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A permissão para a prática garimpeira no local irá beneficiar, inicialmente, 200 famílias da região
Viviane Moura | Sedec-MT
- Foto por: Metamat
O garimpo Novo Astro, localizado em Nova Bandeirantes, passa a operar de forma legalizada a partir do mês de julho. A exploração de ouro foi autorizada por meio do termo de conciliação firmado entre a Companhia Mato-grossense de Mineração (Metamat), a Agência Nacional de Mineração (ANM), a empresa Lago Dourado Mineração Ltda e a Cooperativa de Produtores Minerais de Nova Bandeirantes (Cooproband).
A permissão para explorar a mina aurífera é resultado do trabalho iniciado em setembro de 2020, quando o presidente da Metamat, Juliano Jorge Boraczynski, juntamente com o gerente da ANM em Mato Grosso, Roberto Vargas e o secretário nacional de Resolução de Conflitos da ANM, Caio Mario Trivelatto Seabra Filho, realizaram visitas técnicas a três reservas garimpeiras fechadas na região Norte do Estado.
O garimpo de Novo Astro existe desde 1986. Este é o segundo garimpo regularizado em dois anos, o primeiro foi em Aripuanã, onde foram cedidos 519 hectares e atualmente trabalham mais de 2 mil homens.
Na ocasião foram vistoriados os garimpos de Zé Vermelho, em Paranaíta, Pista do Cabeça, em Alta Floresta, e Novo Astro, em Nova Bandeirantes.
“Este termo de conciliação é fruto da viagem que fizemos no ano passado às reservas. A reabertura do garimpo Novo Astro foi liberada em tempo recorde, menos de um ano. Estamos cumprindo a missão de regularizar a atividade para que os garimpeiros voltem a trabalhar e sustentar suas famílias de forma digna”, afirma Juliano Jorge.
Postos de trabalho
A liberação do garimpo irá beneficiar, inicialmente, 200 famílias que aguardavam a reabertura do local desde 2011. A partir do próximo mês, os garimpeiros passam a trabalhar numa área de 6.109 hectares, cedida pela Lago Dourado Mineração. A licença inicial da lavra garimpeira é de 5 anos, mas com possibilidade de prorrogação do contrato.
De acordo com o secretário de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso, César Miranda, esse é um direito que o governo estadual quer garantir aos trabalhadores do setor de mineração, de comercializar o produto de forma legítima. “O governador quer aproveitar todo o potencial do Estado, por isso, o setor mineral também será contemplado ao longo da administração. A formalização desse garimpo irá favorecer o desenvolvimento da região e incrementar a economia local com a geração de novos postos de trabalho”, explica ele.
A pacificação do conflito gerou uma solução social e econômica que beneficiará a todos, segundo o gerente da ANM em Mato Grosso, Roberto Vargas. “Essa conciliação foi de extrema relevância porque tirou da ilegalidade trabalhadores, a produção de minérios passa a ser documentada e os impostos recolhidos. No fim, todos saem ganhando porque gera emprego, renda e tudo dentro da lei”, enfatiza.
Com a legalização, todo o processo de extração passa a ser feito com assistência técnica da Metamat e com as licenças ambientais expedidas pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT).
Responsáveis pelo transporte aéreo do ouro extraído ilegalmente se aproveitam da impunidade e da falta de fiscalização
Garimpo e uma pista de pouso com aeronaves sobrevoando na região do Homoxi na Terra Indígena Yanomami
Piero Locatelli e Guilherme Henrique Repórter Brasil
Não é apenas a venda do ouro arrancado ilegalmente da Terra Indígena Yanomami que enche o bolso dos que estão ligados ao garimpo. Pilotos e donos de aeronaves que fazem o transporte até a área também vêm enriquecendo, chegando a faturar R$ 200 mil por semana, segundo a Polícia Federal. São eles os responsáveis pela logística que sustenta a atividade garimpeira na TI, onde as pequenas aeronaves são o principal meio de acesso, já que o território indígena é distante de estradas e cortado por rios pouco navegáveis.
