terça-feira, 2 de junho de 2020

De Ouro Preto a Diamantina: refazendo a viagem de Spix e Martius de 1818

RESUMO
Por ocasião do bicentenário da viagem dos naturalistas alemães Spix e Martius pelo Brasil (1817-1820), um grupo de pesquisadores ligados ao Instituto Martius-Staden (São Paulo) refez em março de 2017 um trecho daquela expedição: de Ouro Preto a Diamantina. O principal objetivo foi estudar as continuidades e as mudanças ocorridas ao longo desses 200 anos. Estes foram os lugares visitados: 1) Ouro Preto, a antiga Vila Rica, capital da província de Minas Gerais; 2) no distrito de Mariana, as comunidades de Bento Rodrigues e Paracatu, destruídas pelo desastre ambiental ocorrido em 2015; 3) o Parque Nacional e o Santuário da Serra do Caraça, fundado em 1774; 4) as cidades de Sabará e do Serro, antiga Vila do Príncipe, e o Pico do Itambé (2052 metros), na Serra do Espinhaço, a divisa entre os biomas da Mata Atlântica e do Cerrado; e 5) a cidade de Diamantina, antigo Arraial de Tijuco, e seus arredores, incluindo um local de garimpagem.
Palavras-chave: Viagens e explorações científicas; Spix e Martius; Viagem pelo Brasil
ABSTRACT
Commemorating the bicentenary of the Journey in Brazil (1817-1820) of the German naturalists Spix e Martius, a group of researchers of the Martius-Staden-Institute (São Paulo) remade in March 2017 a segment of that expedition: from Ouro Preto to Diamantina. The main purpose was to study the continuities and the changes that occurred during the last 200 years. These were the visited places: 1) Ouro Preto, formerly Vila Rica, capital of the Province of Minas Gerais; 2) in the district of Mariana, the small towns of Bento Rodrigues e Paracatu, which were destroyed by the environmental disaster occurred in 2015; 3) the National Park and Sanctuary of Serra da Caraça, founded in 1774; 4) the cities of Sabará and Serro, formerly Vila do Príncipe, and the Itambé Mountain (2052 m), in the Serra do Espinhaço, the borderline between the bioms of the Atlantic Rainforest and the Cerrado; e 5) the city of Diamantina, formerly Arraial de Tijuco, and its surroundings, including a diamond field.
Keywords: Scientific journeys and expeditions; Spix and Martius; Journey in Brasil
ZUSAMMENFASSUNG
Anlässlich der 200jährigen Wiederkehr der Reise in Brasilien (1817-1820) der deutschen Naturforscher Spix und Martius hat eine Gruppe von Forschern des Martius-Instituts (São Paulo) im März 2017 einen Abschnitt jener Expedition nachvollzogen: von der ehemaligen Goldgräberstadt Ouro Preto bis zum Diamantendistrikt. Die Hauptaufgabe dieser Reise bestand darin, die Kontinuitäten und die Veränderungen zu untersuchen, die sich im Laufe dieser 200 Jahre ergeben haben. Folgende Orte wurden besucht: 1) Ouro Preto, ehemals Vila Rica, die einstige Hauptstadt der Provinz Minas Gerais; 2) im Distrikt von Mariana die Ortschaften Bento Rodrigues und Paracatu, die im Jahre 2015 durch eine Umweltkatastrophe zerstört wurden; 3) der Nationalpark Serra da Caraça, mit dem dort im Jahre 1774 gegründeten Eremitenhospiz und Wallfahrtsort; 4) die Städte Sabará und Serro, ehemals Vila do Príncipe, und der Gipfel der Serra do Itambé (2052 m), Teil der Serra do Espinhaço, Grenzscheide zwischen den Biomen des atlantischen Regenwalds und des Cerrado; und 5) die Stadt Diamantina, ehemals Arraial de Tijuco, mit Umgebung, einschließlich eines Fundorts von Diamanten.
Stichwörter: Wissenschaftliche Reisen und Expeditionen; Spix und Martius; Reise in Brasilien
O relato de viagem Reise in Brasilien, 1817-1820, dos naturalistas Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius, pode ser considerado o livro mais importante em língua alemã sobre o Brasil. Nessa obra em três volumes, publicados em 1823, 1828 e 1831, com cerca de 1.400 páginas, eles apresentam um amplo e detalhado retrato do país, focalizando respectivamente a região Sudeste, com destaque para o Rio de Janeiro, São Paulo e Vila Rica (Ouro Preto); o Distrito Diamantino e os sertões de Minas Gerais, da Bahia e do Piauí; e a Amazônia, de Belém até Manaus, e de lá, até a fronteira com o Peru e a Colômbia. Na época colonial, a entrada de pesquisadores viajantes estrangeiros no Brasil via de regra era proibida, como mostra o exemplo de Alexander von Humboldt, o qual, em maio de 1800 chegou pelo Rio Negro na fronteira entre a Venezuela e o Brasil, mas se viu impedido de entrar neste país (Humboldt 1970: II, 476). Uma década depois, quando o governo de Portugal tinha se deslocado de Lisboa para o Rio de Janeiro e após ser decretada a abertura dos portos, as autoridades passaram a ver vantagens na vinda de pesquisadores estrangeiros (Gomes 2007: 230-241).
Por ocasião do casamento da Princesa Leopoldina, da dinastia de Habsburgo, com o Imperador Dom Pedro I, em 1817, uma comitiva de cientistas austríacos e bávaros, foi convidada a acompanhar a vinda de Leopoldina ao Brasil. Dessa comitiva fizeram parte o zoólogo Spix (1781-1826) e o botânico Martius (1794-1868), que foram encarregados pela Academia de Ciências da Baviera de pesquisar a flora, a fauna e a mineralogia do Brasil, como também a população e a sua cultura. No seu relato de viagem, que é um gênero de texto que ultrapassa os limites dos estudos especializados para se abrir para uma temática mais ampla e de interesse geral, eles correspondem perfeitamente a essa expectativa.2
Para comemorar o bicentenário da viagem de Spix e Martius pelo Brasil (1817-1820), o diretor do Instituto Martius-Staden em São Paulo, o Sr. Eckhard Kupfer, organizou um projeto e coordenou uma equipe para refazer inicialmente, em março de 2017, um dos trechos daquela expedição: neste caso, de Ouro Preto a Diamantina. Fiz parte dessa equipe, juntamente com dois cineastas, Gustavo Tonetti e Felipe Delfino, que elaboraram um filme documentário durante essa viagem.3 O eixo do nosso trajeto foi o trecho principal da antiga “Estrada Real”, o “Caminho dos Diamantes”, que vai de Ouro Preto a Diamantina. Incluindo os desvios para o Parque Natural do Caraça e a cidade de Sabará, percorremos cerca de 600 km. Enquanto Spix e Martius fizeram esse percurso a cavalo e por caminhos de terra, com a bagagem carregada por mulas, o nosso meio de locomoção foi um automóvel, que nos levou aos lugares escolhidos, que fomos conhecer através de caminhadas. O principal objetivo da nossa viagem, com um acentuado enfoque topográfico, foi estudar as continuidades e as mudanças ocorridas ao longo dos últimos 200 anos.

