sábado, 15 de setembro de 2018

Introdução aos territórios produtores de gemas: o caso brasileiro do nordeste de Minas Gerais

Introdução aos territórios produtores de gemas: o caso brasileiro do nordeste de Minas Gerais

Pretendo compartilhar nesta crônica uma parte dos elementos recolhidos durante as recentes viagens aos territórios gemíferos localizados no nordeste do Estado de Minas Gerais. O objetivo é apresentar as atividades e os diferentes atores para permitir melhor entendimento de uma indústria baseada na exploração artesanal de gemas. De maneira geral, é uma indústria ainda pouco conhecida e com poucos trabalhos acadêmicos de foco não-geológico que sejam profundamente interessados nos espaços ligados à exploração das gemas. A aproximação e o tratamento deste tipo de indústria são delicados. Aprópria natureza das gemas – que concentram grande valor em pequenos volumes facilmente transportáveis (Hugon, 2009) – favoriza a criação de redes comerciais informais, a exploração ilegal e a fragmentação das initiativas(Guillelmet, 2000; Duffy, 2007). A presença e, às vezes, o predomínio da ilegalidade no setor, complica as tentativas de abordagem aos atores particularemente mudos sobre suas atividades (Canavesio, 2010). Por isso, neste contexto, a compreensão e a racionalização de tal setor se apresenta como uma problemática por si só e seu esclarecimento deve ser concluído antes de passar para a outra pergunta central de meu trabalho de tese de doutorado que não será abordada aqui: as riquezas gemíferas se tornam, ou não, um benefício para as áreas onde sejam exploradas?
2A escolha do nordeste mineiro para fundamentar esta análise se justifica por várias razões. Dentre os diversos territórios que exploram jazidas de gemas no Brasil, a região é provavelmente o melhor exemplo do que se aproxima mais de uma cadeia produtiva completa baseada em espaços periféricos, pois o norte de Minas Gerais apresenta índices que refletem uma situação sócio-econômica desfavorável. De fato, além das numerosas e variadas jazidas de gemas de cor que se espalham pela região estarem sendo bastante exploradas há dezenas de anos por alguns milhares de indivíduos, encontra-se ali o que talvez seja a maior concentração de atividades de lapidação de pedras e de comércio do país. Estima-se que haja pelo menos quase quatrocentos centros de lapidação e duzentos comércios apenas na cidade de Teófilo Otoni, sem contar com as várias centenas de corretores (GEA/IEL, 2005). Em Governador Valadares o número de atores seria provavelmente dividido por dois, mas que beneficiariam de renda similar aos colegas de Teófilo Otoni, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio exterior (MDIC, 2012).
Mapa 1. Áreas visitadas durante pesquisas de campo.
Mapa 1. Áreas visitadas durante pesquisas de campo.
Fonte: Castañeda, Addad & Liccardo (2001), Cornejo & Bartorelli (2010) e autor.
3Por causa da grande extensão da região e da dificuldade de acesso, não foi possível visitar todas as localidades. Então, além dos dois principais centros de lapidação e comércio que são Teófilo Otoni e Governador Valadares, algumas áreas foram escolhidas e visitadas em função da possibilidade e da disponibilidade das pessoas encontradas. Tomei cuidado para não ficar limitado em redes pessoais similares, desta forma mantive relações com pessoas de localizações, atividades e posições nas hierarquias locais diversas. Vários deslocamentos foram necessários, tanto para visitar, quanto para revisitar esses lugares, para assim ganhar uma relativa confiança dos atores. Posteriormente eles foram entrevistados através de um questionário que será analisado na tese em si. As informações apresentadas nesta crônica resultam principalmente de abordagens informais. Trechos de depoimentos e fotografias foram integrados para permitir uma melhor representação do contexto e ambiente.

