terça-feira, 21 de junho de 2022

Âmbar: uma gema com registro de vida

 

Pércio de Moraes Branco

Entre as gemas, há um grupo que se diferencia da maioria por ser de origem orgânica. São, portanto, gemas, mas não são minerais, ou seja, não são pedras preciosas. Estão nesse grupo: coral, pérola natural, pérola cultivada, madrepérola, âmbar e marfim, além de algumas outras gemas menos conhecidas. Das gemas orgânicas citadas, apenas o âmbar é de origem vegetal e apenas ele não é atual, pois se trata de uma resina formada há 30 milhões de anos por um pinheiro, o pinus succinites.

Essa árvore, devido a um aumento na temperatura ambiente, começou a produzir grande quantidade de resina, característica que atualmente nenhum pinheiro conhecido tem. Além disso, pode conter em seu interior insetos e outros animais da época em que se formou, constituindo-se, assim, num repositório paleontológico de grande valor, característica que não é encontrada em nenhuma outra gema.

Âmbar (acervo do Museu de Geologia da CPRM - Foto: P. M. Branco)

Âmbar (acervo do Museu de Geologia da CPRM - Foto: P. M. Branco)



História

O âmbar é conhecido desde o início da humanidade, pois já na Idade da Pedra era objeto de adoração, atribuindo-se-lhe propriedades sobrenaturais. Na mitologia romana, conta-se que Phaeton, filho de Phoebus, o Sol, saiu com a charrete que conduz o Sol e com ela aproximou-se tanto da Terra que nosso planeta pegou fogo. Para salvá-la, Júpiter tirou Phaeton do céu com seus raios, matando-o. Sua mãe e sua irmã viraram árvores e o âmbar são as lágrimas que elas choraram pela morte de Phaeton.

A peça de âmbar mais antiga que se conhece é um prato encontrado em um acampamento de caçadores de renas, perto de Hamburgo, na Alemanha. O historiador Plínio conta que o âmbar era tão valioso que um pequeno pedaço valia mais que um escravo.

No início da Idade Média, ele era usado em cruzes e rosários. Por volta de 1400, na maior parte da Europa era ilegal a posse não autorizada dessa substância. Nos séculos XVII e XVIII, tornou-se popular seu uso em obras de arte. Depois de um período de menos prestígio, voltou a ser valorizado após a Segunda Guerra Mundial, através do Feliksas Daukantas, que encorajou artistas a mostrar a beleza do âmbar natural.

O âmbar forma blocos arredondados que chegam a ter mais de 10 kg. A maior peça conhecida dessa gema é o Âmbar Birmânia, que tem 15,250 kg e está no Museu de História Natural de Londres. No Museu de Ciências Naturais de Berlim há uma peça de 9,810 kg e 47 cm de comprimento.

 Âmbar preto (Foto: Minerais & Pedra Preciosas)

Âmbar preto (Foto: Minerais & Pedra Preciosas)



Composição e Propriedades

O âmbar tem composição variável, em média C10H16O. Trata-se de uma mistura de várias resinas solúveis em álcool, éter e cloro com uma outra substância, insolúvel e betuminosa. Ele não tem estrutura cristalina como as gemas inorgânicas, sendo, portanto, amorfo. Saliente-se, porém, que estudos recentes mostraram que algumas resinas possuem componentes cristalinos. Sua cor mais comum (70%) é a amarela, podendo ser marrom-escura, marrom-esverdeada, marrom-avermelhada, azulada, cinza, preta (figura ao lado), vermelha ou branca. As cores vermelha, branca e verde são muito raras, e a azul é a mais rara e valiosa de todas. Pode haver mais de uma cor ou vários tons na mesma peça.

A cor pode ser melhorada por cozimento em azeite de semente de nabo, o que elimina as inclusões fluidas eventualmente existentes. Ele varia de transparente a semitranslúcido e séctil (pode ser cortado em lascas). É muito leve, com uma densidade pouco maior que a da água (1,08), o que lhe permite flutuar em água salgada. A dureza é muito baixa - 2,0 a 2,5 -, mostra fluorescência branco-azulada ou amarelo-esverdeada e brilho resinoso. Aquecido, começa a amolecer a 150º C e se funde a 250º C. Queimado, exala aroma agradável que lembra a resina de pinheiro.

Outra característica típica do âmbar, conhecida há séculos, é sua capacidade de eletrizar-se quando atritado contra um pano de lã. Por isso era chamado na Grécia antiga de elektron. Um pedaço dele assim atritado consegue atrair objetos de pouco peso, como pedaços de papel. Aquecido a 300ºC o âmbar decompõe-se, originando duas substâncias, o óleo de âmbar e um resíduo preto, o piche de âmbar.