Ouro Preto
Iniciamos a nossa viagem em Ouro Preto, onde Spix e Martius ficaram em março e abril de 1818 (Viagem pelo Brasil, I, p. 205-215). A cidade está localizada ao pé da Serra do Espinhaço, onde se destaca o Pico do Itacolomi (1.772 metros; ver Imagem 1).4

Imagem 1: Ouro Preto em 2017 
Hoje, como antigamente, o lugar central é a Praça Tiradentes, delimitada, de um lado, pelo Museu da Inconfidência, instalado na antiga Casa da Câmara, e do outro, pelo Palácio dos Governadores, de onde se desfruta de uma bela vista panorâmica. A fisionomia de Ouro Preto, que tinha 8.500 habitantes em 1818, e mantém as ruas calçadas e os sobrados de pedras daquela época, era e continua sendo marcada por um grande número de igrejas barrocas, que hoje são a principal atração turística.
As ricas descobertas de ouro e de pedras preciosas, feitas principalmente por bandeirantes paulistas, desde o final do século XVII em vários lugares de Minas Gerais, atraíam grandes contingentes de pessoas. Assim o eixo da economia e da administração do Brasil deslocou-se do Nordeste, região de produção açucareira, para o Centro-Sul. Em 1720, Minas Gerais tornou-se uma capitania, e em 1763, a capital da colônia foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro (ver Bastos 2014: 96-111 e Fausto 2015: 52-54). Em consequência da garimpagem do ouro e dos diamantes surgiram em Minas Gerais vários núcleos urbanos. Dentre eles, destacou-se Vila Rica, fundada em 1698 e escolhida como capital da província; a partir de 1823, foi denominada de Ouro Preto (por causa do aspecto escuro do ouro ali encontrado). A cidade vizinha de Mariana tornou-se sede de bispado. Enquanto as primeiras descobertas significativas de ouro ocorreram em 1695, no rio das Velhas, perto de Sabará, o garimpo de diamantes começou por volta de 1730, mais ao norte, no Serro Frio.
A migração maciça das pessoas, de várias partes do Brasil, para os polos de extração de ouro e diamantes em Minas Gerais, proporcionou um novo tipo de desenvolvimento para o Brasil, explica o historiador Francisco Iglésias (1995: 60). Diferentemente da economia do Nordeste, caracterizada pela agricultura latifundiária, a mineração levava à formação de núcleos urbanos (1995: 74-75). Assim nasceu “uma sociedade mais diversificada do que a do restante do país” (1995: 66). Essa sociedade diferenciada, complementa o historiador Boris Fausto (2015: 55), era “constituída não só de mineradores, como de negociantes, advogados, padres, fazendeiros, artesãos, burocratas e militares”. Com a concentração da vida social nas cidades, ocorreram ali “manifestações culturais notáveis no campo das artes, das letras e da música”. E as associações religiosas leigas que surgiram, as irmandades e ordens terceiras, patrocinaram a construção das igrejas barrocas mineiras. Iglésias (1995: 72) chega à conclusão de que foi essa organização social diversificada das cidades mineiras, principalmente na capital Ouro Preto, que “explica um movimento como a Conjuração Mineira de 1789”. Vem ao caso notar que Spix e Martius, que eram monarquistas e conservadores, não fazem nenhuma referência ao movimento da Inconfidência.
Quanto ao comércio, eles constatam que “de todas as cidades no interior do Brasil, nenhuma tem um comércio tão animado como Vila Rica” (Viagem pelo Brasil, I, p. 205). Estavam presentes quase todos os ofícios e havia também fábricas de pólvora, cerâmica e chapéus de feltro. Nos dias de hoje, o comércio continua bem ativo, como pudemos observar tanto nas numerosas lojas quanto numa feira no centro da cidade, onde se vendem principalmente figuras e objetos em pedra-de-sabão e também todo tipo de minerais, entre eles amostras de pirita, o chamado “ouro dos tolos”.
O ouro autêntico, como descrevem Spix e Martius, era obtido por meio de dois processos: lavagem, executada por escravos negros, manuseando bateias com cascalho colhido em córregos; e mineração, praticada por meio de furos e buracos nas montanhas. Em 1818, várias décadas depois do período de apogeu do ouro, que ocorreu entre 1733 e 1748, os rendimentos já estavam em acentuado declínio. O procedimento predominante passou a ser, então, a extração do ouro em minas. Tendo como guia o Sr. Wilhelm von Eschwege, que era diretor das minas de ouro, os dois viajantes foram conhecer vários lugares de extração. Nós também pudemos entrar numa dessas minas: a Mina da Passagem, no caminho de Ouro Preto a Mariana, que era explorada até 1976, e desde então está aberta à visitação geral (ver Imagem 2).

Imagem 2: Na mina de ouro de Passagem 
Na época colonial, todo ouro encontrado em Minas Gerais tinha que ser levado pelos proprietários para as casas de fundição (Eschwege 1979: 143-150), para ser transformado em barras e lingotes, sendo um quinto de toda a produção reservado ao Rei de Portugal. A quantidade enorme de ouro que saiu das casas de fundição de Minas é ilustrada por esta observação de Spix e Martius: “As construções colossais de D. João V, o Aqueduto de Lisboa e o Convento de Mafra foram custeados exclusivamente com o quinto real do ouro brasileiro (Viagem pelo Brasil, I, p. 212). Em Ouro Preto, a Casa Real de Fundição estava instalada no Palácio dos Governadores. Hoje em dia, o visitante pode conhecer amostras de lingotes e de pepitas de ouro no Museu Casa dos Contos (ver Imagem 3).