São incontáveis operadores que controlam o espaço aéreo desta TI com a certeza de impunidade - uma segurança obtida pela falta de fiscalização da atividade, pela ligação de garimpeiros com políticos e até mesmo por contratos com órgãos do governo. "Se estrangularmos a logística, o garimpo sofre um duro golpe", afirma o procurador da República Alisson Marugal. "Mas a fiscalização, responsabilidade da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e da FAB (Força Aérea Brasileira), é muito frágil".
Denúncias feitas pelo Ministério Público Federal com base em três grandes operações de órgãos investigadores na última década revelam o grande número de pessoas envolvidas na logística ao garimpo ilegal: dos 87 denunciados, pelo menos 8 atuavam como pilotos e outros 31 na "equipe de apoio", trabalhando como operadores de rádios clandestinas e fornecedores de insumos.
Para entender como funciona essa rede milionária - que viabiliza a destruição do território, de famílias e do modo de vida Yanomami -, basta ver o caso de Valdir José do Nascimento, conhecido como Japão. Descrito pelo MPF como o "maior fomentador da atividade garimpeira ilícita na Terra Indígena Yanomami", ele é dono de pelo menos três aeronaves que seriam fretadas para garimpeiros. A PF apurou com um funcionário de Nascimento que somente em uma semana iriam ser realizados mais de 20 fretes para o garimpo.
"Sabe-se que cada frete aéreo para o garimpo custa em média de 10 a 12 gramas de ouro (R$ 10 mil a 12 mil), assim somente em uma semana, a organização criminosa auferia lucro de cerca de R$ 200 mil", aponta um dos inquéritos.
Uma agenda apreendida nas investigações mostra que Nascimento operou ao menos 221 fretes para outros contraventores. Fretes que serviam não somente para escoar o ouro, mas também para transportar trabalhadores, alimentos, combustíveis e instrumentos – fundamentais para a extração do metal. Armas e munição também eram enviadas e vendidas por Nascimento a outros garimpeiros da área.
Sua frota de aviões, porém, é ainda maior do que aquela que aparece nos inquéritos. Atualmente há oito aeronaves registradas em seu nome, segundo registros da Anac: sete monomotores da norte-americana Cessna (que comportam até quatro passageiros) e um bimotor da Embraer (nove passageiros). Todos datam da década de 1970, sendo que quatro deles possuem restrições de voos determinadas pela Anac.
Safiras são pedras preciosas provenientes do mineral corundum. Elas podem ser encontradas numa imensa variedade de cores e, com excessão do vermelho que ganha o nome de rubi e a laranja rosado da rara padparadscha, todas as outras cores são chamadas safiras. O que faz das safiras Yogo, encontradas no estado de Montana (E.U.A.), especiais são a sua cor e pureza excepcionais. Seu espectro de cores varia do violeta ao azul turquesa e elas são uma das únicas safiras do mundo que não passam por tratamento algum para realçar a cor, sendo totalmente naturais. No mercado mundial, a grande maioria das safiras passa por algum processo de tratamento. As safiras Yogo são consideradas mais raras do que diamantes e são muito apreciadas por joalheiros por sua beleza e brilho naturais. Gemas com mais de 02 quilates são consideradas extremamente raras. O estado de Montana possui safiras numa infinidade de tamanhos e cores diferentes, mas, certamente, as Yogo são as mais cobiçadas.
Esmeralda Vermelha (Bixbite) Membro mais ilustre da família dos berilos, a esmeralda é sempre lembrada por sua cor. A cor e a pedra preciosa estão tão associadas, que até mesmo a definição verde esmeralda é fácil de ser compreendida. Eis que, em 1893, foi descoberta numa mina nos confins do estado de Utah (E.U.A.), um berilo vermelho com a mesma composição da esmeralda. A pedra ganhou o nome de bixbite em homenagem ao seu descobridor, Maynard Bixby. Existe uma controvérsia envolvendo o nome a ser usado. Enquanto alguns defendem que deve ser mantido o nome original em respeito à memória de Bixby, outros alegam que para alcançar sucesso comercial, a pedra deve ser chamada de esmeralda vermelha. No laboratório, todos os berilos respondem ao tratamento por calor para realçar cor e brilho, com excessão da esmeralda. A rara variante vermelha também reage da mesma forma. Essa e outras propriedades semelhantes levam a crer que realmente trata-se de uma esmeralda. Mesmo com sua beleza e raridade a gema permanece desconhecida do grande público, pois ainda é relativamente pouco difundida na confecção de jóias. Estima-se que, para cada esmeralda vermelha, existam 150.000 diamantes, 12.000 esmeraldas verdes e 9.000 rubis.
