uma fase importante capaz de carrear metais no compartimento aquático.
    Palavras-chave: Águas, metais, material particulado em suspensão, garimpos de topázio.

    ABSTRACT
    Around the Ouro Preto region, State of Minas Gerais Brazil, there is a significant presence of topaz prospecting. This activity is characterized by the use of rudimentary techniques without any tailing disposal control. Among the environmental impacts are: deforestation, tailing generation and accumulation, introduction of suspended fine particulate matter to the water and silting up of streams. In this work a hydrochemical study was carried out aiming to assess the water quality of the Ponte River and its tributaries. Water samples were analyzed for pH, Eh, dissolved oxygen, electrical conductivity, turbidity, alkalinity, chloride, sulfate, metals (Al, As, Ba, Ca, Cd, Co, Cr, Cu, Fe, K, Li, Mg, Mn, Mo, Na, Ni, Sc, Sr, Ti, V, Y and Zn) and suspended particulate matter. The results show that the main problem in the area is the high turbidity values, which are associated with the presence of suspended solids introduced by the prospecting activity (reaching a concentration of up to 2.9 g.L-1). This fact represents an important facto, since it demonstrates that metals are being deposited in the aquatic atmosphere.
    Keywords: Water, metals, particulate suspended matter, topaz prospecting.



    1. Introdução
    O Quadrilátero Ferrífero é uma área com grandes reservas minerais caracterizando-se por intensa atividade mineradora, podendo-se destacar as várias ocorrências de topázio em sua porção sudeste no município de Ouro Preto. A sub-bacia do rio da Ponte, localizada entre os municípios de Ouro Preto e Ouro Branco (Figura 1), representa um dos focos com presença significativa de atividade garimpeira, com lavras de pequena a grande escala. As lavras em pequena escala caracterizam-se por garimpos ao longo do rio, onde se encontram centenas de garimpeiros trabalhando com técnicas rudimentares e sem controle de descarte dos rejeitos, dada a incapacidade de investimento do garimpeiro. Nas lavras em grande escala, a extração é mecanizada, como na mina de Capão do Lana, no distrito de Rodrigo Silva, distante 25 km da sede do município de Ouro Preto (Guimarães, 2005).



    Os danos ao meio físico e biótico causados pelos garimpos são facilmente identificados e encontram-se descritos na literatura (Peixoto & Lima, 2004), como, por exemplo: desmatamento; geração de pilhas de rejeito, sujeitas ao escoamento superficial e transporte de sólidos sedimentáveis; aumento expressivo da concentração de finos transportados e, conseqüentemente, do nível de turbidez; assoreamento, entre outros.
    Os garimpos de topázio envolvem processos de extração puramente físicos, com desmonte de material geológico, dragagem, peneiramento e revolvimento de material. Uma das influências desses garimpos é o fornecimento de material particulado para os ecossistemas aquáticos. Este material particulado em suspensão (MPS) está sujeito a uma série de processos físicos e químicos que podem promover direta ou indiretamente a liberação e/ou acúmulo de contaminantes metálicos ao longo de um sistema fluvial.
    O rio da Ponte tem suas nascentes no distrito de Rodrigo Silva, sendo formado após as confluências dos córregos Mato da Roça, Papa-Cobra e Lavrinha, três de seus principais tributários. O rio da Ponte representa uma das contribuições da Represa de Tabuão, construída em 1956 para o fornecimento de energia elétrica para uma fábrica de alumínio em Ouro Preto, cujas águas e sedimentos foram objetos de estudos geoquímicos recentes (Guimarães, 2005).
    A área de estudo caracteriza-se por uma região de nascentes e presença de garimpos com revolvimento constante de material e utilização de dragas que aumentam a concentração de sólidos em suspensão e espécies metálicas no compartimento aquático. Assim, em função de suas características geológicas e pela presença dos garimpos, a área proposta para estudo pode-se caracterizar como uma área de potencial risco para a biota e a saúde humana.
    Esse trabalho tem por objetivo a investigação das concentrações de metais traço e maiores em amostras de água da sub-bacia do rio da Ponte e a avaliação da influência dos garimpos na geoquímica das águas.

    2. Materiais e métodos
    O trabalho foi realizado em 18 sítios amostrais (Figura 1), selecionados de acordo com a acessibilidade e localização dos garimpos ao longo do rio. As amostras de água foram coletadas no canal ativo do rio, buscando-se seções com fluxo uniforme, evitando confluências das drenagens, zonas de turbulência e remanso. As determinações in situ incluíam parâmetros físico-químicos como pH, Eh, Condutividade Elétrica (CE), obtidas com um multiparâmetro Myron (Ultrameter modelo 6P), e Oxigênio Dissolvido (OD), obtido com um oxímetro Schott (modelo handylab OX 1/SET). Os instrumentos foram ajustados de acordo com instruções do fabricante. Amostras para determinação de alcalinidade, cloreto e sulfato foram coletadas em frascos de polietileno de 1 litro e levadas ao Laboratório de Geoquímica Ambiental (LGqA/DEGEO/UFOP) para determinação dos parâmetros físico-químicos. Amostras para determinação de metais (maiores e traço) foram coletadas em frascos de polietileno de 30 mL e aciduladas com adição de HNO3 concentrado até pH < 2. Todas as amostras foram conservadas à temperatura de 4°C até o momento da análise. As determinações dos parâmetros físico-químicos foram realizadas de acordo com Greenberg et al. (1992) - alcalinidade e cloreto por titulação e sulfato pelo método turbidimétrico utilizando um equipamento Micronal modelo B250. A determinação de Al, As, Ba, Ca, Cd, Co, Cr, Cu, Fe, K, Li, Mg, Mn, Mo, Na, Ni, Sc, Sr, Ti, V, Y e Zn foi realizada por ICP OES (Spectro, Modelo Ciros CCD, visão radial) do Laboratório de Geoquímica Ambiental (LGqA/DEGEO/UFOP). Todos os resultados foram verificados com o material de referência NIST-SRM 1643e.
    A estimativa da quantidade de material em suspensão foi feita filtrando-se cerca de 250 mL de amostra com membranas de 0,45µm. As membranas de acetato de celulose com o material particulado retido foram pesadas em balança analítica com precisão de ± 1 mg, após procedimento de secagem a 55 ± 5°C até obtenção de massa constante. A determinação da massa de material retido foi feita descontando-se a massa seca média da membrana de acetato de celulose.