Imagem 3: Lingotes de ouro no Museu Casa dos Contos  
No Palácio dos Governadores, que Spix e Martius destacaram dentre os prédios da cidade, funciona hoje uma parte da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), a saber, o Museu de Mineralogia e a Biblioteca. Na seção de obras raras encontramos a obra do botânico Martius sobre Novos gêneros e espécies de plantas, no Brasil; e a do zoólogo Spix sobre as Aves brasileiras. Um pássaro especial é a arara azul, que virou, inclusive, protagonista do filme de desenho animado Rio (2011), no qual a arara de nome Blu defende a sua espécie contra a ameaça de extinção.
A Escola de Minas foi inaugurada em 1876 pelo mineralogista francês Claude-Henri Gorceix (1842-1919) com pleno apoio do Imperador Dom Pedro II. Atualmente, a administração da Escola e os prédios com as salas de aula e os laboratórios da universidade localizam-se num campus fora da área central. O principal objetivo da instituição consiste em formar pesquisadores, engenheiros e diretores para a exploração das minas (Lemos 2012: 37). Como guia, durante a nossa estadia em Ouro Preto e na excursão pelo distrito vizinho de Mariana, tivemos um geólogo e ambientalista da Escola de Minas: o professor Hubert Roeser, que é um dos principais representantes das contribuições alemãs às geociências em Minas Gerais nestas últimas décadas.
Na UFOP estão matriculados mais de 18.000 estudantes, dos quais cerca de 10.500 residem em Ouro Preto, que conta atualmente com 70.000 habitantes. Espalhados em cerca de 300 repúblicas, esses estudantes contribuem significativamente para animar a atmosfera da cidade. Como amostra, vai aqui uma seleção de alguns nomes expressivos das repúblicas estudantis:
Academia da Cachaça, Arte e Manha, Covil dos Gênios, Doce Deleite, Doce Veneno, Favinho de Mel, Fruto Proibido, Gaiola de Ouro, Gambiarra, Gandaia, Lunáticos, Mata Virgem, Meninas Gerais, Muvuca, Nau Sem Rumo, Ninho do Amor, Pulgatório, Reino de Baco, Saia Justa, Sedução, Sem Destino, Sete Pragas, Trem de Doido, Xeque Mate (Lemos 2012: 178-179).

O distrito de Mariana: a mineração atual e o desastre ambiental de 2015
Seguindo o roteiro de Spix e Martius, fomos de Ouro Preto à cidade de Mariana, localizada igualmente às margens do Ribeirão do Carmo, a uns 15 km rio abaixo. Fundada em 1696, Mariana tornou-se residência do bispo em 1745. Não chegamos a visitá-la detalhadamente, porque demos preferência a dois outros locais em seu distrito, Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, onde aconteceu em 2015 um desastre ambiental, o pior na história do Brasil.
Desde o início da nossa viagem, estivemos dentro do chamado Quadrilátero Ferrífero, uma área que se estende entre as cidades de Congonhas, Belo Horizonte/Sabará, Santa Bárbara e Mariana/Ouro Preto (Roeser, 2010). Durante a travessia do distrito de Mariana, chamou a nossa atenção, nas margens da estrada, a enorme quantidade de rochas contendo minério de ferro. De fato, como já demonstrou o mineralogista Wilhelm von Eschwege em sua obra Pluto brasiliensis (1ª ed., 1833), a principal riqueza de Minas Gerais, ao lado do ouro e dos diamantes, é o ferro. Spix e Martius, que visitaram várias forjas de ferro, instaladas em boa parte por Eschwege, chegaram à conclusão de que “o minério de ferro existe em Minas em tal quantidade, que seria suficiente para abastecer o Brasil inteiro durante séculos” (Viagem pelo Brasil, II, p. 24).
Essa avaliação é confirmada pela situação atual, em que Minas Gerais se destaca com a maior produção de minério de ferro entre os estados brasileiros, com 61% do total. No nosso caminho, passamos por lugares de escavação de grandes empresas mineradoras. Contudo, a mineração excessiva tem o seu preço. Os trabalhos de escavação, realizados com um maquinário poderoso, acarretam a destruição de montanhas inteiras. Isso nos fez lembrar a observação de Spix e Martius sobre os “muitos buracos cavados na montanha” entre Ouro Preto e Mariana, “os filões e as panelas que ficaram depois do abandono das explorações”; e especialmente a sua descrição de uma mina de ouro que se configurava como “um profundo fosso, uma garganta de rochas nuas, cheia de fragmentos de pedras, que dava a impressão da mais selvagem destruição” (Viagem pelo Brasil, I, p. 210 e 207).
A advertência feita há 200 anos pelos dois naturalistas sobre a destruição do meio-ambiente foi premonitória. No nosso caminho a Bento Rodrigues, chegamos ao Rio Gualaxo do Norte, que estava de cor avermelhada devido aos rejeitos tóxicos da mineração, que vazaram com o rompimento da barragem em novembro de 2015 e causaram a destruição de várias comunidades situadas às margens desse rio. Visitamos as duas vilas principais e vimos as marcas terríveis do desastre: todas as moradias foram reduzidas a ruínas.

Imagem 4: As marcas do desastre ambiental em Paracatu 
Em Bento Rodrigues, durante este último ano e meio, a vegetação da natureza recuperou algo do meio ambiente, mas as construções dos homens continuam irrecuperavelmente perdidas. Rio abaixo, na comunidade de Paracatu, vimos os estragos na igreja e a completa destruição das moradias, lojas e pontos de encontro, em geral (ver Imagem 4). A devastação e o impacto ambiental em Bento Rodrigues e Paracatu foram tão grandes, que a reconstrução dessas duas comunidades terá que ser feita em outros locais.
O artigo intitulado “Depois da lama”, publicado em 05/jul/2017 no jornal Folha de S. Paulo (ver Linhares et al.) fornece informações detalhadas sobre o desastre ambiental e os planos de reparo, além de um mapa da região afetada. A barragem de Fundão, no curso superior do Rio Gualaxo do Norte, rompeu-se em 05 de novembro de 2015, despencando 32 milhões de m3 de rejeitos. Essa lama, além de arrasar as vilas de Bento Rodrigues, Paracatu e Barra Longa, causando a morte de 19 pessoas, desembocou no Rio Doce, do qual o Gualaxo é afluente, e percorreu 650 km até chegar ao oceano. A empresa responsável pela barragem era a Samarco, que pertence à Companhia Vale e à BHP Billiton. O plano de reparo dos danos consta de quatro tipos de medidas: 1) Contenção de rejeitos. Com esse fim, foram reforçados e construídos diques de controle da lama, além de providências para a retirada dela. 2) Reconstrução dos três vilarejos destruídos: Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Barra Longa, que tiveram respectivamente 226, 103 e 20 famílias atingidas. A nova Bento Rodrigues ficará mais perto de Mariana: a apenas 8 km, em vez da distância anterior de 23 km. 3) Recuperação do meio ambiente. Das áreas verdes foram recuperadas por enquanto apenas 2%; das nascentes, 10%; e das margens, 73%. 4) Indenização das pessoas afetadas. Metade dos atingidos recebeu um auxílio emergencial, mas os valores finais por danos permanentes ainda não foram definidos.