Diamante Vermelho O maior diamante vermelho do mundo foi encontrado no Brasil. Apesar das grandes joalherias internacionais não gostarem desse tipo de notícia, anualmente, a produção mundial de diamantes de qualidade excede a marca dos 100 milhões de quilates, o que torna evidente que, não é tão raro quanto querem nos fazer pensar. Os diamantes realmente raros (e caríssimos) são os coloridos, chamados fancies, que podem ser encontrados nas cores: amarelo, verde, azul, laranja, marrom, púrpura, preto, rosa e vermelho. Dentre eles, o mais raro é, com toda a certeza, o vermelho, com cerca de pouco mais de 30 pedras conhecidas, em sua maioria, abaixo de meio quilate. O maior deles, o Moussaief Red, tem 5.11 quilates e foi encontrado no Brasil em meados dos anos 90. Geralmente, esses diamantes não se encontram disponíveis a qualquer preço, devido a sua inexistência no mercado. Os diamantes vermelhos naturais podem alcançar preços que superam 1.5 milhão de dólares. Por quilate.
A mais rara pedra preciosa A pedra preciosa mais rara do mundo é o amolite, uma gema orgânica, produto da fossilização das conchas dos amonites (semelhante aos nautilus), criaturas pré-históricas extintas há milhões de anos. Composto principalmente pelo mesmo mineral da madrepérola encontrada nas conchas dos moluscos atuais, o amolite brilha em todas as cores do espectro, como algumas opalas. Encontrado nos Estados Unidos e Canadá, em 1981, ganhou oficialmente o status de pedra preciosa e, no mesmo ano, a exploração comercial iniciou pela mineradora canadense Korite International, a maior produtora mundial de gemas de qualidade. Macio e delicado exige técnicas de processamento especiais conhecidas apenas por alguns peritos especializados. Em seu estado bruto, ele é vendido entre 30 a 65 dólares por quilate (150 a 325 dólares por grama). Comparado a outras pedras preciosas o amolite é praticamente desconhecido, pois só conseguiu atrair o interesse do ocidente durante os anos 70. Entre os praticantes do Feng Shui a pedra ganhou popularidade no final dos anos 90, quando recebeu o nome de “Pedra das Sete Cores da Prosperidade”. Atualmente, o maior mercado comsumidor de amolite é o Japão.
Diamantes, esmeraldas e rubis, certamente, são pedras famosas por sua beleza e raridade, mas existem outras gemas igualmente belas e raras, menos conhecidas, encontradas ao redor do mundo. Com cores e formas variadas, as cinco pedras que veremos a seguir rivalizam em beleza com os maiores diamantes do mundo.
Demantoid Garnet (Granada Demantóide) As granadas são pedras conhecidas desde a antigüidade, mas essa variedade permaneceu desconhecida até 1853 quando foi descoberta nas águas geladas do rio Bobrovka, nos monte Urais, Rússia. De um verde vivo e incomum, a pedra brilhava como diamante e logo ganhou fama e seus preços dispararam. Durante o comunismo, o Demantóide desapareceu do mercado internacional voltando no final dos anos 80, com o fim da União Soviética. Os demantóides geralmente são pequenos e, depois de lapidados, dificilmente atingem mais de um quilate (200mg).Pedras de alto nível acima dos cinco quilates além de raras, podem atingir exorbitantes 10.000 dólares por quilate.