A extração

Foto 1. Turmalina em estado bruto – peça de coleção.
Foto 1. Turmalina em estado bruto – peça de coleção.
Fonte: Aurélien Reys (2012).
4Minas Gerais é conhecida por ser uma das regiões gemíferas mais ricas do mundo (Delaney, 1996). Segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral, cerca da metade das minas de pedras preciosas do país se localizariam no nordeste do estado (DNPM, 2013). Além da abundância de quartzos, a região contém importantes quantidades e variedades de pedras de cor, preciosas ou semi-preciosas, como esmeraldas, águas-marinhas, morganitas, turmalinas, topázios, kunzitas, andaluzitas, brasilianitas, alexandritas e crisoberilos, para citar apenas algumas extraídas regularmente.Às vezes, vários tipos de pedras podem ser extraídos de uma única jazida. E se a exploração gemífera pode ser caracterizada pelo tipo de pedra buscada, pode ser igualmente pelo tipo de processo extrativo empregado. Dependendo dos agentes envolvidos no processo extrativista, existem quatro tipos diferentes:
  • CataO solo é escavado em forma retangular e o buraco não passa de alguns metros de profundidade. Tábuas de madeira são encaixadas na vertical para sustentar as paredes. É a forma de extração menos arriscada para os mineiros, no entanto é muito nociva para o meio ambiente, já que necessita de uma superfície de clareira maior que os outros métodos.
Foto 2. Lavrador trabalhando em mina do tipo “cata”.
Foto 2. Lavrador trabalhando em mina do tipo “cata”.
Fonte: Aurélien Reys (2009).
  • Vagão. A mina forma uma grande cavidade a céu aberto colina adentro. Este tipo de extração é facilmente identificável a grandes distâncias, por isso é pouco utilizado por aqueles que trabalham de forma ilegal.
  • O Túnel. Os túneis são a forma de exploração de pedras preciosas mais comum na região. Medindo cerca de dois metros de altura por um metro de largura, os túneis seguem na horizontal e são feitos normalmente na borda de uma colina, pois desta forma conseguem alcançar grandes profundidades a pequenas distâncias. Quanto mais fundo, mais chances de encontrar as pedras mais bonitas. Tábuas e pedaços de madeira também são utilizados, desta vez apenas na entrada da mina ou em certos locais que apresentam risco de desabamento dentro do túnel. Podem chegar até duzentos ou trezentos metros de profundidade e explosivos são usados regularmente.
Foto 3. Trabalhador de mina entrando em túnel, com lanterna em primeiro plano.
Foto 3. Trabalhador de mina entrando em túnel, com lanterna em primeiro plano.
Fonte: Aurélien Reys (2012).
Foto 4. Trabalhador de mina no fim de um túnel, uma hora após à detonação de explosivos.
Foto 4. Trabalhador de mina no fim de um túnel, uma hora após à detonação de explosivos.
Fonte: Aurélien Reys (2012).
  • Caixa americana. Esta é a forma de exploração mais ambiciosa em termos de tecnologia e investimento. Por isso é o método privilegiado das grandes operações, da qual faz parte a extração de esmeraldas. A mina é caracterizada por um buraco profundo que varia entre vinte metros para as mais artesanais até mais de trezentos metros para aquelas mais importantes, necessitando da instalação de um sistema de elevador – normalmente um simples arreio. Pedaços de madeira, muitas vezes do eucalipto cultivado na região, são usados ao longo da descida para sustentar as paredes. No fundo da cavidade existe uma sala, início de um ou vários túneis escavados na horizontal para seguir as “veias” gemíferas.
5Existem diversas formas de exploração física, mas a forma setorial mais comum em termos de atividade e uso de recursos humanos é a garimpagem. Ou seja, é uma forma de exploração mineira ilegal e artesanal. As pessoas que praticam são chamadas de garimpeiros, o que pode ser interpretado pejorativamente por alguns deles, que por sua vez preferem ser chamados de lavradores. Diversas empresas artesanais são fruto de iniciativas independentes ou de pequenos grupos de atores, comumente oriundos do meio rural e que dividem o tempo entre a mineração e atividades agrícolas de subsistência. Eles escavam dentro da propriedade de um parente, vizinho ou amigo e podem se instalar na mina durante a semana e voltar para casa nos finais de semana. Aqueles que moram próximo podem fazer o caminho de ida e volta todos os dias, especialmente depois que ficou mais fácil aceder meios de transporte modernos, como as motocicletas. Os garimpeiros que trabalham em minas de difícil acesso, às vezes preferem trazer toda a família de uma vez para ficar o ano todo. Os “acampamentos” podem ser pequenas habitações, no melhor dos casos cabanas de madeira.
Foto 5. Cama dentro do alojamento de trabalhador de mina.
Foto 5. Cama dentro do alojamento de trabalhador de mina.
Fonte: Aurélien Reys (2012).
6A realidade das grandes minas que pertencem a empresas mineradoras de meio ou grande porte é completamente diferente, já que seu funcionamento se compara mais a uma empresa do que a um modelo artesanal. Os equipamentos são mecanizados e as condições gerais das minas são melhores, mais organizadas e mais modernas. Engenheiros e geólogos também participam continuamente das atividades. Devido ao tamanho, elas acabam tendo uma nova demanda de profissionais como capatazes ou agentes de segurança, funcionários de limpeza e pessoal administrativo. E as tarefas podem ser mais especializadas: as pessoas que escavam o terrenos não são necessariamente as mesmas que irão limpar e separar os resíduos das gemas.
Foto 6. Entrada de um túnel do tipo parecido com “caixa americana” de empresa mineradora.
Foto 6. Entrada de um túnel do tipo parecido com “caixa americana” de empresa mineradora.
Fonte: Aurélien Reys (2013).
Foto 7. Trabalhador de empresa mineradora lavando minerais e seus resíduos extraídos.
Foto 7. Trabalhador de empresa mineradora lavando minerais e seus resíduos extraídos.
Fonte: Aurélien Reys (2013).
7Em sua maioria, as operações gemíferas são financiadas por diversos parceiros – os “sócios” - que normalmente não participam diretamente das atividades de mineração. A participação deles varia de acordo com a necessidade e a disponibilidade de cada um: por exemplo, um sócio leva um equipamento de motor particular, um outro financia os explosivos usados durante as operações de escavação, um outro se encarrega da alimentação e das eventuais contribuições salariais aos empregados das minas. Quando um lote de pedras é extraído, os benefícios da venda são divididos de acordo com o pré-estabelecido e também de acordo com as contribuições de cada um. Geralmente, a divisão segue o padrão: 20% da venda para o proprietário do terreno; entre 40 e 60% para os sócios; entre 20 e 40% para os empregados, dependendo do valor do salário mensal, que varia entre meio e um salário mínimo.
8É muito comum que as pequenas estruturas mineiras, ou seja, aquelas que empregam apenas duas pessoas, encontrem pedras somente uma vez a cada dois ou três anos, resultando em uma venda de algumas dezenas de milhares de reais no melhor dos casos. Aquelas que são um pouco mais ambiciosas ou que são exploradas há anos por serem particularmente férteis e que podem contratar até uma dezena de pessoas certamente conseguem encontrar muito mais pedras. No entanto as despesas são igualmente elevadas, uma soma que representa algo em torno de 5 à 20 mil reais de investimento mensal, variando de acordo com o tamanho da exploração.
9As maiores operações mineiras podem ter um ritmo de escavação de pedras semanal e seus empregados chegam a ganhar até 3 mil reais em um bom mês. Mas elas támbém não estão livres de um período infértil e caso esta situação dure tempo demais, pode causar o fechamento da mina devido aos altos custos de sua manutenção. Estas empresas possuem normalmente escritórios na cidade vizinha à mina, onde a maior parte das pedras é estocada. Muitas delas também guardam minerais encontrados durante as escavações (principalmente feldspato ou mica), mas estes materiais não são considerados o objetivo final nem a parte mais importante dos negócios.

Depoimento de um garimpeiro, 51 anos (Coronel Murta)