Caraça
Um contraponto às referidas destruições e um exemplo de preservação ambiental é o Parque Natural da Serra do Caraça, localizado a apenas uns 30 km em linha reta ao norte da cidade de Mariana, na zona de transição da Mata Atlântica para o Cerrado. Fomos conhecer esse parque, onde é mantida intacta uma área de 12 mil hectares de natureza exuberante. Aos pés daquela Serra, num “vale fechado em forma de anfiteatro”, foi fundada em 1774, pelo Irmão Lourenço, da Ordem Terceira de São Francisco, uma hospedaria para acolher missionários e formadores de jovens.5 Essa hospedaria, chamada antigamente Hospício da Mãe dos Homens, e o seu entorno foram visitados por Spix e Martius em abril de 1818 (ver também a estampa 7 no seu Atlas; e a nossa Imagem 5).

Imagem 5: Santuário do Caraça  
Eles caracterizam esse lugar como “paradisíaco”: “O naturalista fica em contínuo encanto pela riqueza deste esplêndido vale serrano. Incríveis são a variedade e beleza das plantas daqui. [...] No primeiro dia, colecionamos umas cem espécies de plantas, antes desconhecidas” (Viagem pelo Brasil, I, p. 249).
A mesma sensação é experimentada por quem visita o Parque nos dias atuais. O número de visitantes chega a 70 mil por ano, sendo 20 mil os que se hospedam por uma ou mais noites, relata o Padre Lauro Palú, atual administrador do Santuário. Ele apresenta também uma lista das expedições científicas (zoólogos, botânicos, geólogos e ambientalistas) que procuram o Caraça como campo de pesquisas (Palú, Pe.; Lopes 2014: 40-41). Nós encontramos ali o professor Rainer Radtke, que leciona Biologia na Universidade de Tübingen e todo ano organiza expedições para o Brasil. Ele estava acompanhado de três outros docentes e um grupo de 20 estudantes. Com uma parte desse grupo fomos conhecer uma das trilhas do Parque Natural: a que leva ao Banho do Belchior, onde apreciamos a água cristalina do córrego e a beleza da vegetação. Nessa caminhada tivemos como guia o professor de biologia Lucas Coelho de Assis, que nos deu explicações sobre várias plantas e sobre os animais; vimos, inclusive, os rastros de uma onça. Observamos também o perfil da cadeia montanhosa e descobrimos que, por causa do seu perfil, ela recebeu o nome “Caraça”.
Além das atrações naturais do Parque - trilhas, córregos, cascatas, picos e grutas -, a configuração arquitetônica do Santuário nos faz lembrar que, durante muitas décadas, funcionaram ali um seminário e um colégio (ver Palú, Pe.; Lopes 2014: 11-33). Essas atividades foram iniciadas em 1821 e atingiram seu auge em 1900, com a equiparação do Colégio do Caraça ao Ginásio Nacional. Um número expressivo de alunos chegou a ocupar cargos importantes na vida pública e no mundo jurídico e acadêmico; e dois alunos tornaram-se presidentes da República: Afonso Pena e Arthur Bernardes. Em 1912, o Colégio foi fechado e a instituição passou a dedicar-se à formação de futuros padres para a Congregação da Missão. Em 1968, as atividades escolares pararam, devido a um grande incêndio, que destruiu o prédio do Colégio e sua monumental biblioteca. A partir daí, houve uma reestruturação do Santuário como hospedaria de turistas.

Imagem 6: O lobo-guará  
A principal atração turística do Parque do Caraça é o lobo-guará. Sobre os hábitos desse animal, o Padre Lauro Palú nos explicou que, em toda a área do Caraça, permanece apenas um único casal de lobos, depois do nascimento e da criação dos filhotes (ver Palú, Pe.; Lopes 2014: 90-91). A luta entre os machos e entre as fêmeas pelo domínio desse território é feroz: praticamente esquecem a noção de parentesco, de modo que o casal vencedor pode ser o pai com a mãe, ou o pai com uma filha, um filho com a mãe, ou o irmão com a irmã. Desde há mais de 30 anos, o lobo-guará costuma aparecer durante a noite, na frente da igreja, onde o pessoal da cozinha da hospedaria deixa para ele um “jantar”, sobretudo de carne e ossos de frango. Mas sua vinda não está garantida. Tanto assim que, na primeira noite, esperamos até além da meia-noite, e o lobo não apareceu. Na segunda noite tivemos sorte. O Padre Lauro acabou de dar a sua palestra sobre o lobo, suas características e seu comportamento, e logo em seguida - como se os dois tivessem combinado - o lobo apareceu (ver Imagem 6)!

Sabará, Serro e Pico do Itambé
No caminho até a nossa próxima etapa, a cidade do Serro, fizemos, assim como Spix e Martius, um desvio para conhecer a cidade de Sabará, localizada às margens do Rio das Velhas. Nessa cidade que tinha 5.000 habitantes em 1818, a Casa da Fundição produziu uma quantidade de barras de ouro maior do que qualquer uma das outras três fundições existentes na província (ver Viagem pelo Brasil, II, p. 19).

Imagem 7: Pilão para triturar rochas auríferas  
No quintal do Museu do Ouro encontramos um engenho de socamento hidráulico com pilões para triturar as rochas auríferas (ver Imagem 7). Essa máquina, inventada por Wilhelm von Eschwege (ver Pluto brasiliensis, 1979, I, p. 44), substituiu com maior eficiência a força do trabalho escravo.
No percurso de cerca de 330 km, de Sabará rumo ao norte até a cidade do Serro, seguimos aproximadamente a rota de Spix e Martius. Enquanto eles levaram mais de duas semanas para percorrer esse trajeto em lombo de cavalo e por trilhas bastante difíceis, nós contamos com o conforto de um automóvel e de uma estrada asfaltada, fazendo essa viagem em apenas algumas horas. Em termos topográficos, o eixo de todo o nosso percurso, desde Ouro Preto até Diamantina, foi a Serra do Espinhaço (Imagem 8).