Fósseis do Âmbar

Âmbar com insetos (Pipe, 2008)

Âmbar com insetos (Pipe, 2008)

Uma característica muito interessante do âmbar é a possibilidade de se encontrar em seu interior animais, principalmente insetos (86,7%) e aracnídeos (11,6%), que viviam na época em que a resina se formou e que nela ficaram aprisionados, por ser uma resina pegajosa, ou que por ela foram englobados depois de mortos. Material desse tipo é muito visado como peça de museu, por seu valor científico.

Cerca de três mil espécies animais já foram encontradas fossilizadas no âmbar, das quais 85% são espécies já extintas. Mais de mil dessas espécies extintas são insetos. Além de insetos, o âmbar pode conter restos de vegetais, bolhas de ar e pirita.



Usos e Imitações

O âmbar é muito usado como gema e em objetos ornamentais, podendo receber lapidação facetada (como as gemas minerais transparentes), lapidação em cabuchão ou simples polimento.

De todo o âmbar produzido, cerca de 15% têm qualidade que permite o aproveitamento como gema. Um emprego curioso verifica-se em certos países da Europa, onde é usado pelas crianças contra mau-olhado, da mesma forma que o coral. Usa-se também contra a tosse.

Assim como muitas gemas minerais, o âmbar é imitado por várias substâncias, sobretudo plásticos, como celuloide e baquelite. Todas essas imitações se diferem dele por serem mais densas. Também pode ser imitado por alguns vidros, que, embora possam ser muito semelhantes, são reconhecidos por terem dureza e densidade bem maiores, além de serem frios ao tato.

O âmbar prensado é um tipo de âmbar obtido ao se aquecer pequenos fragmentos procedentes do mar Báltico a 200-250 °C e em seguida submetendo-os a uma pressão de até 3.000 atmosferas. Ele assemelha-se ao âmbar normal, mas difere-se por conter bolhas de ar alongadas e orientadas, enquanto no âmbar normal elas são esféricas. Além disso, sob ação de uma gota de éter o âmbar prensado mostra uma mancha fosca.



Principais Produtores

O âmbar é produzido principalmente na Alemanha e na Rússia, vindo a seguir a Itália. O maior centro produtor é Sambia (que os alemães chamam de Samland), península do enclave russo de Kaliningrado, onde ele ocorre em uma argila rica em glauconita, chamada de terra azul. Cada metro cúbico dessa terra azul tem de 0,5 a 2,5 kg de âmbar. Como essa jazida está 40 cm abaixo do nível do mar, a erosão constantemente libera blocos de âmbar, que saem flutuando na água do mar, podendo ser levados a longas distâncias.

Cerca de 90% do âmbar encontrado hoje em todo o mundo provém da região do mar Báltico. O maior depósito do mundo está na península de Sambia e na lagoa Courland, onde há três mil hectares de solo contendo a gema. No Brasil nunca foi encontrado.







Fonte: CPRM


O OURO COMO FATOR ECONÔMICO NA MINERAÇÃO BRASILEIRA

 


O ouro é um metal precioso, de elevado valor comercial. Supõe-se que tenha sido o primeiro metal que chamou a atenção do homem primitivo. Por ser um metal é um bom condutor de calor e eletricidade, não magnético, maleável e dúctil, podendo por isso ser laminado até a espessuras da ordem de micrômetros.
O ponto de fusão do ouro é de 1064°C e o ponto de ebulição 2970° C, sua densidade e de 19,3 g / cm³ , e sua dureza atinge 2,5 a 3 na escala de Mohs. Devido suas propriedades físicas e químicas, é muito resistente ao intemperismo e tende a acumular-se em depósitos secundários, que serão abordados mais adiante.

Encontra-se o ouro entre os metais menos ativos quimicamente, não se oxida na presença do ar e é inerte às soluções-alcalinas fortes e aos ácidos. E dissolvido em um meio químico mediante a um agente oxidante, juntamente com um outro capaz de formar complexos, como a água-régia.

BREVE HISTORIA DA EXPLORAÇÃO DE OURO NO BRASIL

O seu nome veio do latim aurum, de provável origem indo-européia. Talvez tenha sido o primeiro mineral a ser conhecido pelo homem. Devido às suas extraordinárias características, o ouro é usado desde ha muitos séculos como meio de permuta comercial. Ao princípio, os mercadores recebiam o metal devidamente pesado, em troca das suas mercadorias. As primeiras moedas, com incisões indicativas do seu peso exato surgiram pela necessidade de se evitar as sucessivas pesagens.
No Brasil, ao final do século XVII e no inicio do seguinte, foram encontrados nos córregos, rios e montanhas de Minas Gerais "ricas jazidas de ouro". Tripuí, Carmo, Gualacho, Ouro Preto, Paraopeba, Rio das velhas, Inficcionado Pintangui, Pará, Catas altas, Santa Bárbara, Brumado, Rio das mortes e outras localidades. Ate 1713, o grande núcleo das Minas Gerais já estava desvendado.