    3. Resultados e discussão
    Propriedades físico químicas
    O pH e Eh são duas variáveis importantes no ecossistema aquático, pois são capazes de determinar a dissolução, precipitação, oxidação e redução de várias substâncias (Bour & Loch, 1995; Gill, 1996; Weiner, 2000). As amostras da sub-bacia do rio da Ponte apresentam valores de pH entre 6,15 - 7,50 (estação de seca - Tabela 1) e 5,93 - 7,71 (estação das chuvas - Tabela 2). Esses valores encontram-se dentro da faixa estabelecida pela Resolução CONAMA N° 357 (pH 6,0   9,0). Os valores de Eh apresentam-se entre 113 - 223 mV (estação de seca) e 145 - 238 mV (estação das chuvas), compatíveis com um ambiente de corrente.
    A condutividade elétrica (CE) pode ser utilizada como um parâmetro de avaliação das modificações na composição total das águas, pois ela reflete a quantidade de material dissolvido. São observados valores mais elevados de CE a montante (amostras A02 a A05). Esses sítios estão próximos do distrito de Rodrigo Silva e recebem as contribuições desta localidade. O valor mais crítico refere-se à amostra A04 (142,7 µS.cm-1; seca), que é o primeiro sítio de amostragem a jusante de Rodrigo Silva e representa as contribuições totais do distrito. Os menores valores de CE nas duas estações são encontrados nas amostras A09 (12,51 µS.cm-1; 8,20 µS.cm-1) e A17 (11,11 µS.cm-1; 7,18 µS.cm -1), dois tributários - córregos da Lavrinha e da Cachoeira -, que representam, visualmente, áreas com pouca interferência antrópica e águas límpidas. Os demais sítios amostrais apresentaram valores de CE em torno de 25 µS.cm-1 .
    Os teores de oxigênio dissolvido (OD) nas águas da sub-bacia do rio da Ponte variam de 3,1 a 8,1 mg.L-1 (estação de seca) e 5,9 a 8,1 mg.L-1 (estação das chuvas). A amostra A04 na estação de seca apresenta o valor mais crítico (3,1 mg.L-1). O recebimento das contribuições do distrito de Rodrigo Silva talvez seja o principal fator responsável pela diminuição do OD no sítio amostral. Com a introdução dos efluentes domésticos nas águas, o oxigênio dissolvido provavelmente é consumido, numa tentativa de manutenção do ecossistema aquático.
    A turbidez expressa a quantidade de material em suspensão e pode ser usada como uma medida direta dessa quantidade. Os sólidos em suspensão, que são transportados pelas águas - como silte, argila, detritos orgânicos e plâncton em geral - contribuem para a elevação da turbidez. A avaliação da turbidez é importante, pois ela influencia na intensidade de luz difundida e na absorção de calor no compartimento aquático. Altos valores de turbidez podem ocasionar aumento de temperatura, redução da luz disponível para as plantas com alteração na fotossíntese, além de interferir nos usos doméstico, industrial e recreacional de um corpo d'água. Essa elevação da turbidez pode ser causada por erosão das margens dos rios e áreas adjacentes, crescimento excessivo de algas, alterações no fluxo do rio, efluentes domésticos e industriais (Chapman & Kimstach, 1996; USEPA, 1997; Anderson, 2005; Murphy, 2006). Reis et al. (2003) observaram que as medições nefelométricas de amostras escuras contendo goethita e hematita aumentam até os valores de 55 e 29 FTU. A partir deste ponto, mesmo aumentando a quantidade do material em suspensão, observa-se uma diminuição do valor da turbidez. Segundo os autores, esses dois minerais são escuros e apresentam uma capacidade de reflexão diferente de um material mais claro, como a sílica. As amostras A03, A05 e A08 constituem-se, visualmente, como as três amostras mais escuras, no entanto, têm-se baixos valores de turbidez nefelométrica (6, 19 e 0,1 FTU; respectivamente), daí seus valores não estarem registrados na Tabela 1. A distribuição dos valores de turbidez ao longo do curso do rio mostra um padrão aleatório e com altos valores. Alguns valores chegam a ultrapassar, em alguns pontos, o limite de 40 FTU estabelecido pela Resolução CONAMA N° 357 para águas Classe 1. Valores elevados de turbidez representam uma resposta à atividade garimpeira na área de estudo, que introduz uma quantidade significativa de sólidos em suspensão nos cursos d'água. Isto ocorre, tanto pela introdução direta devido ao peneiramento, lavagem de material e utilização de dragas, como, também, é uma conseqüência do desmatamento e decapeamento realizado durante a abertura das frentes de lavras que retiram a cobertura vegetal, facilitando a erosão e o transporte de sólidos.
    Os valores mais elevados de alcalinidade são observados a montante e devem-se provavelmente à presença de dolomitos e filitos dolomíticos naquela região, cuja dissolução introduz bicarbonatos nas águas. Os valores da estação chuvosa são levemente inferiores, prevalecendo o efeito de diluição com as chuvas. A amostra A02 apresenta concentração mais alta no período das chuvas, que pode ser justificada pela diminuição do volume d'água naquele sítio amostral. Durante a amostragem na estação das chuvas, algumas áreas a montante desse ponto estavam em obras, provocando pequenos barramentos no córrego. As amostras A09 e A17, referentes a dois tributários, também apresentam maior alcalinidade na estação chuvosa. Os tributários drenam áreas com ocorrência de quartzitos, os córregos são encaixados e suas águas correm sobre rochas aflorantes formando pequenas cascatas. A turbulência das águas pode aumentar a taxa de gás carbônico (CO2) dissolvido, podendo causar uma elevação da alcalinidade, principalmente no período das chuvas. A USEPA (United States Environmental Protection Agency) recomenda uma alcalinidade mínima de 20 mg.L-1 em termos de CaCO3 (24,4 mg.L-1 em termos de HCO3-), para que haja uma boa manutenção do sistema aquático. De acordo com esse parâmetro, apenas os sítios amostrais a montante (02, 03, 04 e 05) apresentariam uma boa manutenção do sistema aquático no caso de uma eventual introdução de substâncias ácidas no meio.
    Segundo a CETESB (2006) a elevação da concentração de cloreto pode estar associada a contaminações provenientes de aterros sanitários, esgotos domésticos e lixões. Por isso, o cloreto pode ser considerado um indicador de contribuições antrópicas, apesar de existirem métodos mais indicados e precisos para esse tipo de contaminação como o teste de coliformes fecais. As maiores concentrações de cloreto são observadas na amostra A04 na estação seca e chuvosa (14,41 e 6,47 mg.L-1, respectivamente). Os demais sítios de amostragem apresentam uma distribuição uniforme com concentração média na estação seca e chuvosa de 3,26 e 2,86 mg.L-1, respectivamente. Esse aumento pode estar relacionado às contribuições antrópicas, uma vez que tal amostra foi coletada logo após o distrito de Rodrigo Silva. O sulfato encontra-se em concentrações inferiores a 1,0 mg.L-1 nas águas da sub-bacia do rio da Ponte, ou seja, menor que o limite de quantificação do método utilizado (< LQ).
    Composição Química
    Os elementos considerados nas análises são: Al, As, Ba, Ca, Cd, Co, Cr, Cu, Fe, K, Li, Mg, Mn, Mo, Na, Ni, Sc, Sr, Ti, V, Y e Zn. Entre estes, alguns se encontram abaixo do limite de quantificação: As (85 µg.L-1), Cd (8,0 µg.L-1), Co (15 µg.L-1), Cr (15 µg.L-1), Cu (2,5 µg.L-1), Mo (25 µg.L-1), Ni (20 µg.L-1), Sc (1 µg.L-1), Ti (1,5 µg.L-1), V (10 µg.L-1), Y (5,0 µg.L-1) e Zn (5,0 µg.L-1).
