segunda-feira, 18 de maio de 2020

Índice dispara 3% com impulso externo em meio noticiário sobre Covid-19

Índice dispara 3% com impulso externo em meio noticiário sobre Covid-19



Ações2 horas atrás (18.05.2020 11:25)

© Reuters. .© Reuters. .
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O tom positivo prevalecia no mercado acionário brasileiro nesta segunda-feira após uma semana negativa, com o Ibovespa acima de 80 mil pontos respaldado pelo cenário externo, em meio a noticiário mais favorável sobre o combate ao Covid-19.
A temporada de balanços também continua no radar, com os números da Marfrig previstos para após o fechamento, assim como a cena política, com a primeira etapa da sessão na bolsa paulista ainda marcada pelo vencimento de opções sobre ações.
Às 11:20, o Ibovespa subia 3,28 %, a 80.102,1 pontos. O volume financeiro era de 7,6 bilhões de reais.
Na semana passada, o Ibovespa acumulou queda de mais de 3%, com forte volatilidade.
Nos EUA, Wall Street encontrava apoio em dados promissores de um teste para possível vacina contra o Covid-19 alimentando o otimismo, enquanto os investidores também contavam com mais estímulo para resgatar a economia dos efeitos da pandemia.
No radar, estava a notícia de que uma vacina experimental contra o Covid-19 da Moderna mostrou-se promissora em um pequeno estudo em estágio inicial.
A alta de commodities reforçava os ganhos do Ibovespa, com o petróleo Brent, referência internacional, tocando máxima de um mês, em meio a um otimismo com a reabertura de economias e cortes de oferta por importantes produtores.
"Os ativos de risco estão abrindo a semana em tom de otimismo, na ausência de notícias relevantes no final de semana", disse o estrategista Dan Kawa, da TAG Investimento, destacando entrevista do chairman do Federal Reserve.
Em entrevista ao programa da CBS "60 Minutes", Jerome Powell reiterou ter munição para eventuais novas rodadas da crise e afirmou que os dados mais importantes para a economia dos EUA no momento são as "métricas médicas" sobre a pandemia.
O assessor da Casa Branca Kevin Hassett também disse nesta segunda-feira que o governo dos EUA está preparado para adotar mais medidas se necessário para sustentar a economia do país durante o surto de coronavírus.
DESTAQUES
- AZUL PN (SA:AZUL4) e GOL (SA:GOLL4) PN subiam 8,12% e 5,99%, encontrando respaldo na queda de mais de 1% do dólar ante o real, além das perspectivas de reabertura de economias. Na última sexta-feira, o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, afirmou que as três principais aéreas que atuam no país aceitaram as condições financeiras da operação de socorro de bancos para o setor.
- CVC (SA:CVCB3) BRASIL ON mostrava acréscimo de 8,34%, entre os destaques positivos com o alívio na alta do dólar ante o real, além do cenário mais favorável com o relaxamento nas medidas de confinamento, que têm prejudicado a operadora de turismo.
PETROBRAS PN (SA:PETR4) e PETROBRAS ON (SA:PETR3) avançavam 6,01% e 6,78%, respectivamente, na esteira do salto dos preços do petróleo no mercado internacional.
- VALE ON (SA:VALE3) valorizava-se 5,68%, após os futuros do minério de ferro na China registrarem a maior alta diária em 10 meses. A Vale também informou que retomou as operações de carregamento em seu centro de distribuição na Malásia, o chamado Terminal Marítimo Teluk Rubiah.
- ITAÚ UNIBANCO PN e BRADESCO PN (SA:BBDC4) avançavam 2,77% e 3,27%, respectivamente, embalados pela melhora no apetite a risco, enquanto investidores seguem acompanhando medidas contra os efeitos econômicos do novo coronavírus com reflexos nocivos para o sistema financeiro.
- MARFRIG ON (SA:MRFG3) perdia 1,92% antes do balanço do primeiro trimestre após o fechamento, em sessão de perdas para o setor de proteínas, em meio à queda do dólar ante o real. JBS ON (SA:JBSS3) caía 2,70% e MINERVA ON (SA:BEEF3) cedia 3,68%.
- SUZANO (SA:SUZB3) ON recuava 4,60%, em movimento também determinado pela taxa de câmbio, que ainda enfraquecia KLABIN UNIT (SA:KLBN11), negociada em baixa de 3,04%.