“Comecei a trabalhar em um garimpo quando tinha 13 anos, com meu pai. Nós tínhamos uma fazenda modesta entre Araçuaí e Coronel Murta e dividíamos o trabalho entre as atividades agrícolas de subsistência e a garimpagem, o que é muito comum por aqui. Desde então eu nunca deixei de trabalhar na mineração, mas às vezes de maneira inconstante. Nos anos 90, por exemplo, comecei a viajar para o interior de São Paulo para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar a cada estação. Mas mesmo se o salário era correto em comparação ao que a gente ganha aqui, não valia muito a pena. Na verdade eu tinha despesas de transporte, alimentação, às vezes acomodação, e o dinheiro não compensava a distância da minha família. Então parei de vez e desde 2005 dedico a maior parte do meu tempo ao garimpo, a não ser no fim do ano, com a chegada das primeiras chuvas, que eu tomo conta da minha pequena plantação. Quando o ano é razoável conseguimos colher comida suficiente para nos manter quase o ano todo, mas às vezes as chuvas são tão raras que já no mês de março acabou tudo. Por outro lado, desde a criação do Bolsa Família temos a garantia de ter um mínimo todos os meses. Acho que essa ajuda é uma benção que nos assegura um mínimo de sobrevivência para mim, para minha esposa e para minha única filha.
(…) Meu irmão trabalhava na mina de feldspato vizinha que usa material mais pesado, o que não é possível nas minas de turmalina que pedem um trabalho mais delicado. Há mais ou menos dois meses, uma pedra caiu na cabeça dele por causa de um pequeno desmoronamento. O traumatismo foi maior do que a gente pensava e eu tive que levá-lo ao pronto-socorro do hospital de Montes Claros, a cerca de 280km de distância. Ele está melhor, mas não sei se vai poder trabalhar novamente na mina. Mas eu vou bem, felizmente nunca tive nenhum problema com ninguém e nunca sofri nenhuma ameaça. A gente ouve muitas histórias nos garimpos, mas nem todas elas são verdadeiras.
(…) Pra mim, é um trabalho como os outros. Acordo de manhã, vou até o fundo do túnel onde coloco uma dezena de detonadores e, depois da explosão, espero uma hora, uma hora e meia, tempo suficiente para o gás que escapa ter se dissipado. Durante esse tempo eu tomo um café, às vezes com meu colega que trabalha na mina em dias alternados, mais ou menos. A gente recolhe os restos da explosão, depois usa uma bitadeira e em seguida recolocamos mais um lote de detonadores. E mais um no final da tarde. Vou para a mina no domingo à noite e fico até sexta-feira, mesmo se eu moro perto, a meia hora a pé. Gosto de passar minha semana de trabalho nesse ambiente, eu me sinto bem, é uma vida que gosto.
(…) Trabalhei em uns vinte garimpos durante toda minha vida e o mais profundo deles chegava a mais ou menos 200 metros. No início, quando só tem terra, avançamos rapidamente, entre 5 e 6 metros por dia. Quando chegamos na pedra, descemos a uma velocidade de 2 metros por dia, mas tudo depende da terra e da rocha. Há três semanas encontrei algumas turmalinas que vendemos aqui mesmo para um corretor de Coronel Murta em três lotes, por um total de 16 mil reais. Quando é assim eu chamo todos os sócios – no caso, quatro – e meu parceiro para decidir sobre o lote e sobre o valor. Geralmente tudo acontece sem problemas. Antes disso, encontrei há dois anos um outro lote de turmalinas de qualidade um pouco pior. A gente encontra pedras, mas isso nunca me deu oportunidade de refazer minha vida, como foi o caso de alguns poucos. Meu futuro já está todo planejado: continuar a vida que levo esperando a aposentadoria que vai chegar em alguns anos como agricultor, pois estou inscrito na profissão no Sindicato Rural.”

A lapidação

10Outras atividades ligadas à mineração foram se organizando ao longo do tempo, entre elas, a atividade de transformação das gemas. Este trabalho é feito pelos lapidadores, que em sua maioria exercem atividade nas cidades de Teófilo Otoni e Governador Valadares. Geralmente os centros de lapidação contam com no máximo três pessoas. Os maiores podem contratar até cerca de vinte trabalhadores, mas atualmente este tipo de empresa é muito rara. Os centros de lapidação normalmente tomam a forma de pequenos ateliês próximos aos principais centros de comércio ou em cima de lojas, ou ainda no pátio de domicílios nos bairros residenciais – a chamada lapidação de fundo de quintal.
11O objetivo da lapidação de uma pedra é ressaltar a beleza do mineral e prepará-la para incorporar uma joia. Não existe uma única maneira de trabalhar o produto e a escolha depende da pedra bruta inicial, já que a intenção é tirar o menos possível de material e manter a pedra mais volumosa possível. O processo de transformação descrito pelos profissionais acontece em quatro etapas diferentes:
  • Serrar. A pedra é serrada grosseiramente apenas para retirar os excessos.
  • Formar. Em seguida a pedra é colada com cera na ponta de uma varinha e o lapidador lhe dá sua forma final. Esta operação requer às vezes, quando ela faz parte de uma coleção de joias, por exemplo, a calibragem e a padronização das pedras trabalhadas.
  • Façamentar, ou simplesmente lapidar. E a operação que permite trabalhar as faces planas das pedras.
  • Polir. Finalmente a pedra é polida para que possa ser apresentada sob seu melhor brilho. Pós abrasivos, partículas de diamantes ou de coríndon, são utilizados nesta etapa.
Foto 8. Pequeno centro de lapidação informal.
Foto 8. Pequeno centro de lapidação informal.
Fonte: Aurélien Reys (2012).
12Depois de lapidada, uma pedra bruta pode perder entre 30 e 70% de seu corpo inicial, mas esta porcentagem é muito variável e depende enormemente do tipo de gema e da lapidação escolhida, assim como da dificuldade do trabalho. Pedras como kunzitas, que se quebram facilmente, ou alexandritas, extremamente duras, acabam sendo bem mais complicadas de se lapidar. Não é raro que uma pedra se quebre em vários pedaços por causa de um defeito ou de uma escolha equivocada no início do processo de lapidação. Neste caso, a soma da venda dos pequenos pedaços será sempre inferior àquela da pedra inteira.
13De acordo com os atores locais, a indústria lapidária vem sofrendo uma forte baixa. Se em um passado recente o número de lapidadores na região pode ter chegado a dois ou três mil, talvez até mais do que isso, atualmente apenas algumas centenas teriam conseguido manter o emprego de forma regular. A falta de pedras e a concorrência chinesa são geralmente os dois principais argumentos dos atores para explicar a situação. Hoje, muitos deles trabalham apenas por temporadas ou mantêm outros empregos paralelos, geralmente fora do setor das gemas. Alguns decidiram ir para o exterior, incluindo a China nos últimos anos.
14A maior parte das pequenas empresas independentes frequentemente fazem uso de equipamentos antigos, de mais de trinta anos. Todas as máquinas são dotadas de motor e se antigamente elas eram montadas artesanalmente por alguns lapidadores locais, atualmente a concorrência asiática vem ganhando espaço. Os equipamentos importados oferecem um aspecto mais moderno, uma qualidade igual por um preço inferior, o que forçou a maior parte dos antigos fabricantes locais a abandonar sua produção. De qualquer forma, a maioria dos artesãos locais evitam substituir seus materiais por equipamentos mais modernos, pois isso representa um investimento pesado difícil de recuperar. Segundo os próprios, eles não dispõem de oferta de trabalho suficiente para fazer valer à pena tamanho investimento.
Foto 9. Lapidador formando uma citrina.
Foto 9. Lapidador formando uma citrina.
Fonte: Aurélien Reys (2012).
15Anos depois de diversas ações públicas locais feitas por institutos como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE, o Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos – IBGM, e a Associação dos Joalheiros, Empresários de Pedras Preciosas e Relógios de Minas Gerais – AJOMIG, com o objetivo de alavancar a indústria de lapidação a um patamar mais avançado da joalheria, o projeto parece não ter dado certo. Os atores ainda não evoluiram como o esperado e na verdade provavelmente nem desejam fazê-lo. Poucas pessoas originárias da região se especializaram em joalheria e os raros indivíduos independentes que se aventuraram se satisfazem com um mercado local e com alguns turistas de passagem. Apenas uma das grandes empresas entre os atores abordados dedica uma parte de suas atividades à joalheria. A explicação está no fato de que além de enfrentar uma concorrência nacional já instalada, o mercado asiático também está presente. As raras joias encontradas em Teófilo Otoni e Governador Valadares provêm, muitas vezes, da China. Os atores de nacionalidade chinesa importam pedras do Brasil, principalmente quartzo, e as transformam em seu país a um custo menos elevado. Produzem, por exemplo, colares, para em seguida reexportá-los ao Brasil.
Foto 10. Colares importados da China fabricados a partir de quartzos brasileiros.
Foto 10. Colares importados da China fabricados a partir de quartzos brasileiros.
Fonte: Aurélien Reys(2012)