    O alumínio apresenta uma distribuição aleatória ao longo dos sítios amostrados não sendo possível avaliar nenhum padrão de distribuição dos dados. Os menores valores quantificáveis de Al nas estações seca e chuvosa são, respectivamente, 10,30 e 8,82 µg.L-1. Os valores máximos para as mesmas são de 30,43 e 38,89 µg.L-1.
    Ferro e Manganês, em geral, apresentam altas concentrações a montante, onde as concentrações da estação seca são mais altas do que as da estação chuvosa. Os resultados de Fe na estação de seca variam de < 6,00 a 233,7 µg.L-1 e os da estação das chuvas variam de < 6,00 a 200,7 µg.L-1. Na estação das chuvas, as concentrações mais altas referem-se às amostras A09 e A17 (200,7 e 125,8 µg.L-1; dois tributários - córregos da Lavrinha e da Cachoeira), e na estação da seca as maiores concentrações referem-se às amostras A02 e A04 (133,0 e 233,7 µg.L-1; córrego Mato da Roça). Manganês apresenta altas concentrações ao longo de todos os sítios amostrais, principalmente a montante (A02, A03, A04 e A05). Os altos valores de Mn devem-se provavelmente à remobilização de material proveniente de antigos depósitos de ferro e manganês e também à existência de minas desativadas que se encontram na porção norte da área de estudo, próximos ao córrego Mato da Roça. As amostras A01-04, A07 e A18 apresentam concentrações da estação da seca superiores às da estação das chuvas, mostrando que prevalece o escoamento superficial nas áreas a montante, próximas aos locais dos depósitos e na área próxima à represa (A18). Nos demais sítios, a concentração da estação das chuvas é superior, prevalecendo o efeito de diluição.
    Sódio e Potássio são os metais alcalinos mais importantes e abundantes nas águas naturais e, apesar de pertencerem ao mesmo grupo, eles apresentam propriedades diferentes (Santos, 1997). A distribuição geral desses elementos mostra concentrações mais baixas nos três primeiros sítios amostrais, porém crescente com concentração máxima na amostra A04. Em geral, a concentração na estação das chuvas é inferior à estação da seca, prevalecendo o efeito da diluição. Novamente, a amostra A04 se destaca, por apresentar uma concentração superior às demais. Grande parte do sódio presente nas águas naturais do local deve ser proveniente da troca iônica natural nos minerais que o contêm e da lixiviação dos feldspatos e outros silicatos, mas pode também representar indício de atividade antrópica. O potássio também apresenta intensa participação nos processos de troca iônica, além de grande facilidade de ser adsorvido pelos argilominerais. Muito importante no desenvolvimento das plantas, ele é comumente adicionado aos solos como fertilizante. Suas fontes naturais incluem os feldspatos e micas de rochas ígneas e metamórficas (Hounslow, 1995; Santos, 1997).
    Cálcio e Magnésio são metais alcalino-terrosos que apresentam propriedades similares, porém o magnésio é mais solúvel e mais difícil de precipitar, tendendo a permanecer em solução. Os sais de cálcio apresentam solubilidade moderada a elevada, sendo comum a precipitação como carbonato de cálcio (CaCO3). São elementos predominantes nas águas naturais e responsáveis pela dureza das mesmas (Santos, 1997; Weiner, 2000). Esses elementos apresentam concentrações mais altas a montante (A01- A05). A concentração na estação das chuvas é inferior à da estação seca, exceto nas amostras A02, A03 (para Ca e Mg) e A04 (para Mg). Essas amostras apresentam concentrações da estação chuvosa superiores, principalmente na amostra A02. Nesses locais, o efeito do escoamento superficial prevalece, provavelmente por causa da geologia da região, com presença de rochas carbonáticas que estão sujeitas à lixiviação pelas águas e liberação de Ca e Mg. Esses resultados estão associados com as concentrações mais altas de HCO3-, já discutidas para alcalinidade.
    Lítio, Bário e Estrôncio são considerados elementos menores nas águas naturais. Não são elementos que estão presentes em todas as águas (como, por exemplo, Na-K-Ca-Mg), mas podem ser encontrados em concentrações consideráveis (Hounslow, 1995). Os três elementos apresentam a mesma distribuição com concentrações maiores a montante (A03 e A04), onde as concentrações da estação seca são muito superiores às da estação chuvosa. Nas demais amostras, em geral, as concentrações da estação chuvosa são superiores ou equivalentes às concentrações da estação seca.
    Estimativa do material particulado em suspensão
    A separação da fase dissolvida e do material particulado em suspensão (MPS) pode ser feita por um simples processo de filtração, utilizando membranas com poros de 0,45 µm (Hem, 1985; Carvalho et al., 1999;Salomão et al., 2001; Sokolowski et al., 2001; Gagnon & Saulnier, 2003; Lee et al., 2003; Nguyen et al., 2005).
    Tendo em vista a intensa atividade dos garimpos na área de estudo, esta avaliação teve por objetivo identificar os locais com maior quantidade de MPS e, também, auxiliar nas conclusões dos demais resultados obtidos. Desse modo, os dados obtidos são utilizados unicamente para comparação entre os pontos e associação com a presença ou ausência de garimpos durante a amostragem. Não devendo ser comparados com outros dados que sejam apresentados na literatura.
    As amostras que apresentam maior quantidade de material particulado em suspensão foram coletadas justamente após focos de intensa atividade garimpeira. As amostras A03 e A09 apresentam maior quantidade de MPS na estação da seca. Para a estação das chuvas, a amostra A03 se mantém com maior quantidade de MPS e destaca-se a contribuição do córrego Papa-Cobra (sítio 07). Esse sítio representa as contribuições desse córrego, com presença de grandes lavras de topázio a montante - Vermelhão e Capão do Lana-, além dos garimpos de leito e de margem, que, de acordo com as descrições de garimpeiros, também estão presentes ao longo desse tributário.
    Quando o garimpo está em atividade, a água apresenta uma coloração mais avermelhada, devido à grande quantidade de material particulado introduzido. A amostra de água do sítio amostral (08), na estação de seca, foi amostrada justamente por perceber o funcionamento da draga em um garimpo de margem e mudança imediata na qualidade da água.
    A concentração de sólidos totais em suspensão em um rio, sem nenhuma influência antrópica, aumenta em função do fluxo. As partículas são derivadas dos bancos dos rios e da erosão de áreas adjacentes, além da ressuspensão do material depositado nas margens e leitos dos rios. As taxas de erosão estão associadas ao clima, particularmente à quantidade e intensidade das chuvas, e podem ser influenciadas pela cobertura vegetal. O desmatamento e as atividades antrópicas dentro de uma bacia de drenagem podem resultar em uma maior taxa de erosão e, conseqüentemente, em um aumento significativo na taxa de material em suspensão transportado (Meybeck et al., 1996).
    No caso da sub-bacia do rio da Ponte, deve-se considerar o efeito dos fatores naturais e antrópicos, na quantidade de material particulado nas águas. Considera-se que a quantidade de MPS é altamente influenciada pela presença dos garimpos, ressaltando que os garimpos são atividades migratórias e sazonais. Desta forma, os dados obtidos representam apenas um registro do momento da amostragem (Tabela 3).