Paraiba Tourmaline (Turmalina da Paraíba) Mais uma dentre as pedras preciosas e semipreciosas encontradas no Brasil, a turmalina da Paraíba destaca-se pelo seu tom azul-turquesa radiante. As turmalinas são encontradas em praticamente todas as cores do arco-íris, mas essa tonalidade de azul era desconhecida até a descoberta dessa variedade da Paraíba. Normalmente, o que dá origem a coloração das turmalinas são os elementos ferro, manganês, cromo e vanádio. Mas, a gema paraibana, deve a sua cor magnífca a um elemento nunca encontrado antes numa turmalina, o cobre. Mais tarde descobriu-se que ela também contém manganês. Em 2001, subitamente apareceram no mercado turmalinas azuis vindas da Nigéria e o estado brasileiro perdeu a exclusividade na produção dessas pedras. Foi uma surpresa intrigante. Como uma variedade rara poderia ser encontrada em continentes diferentes, com a mesma proporção de cobre e manganês, tão parecidas, que até cientistas têm dificuldade para mostrar diferenças entre elas? Uma explicação bem plausível, é o da separação do supercontinente que existiu há 250 milhões de anos, a Pangéia. Pelo mapa podemos ver que a costa leste do Brasil encaixa-se na costa oeste da África com o nordeste brasilero ficando exatamente na região onde é a Nigéria. Então, é natural que essas duas regiões, hoje tão distantes, compatilhem dos mesmos elementos em sua formação, tornando o mundo das pedras preciosas ainda mais interessante.
Alexandrite (Alexandrita) A alexandrita recebeu esse nome pois seus primeiros cristais foram descobertos em abril e 1834, na época do Czar Alexander II, numa mina de esmeraldas no rio Tokavaya, Rússia. Uma característica que torna esta pedra especial é que, devido a sua composição química, ela muda de cor dependendo da iluminação. Ela varia de verde ou verde azulado à luz do dia a vermelha ou púrpura avermelhado sob iluminação incandescente. A alexandrita é um crisoberilo que, além de titânio e ferro, contém também cromo como sua maior impureza, e é ele o responsável pela “mágica” das cores. Quando se pensava que as reservas russas haviam se esgotado, o interesse pelas pedras diminuiu, pois as alexandritas encontradas em outras minas raramente apresentavam a cobiçada mudança de cor. Essa situação mudou em 1987, quando foram descobertas alexandritas em Hematita, Minas Gerais. Apesar das cores das pedras brasileiras serem reconhecidamente mais fracas elas apresentavam claramente a mudança de cor, tão desejada pelo mercado. Isso tornou a região num dos mais importantes depósitos do mineral. Hoje, as pedras ao encontradas em países como Tanzânia, Burma, Madagascar, Índia e Zimbábue, mesmo assim elas ainda são consideradas uma raridade e, sem dúvida, é uma pedra que você dificilmente vai encontrar numa joalheria.
Padparadscha Sapphire (Safira Padparadscha) Da mesma família das safiras e dos rubis, a Padparadscha é uma variedade de corundum de coloração única, laranja rosada, romanticamente descrita como uma mistura da cor da flor-de-lótus e o por-do-sol. O local original da padparadscha é o Sri Lanka e os mais puristas consideram o país como o único lugar onde é possível encontrar as verdadeiras pedras. Mesmo assim, exemplares de ótima qualidade foram encontradas no Vietnã, no distrito de Tunduru, na Tanzânia e em Madagascar. No vale Umba, também na Tanzânia foram encontradas safiras laranja que criaram certa polêmica, pois os comerciantes recusam-se a classificá-las como padparadschas, pois são mais escuras que o ideal, com tons marrons. Estas belas gemas estão entre as mais caras do mundo, com preços similares aos dos melhores rubis e esmeraldas. Os preços variam bastante, de acordo com o tamanho e a qualidade, com as melhores pedras alcançando até 30.000 dólares por quilate. A maior padparadscha já encontrada tem 100.18 quilates e encontra-se no Museu de História Natural de Nova York.
Benitoite (Benitoíte) Considerada a pedra símbolo da Califórnia, a benitoíte foi descoberta no começo do século passado na localidade de San Benito County, da qual deriva o seu nome. A benitoíte é uma pedra rara composta por titânio e bário e fluorescente na presença de luz ultravioleta. Apreciada por colecionadores, seu grau de dureza torna-a adequada para o uso em jóias, mas isso raramente acontece por falta de material utilizável para este fim. Benitoítes lapidadas têm preços equivalentes aos das safiras de boa qualidade, apesar de mais raras. Pedras de alta qualidade entre 1 e 2 quilates podem alcançar preços de 6000 dólares por quilate. Ela é muito valorizada por colecionadores que dizem que as melhores pedras têm o azul profundo das melhores safiras e o brilho dos diamantes de alta qualidade. Além da Califórnia, o raro mineral, é encontrado em outras poucas localidades como o estado do Arkansas e o Japão.