Fonte: Reuters

Opala muda a vida de famílias e movimenta a economia de Pedro II

Opala muda a vida de famílias e movimenta a economia de Pedro II







Opala muda a vida de famílias e movimenta a economia de Pedro II. Cuidado com a segurança e com o meio ambiente são novidades para os garimpeiros.
GARMPEIROS
OPALA NOBRE

Carnaubeiras a perder de vista. Cenários naturais belíssimos. No norte do Piauí fica o município de Pedro II, mais conhecido como a cidade das opalas. As minas de tesouro mudaram o destino dos moradores.

Isso é que é pedra preciosa! A opala, rainha das cores, gera empregos, sustenta famílias e movimenta a economia de uma cidade inteira. Esse mineral que fascina joalheiros do Brasil e do mundo é encontrado, com alta qualidade, em apenas dois lugares do planeta: na Austrália e no Piauí. A riqueza era explorada no passado por grandes mineradoras, que deixaram prejuízos ambientais gigantescos.

Há quatro anos, 150 garimpeiros fundaram uma associação e legalizaram 90% dos terrenos, onde catam o que sobrou para ganhar a vida. E estão ganhando. Eles encontram opala no rejeito desprezado pelas mineradoras 40 anos atrás.

"No lixão todinho tem opala", garante um garimpeiro.

Sorte mesmo, porque muitos garimpeiros morreram cavando as minas de opalas da região. Placas sinalizam os novos tempos: "proibido morrer". O cuidado com a segurança e com o meio ambiente são novidades.

"Hoje em dia temos que trabalhar respeitando o meio ambiente. Vamos retirando o que aproveitamos e compactando para fazer reflorestamento. Não degradamos mais de maneira desordenada como era feito no passado", assegura o presidente da cooperativa dos garimpeiros, José Cícero Oliveira.

Quase todos os garimpos da região são a céu aberto. Mas não é porque as opalas aparecem na superfície. Primeiro são usados os tratores, que cavam buracos imensos, e só depois os garimpeiros começam a trabalhar. A frente de lavra, como eles chamam, tem dez metros de profundidade por cem de comprimento. Nas camadas coloridas de terra e argila, os garimpeiros usam a alavanca em busca das opalas.

"O material é sensível. Com a picareta não dá certo, porque pode quebrar tudo. Já perdemos opala por causa da picareta. Uma pedra pode mudar a vida de todo mundo, dependendo da quantidade, do tamanho. Todos estamos no garimpo atrás dela", diz o garimpeiro Ednaldo Silva.

A maior de todas as opalas foi encontrada por Raimundo Galvão, o seu Mundote, ex-garimpeiro que hoje é empresário. A opala de 4,75 quilos está no Museu de História Natural de Londres.

Há 34 anos, as opalas não tinham o valor que têm hoje. Seu Mundote vendeu barato e fiado a pedra preciosa. "Não tinha valor nenhum. Hoje eu não queria uma pedra daquela, porque não preciso daquele tanto de dinheiro. Hoje, R$ 1 milhão é pouco para aquela pedra", avalia o ex-garimpeiro.

Encontrar uma pedra grande, de muito valor, é o que move homens simples, que vivem da agricultura na época da chuva e correm pro garimpo durante a seca.

Cada garimpo tem um acampamento: uma espécie de base de apoio improvisada, onde eles fazem as refeições e também descansam nos momentos de folga. Eles levam para o acampamento o jeito de viver na roça.

Um dos pratos preparados pelo cozinheiro Antônio Freire é o baião-de-dois com ossada de boi caipira. Ele foi cozinheiro em São Paulo e voltou para trabalhar no garimpo. Melhor para os garimpeiros, que devoram o prato do dia.

Na cidade, os reflexos do garimpo: nas ruas de casas coloniais preservadas, as joalherias e oficinas se multiplicam. Nos últimos quatro anos, a produção de jóias aumentou seis vezes. Pedro II soube usar as opalas para melhorar a vida dos moradores. Jovens que antes teriam que ir embora para arrumar emprego hoje vão de moto para o trabalho.