Imagem 8: A Serra do Espinhaço 
Como diz o nome - proposto por Eschwege e que já consta do mapa da Capitania de Minas Gerais, no seu livro Pluto brasiliensis (cf. I, p. 34) -, essa cadeia de montanhas é a “espinha dorsal” de Minas, estendendo-se do sudeste desse estado por mais de 1.000 km até adentrar o Estado da Bahia. É também a linha divisora entre dois dos seis principais biomas do Brasil: a Mata Atlântica e o Cerrado. Paralelamente à Serra do Espinhaço, do lado ocidental, foi construído no século XVIII o principal segmento da “Estrada Real”, o chamado “Caminho dos Diamantes”, que vai de Ouro Preto via Santa Bárbara, Conceição do Mato Dentro e Serro até Diamantina, o antigo Arraial do Tijuco.
A cerca de 65 km antes dessa cidade, que foi o centro do Distrito Diamantino, é localizado o Serro, a antiga Vila do Príncipe. Ela tinha sido escolhida como sede da paróquia de toda a comarca - como explicam Spix e Martius (Viagem pelo Brasil, II, p. 30) e o viajante francês Auguste de Saint-Hilaire (Viagem pelo Distrito dos Diamantes, p. 27) - porque o marquês de Pombal, para impedir o clero de assumir grande importância no Distrito Diamantino, proibiu ali a instalação de uma administração religiosa.
A cidade do Serro manteve basicamente a sua fisionomia de 200 anos atrás, quando foi visitada e descrita, um ano antes de Spix e Martius, por Saint-Hilaire: “Esta vila está edificada sobre a encosta de um morro alongado, e suas casas dispostas em anfiteatro; os jardins que entre elas se veem, suas igrejas disseminadas formam um conjunto de aspecto muito agradável, visto das elevações próximas”. Esse texto, de 1817, encontra-se no Museu Casa dos Otoni, principal acervo da história do Serro, e está colocado como legenda de uma gravura mostrando uma encosta dessa cidade ajardinada, tendo como fundo a Capela de Santa Rita. Depois dos 200 anos que se passaram essa perspectiva se manteve quase inalterada. A Casa dos Otoni apresenta ricas informações e amostras sobre as atividades cotidianas dos habitantes da Vila do Príncipe por volta de 1800, especialmente sobre a mineração do ouro e a vida religiosa. Merece destaque o cuidado dos administradores e trabalhadores desse museu com o meio-ambiente. O jardim com as plantações e o parque natural anexo são belos exemplos a serem seguidos não apenas pelos alunos das escolas daquela cidade, mas também por todos os amantes da natureza.
A poucos quilômetros da cidade do Serro eleva-se o Pico do Itambé (2.052 metros), a montanha mais alta do norte de Minas. Seguindo o exemplo de Spix e Martius, nós também resolvemos escalar esse pico. Iniciamos a subida a partir da portaria do Parque Estadual do Pico do Itambé. Já durante a subida, é possível apreciar vários panoramas. O caminho não era fácil, porque, além de íngreme, é bastante escorregadio por causa da água de pequenas nascentes. Por outro lado, essa água estimula o crescimento de grande quantidade de belas flores. Por uma ponte pênsil, atravessamos um canyon. Como ela foi instalada há poucas décadas, isso nos fez lembrar que Spix e Martius fizeram sua subida por um caminho diferente, a saber, a partir do arraial Milho Verde. As rochas perto do canyon têm formas bizarras. Finalmente, depois de quase quatro horas de caminhada, chegamos no topo. Do alto, desfrutamos de belas vistas panorâmicas em todas as direções, inclusive sobre o nosso próximo destino: a cidade de Diamantina (Imagem 9).

Imagem 9: Vista do Pico do Itambé em direção a Diamantina 

Diamantina
Na segunda metade de maio de 1818, Spix e Martius chegaram ao Distrito Diamantino, cujo lugar principal era o Arraial de Tijuco, atual cidade de Diamantina. O arraial, “um dos mais florescentes do Brasil”, tinha mais de 6.000 habitantes, com asseadas e cômodas casas de dois pavimentos, e lojas abastecidas com todo tipo de mercadorias (Viagem pelo Brasil, II, p. 29). Com essas observações, os dois viajantes alemães confirmam o retrato elogioso do Tijuco e de seus habitantes, traçado um ano antes por Auguste de Saint-Hilaire (Viagem pelo Distrito dos Diamantes, p. 27-30 e 33). Na cidade atual, a fisionomia antiga se mantém, com o calçamento das ruas e as casas e igrejas em estilo colonial, incorporando também marcas do nosso tempo, como as antenas de televisão; um espaço que liga harmoniosamente as duas épocas é a praça do Mercado Municipal.
O lugar que melhor resume a história da cidade é o Museu do Diamante. Tijuco deveu sua origem e prosperidade à existência dos diamantes, que foram descobertos no primeiro decênio do século XVIII na área contígua do Rio Jequitinhonha. A partir daí foi criado o Distrito Diamantino, que era “um Estado isolado dentro do Estado”, no qual “toda a vida civil foi subordinada à exploração de um bem exclusivo da coroa” (Viagem pelo Brasil, II, p. 30).

Imagem 10: Amostra de diamantes lapidados  
Sobre os diamantes (Imagem 10), o governo pretendia inicialmente cobrar um quinto como sobre o ouro. Mas como isso se revelou impraticável, foi estabelecido um imposto anual per capita para cada escravo que lavava diamantes. O acesso ao Distrito Diamantino, administrado por um Intendente Geral e a Junta Diamantina, era rigorosamente controlado. Por meio de destacamentos procurava-se combater o contrabando. Um resumo das leis sobre “A Real Extração dos Diamantes do Arraial do Tijuco” foi publicado por Eschwege (Pluto brasiliensis, II, p. 89-101), que critica a ineficiência da burocracia autoritária diante dos inúmeros tipos de crimes.
Em Diamantina visitamos também a Casa da Glória, cuja construção data do final do século XVIII. Inicialmente foi residência dos intendentes e, em meados do século XIX, sede dos bispos de Diamantina. A partir de 1867 foi instalado ali um orfanato por freiras, que adquiriram também a casa do outro lado da rua, construindo como ligação o chamado Passadiço. Dando continuidade às pesquisas pioneiras de Wilhelm von Eschwege e como um marco importante das contribuições alemãs recentes às geociências em Minas Gerais, foi fundado, em 1970, na Casa da Glória, numa cooperação entre o Brasil e a Alemanha, o instituto que é hoje o Centro de Geologia Eschwege (Roeser 2016: 221-223).
Outro local com importantes referências históricas é a Casa de Chica da Silva. Essa escrava alforriada, que se tornou também personagem de uma telenovela (1996/97), foi entre 1754 e 1770 companheira do contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira. Ele era um daqueles empresários que trabalhavam com um número muito maior de escravos do que registrava no contrato. “Dessa forma”, comentam Spix e Martius, “um sistema de corrupção se estendia de Minas pelo Brasil inteiro até a Corte em Lisboa” (Viagem pelo Brasil, II, p. 30). Ou seja, as práticas criminosas que são comuns entre políticos e empresários no Brasil dos dias atuais já se configuraram há mais de dois séculos como uma estrutura sistêmica deste país.