    4. Conclusões
    As águas da sub-bacia do rio da Ponte apresentam uma variação sazonal pequena para os parâmetros físico-químicos e metais dissolvidos avaliados. As principais influências observadas para as águas do rio da Ponte são: (i) os depósitos de ferro-manganês e antigas minas de manganês na porção norte da área de estudo; (ii) o distrito de Rodrigo Silva e suas contribuições; e (iii) os garimpos de topázio localizados ao longo de toda a área. Cada uma dessas influências apresenta contribuições específicas, que merecem ser ressaltadas.
    Segundo Johnson (1962), dois tipos de depósito de manganês são encontrados na área: (1) concentração supergênica de manganês a partir de camadas de manganês intercaladas com itabirito e dolomita, e (2) pequenos depósitos formados pela concentração supergênica de manganês derivado de rochas clásticas/detríticas. Foram identificadas elevadas concentrações de manganês ao longo do curso principal amostrado, que podem estar associadas a esses depósitos. As concentrações de manganês ultrapassam os limites estabelecidos pela Resolução CONAMA N° 357 e os sítios mais críticos estão localizados a montante.
    O elevado valor para condutividade elétrica (142,70 µS.cm-1; seca) e a baixa quantidade de oxigênio dissolvido (3,1 mg.L-1; seca) nas amostras A03 e A04 estão associados às contribuições antrópicas provenientes do distrito de Rodrigo Silva. Essas amostras também apresentam as maiores concentrações de sódio, potássio e cloreto, que também podem ser considerados indicativos desse tipo de contribuição.
    Quanto aos garimpos de topázio localizados ao longo de toda a área de estudo, pode-se dizer que a principal influência para o compartimento aquático é a introdução de sólidos em suspensão. Como o processo de extração mineral é puramente físico, não envolvendo nenhuma adição de produto químico, sua contribuição para os cursos d'água são os rejeitos sólidos. O material geológico consolidado é desagregado e introduzido nas águas, logo são submetidos a diferentes condições físico-químicas, que podem induzir à liberação ou ao acúmulo de espécies químicas.
     Fonte: DNPM