Jardel Medeiros viu três irmãos partirem para tentar a vida em cidades grandes. Ele aproveitou a oportunidade e se tornou joalheiro. "Eu comecei quando não tinha nem bicicleta. Depois, comprei uma bicicleta e fui melhorando. Em seguida, comprei uma moto, casei, construí uma casinha, mobiliei. Hoje estou bem estruturado. É bastante gratificante ter essas conquistas na vida", ressalta o lapidário, que aprendeu o ofício com um mestre de mão cheia. Juscelino Araújo Souza foi lapidário. Hoje é empresário e vende joias para o país e o exterior. Ele é testemunha da transformação que aconteceu em Pedro II.


"Durante muito tempo as opalas foram extraídas no município e comercializadas em estado bruto ou algumas apenas lapidadas. A grande mudança foi quando resolvemos investir na produção de joias, na transformação de produtos para o turismo local e também para a venda em outras cidades, ganhando mercado pelo país", conta o empresário.

Mais de 1,5 mil empregos foram gerados e o dinheiro das pedras passou a circular na cidade. Outro pioneiro deu um novo uso às opalas. Benedito de Souza, o Bené do Tucum, criou joias usando um coquinho da região cravejado com as pedras preciosas. Ele virou um grande exportador. "Acima de 100 mil peças já foram feitas e comercializadas com opala e tucum", conta o empresário.

Nada se perde. Caquinhos recolhidos no garimpo se juntam em pequenos mosaicos e formam joias multicoloridas. Uma marca de Pedro II. É assim, aproveitando cada pedacinho, cada oportunidade, que o município lucra com as opalas.



Fonte: UOL

domingo, 17 de maio de 2020

Ex lixeiro encontra pepita de ouro avaliada em quase R$ 1 milhão 1

Feira de pedras preciosas em Tucson's 2020 Gem Show!

OS DIAMANTES DE RONDÔNIA VALEM US$ BILHÕES





OS DIAMANTES DE RONDÔNIA VALEM US$ BILHÕES
Por que o Brasil deixa a maior jazida de diamantes do país, na terra dos índios cintas-largas, entregue aos contrabandistas?
"Sempre que uma grande riqueza é descoberta, um banho de sangue acontece." Essa é a frase de abertura do filme Diamante de Sangue, que colocou em evidência o tortuoso caminho percorrido pelas pedras retiradas de países em guerra até as joalherias mais finas. No cinema, o ator Leonardo DiCaprio interpreta um mercenário que troca diamantes por armas para as milícias em Serra Leoa, na África da década de 90. O filme impressiona, e até revolta, mas a tragédia dos diamantes também está do lado de cá do Atlântico. Na Amazônia, garimpeiros, contrabandistas internacionais e atravessadores - como o mercenário interpretado por DiCaprio - voltaram a explorar ilegalmente a maior jazida de diamantes do Brasil.
Desde janeiro, quatro máquinas retroescavadeiras removem a terra vermelha do garimpo do Laje, situado na terra indígena dos cintas-largas, em Rondônia. A cratera aberta pelas máquinas já possui cerca de 10 quilômetros de perímetro. A exploração de diamantes na região deveria estar suspensa desde 2004, quando o massacre de 29 garimpeiros chocou o mundo. Mas nem a presença da Polícia Federal consegue evitar novas invasões na área indígena.