Uma seleção de seixos de gemas polidas por abrasão em tambor cilíndrico.
Durante sobrevoo à Terra Indígena Yanomami, um avião ilegal tentou interceptar a aeronave da reportagem, que constatou o cenário de devastação deixado pela mineração
Parceria entre Amazônia Real e Repórter Brasil traz sete reportagens que mostram o caminho do ouro, da extração ilegal que devasta a Terra Indígena Yanomami até sua transformação em joias de luxo. Entre um ponto e outro, revelamos as empresas que estão lucrando com o garimpo ilegal, os políticos que apoiam essa atividade, a relação com o crime organizado e o contexto histórico por trás das invasões. O Dom Total, também parceiro dos dois sites, vai publicar a partir deste sábado (26) e durante uma semana, todas as sete reportagens.
Maria Fernanda Ribeiro Amazônia Real
A visão não é a de um formigueiro humano como no garimpo de Serra Pelada, no Pará. Na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, o garimpo ilegal destrói a floresta amazônica de forma pulverizada, mas não menos feroz. Os núcleos de mineração de ouro se dispersam ao longo dos rios Uraricoera, Parima, Mucajaí e Couto de Magalhães. Em cada um deles, os solos expostos em extensas clareiras tingem a paisagem antes verde de um marrom dourado, quase ferrugem. São como cicatrizes abertas. Uma água barrenta escorre de lagoas de sedimentos e jorra para os rios. Há muito mercúrio, ainda largamente utilizado na extração do cobiçado minério. Mas carrega também o sangue dos Yanomami, que pedem socorro.
"Vocês verão muitas coisas ruins do avião; altos maquinários. Você vai se sentir triste, como nunca viu, como uma pessoa que entra na sua casa e estraga seu terreno. Vai ver que estamos falando a verdade. Você pode olhar, para você acreditar", alertou o líder indígena Davi Kopenawa Yanomami. Reconhecido mundialmente como um grande defensor na luta pelos direitos da Terra Indígena (TI) Yanomami, Davi Kopenawa autorizou o sobrevoo feito no dia 30 de abril pela reportagem sobre as áreas de garimpo ilegal. Ele sabia que haveria riscos.
O avião da reportagem partiu de Boa Vista, capital de Roraima, e demorou uma hora até chegar à primeira área de garimpo. O verde da floresta amazônica predominava na paisagem nos primeiros 30 minutos de sobrevoo, já dentro dos limites da TI Yanomami, quando um avião de pequeno porte cruzou na frente da aeronave que transportava a reportagem. Localizada no extremo Norte do Brasil, a terra indígena de 9,6 milhões de hectares fica entre os estados de Roraima e Amazonas, e se estende até a fronteira com a Venezuela. À medida que as imagens da devastação do garimpo ilegal avançavam, aumentava também a presença de aviões e helicópteros que sobrevoavam o local, como se céu e terra pertencessem aos garimpeiros ilegais. É a terceira grande corrida do ouro desde os anos 1970.
A Amazônia Real se uniu à Repórter Brasil para investigar a fundo o problema do garimpo ilegal na maior terra indígena do Brasil. Foram quatro meses de apuração e a análise de mais de 5 mil páginas de documentos para traçar a rota do ouro, identificar as principais empresas compradoras, compreender as fragilidades na legislação (que isenta os compradores de qualquer responsabilidade), destrinchar o antigo interesse dos políticos na atividade e revelar como a rápida aproximação do garimpo com o tráfico internacional de drogas. A investigação teve acesso a dois inquéritos da Polícia Federal por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) e às acusações do Ministério Público Federal, feitas com base em operações de combate ao garimpo na TI Yanomami feitas desde 2012.
O especial "Ouro do sangue yanomami" - que conta com sete reportagens - mostra que nesse exato instante há uma profusão de atores se enriquecendo com a atividade ilegal nas terras indígenas do país. É um crime contínuo, defendido pelo governo do presidente Jair Bolsonaro e tolerado pela sociedade.
