Graças às conquistas dos bandeirantes paulistas, o território brasileiro se agigantou espetacularmente nos séculos 16 e 17, ultrapassando o limite previsto no Tratado das Tordesilhas, o que provocou protestos da Espanha e a guerra das colônias vizinhas contra a colônia brasileira, como num prelúdio da Guerra do Paraguai. Contudo, no caminho dos bravos bandeirantes, iam surgindo povoados, muitos dos quais se tornaram grandes metrópoles atuais. A boa qualidade das terras e a grande quantidade de ouro e pedras preciosas e, sobretudo, o contato com índios bravios, que viviam em aldeias esparramadas pelos sertões afora, atraíram o faro dos bandeirantes a se aventurar em viagens épicas por sertões desconhecidos. Embarcados em frágeis canoas, venciam distâncias imensuráveis, desbravando terras inóspitas e majestosos rios. Da Amazônia ao Centro-Oeste e de São Paulo ao Rio Grande do Sul, o tamanho do território brasileiro aumentou em mais de três vezes, o que contrariou o acordo firmado entre Espanha e Portugal, no sentido de estabelecer a soberania de ambos os países: nas terras situadas a 370 léguas a partir de Cabo Verde a favor de Portugal, e à Espanha as terras que excedessem adiante de tal limite (Tratado das Tordesilhas).
Além de tal sagacidade, os bandeirantes vendiam aos fazendeiros muitos índios capturados. As bandeiras de André Leão, em 1601, e Nicolau Barreto, em 1602, capturaram mais de quatro mil índios e os venderam por bom preço em várias regiões agrícolas de São Paulo e Minas Gerais. Por outro lado, os bandeirantes introduziram o guarani como língua falada no sertão brasileiro, o que gerou drástica reação de Portugal, culminando com a expulsão dos padres jesuítas do território brasileiro, porque introduziram o guarani nas missões brasileiras. Todavia, os portugueses deixaram os bandeirantes a salvo, graças à expansão das terras produtivas e às grandes riquezas que traziam no regresso de suas viagens, que enriqueciam a Coroa Portuguesa.
A saga dos bandeirantes paulistas, além de agigantar admiravelmente o Brasil, deixou um extenso relicário de lendas a fervilhar no imaginário popular. O lendário bandeirante Fernão Dias Paes Leme ganhou o epíteto de “O Caçador de Esmeraldas”, o que motivou nosso poeta parnasiano Olavo Bilac a escrever o poema épico com o mesmo título. Fernão Dias sonhava chegar a uma região lendária, onde encontraria as sonhadas pedras verdes, esmeraldas de alto valor nos mercados europeus, e assim armou uma grande expedição constituída por bandeirantes paulistas e seguiu rumo ao interior em busca daquelas pedras tão belas e valorosas. Depois de muita peregrinação durante mais de sete anos seguidos pela floresta bravia, chegou ao Rio das Velhas, em Minas Gerais, pelo qual navegou vários dias até chegar ao vale do Rio Jequitinhonha, onde encontrou um considerável punhado de pedras verdes. Enlouquecido de felicidade, fora imediatamente atingido por uma febre alta, insidiosa, perecendo sem recursos no meio da inóspita mata fechada. Morreu sem socorro médico no dia seguinte, sem saber que aquelas pedras verdes não eram esmeraldas, mas, sim, meras turmalinas sem valor algum. Na ânsia de riqueza e enlouquecido pelo “precioso achado”, no dia seguinte sucumbiu fulminado pela febre misteriosa. Entre vários poemas épicos consagrados ao heroico bandeirante, destaco uma estrofe do poema “O Caçador de Esmeraldas”, de Olavo Bilac:
Ah! mísero demente!
o teu tesouro é falso!
Tu caminhaste em vão,
por sete anos, no encalço
De uma nuvem
falaz, de um sonho malfazejo!
Enganou-te a ambição!
mais pobre que um mendigo,
Agonizas, sem luz, sem amor, sem amigo.
Sem ter quem te conceda a extrema-unção de um beijo!”
Portanto, aos bandeirantes paulistas, o Brasil deve a grande expansão territorial, a existência de muitas cidades progressistas e a grandeza econômica.
Fonte: CPRM
ESMERALDAS