Depoimento de um lapidador, 56 ans (Teófilo Otoni)

“Abandonei a escola muito cedo, só estudei até o primeiro grau, então comecei a vender pedras na rua desde os 14 anos, assim como muitas outras pessoas. Depois comecei a trabalhar ao mesmo tempo como lapidador aos 16 anos e assim que consegui juntar um pouco de dinheiro, fui trabalhar sozinho. Em seguida aluguei um local perto da principal praça da cidade, onde acontecia o grosso do comércio, o que continua sendo o caso hoje em dia. De tempos em tempos dou uma volta pela praça de manhã para saber o que está acontecendo no mercado e às vezes compro algumas pedras.
(…) Eu me dedico mais ao negócio de esmeraldas. Tento me abastecer direto nas minas e vou de vez em quando em Goiás e na Bahia, mas bem menos hoje em dia, já que está mais difícil encontrar esmeraldas de boa qualidade. Na verdade, meus principais centros de abastecimento agora são Itabira e Nova Era, que são bem mais próximos. No momento trabalho em casa, no meu quintal. Lapido as pedras para dar a forma principal e depois terceirizo o facetamento e o polimento por um custo de 50 reais por pedra. Depois de lapidada, normalmente vendo a gema pelo dobro do preço que paguei por ela, mas claro que isso varia muito, pois às vezes a pedra é menos bonita do que o esperado depois de lapidada, ou então pode se quebrar no processo. O fato de fazer eu mesmo as primeiras etapas de lapidação me permite economizar um pouco de dinheiro, mas principalmente me dá a certeza de que a pessoa não vai trocar a pedra por outra parecida de menos valor depois de trabalhá-la. Isso pode acontecer porque é bastante difícil associar uma pedra bruta a uma pedra lapidada.
(…) Eu já tive alguns clientes joalheristas, principalmente um que trabalhava para Amsterdam Sauer e que vinha mais ou menos a cada três meses em Teófilo Otoni para comprar pedras comigo. Mas agora os joalheiros trabalham cada vez mais exclusivamente com as grandes empresas da região e mandam lapidar as pedras diretamente em São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte. Então viajo todo mês ou a cada dois meses para estas cidades para vender minha produção. Também costumo ir a Ouro Preto ou Brasília. Sei por experiência que as joalherias estão à procura de esmeraldas, então vou oferecer espontaneamente. Mas também acontece de eu ligar para alguns ex-clientes antes de ir. Faço negócio principalmente com brasileiros, mas também tem alguns estrangeiros, inclusive alguns chineses em Brasília, Rio de Janeiro ou São Paulo que chegaram a pouco tempo. No final dos anos 80 me inscrevi no Sindicato Nacional dos Garimpeiros para conseguir uma carteira provando que eu trabalhava no ramo, mas nunca renovei minha inscrição, pois a primeira carteira já é suficiente para não ter mais problemas com a polícia”
(…) Mesmo se o comércio já foi melhor, ainda está bom para mim. Minha mulher e minha filha me ajudam um pouco com as tarefas administrativas e meu sobrinho toma conta do cyber café que comprei há pouco tempo. Tenho uma outra filha que foi para a Itália, perto de Nápoles, e ela trabalha ilegalmente no setor da agricultura. Hoje está casada com um italiano e faz dois anos que começou a vender algumas pedras diretamente para joalherias napolitanas. Claro que ela precisa de uma nota fiscal para provar que a mercadoria é legal, é arriscado demais passar a fronteira sem provas e também é mais fácil para vender depois de chegar lá. Os chineses também tentam vender suas pedras, mas os italianos não confiam neles. Por outro lado, parece que agora está mais complicado fazer negócios, acho que por causa da crise que atinge a Europa, as pessoas acabam comprando menos joias. Mas imagino que seja temporário. Minha filha mais nova que mora com a gente pensa em fazer um curso de joalheria, mas eu estou velho demais para mudar de carreira agora e, de qualquer forma, isso não me interessa.”.