O que se diz da jazida de Laje lembra os antigos mitos de Eldorado amazônico. Segundo Luís Paulo Barreto, secretário-executivo do Ministério da Justiça, pesquisas geológicas feitas por duas multinacionais da mineração indicam a presença de 15 formações rochosas vulcânicas de onde saem os diamantes, chamadas kimberlitos. Isso seria três vezes mais que as principais jazidas da África do Sul e Botsuana, os maiores produtores mundiais de diamantes. Mas todo esse potencial nacional está desperdiçado. Estima-se que o garimpo desordenado e ilegal consiga tirar cerca de R$ 100 milhões por ano de Laje. Se fosse uma mineração com recursos industriais, seria possível extrair rochas mais profundas e retirar até R$ 3 bilhões por ano.
Essa quantia seria capaz de sacudir o mercado global de diamantes, que hoje movimenta cerca de US$ 10 bilhões por ano, ou R$ 58 bilhões. O comércio mundial é dominado pela empresa multinacional De Beers, sediada na África do Sul. A De Beers, da família sul-africana Oppenheimer, possui minas em Botsuana, Zaire, Austrália e Canadá. Também compra a produção de outros países. Em seus cofres, estima-se que estejam 40% dos diamantes extraídos no mundo. Toda segunda-feira, a operadora de vendas da De Beers, a Central Selling Organization, reúne os grandes negociantes das pedras em s Londres. É ali que a De Beers avalia como está o preço internacional dos diamantes e decide quantas e quais pedras vai lançar no mercado. Sua decisão regula o valor internacional dos quilates de diamantes. Hoje, 1 quilate (equivalente a 0,2 grama) de uma pedra de boa qualidade vale US$ 1 mil. Da reserva dos cintas-largas, já saiu um raro diamante-rosa que teria sido vendido por R$ 7 milhões no mercado negro.
O Brasil já foi o maior produtor mundial de diamantes entre os séculos XVIII e XIX. Com o declínio da exploração artesanal em Minas Gerais, o país perdeu posição para os grandes produtores africanos, da De Beers. Hoje, o Brasil exporta apenas R$ 60 milhões por ano. Está fora do time dos grandes produtores: Botsuana, África do Sul, Canadá, Rússia, Índia e Austrália. A perspectiva de legalização das jazidas das terras dos cintas-largas poderia colocar o país entre os três maiores produtores mundiais.

Essa vida mudou com a chegada dos primeiros garimpeiros e seringueiros. "Primeiro, mataram as crianças que brincavam no rio", diz Bravo. "Depois, invadiram as aldeias atirando em todo mundo." Quase todos os caciques da região também são órfãos de contato e perderam seus pais e irmãos de forma semelhante. "Lembro de ter ficado semanas caído no chão. Estávamos tão doentes que víamos nossa família morrer e não podíamos fazer nada", afirma Oita Matina, outro dos líderes da terra indígena. As chacinas e epidemias de gripes trazidas pelos invasores reduziram a população de mais de 10 mil cintas-largas para 1.300 indivíduos. A pior matança ocorreu em 1963 e ficou conhecida como o Massacre do Paralelo Onze. O inquérito policial do caso relata que dinamites foram jogadas nas aldeias para dispersar os índios para a floresta, onde eram surpreendidos por pistoleiros. "Tudo explodia. Nós ficávamos tentando flechar os aviões", diz João Bravo. Durante o massacre, uma índia foi pendurada pelo pé e esquartejada viva.
Esse enorme potencial de riqueza, até agora, só tem trazido calamidades, como ilustra a história do cacique João Bravo, que controla a área indígena onde fica o garimpo. Com 60 anos, o cacique é o que os antropólogos consideram um órfão de contato. Ele é um dos cintas-largas que perderam todos os parentes com a chegada de invasores brancos, entre os anos 60 e 70. O primeiro contato dos cintas-largas com os brancos aconteceu por meio dos garimpeiros. João Bravo conta que, antes de ser cacique, vivia na região do Rio Aripuanã, em Mato Grosso. Nessa época, os cintas-largas ainda estavam isolados na floresta. Eram exímios caçadores e temidos guerreiros canibais. De acordo com Bravo, a vida na floresta só era possível por causa de um intenso treinamento que começava aos 10 anos de idade. "Ficávamos durante toda a manhã passando frio debaixo das cachoeiras", diz. "Depois, todo mundo tinha de ir caçar ou morria de fome", afirma o cacique.