    Prospecção aluvionar aplicada a alguns minerais gemológicos de Minas Gerais: diamante, crisoberilo e topázio

    Prospecção aluvionar aplicada a alguns minerais gemológicos de Minas Gerais: diamante, crisoberilo e topázio*
     
    Mario Luiz de Sá C. Chaves
    Prof. do IGC/UFMG e Pesq. do MHN/UFMG
    E-mail: mchaves@igc.ufmg.br

    Joachim Karfunkel
    Prof. do IGC/UFMG e Pesq. do MHN/UFMG
    Adolfo Baeta de Medeiros
    Geólogo, Mestrando no IGC/UFMG
    Ricardo Scholz
    Geólogo, Doutorando no IGC/UFMG


    Resumo
    Prospecção aluvionar foi efetuada em drenagens de reconhecida ocorrência de três minerais gemológicos (diamante, crisoberilo e topázio), visando a contribuir para o conhecimento de suas associações mineralógicas e tendências de distribuição no meio aluvionar. Sob condições semelhantes, observou-se uma "taxa de dispersão" relativa para cada um dos três minerais, com provável decréscimo do diamante para o topázio. Essa técnica prospectiva, combinada com métodos analíticos modernos, é considerada uma ferramenta de importância fundamental na detecção e avaliação de áreas aluvionares mineralizadas.
    Palavras-chave: prospecção mineral em aluviões, diamante, crisoberilo, topázio.
    Abstract
    Alluvial prospecting carried out in drenages in which three gem minerals (diamond, chrysoberyl and topaz) are mined, aimed to contribute to the knowledge of mineral associations and to the distribution trends in the fluvial systems. Under similar conditions, a "dispersion rate" relative to each mineral has been found, showing probably decreasing values from diamond to topaz. This technique, if improved by modern analytics, is of primary importance for determining and evaluating alluvial mineralized areas.
    Keywords: alluvial mineral prospecting, diamond, chrysoberyl, topaz.


    Introdução
    A prospecção no meio aluvionar de minerais pesados com interesse econômico tem se revelado um importante instrumento na descoberta de novos depósitos, de modo particular em regiões intertropicais como a nossa, onde, em geral, o manto intempérico é bastante espesso. A aplicação dessa técnica, no entanto, é quase restrita a empresas que prospectam diamante, ouro, cassiterita e poucos outros bens minerais, limitando, assim, sua difusão na literatura geológica. Pesquisas efetuadas durante as décadas de 1970-80 mostraram, também, a utilidade dessa técnica em estudos, com ênfase nos minerais pegmatíticos de Minas Gerais (e.g., Cassedanne, 1972, Cassedanne & Baptista, 1984). No presente trabalho, através da amostragem sistemática de aluviões contendo minerais com interesse gemológico, objetivou-se conhecer as suas distribuições ao longo das drenagens atuais, bem como os seus comportamentos "relativos" na evolução do registro geológico.

    Metodologia de estudo
    A prospecção aluvionar tem por fim a obtenção de um resíduo mineral pesado, por bateiamento de sedimentos inconsolidados aprisionados em armadilhas naturais presentes no leito vivo dos rios. Objetivando futuras comparações, a mesma quantidade de material deve ser coletada nos pontos de amostragem (Cassedanne, 1972). No estudo, em cada ponto, 20 litros de aluvião foram amostrados e lavados, para retirada do material argiloso, e, logo após, peneirados a 2mm (com determinação à vista desarmada dos grãos mais grossos) e o resíduo fino foi concentrado em bateia. O pó mineral resultante, ou "fundo-de-bateia", foi utilizado para posterior estudo qualitativo e semi-quantitativo.
    Em laboratório, esses minerais foram novamente peneirados e a fração entre 0,25-0,50mm foi submetida a tratamento com bromofórmio (d=2,89) para eliminação do material leve. As distintas populações foram separadas com lupa binocular, sendo os minerais de identificação duvidosa estudados por microssonda eletrônica. No tratamento estatístico dessas populações, utilizou-se a seguinte convenção de percentagens, seguindo a metodologia proposta em Chaves, (1997): Abundante (A): 75-100%, Comum (C): 25-75%, Raro (R): 1-25% e Muito raro (M): <1%.

    Minerais pesados pesquisados
    O estudo foi dirigido a três minerais gemológicos, ocorendo nas porções leste/nordeste de Minas Gerais (Figura 1) - diamante, crisoberilo e topázio. Foram visadas as áreas de cabeceiras de drenagens, onde a prospecção e/ou lavra desses minerais tem sido importante, em termos comerciais, ao longo das últimas décadas.