O comércio

16As atividades de comércio incluem o conjunto das operações ligadas à compra e venda de pedras de cor, brutas ou lapidadas, sem um objetivo de tranformação suplementar. Duas formas de comércio se destacam: a corretagem, que faz o papel intermediário entre o vendedor e o comprador em troca de um porcentagem da venda; e o comércio clássico, que consiste na compra do produto, estocá-lo e vendê-lo. Mas uma terceira forma de comércio poderia ser tambem integrada: aquela onde as próprias empresas mineradoras se encarregam de exportar diretamente sua produção, sem passar por intermediários.
Foto 11. Amostras de topázios imperiais e esmeraldas por um vendedor de rua.
Foto 11. Amostras de topázios imperiais e esmeraldas por um vendedor de rua.
Fonte: Aurélien Reys (2013).
17Os corretores exercem suas atividades de maneira informal na rua. É na rua também que se faz contatos profissionais e se troca informações sobre o mercado. Nas zonas rurais da região são geralmente os postos de gasolina que muitas vezes servem de endereço dessas trocas comerciais, mas o local pode variar. Em Araçuaí, por exemplo, os bares atrás da estação rodoviária têm esta função. Nas maiores cidades da região, os pontos de encontro se localizam à proximidade dos centros urbanos, próximo a sedes das principais empresas mineradoras e de comércio de gemas do nordeste de Minas Gerais. Em Governador Valadares os corretores podem ser encontrados no cruzamento das ruas Peçanha e Afonso Pena, local conhecido como “esquina dos aflitos”, onde uma mesa é posta em frente a um bar e cerca de vinte pessoas se sentam sobre cadeiras de plástico encostadas a um muro que lhes faz sombra. Em Teófilo Otoni, pelo menos uma centena de comerciantes costuma ocupar a principal praça da cidade diariamente, fazendo do lugar provavelmente o maior centro de trocas informais de pedras do país. A constante presença dos corretores e a maneira desordenada e, às vezes, insistente com que abordam os raros clientes em potencial pode dar uma imagem um pouco agressiva do negócio, muitas vezes mais exagerada do que é na realidade.
Foto 12. Vendedores de pedras com suas bolsas na Praça Tiradentes em Teófilo Otoni.
Foto 12. Vendedores de pedras com suas bolsas na Praça Tiradentes em Teófilo Otoni.
Fonte: Aurélien Reys (2012).
18Muitas vezes, atores que se apresentam como corretores podem também vender mercadorias próprias, aproximando-se do papel de comerciante clássico, mas sem loja física para exercer a profissão. A maioria deles mantém suas pedras guardadas em pochetes ou bolsas, mas há quem exponha os produtos em mesas, o que pode dar à praça de Teófilo Otoni uma imagem de feira de pedras para quem vem do exterior. Se o número de corretores perambulando na praça ainda é grande, o número de clientes estrangeiros está em constante diminuição, segundo os atores locais. Por isso, muitos vendedores de pedras passaram a ter outras profissões, como cantor de bar, pintor de prédio, etc, além daqueles que já beneficiam de uma aposentadoria. A falta de clientes faz com que uma grande parte das pedras acabe circulando apenas nas mãos dos próprios corretores. Entretanto, alguns deles percorrem o país inteiro comprando a mercadoria nas áreas rurais da região ou do nordeste do país, vendendo-a posteriormente em Teófilo Otoni, plataforma da corretagem do país, ou ainda nas grandes cidades do sudeste brasileiro.
Foto 13. Águas-marinhas espalhadas sobre uma cama de hotel de um vendedor de pedras
Foto 13. Águas-marinhas espalhadas sobre uma cama de hotel de um vendedor de pedras
Fonte: Aurélien Reys (2013).

Depoimento de um corretor, 64 ans (Teófilo Otoni, mas originário de Itinga)

“Entrei tarde no negócio. Até meus 48 anos eu era agricultor e criador, mas um dia perdi todo meu rebanho, 80 cabeças de gado atingidos pela raiva. Neste dia perdi tudo e decidi fazer como muitos outros na região: trabalhar no garimpo. Comecei perto de Medina, em um terreno que pertencia ao meu sogro, que era um modesto agricultor, ele também. Eu equilibrava a atividade de escavação com a agricultura de subsistência e participava também de algumas atividades de corretagem, mas de maneira bem local.
(…) Um dia um conhecido meu, dono de um hotel em Itaobim, veio me dizer que um francês estava procurando pedras para comprar. Eu o coloquei em contato com as pessoas que ele procurava, nós dois simpatizamos e depois disso nos encontramos a cada três meses. Ele vem ao Brasil comprar pedras brutas para revender na França. Ele faz porta-a-porta e vai de comércio em comércio lá, pelo que me falou. Hoje ele se tornou meu principal cliente e a gente viaja pela região cada vez que ele vem aqui para comprar mercadoria a um preço melhor.
(…) Há seis anos vim morar em Teófilo Otoni para acompanhar meu filho que é funcionário público. Como minha mulher adoeceu gravemente e precisa ir regularmente ao hospital, achamos melhor virmos também. Para mim, o comércio de pedras está bem melhor agora do que quando comecei, mas meu filho me ajuda com 400 reais todos os meses (cerca de 150 euros) para colaborar com as despesas. Tenho também uma aposetadoria como agricultor. Hoje penso em talvez voltar para o garimpo em um futuro próximo. Não tenho mais condição física para cavar a terra, mas posso ser útil cozinhando ou fazendo pequenas tarefas do dia-a-dia.”
19Os comerciantes possuem geralmente um endereço formal para exercer sua atividade, apresentando-se como lojas de vendas de pedras de cor. O atrativo de uma loja é que ela tem mais chances de ter um primeiro contato com novos clientes, pois é um lugar físico e oficial que passa mais confiança para os visitantes ocasionais do que uma esqunia de rua ou praça. A loja também permite ao visitante saber onde encontrar a pessoa com quem ele manteve contato da última vez que fez negócio, e é principalmente uma vitrine para o comerciante, já que as pedras expostas geralmente representam apenas uma ínfima parte dos produtos estocados. Os proprietários deste tipo de comércio muitas vezes trabalham com outras atividades relacionadas, como a mineração, a lapidação ou a venda à distância pela internet, por exemplo. Alguns deles também estão implicados no comércio de minerais industriais.
Foto 14. Estoques de pedras de coleção de comércio, com quartzos fumê em primeiro plano.
Fonte: Aurélien Reys (2012).
20Em Teófilo Otoni existe uma estrura comercial original e relativamente organizada, em formato de galeria, composta por cerca de vinte pequenas lojas: a galeria da Associação dos Corretores e Comerciantes de Pedras Preciosas, mais conhecida localmente pelo acrônico ACCOMPEDRAS. Construído no início dos anos 90 com a ajuda das autoridades locais, o lugar foi concebido na sua origem para oferecer a alguns corretores que trabalhavam na praça um ponto “formal” de venda. Algumas lojas mudaram de dono e é possível achar hoje proprietários em situações diversas - do corretor que consegue a maior parte de seu lucro graça às comissões, até pequenas empresas que vendem pela internet. Alguns investem parte de seus lucros em atividades de garimpo, onde viram sócios.
Foto 15. Entrada da galeria ACCOMPEDRAS em Teófilo Otoni.
Foto 15. Entrada da galeria ACCOMPEDRAS em Teófilo Otoni.
Fonte: Aurélien Reys(2012).
21Por último, certos pontos de comércio aparecem na forma de escritórios. Normalmente escritórios de empresas mineradoras possuem explorações à proximidade e têm a função de cuidar da parte administrativa. De uma forma ou de outra acabam filtrando pessoas indesejáveis – a maior parte dos corretores –, se dedicando exclusivamente àqueles que interessam mais – geralmente clientes ricos. Tal filtragem é possível por causa de uma entrada com um importante sistema de segurança. Há clientes brasileiros, mas a maior parte dos produtos é exportada para outros países e os negócios fechados cada vez mais frequentemente à distância. Muitas destas empresas, realizam parte de seus negócios em feiras internacionais estrangeiras, geralmente nos Estados Unidos (Tucson) ou em Hong-Kong (três feiras anuais), às vezes na China (Shangai) ou na Europa (Munique, Sainte-Marie-aux-Mines). Bem mais raramente, para não dizer nunca, participam das feiras organizadas no Brasil (São Paulo, Soledade, Teófilo Otoni, e às vezes Governador Valadares), cujo alcance é sobretudo nacional, apesar das propagandas locais.
Foto 16. Entrada segura do escritório de empresa de pedras.
Foto 16. Entrada segura do escritório de empresa de pedras.
Fonte: Aurélien Reys (2012).