Depois de tentar a guerra contra os brancos, os cintas-largas decidiram, na metade da década de 70, entrar em acordo com os garimpeiros e invasores. João Bravo foi um dos que visitaram as cidades próximas às aldeias para distribuir colares de presente para a população. Em 1974, a Funai demarcou o território. Em menos de 30 anos de convívio com o mundo civilizado, os cintas-largas tiveram de aprender a falar português, dirigir carros e lidar com dinheiro. Muitos ainda não dominam nenhuma dessas habilidades. Donos de um território de 2,7 milhões de hectares, grande parte das mulheres, crianças e velhos ainda compreende apenas o tupi-mondé, a língua tradicional da etnia. João Bravo fala um português limitado e sua caminhonete vive amassada por batidas. Seus filhos estudam até o ensino fundamental, mas ainda passam pelo treinamento de guerreiro - não mais para lutar com outras tribos, mas para formar a milícia que toma conta do garimpo. As meninas se casam antes dos 15 anos, geralmente com os tios, em uma teia social na qual o dono da casa exerce o papel central. Um cinta-larga poderoso chega a ter várias esposas de uma só vez. João Bravo tem cinco mulheres.
O garimpo de mais de três décadas atingiu seu auge em 1999, quando milhares de aventureiros chegaram de vários cantos do país, atraídos pela "fofoca do diamante". Os índios incorporaram o garimpo em seu modo de vida. "Decidimos controlar a área. Senão os brancos entravam e roubavam tudo", diz João Bravo. A situação saiu do controle em 2004, quando 5 mil garimpeiros circulavam no Laje. Qualquer aventureiro queria entrar na reserva. Até que a chacina de 29 garimpeiros ganhou as manchetes nacionais. Os índios são os principais acusados. Depois das mortes, mais seis pessoas foram assassinadas na região, entre índios, contrabandistas e garimpeiros. A polícia estima que outros 20 estejam desaparecidos. Para tentar conter o conflito, o governo federal interditou a região em 2004 e proibiu o garimpo em qualquer terra indígena do país.

A Polícia Federal tem seis bases fixas na região, batizadas de Operação Roosevelt. Mas nem a intervenção do governo federal consegue conter a corrida pelos diamantes. Cerca de 500 homens - entre índios e garimpeiros - transitam no local. Jatos de água derrubam o barranco e outras máquinas separam o cascalho dos diamantes. O lucro é dividido entre os garimpeiros proprietários das máquinas e os caciques. Cerca de 6% são distribuídos entre os garimpeiros pobres, índios mais jovens e as cozinheiras dos acampamentos. A matemática seria boa, mas os índios alegam ter sido roubados com freqüência por atravessadores de diamantes. Na semana passada, um dos filhos de João Bravo, Raimundinho, acusou um suposto vendedor de levar 700 quilates de diamantes, no valor de R$ 600 mil, dos cintas-largas. Segundo a polícia, o contrabandista teria se oferecido para vender as pedras em Cuiabá e desapareceu.
A exploração industrial
em Rondônia faria do Brasil um dos maiores produtores mundiais
de diamante
Se a jazida das terras dos cintas-largas fosse legalizada, ela poderia gerar algo em torno de R$ 6 milhões por mês de impostos. Além da evasão de divisas, a situação ilegal do Laje atrai máfias internacionais. Investigações do Ministério Público e da Polícia Federal revelam que quadrilhas s do Líbano, Serra Leoa e Bélgica são responsáveis pelo contrabando dos diamantes da terra indígena. Segundo investigações do Ministério Público de Minas Gerais, os diamantes podem estar sendo usados para patrocinar tráfico de drogas e terrorismo. 

Uma das conseqüências da atividade ilícita é a ligação dos índios com esse crime organizado. Devido ao contato com os atravessadores de pedras, 13 cintas-largas estão indiciados por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e contrabando. De acordo com o Estatuto do Índio e a Constituição Federal, as riquezas do subsolo podem ser extraídas pelas nações indígenas quando localizadas em suas terras homologadas. Mas, como a garimpagem em terras indígenas está suspensa pelo decreto de 2004, os índios passaram a viver uma situação marginal em seu próprio território.
 O envolvimento dos índios agora é financeiro. Nos tempos do auge do diamante, em 2002, alguns caciques compraram casas na região e carros importados. Cercados por ajudantes, contratados na forma de motoristas brancos, os índios selaram amizade com os atravessadores de diamantes. Muitas máquinas de garimpo e carros foram comprados no nome desses terceiros. Mas, por causa das dívidas, a maioria perdeu todos os bens. Um depósito da Polícia Federal guarda cerca de 50 caminhonetes Toyotas apreendidas de índios cintas-largas, a maioria por dívidas não quitadas. Um levantamento do Ministério Público Federal (MPF) de Rondônia apontou que os índios devem na região cerca de R$ 700 mil.


