Expedição Grafite: viagem ao berço
do maior diamante das Américas
do maior diamante das Américas
Uma
equipe formada pelos professores Iran Ferreira Machado e Carlos
Alberto Lobão Cunha, do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp,
pelo publicitário Manoel Cyrillo de Oliveira Netto e pela
física Lúcia Cabral Jahnel, partiu de Campinas no último dia
11 de setembro. O objetivo da missão - denominada Expedição
Grafite - era conhecer o ponto do ribeirão Santo Antonio do
Bonito, município de Coromandel (MG), onde o maior diamante
das Três Américas – denominado Presidente Vargas – foi encontrado
no dia 13 de agosto de 1938. Coromandel está situada na bacia
do Alto Paranaíba, a leste do Triângulo Mineiro, na zona de
influência de Patrocínio, maior cidade da região. O município
é cortado pelos rios Buriti, Santo Inácio e pelo ribeirão
Santo Antonio do Bonito; eles correm de sul para o norte até
desaguar no rio Paranaíba. A fauna e a flora exuberantes da
região atraíram o naturalista francês Saint-Hilaire no início
do século 19.
O roteiro da viagem foi o
seguinte: Campinas – Ribeirão Preto – Uberaba – Nova Ponte
– Iraí de Minas – Monte Carmelo – Abadia dos Dourados – Coromandel.
Considerando o caminho percorrido dentro do município de Coromandel
nos dias 12 e 13 de setembro, o percurso total de ida e volta
até Campinas cobriu cerca de 1.500 km. No dia 14, às 16 horas,
a equipe estava de volta a Barão Geraldo, em Campinas. A viagem
foi realizada em uma caminhonete Chevrolet de cabine dupla,
modelo S10, de propriedade de Manoel Cyrillo. Ela suportou
bem as estradas carroçáveis de Coromandel, empoeiradas pela
secura da estação.
No
dia 12 foi contratado o guia Waldejan Soares da Cunha, de
79 anos, que conhece as grotas do município como a palma da
mão. Esse guia levou o grupo até a fazenda Santo Antonio,
na Taquara, banhada pelo ribeirão Santo Antonio, conhecido
internacionalmente pela frequência de pedras acima de 80 quilates,
descobertas periodicamente nos seus cascalhos desde as primeiras
décadas do século 20. Na fazenda Santo Antonio, o seu proprietário
– sr. José Tim – de 84 anos de idade, fisicamente bem disposto
e bastante lúcido, se incorporou à expedição. Após uns 20
minutos de estrada carroçável e uma caminhada de uns 15 minutos
dentro da fazenda, chegamos finalmente às margens do ribeirão.
Naquele exato ponto, segundo testemunho do sr. Tim, em 1938
foi achado o famoso diamante, cujo nome foi uma homenagem
ao presidente Getúlio Vargas. Seus descobridores, segundo
os registros históricos, foram os garimpeiros Joaquim Venâncio
Tiago e Manoel Miguel Domingues, cujos herdeiros não vivem
mais na pacata cidade de Coromandel. Corre uma lenda de que
a pedra era metade de outra maior. A outra metade nunca foi
encontrada, apesar de buscas intensas realizadas pelos garimpeiros
desde o ano de 1938. O ponto da descoberta tem as seguintes
coordenadas: latitude: 18o 30’ 33,3’’ S; longitude: 46o 58’
22,4’’ W, com erro de 3 metros, medição realizada com o GPS
de marca Garmin, modelo MAP 60CSx, de propriedade de Manoel
Cyrillo.
Obviamente,
o cascalho mudou constantemente ao longo do tempo, devido
a enxurradas periódicas, mas o ponto estava ali. A façanha
de encontrar esse famoso local da história dos diamantes brasileiros
somente foi possível graças à memória e boa vontade dos srs.
Waldejan Cunha e José Tim. Sem essa prestimosa ajuda, a Expedição
Grafite teria malogrado, devido às inúmeras trilhas que cortam
as respectivas bacias já mencionadas.
Essa expedição foi realizada
com recursos próprios dos seus membros, não havendo recursos
públicos ou outras fontes. Tratava-se de satisfazer uma curiosidade
desde a realização do 31º Congresso Internacional de Geologia,
realizado no ano 2000, na cidade do Rio de Janeiro, quando
o autor apresentou um pôster sobre o famoso diamante. O tema
atraiu a atenção de geólogos de todas as nacionalidades participantes
desse congresso internacional. Passados onze anos, veio a
determinação de se identificar o ponto exato do ribeirão Santo
Antonio do Bonito. A expedição foi coroada de êxito e comemorada
pelos seus integrantes, com direito a vinho tinto. Valeu a
pena o esforço do grupo.
Consta
que a pedra foi vendida em 1938 a um comprador de Belo Horizonte
pelo equivalente a US$ 141 mil, quantia correspondente na
época a 120 kg de ouro. Convertendo US$ 141 mil para o dólar
de 2011, este valor alcança US$ 2.265.450 (cálculo efetuado
usando-se o Consumer Price Index, do governo americano). Hoje
a cotação dele estaria entre US$ 15 e 30 milhões nos principais
centros de lapidação do mundo (Antuérpia, Amsterdã, Nova York
e Tel Aviv). Essa estimativa é de uma fonte fidedigna do exterior,
que prefere não se identificar. Aos céticos, recomenda-se
a leitura do artigo de J. Greene, citado na bibliografia.
Após ser vendido, sucessivamente,
para compradores em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Amsterdã,
o Presidente Vargas foi finalmente arrematado por um joalheiro
de Nova York – Harry Winston –, o qual cortou a pedra em 29
brilhantes. O maior brilhante recebeu o nome de Presidente
Vargas, com 44,17 quilates e estaria hoje nas mãos do joalheiro
Robert Mouawad, de Beirute, após passar por vários proprietários.
O autor agradece a colaboração
permanente do prof. Lobão, do Manoel e da Lúcia, que tornaram
esta viagem muito agradável, além de contribuírem de modo
decisivo para serem alcançados os objetivos pretendidos pelo
grupo.
O brasileiro é um voyeur típico. Passa a vida olhando no buraco da fechadura. hahahaha
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