    Figura 1 - Áreas onde foram desenvolvidos os trabalhos de prospecção aluvionar no centro-nordeste de Minas Gerais. 1) Alto/Médio Rio Jequitinhonha, 2) Ribeirão Santa Cruz e Rio Marambaia e 3) Ribeirão Maracujá.

    Minerais pesados nos aluviões diamantíferos do rio Jequitinhonha
    O rio Jequitinhonha nasce na serra do Espinhaço a leste de Diamantina, percorrendo um longo caminho pelo norte do Estado de Minas Gerais rumando para nordeste. Da nascente até a vila de Mendanha, o Jequitinhona desenvolve o seu alto curso, onde os vales são apertados, com freqüência formando canyons e sumidouros ao atravessarem domínios formados por quartzitos do Supergrupo Espinhaço (Mesoproterozóico). A partir de Mendanha (Figura 2), fora do Espinhaço, os vales tornam-se progressivamente mais abertos, aparecendo, em suas bordas, antigos terraços e extensa planície de inundação (Chaves & Uhlein, 1991).


    Figura 2 - Esboço geológico (segundo Chaves 1997) e áreas de prospecção aluvionar no Rio Jequitinhonha ao norte de Diamantina.

    Diamantes são lavrados nessa bacia desde suas cabeceiras até próximo de Grão Mogol, quase 600km rio abaixo, tanto por processos de garimpagem (no alto curso), como por dragas de grande porte (no médio curso), definindo a principal atividade econômica regional. Os diamantes do rio Jequitinhonha caracterizam-se por constituir populações onde os cristais são predominantemente pequenos (média de 0,20-0,30ct de peso), porém, bem formados e livres de jaças e/ou inclusões. Tipos geminados, agregados e borts são muito raros, denunciando o elevado grau de selecionamento dessas populações.
    Nos depósitos aluvionares do rio Jequitinhonha, deu-se preferência às amostragens dos rejeitos de garimpos, mais ricos em minerais pesados. Como em geral as áreas de garimpagem envolvem trechos extensos ao longo da drenagem, em cada ponto o material foi sempre coletado em dois ou até em cinco locais diferentes. Apresentam-se as diversas espécies determinadas na Tabela 1. O diamante, por ser uma fase de extrema raridade (improvável de "aparecer" em uma prospecção desse tipo), não foi encontrado no estudo.


    Tabela 1 - Freqüências dos minerais pesados nos aluviões diamantíferos do rio Jequitinhonha. 1, Almandina; 2, Anatásio; 3, Andalusita; 4, Cianita; 5, Crisoberilo; 6, Diásporo; 7, Estaurolita; 8, Euclásio; 9, "Favas" (fosfatos); 10, Hematita; 11, Ilmenita; 12, Lazulita; 13, Magnetita; 14, Monazita; 15, Ouro; 16, Pirita; 17, Rutilo; 18, Sillimanita; 19, Turmalina; 20, Xenotímio; 21, Zircão (A=abundante, C=comum, R=raro, M=muito raro).

    Na região, o conhecimento dos minerais pesados teve como principal objetivo a caracterização de granadas supostamente relacionáveis a intrusões ultrabásicas, conforme aceito por diversos geólogos prospectores que atuam na serra do Espinhaço. Essa suposição não foi confirmada, pois as granadas estudadas apresentam quimismo incompatível com rochas ultrabásicas (25 grãos em WDS-Microssonda Eletrônica resultaram ser almandinas, de origem ácida). Entretanto diversos outros minerais quase desconhecidos, em termos regionais, como andaluzita, crisoberilo, diásporo e estaurolita, foram identificados no estudo (Tabela 1).

    Crisoberilo (e topázio) nos minerais pesados dos rios Santa Cruz e Marambaia
    A região de Catugi, ao norte de Teófilo Otôni (Figura 1), é cortada pelo ribeirão Santa Cruz, afluente do rio Marambaia. Este último é um tributário do rio Mucuri. Tal região, pouco estudada em termos geológicos, apresenta um grande número de depósitos aluvionares ricos em crisoberilo (localmente alexandrita), incluindo ainda outras drenagens importantes (do ponto de vista da presença desse mesmo mineral), tais como o ribeirão Faísca e o rio Americaninhas (Figura 3).


    Figura 3 - Esboço geológico (segundo Fontes et al. 1978) e áreas de prospecção aluvionar no Ribeirão Santa Cruz e no Rio Marambaia a leste de Catugi.

    Ao sul de Catugi, predominam rochas de natureza gnáissica, que constituem colinas extensas, localmente entrecortadas por morros altos com formas de pão-de-açúcar, as quais denunciam a presença de intrusões graníticas. O embasamento regional, gnáissico, é de idade pré-cambriana, mas ainda necessita de determinações geocronológicas mais acuradas, sendo constituído de gnaisses, gnaisses granitóides e migmatitos, além de charnockitos.
    O "Complexo Gnáissico-Migmatítico" (Fontes et al., 1978) apresenta associações mineralógicas de grau metamórfico médio-alto, onde se deram intensos processos tectônicos e granitizantes. Gnaisses kinzigíticos mostram bandamento característico, com alternâncias de bandas leucocráticas, na maioria das vezes boudinadas, e bandas mesocráticas, com predomínio de minerais máficos. A granada almandina está quase sempre presente nos níveis félsicos, junto a quartzo, feldspatos e biotita. Como acessórios ocorrem cordierita, sillimanita e grafita. Rochas charnockíticas ocorrem intimamente associadas a esse complexo.
    Os granitos, intrusivos nas rochas anteriores, são porfiríticos, isotrópicos e de granulação grossa, nos quais salientam-se cristais centimétricos de feldspato branco, determinado como albita, ou, ainda, feldspato rosado, potássico. A matriz é constituída de quartzo, feldspatos, biotita e, mais raramente, granada. Os pegmatitos podem ser considerados incomuns nessa região e os poucos observados são do tipo homogêneo, os quais não apresentam zoneamento interno.
    Os rios da área possuem larguras variáveis entre 5-20m, com cascalhos basais que podem atingir mais de 1m de espessura. Apesar de os serviços de garimpagem também ocorrerem nos depósitos aluvionares, pela maior facilidade de lavra deu-se preferência aos depósitos coluvionares, que estão nas proximidades dos rios. Corpos pegmatíticos em lavra não foram considerados no estudo. A Tabela 2 relaciona os minerais encontrados na prospecção aluvionar.