Apesar dos problemas trazidos pelo garimpo ilegal, hoje não há uma estratégia realista para enfrentá-lo. A mera proibição, mesmo com a presença da Polícia Federal, não tem se mostrado eficaz. Um emaranhado de estradas clandestinas desenha um labirinto de lama na floresta. A fiscalização fica impossível. "É um jogo de gato e rato", afirma o delegado da Polícia Federal, Rodrigo Carvalho. Grande parte dos 2,7 milhões de hectares da floresta que envolvem a jazida de diamantes está praticamente intacta. Aventurar-se na região é perigoso. Onças, malária e cerca de 90 índios guerreiros armados com flechas e metralhadoras são apenas alguns dos obstáculos. Mesmo com os riscos, garimpeiros ainda sonham em colocar os pés no Laje. "Se puder entrar lá novamente, eu vou. Os diamantes compensam", diz o garimpeiro Antônio Rosa de Carvalho, o Goiano, um dos sobreviventes do massacre de 2004.

Um exemplo de como a exploração de diamantes pode ser bem administrada, é o caso do Canadá. Em 1991, os canadenses regulamentaram a extração de diamantes no território dos povos dene e inuit. O país se tornou o terceiro maior produtor de diamantes do mundo. As comunidades indígenas que participam da iniciativa enfrentam problemas, como o aumento do consumo de drogas. Mas cerca de 40% dos índios trabalham com as mineradoras que estão na região. Alguns são geólogos ou lapidadores. E as aldeias ganham cerca de 20% do faturamento das jazidas. Essa seria a melhor opção para o Brasil. A outra opção é atolar na violência, como Serra Leoa.
Regulamentar a extração de diamantes parece ser um dos poucos caminhos possíveis para resolver o conflito na terra cinta-larga. Os índios têm direito constitucional sobre as riquezas minerais de seu subsolo. O problema é como explorar o recurso. Existem vários projetos de leis para isso. A mais antiga tentativa de regularizar a questão é um complemento do Estatuto do Índio, que aguarda desde 1991 para ser votado. Ele permitiria a exploração com repasse de parte dos lucros para os índios. Outra proposta, do senador de Roraima, Romero Jucá, foi aprovada no Senado Federal e espera apenas passar pela Câmara dos Deputados. Prevê a exploração sem pagar nada aos índios. Uma terceira proposta, criada após o massacre de 2004, é um meio-termo: prevê repasse aos índios, mas com limites. "Em março, iremos nos reunir com os representantes de várias etnias indígenas em Manaus para um acordo", diz Barreto, do Ministério da Justiça.

  
OS EFEITOS DA EXPLORAÇÃO ILEGAL
Sobre os índios
• Massacre
Desde o início da entrada de garimpeiros na região, em 1963, doenças e chacinas reduziram a população cinta-larga a 1.300 pessoas, menos de 10% do original

• Doenças
Hoje, cerca de 30% dos índios cintas-largas estão com diabetes. A ingestão de alimentos industrializados trazidos com o garimpo é a principal causa da doença
• Corrupção de valores
A venda ilegal dos diamantes empurra os índios para a criminalidade. Treze cintas-largas estão indiciados por homicídio, formação de quadrilha e contrabando
Para o país
• Evasão de divisas
A Polícia Federal estima que R$ 100 milhões em diamantes são retirados de forma ilegal por ano

• Crime organizado
Sem opção legal, os diamantes são vendidos por quadrilhas internacionais, ligadas ao narcotráfico e até ao terrorismo. Menos de 5% são recuperados
O que poderíamos ganhar com a regularização
• Produção de riquezas 
A mineração industrial dos diamantes de Rondônia poderia produzir R$ 3 bilhões por ano

• Impostos
Esse valor poderia render anualmente até R$ 6 milhões somente em tributos federais. O valor aumentaria com os tributos trabalhistas estaduais e municipais
• Distribuição de benefícios 
Cerca de 2% do lucro da produção iria para as comunidades locais. Isso reduziria a pobreza na região





Fonte: Portal do Geólogo