Os voos irregulares
A bordo de um avião modelo Caravan, a equipe de reportagem da Amazônia Real sobrevoou cinco pontos da TI Yanomami em abril deste ano, duas semanas antes dos ataques a tiros à comunidade Palimiu por garimpeiros ligados à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Paapiu, Homoxi, Xitei, Parima e Waikás foram as áreas identificadas pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) por serem as mais críticas. É onde há muitos garimpeiros, presença ostensiva de balsas, de maquinários e voadeiras, contaminação das águas por mercúrio e extração das árvores em larga escala.
Aviões e helicópteros, mesmo voando de maneira irregular, parecem não se incomodar e muito menos temer o fato de estarem invadindo um espaço aéreo. É como se ali nem existissem os três Pelotões Especiais de Fronteira do Exército para impedi-los. Em céu de garimpeiro, eles dão as ordens.
Na região do Homoxi, um dos aviões permaneceu voando em círculos abaixo do Caravan da reportagem até que fôssemos embora. O risco de "levar tiro de garimpeiro", expressado pelo piloto, impediu que voássemos mais baixo e acelerou a passagem do avião por algumas áreas garimpeiras para não chamar a atenção.
Em uma conversa de piloto para piloto, o que trabalhava para os garimpeiros perguntou ao que conduzia a equipe de reportagem quem é que estava na aeronave e se ele iria pousar. O piloto optou por não contar que estava com um fotógrafo e uma repórter a bordo. Segundo ele, era mais seguro seguir assim.
As aeronaves em áreas de mineração cumprem funções essenciais: transportar sondas, bombas, motosserras, calhas de lavagem, mangueiras, detectores de metais e o mercúrio, necessários para a mineração do ouro, suprimentos para manter os garimpeiros confinados por semanas e deixar claro que ali há donos. São eles que recolhem a pedra preciosa, prospectam novas lavras e mantêm a atividade aurífera a pleno vapor. Os produtores rurais repetem um mantra: "Olho de dono é que engorda boi". No garimpo, o boi se chama ouro.
O rastro de destruição
Nas duas horas de duração do sobrevoo, o rastro de destruição causado pelo garimpo ilegal é constante. Há poucos locais em que a vista descansa para apreciar os trechos de floresta preservada sem invasores e os imensos buracos causados por homens e máquinas à procura de ouro. A proximidade das lavras garimpeiras, dos acampamentos não indígenas e de pistas clandestinas com as malocas e roçados das comunidades yanomami mostra a ousadia dos invasores na certeza da impunidade.
Invasores que parecem porcos com fome, como afirma Davi Kopenawa. "Homem garimpeiro é como um porco de criação da cidade, faz muito buraco procurando ouro e diamante." Kopenawa já presenciou a consequência e a violência das invasões com o episódio do massacre de Haximu, no Alto Orinoco, na Venezuela, em 1993, quando garimpeiros armados, numa série de ataques a tiros e facas, mataram 16 Yanomami. Foi o primeiro caso de genocídio reconhecido pela Justiça brasileira. Davi teme ver a história se repetir.
Sobrevoando a uma altura de 2 mil pés (600 metros do solo), a reportagem flagrou invasores trabalhando nas imensas crateras para extrair o ouro das cavas e dos barrancos. É intensa a movimentação de embarcações nos rios para abastecimento do garimpo. De cima, é nítido o funcionamento de uma complexa organização logística terrestre, fluvial e aérea que viabiliza a extração ilegal desse ouro de aluvião na TI Yanomami em uma escala intensa e frenética.
O relatório "Cicatrizes na floresta – Evolução do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami", lançado em março de 2021 pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) e Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume), aponta cerca de 20 mil garimpeiros ilegais no território. No entanto, os próprios garimpeiros dão um número maior. Segundo o aviador e histórico minerador José Altino Machado seriam mais de 26 mil homens nesta que é conhecida como a terceira corrida do ouro em Roraima. Zé Altino, como é mais conhecido, é presidente da União Sindical dos Garimpeiros da Amazônia Legal e foi o responsável pela primeira e segunda invasões no território nos anos 1970 e 1980.