Considerações finais

22Antes da aplicação dos questionários semi-dirigidos que guiariam a continuação do meu trabalho, uma pesquisa mais ampla e menos sistemática foi necessária para a) delimitar a área geográfica do estudo; b) ganhar a confiança dos atores do setor, o que pode ser considerado como incontornável para o prosseguimento da pesquisa; c) identificar e formalizar os diferentes tipos de atores existentes em função do tipo e do porte das atividades exercidas; d) e sobretudo entender a organização e funcionamento geral de um negócio particularmente obscuro, cujos principais elementos estão apresentados aqui. Esta primeira parte de trabalho de campo permitiu também destacar alguns questionamentos que não teriam sido levados em consideração, ou pelo menos não suficientemente, e que se mostraram centrais para a continuação da pesquisa.
23O caso, que se apresenta sob a forma de um sistema de produção particularmente bem delimitado no espaço, leva à indagação sobre a relevância da terriorialidade nesta conjuntura, permitindo revisitar os quadros teóricos dos Sistemas e Arranjos Produtivos Locais (Cassiolato & Lastres, 2003; Marcos, 2006). Os numerosos projetos voltados para o desenvolvimento das atividades apoiadas pelas autoridades públicas constituem também um interesse suplementar. Este tipo de ação pode ser usada como complemento para responder a pergunta central do meu trabalho, que é saber em quais condições as riquezas gemíferas podem ser uma vantagem para os territórios extrativistas. A observação mais relevante desta primeira fase das pesquisas, no entanto, foram as recentes evoluções que afetam as atividades locais. A totalidade dos atores afirma que a produção e o comércio de pedras na região enfraqueceram consideravelmente durante a última década, circunstâncias que as estatísticas oficiais não conseguem apontar.
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Fonte: DNPM

Estudante cearense cria aparelho para avaliar pedras preciosas

Estudante cearense cria aparelho para avaliar pedras preciosas

"É uma coisa inédita. Até onde a gente sabe, aqui no departamento (que vai fazer 50 anos, em 2019), nunca alguém criou um aparelho na área de geologia", revela Isaac Gomes, criador do equipamento

Isaac Gomes, criador do aparelho, e Tereza Neri, coordenadora do Laboratório de Gemologia da UFC ( Foto: Viktor Braga/UFC )
13:32 · 13.09.2018
Verdadeira ou falsa? Essa é a principal questão que surge quando o assunto são pedraspreciosas. Na intenção de verificar a autenticidade das peças — bem como outros usos — foi que Isaac Gomes, estudante de Geologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), desenvolveu um aparelho, batizado de “polariscópio Gomes”.
“Em 2016, eu estava no laboratório catalogando algumas coisas, e do nada veio essa ideia na minha cabeça. É uma coisa inédita. Até onde a gente sabe, aqui no departamento (que vai fazer 50 anos, em 2019), nunca alguém criou um aparelho na área de geologia”, orgulha-se o jovem que é participante do Laboratório de Gemologia da UFC.
Além de inovadora, a ideia de Isaac tem se mostrado eficaz. Por esses motivos, o universitário já entrou com o processo de patenteamento do aparelho — que caminha a bons passos. “Já passou todos os trâmites legais, e agora falta só a parte de burocracia do Governo Federal, mas já está tudo aprovado.”, revela o jovem que completa informando que "a previsão para obter o título de “inventor oficial” do objeto é no meio de 2019”, revela o futuro geólogo.
O equipamento “traz uma evidência a mais, e com isso, não é preciso passar pela fase de microscópio, pois já se vê que são imitações, podendo ser uma gema de menor valor ou até vidro”, comenta a professora Tereza Neri, coordenadora do Laboratório de Gemologia.
Em relação à aceleração garantida pelo “polariscópio Gomes”, o próprio inventor comenta os benefícios acadêmicos da criação. “Eu estou terminando meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) agora, e estou utilizando amostras do laboratório. E analisar a gema na minha máquina é super rápido, em torno de cinco a dez minutos”, em relação ao processo de caracterização da gema — que demora uma média de duas horas para ser realizado por completo.
Apesar da contribuição acadêmica, o equipamento não substitui o atual aparelho (refratômetro). “Mas uma pessoa do comércio que vai montar em sua casa um mini-laboratório não precisaria ter dois instrumentos, podendo ter um só. Isso é importantíssimo”, complementa a professora.
“Por exemplo, o diamante não deixa passar luz. Então, seria algo útil na minha máquina, porque você comprovaria que não deixa passar. Mas outras pedras, elas deixam passar luz. Por exemplo, o rubi ele deixa passar luz. Então, se colocar na máquina, e não passar, você já descarta a possibilidade de ser rubi”, finaliza Isaac Gomes, ao explicar sobre o uso e funcionamento do “polariscópio Gomes”.
Fonte: UOL