    Tabela 2 - Freqüências dos minerais pesados nos aluviões ricos em crisoberilo dos rios Santa Cruz e Marambaia. 1, Almandina; 2, Anatásio; 3, Andalusita; 4, Cordierita; 5, Coríndon; 6, Coríndon (safira); 7, Crisoberilo; 8, Crisoberilo (alexandrita); 9, Espodumênio; 10, Estaurolita; 11, Hematita; 12, Ilmenita; 13, Magnetita; 14, Monazita; 15, Ouro; 16, Pirita; 17, Rutilo; 18, Sillimanita; 19, Topázio; 20, Turmalina; 21, Xenotímio; 22, Zircão.

    Nas amostragens, efetuadas ao longo dos rios Santa Cruz e Marambaia (Figura 3), verificaram-se minerais pesados com diferentes graus de arredondamento (mesmo os da mesma espécie), indicando processos de reciclagem, porém as espécies não apresentaram diferenças significativas entre si nos diversos pontos. Como os pegmatitos são raros na região e os minerais encontrados, como crisoberilo, coríndon (safira) e zircão, são bastante resistentes ao transporte fluvial, acredita-se que suas áreas-fontes situem-se à razoável distância e que os processos de concentração devem estar associados a retrabalhamentos de depósitos coluvionares sub-recentes.

    Minerais pesados do ribeirão Maracujá
    O ribeirão Maracujá tem as suas nascentes na serra do Rodrigo Silva, que integra o complexo metamórfico do Quadrilátero Ferrífero, constituindo uma das cabeceiras da bacia do Rio das Velhas. O longo período de colonização, iniciado no século XVII com a descoberta de aluviões auríferas (atualmente exauridas), deixou as encostas desnudas, aumentando as taxas de assoreamento no sistema aluvial, de direção geral N-S, perpendicular à estruturação E-W das seqüências metamórficas (Figura 4).


    Figura 4 - Esboço geológico (segundo Dorr II 1969) e áreas de prospecção aluvionar no ribeirão Maracujá nas cercanias de Cachoeira do Campo.

    O alto curso do ribeirão é desenvolvido sobre várias unidades de metamorfitos, datadas do Arqueano ao Paleoproterozóico, pertencentes respectivamente aos supergrupos Rio das Velhas e Minas. Em seus médio e baixo cursos afloram rochas do complexo basal arqueano, na região designado de "Complexo do Bação" (Dorr II 1969). Essa unidade na área é composta por gnaisses com estruturas migmatíticas e, raramente por rochas de composição granítica mais homogêneas, pouco ou não orientadas, que cortam os migmatitos mostrando contatos intrusivos.
    O Supergupo Rio das Velhas, principal fonte do ouro aluvionar da região, aflora em discordância angular sobre o embasamento cristalino, sendo na área constituído por xistos e filitos intensamente meteorizados. O Supergrupo Minas ocorre em discordância angular sobre esta última unidade, sendo formado, na base, por uma estreita faixa do Grupo Caraça (quartzitos e xistos quartzosos), na porção intermediária, pelo Grupo Itabira com suas formações Cauê (itabiritos) e Gandarela (filitos e rochas metacarbonáticas) e, no topo, por uma extensa porção de rochas do Grupo Piracicaba (filitos com intercalações de quartzitos).
    A prospecção aluvionar na região do Quadrilátero Ferrífero torna-se prejudicada pela abundância de óxidos de ferro nos concentrados, podendo constituir mais que 95% deles. Mesmo nas porções do ribeirão Maracujá que estão acima do nível itabirítico (Formação Cauê), a presença de óxidos é abundante pela presença de lentes de quartzitos ferruginosos intercaladas no Grupo Piracicaba. A existência desses minerais tornou mais demorado o processo de separação dos concentrados no laboratório.
    A amostragem, em seis pontos ao longo da drenagem (Figura 4), indicou a presença de topázio, comum na cabeceira, diminuindo progressivamente em direção aos outros pontos. O euclásio assim como cinábrio são acompanhantes raros do topázio na área, só encontrados nas partes altas. Isto indica que a rocha-fonte está na serra do Rodrigo Silva, não havendo novas contribuições a partir dos subafluentes. Interessante ainda observar que o topázio desaparece de todo a curta distância (±10km), devendo refletir seu esfacelamento na clivagem basi-pinacóide perfeita. O ouro é um outro mineral característico da área (Tabela 3).


    Tabela 3 - Freqüências dos minerais pesados nos aluviões topazíferos do ribeirão Maracujá. 1, Almandina; 2, Anfibólio; 3, Cianita; 4, Cinábrio; 5, Estaurolita; 6, Euclásio; 7, Goethita; 8, Hematita; 9, Ilmenita; 10, Magnetita; 11, Monazita; 12, Olivina; 13, Ouro; 14, Óxido de manganês; 15, Pirita; 16, Pirita limonitizada; 17, Rutilo; 18, Topázio (imperial); 19, Turmalina; 20, Zircão.