Helicóptero e avião são flagrados sobrevoando o garimpo na região do Homoxi (Bruno Kelly/Amazônia Real)
Pistas clandestinas
Além dos aviões e helicópteros, dos maquinários, das balsas e voadeiras previamente antecipadas por Davi Kopenawa, há incontáveis pistas clandestinas, de diferentes tamanhos, que rasgam a floresta. Algumas são coladas às malocas dos Yanomami. Assim como balsas e maquinários pesados, que também estão próximos de algumas comunidades e dos roçados indígenas.
Na região do Homoxi, na fronteira com a Venezuela, os garimpeiros levantaram um alojamento a alguns metros de distância de uma comunidade. De um lado da margem de um igarapé contaminado pela ação do mercúrio, uma grande maloca e mais duas menores aparecem circundadas pela área de roçado, onde é cultivado o alimento de toda a aldeia. Do outro lado da margem, está o acampamento dos invasores. A cena é marcada por lavras de garimpo, rio assoreado, imensos buracos de terra escavada e as lagoas de sedimentos deixados pela fúria da atividade ilegal.
São muitas as cicatrizes deixadas pelos garimpeiros na TI Yanomami. Uma vez exaurida a extração do ouro, é hora de levantar o acampamento, recolhendo as improvisadas barracas de lonas azuis para serem usadas num outro ponto de garimpagem. Se a lavra for "rentável", os garimpeiros ficam meses nela. Caso contrário, partem para outra localidade no que eles consideram ser uma terra sem dono. Em uma lavra, a concentração de um metal tão raro quanto o ouro é de apenas alguns gramas por tonelada de terra minerada.
A Força Aérea Brasileira, segundo o Ministério da Defesa, faz o monitoramento do espaço aéreo 24 horas por dia, e caso haja aeronaves suspeitas e não identificadas sobrevoando a TI Yanomami, há procedimentos de interceptação. Em nota enviada à reportagem, o ministério afirma atuar “permanentemente no combate a delitos transfronteiriços e ambientais” e que as ações são coordenadas pelo Centro de Operações Militares 4, do 4º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta), localizado em Manaus.
2.430 hectares destruídos
Tal avizinhamento e o risco que isso acarreta foram alvo de denúncia no relatório produzido pelos Yanomami. De um lado, há o agravamento no quadro epidemiológico, como a disparada nos casos de malária. Com o desmate florestal, a proliferação do mosquito Anopheles é facilitada, potencializando a disseminação da doença. Entre 2014 e 2019, os casos de malária quintuplicaram na TI Yanomami.
Quartzo Aurífero
E o garimpo também está relacionado a altas taxas de contaminação por mercúrio, usado para separar o ouro (o metal pesado e tóxico cria um amálgama que depois, ao ser incinerado, se volatiza e é levado pelo vento), causando danos de longo prazo e irreversíveis na saúde dos indígenas, além de gerar desestruturação econômica e levar a conflitos violentos.
O tamanho da destruição do garimpo ilegal do ouro já chega a 2.430 hectares na TI Yanomami, o equivalente a 2.430 campos de futebol, segundo o relatório mais recente da HAY, divulgado em maio deste ano. Somente em 2020, a degradação avançou 500 hectares, associada à intensificação do uso de material pesado e sofisticado para a extração do minério. A atividade garimpeira se prolifera no território, subindo os rios, com crescentes núcleos de invasores e novas rotas de acesso ao interior da floresta amazônica.
A região do waikás, conhecida como Tatuzão do Mutum, continua no topo do ranking da devastação. Em 2017, o local contava com uma estrutura até então inédita em terras indígenas de Roraima, com casas, mercearia, pontos de acesso à internet e cabeleireiros.
É possível avistar pela janela do avião que, mesmo a área já tendo sido alvo de operações do Exército, a atividade clandestina continua a funcionar com alojamentos instalados ao longo do leito do Rio Uraricoera, mas também adentrando a mata. Waikás já teve cerca de 35% do total de suas terras degradadas.
A área fica a poucos minutos da comunidade Palimiu, onde aconteceram os primeiros ataques a tiros contra o povo Yanomami por garimpeiros ligados ao PCC, conforme noticiou em primeira mão a Amazônia Real. A sensação, mesmo do alto, é de destruição acelerada e de impotência. Como disse Kopenawa à reportagem: “nossos inimigos são muitos e nós somos poucos”.