A importância conferida pela Coroa Portuguesa a essas descobertas é atestada pela instalação, em janeiro de 1703, de uma Casa da Moeda no Rio de Janeiro, cidade localizada próximo da região aurífera.

A influência dos mineradores gerou um clima de disputas e tensão nas Minas Gerais. Os incidentes entre os paulistas, pioneiros na exploração das minas, e os emboabas (nome dado pelos paulistas a todos os forasteiros que não eram naturais da Capitania de São Vicente) começaram a se intensificar em 1707. A situação agravou-se em 1708, quando o português Manoel Nunes Viana, a frente dos emboabas expulsou muitos paulistas da zona de mineração. Para pacificar e melhor administrar a região, a metrópole criou, em 1709, a capitania real de São Paulo e Minas do Ouro, que incluía a antiga capitania hereditária de São Vicente.

A rápida ocupação da área minerada traduziu-se pela presença, em pouco tempo, de um expressivo contingente populacional (cerca de 30mil pessoas em 1709, sem falar nos escravos vindos da África e das zonas açucareiras de retração) e pelo surgimento de uma importante rede urbana, fato totalmente inédito para os padrões da colônia. Os pequenos núcleos, originados da junção de vários arraiais dos vales onde se extraia o ouro de aluvião, se desenvolveram, e alguns deles foram elevados à categoria de vida dotados de Câmaras Municipais.

Entre 1711 e 1715, o período mais intenso do processo de urbanização, foram criadas varias vilas, dentre elas a vila do Ribeirão Nossa Senhora do Carmo (atual Mariana), Vila Rica (Ouro Preto) e Arraial do Tijuco (atual Diamantina ) -- veja o mapa ao lado ...

Os números sobre a produção aurífera de MG não são muito precisos devido ao intenso contrabando que desde cedo começou a ser praticado. Os cálculos são dificultados pelas diversas formas de taxação imposta pela Coroa lusitana. Segundo a literatura, os dados oficiais referiam-se a uma produção de 100 arrobas (1arroba = 14.7kg) em 1711, embora cálculos mais realistas pudessem elevar esse total para 300 arrobas.

A produção do ouro aumentou de forma constante ate o final da década de 1740. Em 1725, pela primeira vez a cobrança do "quinto" ultrapassou os 1000kg. E novamente a literatura nos indica que no qüinqüênio 1745-50 a produção media chegou a 9712kg, caindo para 8780kg no qüinqüênio seguinte. Até o final do século, essa tendência declinante manteve-se irreversível, entre 1793 e 1799, a media anual limitou-se para 3249kg. Detendo com ampla margem de vantagem, a liderança na exploração do ouro, Minas representou 70% da produção da colônia do século XVIII.

Abriu-se a decadência ao desestimulo à exploração criado pelo sistema tributário, mais voltado para a arrecadação do que para o crescimento da produção em si, como também ao próprio esgotamento das reservas e ao processo técnico deficiente, ensejador de elevados desperdícios. Também o desenvolvimento da mineração diamantífera nas regiões do Norte de Minas deve ter contribuído para o fluxo de mineradores e de capitais a esse tipo de mineração.

Entre os princípios do século XVIII e a Primeira Guerra Mundial, a escassez do metal e a sua contínua subida de preço acabaram com a função do ouro em moedas. No entanto, as reservas dos bancos centrais dos estados mais poderosos ainda hoje são constituídas por grandes quantidades do rei dos metais.



Fonte: DNPM

DISTRITOS AURÍFEROS DO BRASIL

 




Os Distritos auríferos são definidos pela presença de uma ou mais jazidas, alem de ocorrências e depósitos de menor importância que podem apresentar tipologias diferentes, mas encontram-se concentradas em determinadas áreas. Em solo brasileiro podemos destacar 26 regiões contendo diferentes tipos de depósitos. Nota-se que o ouro no Brasil está se encaixando principalmente nas áreas cratônicas e cinturões móveis associados, cujas idades mais recentes são de 450 milhões de anos relacionados ao ciclo tectônico brasiliano.




-- Mina Subterrânea Morro Velho; Região de Jacobina BA, (operação da Mineração Morro Velho S.A)


Os vários tipos de minas jazidas e depósitos brasileiros ainda não são bem estudados, apesar do aumento significativo de publicações cientificas sobre os diversos aspectos da geologia dos depósitos auríferos brasileiros a partir da década de 1980.


O estudo em detalhe de cada depósito tem como objetivo definir as características da mineralizacão para classifica-la segundo modelos metalogenéticos. No entanto, estudos mais aprofundados são escassos ou com resultados ainda contraditórios devido à complexidade e variedade dos tipos de depósitos de ouro existentes no Brasil, no que se refere a sua idade de formação em relação a suas rochas encaixantes, e possíveis remobiliações posteriores, podendo os depósitos serem classificados em: epigenéticos, singenéticos ou singenéticos remobilizados.



Mina a céu aberto, Maria Preta Quadrilátero ferrífero (op. Mineradora Vale) --