Imagem 11: Lavagem de diamantes no Curralinho, em 1818 
Para conhecer o procedimento da lavagem dos diamantes, Spix e Martius foram a um garimpo próximo à cidade, o Curralinho. Como mostra a sua descrição (Viagem pelo Brasil, II, p. 36-37), ilustrada também por uma gravura (Atlas, estampa 9; ver Imagem 11), esse trabalho era executado por escravos negros, que enchiam bateias com o cascalho de riachos, e as remexiam a fim de separar pouco a pouco as camadas mais finas e tentar descobrir nelas as pedras preciosas. Nesse trabalho, eles eram severamente vigiados por feitores, os quais por sua vez eram controlados por um administrador. Os viajantes foram conhecer também os garimpos de Linguiça e de Mata-Mata; este último guarda em seu nome a memória das sangrentas disputas entre os que correram para lá em multidão, no tempo da descoberta dos diamantes.
Na época em que os dois naturalistas visitaram o Arraial de Tijuco, as lavras de diamantes, assim como as minas de ouro em Vila Rica, já estavam em acentuado declínio. Depois de sua estadia no Distrito Diamantino, Spix e Martius continuaram a sua viagem rumo ao norte até o termo de Minas Novas, junto ao Rio Araçuaí, para conhecer os garimpos de outras pedras preciosas, principalmente topázios, ametistas, berilos, crisoberilos, safiras e turmalinas (Viagem pelo Brasil, II, p. 51-74). Em seguida, iniciaram uma longa travessia dos sertões do Brasil, do norte de Minas, através das províncias da Bahia e do Piauí até São Luís do Maranhão.
Nós, em busca de um garimpo atual, partimos rumo ao Curralinho e ao Rio Jequitinhonha, de onde provinha a maior produção de diamantes. Perguntamos também pelo garimpo de Mata-Mata, mas nenhum dos moradores de Diamantina soube nos dar informações a esse respeito. Falaram-nos do garimpo de Areinha, a uns 80 km ao norte de Diamantina, mas nos desaconselharam a ir para lá, pois esse local tem fama de ser tão perigoso como foi, na década de 1980, o garimpo de Serra Pelada no Pará.

Imagem 12: Diamantina: no garimpo de seu Belmiro 
No final da nossa viagem, conseguimos visitar um garimpo em funcionamento, próximo a Diamantina, de propriedade do Sr. Belmiro (Imagem 12). Essa área corresponde ao leito de um grande riacho, cujas rochas, esculpidas pelas águas ao longo de centenas de milhares de anos, são de uma impressionante beleza artística. O Sr. Belmiro nos mostrou o ambiente, um lugar de abrigo, as ferramentas e o trabalho cotidiano de um garimpeiro. O que motiva um homem a se dedicar à garimpagem é a expectativa de, um dia, encontrar o diamante de seus sonhos. De fato, como vimos depois do nosso retorno num artigo de imprensa, essas pedras preciosas continuam sendo negociadas com altíssimos valores: recentemente, um diamante rosa de 59,60 quilates chegou a ser vendido pelo valor recorde de 71,2 milhões de dólares.6
Procurando resumir em que consistem as continuidades e as mudanças ocorridas ao longo dos últimos 200 anos na região de Ouro Preto a Diamantina, verificamos que Spix e Martius fizeram alguns diagnósticos, ora positivos, ora negativos, que mostram a sua lucidez como observadores do Brasil: 1) Minas Gerais é, de fato, “uma espécie de paraíso mineralógico” (Roeser 2016: 216); 2) contudo, a mineração excessiva traz consigo um enorme perigo de destruição ambiental; 3) lamentavelmente, existe no mundo empresarial e político uma corrupção sistêmica; 4) as principais cidades mineiras continuam sendo centros dinâmicos de comércio e de cultura. Esta constatação é confirmada pelo fato de as cidades de Ouro Preto, Mariana, Sabará, Serro, Diamantina e entornos como a Serra do Caraça e o Pico do Itambé terem se tornado patrimônios culturais e ambientais, e com isso, também animados centros turísticos. A estas qualidades Ouro Preto acrescenta o fato de ter se firmado também como importante centro universitário, cuja qualidade e quantidade de pesquisadores e estudantes representa um investimento que promete dar bons frutos no futuro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bastos, Francisco de Paulo Vasconcelos. A mineração do outro no Brasil, ontem e hoje. Ouro? Ouro! A construção do Brasil brasileiro. Ouro Preto: Ed. do Autor, 2014. [ Links ]

Ibovespa supera 91 mil pontos com otimismo sobre reabertura de economias e liquidez

Ibovespa supera 91 mil pontos com otimismo sobre reabertura de economias e liquidez



Ações2 horas atrás (02.06.2020 17:45)

© Reuters. .© Reuters. .
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em forte alta nesta terça-feira, superando os 91 mil pontos, em meio ao apetite a risco em um ambiente de elevada liquidez global, com as atenções voltadas para a reabertura das principais economias do mundo, após meses de paralisação em razão do Covid-19.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa fechou em alta de 2,74%, a 91.046,38 pontos, patamar que havia perdido em março. O volume financeiro somou 29,63 bilhões de reais.
"Até o momento, tivemos apoio sem dúvida nenhuma da política fiscal dos governos, junto com as sinalizações de bancos centrais via novas medidas de estímulo monetários", ressaltou o BTG Pactual (SA:BPAC11), em nota enviada pela área de gestão de recursos.
A questão é, quando passado o momento de reabertura das economias, qual será o componente para manter o ânimo no mercado, acrescentou o banco e investimentos.
Nos Estados Unidos, Wall Street também fechou no azul, mas o desempenho foi mais acanhado, com os atritos entre Washington e Pequim pairando no ar, além de crescente tensão civil em solo norte-americano. O S&P 500 fechou com acréscimo de 0,82%.
Além de uma liquidez global colossal e da expectativa de retorno ao normal das economias, o estrategista Dan Kawa, da TAG Investimentos, também destacou a normalização de casos de contágio ao redor do mundo e a esperança de uma vacina como vetores essenciais de suporte ao mercado.
DESTAQUES
- CVC (SA:CVCB3) BRASIL ON disparou 20%, na esteira do alívio nas restrições de circulação, bem como a forte queda do dólar em relação ao real. No setor de viagens, entre os mais afetados pela pandemia, GOL (SA:GOLL4) PN saltou 15,7% e AZUL PN (SA:AZUL4) subiu 9,12%.
- ITAÚ UNIBANCO PN valorizou-se 6,72% e BRADESCO PN (SA:BBDC4) teve alta de 4,5%, com bancos outra vez respaldando os ganhos do Ibovespa. BTG PACTUAL UNIT disparou 10,41%.
PETROBRAS PN (SA:PETR4) avançou 5,26%, na esteira da alta dos preços do petróleo, com o Brent avançando mais de 3% antes de reunião da Opep+ sobre cortes de produção.
- VALE ON (SA:VALE3) fechou estável, mesmo com o minério de ferro mantendo o rali na China com apoio de demanda e preocupação com oferta, em meio à queda forte do dólar. No setor de mineração e siderurgia, contudo, USIMINAS PNA (SA:USIM5) saltou 11,79%, GERDAU PN (SA:GGBR4) avançou 6,21% e CSN ON (SA:CSNA3) subiu 3,86%.
- EMBRAER ON (SA:EMBR3) fechou com elevação de 11,20%. O presidente da empresa, Francisco Gomes Neto, disse que a fabricante de aviões está aberta a novos parceiros de negócios após a Boeing ter desistido de um acordo. Mas citou que qualquer novo acordo será menor em escopo do que aquele que vinha sendo negociado com a Boeing e que foi encerrado em abril.
- MAGAZINE LUIZA ON (SA:MGLU3) e B2W ON (SA:BTOW3) recuaram 2,98% e 2,42%, respectivamente, com agentes financeiros fazendo cálculos sobre o quando do aumento das vendas online já está precificado nas ações. VIA VAREJO ON perdeu 1,12%.
- MINERVA ON (SA:BEEF3) caiu 1,53%, em meio ao declínio do dólar. No setor, JBS ON (SA:JBSS3) perdeu 0,68%. Procuradores do trabalho em Santa Catarina estão movendo ação contra a JBS por suposta violação de direitos de trabalhadores indígenas depois que 40 foram demitidos pela empresa em Seara (SC). A empresa negou discriminação.