BB Investimentos mantém otimismo no varejo

BB Investimentos mantém otimismo no varejo

Investing.com Brasil - 14/09/2018 - 
Por Investing.com – Para o Banco do Brasil (BBAS3Investimentos o fraco resultado da Pesquisa Mensal de Comércio, divulgada ontem pelo IBGE, deve pressionar as ações das varejistas na bolsa paulista. Em julho, o varejo brasileiro teve queda 0,5% na comparação mensal, sendo que a aposta do mercado era de ganhos de 0,3%.
Olhando para a base anual, a queda foi de 1,0% no volume, o que representa o primeiro desempenho negativo nas perspectivas depois de 15 altas consecutivas. Apesar disso, no acumulado dos últimos 12 meses, o desempenho é positivo em 3,2%.
Os analistas destacam que a partir de agosto, a base de comparação deve ser mais fraca, uma vez que a liberação dos fundos inativos do FGTS ocorreu entre os meses de maio e julho durante 2017, o que impulsionou o poder de compra dos consumidores.
O BB Investimentos chama a atenção também para o período de incerteza devido a cena eleitoral, combinando com um ritmo mais leto na recuperação da economia. Os analistas do banco lembram que nos últimos 30 dias, apenas cinco varejistas performaram acima do Ibovespa (até o fechamento de 12/09). A maior parte delas é de segmentos não-cíclicos, como supermercados (Pão de Açúcar (PCAR4) eCarrefour (CRFB3)) e cuidados pessoais (Hypera (HYPE3) e Natura(NATU3)), como é de se esperar durante cenários de incerteza.
Apesar disso, o BB-BI segue otimista em relação ao desempenho das ações das varejistas após o período eleitoral, refletindo uma demanda represada ainda bastante forte no consumo, principalmente nos segmentos de duráveis e semi-duráveis.
Sendo assim, a equipe mantém as estimativas e recomendações inalteradas por ora. Seguindo este racional e focando em valuations atrativos, B2W Digital (BTOW3), Lojas Renner (LREN3) e Pão de Açúcar foram mantidas na carteira sugerida fundamentalista do mês de setembro.
Ativo – Preço-alvo – Recomendação
Raia Drogasil (RADL3) – R$ 80,50 – Market Perform
Hypera – R$ 32,60 – Market Perform
Natura – R$ 49,90 – Overperform
Lojas Renner – R$ 41,50 – Overperform
B2W – R$ 35,90 – Overperform
Lojas Americanas (LAME4) – R$ 22,50 – Market Perform
Grupo Pão de Açúcar – R$ 103,50 – Overperform
Magazine Luiza (MGLU3) – R$ 165,90 – Overperform
Via Varejo (VVAR11) – R$ 35,50 – Overperform

Fonte: MONEY TIMES/Investing.com Brasil

Brasil de volta ao clube dos grandes produtores de diamante

Brasil de volta ao clube dos grandes produtores de diamante

Descoberta na Bahia estimula corrida pelo mineral. País pode subir a 11º lugar no ranking
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Diamante (Foto: Peter Macdiarmid/Getty Images)
Após a descoberta na cidade de Nordestina, no interior da Bahia, de uma reserva de diamante capaz de multiplicar a produção nacional da pedra preciosa numa escala superior a dez vezes, o país voltou a ficar na mira de investidores. Ao menos três empresas estão prospectando a pedra preciosa no país — na Bahia, em Goiás e em Minas Gerais — num movimento que deve colocar o Brasil de volta no mapa mundial dos diamantes. Um mercado seleto, com apenas 21 nações produtoras e que em 2015 movimentou US$ 13 bilhões.
O Brasil já liderou a produção global de diamante no século XVIII e, hoje, representa ínfimo 0,02% desse mercado, ocupando a 19ª posição do ranking, capitaneado pelos russos. Considerando o pico de produção na mina de Nordestina, em 2020, estimado em 400 mil quilates, o Brasil será alçado ao 11º lugar, mantida estável a produção dos demais países. Em 2015, foram produzidos 127,4 milhões de quilates de diamantes no mundo.
Paralelamente à chegada de novos investidores, está em fase final de revisão um levantamento do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), órgão do governo federal, com áreas potenciais para exploração de diamantes.
O projeto Diamante Brasil identificou 1.344 dos chamados corpos kimberlíticos e rochas associadas, reunidos em 23 campos. É nessas áreas de nome esquisito que se encontra o diamante primário, incrustado em rochas e cuja produtividade é bem maior que a do diamante secundário, geralmente encontrado nos rios.
É sobre esse mapa da mina que as empresas estão se debruçando atrás de novas jazidas. Uma atividade cara e de risco. Estima-se que apenas 1% dos corpos kimberlíticos tenha diamantes economicamente viáveis. No mundo, pouco mais de 20 jazidas de kimberlíticos estão em produção. Até ano passado, o Brasil estava fora dessa estatística. Produzia somente diamantes secundários, muito explorados por cooperativas de garimpeiros.
A descoberta de Nordestina mudou o cenário. Em meados de 2016, deu-se início a primeira produção comercial de diamante primário no Brasil. Liderada pela belga Lipari, a produção deve alcançar este ano 220 mil quilates — em 2015, último dado fechado, a produção nacional havia sido de 31 mil quilates.
Segundo o canadense Ken Johnson, presidente da empresa, as terras onde a Lipari prospecta diamantes foram adquiridas da sul-africana De Beers, em 2005. Desde então, foram investidos R$ 214 milhões. A produção será exportada.
"O trabalho na mina é de 24 horas por dia. Temos 270 funcionários e devemos chegar a 290 empregados no fim do ano. E isso é só o começo. Estamos olhando outras áreas em Rondônia e Minas Gerais", diz Johnson.
Descompasso entre oferta e demanda
O diamante é feito de carbono e é formado na base da crosta terrestre, a pelo menos 150 quilômetros de profundidade. Para que se forme, é necessário que esteja em ambiente estável, com elevadíssimas temperaturas e determinadas condições de pressão. Com a movimentação no interior da Terra, há liberação de energia. O magma, então, busca uma válvula de escape e aproveita falhas geológicas para chegar à superfície. O diamante “pega carona” no magma.
"Quando esse percurso é feito em poucas horas ou poucos dias, o que é bastante raro, o diamante é preservado. Caso contrário, desestabiliza-se e vira grafite", explica a geóloga Lys Cunha, uma das chefes do projeto Diamante Brasil.
Ao chegar à superfície, o magma se solidifica e forma as chamadas rochas kimberlíticas. O diamante primário fica incrustado nessas rochas. Com o passar do tempo, as rochas sofrem processo de erosão e o diamante acaba sendo carregado para outras áreas, alojando-se ao longo de rios. Nesse caso, passa a ser chamado de diamante secundário. Segundo empresários e especialistas, não há diferença de qualidade entre eles. O que muda são os meios de extração empregados e a sua produtividade.
"O diamante secundário tem uma produção errática, pois fica mais espalhado. Além disso, não se costuma cavar mais de 15 metros a 20 metros de profundidade para encontrá-lo. Já o diamante primário fica mais concentrado. No processo de extração, pode-se perfurar de 200 metros a 300 metros de profundidade, o que exige uma produção bastante mecanizada e investimento bem maior. O volume de produção também é muito superior", explicou Francisco Ribeiro, sócio da Gar Mineração. "Por isso, temos a oportunidade de voltar a ocupar posição de destaque no ranking global".
A empresa, de capital nacional, atua há 60 anos no Brasil e hoje produz cerca de 3.600 quilates a 4.800 quilates por ano de diamante secundário no Triângulo Mineiro. Agora se prepara para estrear na produção de primário. Segundo Ribeiro, a companhia está em fase de qualificação das reservas, também em Minas Gerais. E a estimativa para iniciar a produção é de um a dois anos.
A história do diamante no Brasil remonta ao século XVIII. Não se sabe ao certo quando houve a primeira descoberta, mas historiadores apontam o ano de 1729 como o que o então governador da capitania de Minas Gerais, Dom Lourenço de Almeida, oficializou a existência das minas à metrópole. Até então, as descobertas da pedra preciosa corriam à boca pequena e enriqueciam quem se aventurava na clandestinidade.
Com a Coroa ciente, a produção no então Arraial do Tijuco (atual Diamantina, Minas Gerais) ganhou novo impulso e o Brasil assumiu a liderança mundial do diamante, desbancando a Índia. Durante quase 150 anos, manteve a dianteira. Em 1867, a descoberta de um diamante nos arredores de Kimberley, na África do Sul, levou a uma corrida pela pedra preciosa no país. O Brasil, então, perdeu a hegemonia e está hoje na lanterna da produção global, à frente apenas de Costa do Marfim e Camarões.
Nos EUA, peça essencial do noivado
Desde 2010, a produção mundial está estacionada na faixa dos 130 milhões de quilates. Recente relatório da consultoria Bain&Company, porém, estima que a demanda vai crescer a um ritmo de 2% a 5% ao ano até 2030, embalada pelo consumo da classe média americana e chinesa. Cobiçado por casais apaixonados, o diamante brilha com frequência em joias que os maridos americanos dão a suas esposas. Pesquisa mostra que 71% dos americanos nascidos entre os anos 1980 e 2000 consideram o diamante um elemento essencial do anel de noivado.
A oferta de diamantes, no entanto, não deve acompanhar a retomada do consumo. A consultoria projeta queda de 1% a 2% por ano na produção da pedra até 2030, devido ao esgotamento das minas. É nesse desequilíbrio que está a oportunidade para o Brasil voltar ao clube.
"O Brasil, de alguma forma, foi ignorado pelos maiores produtores e a oportunidade de identificar e desenvolver novas minas é única. Em uma recente viagem a Antuérpia, houve empolgação quanto à qualidade dos diamantes brasileiros. O país tem chance de voltar a figurar entre os líderes da produção global de novo", diz Joe Burke, diretor de Marketing da Five Star Diamond.
A empresa foi fundada por um geólogo australiano, que se associou a investidores estrangeiros e a um advogado brasileiro. Juntos, compraram áreas em diferentes regiões no Brasil para prospectar diamante. Segundo Burke, em 15 dos cerca de cem corpos kimberlíticos que a companhia tem no portfólio há grande chance de ocorrência de diamante. A Five Star já levantou US$ 7 milhões com investidores e se prepara para listar a empresa no mercado de capitais canadense. A produção no Brasil deve começar em Goiás, onde o projeto está mais avançado, no fim do ano.
Burocracia e falta de segurança
A ausência de guerras civis e religiosas no Brasil é apontada por fontes do setor como um atrativo. A exploração da pedra preciosa sempre levantou polêmica porque costumava ser usada para financiar conflitos civis na África. Com o filme “Diamante de sangue”, estrelado por Leonardo DiCaprio em 2006, a crueldade das guerras e a associação à produção do diamante se tornaram mundialmente conhecidos.
O diamante produzido legalmente no Brasil e em outros países, no entanto, segue o processo de certificação Kimberley, espécie de atestado de origem criado justamente para inibir o comércio ilegal. A burocracia no país para emitir os certificados, no entanto, é uma trava na expansão do mercado, alertam empresários. Antes de ser exportado, o diamante precisa ser pesado, medido e analisado. Isso é feito por um funcionário do Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM) em uma unidade regional do órgão.
Como o certificado precisa da assinatura do diretor-geral do DNPM e o sistema não é informatizado, ele é enviado por Sedex até Brasília, sede da instituição, e retorna ao produtor igualmente pelo correio. O processo leva de dez a 15 dias, segundo João da Gomeia Silva, da coordenação de ordenamento e extração mineral do DNPM.
Durante esse período, os diamantes ficam em cofres das próprias empresas produtoras ou de seguradoras, trazendo risco à segurança das companhias e dos funcionários. Mês passado, a Lipari foi invadida e teve parte de sua produção roubada. Se depender da agilidade do poder público, as mineradoras continuarão vulneráveis.
"O DNPM está na era digital. Até 2019, a ideia é eliminar o papel", diz Silva.