    Discussões
    Os minerais pesados de interesse econômico constituem fases acessórias em rochas ígneas, metamórficas e sedimentares. Sua ocorrência e dispersão nos sedimentos varia em função das condições de intemperismo da área-fonte e dinâmica de transporte. Da maior importância, ainda, são os teores e as granulometrias originais dos minerais na fonte e, principalmente, da resistência física e química deles aos agentes naturais. Logo, a identificação das espécies presentes em certo sedimento permite não só conhecer sua(s) fonte(s), como também os diversos estágios da evolução do registro sedimentar, visto que tal evolução atua no sentido da eliminação progressiva dos tipos menos resistentes. Pettijohn (1957) apresentou uma escala de estabilidade química, destacando zircão e rutilo como as fases mais estáveis in situ (Tabela 4), desconsiderando, porém, os fatores que agem no transporte aluvionar.


    Tabela 4 - Séries de estabilidade de alguns minerais pesados em função do ataque de agentes químicos em sedimentos in situ (Pettijohn, 1957).

    Os dados obtidos sobre a distribuição dos minerais estudados trouxeram importantes deduções a respeito da formação dos depósitos onde se encontram. Dessa maneira, as propriedades físicas e químicas particulares do diamante, tais como dureza inigualável e alta estabilidade química (que o fazem resistir aos processos intempéricos e metamórficos), permitem que esse mineral sobreviva continuamente ao longo do registro geológico. Entretanto existe uma sistemática redução no tamanho médio dos cristais a partir de sua área-fonte, como resultado do transporte fluvial. Tal redução no tamanho, porém, é acompanhada pela melhoria gemológica dos diamantes, visto que os tipos de qualidade inferior são destruídos (Sutherland, 1982).
    Assim, depósitos de diamantes economicamente viáveis podem ocorrer em locais a centenas de quilômetros desde sua área-fonte primária e o rio Jequitinhonha é um bom exemplo de tal fato. O único fornecedor do mineral para este rio é o Conglomerado Sopa, do Supergrupo Espinhaço. No entanto, tal rocha já é um "paleo" sedimento aluvionar e, provavelmente, sobreveio antes desse outros ciclos sedimentares (Chaves, 1997, Chaves et al., 1998). Ao longo do Jequitinhonha, os teores médios de diamante decrescem de 0,5-1,0ct/m3 nas cabeceiras até cerca de 0,008ct/m3 na zona de dragagem da Cia.Tejucana, quase 100km abaixo de Mendanha. Conforme mostrado no estudo, nenhum outro possível mineral cogenético sobreviveu aos múltiplos processos de erosão e sedimentação ocorridos.
    Em relação ao crisoberilo, os estudos demonstraram que tal mineral, apesar de sofrer arredondamento, é muito mais resistente do que já descrito. Sua ocorrência no Médio Jequitinhonha, a dezenas de quilômetros das áreas de afloramento de rochas graníticas ácidas (Complexo Basal da região de Gouveia), onde não se conhecem pegmatitos mineralizados, faz supor que essas últimas rochas foram em grande parte erodidas preteritamente à sedimentação cenozóica. Deve ser destacado, que, nas zonas mais próximas ao Complexo Basal, tem sido encontrado euclásio (Chaves & Karfunkel, 1994), outro mineral gemológico de fonte pegmatítica, que, possuindo várias direções de clivagem perfeita, é facilmente pulverizado durante o transporte fluvial.
    Ao longo dos rios Santa Cruz e Marambaia, o mesmo processo se verifica. Embora as zonas pegmatíticas mineralizadas nessa região terem sido em grande parte erodidas (Cassedanne & Baptista, 1986), o crisoberilo (e sua variedade alexandrita) ocorre em depósitos economicamente importantes em muitas áreas, pois numerosos afluentes drenaram ou drenam as suas (paleo) áreas-fontes. Essa proximidade relativa da(s) fonte(s) é corroborada pela existência comum de topázio (incolor/azul), inclusive em seixos rolados, além de outros minerais "frágeis", como xenotímio e outros fosfatos.
    No conhecimento da distribuição de topázio no ribeirão Maracujá, a prospecção aluvionar mostrou-se também de grande utilidade. Na zona serrana do alto curso desse rio, ocorre sua rocha-fonte entre as formações Cercadinho e Fecho do Funil (Gandini, 1994). Os depósitos aluvionares mais ricos no mineral estão concentrados até o sopé da serra, sendo, inclusive, verificados pequenos serviços de garimpagem clandestina (as áreas são de concessão para pesquisa e/ou lavra de mineradoras de ferro). Entretanto, em espaço bastante curto, a mineralização desaparece, indicando que não existem novos aportes de topázio a partir dos afluentes.

    Conclusão
    O estudo procurou demonstrar que, principalmente em função de suas propriedades físico-químicas, cada mineral vai possuir a sua "taxa de dispersão" própria e que o conhecimento dessa taxa pode definir critérios para a pesquisa aluvionar. Assim, corroborando outros estudos (e.g. Chaves, 1997; Chaves et al., 1998), o diamante é registrado em locais onde inexistem rochas-fontes, o crisoberilo pode apresentar fontes longínquas e o topázio só ocorre em sítios com área-fonte próxima. A prospecção enfocando bens gemológicos em regiões onde suas ocorrências são bem conhecidas, é uma técnica de grande utilidade, não só visando determinar a distribuição espacial da mineralização, como também, em províncias minerais onde achados "casuais" são freqüentes, para ser aplicada na busca sistemática de novos depósitos. Deve-se, ainda, salientar que a mesma técnica pode também servir na cubagem dos depósitos, bastando o adensamento da malha dos pontos de amostragem de campo.

    Fonte: CPRM