Fonte: Reuters

A Tanzanita

A Tanzanita

A Tanzanita é uma pedra extraordinária que só ocorre em um único lugar do mundo. Ela é azul e apresenta delicados pontos púrpura. Graças à sua aura incomum e à Tiffany de Nova York tornou-se, rapidamente, uma das pedras mais cobiçadas do mudo! A origem de seu nome é uma referência ao país onde é encontrada, a Tanzânia, na África. Muitas pessoas podem se surpreender ao ouvir o nome África ao lado de pedras preciosas, mas é neste continente onde encontra-se uma grande variedade de pedras excepcionais, entre elas a Tanzanita.



Em 1.967, quando foi descoberta, a Tanzanita foi batizada de " a pedra preciosa do século XX", devido não só à sua beleza  como também ao entusiasmo dos especialistas. Conta-se que seus descobridores perderam o fôlego quando avistaram, pela primeira vez, o azul profundo da Tanzanita.Isso aconteceu no norte da Tanzânia, nos Montes Meralani, perto da  cidade de Arusha. Há milhões de anos atrás, xistos metamórficos (nome genérico que se dá a vários tipos de rochas metamórficas), gnaisses (espécie de rocha) e quartzitos formaram uma elevação de topo achatado (Inselberg) sobre uma vasta planície à sombra do Kilimanjaro. Estes cristais preciosos cresceram em depósitos no interior dessas elevações incomuns e, por muito tempo, permaneceram escondidas do olhar humano até que, um dia, pastores que passando por Masai, avistaram o brilho de cristais reluzindo à luz do sol. Os pastores, então, pegaram esses cristais e os levaram para casa. Assim foi o descobrimento da Tanzanita.



O profundo azul da Tanzanita é fantástico e pode variar até uma tonalidade azul-violeta. A mais cobiçada e valiosa cor da Tanzanita é a que apresenta o fascinante efeito azul com toques brilhantes de púrpura, o que acontece, particularmente, nas pedras com mais de dez quilates. Dependendo do ângulo que você olhar para a Tanzanita, ela pode parecer azul, roxa ou marrom amarelado.



Propriedades metafísicas: A Tanzanita é muito benéfica para os "workaholics" e para aqueles que estão sobrecarregados. Acalma a mente hiperativa e tem efeito relaxante, fazendo com que você fique um pouco mais devagar, no bom sentido.  Esses efeitos farão com que você readquira o equilíbrio, de modo que possa levar uma vida menos estressante, mais organizada, produtiva e saudável.



Durante a meditação, a Tanzanita  com sua alta energia vibracional, facilita um profundo estado meditativo. Este cristal magnífico melhora as habilidades psíquicas e abre o coração, elevando o humor e trazendo sentimentos de paz. Devido à sua cor azul, a Tanzanita abre o chacra da garganta, incentivando clareza de comunicação. Ela pode, ainda, auxiliar nas comunicações com o mundo espiritual e ajudar a alcançarmos o conhecimento superior. É ótima para ajudar aqueles que desejam se tornar mais conscientes do "eu" espiritual e aguça o interesse em metafísica e nos questionamentos interiores.



A Tanzanita ajuda o fluxo de positividade em toda a mente, nos torna menos exigentes e traz sorte e fortuna a seu portador. Ela age como um elixir para a alma e nos liberta de hábitos negativos. Transforma os impulsos destrutivos em construtivos, abre a consciência que nos faz enxergar como vivemos e ver outras formas de viver mais conscientemente. É a pedra ideal para aqueles que ainda não conseguiram reconhecer sua força. Dá confiança e nos ajuda , gradualmente, a nos abrir para novas possibilidades. Dissipa a letargia e traz os sentimentos reprimidos à tona, fazendo com que possam ser expressos.



A Tanzanita é uma ferramenta maravilhosa para incentivar a recuperação de uma doença grave e do stress. Fortalece o sistema imunológico, regenera as células, trata do coração, baço, pâncreas, pulmões, cabeça, garganta e peito. Neutraliza a acidez e reduz inflamações. Estimula a fertilidade e cura doenças dos ovários e testículos. Recomenda-se usar a Tanzanita diretamente sobre a pele ou em joias e que deve ser usada por um longo período de tempo, por ser uma pedra de ação lenta.



Infelizmente, devido à exploração desenfreada da Tanzanita e por ser encontrada apenas em um único lugar do mundo, esta pedra esplêndida está ameaçada de extinção.




Fonte: CPRM

Opala, o mineral que não é um cristal.

Opala, o mineral que não é um cristal.






Você cava o buraco e dá uma olhada lá pra dentro. O que você vê parece saído de um filme de sci-fi (malfeito) dos anos 50:
Opala, o mineral que não é um cristal.