Fonte: Negócios

Haddad salta e empata com Ciro em 13% ( DATAFOLHA)

Haddad salta e empata com Ciro em 13%

                 - 14/09/2018 - 19:47

Bolsonaro
O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, cresceu nas intenções de voto no 1º e 2º turnos, revela uma pesquisa do Datafolha publicada nesta sexta-feira (14).
Na lista estimulada, o deputado federal subiu de 24% em 10 de setembro para 26%. Ciro Gomes (PSD) manteve os 13%, mesmo patamar de Fernando Haddad (PT), que saltou de 9% a 13%. Marina Silva (REDE), que em 22 de agosto tinha 16%, passou para 11% e agora chegou a 8%. Geraldo Alckmin (PSDB) manteve os 9%.
Álvaro Dias (PODE), Henrique Meirelles e João Amoêdo estão empatados com 3%.
A pesquisa foi realizada entre quinta (13) e sexta (14). Foram ouvidos 2.820 eleitores em 187 cidades. A margem de erro é de dois pontos percentuais. A Folha e a Rede Globo foram os contratantes.
Espontânea
Na pesquisa espontânea, quando o respondente não recebe uma lista de candidatos, Bolsonaro avançou de 20% a 22%. Haddad assumiu a vice-liderança ao passar de 4% para 8%, enquanto Ciro cresceu de 4% para 7%. O eleitor agora parece ter entendido que Lula não irá estar na urna e a menção ao seu nome despencou de 9% para 5%.
2º turno
A diferença entre uma disputa de Jair Bolsonaro e Marina Silva caiu de 37% a 43% para 39% a 43%. O mesmo fenômeno aconteceu no embate entre Bolsonaro e Geraldo Alckmin, que passou de 34% a 43% para 37% a 41%. Contra Ciro Gomes, o deputado federal agora tem 38% (de 35%) e o pedetista continuou com 45%. Já contra Haddad, Bolsonaro agora tem 41% (de 38%) e o petista 40% (de 39%).
Rejeição
A rejeição de Bolsaro teve uma leve piora de 43% para 44%. Marina foi de 29% a 30% e Haddad cresceu de 22% para 26%. Geraldo Alckmin agora tem 25% (de 24%). Ciro Gomes avançou de 20% para 21%.
Fonte: MONEY TIMES