Não. Trata-se da Opala. Curiosamente, esse mineralóide, como é chamado, só é encontrado com qualidade em dois lugares do mundo: Austrália e… Piauí! Isso mesmo, aqui no Brasil, na cidade de Pedro II está uma das maiores e mais importantes jazidas de Opala (claro que existem outras jazidas e Opala no mundo, sobretudo na África) da Terra.
Segundo a wikipedia:
O mineralóide Opala é sílica amorfa hidratada. Neste material, o percentual de água pode chegar a 20%. Por ser amorfo, ele não tem formato de cristal, ocorrendo em veios irregulares, massas, e nódulos. Tem a fratura conchoidal, brilho vítreo, dureza na escala de Mohs de 5,5-6,6, gravidade específica 2,1-2,3, e uma cor altamente variável. A opala pode ser branca, incolor, azul-leitosa, cinza, vermelha, amarela, verde, marrom e preta. Frequentemente muitas dessas cores podem ser vistas simultaneamente, em decorrência de interferência e difração da luz que passa por aberturas regularmente arranjadas dentro do microestructura do opala, fenômeno conhecido como jogo de cores ou difração de Bragg. A estrutura da opala é formada por esferas de cristobalita ou de sílica amorfa, regularmente dispostas, entre as quais há água, ar ou geis de sílica. Quando as esferas têm o mesmo tamanho e um diâmetro semelhante ao comprimento de onda das radiações da luz visível, ocorre difração da luz e surge o jogo de cores da opala nobre. Se as esferas variam de tamanho, não há difração e tem-se a opala comum. O termo opalescência é usado geral e erroneamente para descrever este fenômeno original e bonito, que é o jogo da cores. Na verdade, opalescência é o que mostra opala leitosa, de aparência turva ou opala do potch, sem jogo de cores. As veias de opala que mostram jogo de cores são frequentemente muito finas, e isso leva à necessidade de lapidar a pedra de modos incomuns. Um doublet de opala é uma camada fina de opala colorida sobre um material escuro como basalto ou obsidiana. A base mais escura ressalta o jogo de cores, resultando numa aparência mais atraente do que um potch mais claro. O triplet de opala é obtido com uma base escura e com um revestimento protetor de quartzo incolor (cristal de rocha), útil por ser a opala relativamente delicada. Dada a textura das opalas, pode ser difícil obter um brilho razoável. As variedades de opala que mostram jogo de cores, as opalas preciosas, recebem diversos nomes; do mesmo modo, há vários tipos de opala comum, tais como: opala leitosa (um azulado leitoso a esverdeado); opala resina (amarelo-mel com um bilho resinoso); opala madeira (formada pela substituição da madeira com opala); Menilite (marrom ou cinza) e hialite, uma rara opala incolor chamada às vezes Vidro de Müller. A opala é um gel que é depositado em temperatura relativamente baixa em fissuras de quase todo tipo de rocha, geralmente sendo encontrado nas formações ferro-manganesíferas, arenito, e basalto. Pode se formar também em outros tipos de materiais, como nós de bambus. A palavra opala vem do sânscrito upala, do grego opallos e do latim opalus, significando “pedra preciosa.” A opala é um dos minerais que podem formar fósseis, por substituição. Os fósseis resultantes, embora possam não ser especialmente valiosos do ponto de vista científico, atraem colecionadores por sua beleza. A maior parte da opala produzida no mundo (98%) vem da Austrália. A cidade de Coober Pedy, em particular, é uma das principais fontes. As variedades terra comum, água, geléia, e opala de fogo são encontradas na maior parte no México e Mesoamérica. Existem opalas sintéticas, que estão disponíveis experimental e comercialmente. O material resultante é distinguível da opala natural por sua regularidade; sob ampliação, as áreas com diferentes cores são arranjadas em forma de “pele de lagarto” ou padrão “chicken wire”. As opalas sintéticas são distinguidas das naturais mais pela falta de fluorescência sob luz UV. São também geralmente de densidade mais baixa e frequentemente mais porosas. Dois notáveis produtores do opala sintética são as companhias Kyocera e Inamori do Japão. A maioria das opalas chamadas sintéticas, entretanto, são denominadas mais corretamente de imitações, porque contêm substâncias não encontradas na opala natural (por exemplo, estabilizadores plásticos). As opalas Gilson vistas frequentemente em jóias vintage são, na realidade, um vidro laminado. fonte
Dá uma olhada na beleza desse material sensacional:
Opala, o mineral que não é um cristal.

Esta é uma amostra de opala assim que é escavada numa jazida asutraliana.
Opala, o mineral que não é um cristal.

Então as amostras são ensacadas em estado bruto e enviadas para lavagem e posterior lapidação. É aqui que a verdadeira  “mágica” acontece. 

Opala, o mineral que não é um cristal.

É após a lapidação que o material passa a ser vendido para os artistas que farão jóias com ele.
Opala, o mineral que não é um cristal.

Algumas opalas bem legais:


Opala, o mineral que não é um cristal.
Opala, o mineral que não é um cristal.
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Opala, o mineral que não é um cristal.
Opala, o mineral que não é um cristal.
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Opala, o mineral que não é um cristal.

Opala, o mineral que não é um cristal.
Opala, o mineral que não é um cristal.

Os aborígines da Austrália têm uma lenda. Eles dizem que o Criador veio para a Terra em um arco-íris para dar uma mensagem de paz para toda a humanidade. O lugar onde o pé do Criador tocou a terra era repleto de rochas e tornou-se vivo, começou a brilhar em todas as cores do arco-íris. E é assim que Opalas foram criadas.
Talvez isso explique porque o nome Opala é derivado da palavra sânscrita “upala”, que significa “pedra preciosa”. Esta provavelmente é a raiz da palavra para o termo grego “opallios”, que se traduz como “mudança de cor”. Até 1920 as Opalas eram bastante incomuns. Antes da descoberta da jazida da Austrália de 1849, as únicas fontes de opala eram o Brasil e a Hungria. Quando as Opalas australianas surgiram, elas eram tão espetaculares e sua diferença foi tão marcante que os donos das minas na Hungria espalharam o boato que opalas australianas não eram opalas reais.
Opala, o mineral que não é um cristal.
Graças ao boato, a opala australiana não apareceu no mercado mundial até 1890. Ninguém comprava porque acreditaram nos boatos.
Por muito tempo ninguém sabia porque as opalas da Austrália eram tão lindas. Na década de 1960 uma equipe de cientistas australianos analisaram as amostras de Opalas com um microscópio eletrônico. Eles descobriram que pequenas esferas de gel de sílica produziam interferência na passagem da luz, causando as incríveis refrações, que são responsáveis ??pelo jogo fantástico de cores dentro do material.
Em outras palavras, como a opala é formada de sílica, ela deixa a luz atravessar, e é essa entrada de luz e consequente divisão dela em micro-prismas, que dá às Opalas sua cor.
Entre as diversas formas de opala existente, (há as mais transparentes, as leitosas, as esverdeadas, é uma quantidade enorme de variações) estão as Opalas negras.
Opala, o mineral que não é um cristal.
Opala, o mineral que não é um cristal.
Opala, o mineral que não é um cristal.


A opala negra é a mais rara e valiosa de todas as opalas. Estas gemas sempre tem a cor de fundo escura, que contrasta lindamente com os brilhos multicoloridos naturais da Opala.
Quanto mais brilhante e mais nítidas as cores contrastantes, o mais valiosa a amostra de Opala negra.
A opala negra é rara, ao ponto de algumas pessoas colecionadoras de gemas a considerarem como “o Santo Graal da Opalas”.
Por sua inacreditável variação visual e beleza, as opalas são muito usadas para a produção de jóias. Algumas opalas de jazidas no México, chamadas Opalas de fogo,  são tão sensacionais que lembram até rubis:
Opala, o mineral que não é um cristal.
Há também a opala azul peruana, que é a pedra nacional do Peru. Eles dizem que ela tem a cor do mar do Caribe.
Opala, o mineral que não é um cristal.